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Edição 1029
19 de março de 2019
“Fake news” vem se tornando uma expressão muito popular nos anos
recentes. Muitos analistas iniciam seus comentários sobre esse fenômeno
enfatizando que a disseminação de notícias falsas não é nenhum evento
novo na história. A enciclopédia Wikipedia cita exemplos de “fake news
antigas” ocorridas no antigo Egito, no Império Romano e na Idade Média.
De acordo com ela, as fake news são uma espécie de “jornalismo marrom”
(yellow journalism) ou propaganda caracterizados pela disseminação
deliberada de informações equivocadas ou fraudulentas (hoaxes) através da
imprensa tradicional e da mídia televisionada, ou de mídias sociais online.
Essas informações falsas são majoritariamente distribuídas através das
mídias sociais, mas são periodicamente circuladas através da mídia
convencional.
Fake news são escritas e publicadas com a intenção de enganar, tendo como
objetivo prejudicar uma organização, entidade ou pessoa, e/ou obter ganhos
financeiros ou políticos, frequentemente utilizando manchetes
sensacionalistas, desonestas ou absolutamente fabricadas para aumentar a
quantidade de visualizações e de compartilhamentos online, além de ganhos
gerados por cliques na internet.
Por outro lado, é importante também reconhecer que o novo contexto social
e comunicacional em que essa prática ocorre confere um significado novo e
complexo à ação de espalhar informações falsas. Esta é uma novidade
essencial em relação às velhas práticas de disseminação de mentiras.
De uma hora para outra, especialmente nos Estados Unidos, cientistas sociais
e especialistas sobre mídias sociais foram forçados a calibrar seus
instrumentos de análise em torno da produção de um entendimento mais
abrangente e profundo sobre tais acontecimentos que envolviam o
funcionamento da democracia de massas, das mídias sociais, e de todo
processo de produção e reprodução de crenças sociais e políticas. Algumas
das dimensões centrais desse novo contexto são corretamente sintetizadas
por Timothy Garton Ash. Em seu livro Free Speech – Ten Principles for a
Connected World , o autor mostra como diversos fenômenos
interconectados estão interligados às fake news tal como elas hoje se
manifestam.
Cosmópolis
De acordo com Ash, o novo contexto de comunicação das fake news ocorre
numa Cosmópolis. Para ele, Cosmópolis é o contexto transformado para
qualquer discussão sobre livre expressão nos nossos tempos.
É fácil reconhecer como esse fato afeta as fake news comumente produzidas
em territórios estrangeiros (Rússia, Macedônia etc.), como mostra a eleição
de Trump. Essa dimensão das fake news na Cosmópolis traz muitos desafios
jurisdicionais sobre como regular e garantir a eficácia da lei sobre esta nova
prática. Existe hoje em dia um intenso debate sobre a atitude que poderes
privados como Google, Facebook e WhatsApp devem adotar face às
demandas dos Estados.
Google, Facebook, Twitter e WhatsApp podem não ser países, mas são
gigantes da informação com mais capacidade de interferir na liberdade de
expressão do que a maioria dos estados nacionais.
Aqui também se verifica a novidade desse fenômeno social que traz mais um
significado político em potencial para a ação de disseminar falsas
informações. Cass Sunstein sugeriu que a internet pode, na prática,
contribuir para o que ele chama de polarização de grupos (SUNSTEIN, 2007,
p. 114-117).
Longe de serem confrontadas com uma diversidade de visões contrárias,
como se esperaria num ideal de esfera pública liberal, as pessoas procuram
comunidades minoritárias de pensamento semelhante. Esse comportamento
é comum entre extremistas políticos e identificável em vários nichos
(clusters) de simpatizantes radicais de Donald Trump. É importante
reconhecer que essas evidências estão longe de ser conclusivas quando
utilizadas como dados para recomendar possíveis medidas de combate às
fake news. Por um lado, ainda não se tem certeza da existência de algum tipo
de processo de aprendizado social capaz de criar incentivos para que as
pessoas não confiem cegamente em tudo que leem ou veem nas mídias
sociais e adotem uma atitude de maior cautela e prudência na checagem de
fatos, de modo a evitar a disseminação das fake news. Por outro lado, há
indícios de que há algumas preferências pelo pluralismo que poderiam ser
satisfeitas com algumas mudanças no algoritmo utilizado pelo Facebook,
Google etc.
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BIBLIOGRAFIA