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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES


INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS COMPARADOS
PROFª ROBERTA FRANCO

Nome: Jéssica Nunes Caldeira Cunha


Matrícula: 65527

Reflexão sobre intertextualidade

O conceito de intertextualidade foi concebido pela filósofa, psicanalista,


crítica literária, feminista e romancista Julia Kristeva, e foi utilizado por vários
estudiosos comparatistas a partir da segunda metade do século XX.
Diz Kristeva:

O termo intertextualidade designa esta transposição de um ou vários sistemas de


signos num outro, mas já que este termo foi frequentemente entendido no sentido banal de
“crítica das fontes” de um texto, preferimos o de “transposição” que tem a vantagem de precisar
que a passagem de um sistema significante a um outro exige uma nova articulação da temática
existencial, da posição enunciativa e denotativa.

Para elaborar este conceito, Kristeva se baseou na obra de Bakhtin La


poétique de Dostoievski e escreveu Recherches pour une sémanalyse (o que
é, ironicamente, um caso de intertextualidade). Bakhtin elaborou conceitos
como “palavra literária”, “diálogo” e “ambivalência” que foram essenciais para a
formação do conceito de intertextualidade.
Kristeva tem uma definição bastante ampla de “texto”, como “sistema de
signos”, incluindo obras literárias, linguagens orais, sistemas simbólicos,
sociais ou inconscientes. Partindo disso, ela elabora três teses principais: “a) a
linguagem poética é a única infinidade do código; b) o texto literário é um duplo:
escritura-leitura; c) o texto literário é uma rede de conexões.”
Já Laurent Jenny, em La stratégie de la forme, entende a
intertextualidade de modo diferente. Para ele, existe um “texto centralizador”,
capaz de reunir em si vários outros textos. Jenny reconhece a presença de
outros textos em qualquer texto literário, reconhece a modificação que os
textos sofrem ao serem assimilados e crê que o intertexto (texto centralizador)
é unificador, absorve outros textos, mas fica unificado por um sentido próprio.
Cláudio Guillén, um escritor e acadêmico espanhol especializado em
Literatura Comparada, acredita que a teoria da intertextualidade contribuiu
bastante para o comparatismo. Ele diz que enquanto o conceito de influência
particularizava a obra literária sem eficácia, a noção de intertexto leva em
consideração as trocas entre escrituras literárias, cuja individualidade é
formada pelo cruzamento de escrituras anteriores. Completa dizendo que “todo
texto é um intertexto”.
Para Guillén, é evidente que a presença de um texto em outro nem
sempre é explícita, principalmente se pensarmos que esta presença pode ser
algo mais genérico, diferente de uma frase, expressão ou tópico.
Devemos, pois, reconhecer os limites da intertextualidade, que são
semelhantes aos da influência. A intertextualidade implícita é tão complexa e
problemática quanto a influência. Porém, a intertextualidade é mais justa que a
influência com a natureza da criação literária, pois entende literatura como “um
vasto sistema de trocas, onde a questão da propriedade e da originalidade se
relativizam, e a questão da verdade se torna impertinente”.
Importa saber como os textos se entrelaçam, onde se entrelaçam, mas
não há necessidade de se estabelecer a origem dessa relação. Os textos se
comunicam de várias formas e com vários outros textos, implícita e
explicitamente, tornando impossível determinar essa origem, que se torna
dispensável, pois podemos estudar e analisar essa comunicação sem conhecer
sua origem.

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