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22 da LINDB
Acabou o romance: reforço do
pragmatismo no direito público
brasileiro
Article 22 of LINDB
The end of romance: reinforcement
of pragmatism in Brazilian public
law
Eduardo Jordão*1
RES UM O
O autor argumenta que o art. 22 da LINDB combate o idealismo domi-
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¡ȱ ȱ ·ȱ ȱ ³¨ȱ ¥ȱ Ȭ
¦ȱ ¤ȱ ȱ Çȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ȱ
podem limitá-la. Os comentários ao artigo buscam ainda afastar algumas
*
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ £ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
¤ȱȱȱȱȱ¤ȱȱȱ³¨ȱȱǯȱȱȱ
ȱȱǰȱ³ȱȱǰȱȱȱȱȱĴ ȱȱȱäȱ
de algumas de suas ideias.
1
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǻǼȱ ȱ ȱ ȱ
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ȱȱȱ ȱȱȱȱȱ¡ȱǯȱE-mailDZȱǀǯȓǯǁǯ
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
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PALAV RAS- CH AV E
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Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 65
1. Introdução
2
ȱ³ȱÇȱ·ȱȱȱȱȱȱǰȱȱȱ¹ȱȱȱ
artigos 23, 24, 25 (vetado) e 30. Mas ao lado dos dispositivos que se destinam à promoção de
³ȱÇǰȱ¤ȱȱȱȱ¨ȱȱǰȱǰȱȱȱȱǰȱ
em nome de outros valores relevantes para a gestão pública.
3
ǯǰȱȱȱǰȱȱ DZȱȃȱȱȱȱȱ³¨ȱøǯȱ
·ȱ ŘŖŗŚǰȱ Ȭȱ ȱ £³¨ȱ ȱ Çȱ øǯȱ ȱ ¡ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ
ȱ ·ȱ ȱ ȱ ¨ȱ ǯȱ Ȭȱ ȱ ȱ ȱ £³¨ȱ ȱ
³¨ǰȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱÇȱęȱǯȱ
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ȱȱ³äȱȱà¨ȱȱȱǰȱȱȱǰȱ¨ȱȱȱ
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pro societateǯȱøȱ¤ȱȱȱȱȱȱȱà¨ȱȱ
ǯȱȱȱȱ¤ȱȱȁȂȱȱȱȱ³äǯȱȱȱȱ
¡ȱ ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¤ȱ
³¨ȱ ȱ ȱ £ȱ ȱ ȱ ȱ £³¨ȱ Ȯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ øǰȱ ȱ
hospital universitário ou uma empresa de energia. O setor privado encontra-se acuado,
ȱȱȱȱȱȱȱȱȱĚȱȱȱ
àȄȱǽdzǾȱȃǰȱȱȱÇȱȬȱȱȱȱȱ³ȱ
Çȱ ȱ ¤ȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ Çȱ ȱ ¤ǯȄȱ ǽdzǾȱ ȃȱ ȱ
ķȱŝǯŚŚŞȦŘŖŗŝȱ·ȱȱ³ȱȱ³¨ȱȱ¡ȱȱ³¨ȱȱȱȱ¨ǯȱ
Esta iniciativa é vital para o país sair do encurralamento paralisante” (GAETANI, 2018).
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ȱȃȱȄȱȱȱȱ¤ȱȱȱȱȱǯȱ
Num artigo sobre a mudança de paradigmas deste ramo do Direito, José Vicente Santos
³ȱęȱȱDZȱȃȱȱȱȱȱȱȱȱ
características. Ele é (i) europeizante, (ii) conceitualista, (iii) sistematizador, e (iv) crente
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¡³¨ȱ ȱ ȱ âȱ ȱ ǯȱ ǽdzǾȱ ȱ ȱ ȱ
do Direito Administrativo possui, assim como o antigo, quatro características básicas. Ele
·ȱ ǻǼȱ à¡ȱ ȱ ·ȱ ǰȱ ǻǼȱ ȱ ȱ ǰȱ ǻǼȱ £ȱ
e assistemático, e (iv) descrente na centralidade do Direito como chave de interpretação
ȱ ȱ âǰȱ Çȱ ȱ Ȅȱ ǻ,ǰȱ ŘŖŗŚǼǯȱ ȱ àȱ ȱ ȱ ¡ȱ ¤ȱ
ęȱ¹ȱȱȱ¦ȱÇęȱȱȱȱȱ³¨ȱ
øȱ ǻ!ǰȱ ŘŖŗŝǰȱ ǯȱ řśŖȬřŜŘǼǯȱ ȱ ǰȱ ȱ ǰȱ ¨ȱ ·ȱ ¡ȱ ȱ ȱ
ǯȱ 1ȱ Çǰȱ ȱ ¡ǰȱ ȱ ·ȱ ȱ ȱ ȱ àȱ ȱ ȱ
ǯȱȬǰȱȱ¡ǰȱȱȱǯȱŚŞşǰȱȗŗķǰȱȱ³ȱȱȱȱ³¨ȱǰȱ
ǰȱ ȱ ¡ǰȱ ¨ȱ ȱ ȱ ǻǼȱ ȱ ȱ ¥ȱ ³¨ǰȱ ¥ȱ ³¨ȱ ȱ ¥ȱ
¤ȱȱȱǰȱȱ¡ȱȱ³¨ȱȱȱȱȱȱ¨ȱDzȱǻǼȱ
ȱ ȱ Çȱ ǰȱ ȱ ¡ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ Ȭ
¹ȱȱDzȱȱǻǼȱȱȱȱȱȱȱęȱȱȱ¨ǯ
5
ȱ ȱ ȱ ȱ £ǰȱ ·ȱ Çȱ ȱ ȱ ³äȱ ȱ £ȱ
ȱȱȱȱȱȱȱ³¨ȱ¥ȱȱȱȱǰȱȱȱ
caráter de sobredireito, que disciplina a aplicação e interpretação de outras leis.
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ȱ ȱ Çȱ ǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
ȱÇȱȱ¹ȱȱ³ȱȱȱȱ£ȱȱ
operadores a supor ser sempre possível ę, entre princípios e regras
¡Çȱ ȱ ¡Çȱ ȱ ³¨ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ
ȱ³¨ȱÇę determinada pelo direito para qualquer problema social ou
questão prática.
Esta supervalorização do direito (como técnica para ou inventário de
solução dos diversos problemas sociais) favorece os bacharéis em direito,
ȱȱȱȱȱǯȱęǰȱȱȱȱȱ¤ǰȱ
£ȱȱȱȱ³¨ȱȱȱÇęȱȱȱ
Çȱǰȱȱȱ·ȱȱȱȱǯȱȱȱ·ȱȱ
problemática, por afastar soluções igualmente possíveis de acordo com outra
leitura razoável do direito, bem como por minimizar o inputȱȱȱ¡Ȭ
ǰȱ¨ȱÇǰȱȱȱȱȱȱ³¨ȱȱȱÇǯ6
Para os gestores públicos e as instituições administrativas, esta cultura
Çȱidealizada e irrealista consiste num grande problema. Encarregadas de
interpretar o direito para aplicá-lo ao caso concreto,7 veem-se posteriormente
submetidos ao controle realizado por outras instituições. Como, a despeito da
teoria em contrário, o direito é frequentemente indeterminado, não é raro que
os órgãos de controle possuam interpretações diferentes da do administrador
ȱàȱȱȱȱȱ³¨ȱÇęȱȱȱȱȱȱ
caso. E, com base nesta teoria idealizada e irrealista, mesmo que a interpretação
da administração tenha sido razoável, acham que há espaço para anulações,
suspensões, punições e repressões.
6
ǯǰȱȱ¡DZȱ!ǰȱŘŖŗŝǯ
7
Na visão de Juliana Bonacorsi de Palma: “Administrar não é aplicar a lei de ofício. Administrar
é interpretar normas públicas para aplicação em casos concretos. Especialmente no caso
brasileiro, em que as leis dirigidas à Administração são pouco detalhistas e prenhes de
³¨ȱÇǰȱȱ³¨ȱ·ȱȱȱ¤ȱȱ³¨ǯȱȱȬ
fessora da escola primária interpreta o programa curricular básico para construir uma aula mais
à¡ȱ¥ȱȱȱȱȱǯȱȱ·ȱȱäȱ¤ȱȱ
ȱ¤ȱȱ£ȱȱȱȱøȱøǯȱȱȱȱȱȱȱ¡ȱ
ȱȱȱȱȱ·ȱ·ȱȱȱÇȱȱęȱȱ³¨ǯȱȱȱ
ȱȱ¡ȱ³ȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱ
ȱ³¨ȱȱȱÇȱȱȱȃȱȱȱȬ
Ȅȱȱȃ³¨ȱȄǯȱȱȱȱ¹ȱȱȱȱȱȱȬ
ra conceder, ou não, benefícios previdenciários. O gestor público interpreta a Lei 8.666/93
para ponderar se uma determinada situação é hipótese de dispensa de licitação. Ao editar
ȱǰȱȱȱȱ¹ȱ¥ȱ³¨ȱøȱǰȱȱ¡¤Ȭǰȱȱ
ȱȱȱ¡ȱȱȱȱȱȱȱȱǯȱ1ȱȱȱȱȱȱ
³¨ȱȱȱȱȱȱøǰȱȱ¨ȱȱȄȱǻǰȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ³ȱ Çȱ ȱ ¨ȱ ȱ ȱ ȱ øȱ ȱ ȱ ȱ
¹Ǽǯ
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ȱȱȬȱȱȱȱȱȱȱȱȱȬ
ȱ³¨ȱȱȱȱ¤ȱȱȱǯȱǰȱȱ¡ǰȱȱ
³äȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ȱ äȱ
ǻǯȱŘŖǼȱȱ³äȱǻǯȱŘŗǼȱ£ȱȱȱ¡ȱȱȱȱȬ
ȱ ȱ ȱ ¡ȱ ȱ ȱ ¨ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
³¨ȱ£¤ȱǻȱȱ·ȱ¡ȱȱ¤ȱøȱȱǯȱŘŖǰȱ
na menção a “alternativas”) – e que, portanto, a escolha entre elas pode ser
ȱȱȱȱȱȱȱ£ǯȱ1ȱȱȱ³ȱ
ȱ³¨ȱÇȱȱȱ¤ȱȱȱȱmudança de interpretação
ou orientaçãoȱȱȱȱǰȱȱȱȱȱȱȱȱȱ
ǯȱŘřǯȱ·ȱ·ȱȱȱęȱȱ¨ȱ£ȱȱȱ¥ȱȱ
pública, prevista no art. 29. Em diversos países, a assimilação da indetermi-
³¨ȱÇȱȱȱ¨ȱȱȱȱ³¨ȱøȱȱ£ȱ
criará o direito fez-se acompanhar da proliferação de instâncias de partici-
pação popular, como forma da ampliação da legitimidade e da qualidade destas
³äȱÇǯ8ȱȱȱȱȱ³¨ȱÇȱȱȱȱȱȬ
rentes interpretações do direito por diferentes instituições públicas (e contro-
ȱǼȱ ȱ ¡ȱ ȱ ȱ ǯȱ Řśǰȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ
que a administração pública obtivesse do Poder Judiciário uma espécie de
ȃȱęȱȄȱȱȱȱȱȱǰȱȱȱ³äȱ
posteriores.
ȱȱ£³¨ȱȱȱȱȱȱ¨ȱ·ȱ¡ȱ
anunciada, mas pressuposta na maneira com que o direito administrativo tem
ȱDZȱ£Ȭȱȱ³äȱǰȱȱȱȱȱ
ȱȱ³¨ȱøȱ£ȱȱȱȱȱȱøȱ
nacional. E isso é evidente tanto no momento de consagração e enunciação
ȱȱǻȱȱȱȱȱȱȱȱęȱȱȱ
constitucionalmente), como no momento de cobrança dos agentes públicos
responsáveis por implementá-los.
ȱȱ¡ȱ·ȱȱȱ£³¨ȱȱøǰȱȱȱȱȱȃȬ
reito à saúde” tem para muitos operadores do direito mais relevância do que
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ȱȱǰȱǯȱ!DzȱȬ
ǰȱŘŖŗŚǯ
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No caso do ǯȱŘŘǰȱȱÇęȱȱ¡ǰȱ·ȱȱȬ
ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ¥ȱ ¡£³¨ǯȱ Çȱ ȱ ȱ ȱ
9
Daniel Wei Liang Wang revela em estudo empírico a irrelevância do argumento da escassez de
ȱȱȱ¹ȱȱȱȱȱȱȱȱǻ ǰȱŘŖŖŞǼǯ
10
ǰȱŘŖŗŚǯ
11
DzȱǰȱŘŖŗŞǯ
12
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13
!DzȱǰȱŘŖŗŝǯȱȱȱDZȱǰȱŘŖŗŞǯ
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ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȃȱ ȱ Ȅǯȱ ǰȱ ȱ ¡¹ȱ ȱ
¡£³¨ȱ£ȱȱ·ȱȱȃȱȱȄȱȱȱȱ
øȱ ȱ ȱ ȱ ęǯȱ ȱ ·ȱ ȱ àȱ ȱ ȱ ȱ
DZȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
decisões administrativas, é preciso que enfrente também os ônus que o
administrador enfrenta.14ȱ ȱ ¦ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ę³äȱ ȱ
parte da doutrina, mencionadas acima, no sentido da necessidade de maior
atenção às agruras e aos dilemas do gestor público.
ȱ ¡£³¨ȱ ¤ȱ ȱ ȱ caput do art. 22 ȱ ȱ ȱ ¹ȱ
¤ǯȱ ȱ ¡ǰȱ ȱ ȱ ¨ȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ
em função do tema nelas versado: inicialmente, comentam-se o caput e o seu
¤ȱDzȱȱǰȱȱȱ¤ȱęǯ
O caputȱȱȱ¤ȱȱȱǯȱŘŘȱȱȱȱǯȱ
ȱ ȱ ȱ ¡ȱ ȱ contextualizaçãoȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
de direito público, mas enquanto o primeiro foca na interpretação, mais
genericamente, o segundo foca no controle. Nos dois casos, impõe-se a
14
ȱȱÇȱȱȱęȱȱDZȱȃȬȱ¥ȱȱȱȱȱ
pelo controlador na interpretação da norma sobre gestão pública, o imperativo de considerar
os mesmos elementos de constrição que se tem no cenário de decisão da Administração
øǯȱȱ¨ȱ·ȱ£ȱȱǰȱȱȱ¡Ȭȱȱȱȱȱȱ³¨ȱ
øȱȱȱ³¨ȱȱȱȱ¹ǯȱȱ¡³¨ȱȱ
ȱȱȱȱȱȱȱ³¨ȱȱ¨ȱȱȱȱ¥ȱ³¨ȱøȱȱȱ
via preferencial. Com essa opção legislativa, o controle passa a ter seu olhar direcionado
ȱȱÇ£ȱȱ³¨ȱȱȱȱȱȱȱȱ
ȱęȱȱȱȱ¹ȱǻǰȱȱȱŝŚŚŞȦŗŝȱȱȱȱȱ¹ȱȱǼǯȱ
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Trata-se de argumento usado pela Procuradoria-Geral da República, em parecer técnico
ȱȱȱȱȱǯȱȱȱǰȱȱȱȱȱ
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não é procedente. O gestor seguirá atuando como atuava antes, até porque os
ȱȱǯȱŘŘȱȱȱȱȱȱǻȱȱǯȱŘŖǰȱȱ¡Ǽȱ
·ȱȱ¨ȱǯȱȱȱ¨ȱȱȱȱǰȱȱ
transfere nenhum ônus do gestor para o controlador. Assim, não há porque
imaginar que o controlador “fará o trabalho que deveria ser feito pelo gestor”.
ȱȱȱȱȱ·ȱȱȱȱȱȱȱ³¨ȱȱǰȱ
para compreender as circunstâncias que limitaram as suas escolhas e possi-
ǯȱȱȱǯȱȱȱȱȱ£ȱȱȱ
ȱ ǯȱ ȱ ¡¹ȱ ǰȱ ȱ Çȱ ȱ ȱ ȱ Ȭ
³äȱǰȱȱȱȱȱÇ£ȱ¤ȱȱȱ
a administração pública tenham familiaridade com a sua atuação e possam,
assim, avalia-la corretamente.16
Em segundo lugar, porque levanta a questão sobre como deve o gestor
øȱȱȱȱ³¨ȱȱȱȱȱäǯȱȱȱęȱ£ȱȱ
ȱ¤ȱȱȱȱȃ¤ȱȱęȱȄǰȱȱȱȃȱ
¡¹ȱȱȱøȱȱȱȄǵȱȱȱ³¨ȱȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¡³¨ȱ ¥ȱ ȱ Ȯȱ ȱ ȱ
ȃ¤ȄȱȱȃȄȱȱȱȱȱǯȱȱÇȱøȱ
a seu cargo devem, assim, ser implementadas considerando os obstáculos
ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ ¤ȱ DZȱ ęȱ ³¤ǰȱ ȱ
pessoal etc. Não se admitem ações impensadas, populistas, que tenham
ȱ·ęȱȱȱ£ȱȱ³¨ȱȱÇȱøǯ
Há algo a se adicionar sob uma perspectiva mais procedimental. Como
o novo dispositivo legal impõe ³¨ȱ ȱ ¤ȱ ȱ ęȱ ,
parece evidente que a menção a estes dois elementos deverá estar presente
na motivação dos atos administrativos.17 O gestor público deverá apresentar à
ȱȱȱȱȱ¡ȱȱȱȱȱȱ¨ǰȱȱ
no que concerne a apresentação das alternativas que estavam à sua disposição
e as razões das opções realizadas, na forma, também, do parágrafo único do
ǯȱŘŖǯȱȱ·ęȱȱȱȱȱȱȱøǰȱǰȱ
ȱȱȱâȱȱȱȱ¥ȱȱȱȱøǯȱȬȱ
ȱȱȱȱȃȱȱȱȱȱà¨ȱȱȱȱà¨ȱȱȱà¨ȱȱ
ȱÇȱȱàȱ³¨Ȅȱǻǯȱȱ·ȱȱǯȱŖŗȦŘŖŗŞǼǯ
16
Para João Emmanuel Cordeiro Lima: “pretende-se colocar os órgãos de controle ou o Judiciário
verdadeiramente nos sapatos daquele que tomou a decisão em determinado momento, muitas
£ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¥ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
estrutura adequada” (LIMA, 2018).
17
Assim também: SCAFF, 2018.
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ȱȱȱ¡ȱȱȱøȱȱǰȱȱęȱȱ¡£ȱȱ
sociedade e os controladores nos dilemas reais que circundam a sua atuação
e as suas escolhas. Esta circunstância seria um primeiro passo para erigir uma
ponte entre os gestores e aqueles responsáveis pela avaliação do seu trabalho
(de novo, a sociedade e os controladores institucionalizados). A avaliação
poderia então se fazer de modo mais realista e com mais informação sobre o
ȱ¡ȱȱ³äȱȱäȱȱÇǯ
Feitos estes comentários sobre a aplicabilidade do caput do art. 22 aos
próprios gestores públicos e sua forma de operação a estes agentes, é preciso
direcionar algumas palavras também sobre a sua aplicabilidade para os seus
destinatários mais óbvios, os controladores.
¨ȱȱ·ȱȱę³¨ȱȱȱȱȱȱȱȱȱ
do art. 22 é gerar uma empatia, por parte do controlador, com a situação e as
ȱȱǯȱ¤ȱȱȱȱȱȱÇȱ
de que há um número considerável de gestores bem intencionados.18 Estes
gestores podem até adotar medidas que não correspondam àquelas preferidas
pelos controladores. Mas, sendo estas suas medidas razoáveis, eles merecem
ȱ ³¨ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ Çęȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ȱ caput do
art. 22 determina é a “consideração” das circunstâncias em que a decisão foi
ǯȱȱȱȱęȱȱ¤ǵ
ȱȱȱȱȱ¹ȱȱ¨ȱȱ·ȱȱȬ
sidade de o controlador se envolver num diálogo com o gestor, na linha do
ȱȱȱǯȱȱȱȱȱęȱȱȱǯȱ
ȱȱęȱ¨ȱȱȱ¡ȱȱ³¨ȱȱȱȮȱ
ou caso se trate do controle de uma suposta omissão –, caberia ao controlador
¹Ȭȱȱǰȱȱęȱȱȱȱȱǯ
18
Cf. Juliana Bonacorsi de Palma: “O PL da Segurança Jurídica foi construído tendo em vista o
gestor público honesto. Trata-se de um ponto de partida diametralmente oposto das leis de
ȱȮȱȱȱǰȱȱȱȱ¡ȱȱęȱȱȱȱȱȱȱȱ
o agente ímprobo em mente. A lei precisa recompensar os comportamentos de honestidade
como medida de incentivo para que se mantenha o padrão ético na gestão pública. Este PL
é um primeiro passo nesse sentido ao fazer a necessária dissociação entre gestores públicos
ȱȱDzȱȱǰȱȱȱ¤ȱȱȱȱęȱȱȱ
ȱȱȱ£ǯȱǰȱȱȱȱȱøȱȱ¤ȱ
ȱ ȱ ȱ DZȱ ǻǼȱ ȱ ę³ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ Ȯȱ ȱ ȱ £¨ȱ
ele não será pessoalmente responsabilizado, mas sua ação poderá ser corrigida (recompensa)
e (ii) conferir segurança para que ele efetivamente decida do melhor modo possível na sua
avaliação técnica, podendo inovar na gestão pública e mesmo contrariar os entendimentos
controladores, desde que fundamentadamente” (PALMA, A proposta de lei da segurança
ÇȱǽdzǾǰȱop. cit.).
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Este foi outro dos argumentos usados pela Procuradoria-Geral da República, em parecer
·ȱȱȱȱȱȱǯȱȱȱDZȱȃȱȱŘŘȱȱȱȱ
poderá, na prática, inviabilizar a responsabilização do administrador. Mais uma vez aqui, o
ȱ ȱ ȱ ¡äȱ ǰȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ ǰȱ
Çȱȱȱȱȱȱ£³¨ȱȱȱ¤ǰȱ¤ȱȱȱ
Çȱȱȱȱȱȁ¤ȂȱȱȁęȱȂȱȱǯȱȱà¨ȱȱ
ȱȱà¨ȱȱȱȱ³¨ȱȱȱȱȱȱǰȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ ³ȱ Çǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ £ȱ
ȱȄȱǻǯȱȱ·ȱȱǯȱŖŗȦŘŖŗŞǼǯ
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ȱȱȱ¨ȱ¡ȱøȱȱȱȱȱ³ȱ
ȱȱȱȱàȱȱȱȱ¤ȱȱęȱ¡ȱ
ȱȱȱ¨ȱȱȱȃȄǰȱȱȱàȱ
em que tais obstáculos, embora “reais”, não tenham sido determinantes para
impactar a ação administrativa.
Bem aplicado, portanto, o caput do art. 22 produzirá o efeito a que se
ǰȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ȱ ȱ ¡Ȭ
tualizada, ao tempo em que segue possibilitando o controle e a anulação de
ações administrativas realmente contrárias ao direito.
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ȱøȱȱ£ȱȱȱȱ¤ȱȱęȱȬ
dem ser reportados pelos gestores públicos ou considerado pelos controla-
ǯȱȱȱǰȱȱȱàȱ¤ȱȱę³¨DZȱȱȱ¤ȱ
ȱ ęȱ ȃȄǰȱ ¦ȱ ȱ ȱ ȱ ¥ȱ ³äȱ ȱ
acima, relativas à sua sindicabilidade. Obviamente, no entanto, nem toda
ęȱȱ¤ȱrealȱȱȱ¡ȱȱȱ³¨ȱȱ¨ȱ
administrativa em questão será relevante.
ȱ ȱ ȱ £ȱ ȱ ęȱ ȱ ¨ȱ ȱ ǰȱ ȱ
ȱȱȱȱ¹ȱȱęȱȱ¤ȱǰȱ
ǰȱ ³¤ȱ ȱ ȱ ǯȱ ȱ ¨ǰȱ ęǰȱ ȱ ȱ àȱ
circunstâncias que podem impedir a implementação de uma dada política
øǯȱ ·ȱ ǰȱ ¨ȱ ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ
pela imprensa em relação à administração pública em todo o país: falta de
ǰȱȱȱȱȱȱ¡ȱȱ³¨ǰȱ·ęȱȱǰȱ¡ȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ Çǰȱ ę¹ȱ ȱ ȱ ȱ
escritório, de infraestrutura mínima de trabalho, entre outras.
ȱ¡£³¨ȱ¡ȱȱȱǰȱǰȱȱȱȱȱ
heterogeneidade da administração pública brasileira. As normas nacionais
parecem pressupor que os diferentes níveis da administração pública, em
ȱ£³äȱ¤ęǰȱȱȱȱ³äȱȱȬ
tação do direito. Mas a verdade é que as condições orçamentárias, materiais e
de pessoal variam grandemente dentro do país. A atenção a estas disparidades
é relevante para interpretar adequadamente a legislação administrativa no
tocante a pequenos municípios do interior do país. E não faz sentido aplicar e
interpretar a legislação relevante aos seus gestores da mesma forma que a um
gestor de uma grande e rica capital brasileira.20
20
1ȱȱȱ·ȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱęȱȱȱȱ
ȱǰȱȱȱ£ȱȱȱȱȱ¡DZȱȃǽdzǾȱȱȱȱ¨ȱȱȱȱ
diversos órgãos de cada ente da Federação possuem realidades próprias que não podem ser
ǯȱȱȱȱȱȱ¨ȱȱ·ȱȱȱȱȱȱ
ȱȱȱȱȱÇǯȱȱ¨ȱøȱȱęȱȱ¹ȱȱȱ
ȱȱȱȱȱ³¨ȱȱäȱǰȱǯȱȱȱ
envolvem considerar (i) os obstáculos e a realidade fática do gestor, (ii) as políticas públicas
ȱ¡ȱȱǻǼȱȱȱȱȱǯȱȱȱ£¤ȱȱ
ȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱ¡ȱ¤ȱȱȱ
ȱ¨ȱøȱȱȱȱȱȄȱǻȱȱet al., Resposta aos comentários
ȱȱȱÇȱȱȱȱȱǯȱŝǯŚŚŞȦŘŖŗŝ).
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ȱ ¤ȱ ȱ ęculdade de outra natureza que também pode ser
ȱȱȱȱȱȱȱȱǯȱȬȱȱęȱÇ.
ęȬȱ¥ȱęȱȱȱȱ³¨ȱȱȱȱȱ
ȱȱǰȱȱȱǯȱȱęȱ¨ȱ·ȱ¤ǯȱ
ȱȱȱ¡ȱȱȱȱ³¨ǰȱ¥ȱ£ȱǰȱȱ
de detalhes, às vezes continente de termos com alto grau de indeterminação.
ȱ ȱ ·ȱ ȱ ³¨ȱ ÇȬȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ
ȱȱȱȱȱÇǯȱȱ¨ȱ£ȱȱ
de forma tão maleável e tão livre,21 que, a rigor, qualquer determinação
¡ȱ ¡ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ȱ ÇȬ
pios abstratos como o da moralidade ou da dignidade da pessoa humana.22
ȱ ¡ǰȱ ȱ àȱ ¹ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ȱ ȱ ęǰȱ
¨ȱ¡ȱȱȱȱȱȱǯ23 E se
·ȱǰȱ¤ȱȱȱęȱȱęȱȱȃȱȄ,24 que
regerá um caso concreto.
1ȱ Çǰȱ ǰȱ ȱ ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ øȱ
¨ȱ ȱ ȱ ·ęȱ ǰȱ ³¤ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ ·ȱ ȱ ȱ øȱ Çȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
¹ǯ25ȱȱȱ¤ȱȱǵ
Do lado da administração pública, duas são as medidas possíveis. A pri-
meira possibilidade, aberta às autoridades superiores, é a edição de regu-
lamentos ou súmulas administrativas que determinem uma interpretação
Çęǰȱ ȱ ȱ ³ȱ Çȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
¹ȱȱǯȱřŖǯ26 A segunda possibilidade, aberta ao administrador da ponta
ȱ¹ȱȱȱȱǰȱ·ȱȱ¡³¨ȱȱøȱÇȱ
encontrada. O gestor poderia motivar a sua atuação indicando claramente
21
ȱȱȱǰȱȱȱȱȱȃȱȱȱǰȱȱȱÇȱ
ȱȱȱȱ¨ȄȱǻǰȱŘŖŗŚǰȱǯȱŘŖśǼǯ
22
LEAL, 2007, p. 49 e ss.
23
Cf. NEVES, 2013, p. 1149-1172.
24
¤ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ¥ȱ ȱ ȱ ȃȱ Ȅǰȱ ¨ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
concorrencial.
25
¨ȱȱǰȱǰȱȱȱȱȱȱęȱÇȱ¤ȱȱpotencializada
ȱ ęȱ ǯȱ Ȭǰȱ ȱ ¡ǰȱ ȱ ȱ Çȱ ȱ ¨ȱ ȱ
ȱȱȱȱÇȱȱȱȱ¡ÇȱÇȱȱ¤ǯȱ
26
ǯȱřŖǯȱȱȱøȱȱȱȱȱȱ³ȱÇȱȱ³¨ȱ
das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018). Parágrafo único. Os instrumentos previstos no
caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam,
até ulterior revisão.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
78 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
27
Ȭȱ ȱ ȱ ȱ ȱ äȱ ȱ ·ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ȱ ǯȱ ŘŞȱ ȱ ǯȱ ȱ
øȱȱȱȱȱȱȱȱȱàȱȱęȱȱȱȱ
dolo ou erro grosseiro. Assim, esta responsabilidade estaria afastada no caso de interpretações
£¤ȱȱȱ¡ȱȱȃ³¨ȱÇȄȱȱȃęȱÇȄǯȱ
O que aqui se está propondo é que, nestes casos, para além do afastamento da responsabilidade
ȱ ȱ ǰȱ ȱ ·ȱ ȱ ȱ validade jurídica desta interpretação, com a sua
consequente manutenção. O gestor não seria responsabilizado (art. 28) e a sua interpretação
seria mantida (art. 22).
28
ȱ·ȱȱȱȱĚȱȱȱȱȱàȱȱȱøȱǯȱ·ȱ
dezembro de 2005, havia sido mencionado cerca de 8 mil vezes nas Cortes federais. A marca
·ȱ ȱ ȱ ¥ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ǯȱ ȱ
ȱ ȱ ǻŗŞŘşȱ £Ǽǰȱ ȱ ǯȱ ȱ ǻŗŞŖŗȱ £Ǽȱ ȱ ¢ȱ ǯȱ ȱ ǻŗśśşȱ £Ǽǯȱ
1ȱȱȱ¥ȱȱȱ¹ȱäǰȱȱȱǰȱȱȱȱȱ
et al., 2006, p. 247).
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 79
øȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ ŗşŞŚǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
ȱȱęǰȱ¹ȬȱȱDZȱ
ǰȱ ¢ǰȱȱȱȱ ȱȱȱ¢ȱȱȱ
the precise question at issue. If the intent of Congress is clear, that is the
ȱȱȱĴDzȱȱȱǰȱȱ ȱȱȱ¢ǰȱȱȱěȱȱ
ȱ¢ȱ¡ȱȱȱǯȱǰȱ ǰȱȱȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ ¢ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
ȱǰȱȱȱȱȱ¢ȱȱȱ ȱȱȱȱ
ȱǯȱǯȱǯȱǰȱȱȱȱȱȱȱȱ ȱȱȱ
ȱ ęȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¢Ȃȱ
ȱȱȱȱȱȱȱȱȱǯ29
O caput ȱǯȱŘŘȱ·ȱȱȱ¡Çȱȱȱ³¨ȱȱȱȱ
ȱȱȱǯȱȱȱȱ£ȱ¹ȱȱȃȱ
passos” da formulação mais básica de Chevron: no primeiro, o controlador
ęȱȱ¤ȱ³¨ȱȱȱȱȱàȱȱȱ
¨ȱÇęDzȱȱǰȱȱȱ³¨ǰȱȱȱ
ȱ ȱ ȱ ęȱ ȱ £ȱ ȱ ȃȄȱ ȱ ³¨ȱ
ȱȱ³¨ȱøǯȱ1ȱ¡ȱȱȱȱ
acima, em interpretação ao art. 22. Num primeiro passo, o controlador
ęȱȱȱȃęȱÇȄȱ·ȱǯȱȱȱǰȱȱȱȱ
ęȱ Çǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ęȱ ȱ £ȱ ȱ
escolha interpretativa realizada pela administração pública.30
29
ȱǯǯǯȱǯȱǰȱŚŜŝȱǯǯȱŞřŝǰȱŞŚŘȬŚřȱǻŗşŞŚǼǯ
30
Vale a pena assinalar que os fundamentos da doutrina Chevronȱȱȱȱȱȱȱ
alterou a LINDB. O fundamento é de viés realista e corresponde à admissão de que, nas
hipóteses em que o direito é indeterminado, a sua interpretação corresponderá a uma criação
ou, ao menos, a uma escolha entre diferentes sentidos possíveis. Sobre o tema, v. JORDÃO,
2016, capítulo 2.2.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
80 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
ȱ³¨ȱȱȱ¨ȱ¡ȱǰȱȱȱȱȱȱ¡ȱ
ȱ ȃ³¨Ȅǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¤ȱ ȱ ȱ ǯȱ
Ȭǰȱȱ¡ǰȱȱ¤ȱ³ȱȱȱȱȱęȱȱȱ
¤ȱȱęȱȱȱȱȱ¡ȱǻȃȄǼǯȱ·ȱ
se disse que há espaço para que o controlador cogite diferentes “graus” de
£³¨ǯȱȱDZȱȱęȱȱȱȱȱ¡ǰȱȱ
ȱ ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ȱ ȱ
determina.
ȱȱ¨ȱȱ·ȱDZȱȱȱȱęȱȱȱȱ
ȱȱȱȱȱ³¨ȱȱȱøǰȱȱ·ȱȱ¹ȱ
ÇȱÇęȱȱȱǵȱ
ȱ £ȱ ¤ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
determinar “vista grossa” a ilegalidades em função das circunstâncias do caso
concreto.31ȱȱ·ȱȱ³¨ȱȱȱ¡¹ȱȱ¡£³¨ǯȱ
O que o artigo 22 determina é algo bem mais sensato. Nas hipóteses relativas
¥ȱ ȃęȱ ÇȄǰȱ ȬȬ¤ȱ ȱ ȱ ȱ ³äȱ
ȱȱ£¤ȱȱȱÇǰȱȱ³¨ȱȱęȱÇȱ
ȱǰȱȱȱ¤ȱȱȱǯ
ȱ àȱ ȱ ȱ ęȱ ¤ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ £ȱ ȱ
realidade é interferir na hipótese fática sobre a qual deverá o controlador
ȱ ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ DZȱ
ȱ ȱ ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǻȱ ȱ ȱ
regerá o caso concreto), leve em consideração todas as suas circunstâncias
fáticas relevantes e não se limite a uma enunciação simples. Dito de outro
modo, as circunstâncias fáticas limitadoras da atuação do agente passarão a
ȱȱàȱ¤ȱ¡ȱȱ³¨ȱ¤ȱęȱȱȬ
trolador no direito.32 Neste sentido, de um ponto de vista teórico, o que o
31
Neste sentido, Júlio Marcelo de Oliveira fala em “ilegalidade tolerada” (OLIVEIRA, 2018).
32
ȱ ȱ ȱ
ȱ £DZȱ ȃȱ ³äȱ Çȱ ȱ ȱ ȍȎȱ ȱ ȱ
¤ǰȱȱȱ³¨ȱȱȱȱȱęǯȱȱȱȱǰȱȱàȱ·ȱÇȱ
ȱȱȱȱȱ³¨ȱȱȱęȱ·ȱǯȱȱȱȱȬȱȱȱÇ£ȱ
ȱȱȍ³¨ȱȱȎȱ·ȱȱ³¨ȱȱȱȱǯȱȱȱȱȱ
ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ęǰȱ ȱ ȱ ȱ ·ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
ordem. A situação de facto como enunciado efectua sempre uma selecção de entre a mul-
ȱ¤ǰȱȱȱĚǰȱȱȱ¤Dzȱȱ³¨ȱȬȱȱȱ
ȱǰȱȱȱ³¨ȱȱÇȱ¦ȱÇȱȱȱȱȱǯȱȱ
³¨ȱȱȱȱȱ¨ȱȱȱȍȎȱȱ¨ȱȱǰȱȱȱ
que ser primeiramente conformada por ele, tomando em consideração, por um lado, os factos
ȱȱȱȱȱǰȱȱȱǰȱȱȱÇȱę³¨ȱÇǯȱȱ
ȱȱȱ¨ȱȱȱȱȱȱ³¨ȱÇȱȱ³¨ȱȱȱ
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 81
que se lhe oferece como acabada, mas desde logo com a formação da situação de facto que
ȱ¥ȱȱ³¨ȱÇȄȱǻǰȱŗşşŝǰȱǯȱřşŘǼǯ
33
ȱ¡ȱȱ¡ȱȱȱ¨ȱȱȱDZȱȃȱȱǰȱ
muitas vezes as previsões abstratas das normas, e a interpretação que delas fazem alguns órgãos
ȱǰȱ¨ȱȱȱęȱȱȱȱȱȱȱȱȱ
com os quais o administrador público se depara em seu dia a dia, colocando-o diante de um
ÇȱDZȱȱȱȱȱȱȱȱ¡ȱȱȱȱøȱ
ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ęȱ ȱ Çȱ øȱ ȱ ȱ Dzȱ ȱ ¤Ȭȱ
ǰȱ¥ȱ£ȱȱȱęȱǰȱȱȱȱøȱȱ¨ȱȱȱ
ǰȱȱ¨ȱȱȱȱȱȱǰȱȬǰȱȱȱ£¨ǰȱȱ³äǯȱȱȱ
ȱȱȱ£ȱȱȱȱȱȱȱȱǰȱȱ¨ȱȱ
ȱȱȱȱȱȱȱȱǰȱȱ¡ǰȱȱȱà¨ȱ
ȱǯȱȱ¡ȱ·ȱȱȱȱȱDZȱȱȱ³¨ȱ
equivocada de uma ponte vital para as atividades econômicas da região por uma empresa
ȱ ȱ ȱ ȱ³¨ȱ ¤ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ
estava construindo a estrada na qual a ponte desembocaria, faça os reparos na ponte em troca
apenas da cessão a ela dos eventuais direitos ressarcitórios que a Administração teria contra a
primeira empresa. Pela letra fria da Lei de Licitações, teria que ser aberta uma nova licitação,
ȱ ȱ ȱ ǰȱ ǰȱ ȱ ęǰȱ ȱ³¨ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ·ȱ ȱ
ȱ¤ǰȱęȱȱȱȱ·ȱȱȱȱȱȱȱ
responsável pelo erro na construção. Com a solução encontrada a Administração poupou
ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ
de vista do administrador: atender à letra fria da Lei de Licitações e gastar mais dinheiro e
ǰȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱǰȱȱęȱȱ
ȱȱÇȱ³¨Dzȱȱ¹Ȭȱȱȱȱȱȱ¹ȱȱȱȱ
³ǰȱȱȱȱȱȱǵȄȱǻ !ǰȱŘŖŗśǰȱǯȱŘŖȬŘŗǼǯ
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
82 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
dos direitos dos administrativos” seria equivalente a “desde que não afetem
os direitos dos administrados”.
ȱȱȱȱȱȱ¡¨ȱȱȱȱȱ
quis listar diferentes elementos que deveriam ser levados em consideração pelo
intérprete das normas sobre gestão pública, para aplicá-las adequadamente:
ǻǼȱȱ¤ȱȱȱęȱȱȱDzȱǻǼȱȱ¡¹ȱȱÇȱ
øȱ ȱ ȱ Dzȱ ȱ ǻǼȱ ȱ ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ ¨ȱ
ǰȱ¨ǰȱȱȱȱȱȱȱȱ¡ȱ
ȱȱ·ȱȱȱȱâȬǯȱȱȱǰȱȱ¡¨ȱ
ȃȱÇ£ȱȱȱȱȄȱȱȱȱȃ·ȱȱ
direitos dos administrados”.
As duas interpretações são possíveis de um ponto de vista gramatical ou
literal. A segunda, no entanto, tem a vantagem de ser mais razoável e mais
consentânea com o propósito da lei.
ȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ ȱ ³ȱ ȱ ȱ ¡£³¨ȱ
mais completa, na medida em que elementos diferentes e eventualmente con-
traditórios podem ser ponderados, sem solução apriorística. Em segundo
lugar, porque a primeira interpretação suporia que as condições materiais e
¤ȱàȱȱȱȱȱȱȱ¨ȱȱȱȱDzȱ
caso contrário, estas circunstâncias fáticas seriam irrelevantes para o direito e
o gestor seria obrigado a implementá-los necessariamente. Esta interpretação
colocaria em situação de ilegalidade, imediatamente, milhares de gestores
ȱ ¨ȱ ¹ȱ ȱ £ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ȱ
brasileiro, para a integralidade da população.
Em terceiro lugar e principalmente, porque no mais das vezes uma decisão
administrativa consistirá em privilegiar direitos de alguns administrados em
ȱȱǯȱȬȱȱ£³¨ȱȱøDZȱȱ¡ȱȱ
ȱ ęȱ ³¤ǰȱ ȱ ȱ ȱ ·ȱ ¡Ȭ
sivamente custoso a um cidadão implicará necessariamente o desfalque orça-
mentário que prejudicará o atendimento a outros direitos de outros cidadãos.
ȱȱȱǰȱ¤ȱȱȱȱȱĚȱȮȱȱȱǰȱ
ǰȱ ȱ ȱ ȃęȱ Ȅȱ ȱ ȱ ȱ øȱ ȱ ȱ
ǯȱȱ¡ǰȱȱȱȱȱȱȱȱ
que “direitos não podem ser afetados”, independentemente das circunstâncias
do caso concreto, simplesmente não é realista, nem é razoável.
Tem-se, portanto, que, na letra do caput do art. 22 da LINDB, a interpre-
³¨ȱ ȱ ȱ ȱ ¨ȱ øȱ ¡¤ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ¤ȱ
ȱ ęȱ ȱ ǰȱ ȱ ¡¹ȱ ȱ Çȱ øȱ ȱ ȱ ǰȱ e
também dos direitos dos administrados.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 83
ȱȱȱøȱȱȱȱȱȱ
ȱȱȱ£äȱȱȱ¥ȱȱ³¨ǯȱȱȱǰȱȱ¡ȱ
ȱȱȃàȱȄȱ¨ȱ£ȱäȱęǰ35 mas
pode ser esclarecedor.
No relatório em que propôs a emenda, a Senadora Simone Tebet assim a
ęDZȱ
34
Senado Federal, Parecer (SF) n. 22, de 29 de marco de 2017, Relatora Senadora Simone Tebet.
35
ȱȱ¹ȱȱȱȱȱàȱȱȱȱȱȱȱȱǰȱ
v. JORDÃO, 2016, capítulo 2.2.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
84 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
ȱ ȱ ȱ ǰȱ ǰȱ ȱ ȱ ȃ¡¹ȱ ȱ ¡³¨ȱ ȱ
critérios […] para a dosimetria de sanções administrativas”. A preocupação
casa com a de parte da doutrina, que denunciava a pouca atenção à dosimetria
no direito administrativo sancionador.36ȱǰȱȱ¡ǰȱȱȱ
de Palma aponta que a Lei da Ação Civil Pública não traz qualquer critério de
dosimetria, enquanto a Lei de Improbidade Administrativa se limita a listar
ȱ¦ȱàȱȃȱ¡¨ȱȱȄȱȱȱȃȱȱ
do agente”.37 Irene Nohara, citando Celso Antônio Bandeira de Mello, reporta
que a individualização da pena é normalmente levada em consideração nos
ȱȱ³¨ȱǰ38 mas não é habitual nas sanções mais genéricas,
como aquelas resultantes da aplicação do poder de polícia.39
ȱ ¡¹ȱ ¡Çȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ Ȭȱ ȱ ȱ
aspecto substancial e um aspecto procedimental.
36
ȱ ¦ȱ ·ȱ ȱ ¤ȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ¡¨ȱ ȱ ȱ
sancionatórios da administração pública. Cf. VORONOFF, 2018.
37
PALMA, A proposta de lei da segurança […], op. cit.
38
ȱ¡ȱȱ¹ȱȱȱȱȱ³DZȱȱŝǯşŞřȬǰȱřȱǯǰȱǯȱǰȱ
·ȱȱǰȱǯȱŘřǯŘǯŘŖŖśǰȱȱřŖǯřǯŘŖŖśDZȱȃȱ³¨ȱȱ¤ȱȱȱǰȱ
·ǰȱ ȱ ȱ Çȱ ȱ ǰȱ ¨ȱ ȱ ȱ ¥ȱ ·ȱ ȱ ȱ ȱ
¨ǰȱȱȱę¦ȱȱȱȱǰȱȱȱȱȱȱ
apuradas, em seu todo, consideradas as peculiaridades da espécie”. MS 8.693/DF, 3aS, rel.
ǯȱȱ£ȱȱȱǰȱǯȱŘřǯŚǯŘŖŖŞǰȱȱŞǯśǯŘŖŖŞDZȱȃȱ¡ȱȱ£ȱ
ȱȱȱȱ¨ȱȱǰȱęȬȱȱȱȱȱȱ
distanciou de tais postulados, pois, consideradas as particularidades da hipótese em apreço,
ȱ ȱ ȱ ¥ȱ ȱ ǰȱ ȱ ¹ȱ ȱ ȱ ȱ
art. 128 do Regime Jurídico dos Servidores Federais” .
39
NOHARA, 2018, p. 31-32.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 85
ȱ³¨ȱȱ·ȱȱȱȱȱȱȱȱǻȱȱȱ
em especial o art. 22): a atenção às circunstâncias fáticas que informam (e que
ȱ Ǽȱ ȱ ³¨ȱ ǯȱ ȱ ȱ Çęȱ ȱ
sanções, a preocupação é particularmente relevante porque se trata de grave
¹ȱȱȱȱȱ¨ȱȱȱ¤ȱȱȱȱ
e temporalmente distante das circunstâncias práticas que determinam a sua
adequação e proporcionalidade.
Como no caso dos dois primeiros dispositivos do art. 22, os dois últimos
·ȱȱȱȱǯȱȱȱȱ³äǰȱȱ
¡ȱ ǰȱ ȱ ³¨ȱ ȱ ³äǰȱ ȱ DZȱ ǻǼȱ ȱ ȱ ȱ
administração, (ii) agravantes, (iii) atenuantes, (iv) antecedentes do agente e
(v) outras sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo que lhe tenham
sido aplicadas.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
86 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
40
BERARDO, 2018.
41
ȱȱǰȱȱěǰȱȱȱȱ³¨ȱ·ȱȃȱȱ¨ǰȱȱȱȱ
integrada às atividades materiais a cargo do administrador a título de ferramenta a mais —
ao lado de outras, como estratégias de fomento, persuasivas e preventivas — em busca da
ȱȱę¹ȱǽdzǾȱȱ¡ȱȱȱȱȱȱ³¨ȱȱ·ȱȱȱ
ȱȱ¡Çȱȱ¡ȱÇęȱȱȱȱȱȱȱȱȱǻȱȱȱȱ
concreto) de modo apropriado” (VORONOFF, op. cit., p. 318)
42
ȱDzȱǰȱŘŖŗŞǯ
43
1ȱ·ȱȱ¨ȱȱ
ǰȱop. cit., p. 31-32.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 87
44
ȱ ¹ȱ ȱ ȱ ȱ ¡ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ¹ȱ ȱ
grandes empreiteiras para a obtenção de informações relevantes para o combate à corrupção.
1ȱȱȱ¨ȱȱȱȱȱ³äȱøȱȱȱȱȱ
impor diferentes penalidades reduziria drasticamente a atratividade destes acordos para as
empresas.
45
Nas palavras do José Carlos Berardo, por incompatibilidade com o Estado Democrático de
Direito (BERARDO, 2018).
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
88 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
anticorrupção, e que venha a ser posteriormente punido pelo CADE com base
ȱ ³¨ȱ ȱ ³¨ȱ ¥ȱ ¹ǯȱ ȱ ȱ ǰȱ ȱ ³ȱ ȱ ȱ
lei, que considerar a sanção anterior no momento de estabelecer o quantum da
sanção que aplicaria.
Esta visão mais otimista vai na mesma linha daquela sugerida por um
dos autores da lei, em artigo em coautoria:
46
ȱDzȱǰȱop. cit., 2018.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 89
tenha sido feita uma opção consciente por uma solução paliativa, ao invés de
solução alguma.47
Nesta leitura, portanto, o artigo 22, oferece um atenuante para a situação
atual, ao tempo em que não compromete a luta pelo reconhecimento da sua
inconstitucionalidade.
Referências
ǰȱǯȱȱȱÇȱȱȱȱȱȱ³ȱ
ÇǯȱValor Econômico, 21 abr. 2018.
47
ȱ³¨ȱÇȱ·ȱȱȱǰȱȱȱȱ³¨ȱ¡ȱȱȱȱ
ǰȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ·ȱ ȱ ¡£³¨ȱ ȱ
ȱȱȱǯȱǰȱȱ·ȱȱȱȱ³¨ȱȱȱȱ
ȱ ³¨ȱ ȱ ³äǰȱ ȱ ȱ ¡ȱ ȱ ¨ȱ ȱ ȱ ęȱ ȱ ȱ ȱ ȱ
de avaliar a adequação das medidas sancionatórias, em função das circunstâncias do caso
ǯȱ ¤ȱ ȱ ȱ ȱ ǻȱ ¡ǰȱ ȱ ȱ ȱ Ǽȱ ȱ
ǰȱ ȱ ȱ ȱ ³¨ȱ ¤ȱ ǰȱ ȱ ȱ ³ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ ǰȱ
ȱ¡ǰȱȱȱȱȱ³¨ȱȱȱȱ³¨ȱ¤ȱȱȱǰȱ
não é totalmente óbvio que uma segunda sanção de mesma natureza seria necessariamente
inconstitucionalǰȱȱȱȱȱȱ³¨ȱǯȱ£ȱȱȱȱȱ
que esta avaliação deverá caber ao aplicador último do direito, e que vedar a segunda sanção
ȱ¨ȱȱȱȱ¡£³¨ȱȱ·ȱȱȱȱȱǯ
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
90 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O
ȱ ǰȱ ȱ ȱ £Dzȱ ǰȱ ȱ ·ǯȱ ȱ ȱ
22 da LINDB e os novos contornos do Direito Administrativo sancionador.
Conjur. ŘśȱǯȱŘŖŗŞǯ ÇȱDZȱǀĴDZȦȦ ǯǯǯȦŘŖŗŞȬȬŘśȦ
ȬȬŘŘȬȬȬȬǁǯȱ ȱ DZȱ ŗŗȱ
set. 2018.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
EDUARDO JORDÃO | Art. 22 da LINDB 91
,ǰȱ·ȱȱǯȱȱȱ³ȱȱȱȱ
Direito Administrativo brasileiro: do estilo tradicional ao novo estilo. Revista
de Direito Administrativoǰȱȱ
£ǰȱȱŘŖŗŚǰȱǯȱŘŜśǰȱǯȦǯȱŘŖŗŚǯ
ǰȱǯȱÇȱȱDZȱȱ£ȱ
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ǰȱ ȱ ȱ ǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ȱ ³ȱ Çȱ ȱ
¨ȱ ȱ ȱ ȱ øȱ ȱ ȱ ȱ ¹ǯȱ SBDP. Disponível
DZȱǀĴDZȦȦ ǯǯǯǁǯȱȱDZȱŗśȱǯȱŘŖŗŞǯ
ǰȱ Dzȱ ǰȱ ǯȱ ȱ ȱ ȱ ȱ øǯȱ Jota. 13 set.
ŘŖŗŞǯȱ Çȱ DZȱ ǀĴDZȦȦ ǯǯȦȬȬȦȦȬ
tipos-de-gestores-publicos-brasileiros-12092018ǁǯȱȱDZȱŗŝȱǯȱŘŖŗŞǯȱ
ǰȱȱ¢ǯȱȱȱȱǵȱ³äȱȱ
as alterações na LINDB. ConjurǯȱŗŝȱǯȱŘŖŗŞǯȱÇȱDZȱǀĴDZȦȦ ǯ
ǯǯȦŘŖŗŞȬȬŗŝȦȬȬȬȬȬ
ǁǯȱȱDZȱŗśȱǯȱŘŖŗŞǯ
ǰȱ ȱǯȱ Direito Administrativo para céticos. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014.
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Acesso em: 15 set. 2018.
Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.
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Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 63-92, nov. 2018.