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Muito mais que #games

Eduardo Brasil Barbosa Junior


Gamer, Mestrando em Comunicação pela UFF e Gestor de Projetos & Inovação na Media Systems/SC.

Gosto da ideia do lúdico porque considero essa uma chave importante para refletir a respeito do mundo dos
games e pensar também um pouco mais sobre tudo aquilo que nos diverte, extrapola nossas experiências e é
capaz de falar às nossas emoções. Afinal, quais carros que você gostaria de pilotar? Como seria marcar um gol
na final da Champion’s League? Quando você irá combater em uma arena repleta de magias, ou quem sabe até
romper a barreira do espaço e do tempo para garantir sua própria sobrevivência em um mundo distópico não
muito distante? Há também aqueles que estariam dispostos a saltar de paraquedas, ao lado de seus bravos
amigos, para conquistar um bunker em uma grande guerra mundial.

Para a maioria de nós, pessoas comuns, todas essas respostas estão nos games. A quarentena modificou por
completo as opções de entretenimento e, mais do que nunca, a vida nos convida a um lugar distinto, onde a
diversão e a imaginação testam limites. É assim que milhares de pessoas têm se encontrado no vasto
ecossistema dos jogos eletrônicos. Quando no cenário atual declaramos que os games expandiram seu público
para o mainstream, estamos dizendo que a pandemia apenas acelerou uma tendência onde o mundo dos jogos
(casuais, hardcore games e também competições de e-sports) ganham um protagonismo cultural e de geração
ainda maior de valor e receita para marcas e anunciantes em geral.

Falar ao mercado publicitário ou a um grupo de investidores sobre a expansão do cenário gamer no Brasil é
disseminar a ideia de que estamos além da concepção comum de um jogo, pois a realidade dos jogos eletrônicos
há muito tempo deixou de ser uma conversa de nicho e já pode ser tratada, (antes mesmo da pandemia) como
uma atitude ou experiência trasmidiática que expandiu a experiência dos antigos fliperamas e lan houses, se
convertendo hoje em grandes eventos, paixão, comunidade e lucro.

Os jovens Millennials, Z e Alpha que quase não assistem TV, não se atentam a outdoors e pouco realizam a leitura
de jornais e revistas tendem a consumir conteúdos áudio visuais em plataformas como Youtube, TikTok e Twitch.
Sendo assim, o argumento não é mais sobre mídia on ou mídia off line, mas sim aonde a atenção desse mercado
consumidor e dessa nova geração está.

A viralização, retenção e engajamento que o universo gamer possui hoje no cenário mundial ocorre justamente
porque os indivíduos já “nascem conectados” e em uma relação direta com a inovação e com o mundo digital.
Por este motivo, estamos falando que muito mais que simples jogos, o ecossistema gamer envolve
relacionamento, estilo de vida, streaming, música, shows, torcidas, patrocínios, eventos e redes sociais.

Um recente estudo de Culture Lab da agência ÁFRICA sobre comportamento e tendências gamers no Brasil
aponta mais 1.5 milhões de menções a jogos eletrônicos nos últimos três meses, ultrapassando assim as buscas
pelo futebol durante a pandemia. Paralelo a isso, estamos falando de um incremento de 3.150% na procura pela
palavra “jogos” no Google (fonte: AFRICA: Google Trends, dados de março até junho de 2020). Da mesma forma
que a publicidade “se apropriou” de indústrias como a do cinema e da música, marcas endêmicas (que estão
naturalmente no ambiente gamer) e não endêmicas (que estão fora dessa cadeia, mas se interessam pelo
universo de jogos eletrônicos e pelos e-sports) também estão levando em consideração que jogos eletrônicos
são muito mais do que entretenimento.

Como podemos perceber, a indústria gamer dita regras (veja a quantidade de filmes, séries e produtos) baseadas
em jogos. Tal fenômeno reflete comportamentos e dialoga com o cotidiano das pessoas em fóruns de discussão,
plataformas de vídeos e até mesmo no conceito empresarial de gameficação. Da mesma forma que a publicidade
se utiliza dos meios convencionais para vender produtos e serviços, estamos vivenciando uma mudança
significativa no mindset de anunciantes que estão dispostos a se apropriar do universo gamer para estes mesmos
objetivos.

Apesar da pandemia do novo coronavírus que aflige a cada um de nós, permaneço positivo e acredito que
devemos nos orgulhar do trabalho realizado pelas empresas envolvidas no mercado da publicidade e jogos
digitais. Para além de contribuir com a mensuração de resultados e tratar de forma confiável os dados para
anunciantes e para o público em geral, a indústria gamer também é capaz de gerar oportunidades de trabalho,
além de um pouco mais de esperança e divertimento para muitos de nós.

E, se você ainda tem dúvidas sobre o impacto positivo que os jogos eletrônicos podem ter, eis um exemplo. Em
setembro de 2018, algumas partidas de jogos on-line me possibilitaram conhecer um grupo de amigos formado
por pessoas de diversos estados de Norte ao Sul do país. Dois anos se passaram entre encontros presenciais,
aniversários e muitas risadas. Até que no dia 25 de abril de 2020, o riso é interrompido pela perda de um amigo,
que lutava contra o COVID-19. Almir Jr deixou sua família com esposa e um filho de 7 anos, carinhosamente
chamado por nós de Gui.

O menino recentemente religou o vídeo game e jogava com a gametag do pai. Passado o susto inicial, ou seja,
quando descobrimos que o perfil on-line estava sendo utilizado pelo filho, duas ideias surgiram: alterar o nome
do clã (que passa a ter as iniciais em homenagem ao nosso falecido amigo) e criada a gametag do Gui,
organizamos uma partida com mais de vinte players jogando juntos e sendo liderados por ele.

Quando falo em olhar para o lado e saltar de paraquedas - mesmo que virtualmente - com seus amigos, a
lembrança que tenho é de ouvir a voz dessa criança, assumindo a liderança das partidas e fazendo com que por
trás de uma tela de vídeo game um grupo de publicitários, engenheiros, militares, pais e amigos vivessem
mesmo que por algumas horas a experiência de ver um filho ser igual ao seu pai, não deixando assim o espelho
se quebrar. Por isso, hoje acredito e agora também entendo porque sempre foi muito mais que apenas #games.

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