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Acupuntura e Ventosaterapia como meios de tratamento para dor causada por

arma de fogo

Autores: Holanda, T. K. L., Leite, B. S., Serra, E. B. C.

Resumo:

O estudo proposto focaliza a redução do quadro álgico de um paciente do sexo


masculino, de trinta e cinco anos, lesado no joelho esquerdo por projétil de arma de
fogo, através da utilização sistemática dos preceitos da Medicina Tradicional Chinesa
(MTC), materializados na combinação da acupuntura sistêmica com a ventosaterapia
fixa. Para tanto, foi associando conhecimentos orientais e ocidentais, segundo a
determinação de um protocolo específico, que trabalhava subjetivamente os seguintes
pontos: ponto de dor (Ashi), ponto local (olhos do joelho esquerdo) e pontos sistêmicos
dos seguintes meridianos: Intestino Grosso (ponto IG4, bilateral), Estômago (ponto E34
e E36, bilaterais), fígado (ponto F8 unilateral), bexiga (ponto B63, bilateral), vesícula
biliar (ponto VB33, bilateral), pulmão (ponto P9, bilateral); obtendo-se como resultado,
além da redução significativa da dor, um aumento de 10° na amplitude de movimento
da perna esquerda.
Palavras chaves: Qi, dor, protocolo, acupuntura, ventosa.

Abstract:

The proposed study focuses on reducing the pain of a male patient, a thirty-five years,
injured his left knee by a firearm projectile, through the systematic use of the precepts
of Traditional Chinese Medicine(TCM), materialized in combination acupuncture with
systemic ventosaterapia fixed. It was thus linking eastern and western knowledge,
according to the determination of a specific protocol, who worked subjectively points:
the point of pain (Ashi), point location (eyes left knee) and systemic points of the
following meridians: Large Intestine ( IG4 point, bilateral), Stomach (E34 and E36
point, bilateral), liver (one-sided point F8), bladder (Item B63, bilateral), gallbladder
(VB33 point, bilateral), lung (point P9, bilateral), obtaining as a result, besides the
significant reduction in pain, an increase of 10° range of motion of the left leg.
Keywords: high heels, posture, women.
INTRODUÇÃO

Partindo da concepção da medicina tradicional chinesa de que “com acupuntura


e ventosa, mais da metade das doenças é curada” este trabalho de conclusão de curso,
foi desenvolvido nos moldes de uma pesquisa científica, cujo objetivo repousava na
redução do quadro álgico de um paciente adulto, do sexo masculino, lesionado no
joelho esquerdo por projétil de arma de fogo, segundo o protocolo de tratamento
específico.
A base filosófica para o desenvolvimento da prática de acupuntura e
ventosaterapia, apoiou-se fundamentalmente na teoria chinesa do Qi e Xue (fluxo de
energia e sangue, respectivamente), a qual disciplina que o “sangue é inseparável da
energia, pois o Qi infunde vida no Xue; sem o Qi, o Xue seria um fluido inerte”
(CHIRADI, 1997), associada ao conhecimento dos 12 canais de energia (meridianos do
estomago, baço pâncreas, fígado, vesícula biliar, rins, bexiga, intestino grosso, pulmão,
triplo aquecedor, pericárdio, coração, intestino delgado) e ao funcionamento
neurofisiologia da pele, órgãos internos e sistema nervoso central.
Quanto ao método e sistematização dos dados, este artigo científico apresenta o
processo de obtenção de dados - através da escala unidimensional da dor, que consiste
em uma escala de 4 a 5 categorias de dor (ausência, fraco, moderado, intenso e muito
intenso), possibilitando mensurar a intensidade do quadro álgico do paciente através da
perguntação direta e respostas verbais do paciente CAMBIER et al, 2004), bem como a
relação da amplitude de movimento – ADM, com a quantidade de sessões realizadas no
tratamento, desenvolvida através da utilização do goniômetro, conforme o método
definido por NORKIN e WHITE (1997).
O resultado obtido confirma o que a milenar sabedoria chinesa já pregoava
quanto ao uso da acupuntura e ventosaterapia para o alívio da dor, e que inúmeros
ensaios clínicos ocidentais confirmam. Portanto, a pesquisa em acupuntura e ventosa se
mostra importante não apenas para elucidar os fenômenos associados ao seu mecanismo
de ação, mas também pelo potencial para explorar novos caminhos da fisiologia humana
ainda não examinados de maneira sistêmica. Assim, seus pesquisadores esperam ter
contribuído para o enriquecimento do conhecimento sistêmico, a partir do estudo e da
aplicabilidade dos conhecimentos da medicina tradicional chinesa, segundo critérios
amplamente aceitos para o processo de investigação ocidental.
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BASES NEUROFISIOLÓGICAS DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR

Para a medicina tradicional chinesa - MTC, há 14 canais de energia que estão


ligados aos órgãos internos (Zang-Fu), trabalhando em perfeita harmonia para garantir o
processo de transformação e distribuição da energia – Qi e do sangue pelo corpo
humano. Os pontos de acupuntura são áreas onde histologicamente existem maiores
quantidades de receptores nervosos com terminações livres, fusos musculares, órgão
tendinoso de Golgi, mastócitos e capilares, estas áreas quando comparadas com áreas
circunjacentes, nota-se uma diferença de potencial elétrico, isso facilita o deslocamento
dos impulsos ao longo das fibras nervosas locais, conduzindo tais estímulos para o
sistema nervoso central, principalmente através das fibras A-delta e C (DORNETE,
1975; ZONGLIAN, 1979; YAMAMURA et al., 1993; LONGSHUN et al., 1986).
As fibras A-delta, e as fibras C, são as principais fibras correlacionadas com a
condução do estímulo da agulha na acupuntura, frente á redução do quadro álgico. As
fibras A-delta são dominantes ao mediar a Acupuntura, seguidas pelas fibras C e, em
menor proporção, pelas fibras do grupo A gama (YAMAMURA, 1993; DORNETTE,
1975; SMITH, 1992; GUOWEI ET al., 1981; XINZHONG, 1986).
A combinação das características dos pontos de acupuntura com os acupontos
(regiões da pele com grande concentração de terminações nervosas e sensoriais) é
extremamente reativa a pequenos estímulos causados pela inserção de agulhas
(KENDALL, 1989). Um exemplo é a existência de pontos de acupuntura definidos
anatomicamente, pelo menos alguns deles localizam-se próximo de nervos ou em
regiões com densa inervação, o que facilita a geração de impulsos nervosos em resposta
à estimulação mecânica ou elétrica, ocasionando uma sensação subjetiva. Essa sensação
é produzida, indubitavelmente, pela atividade nas fibras nervosas aferentes finamente
mielinizadas A-delta e não-mielinizadas C. (HOPWOOD, 2001).
Os efeitos da agulha de acupuntura dependem da profundidade de sua inserção,
pois os tipos de receptores nervosos são distribuídos de modo diferente, de acordo com
os planos da estratigrafia (WENZHU et al., 1986; LONGSHUN et al., 1986). A
inserção superficial atingirá, predominantemente, os receptores nervosos associados às
fibras A-delta, que fazem a mediação para as dores agudas e termocepção; enquanto a
inserção profunda estimulará as fibras nervosas do fuso muscular e as fibras A-delta e
C, que estão localizadas mais profundamente (ZONGLIAN, 1979; WENZHU et
al.,1986; XINZHONG, 1986).

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Os estímulos provocados pela agulha em diferentes receptores nervosos levam a
múltiplos efeitos, uma vez que o sistema nervoso dá uma resposta específica conforme a
via de condução do estímulo. A técnica de manipulação da agulha quanto à intensidade,
no sentido de rotação, freqüência e inclinação, torna-se muito importante, pois
diferentes neurotransmissores são liberados, resultando em interpretações cerebrais
distintas e diferentes respostas (YAMAMURA,1993; SMITH, 1992).
Assim, compreende-se por que os chineses preconizavam que, para se tonificar
um ponto de acupuntura, dever-se-ia fazer movimento giratório da agulha inserida no
sentido horário ou direcioná-la obliquamente no sentido da corrente de energia do
meridiano. Essa forma específica de manipulação dos pontos de acupuntura e as
respostas diversas obtidas (tonificação ou sedação) encontram respaldo científico, uma
vez que, cada forma de estímulo gerado pela manipulação de agulha pode liberar
neurotransmissores específicos, que podem inibir ou excitar as várias sinapses em nível
de sistema nervoso ... (YAMAMURA,1993; LEUNG, 1975).
A inserção das agulhas de acupuntura determina três efeitos locais: elétrico,
neuroquímico por ação mecânica e misto. A inserção e a manipulação da agulha de
acupuntura causam lesões celulares que provocam, em nível local, o aparecimento de
substâncias bioquímicas, como a substância P, e transformação do ácido araquidônico
em leucotrienos, tromboxano e prostaglandinas. Essas substâncias algógenas estimulam
os quimiorreceptores (HAN, TERENIUS,1987; KENDALL,1989; BONICA, 1990)
promovendo vasodilatação no nível capilar.
A analgesia para uma dor muito intensa pode ser obtida fazendo-se a inserção
seguida de estímulos contínuos, os quais, provavelmente, terão ação sobre as fibras A-
delta e sobre o tracto neo-espinotalâmico, produzindo, então, um efeito analgésico por
liberação de substâncias opióides (HE, 1987; SMITH, 1992; ZONGLIAN, 1979;
WENZHU et al., 1986; HAN et al., 1986; XIE, HAN, 1986). Tais estímulos são
conduzidos, em grande parte, por meio dos tratos espinotalâmicos, e sua modalidade de
ação depende do tipo de fibras nervosas estimuladas (HAN, TERENIUS, 1987; HAN,
1986; SMITH, 1992; O’CONNOR,BENSKY, 1975).
As fibras A-delta projetam seus estímulos pelo tracto neoespinotalâmico,
fazendo a mediação da dor aguda, com velocidade de condução mais rápida, estão
ligadas aos mecanismos de defesa, enquanto as fibras C projetam seus estímulos no
tracto paleoespinotalâmico, mais lentas, estão associadas aos estímulos viscerais
(SMITH, 1992; KANDELL, SCHARWARTZ, JESSEL, 1991; GUYTON, 1991).
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BASES FISIOLÓGICAS DA VENTOSATERAPIA NO TRATAMENTO DA DOR

Para compreender como a ventosaterapia atua no tratamento da dor humana, é


preciso conhecer como a pele – o maior órgão do corpo – funciona; posteriormente é
necessário entender os métodos de aplicação da ventosa fixa - instrumento de sucção –
na movimentação da energia fisioquímica, ao longo dos pontos energéticos existentes
nos 14 meridianos da Medicina Tradicional Chinesa – MTC; para finalmente, visualizar
cientificamente, as relações de benefícios desta prática milenar, na melhoria do quadro
álgico de pacientes lesados por armas de fogo.
Por ser composta por três camadas (a epiderme, derme e a hipoderme), a pele
conecta-se aos demais órgãos internos, por intermédio de milhões de terminações
nervosas e uma rica rede de vasos sanguíneos, que produzem as sensações fisiológica e
emocionais.
O acuponto é uma região da pele em que há grande concentração de terminações
nervosas sensoriais, essa região está em relação íntima com nervos, vasos sangüíneos,
tendões e cápsulas articulares (WU, 1990). Pesquisas realizadas no campo da
eletrofisiológica revelam que algumas áreas da pele comparadas com regiões
adjacentes, apresentam um aumento de condutibilidade e diminuição da resistência
elétrica quando indivíduos apresentam quadro álgico. Tais áreas, coincidentes com a
descrição clássica dos pontos de acupuntura (WEI, 1979; BROWN,VLETT, STERN,
1974; IONESCU-TIRGOVISTE, 1975).
Assim, entender como os acupontos manifestam suas propriedades elétricas em
diferentes áreas dos tecidos adjacentes, sua condutância, resistência, padrões de campo e
diferenças de potencial elétrico é elementar para compreender as causas e os principais
pontos de dor (ALTMAN, 1992).
Este processo é desenvolvido através de dez métodos de aplicação: fraco – usado
para remover a estagnação do sangue e da energia (tonificação); médio – voltado para
remover a estagnação do sangue e da energia em paciente com maior fluxo energético
(tonificação); forte – usado para eliminar fatores patogênicos internos e externos
(drenagem); deslizante – consiste em aplicar o método forte em uma área maior do
corpo (drenagem); com agulhas – usa para dores nas articulações do joelho e do
cotovelo; com moxa – é utilizado para aliviar a dor causada por síndromes provenientes
do frio (tonificação); flash – é aplicado para movimentar o sangue e a energia
(tonificação), sangria – objetiva realizar a remoção do excesso de energia (drenagem);
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herbáceo – é comumente usado quando agentes patogênicos causam tensões musculares
e dores no pescoço e ombros (tonificação); com água – método usado para dispersar o
acumulo de energia do pulmão e resolver a fleuma (neutro) (CHIRALI, 1997).
Como um órgão tátil-sensorial que recebe os estímulos externos (intencionais ou
não) e os emite para os órgãos internos, a pele colabora com o equilíbrio homeostático
do corpo, o que faz da ventosaterapia, uma prática capaz de produzis uma comutação no
fluxo de Qi no corpo humano, uma vez que através dela, retira-se ou acrescentam-se
quantos de energia, em excesso ou em falta, ao longo dos pontos de acupuntura dos
meridianos.
O tratamento com ventosas leva em média dez sessões, com duração de uma
hora cada. È aconselhável entre cada ciclo do tratamento, haver uma semana de
descanso, em razão da necessidade da pele restabelecer seu aspecto normal e na
primeira sessão nunca se deve exceder 05 minutos, pois as aplicações estimulam
diretamente as raízes dos pêlos, provocam dilatação dos vasos sanguíneos facilitando a
circulação, aumento da temperatura da epiderme, estimulação do metabolismo do tecido
cutâneo, melhora do funcionamento das glândulas sebáceas e sudoríparas, além de
ocasionar o adequado suprimento de nutrientes no epitélio e na derme, o que pode
ocasionar lesões graves na pele, sendo recomendado ir aumentando a duração aos
poucos para no máximo 15 minutos por sessão (CHIRALI, 1997).
Após o desenvolvimento da ventosaterapia é esperado dois efeitos distintos: no
âmbito geral – espera-se a purificação do sangue, melhorias da função circulatória,
aperfeiçoamento e regulação do sistema nervoso autônomo. No âmbito local - espera-se
remoção da dor, o relaxamento dos músculos retesados e o equilíbrio do nível de
energia corporal.
Contudo, o efeito mais significativo evidencia-se nas articulações, uma vez que
o tratamento com ventosas promove melhoria no desempenho dos fluidos sinoviais,
facilitando o processo de secreção de tais substâncias e eliminar possíveis espasmos
musculares existentes nas áreas próximas das articulações (DIAS, 2008).
Para Focks (2008), em tratamentos de dores no aparelho locomotor, pode-se
realizar ventosaterapia sobre o ponto principal de dor, ou então nos pontos ASHI ou
sobre miogelose de insuficiência. Pensamento este que se contrapõe ao que leciona o
CHIRALI (1997), ao afirmar categoricamente que nas síndromes “B” dolorosas, é
importante evitar a aplicação das ventosas diretamente nas lesões, aconselhando usar
uma área de superficial entre 1,5 e 2,0cm próximas ao trauma.
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MATERIAIS E MÉTODOS

Paciente L.B.C., 35 anos, 80 kg, sexo masculino, militar, atleta, não etilista, não
tabagista, não usuário de medicação para tratamento de trauma ortopédico, ocasionado
por projétil de arma de fogo no terço médio da região da coxa esquerda, após ficar sem
atividades físicas por 09 meses, após alta medica realizava sessões de fisioterapia,
hidroterapia e pilates por recomendação médica, sem redução de seu quadro álgico
(segundo diagnóstico clínico). O paciente relatou ainda, que as suas atividades diárias
são realizadas com bastante incomodo, em razão das freqüentes dores no joelho
esquerdo, que comumente ocorriam durante o processo de extensão ativa do joelho .
A pesquisa levou em consideração a Resolução n° 196/1996 (Pesquisa com seres
humanos), de forma que o participante foi esclarecido do objetivo da pesquisa e de sua
participação na mesma, assinou o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo
01) visando resguardá-lo de qualquer dado que o identificasse, podendo o mesmo,
ausentar-se da pesquisa conforme sua livre decisão.
Os materiais utilizados foram: álcool a 70%; algodão; agulhas descartáveis de
inox, tamanho 0,25 x 30 mm da marca Dongbang; ventosas de vidro, variação de 1 a 5,
marca Dong Yang. O goniômetro universal Carci – 1275 foi utilizado (segundo Norkin
e White,1997) para mensurar a amplitude de movimento - ADM articular do joelho
esquerdo do paciente, visto que o foco da pesquisa era relacionar o processo de redução
da dor, pelo tratamento da acupuntura e ventosaterapia, com a recuperação da variação
do ângulo articular do citado joelho (flexibilidade).
A metodologia da pesquisa foi do tipo quanto-qualitativa, que segundo Lakatos e
Marconi (1991) “a qualitativa, quando os parâmetros utilizados para compor a lista de
verificações são descritos de modo subjetivo através dos questionamentos aos pacientes
atendidos e o quantitativa, quando esses dados são tratados estatisticamente”.
Inicialmente o paciente necessitou apresentar o diagnóstico clínico, para identificação
da lesão e responder a um questionário elaborado pela Biocursos Manaus e adaptado
pelos pesquisadores (anexo), com vista à escolha do melhor protocolo a ser ministrado.
Os procedimentos foram desenvolvidos no período de Março a Junho de 2010
com uma (01) sessão por semana, num total de doze (12) sessões, tendo uma hora de
duração cada e, subdivididas em 40min de acupuntura sistêmica e 20min de aplicação
com ventosa fixa nos pontos de dor (Ashi), ponto local (olhos do joelho) e pontos
sistêmicos dos seguintes meridianos: Intestino Grosso (ponto IG4, bilateral), Estômago
6
(ponto E34 e E36, bilaterais), fígado (ponto F8 unilateral), bexiga (ponto B63, bilateral),
vesícula biliar (ponto VB33, bilateral), pulmão (ponto P9, bilateral).
No protocolo da acupuntura, os meridianos de energia da MTC (14 ao todo,
segundo CHIRALI, 1997) foram importantes para orientar o processo de aplicação dos
instrumentos (agulhas) na busca da redução da dor através da redistribuição da energia
termofisioquímica no corpo do paciente, os pesquisadores identificaram a existência de
um déficit de Qi (energia) nos principais meridianos que passavam pela área da dor,
assim como no ponto Ashi e olhos do joelho esquerdo (MACIOCIA, 2007).
Para desenvolvimento desta etapa, o paciente foi colocado na posição decúbito
dorsal, visto que esta posição é considerada a mais confortável no tratamento de dores
na articulação, uma vez que o processo de aplicação das agulhas de acupuntura foi
profundo, objetivando ocasionar estímulos nervosos do fuso muscular e as fibras A-
delta e C (ZONGLIAN,1979; WENZHU et al.,1986; XINZHONG, 1986).
Quanto ao protocolo de aplicação das ventosas, foram aplicadas sobre a cicatriz
(entrada e saída do projétil), assim como no entorno da articulação do joelho esquerdo.
Este procedimento foi realizado com o método leve, visto que este, por ser uma técnica
de tonificação (aumento do Qi – energia e Xue - sangue) é empregado nos casos de
déficit ou estagnação de Qi e sangue, como forma de equilibrar o fluxo energético e
sanguíneo, gerando alivio da dor (CHIRALI, 1997).
Esta etapa foi realizada objetivando alcançar a redistribuição, primeiramente da
energia, para em seguida alcançar a estabilidade no fluxo sanguíneo, uma vez que esta
técnica é quase indireta e responsável pelo efeito terapêutico (CLAVEY, 2000).
Concluída as sessões de acupuntura e ventosaterapia, verificou-se melhoria na
flexibilidade do joelho esquerdo (ganho de 10º na ADM) e uma significativa redução do
quadro álgico, uma vez que o paciente não se queixara de dores, quanto na posição
sentado. Tal observação condiz com o que Focks (2008) relata.
“em tratamentos de dores no aparelho locomotor, pode-se realizar
Ventosaterapia seca sobre o ponto principal de dor, ou então nos
pontos ASHI”.

Desta forma, a pesquisa alcançou seu objetivo meio, já que o tratamento se mostrou
eficaz através dos procedimentos associados, do protocolo escolhido, e dos
conhecimentos historicamente indicados.

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DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Partindo da definição ocidental de dor “evento neuropsicológico


pluridimencional”, (CAMBIER et al, 2004), associado ao conceito oriental “alteração
do fluxo de Qi e Xue no corpo humano” (MACIOCIA, 2007), o tratamento de
acupuntura e ventosaterapia, aplicado no joelho esquerdo do paciente lesionado por
projétil de arma de fogo, obteve-se como resultado observável, um significativo
aumento da flexibilidade articular da amplitude de movimento – ADM, isso só foi
possível, por que ao longo do referido tratamento, o quadro álgico foi sendo
progressivamente reduzido, até ser significativamente reduzida na sexta sessão,
conforme indicado pela curva continua da figura 01.

DOR

Muito intensa

Intensa

Moderada

Fraca

Ausência SESSÕES
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Figura 01: escala verbal simples (CAMBIER et al, 2004).

Tal resultado foi obtido, segundo a Medicina Tradicional Chinesa – MTC, por
que os pontos escolhidos para serem trabalhados no protocolo de tratamento seguiram a
filosofia da prevenção – uma vez que o ponto EB4, do meridiano do estomago; o ponto
IG4, do meridiano do intestino grosso e o B63, do meridiano da bexiga atuam na região
do joelho, expelindo a umidade e o frio que adentram constantemente o organismo
humano, através da diferença de temperatura entre o ambiente e o corpo.
Também seguiram a filosofia da cura: já que o ponto VB33, do meridiano da
vesícula biliar; o ponto F8, do meridiano do fígado e o E36, do meridiano do estomago
atuam diretamente na eliminação do vento e da umidade existente nas cavidades dos
joelhos, ocasionando imediata redução da dor. Contudo, as demais sessões foram
mantidas e realizadas, buscando manter o equilíbrio do Qi e Xue alcançados, como
demonstra a parte pontilhados do gráfico.

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Quanto à amplitude de movimento - ADM, a pesquisa mostrou que o paciente,
inicialmente, realizava suas atividades diárias claudicando, em razão da restrita
capacidade de extensão da perna esquerda (apenas 124°, de uma variação absoluta de
140° (KENDALL, 2007), mensurado no goniômetro, segundo o método de NORKIN e
WHITE, 1997). Tal constatação encontrava amparo clínico no laudo médica solicitado
do pesquisado, que indicava claramente enrijecimento da articulação do joelho esquerdo
e se complementava com os inúmeros relatos de dor. Do citado quadro, os
pesquisadores optaram pela definição do seguinte protocolo: pontos de dor (Ashi),
ponto local (olhos do joelho esquerdo) e pontos sistêmicos: (IG4, E34, E36, F8, B63,
VB33 e P9), visto que estes pontos obedecem ao que leciona MACIOCIA (2007).

“as cápsulas das articulações são também espaços ou cavidades


nas quais o Qi entra e sai. O movimento do Qi para dentro e para
fora das articulações é controlado, primeiramente pelo meridiano
do fígado e do triplo aquecedor em geral; entretanto, ele
obviamente também conta com qualquer canal de atravesse uma
articulação em particular. Se o Qi entra e sai das articulações de
uma maneira equilibrada a articulação estará livre de dor e seus
movimentos serão irrestritos, se o Qi sair muito, a articulação
estará enrijecida e dolorida, e seu movimento de extensão difícil.
Se o Qi entrar muito, a articulação estará enfraquecida e dolorida,
e o movimento de adução será difícil”.

Como resultado, obteve-se uma flexibilidade de 10° na extensão articular do


joelho esquerdo do paciente, pois o tratamento de acupuntura sistêmica associada à
ventosaterapia fixa, tinha com foco equilibrar o fluxo de sai do Qi da cavidade do
joelho, no transcurso das sessões, como ilustra a figura 02.

ADM

140°
138°
136°
134°
132°
130°
128
126°
124° SESSÕES

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Figura 02: escala de variação da amplitude de movimento (VENTURINI, 2006).

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CONCLUSÃO

No início da pesquisa, pairava um certo pessimismo quanto a possibilidade de


manifestação cultural do hábito de desistência dos pacientes, antes do termino do
tratamento, o que comprometeria o processo de redução do quadro álgico do paciente,
inviabilizando o desenvolvimento da técnica que associação da acupuntura sistêmica
com a ventosaterapia fixa e ocasionando carência de dados na pesquisa.
Entretanto, foi notável a disciplina do paciente, uma vez que após compreender
dos conceitos básicos sobre medicina tradicional chinesa aplicada em seu caso
específico, o mesmo passou a dispensar um alto nível de esperança no tratamento, o que
o fez possuidor de uma alta tonificação do Qi, servindo esta, de base para os
pesquisadores definirem o método fraco de aplicação da ventosaterapia.
Assim, compreender que a acupuntura e a ventosaterapia são apenas técnicas
terapêuticas que compõem um conjunto de saberes e procedimentos culturalmente
constituídos e dissociáveis. É entender que além das agulhas e ventosas, a medicina
tradicional chinesa também se utiliza de ervas, massagens, exercícios físicos, dietas
alimentares, e prescreve normas higiênicas de conduta. Lógica esta que orientou toda a
vida social da China, no período em que foi desenvolvida: o calendário agrícola, as
festas coletivas, os princípios de comportamento social, as regras de etiqueta no trato
com as autoridades, a religião, a música, a arquitetura... Os princípios teóricos a partir
dos quais as doenças são entendidas, classificadas e tratadas são os mesmos que servem
para entender, classificar e lidar com as coisas do mundo, da natureza, do espaço e do
tempo (GRANET, 1968).
A Medicina Chinesa é um vasto campo de conhecimento, de origem e de
concepção filosófica abrangendo vários setores ligados à Saúde e à Doença. Suas
concepções são voltadas muito mais ao estudo dos fatores causadores da doença, a sua
maneira de tratar conforme os estágios da evolução do processo de adoecer, e
principalmente, aos estudos das formas de prevenção, na qual reside toda a Essência da
Filosofia e da Medicina Chinesa (YAMAMURA, 1993).
Para tanto, tal entendimento, possibilita encarar as alterações funcionais e
orgânicas por um prisma mais dialético do que clínico, possibilita a posse de uma visão
sistêmica do universo, em que tudo esta interligado, e que tudo é interdependente.

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ANEXOS

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu,_________________________________________________, portador do
RG nº_____________ e CPF ___________________. Aceito participar por minha livre
vontade do Projeto de Pesquisa do curso de Acupuntura realizado por Breno Souza
Leite, Eliana Barroso Coelho Serra e Tanna Kellyn Lima Holanda , com o título
“Acupuntura e Ventosaterapia como meios de tratamento para dor causada por arma de
fogo: Estudo de caso”, sob orientação do Prof. , que tem por objetivo:

a) Averiguar a eficácia da Acupuntura e da Ventosaterapia para o alívio da dor na


perna esquerda;
b) Tratar a dor no joelho esquerdo utilizando ponto locail (ponto Ashi) com
Acupuntura;
c) Tratar o local da perfuração da bala e áreas adjacentes com ventosaterapia.

Esclareço que:
- As informações coletadas na entrevista somente serão utilizadas para objetivo
de pesquisa sendo que estas ficarão em sigilo e que seu anonimato será preservado.
- Que o senhor tem total liberdade de desistir a qualquer momento de participar
da pesquisa e que nenhum momento o senhor terá prejuízos.

Para mais esclarecimentos entrar em contato:


Nome: Tanna Kellyn Lima Holanda
Endereço: Rua Luiz Antony 720-E Centro
Telefone: 9126 - 5130 / 3233 – 6214

Manaus, ______ de ________________ de 2010.

____________________________________
Assinatura do Participante

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