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PROCESSO CIVIL – QUESTÕES GERAIS – 4 DE JANEIRO DE 2014 (4º ANO)

Por escritura pública lavrada em Lisboa, em Março de 2011, A e B (ambos portugueses e


domiciliados em Aveiro), proprietários de um prédio urbano situado em Lisboa, prometeram vendê-
lo a C (espanhol, residente em Madrid), pelo preço de € 500.000,00. Da escritura ficou a constar,
por entre o mais, que a promessa tinha eficácia real, que C tinha pago a A e a B, como sinal e
princípio de pagamento, a quantia de € 50.000,00, que ambos reconheciam ter recebido, e que o
remanescente seria pago com a celebração da compra e venda, cabendo a C marcar a
correspondente escritura, a realizar necessariamente no prazo máximo de seis meses.
Em Abril de 2011, A, B e C combinaram (verbalmente) que o prédio era entregue a C, para
que este pudesse começar a realizar as obras de melhoramento que pretendia fazer; e o prédio foi-
lhe efectivamente entregue.
C, porém, emprestou o prédio à associação cultural D, com sede em Lisboa, para a
realização de exposições de fotografias e de pintura.
Em Junho de 2012, invocando o decurso do prazo acordado para a celebração da compra e
venda sem que C marcasse a escritura respectiva, apesar de a terem advertido, por mais de uma vez,
de que perdiam definitivamente o interesse na venda, A e B enviaram a C uma carta registada, com
aviso de recepção, resolvendo o contrato-promessa por incumprimento de C, declarando que faziam
sua a quantia entregue a título de sinal e exigindo a restituição do prédio. C respondeu que não
aceitava a resolução e que ia marcar a escritura de compra e venda para Setembro de 2012.

1. Suponha que não chegou a fazer-se a compra e venda e que, em 2 de Setembro de 2013,
A e B instauram no tribunal judicial de Aveiro que entendem ser competente uma acção contra C e
D, pedindo:
– Contra C, que lhes seja reconhecido o direito de fazerem sua a quantia recebida como
sinal, € 50.000,00, em consequência da resolução do contrato-promessa, operada pela carta de
Setembro de 2012;
– Contra D, a entrega do prédio, por serem seus proprietários, por o terem adquirido por
usucapião (em resultado dos factos que alegam para o efeito).
Diga se esta acção pode ser proposta contra C e D, nestes termos; em caso afirmativo, diga
qual seria o tribunal competente e, não devendo a acção ser instaurada em Aveiro, que
consequências teria a instauração da acção nessa cidade.
Se entender que C e D não podem ser demandados em conjunto, diga qual seria o tribunal
competente para cada um dos pedidos, apresentados em acções separadas.

2. Suponha que a acção referida em 1. era apenas instaurada por A contra C e D, porque B se
recusara a participar. Os réus sustentam que a falta de B na acção impede irremediavelmente o
tribunal de julgar a acção, devendo ser absolvidos dos pedidos. Têm razão? Que deve o juiz fazer,
se entender que a acção tinha de ser proposta por A e B?

3. Considere a acção descrita em 1:


a) Suponha que A e B queriam sustentar que na realidade nada tinham recebido, tendo
declarado o recebimento na convicção de que C tinha transferido a quantia de € 50.000,00 para a
conta bancária que indicaram, o que nunca chegou a acontecer.
Diga: se está provado o pagamento; e ainda se e como A e B podem provar que nada
receberam.

b) Admita agora que C vem sustentar que, em Setembro de 2011, acordou verbalmente com
A e B alterar o prazo máximo para a celebração da compra e venda para Setembro de 2013, a troco
de um reforço de sinal de mais € 50.000,00, que efectivamente pagou.
C indica testemunhas para fazer prova desse acordo, que A e B negam ter existido. Suponha
que A e B se opõem a que sejam ouvidas, por não ser possível contrariar a prova de que o prazo
acordado era de seis meses a contar de Março de 2011, a não ser por confissão. Tem razão?

4. Suponha agora que A e B eram confrontados com um pedido de anulação do contrato-


promessa e de restituição dos € 50.000,00 de sinal, deduzido por C. C alega que, como A e B muito
bem sabiam, só tinha celebrado o contrato-promessa porque estava erradamente convencido de que
podia aumentar o prédio; mas que o aumento não é permitido pelas regras urbanísticas aplicáveis,
que desconhecia quando contratou.
A e B negam conhecer e ter qualquer obrigação de saber dessa motivação.
Suponha que, estando provados todos os demais factos, o tribunal dá como não provado que
A e B soubessem ou devessem saber que C apenas queriam adquirir o prédio porque pensavam que
o podiam aumentar. Como deve o tribunal julgar o pedido de anulação?

duração: 2h30m

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