NOTA CIENTÍFICA

Utilização de resíduo de celulose associado a

adubação com nitrogênio e fósforo na produção de
mudas de E. grandis
Cíntia Soares Ferreira1, Suelen de Moura Sousa2 e Alexandre Sylvio Vieira da Costa3

Introdução foram mantidos suspensos a três centímetros da

superfície em bandejas de plástico. Cada tubete recebeu
Atualmente, a preocupação por parte de vários
três sementes de Eucalyptus grandis Hill Maiden
segmentos da sociedade em conter os desequilíbrios
provenientes da empresa Cenibra, Belo Oriente - MG,
ecológicos provocados pelo descarte de resíduos urbanos
permanecendo por dez dias em câmara de germinação,
e industriais, tem levado ao desenvolvimento de
com temperatura de 30°C e fotoperíodo de 15 horas. O
pesquisas no sentido de buscar soluções para a utilização
desbaste foi realizado 20 dias após a germinação das
econômica desses resíduos. Neste contexto, tem sido
sementes, mantendo a planta de maior vigor, por tubete.
investigada a possibilidade do uso agronômico como
O delineamento experimental utilizado foi o
material condicionador de solo ou mesmo como
inteiramente casualizado, em um esquema fatorial 3x3,
fertilizante, de diferentes tipos de resíduos como o
contendo nove tratamentos, onde foram testados doses de
composto de lixo urbano, lodo de esgoto, resíduo de
nitrogênio (0%, 0,05% e 0,1%) e fósforo (0%, 1% e 2%),
bauxita, cinza de caldeira, pó de basalto, lodo da
contendo sete repetições totalizando 63 tubetes. Os
indústria de celulose e papel, e outros [1,2,3].
adubos utilizados foram a uréia como fonte de nitrogênio
Segundo a Associação Brasileira de Celulose e papel,
(N) e o super fosfato simples como fonte de fósforo
nos últimos 10 anos, a produção mundial de papel
(P2O5). Os fertilizantes foram diluídos separadamente em
cresceu 35%, sendo que o Brasil somou 8,2 milhões de
recipientes contendo 50 mL de água destilada e aplicados
toneladas de papel em 2004 e ocupou a posição de
05 mL no substrato 30 dias após a germinação das
sétimo maior produtor mundial de celulose, com cerca de
sementes.
9,4 milhões de toneladas [4].
A coleta do experimento foi realizada aos 60 dias após
No entanto, com a crescente produção de papel e
a germinação. Foram avaliados o comprimento da parte
celulose e a busca constante pela obtenção da qualidade
aérea e o comprimento da raiz. Após lavagem em água
dos produtos, as indústrias do setor têm gerado
corrente estas estruturas foram levadas à estufa a uma
diariamente grandes quantidades de resíduos sólidos e
temperatura de 70°C por um período de 72 horas e
efluentes, os quais têm se constituído numa grande
pesadas, verificando-se o teor de matéria seca da parte
preocupação ambiental e econômica [5].
aérea e da raiz.
O presente trabalho teve como objetivo verificar o
Os dados foram avaliados utilizando o programa
potencial de uso do resíduo de celulose como substrato
Estatjab. Foi realizada a análise de variância dos dados e
para germinação e desenvolvimento de mudas de
o teste de médias utilizado foi o Turkey a 5% de
eucalipto, utilizado na forma pura e combinado com
probabilidade.
nutrientes minerais.

Material e Métodos Resultados

O trabalho foi desenvolvido de Setembro de 2005 a
Junho de 2006, no laboratório de Botânica II do Centro
Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG)
localizado em Coronel Fabriciano, MG.
O resíduo de celulose foi coletado na área de descarte
da fábrica de papel Santa Therezinha S/A (Governador
Valadares, MG). Foram coletados 10 quilos de resíduo
de celulose, peneirado em peneira de 0,5 centímetro de
malha visando a uniformização granulométrica e
colocado para secar na sombra, por um período de 20
dias, até atingir um teor de umidade entre 10 e 15%.
Para a produção de mudas foram utilizados os
tubetes (que acondicionou 19g do resíduo de celulose) e
Pode-se observar que a presença do fósforo no
substrato nas doses de 1% e 2% estimulou o
desenvolvimento e o crescimento das raízes das plântulas
de eucalipto quando comparado a testemunha sem
aplicação de fósforo (Fig. 1). Esta resposta foi obtida
independente da presença do nitrogênio no substrato.
Para a variável nitrogênio, as plântulas apresentaram
resposta praticamente nula. Na ausência do fósforo no
substrato, as plântulas praticamente não responderam a
aplicação de nitrogênio (0,05% e 0,1%) em relação ao
crescimento das raízes, o mesmo ocorrendo com a
aplicação da dose mais elevada de fósforo (2%). Com a
aplicação de 1% de fósforo no substrato ocorreu uma

____________________
1. Graduando do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, Av: Tancredo Neves, 3500, Bairro Universitário, Coronel Fabriciano, MG, CEP
35.170-056. E-mail: cintiaeana@yahoo.com.br
2. Graduando do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, Av: Tancredo Neves, 3500, Bairro Universitário, Coronel Fabriciano, MG, CEP
35.170-056.
3. Professor Adjunto do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, Av: Tancredo Neves, 3500, Bairro Universitário, Coronel Fabriciano, MG,
CEP 35.170-056.
Apoio financeiro: UnilesteMG e Santher.

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 942-944, jul. 2007

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resposta das plântulas de eucalipto com nitrogênio
aplicado na dose de 0,05%.
Verifica-se que na ausência do fósforo, as plântulas de
eucalipto apresentaram maiores respostas com a dose
mais elevada de nitrogênio (0,1%), promovendo
aumentos na altura das plantas em 167%, enquanto no
tratamento testemunha (0% de N) o aumento da parte
aérea das plântulas foi de apenas 36% (Fig. 2). Com o
uso do fósforo como nutriente na dose de 1%, as
respostas da aplicação do nitrogênio (0% e 0,05%) foram
semelhantes com melhor desempenho das plântulas no
tratamento 0,1% de nitrogênio. Na maior dose de fósforo
aplicado (2%), as plântulas apresentaram um crescimento
próximo a 100% com a aplicação do nitrogênio em
ambas as doses. Esta resposta não foi obtida no
tratamento sem aplicação de nitrogênio onde o acréscimo
foi de apenas 30%.
A resposta das plantas de eucalipto foi pouco
significativa com a aplicação de fósforo em relação ao
acúmulo de matéria seca nas doses testadas (Fig. 3), não
sendo identificado qualquer efeito. Fato diferente foi
observado na utilização do nitrogênio que intensificou as
respostas das plântulas na presença ou ausência do
nutriente fósforo. O acréscimo na matéria seca das
plântulas foi de aproximadamente 50% com a utilização
de 0,1% de nitrogênio em relação ao tratamento
testemunha (0% de N).
A presença do fósforo no resíduo de celulose induziu a
resposta positiva das plântulas de E. grandis quando
associado a presença do nitrogênio mineral (Fig. 4).
Discussão
Segundo Costa [6], o resíduo de celulose proveniente
da reciclagem de papel apresenta algumas características
químicas que podem comprometer o desenvolvimento
das plântulas como alta relação carbono/nitrogênio e
reduzidos níveis de nitrogênio e fósforo, sendo as suas
principais características favoráveis a presença de altos
níveis de cálcio, micronutrientes como o zinco e a sua
característica física como alta porosidade, baixa
densidade, alta capacidade de retenção de água e
reduzido peso, aspectos importantes de um substrato para
produção de mudas. Costa et al. [7] verificaram na
cultura do milho que a presença do resíduo de celulose
no solo com a utilização de nitrogênio intensificou de
forma mais significativa o desenvolvimento das plantas,
o mesmo não ocorrendo com a aplicação do fósforo onde
os resultados se mostraram mais tímidos. Resultados
semelhantes aos encontrados neste trabalho em relação à
produção de matéria seca das plântulas. Segundo Kiehl
Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 942-944, jul. 2007
[8], o nitrogênio e o fósforo são os principais
macronutrientes das plantas, mas a elevada relação
carbono/nitrogênio dos materiais orgânicos compromete
o fornecimento de nitrogênio para as plantas de forma
mais intensa quando comparado ao fósforo, fato
verificado na Fig. 3 onde as plantas apresentaram uma
maior resposta fisiológica com a presença do nitrogênio
em relação ao fósforo.
Conclusões
Os resultados mostram que o resíduo de celulose pode
ser utilizado como substrato para a produção de mudas
de eucalipto desde que sejam definidas as corretas
concentrações de nitrogênio e fósforo no substrato que
irão favorecer o desenvolvimento das plantas.
Agradecimentos
À CENIBRA, pelo fornecimento das sementes e à
SANTHER pelo fornecimento do resíduo.
Referências
[1] MESSIAS, A.S. & MORAIS, F.A. 1992. Emprego do lixo urbano
na adubação do milheto. In: XX REUNIÃO BRASILEIRA DE
FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, Piracicaba.
1992. Anais. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, p.384
385.
[2] LOGAN, T.J. & PREZOTO, M.E.M. 1992 Avaliação da
possibilidade de uso agronômico de lodo de esgoto tratado com resíduo
de indústria de cimento. Anais. Sociedade Brasileira de ciência do
Solo, p.386-387.
[3] ROS, C.O; AITA, C.; CERETTA, C.A. & FRIES, M.R. 1993. Lodo
de esgoto: efeito imediato no milheto e residual na associação aveia-
ervilha. Rev. bras. Ci. Solo, Campinas, v.17, n.2, p.257- 261.
[4] BRACELPA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CELULOSE E
PAPEL [Online]. Avaliação do setor de celulose e papel. Desempenho
do setor em 2004. Homepage:
http:/www.bracelpa.org.br/economico.asp>
[5] RODRIGUES, C.M. 2004. Efeito da aplicação de resíduo da
indústria de papel e celulose nos atributos químicos, físicos e biológicos
do solo, na nutrição e biomassa do Pinus taeda L. Dissertação de
Mestrado, Curso de Pós - Graduação em Agronomia, UFPR, Curitiba.
[6] COSTA, A.S.V. 2005. Uso de resíduo sólido industrial de fibrilose
na produção de composto orgânico e uso em sistemas agrícolas.
Relatório de pesquisa, 86p.
[7] COSTA, A.S.V.; ALELAR, A.G.P.; CURY, C.C.; ATHAYDE
JUNIOR, G.B.; SILVA, M.B. da. 2004. efeitos da utilização do esterco
e resíduo de celulose na produtividade das culturas de milho (Zea mays)
e feijão (Phaseolus vulgaris). Anais do ICTR 2004. Florianópolis, SC.
p. 3254 – 3260.
[8] KIEHL, E.G. 1985. Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Editora
Agronômica Ceres.
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15
P 0%
(CENTÍMETROS)
COMPRIMENTO

10 P 1%
P 2%
5

0
0% 0,05% 0,10%

DOSES DE NITROGÊNIO

Figura 1- Utilização de diferentes doses de fósforo e

nitrogênio e seus efeitos no comprimento das raízes das
plântulas de eucalipto.

PESO SECO (GRAMAS)

0,01
6
0,008
5 N 0%
(CENTÍMETROS)
COMPRIMENTO

4 N 0,05% 0,006
N 0,1% N 0%
3 0,004
N 0,05%
2
0,002 N 0,1%
1
0
0
Antes Depois Antes Depois Antes Depois 0% 1% 2%
(0%) (0%) (1%) (1%) (2%) (2%)

DOSES DE FÓSFORO
DOSES DE FÓSFORO

Figura 3- Utilização de diferentes doses de fósforo e

Figura 2- Utilização de diferentes doses de fósforo e nitrogênio e seus efeitos no peso seco total das
nitrogênio e seus efeitos no comprimento da parte aérea plântulas de eucalipto.
das plântulas de eucalipto.

N0,05P0 N0,1P2 N0,05P1 N0,05P2 N0,1P1 N 0 P2 N 0 P0 N 0 P1

Figura 4- Visão geral da raiz e parte aérea das plântulas de eucalipto (E. grandis) cultivadas em substrato de
celulose 90 dias após adubações com nitrogênio e fósforo

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 942-944, jul. 2007