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dos Surdos
Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
L685p
ISBN 978-85-515-0352-2
CDD 371.912
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, antes de apresentar o conteúdo deste livro, gostaria
de me apresentar a você.
III
A terceira unidade introduzirá questões mais específicas da educação
e aprendizagem para surdos no âmbito da educação formal. Primeiro,
discutiremos as questões referentes à realização escolar e às instruções quanto
a literacia. No mesmo teor, discutiremos as questões sobre a numeracia, no
segundo tópico. Prosseguiremos então para apresentar as novas tecnologias
de aprendizagem para aprendizes surdos. Finalizando com uma discussão
sobre os contextos de aprendizagem para esse público específico.
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS.............. 1
VII
2 A LINGUAGEM .................................................................................................................................... 77
3 LÍNGUAS DE SINAIS.......................................................................................................................... 80
4 MULTIMODALIDADE E SISTEMAS DE SINAIS........................................................................ 83
5 O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM................................................................................. 87
6 AQUISIÇÃO DO BILINGUISMO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA....... 91
7 AQUISIÇÃO DE LÍNGUA FALADA POR CRIANÇAS SURDAS............................................. 93
8 AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS POR CRIANÇAS SURDAS......................................... 97
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 101
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 103
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 106
VIII
3.1.1 Reconhecendo Palavras.......................................................................................................... 175
3.1.2 Entendendo o que palavras significam................................................................................ 177
3.1.3 Gramática: as regras da língua.............................................................................................. 180
3.1.4 Então, o que devemos fazer sobre isso?............................................................................... 181
4 EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA ALUNOS SURDOS..................................................................... 182
5 A ESCRITA ............................................................................................................................................. 184
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 189
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 192
IX
X
UNIDADE 1
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E
OS APRENDIZES SURDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
APRENDIZAGEM E ENSINO
1 INTRODUÇÃO
Se quisermos ensinar efetivamente os alunos surdos, para que eles
realmente aprendam com nosso ensino, então este deve estar firmemente
fundamentado no que sabemos sobre a aprendizagem em geral e sobre o ensino
em relação ao aprendizado em particular. O conhecimento dos processos básicos
de aprendizagem é (ou deveria ser) um requisito para todos aqueles que ensinam.
Por isso, iniciamos este livro com um tópico que fornece uma introdução sobre
como os alunos, incluindo os surdos, aprendem em contextos formais e informais.
As relações entre ensino e aprendizagem também serão destacadas, pois nem
sempre são tão óbvias quanto parecem.
3
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
2 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
Durante o curso de sua vida, os seres humanos se desenvolvem de várias
maneiras. É claro que eles se desenvolvem fisicamente, ficando mais altos,
maiores e mais velhos. No entanto, também, no desenvolvimento ao longo da
vida, são igualmente importantes as funções mentais como linguagem, resolução
de problemas e criatividade. O desenvolvimento dessas funções mentais
está intimamente associado ao desenvolvimento do cérebro e é grandemente
influenciado pela experiência.
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
4 AS ORIGENS DA APRENDIZAGEM
Geary (2009) sugeriu que, se alguém quiser entender a aprendizagem,
não só precisa abordar o quê, onde, quem e quando aprender, mas também o
porquê. Por que aprendemos? Em um contexto evolucionário, a aprendizagem
resulta em indivíduos que têm várias opções para resolver conflitos sociais ou
desafios de subsistência. Eles podem prever o comportamento de outras pessoas
ou de animais, onde conseguir alimentos, levando as vantagens competitivas em
comparação com os seres humanos que aprenderam menos. No início de nossa
evolução, essa aprendizagem foi amplamente implícita e seus objetivos muitas
vezes não eram óbvios para os aprendizes. Hoje, muito da aprendizagem tornou-
se mais explícito, e a busca de objetivos específicos muitas vezes tem que ser
motivada explicitamente.
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
aceitos por seus pares. Tal ambiente de sala de aula pode influenciar negativamente
as oportunidades de aprendizagem para os alunos surdos tanto a curto como a
longo prazo.
7 APRENDER E ENSINAR
Em contextos educacionais formais, o ensino é, por definição, um processo
importante no estabelecimento da aprendizagem. Mais comumente, isso envolve
instrução direta de profissionais, mas, como observamos, o ensino também pode
ocorrer entre pares e, de formas mais indiretas, por meio de processos mediados
(por exemplo, com a ajuda de intérpretes) ou através da aprendizagem a distância
com a ajuda de tecnologia e materiais multimídia (BRANSFORD et al., 2010).
No entanto, alguma aprendizagem ocorre em situações em que os aprendizes
constroem significado sem instrução explícita. Normalmente, isso envolve o
que Geary (2008) chamou de informação biologicamente primária. Informações
biologicamente primárias são informações que podem ser adquiridas pelos
alunos sem esforço consciente ou com mínimo esforço. A capacidade de fazê-lo
se desenvolveu no curso da evolução dos seres humanos. Um exemplo de tal
informação referida anteriormente é a nossa primária ou primeira língua.
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
E
IMPORTANT
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | APRENDIZAGEM E ENSINO
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento profissional, em geral, e o conhecimento do professor,
em particular, envolvem muito mais do que conhecer os resultados de pesquisas
relevantes. Divulgar os resultados da pesquisa é meramente fornecer informações
na esperança de que as pessoas as atendam e usem.
25
RESUMO DO TÓPICO 1
26
• O ambiente intrinsecamente familiar e autônomo em casa é uma base
importante para a aprendizagem.
28
AUTOATIVIDADE
29
30
UNIDADE 1
TÓPICO 2
APRENDIZES SURDOS
1 INTRODUÇÃO
Como observado no primeiro tópico, é a crença do autor deste livro de
estudos de que ensinar alunos surdos não é o mesmo que – ou não deveria ser o
mesmo que – ensinar alunos ouvintes. Ficará evidente em todo o livro que essa
suposição tem vários níveis. Talvez o mais óbvio seja que ter uma perda auditiva
pode prejudicar seriamente a comunicação, simplesmente porque a maior parte
da comunicação interpessoal ocorre por meio da língua falada. Se uma criança
nasce com audição limitada ou adquire uma perda auditiva no início da vida
(especialmente antes dos dois anos de idade), o desenvolvimento da língua falada
será similarmente limitado, pelo menos até certo ponto.
31
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
32
TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
sentido, ser surdo oferece o mesmo tipo de diversidade cultural que famílias
afro-americanas, hispânicas ou judias nos Estados Unidos, que podem apreciar
tanto a cultura americana dominante quanto um elo com uma herança especial.
Consistente com a convenção normal neste campo de estudo, portanto, ao longo
deste livro de estudos usaremos o termo “surdo”, com letra inicial minúscula,
como um adjetivo genérico, em grande parte relacionado à perda auditiva, e
usaremos o termo “Surdo”, com letra inicial maiúscula, no sentido mais restrito
quando nos referirmos à cultura e à comunidade Surda ou aos indivíduos
pertencentes a ela.
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
3 PERDA AUDITIVA
A perda auditiva pode ocorrer como resultado de obstrução ou dano em
qualquer parte do ouvido (BENTO et al., 1998). Obstrução do ouvido externo
devido a uma malformação, excesso de cera do ouvido (cerume) ou uma ruptura
do tímpano resultam em uma perda auditiva condutiva. As ondas sonoras não
podem alcançar o ouvido interno através do ouvido externo e médio, mas são
conduzidas apenas indiretamente, através dos ossos do crânio. O resultado é uma
perda de volume que dificulta a detecção de sons, mas não impede completamente
a discriminação de sons. As pessoas ouvintes podem ouvir a ponta do dedo
batendo levemente nos dentes, mesmo que quaisquer ondas sonoras através do
ar sejam insuficientes para vibrar o tímpano.
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
Além dos fatores genéticos, a perda auditiva congênita pode ser causada
por doença materna (por exemplo, diabetes materna, rubéola), infecções infantis
(por exemplo, rubéola, citomegalovírus) ou toxinas (ototoxinas, por exemplo,
associadas ao fator Rh no sangue). Agora que a rubéola materna foi em grande
parte eliminada, a causa mais prevalente de surdez congênita não hereditária nos
países ocidentais é a prematuridade extrema (PILTCHER et al., 2015).
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
41
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
Nos casos em que as perdas auditivas profundas das crianças são causadas
por uma cóclea disfuncional, malformada ou mesmo ausente, o implante coclear
(IC) pode ser uma boa alternativa (NIPARKO et al., 2009). No implante coclear,
um fio fino contendo 18 a 22 eletrodos correspondentes a diferentes frequências
é cirurgicamente inserido na cóclea. Deitados contra a parede interna da cóclea,
os eletrodos estimulam o nervo auditivo diretamente, ignorando as células
ciliadas frequentemente danificadas. O fio contendo os eletrodos é conectado a
um transmissor, colocado cirurgicamente junto com um pequeno ímã, no crânio
logo atrás da orelha. Este transmissor magnético é conectado (através da pele
por indução magnética) com a parte externa de um implante coclear, que contém
um receptor e um microprocessador. Crianças surdas têm recebido implantes
cocleares desde o final dos anos 80. Nos Estados Unidos, os implantes estão
disponíveis para crianças a partir dos dois anos de idade desde 1990 e com 18
meses de idade desde 1998. Desde 2002, os ICs foram aprovados para bebês de
até 12 meses de idade e em alguns outros países as crianças os recebem desde os
seis meses de idade ou até mais jovens (assim que o crânio é grande o suficiente).
• Em adultos
a) pessoas com surdez neurossensorial profunda bilateral com código
linguístico estabelecido (casos de surdez pós-lingual ou de surdez pré-
lingual, adequadamente reabilitados);
b) ausência de benefício com prótese auditiva (menos de 30% de
discriminação vocal em teste com sentenças);
c) adequação psicológica e motivação para o uso de implante coclear.
• Em crianças:
a) experiência com prótese auditiva, durante pelo menos três meses;
b) incapacidade de reconhecimento de palavras em conjunto fechado;
c) família adequada e motivada para o uso do implante coclear;
d) condições adequadas de reabilitação na cidade de origem (TEFILI
et al., 2013, p. 417)
Além disso, Tefili et al. (2013) afirmam que os planos de saúde privados
em território nacional têm a obrigação de oferecer cobertura para ICs desde o
ano de 2012. Estas coberturas, evidentemente, possuem também seus próprios
critérios de avaliação.
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | APRENDIZES SURDOS
Nas últimas décadas, cada vez mais estudantes surdos foram educados
em suas escolas locais. Essa mudança é, em parte, consequência de políticas
governamentais deliberadas que buscaram a inclusão de alunos com deficiência
no ensino regular (FUCHS; FUCHS, 1994). "Uma escola para todos" é um grito de
guerra popular para este movimento, que começou nos Estados Unidos com pais
de crianças com deficiência intelectual protestando contra a institucionalização
de seus filhos, mas teve talvez seu maior impacto na educação de surdos.
47
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar das demandas por uma ampla gama de opções educacionais para
alunos surdos, as matrículas em escolas especiais para surdos diminuíram nos
últimos anos, principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, e até certo
ponto nos países escandinavos (SWANWICK et al., 2014). No Brasil o fenômeno é
semelhante, uma diminuição ou manutenção de matrículas em escolas especiais
e um aumento de matrículas nas escolas regulares (LAPLANE, 2015). Ao mesmo
tempo, alunos surdos que estão sendo educados em ambientes de educação
especial frequentemente são caracterizados como tendo mais necessidades do que
seus pares surdos ou ouvintes em salas de aula regulares, incluindo uma maior
frequência de problemas de saúde mental e aprendizagem e mais frequentemente
provenientes de meios socioeconômicos desfavorecidos (SHAVER et al., 2014).
48
RESUMO DO TÓPICO 2
• Se uma criança nasce com audição limitada ou adquire uma perda auditiva no
início da vida (especialmente antes dos dois anos de idade), o desenvolvimento
da língua falada será similarmente limitado, pelo menos até certo ponto.
• Em um nível diferente, para muitos indivíduos, ser surdo é muito mais do que
uma condição audiológica.
• A perda auditiva condutiva é mais fácil de curar e menos grave do que a perda
auditiva neurossensorial que resulta de danos no ouvido interno.
49
• Uma perda auditiva média (PTA) acima de 20 dB é considerada significante
para a aquisição da língua falada, pois é nesse ponto que a percepção da fala se
torna obstruída.
• Além dos fatores genéticos, a perda auditiva congênita pode ser causada por
doença materna, infecções infantis ou toxinas.
• Existem vários tipos de aparelhos auditivos, mas todos eles são essencialmente
dispositivos que amplificam os sons recebidos.
• Nos casos em que as perdas auditivas profundas das crianças são causadas por
uma cóclea disfuncional, malformada ou mesmo ausente, o implante coclear
(IC) pode ser uma boa alternativa.
50
• O uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares por uma criança pequena
não necessariamente ou automaticamente leva à percepção da fala.
• Ser surdo é tanto uma deficiência quanto, para algumas pessoas surdas,
também oupredominantemente uma identidade linguística e cultural.
51
AUTOATIVIDADE
52
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Imagine receber o seguinte e-mail de pais em busca de conselhos:
Nosso filho recebeu seu primeiro implante aos cinco anos e o segundo aos
sete anos. Ele agora tem oito anos e só fala frases de cinco a seis palavras
(gramaticalmente incorretas) e entende um pouco mais. Ele só pode ler no
nível dos anos pré-escolares. Ele estava em uma escola mal administrada, então
nos mudamos há oito meses para uma grande escola particular de ensino oral.
Ele está ganhando habilidades de língua e alfabetização, mas tememos que não
seja rápido o suficiente para diminuir a distância. Eu sei que não estamos nesta
escola há muito tempo e devemos esperar mais, mas o tempo é algo que já
perdemos muito. Eu não quero um jovem de 20 anos que não tenha uma língua
utilizável e não possa ler, mas também sinto que mudar para Libras [Língua
Brasileira de Sinais] dificultará ainda mais a leitura. O que eu faço?
53
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
Uma das coisas mais importantes que os pais de uma criança surda têm
que aprender é que, como observamos no Tópico 2, embora as crianças surdas
e ouvintes tenham muitas das mesmas forças externas agindo sobre elas e
respondem mais ou menos da mesma maneira, existem modos além de apenas
ouvir os limiares e a modalidade da língua em que elas são diferentes. Afinal, as
diferenças individuais estão presentes até mesmo entre gêmeos idênticos. Essas
diferenças podem ser maiores entre as crianças surdas do que entre as crianças
ouvintes, mas isso não é necessariamente ruim. As crianças são extremamente
flexíveis e resistentes. Elas se ajustam a seus ambientes familiares e sociais, e
crianças surdas, literalmente, não sabem o que estão perdendo (por não ouvir). O
que é essencial para os adultos no mundo de uma criança surda é reconhecer os
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TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
2 LÍNGUA E COMUNICAÇÃO
Ao longo deste livro de estudos, enfatizamos repetidamente a importância
da comunicação efetiva ou bem-sucedida entre pais e filhos, pois é o melhor
preditor de sucesso em praticamente todas as áreas de desenvolvimento de crianças
surdas e ouvintes. A falta de comunicação natural e bem-sucedida desde o início
talvez seja a consequência mais séria do diagnóstico tardio de perda auditiva e é
importante que os pais não subestimem a importância da comunicação durante
os primeiros meses de vida (LEDERBERG; BEAL-ALVAREZ, 2011).
Ter uma criança que não responde à voz da mãe ou presta atenção às
coisas que acontecem ao seu redor pode parecer um problema menor, mas terá um
impacto duradouro na criança, nos pais da criança e nas relações entre eles. Além
disso, como vimos no Tópico 1, muito do que uma criança pequena sabe vem
incidentalmente, simplesmente do brincar e da interação com o mundo. Outro
conhecimento vem da experimentação mental: pensar sobre as coisas, entender as
conexões ou o modo como as coisas funcionam e, às vezes, testá-las no mundo real.
Provavelmente, a maior parte do conhecimento de uma criança em determinado
momento vem de outras pessoas que fornecem novas informações (como que
os cavalos não fossem cachorros), novos comportamentos (como amarrar um
cadarço) e novas coisas com as quais interagir (como brinquedos, jogos e ideias).
Família e colegas são, portanto, grandes contribuintes para o desenvolvimento e
a aprendizagem, e muito do que eles fornecem vem através da língua.
Por toda a sua importância, a aquisição da língua é um desafio considerável
para a grande maioria das crianças surdas e a maioria tem pais e professores
que não têm certeza de como melhor ajudá-los a realizar essa façanha. Crianças
surdas de pais surdos têm o benefício de acesso total à língua desde o nascimento
por meio de uma linguagem visual natural, e o trabalho de vários pesquisadores
indica que essas crianças passam por vários marcos do desenvolvimento da língua
na mesma ordem e na mesma velocidade que as crianças ouvintes, pelo menos
até os dois anos de idade (MEIER; NEWPORT, 1990). Depois disso, até os filhos
surdos de pais surdos podem ter atrasos no desenvolvimento da linguagem. Dois
estudos longitudinais de crianças surdas de pais surdos que estavam a par com
os pares ouvintes aos dois anos descobriram que tinham vocabulários (de sinais)
significativamente menores do que os vocabulários falados das crianças ouvintes
aos três anos, de acordo com a mesma ferramenta de avaliação (ANDERSON;
REILLY, 2002; WOOLFE et al., 2010). Um padrão semelhante parece ser comum
55
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
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TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
Neste momento, não há evidências que sugiram que haja algum benefício
no uso da língua falada sobre a língua de sinais, ou o contrário, no estabelecimento
de vínculos precoces entre pais e filhos (LEDERBERG; PREZBINDOWSKI, 2000).
O uso da língua de sinais pode preencher todos os papéis iniciais de socialização
normalmente preenchidos pela fala dos pais. Ainda assim, alguns pais de crianças
surdas não entendem a importância da comunicação precoce e têm hesitação ou
mesmo medo em relação à língua de sinais. Alguns deles veem a língua de sinais
como um método estranho e talvez perigoso que pode impedir o desenvolvimento
da fala da criança. Outros pais ficam ansiosos para que seus filhos aparentem e
ajam o mais “normal” possível e a língua de sinais claramente não se encaixa
nesse requisito. Pouco eles percebem que, para algumas crianças, a aquisição
precoce da língua de sinais pode ser a melhor maneira de ajudá-los a alcançar
um funcionamento social “normal” e otimizar a aprendizagem. Oportunidades
perdidas de comunicação e socialização logo no início podem dar um ponto de
partida distintamente desvantajoso a uma criança em relação a outras crianças.
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TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
Ajustar-se a ter uma criança surda não é uma experiência fácil para muitos
pais ouvintes. Períodos de luto, depressão e culpa são frequentemente relatados,
uma reação natural a ter um filho que parece “menos do que perfeito”. Todavia,
esses sentimentos eventualmente darão lugar aos esforços combinados dos pais
para determinar as necessidades e serviços disponíveis para seus filhos – e para
si mesmos. As mães tendem a assumir as maiores responsabilidades emocionais
e cotidianas para as crianças surdas, como acontece com a maioria das crianças
com necessidades especiais na maioria das culturas; e elas às vezes se sentirão
sobrecarregadas. As mães que recebem mais apoio social de amigos e familiares
são as que melhor lidam com sua nova situação e os efeitos desse apoio são vistos
em melhores interações comportamentais e maior sensibilidade às necessidades
de comunicação de seus filhos.
64
TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
LEITURA COMPLEMENTAR
Neste sentido, Góes explica que a “deficiência não torna a criança um ser
que tem possibilidades a menos; ela tem possibilidades diferentes”, uma vez que
“a linguagem não depende da natureza do meio material que utiliza, mas o que
é importante é o uso efetivo de signos, seja qual for a forma de realização, desde
que possa assumir o papel correspondente ao da fala” (1996, p. 35).
65
UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
como a ouvinte, passe naturalmente pelas fases de pronúncia, sem que se tema
a pronúncia incorreta, a falta de articulação, a confusão de sons etc., antes do
domínio correto da linguagem.
Esclarece que até o século XV persistia a ideia de que o surdo era um ser
primitivo e não poderia ser educado. Os surdos, como outros povos dominados,
foram proibidos de usar suas línguas, e a eles foi oferecida uma outra, importante
para seu convívio com a sociedade, mas difícil de ser aprendida e praticamente
impossível de ser adquirida de forma espontânea. Segundo Goldfeld (1997),
através da história ficou evidenciado que essa proibição trouxe para os surdos
dificuldades na escolarização e na socialização.
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | O INÍCIO DA APRENDIZAGEM PARA SURDOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE 1 | PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E OS APRENDIZES SURDOS
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RESUMO DO TÓPICO 3
• Os pais que recebem forte apoio da família e dos amigos, assim como dos
profissionais, são mais capazes de lidar com as demandas de ter uma criança
surda.
• Pais e irmãos (e até mesmo o pet da família) proporcionam aos bebês e crianças
pequenas as primeiras interações que apoiam a aprendizagem em áreas sociais,
linguísticas e cognitivas.
• Comportamentos naturais que os pais surdos usam nas interações com seus
filhos surdos têm sido chamados de parentalidade intuitiva.
• Os pais surdos usam o toque com mais frequência e eficácia do que os pais
ouvintes para obter e manter a atenção do filho surdo.
71
• A atenção das crianças ouvintes será atraída pelas coisas que elas ouvem ao
seu redor, a maior sensibilidade das crianças surdas aos estímulos periféricos
(por exemplo, movimento, mudanças no brilho) serve como um mecanismo
compensatório.
• Ouvir a fala das mães ouvintes antes do nascimento e logo depois dele pode ter
um papel nas interações sociais precoces, tornando a mãe “familiar” ao recém-
nascido.
• Nas primeiras relações entre bebês e seus pais, na verdade, sorrisos e toques
e toques ritmicamente padronizados parecem ser tão reconfortantes quanto
vozes familiares.
72
• Neste momento, não há evidências que sugiram que haja algum benefício no
uso da língua falada sobre a língua de sinais, ou o contrário, no estabelecimento
de vínculos precoces entre pais e filhos.
• O brincar pode ser usado de forma estruturada para comunicar novos conceitos
ou relações entre os conceitos antigos, mas a brincadeira em si também
desempenha um papel inestimável no desenvolvimento de todas as crianças.
73
AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 2
LINGUAGEM, COGNIÇÃO E
EMOÇÃO NOS APRENDIZES
SURDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
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UNIDADE 2
TÓPICO 1
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
1 INTRODUÇÃO
Até este momento o leitor está bem ciente da nossa crença de que a
comunicação entre pais e filhos é uma base essencial para o desenvolvimento
linguístico, social e cognitivo. De fato, vimos que a aprendizagem nos sentidos
formal e informal depende, em grande parte, da comunicação interpessoal, pelo
menos se é para ser eficiente. Ao mesmo tempo, enfatizamos que comunicação e
linguagem não são exatamente a mesma coisa, mesmo em humanos (vamos supor
que isso é óbvio no caso de outros animais). Em última análise, é a linguagem, no
sentido lato, e a língua, no sentido estrito, que possibilita a aprendizagem eficiente
e o funcionamento interpessoal. No entanto, é claro que a aquisição de linguagem
e da língua é um dos maiores desafios para os alunos surdos. O desafio para a
aquisição de língua falada para uma criança surda ou com deficiência auditiva é
bastante evidente: é difícil aprender uma língua falada que você não pode ouvir ou
ouvir bem. Uma vez que uma criança surda tenha adquirido pelo menos o básico
da língua falada, ainda existe a luta constante para entender e ser entendido pelos
outros, porque é extremamente raro que um indivíduo surdo (mesmo aquele com
um implante coclear) ouça tão bem quanto uma pessoa ouvinte típica e a fala de
indivíduos surdos nem sempre são fáceis de entender (embora o implante coclear
precoce tenha melhorado isso drasticamente).
2 A LINGUAGEM
Uma das principais características que define humanos como humanos é a
linguagem. Várias espécies de animais têm intrincados sistemas de comunicação
(por exemplo, golfinhos, pássaros, abelhas), e alguns primatas são capazes de
usar comunicação simbólica, como gestos ou sinais simples. Em contraste, a
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
FONTE: <https://cdn-images-1.medium.com/max/1200/1*GrcNKdzVXtsG_nz5J_5g4g.jpeg>.
Acesso em: 14 maio 2019.
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línguas não têm uma ortografia, então elas não são expressas no papel ou em uma
tela (computador). Esse é o caso não apenas das línguas de sinais, mas também
de muitos idiomas falados.
3 LÍNGUAS DE SINAIS
As línguas de sinais não são idiomas universais, nem são inventadas.
Elas são, como as línguas faladas, línguas naturais, cultivadas e transmitidas em
comunidades de usuários do idioma. No caso das línguas de sinais, os núcleos
dessas comunidades são surdos (e muitas vezes Surdos) e seus parentes surdos
ou ouvintes. As línguas de sinais não são idiomas universais, essencialmente pela
mesma razão que não existem línguas naturais universais faladas. As línguas
são usadas e transmitidas de geração em geração em comunidades de pessoas
e estão intimamente ligadas às culturas dessas pessoas. As línguas constituem
uma das características mais importantes das identidades culturais e psicológicas
de vários povos. Esse processo de identificação cultural explica por que pessoas
surdas no Brasil usam LIBRAS, nos Estados Unidos usam ASL e surdos na França
usam a Língua Francesa de Sinais (LSF). Apenas para enfatizar que a LIBRAS
é diferente do português, observe que os surdos em Portugal usam a Língua
Gestual Portuguesa (LGP) que tem uma relação com a Língua Gestual Sueca e a
LIBRAS está mais próxima da LSF do que da LGP.
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
sinais, assim como nas línguas faladas. A expressão formal dessa arquitetura pode
ser um pouco diferente, principalmente por causa de diferentes características da
modalidade visual-manual em comparação com a modalidade auditivo-motora.
Por exemplo, em comparação com as línguas faladas, o grau de organização
sequencial nas línguas de sinais é menor, mas a simultaneidade (transmissão de
múltiplos significados ao mesmo tempo) é muito maior. Esta última característica
é simplesmente porque, com as mãos e braços como articuladores dominantes,
é relativamente fácil expressar dois sinais ou partes de signos simultaneamente,
enquanto os articuladores da linguagem falada (principalmente os lábios e a
língua) limitam tais possibilidades (embora o volume, vocalizar e prosódia
podem gerar diferenças significativas).
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
Na LIBRAS
IntroducMec_3_CORRECAO1.p65
28 existem dez tipos de classificadores.
17/3/2007,O
14:52classificar descritivo
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
DICAS
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
DICAS
5 O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Nas últimas décadas, muito conhecimento foi reunido sobre os
mecanismos que possibilitam a aquisição relativamente rápida de uma
primeira língua pelas crianças. Na década de 1950, Skinner (1978), sugeriu
que as crianças adquirem a linguagem por meio do condicionamento
instrumental, um mecanismo geral de aprendizagem em pombos e ratos, assim
como humanos, em que a aprendizagem é amplamente governada por reforço
e punição, generalização e discriminação. Sua teoria do comportamento verbal
era que apenas imitando e associando rótulos verbais com coisas (e sendo
apropriadamente reforçado), as crianças aprendem a linguagem. Em contraste
com esse mecanismo “externo” de aprendizagem da linguagem, Chomsky (1959),
argumentou que a gramática era tão abstrata que, para aprender esse sistema
complexo governado por regras, as crianças precisam possuir um dispositivo de
aquisição de língua (DAL) específico, uma gramática universal inata, que lhes
permita aprender uma primeira língua ou língua nativa tão facilmente. O DAL
de Chomsky era necessário, dada a suposição de que o input da linguagem é tão
caótico, inconsistente e, muitas vezes, incorreto, que as crianças não poderiam
adquirir a língua apenas nessa base.
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
DICAS
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
DICAS
Para saber mais sobre a aquisição da Língua de Sinais, assista ao vídeo Aquisição
de Língua de Sinais desenvolvido pelo departamento de Letras (LIBRAS) da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/104231>.
Acesso em: 14 maio 2019.
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
porque são criadas em situações em que ser multilíngue é apenas um fato da vida,
portanto, a norma. Tornar-se multilíngue quando a criança não é problemática,
embora certas circunstâncias sejam mais conducentes do que outras.
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
DICAS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
uma criança com perda auditiva significativa for adquirir a língua falada. De fato,
um dos principais focos de muitos programas de intervenção precoce é melhorar o
acesso à língua falada e manter ou estabelecer bons padrões de comunicação entre
pais e filhos. Em todas essas áreas, muito progresso foi feito nas últimas décadas.
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
DICAS
Para saber mais sobre o Distúrbio Específico de Linguagem (DEL), leia o artigo
Distúrbio Específico de Linguagem: a relevância do diagnóstico inicial de Crestani et al.
(2013). Na íntegra em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/2012nahead/188-11.pdf.
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
Cada vez mais, parte da grande variação nas habilidades de língua falada
de crianças surdas, independentemente de terem ou não implantes cocleares, tem
sido atribuída a habilidades de processamento cognitivo, como funcionamento
executivo, memória de trabalho e habilidades motoras finas (CONWAY et al.,
2011). Ao contrário da crença popular, o desenvolvimento da linguagem falada
em crianças surdas geralmente não está associado ao grau de perda auditiva.
Crianças moderadamente surdas à severamente surdas não adquirem a língua
falada mais rapidamente do que crianças profundamente surdas. A quantidade
de perda auditiva parece, no entanto, desempenhar um papel na percepção da
fala, onde a visão (leitura orofacial) e a proficiência na língua, assim como a
audição, são extremamente importantes. Em comparação com crianças surdas
com perdas auditivas moderadas a graves ou crianças surdas com implantes, as
crianças surdas com aparelhos auditivos têm de ser mais proficientes na língua
falada para alcançar níveis semelhantes de percepção da fala.
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
DICAS
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Embora tenhamos feito alusão a isso apenas uma ou duas vezes, parte
da morfologia das línguas de sinais é expressa na face. A expressão facial
pode incluir marcadores para funções sintáticas, como negações, formas de
perguntas diferentes e condicionais. As crianças surdas usam expressões faciais
bem cedo, muitas vezes expressando emoções. Expressões faciais também são
usadas em combinação com sinais. No início, as funções sintáticas são expressas
principalmente através do uso de sinais. Marcadores faciais e outros não-manuais
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, o processo de aquisição da língua de sinais assemelha-se ao da
aquisição da língua falada na importância do input precoce e fluente da língua e
do curso principal do desenvolvimento (os marcos linguísticos). Há, no entanto,
diferenças sutis no processo e no curso, principalmente devido a diferenças de
modalidade, como a extensão em que a iconicidade do sinal é explorada (ORMEL
et al., 2009). As diferenças na aquisição da língua de sinais tornam-se evidentes na
educação de surdos, tanto em ambientes comuns como em ambientes separados
para alunos surdos, onde encontramos dois grupos de estudantes usuários de
línguas de sinais. Um grupo parece entrar na escola com proficiência em língua
de sinais relativamente apropriada à idade, usuários nativos com pais surdos
(WOOLFE et al., 2010). Esse grupo é uma pequena minoria, no entanto. A grande
maioria das crianças surdas usuárias de língua de sinais entrará na escola
101
UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
com atrasos variados nas habilidades desta língua, comparáveis aos atrasos
observados em seu idioma falado. Essas crianças precisam de uma programação
intensiva de língua de sinais no início de sua vida acadêmica, não muito diferente
da programação intensiva de língua falada, necessária para as crianças surdas
que se comunicarão principalmente nessa modalidade.
102
RESUMO DO TÓPICO 1
• As línguas de sinais não são idiomas universais, nem são inventadas. Elas
são, como as línguas faladas, línguas naturais, cultivadas e transmitidas em
comunidades de usuários do idioma.
• Palavras e gestos de cospeech podem ser integrados de outras maneiras que não
em seu timing.
103
• A aquisição de língua, agora, é cada vez mais vista como um processo
cognitivo que não requer um dispositivo ou módulo de aquisição de língua
inato específico e não depende apenas do input linguístico.
• Algumas regiões cerebrais e algumas conexões entre elas que são importantes
para o processamento da língua falada em adultos já são ativadas em bebês
com apenas alguns dias de vida.
• Aprender uma segunda língua depois de dominar uma primeira, pode ser
mais fácil, mas não em todos os aspectos e não em todas as condições.
• Crescer como bilíngue leva a vantagens nos domínios cognitivos, assim como
na linguagem, mas o impacto cognitivo não é positivo em todos os aspectos.
104
• Como um precursor do desenvolvimento fonológico, as crianças surdas
balbuciam manualmente, assim como as crianças ouvintes balbuciam
vocalmente.
105
AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 2 TÓPICO 2
ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
1 INTRODUÇÃO
Quando crianças surdas entram na escola pela primeira vez, aos 3 anos de
idade em alguns países, muitas delas, se não a maioria delas, apresentam atrasos
no desenvolvimento da linguagem em comparação com pares ouvintes (se usam
língua falada) e pares surdos com pais surdos (se eles usam língua de sinais). À
primeira vista, as razões para essa situação parecem bastante óbvias. No primeiro
caso, as crianças que não podem ouvir claramente, terão dificuldade em aprender
uma língua que depende das ondas sonoras produzidas pela fala e “projetadas”
para serem recebidas por ouvidos totalmente funcionais. No segundo caso, as
crianças normalmente aprendem sua primeira língua através da imersão total em
uma comunidade que a utiliza, e elas terão dificuldade em aprender uma língua
se ela não for usada regularmente por aqueles ao seu redor. Em consonância com
a nossa discussão no tópico anterior, um resultado prático desta situação é que,
além de ensinar a linguagem necessária para alcançar a proficiência cognitivo-
acadêmica, os professores de crianças surdas, muitas vezes, têm de fornecer
apoio para a aquisição de habilidades de comunicação interpessoais básicas, uma
tarefa que normalmente não é necessária com crianças ouvintes (exceto talvez no
caso de imigrantes recentes).
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51hpXsUEniL._SX331_
BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 14 maio 2019.
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
é o avaliador, desde que o procedimento padrão seja seguido com precisão. Para
fazer comparações de resultados possíveis, tais testes têm normas baseadas em
um grande grupo de referência.
As avaliações informais da língua são muito mais orientadas para o
processo do que as avaliações formais. Embora possam envolver procedimentos
padrão, elas não envolvem testes em si. O uso individual da língua é avaliado no
contexto (JAMIESON; SIMMONS, 2011). Exemplos típicos de avaliação informal
são o uso de observações, listas de verificação, tarefas de elicitação e “avaliação
dinâmica”, uma combinação de avaliação e treinamento individual.
111
UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
DICAS
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/
I/41D45e3bbsL._SX344_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 14 maio
2019.
112
TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
diferente. Além disso, tais adaptações podem não resolver realmente o problema.
Se alguém evita o uso da fala ao avaliar a proficiência na língua falada porque
também implica testar a percepção da fala e a capacidade de leitura orofacial e,
em vez disso, usa a linguagem escrita, o teste também se torna um teste de leitura.
Dado o desafio de ler para muitos alunos surdos (veja o Tópico 1 da Unidade
3), a solução de um problema simplesmente cria outro. Da mesma forma, o uso
de sinais de apoio e comunicação simultânea ameaça a validade de um teste de
língua falada de várias maneiras. Primeiro, o teste então avalia a compreensão
dos sinais e da fala. Segundo, devido à iconicidade de alguns sinais (isto é, sinais
que se parecem com seus referentes), o teste de língua pode se tornar uma tarefa
bastante fácil de resolver problemas, especialmente se envolver a verificação de
imagens e pode não avaliar a proficiência na língua falada.
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
DICAS
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
segunda língua através da alfabetização (leitura e escrita) [...] a fala não deve
ser empregada como veículo principal para a aprendizagem de uma língua
falada para crianças surdas”. Outros, como Knoors e Fortgens (1995), sugeriram
uma visão alternativa, enfatizando o uso de próteses auditivas e implantes
suplementados pelo treinamento auditivo para maximizar a possibilidade da
língua falada se tornar o veículo de aquisição da língua falada para tantos alunos
surdos em programas bilíngues quanto possível.
125
UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
O ponto-chave a ser feito é que não há dados que sugiram que, como
grupo, os alunos em programas bilíngues estão atingindo os níveis
de alfabetização e linguagem adequados à idade que foram previstos
quando os modelos bilíngues foram implementados pela primeira
vez. Dada essa falta de evidências convincentes, pareceria instrutivo
revisitar o modelo e considerar algumas das preocupações levantadas
sobre sua implementação específica com os alunos surdos, como uma
maneira de pensar em por que os resultados foram menos do que o
esperado.
Apesar da falta de fortes evidências, ainda existem muitas razões para que
os alunos surdos possam ser proficientes em língua de sinais. Para alguns alunos
surdos, é a única língua acessível a eles. Para outros, é uma excelente maneira
de se comunicar sempre que a comunicação na língua falada não for possível,
por exemplo, sob condições de escuta adversas. Para todos os alunos surdos,
é o caminho para se tornar um membro da comunidade Surda e ser capaz de
126
TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
NOTA
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 2 | ENSINO E AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a complexidade dos alunos surdos como um grupo, não é de
surpreender que ensinar a língua a eles também seja uma atividade complexa.
Não existe uma maneira de ensinar a língua efetivamente a todos os alunos
surdos, porque a variação individual das necessidades é considerável. O ensino
diagnóstico de línguas é, portanto, fortemente recomendado, integrando avaliação
e ensino real.
133
RESUMO DO TÓPICO 2
134
• Para ter uma visão completa da proficiência linguística de um aluno individual,
a proficiência na língua materna também deve ser avaliada.
• Uma das medidas que as escolas podem tomar para otimizar o acesso auditivo
à língua falada, é a criação de uma acústica ideal para a sala de aula.
• Parece que muitos estudantes surdos, tanto com implantes cocleares quanto
sem, sentem-se bastante à vontade usando a língua falada e a língua de sinais
juntas.
136
AUTOATIVIDADE
137
138
UNIDADE 2 TÓPICO 3
PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores, descrevemos os fundamentos da aprendizagem
entre os alunos surdos. Essas descrições centram-se em questões associadas à
linguagem de modo geral e a língua em particular, o principal meio pelo qual
a maioria de nós adquire a maior parte do nosso conhecimento. No Tópico 3 da
Unidade 1, descrevemos como as interações entre as crianças surdas e seus pais
estabelecem fundamentos para aprender de algumas maneiras semelhantes e, em
alguns aspectos, diferentes daquelas de crianças ouvintes. Com o papel crescente
da língua nas interações interpessoais e na aprendizagem em geral, pode-se
esperar observar diferenças crescentes entre crianças com fluência maior e menor
na língua. Essa expectativa é apoiada pela evidência disponível.
Vimos no Tópico 1, desta unidade, que aos três anos, muitas crianças, se
não a maioria das crianças surdas, ficam um pouco atrasadas no desenvolvimento
da língua se comparadas aos seus colegas ouvintes. Embora estudos sobre
desenvolvimento cognitivo em pré-escolares surdos sejam relativamente raros, é
nesse ponto que também esperamos começar a ver divergências cognitivas entre
aprendizes surdos e ouvintes. A extensão em que essas diferenças observadas
são uma função da língua, das circunstâncias ambientais ou de outras diferenças
cognitivas entre crianças surdas e ouvintes ainda é uma questão de investigação
(bem como de algum debate filosófico). Embora seja conveniente dizer “isso não
importa realmente; nós simplesmente temos que lidar com essas diferenças”,
a vida não é tão simples assim. Os professores podem abordar algumas das
diferenças observadas entre surdos e ouvintes em sala de aula. O objetivo, no
entanto, deve ser o de fornecer às crianças surdas os fundamentos cognitivos
de que precisam para aprender, não apenas remediações de diferenças de
comportamento/conhecimento, talvez, superficiais.
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
Zweibel (1987) descobriu que crianças surdas com pais ou irmãos surdos
(sugerindo surdez genética) tiveram uma pontuação significativamente maior em
dois testes de inteligência não verbal do que crianças surdas com pais ouvintes e
irmãos ouvintes. Um subgrupo de crianças com pais surdos e irmãos surdos não
diferiu de um grupo auditivo de comparação em um teste. Para Zweibel (1987),
crianças surdas com pais surdos obtiveram escores mais altos de inteligência do
que crianças geneticamente surdas com pais ouvintes, mas com irmãos surdos.
Ele concluiu que o background genético não faz diferença na inteligência, mas
que o uso da língua de sinais no lar facilita a aprendizagem, levando a ganhos
subsequentes no desenvolvimento cognitivo.
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
DICAS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
4 MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
Sabe-se há mais de 100 anos que os surdos se lembram menos do que
os indivíduos ouvintes em tarefas de extensão (span) da memória envolvendo
materiais verbais e não verbais. Embora esses achados já tenham sido apontados
como indicadores de déficits intelectuais em pessoas surdas, estudos recentes
indicaram que esses achados estão mais relacionados à modalidade de língua
primária de um indivíduo do que seu estado auditivo (HALL; BAVELIER, 2010).
Os alunos surdos que possuem habilidades fonológicas e de fala relativamente
fortes tendem a usar estratégias de codificação fonológica ou temporal adequadas
para tarefas de memória sequencial, e têm maiores extensões de memória
(LICHTENSTEIN, 1998). Aqueles que dependem principalmente da língua de
sinais são mais propensos a usar estratégias de codificação visuoespaciais que são
menos apropriadas para a retenção de sequências, mas podem ser mais eficazes
para lembrar locais no espaço. Todman e seus colegas (TODMAN; COWDY,
1993; TODMAN; SEEDHOUSE, 1994) descobriram que as crianças surdas tinham
melhor memória do que as crianças ouvintes por figuras visuais complexas, mas
a vantagem desapareceu quando as partes que compunham as figuras tinham
que ser lembradas em sequência. Tais achados e sua própria demonstração de
que a memória de espaço visuoespacial é tão boa quanto ou melhor em surdos
usuários da língua de sinais do que em falantes ouvintes, levaram Hall e Bavelier
(2010) a argumentar que as tarefas de memória sequencial são inerentemente
tendenciosas contra surdos usuários da língua de sinais e que tarefas de memória
de trabalho separadas deveriam ser utilizadas para surdos e ouvintes.
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
cognição social, conhecida como teoria da mente. Já vimos que, desde uma
idade muito jovem, as crianças geralmente são capazes de compreender crenças,
emoções e motivações de outras pessoas. Esse aspecto da cognição social é uma
pedra angular do estabelecimento de relações sociais, tanto dentro da família
quanto além dela. De fato, entender as emoções, os motivos, os pensamentos
e as crenças de cada um é tão importante quanto compreender as intenções e
declarações comunicativas de cada um.
154
TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
crianças surdas com idades entre 3 anos 11 meses e 8 anos 3 meses e 40 crianças
ouvintes que serviram como grupo de comparação. As crianças surdas usavam
Língua de Sinais Americana (ASL) ou inglês falado. A bateria de testes incluía
tarefas de inteligência não verbal, raciocínio de falsas crenças e proficiência de
linguagem. As tarefas de crença falsa incluíam a tarefa de mudança na localização
e a tarefa de conteúdo inesperado descrita anteriormente. As crianças nativas
no uso da língua de sinais com pais surdos e as crianças ouvintes tiveram um
desempenho similar nas tarefas de teoria da mente, e ambos os grupos superaram
significativamente as crianças surdas com pais ouvintes. Aos 7 anos, no entanto,
as crianças surdas de pais ouvintes, depois de serem expostas intensamente à
ASL por vários anos, pareciam estar alcançando os usuários da língua de sinais
nativos. Idade e a capacidade de processar e lembrar uma estrutura sintática
específica – clausulas falsas de complemento com verbos de comunicação como
"Ela disse à menina que havia um inseto em seu cabelo" (quando uma foto
acompanhante mostrava que era apenas uma folha) – são preditores independentes
de desempenho nas tarefas de falsas crenças. A habilidade gramatical geral, no
entanto, não previu desempenho. Isto está em contraste marcante com outros
estudos que apontaram para uma relação entre a proficiência geral da língua e a
teoria da mente (HAO; SU; CHAN, 2010).
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
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TÓPICO 3 | PERFIS COGNITIVOS DE ALUNOS SURDOS
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UNIDADE 2 | LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NOS APRENDIZES SURDOS
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora não haja diferença na inteligência geral entre indivíduos
surdos e ouvintes, as diferenças em vários processos cognitivos são relatadas
já na idade pré-escolar, por exemplo, no sequenciamento de comportamentos
e na capacidade de distanciar-se da própria perspectiva. Essas diferenças estão
associadas a variações nas habilidades de linguagem e talvez com diferenças nas
experiências iniciais dentro da família, mas também podem ser indicadores de
diferenças cognitivas essenciais entre aprendizes surdos e ouvintes associados à
dependência primária do processamento visual em vez do auditivo.
162
RESUMO DO TÓPICO 3
• Há uma série de diferenças entre crianças surdas com pais surdos e aquelas
com pais ouvintes.
163
• As diferenças visuais entre crianças surdas e ouvintes começam cedo e refletem
uma interação entre ambiente e desenvolvimento cerebral.
164
• O fato de que a proficiência na língua e as interações iniciais da língua com
outras pessoas parecem ser essenciais para o desenvolvimento da cognição
social e da teoria da mente, em particular, tornou essa área de interesse para os
pesquisadores que se concentram em crianças surdas.
• Pode ser que a comunicação entre pais e filhos com implantes em certa
medida careça de conversas sobre estados mentais, ou, alternativamente,
essas conversas possam não ter verbos mentais específicos ou complementos
sintáticos.
• Meios mais eficazes de comunicação entre mães e seus filhos surdos facilitam
a compreensão social e o desenvolvimento da teoria da mente.
165
AUTOATIVIDADE
166
UNIDADE 3
REALIZAÇÃO ESCOLAR E
INSTRUÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
167
168
UNIDADE 3
TÓPICO 1
REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
1 INTRODUÇÃO
Este tópico e o próximo analisam o desempenho escolar entre aprendizes
surdos e com deficiência auditiva, o que sabemos sobre isso e como achamos
que podemos melhorá-lo. Nossa afirmação que precisa ser melhorada não será
uma surpresa para alguém familiarizado com a educação de surdos. No entanto,
haverá aqueles que acreditam que crianças surdas em salas de aula regulares,
com implantes cocleares ou com pais surdos (ou alguma combinação delas) estão
indo bem na escola. Eles presumem que estamos falando de crianças surdas em
contextos especiais que podem usar aparelhos auditivos, ter pais ouvintes e talvez
ter várias deficiências. Das unidades anteriores também pode-se pensar que
nossas referências a “pais surdos” e “pais ouvintes” nas sentenças anteriores são
palavras-código para ter uma primeira língua fluente ou não, respectivamente, e
que “implantes cocleares” é código para usar língua falada, em vez de língua de
sinais. O leitor cuidadoso, entretanto, reconhecerá que, embora tais atribuições
possam ser verdade, às vezes, elas são simplificações exageradas.
169
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
170
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
171
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
172
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
3 LEITURA
Se há uma coisa que parece bastante óbvia sobre ler e escrever na língua
nacional é que dependem de saber como as letras e as palavras soam, pelo menos
até certo ponto. De fato, entre alunos surdos mais jovens e mais velhos e com
deficiência auditiva, melhores habilidades de fala e audição estão associadas a
melhores habilidades de leitura (LICHTENSTEIN, 1998). No entanto, a leitura
e a escrita envolvem mais do que apenas sons e ortografia, e invocam todos os
processos cognitivos que discutimos no Tópico 3 da Unidade 2: memória de
curto e longo prazo, metacognição e assim por diante. A este respeito, a leitura
é frequentemente descrita como envolvendo processos top-down (de cima para
baixo) e bottom-up (de baixo para cima). O que sabemos sobre conceitos, palavras,
gramática e o mundo, influencia como processamos palavras em uma página
impressa (ou texto na tela do computador, mensagens em celulares ou legendas
em vídeos) ou como colocamos elas lá (ou seja, escrita). Da mesma forma, essas
palavras mudam o que sabemos sobre o conteúdo e sobre a linguagem, bem
como, talvez, sobre a pessoa que as produziu, o contexto de sua produção e assim
por diante (ver Figura 1).
173
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
TOP
Conhecimento
Conceitual Estratégico
(palavras, coisas) (resolução de
problemas)
Metacognitivo/Metalinguístico
______________________________________
Estrutura Discursiva
Gramática
Vocabulário
Morfologia
Fonologia/Ortografia
BOTTOM
FONTE: O autor
174
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
175
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
176
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
177
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
questão aqui não é apenas sobre quantidade – quantas palavras eles sabem – mas
também sobre a qualidade de seu conhecimento de palavras, sua profundidade
(o quanto eles sabem sobre a palavra/conceito) e sua amplitude (como ela está
conectada a outras palavras/conceitos). Por exemplo, crianças surdas com acesso
menor ou tardio à língua fluente normalmente têm maior probabilidade de
compreender e usar substantivos concretos e verbos de ação de alta frequência,
em vez de palavras mais abstratas ou gerais com as quais possam ter menos
experiência. Por causa de seu menor acesso à língua falada e escrita, os significados
das palavras individuais (escritas) também são menos superaprendidos pelos
surdos do que para os ouvintes e têm conexões associativas menores ou mais
fracas com outras palavras (MARSCHARK et al., 2004).
178
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
179
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
180
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
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UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
182
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
Ao contrário das famílias surdas, as famílias ouvintes têm que fazer uma
escolha explícita para a educação bilíngue, comprometendo-se a aprender e usar
a língua de sinais. No entanto, parece que o fator chave no estabelecimento de
proficiência em leitura, em alunos surdos, é a disponibilidade de uma linguagem
consistente e rica dos pais (HARRIS; BEECH, 1998), algo que os pais que estão
apenas aprendendo a usar a língua de sinais não serão capazes de fornecer. Em
média, as habilidades em língua de sinais de crianças surdas com pais ouvintes
estão muito aquém das habilidades de crianças surdas com pais surdos (MAYER;
LEIGH, 2010). No entanto, crianças surdas cujos pais apoiam o desenvolvimento
inicial através do uso de sinais parecem ter vantagens linguísticas, sociais e
acadêmicas durante os primeiros anos (CALDERON; GREENBERG, 1997), mesmo
que as implicações de longo prazo do bilinguismo bimodal para a alfabetização e
outras áreas de desenvolvimento permanecem obscuras (MAYBERRY, 2010). Ou
seja, apesar da evidência de vantagens precoces, no momento em que chegam à
educação pós-secundária, nem a aprendizagem em leitura nem a aprendizagem
em sala de aula é prevista pelas habilidades em línguas de sinais dos alunos
surdos ou pela idade em que aprenderam a língua de sinais (MARSCHARK et
al., 2009).
183
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
5 A ESCRITA
As habilidades de escrita de alunos surdos, como aquelas de alunos
ouvintes, geralmente são mais difíceis de quantificar do que suas habilidades de
leitura. Em parte, por esse motivo, também há muito menos pesquisas sobre o
assunto. Alguns pesquisadores se concentram em escrever amostras de alunos
surdos que variam em dimensões específicas (por exemplo, aqueles que usam
língua de sinais versus língua falada, aqueles com implantes cocleares ou não)
para descrever seus pontos fortes e fracos. Essa abordagem apreende a grande
variabilidade entre os surdos que escrevem e demonstra algumas diferenças óbvias
entre os grupos (MAYER, 2007). No entanto, generalizar a partir de indivíduos ou
pequenas amostras de alunos surdos também corre o risco de obscurecer possíveis
causas e correlações de seus estilos de escrita, o que requer dados de grupo. Os
estudos de escrita parecem nunca incluir medidas de cognição ou linguagem que
são essenciais se quisermos compreender os fundamentos da escrita de alunos
surdos e as maneiras pelas quais ela está relacionada à leitura (ou não).
184
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
Entre crianças surdas que usam uma língua de sinais natural, Singleton
et al. (2004) descobriram que aqueles com melhores habilidades na língua
mostraram uma melhor transição para a escrita, embora não tão boa quanto
ouvintes que estavam aprendendo o idioma nacional como segunda língua
falada. Seus resultados demonstraram que a transição de um idioma falado para
outro envolve uma conexão mais direta entre os elementos de sua língua face
a face e a língua na qual eles estarão lendo e escrevendo – eles têm o “código”
de linguagem necessário e podem se concentrar nos detalhes da mudança da
comunicação interpessoal para a comunicação escrita.
186
TÓPICO 1 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: LITERACIA
187
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
Com base nos relatórios dos alunos, Toscano, McKee e Lepoutre (2002)
concluíram que as habilidades de literacia dos alunos surdos também se
beneficiaram da experiência precoce e intensa com leitura e escrita, atividades
sociais relativamente limitadas, autoimagem positiva e comunicação eficaz e
extensa dentro da família. Observe também que DeLana, Gentry e Andrews (2007)
concluíram que os alunos de famílias que usam a língua falada se beneficiaram
mais do que aqueles de famílias que usam a língua de sinais.
188
RESUMO DO TÓPICO 1
• Parece ser uma língua precoce, em vez de ter pais surdos que apoiem o
desempenho acadêmico e o aprendizado mais geral.
• Entre alunos surdos mais jovens e mais velhos e com deficiência auditiva,
melhores habilidades de fala e audição estão associadas a melhores habilidades
de leitura.
• Ensinar a leitura para alunos surdos tem que envolver uma abordagem mais
global, ou talvez aproximações, integrando habilidades de nível inferior e
superior, em vez de se concentrar em sub-habilidades individuais.
• Por causa de seu menor acesso à língua falada e escrita, os significados das
palavras individuais (escritas) também são menos superaprendidos pelos
surdos do que para os ouvintes e têm conexões associativas menores ou mais
fracas com outras palavras.
• Novas palavras devem ser ensinadas a alunos surdos usando vários sentidos
e situações, em vez de simplesmente dar aos alunos listas de vocabulário para
aprender ou focar em significados únicos.
190
• Apesar da evidência de vantagens precoces, no momento em que chegam à
educação pós-secundária, nem a aprendizagem em leitura nem a aprendizagem
em sala de aula é prevista pelas habilidades em línguas de sinais dos alunos
surdos ou pela idade em que aprenderam a língua de sinais.
• Se as crianças surdas começam com uma língua de sinais ou uma língua falada,
portanto, a meta para os pais e professores deve ser fornecer uma ponte de
uma forma de comunicação para a outra.
191
AUTOATIVIDADE
192
UNIDADE 3
TÓPICO 2
REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
1 INTRODUÇÃO
Não há dúvida de que, quando se trata de educar alunos surdos, tendemos
a ser obcecados pela língua e pela literacia. No entanto, como indicamos
anteriormente, os alunos surdos tendem a ficar atrás de seus pares ouvintes em
todo o currículo. Parte da situação, claro, é um resultado direto de atrasos na
aquisição da língua. Todavia o complexo de fatores associados à aprendizagem,
incluindo linguagem, desenvolvimento cognitivo, aprendizagem social e
emocional e experiências educacionais, também afetará o desempenho em outros
domínios.
2 MATEMÁTICA
Como no caso da leitura, estudos realizados nos últimos 40 anos indicam
que crianças surdas ficam atrás de pares ouvintes de 2 a 6 anos em matemática
(ALLEN, 1986; QI; MITCHELL, 2012). Por exemplo, a norma nacional do Stanford
Achievement Test, nona edição (SAT9) para alunos surdos e com deficiência
auditiva, obteve notas médias para alunos de 18 anos ao nível do quinto ano
escolar (10 a 11 anos) em resolução de problemas matemáticos e logo abaixo do
nível do sexto ano escolar (11 a 12 anos de idade) em procedimentos matemáticos.
Pesquisas conduzidas com estudantes universitários também demonstraram que
alunos surdos não se saem tão bem quanto os colegas ouvintes na resolução de
problemas matemáticos (MARSCHARK et al., 2013). Pelo menos em parte, tais
descobertas refletem diferenças em habilidades mais fundamentais relacionadas
à matemática, como cálculo mental e velocidade de comparação de números
(BULL; MARSCHARK; BLATTO-VALLEE, 2005).
193
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
194
TÓPICO 2 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
A maioria das crianças não pareceu ver o uso de sinais para expor
o problema como contendo links para sua solução. De fato, muitas
crianças, particularmente as menos bem-sucedidas, pareciam não
atender à situação problemática, concentrando-se principalmente
nos números dos problemas. Elas ignoraram ou não reconheceram
qualquer relação entre a contextualização e sua solução, perdendo
marcadores linguísticos que poderiam ter contribuído para tornar o
problema mais fácil (ANSELL; PAGLIARO, 2006, p. 167).
195
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
visuoespaciais do que as dos alunos ouvintes. Também é digno de nota que não
houve diferenças no desempenho visuoespacial ou nos escores de matemática
entre os usuários de sinais precoces e os usuários de sinais tardios no grupo de
surdos. Esses achados, portanto, contrastam com a suposição geral de que os
alunos surdos devem ser considerados aprendizes visuais e a crença de que os
aprendizes que usam a língua de sinais devem ser particularmente adeptos a esse
respeito.
196
TÓPICO 2 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
197
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
Bull (2008), por exemplo, argumentou que os atrasos dos alunos surdos
no desenvolvimento de conceitos de medição e fração são devidos, em parte, a
ter menos oportunidades de praticar até mesmo as habilidades de baixo nível. Ela
observou que, com o afastamento da prática na sala de aula, a transição para a
automaticidade nos fundamentos da matemática pode ser dificultada. Consistente
com essa sugestão, Bull et al. (2011) descobriram que os estudantes universitários
surdos eram significativamente menos precisos do que os estudantes universitários
ouvintes em estimar a localização dos números em uma linha numérica (Tarefa
Número-Posição). Eles sugeriram que os alunos surdos com maior acesso precoce
à língua (por exemplo, pais surdos ou implantes cocleares) podem ter vantagens
no desenvolvimento de habilidades acadêmicas de resolução de problemas, na
medida em que têm mais interações do mundo real que envolvem processamento
relacional e integração do conhecimento. Essa possibilidade é particularmente
interessante aqui, porque estudos indicaram que crianças e adultos tendem a se
198
TÓPICO 2 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
199
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
200
TÓPICO 2 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
201
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
Uma outra barreira em potencial para o sucesso dos alunos surdos pode
estar nas dificuldades inerentes ao uso da visão tanto para assistir à comunicação
(seja ela em sinais ou falada), como para assistir às demonstrações e outras
experiências visuais ao mesmo tempo. Ou seja, o uso crescente de tecnologias
visuais em salas de aula STEM cria desafios adicionais para a aprendizagem
de alunos com perda auditiva, bem como aqueles que são deficientes visuais.
O uso crescente de ferramentas multimídia tem sido reforçado por pesquisas
que demonstram a utilidade de combinar informações verbais e visuais em
ambientes STEM para alunos ouvintes (GELLEVIJ et al. 2002) e há muito tempo
tem sido uma ênfase no uso de materiais visuais para apoiar a educação de
alunos surdos (MOORES, 2001). No entanto, os educadores ainda não abordaram
202
TÓPICO 2 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
o fato de que alunos surdos e com deficiência auditiva são incapazes de assistir
simultaneamente a exibições visuais e à língua de sinais (ou a textos em tempo
real ou às expressões orofaciais de outros) na sala de aula. Se pudermos encontrar
maneiras de contornar esse problema, as tecnologias visuais podem ter o potencial
de aumentar a eficiência e a eficácia de recursos limitados de interpretação e
seriam particularmente benéficas em contextos STEM, em que a natureza do
material a ser aprendido e as barreiras acima mencionadas à aprendizagem por
crianças surdas coloca-as em desvantagem.
203
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
204
TÓPICO 2 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES: NUMERACIA
Ainda não sabemos ao certo a medida em que insights desse tipo, obtidos
nesses estudos, realmente levam os professores a ajustar seus métodos e materiais
de instrução. Também ainda não sabemos o impacto potencial que estes ajustes
poderão ter sobre os alunos surdos. No contexto de descobertas indicando que
professores de alunos surdos e professores de alunos ouvintes têm atitudes,
metas e estratégias um pouco diferentes, pode ser que o contexto instrucional e
os antecedentes educacionais influenciam suas expectativas e abordagens para
educar os alunos surdos em ciências, como aparentemente fazem nos domínios
da literacia e da matemática.
205
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
206
RESUMO DO TÓPICO 2
• Como no caso da leitura, estudos nos últimos 40 anos indicam que crianças
surdas ficam atrás de pares ouvintes de 2 a 6 anos em matemática.
207
• Intervenções estruturadas que incentivem os alunos a aproveitar o tempo
para visualizar soluções de problemas devem aumentar o desempenho bem-
sucedido de matemática.
208
• Alunos surdos tendem a tratar diagramas que acompanham problemas de
matemática como imagens, e não como representações que poderiam ajudar
na solução de problemas.
209
AUTOATIVIDADE
210
UNIDADE 3
TÓPICO 3
NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA
APRENDIZES SURDOS
1 INTRODUÇÃO
Para surdos e ouvintes, a instrução dos professores e a colaboração dos
colegas estão sendo cada vez mais complementadas e, às vezes, até substituídas
por ferramentas de aprendizagem aprimoradas por multimídia e assistidas por
computador, usadas tanto na sala de aula quanto a distância.
2 A REVOLUÇÃO DIGITAL
É uma suposição comum que o uso de informações visuais, como imagens,
animações ou filmes, em combinação com informações verbais (em formato
falado ou escrito) aumenta a aprendizagem nos alunos, fornecendo codificação
dupla de informações na memória e aprendizagem “mais profunda” (MORENO;
MAYER, 2002). Na educação de alunos surdos, a apresentação visual de todas as
informações, mesmo aquelas normalmente apresentadas auditivamente para os
alunos ouvintes, é vista como uma pedra angular didática. Tais apresentações
podem incluir representações visuais de conteúdo (por exemplo, imagens
ou animações) ou clipes de vídeo da língua de sinais. Essa combinação de
múltiplas representações de informação é chamada de multimídia. Em materiais
de multimídia, os alunos recebem informações em pelo menos dois formatos
distintos, como informação verbal e pictórica (MAYER, 2003).
211
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
Em uma pesquisa com adultos surdos nos Estados Unidos, Zazove et al.
(2004) descobriram que mais de 60% dos entrevistados usaram um computador.
Isso é comparado a aproximadamente 70% do uso de computadores na população
geral dos EUA e 50% a pessoas com deficiências. Dezoito por cento dos usuários
de computador surdos relataram ter um computador em casa, e o uso foi
associado à idade, ao nível educacional e à renda familiar. Idade mais jovem,
maior nível de escolaridade e maior renda familiar, foram associados ao uso mais
frequente de computadores, mas apenas 27% aprenderam a usar o computador
na escola. No geral, os surdos que relataram usar computadores indicaram que
eles o faziam principalmente por diversão, embora a comunicação com outras
pessoas, principalmente surdas, também tenha sido relatada como uma função
importante. Trinta e oito por cento de todos os entrevistados relataram o uso do
computador para recuperar informações.
212
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
213
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
muito maior) a 60% em outros países. Também aqui, embora tenhamos descrições
do uso instrucional da tecnologia, falta pesquisa empírica sobre sua eficácia
educacional com alunos surdos.
3 APRENDIZAGEM MULTIMÍDIA
Se as (multi) mídias digitais devem melhorar a instrução e a
aprendizagem para os alunos surdos, é importante explorar como os ambientes
de aprendizagem precisam ser projetados para aproveitá-las (VERHOEVEN;
GRAESSER, 2008; VERHOEVEN; SCHNOTZ; PAAS, 2009). Para que um aluno
construa conhecimento a partir de um ambiente de aprendizagem interativo,
vários processos básicos estão envolvidos. Primeiro, o tópico a ser aprendido
deve ser identificado. O tópico serve como um quadro de referência para o aluno,
geralmente usando um formato de âncora. Uma âncora é um contexto macro no
qual um tópico é introduzido, declarando o problema em um vídeo introdutório
ou motivando o texto. O aluno, então, deve procurar informações relacionadas,
guiado pela tarefa ou atividade. Se a informação estiver disponível on-line, o aluno
terá que buscar informações, compreender e avaliar a relevância das informações,
selecionar as mais pertinentes e integrá-las ao conhecimento prévio.
214
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
215
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
menos com o texto na tela do que com os colegas ouvintes (JELINEK LEWIS;
JACKSON, 2001), presumivelmente por causa das diferenças no conhecimento
prévio. Em qualquer caso, R. E. Mayer e Moreno (1998) descobriram que os
materiais de texto eram menos eficazes do que as apresentações verbais auditivas
na aprendizagem multimídia, criando impedimentos significativos à integração
da informação.
216
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
217
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
UNI
CONCEITO TÉCNICO:
A teoria de Dupla Codificação de Paivio ampliou a teoria geral do processamento de
informações, sugerindo o tratamento separado dos subsistemas verbais e visuais da memória.
Uma forma de elaboração enfatiza as associações verbais. A outra forma de elaboração é a
criação de uma imagem visual para representar uma imagem ou uma palavra. A informação
apresentada em qualquer forma, verbal ou visual, é codificada e armazenada na memória
visual ou na memória verbal. Estes sistemas de memória são separados, cada um capaz de
activar o outro, bem como converter informações de uma forma para outra. As palavras
podem ser codificadas em um formato verbal, mas também são capazes de ser convertidas
para um formato de imagem. O mesmo pode ser dito para as imagens, cuja forma pode ser
convertida para uma descrição verbal. Se as imagens visuais e associações verbais são as
duas maiores formas de elaboração, qual delas é mais eficaz? Segundo Paivio, uma imagem
fornece um segundo tipo de código para a memória que é independente do código verbal.
Essa teoria é conhecida como Teoria da Dupla Codificação, porque propõe dois códigos
de memória independentes uma vez que os dois códigos funcionam melhor quando
trabalhados separadamente. Do ponto de vista de Paivio, a ligação entre os códigos verbal e
visual fortalecem a memória. Para os designers, a apresentação combinada da informação
visual e verbal é susceptível de aumentar as probabilidades de reconhecimento e recordação,
devido às associações reforçadas pela dupla codificação (ALBUQUERQUE, 2019).
219
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
5.3 HIPERMÍDIA
As informações na web geralmente estão em formato hipermídia.
Hipermídia ou hipertexto é uma coleção de documentos vinculados por links
que permite aos leitores passar de um trecho de texto para outro através dos
links (DESTEFANO; LEFEVRE, 2007). Para que a hipermídia seja eficaz, os alunos
precisam saber como navegar na web. Eles precisam decidir quais links usar e
quais ignorar. Muitas vezes, o significado de cada unidade em textos hipermídia
tem que ser entendido para ser combinado com os outros na construção de
interpretações completas e precisas de texto. Isso requer habilidades como
chunking de múltiplas informações e integração de informações através de textos,
imagens e animações (VERHOEVEN; SCHNOTZ; PAAS, 2009). Esses processos
de integração exigem consideráveis recursos de memória de trabalho e, portanto,
podem facilmente levar a uma sobrecarga cognitiva, especialmente para os
alunos que são leitores mais fracos ou menos conhecedores do conteúdo. Embora
não exista uma pesquisa específica disponível para a compreensão de hipertexto
por alunos surdos, parece provável que eles estejam em risco de problemas de
compreensão, devido a sua proficiência em leitura comparativamente baixa e às
limitações na retenção de informações sequenciais. Ainda a ser determinado (ou
mesmo explorado) é como podemos projetar materiais hipermídia e didáticas
relacionadas para tais alunos, de modo a minimizar a possibilidade de sobrecarga
cognitiva.
220
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
UNI
CONCEITO TÉCNICO:
No ano passado a ciência reconheceu essa forma de aprendizado como a mais eficiente para
lembrar de novos conhecimentos. Chunking pode ser traduzido por choques, reencontros
ou divisões. Esse processo se trata de tentar fazer algo muito complexo fazer sentido ao
quebrá-lo em menores unidades (chunks). Por exemplo, quando você está aprendendo
uma nova linguagem, você aprende frases, gramática, vocalização, entre outros, até que
consegue construir sentenças complexas. Outro benefício dessa prática é que ela pode
lhe ajudar no aprendizado de coisas completamente diferentes, pelo mesmo caminho. Por
exemplo, quando alguma música é utilizada como forma de memorizar a tabela periódica
ou quando você aprende uma nova linguagem muito mais fácil depois de já conhecer outras
(BATTISTELLI, 2019).
221
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
Uma característica de design da hipermídia que pode ser útil para alunos
surdos ou para outros com menos conhecimento prévio é a quantidade de
estrutura no conteúdo de texto: mais estrutura ajuda a compensar menos conexões
na base de conhecimento existente. Se os links no texto levarem a janelas pop-up,
o texto nessas janelas não influenciará a aprendizagem de maneira positiva ou
negativa. No entanto, as janelas pop-up contribuem para facilitar a navegação e
podem aprimorar a compreensão se destacarem informações textuais. Alunos
com pouco conhecimento prévio, portanto, parecem particularmente propensos
a se beneficiar se designers instrucionais criarem hipertexto estruturando e
destacando links e usando organizadores avançados. Os efeitos só serão positivos,
no entanto, se as manipulações realmente diminuírem a carga cognitiva.
5.4 NAVEGAÇÃO
Existem várias possibilidades para navegar na Web e pesquisar
informações. Usar palavras-chave, inserir um URL específico e usar links são os
métodos mais comuns. A eficácia desses métodos depende do tipo de informação
que se está procurando, do conhecimento prévio do aluno, do conhecimento da
estrutura da web e das habilidades em técnicas de busca. Selecionar bons sites
é relativamente difícil para os alunos na educação fundamental. Pesquisar com
palavras-chave é muito difícil para crianças pequenas e, embora os alunos mais
velhos consigam usar mecanismos de busca e palavras-chave, eles costumam ter
pouco tempo para ler atentamente as informações nos sites (KUIPER; VOLMAN;
TERWEL, 2005). Como resultado, eles podem não ser capazes de julgar a utilidade
ou relevância de sites ou conteúdo do site. Suas pesquisas, portanto, tendem a ser
bastante intuitivas e assistemáticas, a menos que tenham um apoio considerável.
222
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
Não são apenas os alunos surdos que evitam textos na web. Os alunos
geralmente ficam entediados com sites que contêm grandes quantidades de texto
e navegam rapidamente para longe deles. É especificamente o caráter multimídia
da web que atrai os alunos mais jovens e eles preferem a busca relativamente
rápida e fácil, pelo menos em comparação com os livros (KUIPER; VOLMAN;
TERWEL, 2005). Felizmente, o critério mais importante para selecionar um site
por jovens estudantes parece ser se o conteúdo que aparenta relevante para a
tarefa. A confiabilidade e a validade das informações, no entanto, raramente são
avaliadas e, mesmo que sejam, os critérios incorretos costumam ser aplicados.
Alunos “mais fracos”, portanto, precisam de considerável supervisão e ajuda na
busca de informações adequadas na estruturação de seu trabalho, e as dificuldades
dos alunos surdos em julgar sua compreensão e conhecimento, como exemplifica
Borgna et al. (2011), colocam eles em risco particular de recuperação de informação
ineficiente e superficial.
223
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
6 SUPORTE EDUCACIONAL
Frequentemente, os estudantes são obrigados a usar informações de fontes
multimídia digitais, baseadas na web ou não, para a aprendizagem investigativa.
A aprendizagem investigativa refere-se àquela centrada no aluno, com
professores orientando a investigação de questões do mundo real. A ensinagem
e a aprendizagem baseadas na investigação complementam o ensino tradicional
em sala de aula, permitindo que os alunos conectem seus próprios interesses
aos objetivos instrucionais dos professores. Em particular, a aprendizagem
investigativa requer que os alunos encontrem informações, analisem, determinem
como se relacionam com a tarefa predefinida e gerem soluções que demonstrem
seu pensamento e compreensão. No entanto, esses ambientes abertos de
aprendizagem representam um desafio significativo (JOHNSON; PERRY;
SHAMIR, 2010). As exigências cognitivas são tão exigentes que a aprendizagem
investigativa muitas vezes pode resultar em nenhum aprendizado. Para alcançar
a aprendizagem, é necessário o apoio instrucional dos professores. Uma maneira
de fornecer esse suporte de forma eficaz é através do uso de roteiros de aula
altamente estruturados.
224
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
225
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
226
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
imagens e vídeos com língua de sinais digital. Participaram 25 alunos surdos, com
idades entre 9 e 18 anos, recrutados em escolas regulares e especiais. Histórias no
nível de leitura do terceiro ano foram usadas como estímulos, e a aquisição de
informações fatuais foi medida por uma atividade de recontagem de histórias.
A compreensão e a aprendizagem, medidos pela exatidão da recontagem da
história, foram os mais baixos na condição somente para o material impresso.
Adicionar imagens ou vídeos aumentou significativamente a compreensão. Em
comparação ao material impresso com vídeos em língua de sinais, o material
impresso com imagens foi um pouco mais eficaz, embora essa diferença não
tenha sido estatisticamente significativa. O que não ficou claro foi a preferência na
percepção visual temporal: os alunos primeiro leram o texto e depois assistiram e
olharam as imagens e vídeos ou primeiro assistiram e olharam as imagens e vídeos
e depois leram o texto? Os autores concluíram que a apresentação multimídia de
material de leitura é significativamente mais eficaz para a compreensão do que o
uso de apenas material impresso. A incorporação de vídeos de língua de sinais,
no entanto, não parece melhorar a compreensão de leitura em comparação com
o uso de imagens.
227
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
UNI
CONCEITO TÉCNICO:
A C-Print é uma tecnologia e serviço de fala-para-texto (legendagem) desenvolvida
no Instituto Técnico Nacional para Surdos, uma faculdade do Instituto de Tecnologia de
Rochester. O sistema está sendo usado com sucesso para fornecer acesso de comunicação
a pessoas surdas ou com deficiência auditiva em muitos programas em todo o país. Além
dos ambientes educacionais, o C-Print também pode ser usado em ambientes empresariais
e comunitários, e com pessoas com outras deficiências, como pessoas com deficiência
visual ou dificuldades de aprendizagem.
Reitsma (2008) levantou a questão dos alunos surdos tendo que atender
a múltiplos estímulos visuais em seu estudo sobre a eficácia de um programa
de computador para a aprendizagem de leitura e ortografia de crianças surdas.
O programa multimídia, instalado em um laptop, consistia em dois tipos de
exercícios baseados em computador. No primeiro, uma imagem ou vídeo de sinais
indicando um significado de palavra foi apresentado na tela, e as crianças foram
convidadas a selecionar a ortografia da palavra correta a partir de três palavras
escritas alternativas. No segundo tipo, uma palavra impressa era mostrada
na tela e as crianças tinham que escolher a imagem ou vídeo de sinais que
correspondiam ao significado da palavra. Os distratores eram ortograficamente
ou semanticamente relacionados. O programa foi testado em 11 crianças surdas,
com média de idade de 7 anos e 10 meses, todas em escolas especiais para surdos,
nas quais tanto a fala quanto a língua de sinais foram utilizadas. Todos, exceto um,
usavam aparelhos auditivos; nenhum utilizou implante coclear. Vinte palavras,
antes desconhecidas para as crianças, foram praticadas durante duas sessões. As
crianças aprenderam a ler e compreender, em média, 12 das 20 novas palavras, e
20% de todas as palavras foram escritas corretamente após o treinamento.
228
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
229
UNIDADE 3 | REALIZAÇÃO ESCOLAR E INSTRUÇÕES
230
TÓPICO 3 | NOVAS TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM PARA APRENDIZES SURDOS
231
RESUMO DO TÓPICO 3
• A comunidade Surda está se tornando cada vez mais uma comunidade virtual.
• Cursos on-line e tutoria para alunos surdos são cada vez mais populares,
embora a pesquisa avaliativa ainda esteja faltando.
232
• Para melhorar a aprendizagem dos alunos surdos por meio da construção
do conhecimento interativo, as limitações da memória de trabalho devem ser
levadas em conta, juntamente às características do aluno, como motivação,
lócus de controle e conhecimento prévio, bem como fatores ambientais, como
interatividade e oportunidades de aprendizagem colaborativa.
• Ao exigir que os alunos ouvintes dividam a atenção visual própria deles, o texto
apresentado simultaneamente pode “sobrepor” materiais visuais, resultando
na utilização reduzida de ambas as fontes de input.
233
• A adição de imagens também pode levar a um processamento mais superficial
do texto anexo.
• Muitos alunos surdos terão problemas com hipertexto em relação aos pares
ouvintes, porque eles frequentemente têm menos conhecimento de conteúdo
anterior e menos funcionamento executivo automático em comparação com os
alunos ouvintes.
234
AUTOATIVIDADE
235
236
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