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ANTÁRTIDA ESTÁ GANHANDO GELO, NÃO PERDENDO, AFIRMA ESTUDO DA NASA

Folha de sao paulo


05/11/2015 02h00
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Surpreendentemente, a Nasa mostrou que a Antártida está ganhando gelo, em vez de
perdendo, como se poderia esperar de um planeta em processo de aquecimento.
Os pesquisadores da agência espacial americana mostraram que o fenômeno aconteceu
durante todo o período analisado, de 1992 a 2008. Ao ano, o acúmulo de gelo na
Antártida representa uma redução no nível dos oceanos de 0,23 mm –ou seja, de cerca de
meio centímetro em 20 anos.
A descoberta não significa, porém, que não exista aquecimento global.
A hipótese para explicar o fenômeno, aliás, relaciona-se justamente com a mudança
climática em curso.
A Antártida funciona desta forma: o gelo chega por meio da precipitação ("chuva"), e vai
embora quando um bloco congelado se solta do continente, derretendo lentamente no
mar, ou por meio de drenagem, ou seja, do escorrimento da água que vai aparecendo.
Se houver mais gelo saindo do que entrando, há então um deficit. Supostamente o
aquecimento global deveria facilitar isso ao promover o derretimento, mas pelo jeito não
é o caso.
A explicação possível é que o aquecimento global também reforça a precipitação de neve
sobre a Antártida. Isso porque ele aumenta a evaporação da água pelo mundo, e as
correntes atmosféricas se encarregam de levá-la ao polo Sul.
O trabalho liderado pelo glaciologista americano Jay Zwally detalha que o acúmulo de gelo
não é uniforme entre as diferentes regiões da Antártida. A parte leste, por exemplo, está
crescendo, enquanto a Península Antártica, região mais próxima à América do Sul, está
derretendo mais rapidamente.
Para chegar a essas conclusões, foram feitas diversas medições de satélite. Os resultados
foram publicados no "Journal of Glaciology".

Especialistas, porém, ressaltam que é preciso ter cautela com os dados da Nasa.
O glaciologista americano Ben Smith, que não participou do estudo, afirma que fazer esse
tipo de medição com satélite é "extremamente difícil".
Segundo o meteorologista Eric Holthaus, o comportamento do gelo na Antártida ainda
está muito além da compreensão humana. Estamos lidando com sistemas muito
complexos, e nossos modelos são muitas vezes apenas simplificações grosseiras da
realidade. Além disso, o próprio Zwally afirma que a tendência é que, em 20 ou 30 anos, o
processo se reverta, fazendo com que a Antártida comece a ter deficit de gelo.
A descoberta é interessante, porém, por contradizer uma previsão do IPCC, o painel do
clima da ONU, que incluiu em seus relatórios a perda de gelo da Antártida. Os
pesquisadores do painel acreditavam que o continente era responsável por um aumento
de 0,27 mm ao ano no nível dos mares.
"A má notícia é que, se esses 0,27 mm não estão vindo da Antártida, deve haver outro
fator contribuindo para a subida dos oceanos que não está sendo levado em
consideração", afirma Zwally.
Em dezembro, diplomatas de todo o mundo se reúnem em Paris para tentar avançar com
as negociações que buscam limitar as emissões de gases ligados ao aquecimento global na
atmosfera.

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