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Novo Módulo de MD 2020 Unidade 2

Matemática Discreta
Tópicos da Teoria dos Conjuntos
Parte 5
Sequências e Produtos Cartesianos

Sumário
1 Sequências 69
1.1 Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
1.2 Exercı́cio resolvido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

2 Igualdade 71
2.1 Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2.2 Exercı́cio resolvido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

3 Especificação de sequências por listagem 73

4 Duas notações alternativas 74


4.1 Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.2 Exercı́cio resolvido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

5 Produto cartesiano 77
5.1 Observações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.2 Exercı́cios resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Neste texto, abordamos as noções de: sequência e termo (Seção 1), igualdade en-
tre sequências (Seção 2) definição de sequência por listagem e definição de sequência
por recursão (Seção 4).
Depois de estudar este texto, vamos ser capazes de: entender as diferenças fun-
damentais entre conjuntos e sequências (Seções 1 e 2); especificar uma sequência
pela listagem de seus termos ou por meio da listagem de alguns dos seus termos e
uma operação que fornece os termos não listados (Exercı́cio 1).

Nosso objetivo não é fazer um estudo detalhado das propriedades básicas das
sequências, como o que estamos fazendo em relação aos conjuntos, mas apenas
fixar as notações e propriedades básicas mais importantes, sobre sequências.

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1 Sequências
Além de “conjunto”, outra palavra que é frequentemente usada em Matemática,
quando queremos nos referir a uma totalidade de objetos distinguidos dos demais é
“sequência”:

Uma sequência é um

alinhamento, fileira, lista, ordenação, etc

de objetos.

Exemplo 1 Alguns exemplos de sequência são:


(a) A sequência formada pela letra a (e nada mais).
(b) A sequência formada por todos os nomes das pessoas que habitam o planeta
Terra, escritos na ordem alfabética.
(c) A sequência formada por todos os números naturais, na ordem usual, iniciada
pelo 0, seguido do 1, seguido do 2, seguido do 3, etc.
(d) A sequência formada por três cópias da estátua do Cristo Redentor, e duas
cópias do conjunto dos números naturais.
(e) A sequência formada por dois objetos: a sequência dos números pares, dispostos
na ordem usual e a sequência dos números ı́mpares, dispostos na ordem usual.
Observe no Exemplo 1 que uma sequência pode ser formada por: (a) um número
especı́fico de objetos; (b) um número não especı́fico mas finito de objetos; (c) um
número infinito de objetos; (d) objetos concretos e objetos abstratos; (e) outras
sequências.
Uma diferença essencial entre a maneira como a palavra “sequência” é empregada
em Matemática e como ela é usada no dia a dia é a seguinte:

Em Matemática, quando nos referimos a sequências (alinhamentos, fileiras,


listas, ordenações, etc) de objetos, estamos assumindo os seguintes aspectos:

– todas as sequências em questão são formadas com objetos tomados em


um conjunto maior, que chamamos de conjunto universo;

– o conjunto universo a partir do qual as sequências são formados nem


sempre é explicitamente caracterizado, mas está fixo, no contexto;

– a ordem dos objetos nas sequências é relevante;

– a repetição dos objetos nas sequências é relevante.

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Assim, sequências são usadas quando temos um grupo de objetos distinguidos —


dentro de um grupo maior de objetos — para os quais ordem e repetição são levadas
em consideração.

Exemplo 2 (a) Um exemplo tı́pico do uso de sequências ocorre no enunciado do


Exemplo 2(b) do Texto da Semana 9, Parte 1:
Quantas comissões consistindo de um presidente, um vice-presidente e
um secretário, podemos formar, dado um grupo com 10 pessoas?
A palavra “comissão” é sinônima de “sequência”, pois é especificada explicitamente
uma ordem das pessoas na comissão: presidente, vice-presidente e secretário.

(b) Outro exemplo tı́pico do uso de sequências ocorre quando estudamos palavras em
contextos matemáticos. Neste caso, usamos a expressão “palavra” de uma maneira
mais abrangente do que quando a usamos em Lı́ngua Portuguesa. Por exemplo, do
ponto de vista matemático palavras são obtidas por justaposição de letras, façam
elas sentido ou não.
Em particular, as palavras

a , b , aa , bb , ab , ba

são distintas duas a duas. Assim, tanto repetição quanto ordem são relevantes
na caracterização de uma palavra. Logo, palavras podem ser formalizadas como
sequências.

Dado um conjunto universo e uma sequência qualquer, alguns objetos do universo


estão na sequência e outros não.

Os objetos que fazem parte da sequência são os seus termos.

Os termos da sequência são ditos ocorrer na sequência.

Uma notação fundamental no uso de sequências é a seguinte:

Seja S uma sequência que possui ocorrências de n termos.

Como a ordem dos termos é relevante para a definição de S, utilizamos o nome


da sequência indexado pelos números 1, 2, 3, . . . , n para denotar a posição em
que cada termo ocorre em S.

Exemplo 3 Seja S = (1, 2, 2, 1, 2, 2, 2).


Neste caso temos n = 7, e S1 = 1, S2 = 2, S3 = 2, S4 = 1, S5 = 2, S6 = 2 e
S7 = 2.

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Assim, reservamos a noção de conjunto para lidar com situações nas quais a
repetição e a ordem dos objetos não são consideradas como relevantes, enquanto que
empregamos a noção de sequência para lidar com situações nas quais a repetição e
a ordem dos objetos são consideradas como relevantes.

1.1 Observação
Observação 1 Nunca é demais enfatizar que as convenções sobre as definições de
conjuntos e sequências por listagem devem ser estritamente observadas. Em Ma-
temática, conjuntos e sequências não podem ser definidos por listagem de nenhuma
outra maneira que não as aqui consideradas: conjuntos usam chaves e sequências
usam parênteses.

1.2 Exercı́cio resolvido


Exercı́cio 1 Para cada conceito especificado abaixo, determine se é melhor classi-
ficá-lo como conjunto ou sequência, no contexto dado:
(i) Grupo de amigos em uma festa.
(ii) Três atletas no pódio para receberem as medalhas de ouro,
prata e bronze.
(iii) Pessoas escolhidas em um grupo para formar uma comissão.
(iv) Pessoas formando uma fila.
(v) Pares de alunos em uma aula de dança de salão.

Antes de ler a resolução, tente resolver o exercı́cio usando os con-


ceitos estudados.

Resolução do Exercı́cio 1 : (i) Melhor como conjunto, pois não está especificada nenhuma
hierarquia entre os amigos na festa. (ii) Melhor como sequência, pois há uma hierarquia entre os
atletas que recebem medalhas. (iii) Melhor como conjunto, pois não está especificada nenhuma
hierarquia entre os membros da comissão. (iv) Melhor como sequência, pois há uma hierarquia
entre as pessoas na fila. (v) Melhor como conjunto, pois não está especificada nenhuma hierarquia
entre os pares de alunos.

2 Igualdade
Observe que diferentemente do que acontece com os conjuntos, possuir os mesmos
termos não é uma garantia de que duas sequências sejam iguais.

Exemplo 4 As sequências

(1) , (1, 1) , (1, 1, 1) , (1, 1, 1, 1) , (1, 1, 1, 1, 1)

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são diferentes duas a duas mas, estritamente falando, possuem todas os mesmos
termos: o número 1.
Por outro lado, todos os conjuntos

{1} , {1, 1} , {1, 1, 1} , {1, 1, 1, 1} , {1, 1, 1, 1, 1}

são iguais, pois todos possuem apenas um elemento: o número 1.

Quando tratamos de sequências finitas, a relação de igualdade é regulada pelo


seguinte princı́pio:

Duas sequências são iguais se, e somente se, têm o mesmo número de termos,
os mesmos termos, e eles estão dispostos na mesma ordem.

Exemplo 5 A sequência S, formada pelas letras a, b e c tomadas nesta ordem, é


diferente da sequência T , formada pelas letras c, b e a tomadas nesta ordem.
De fato, para S temos: S1 = a, S2 = b e S3 = c. Já para T , temos: T1 = c,
T2 = b e T3 = a. Como, por exemplo, S1 6= T1 , temos que S 6= T .

2.1 Observação
Observação 2 Informalmente, podemos dizer que a principal distinção entre a
igualdade de conjuntos e a igualdade de sequências é que, enquanto dois conjun-
tos que parecem muito diferentes podem, na verdade, ser iguais, para que sejam
iguais duas sequências devem ser, realmente, idênticas.

2.2 Exercı́cio resolvido


Exercı́cio 2 Seja A um conjunto tal que todas as sequências formadas com elemen-
tos de A possuem os mesmos termos. Qual das opções abaixo é a correta?

A=N A = {a, b} A = {a} A=∅

Antes de ler a resolução, tente resolver o exercı́cio usando os con-


ceitos estudados.

Resolução do Exercı́cio 2 : Como todas as sequências formadas com elementos de A devem


possuir os mesmos termos, A só pode ter um único elemento. De fato, se existissem dois elementos
distintos, a e b em A, terı́amos as sequências (a) e (b), formadas com elementos de A, que possuiriam
termos distintos. Assim, A = {a}.

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3 Especificação de sequências por listagem

Em Matemática Discreta, com raras exceções, todas as sequências consideradas


são finitas, isto é, possuem um número bem definido de termos.

Neste caso, sempre que for conveniente, vamos especificar a sequência listando
(os nomes dos) seus termos entre parênteses e separados por vı́rgulas.

A observação estrita desta convenção é uma necessidade.

Em Matemática, as sequências não podem ser definidas por listagem de ne-


nhuma outra maneira que não a aqui especificada, ou seja, usando parênteses
e vı́rgulas.

Exemplo 6 (a) A sequência do Exemplo 1(a) pode ser definida por:

(a)

(b) A sequência do Exemplo 1(d) pode ser definida por:

(CR, CR, CR, N, N)

onde CR representa a estátua do Cristo Redentor.

(c) No Exemplo 2, temos um conjunto que pode ser definido genericamente por

{p1 , p2 , p3 , . . . , p10 },

onde p1 , p2 , p3 , . . . , p10 representam as 10 pessoas envolvidas.


A partir deste conjunto, podemos formar sequências que podem ser definidas
genericamente por
(P, V, S),
onde P representa ‘presidente’, V representa ‘vice-presidente’ e S representa ‘se-
cretário’.

(d) A sequência dos múltiplos de 2 entre 0 e 10, inclusive, dispostos em ordem


crescente, pode ser especificada como

(0, 2, 4, 6, 8, 10)

(e) A sequência dos resultados possı́veis de um arremesso de um dado, dispostos em


ordem descrescente, pode ser especificada como

(6, 5, 4, 3, 2, 1)

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4 Duas notações alternativas


Quando não é conveniente listar todos os (nomes dos) termos de uma sequência
para especificá-la, podemos usar duas notações alternativas.
A primeira, como no caso dos conjuntos, consiste em utilizar as reticências . . .
para denotar os termos que consideramos implı́citos no contexto.

Exemplo 7 (a) A sequência dos múltiplos de 2 entre 0 e 1.000, inclusive, dispostos


em ordem crescente, pode ser especificada como

(0, 2, 4, . . . , 996, 998, 1.000)

Está subentendido que esta sequência só possui como termos, além dos que estão
listados, os outros números naturais pares entre 4 e 996 que não estão listados.

(b) A sequência das letras do alfabeto da Lı́ngua Portuguesa, listadas em ordem


alfabetica, mas de modo que cada letra ocorre um número de vezes igual ao que ela
ocupa na ordem alfabetica, pode ser especificada como

(a, b, b, c, c, c, d, d, d, d, . . . , z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z, z)

Está subentendido que esta sequência só possui como termos, além dos que estão
listados, as outras letras, listadas de modo a condição acima ser satisfeita.

De uma maneira geral, usamos a seguinte notação para especificar a sequência


finita que possui os n termos, a1 , a2 , . . . , an , listados nesta ordem:

(a1 , a2 , . . . , an )

Esta notação não exclui o caso de um ou mais dos objetos a1 , a2 , . . . , an estarem


repetidos.

A segunda maneira de especificar uma sequência sem listar (os nomes de todos os)
seus termos pode ser vista como uma fusão das duas maneiras usadas na especificação
de conjuntos sem listar todos os elementos: fazer uma lista parcial e usar uma
propriedade.

Podemos definir uma sequência sem listar todos os seus termos, fazendo uma
lista dos seus termos iniciais e especificando um procedimento que nos permite,
a partir dos termos já listados, obter todos os outros termos da sequência.

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Exemplo 8 Considerando o conjunto N dos números naturais como o universo, a


sequência dos 1.000 primeiros múltiplos de 2, dispostos em ordem crescente, pode
ser especificada do seguinte modo:

– Primeiro, elaboramos uma notação especı́fica para os termos iniciais da sequên-


cia que queremos listar. Usualmente, uma letra minúscula indexada pelos
números que determinam a posição que o termo ocupa na sequência.
Por exemplo, a1 , a2 , a3 .

– Depois, especificamos os termos iniciais da sequência.


Por exemplo, a1 = 0, a2 = 2, a3 = 4.

– Finalmente, especificamos como obter os outros termos da sequência, a partir


de termos já listados, através de uma regra, que quando aplicada sucessiva-
mente, deve gerar todos os termos que formam a sequência, na ordem em que
eles devem ser listados.
Por exemplo, na sequência em questão, a partir do termo a3 cada termo pode
ser obtido a partir do imediatamente anterior pelo acréscimo de 2 unidades,
ou seja:
ai = ai−1 + 2, para 3 < i ≤ 1.000.

Assim, calculamos:

a4 = a4−1 + 2 = a3 + 2 = 4 + 2 = 6
a5 = a5−1 + 2 = a4 + 2 = 6 + 2 = 8
a6 = a6−1 + 2 = a5 + 2 = 8 + 2 = 10
..
.

até obtermos o valor de a1.000 .

Observe como fizemos uma lista inicial com os termos 0, 2 e 4 e, depois, apresen-
tamos o enunciado ai = ai−1 + 2, que especifica como podemos calcular todos os
outros termos da sequência.

Esta forma de definir uma sequência é chamada definição por recursão ou


definição recursiva da sequência.

Analogamente a definição de conjuntos por meio de propriedades, uma mesma


sequência pode ser definida por recursão de várias maneiras.

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Exemplo 9 Por exemplo, a sequência definida no Exemplo 8 também pode ser


definida por recursão do seguinte modo:
a1 = 0
a2 = 2
a3 = 4
a4 = 6
a5 = 8
a6 = 10
.. ..
. .
ai = ai−1 + 2,
para 7 ≤ i ≤ 1.000
E de muitos outros modos.

No entanto, sempre que especificamos uma sequência por meio de uma definição
recursiva, procuramos utilizar uma lista de termos iniciais e uma operação aplicada
a termos anteriores que sejam as mais simples possı́veis (segundo um certo critério
de simplicidade).

De uma maneira geral, usamos a seguinte notação para definir por recursão a
sequência de n termos, cujos primeiros m termos são a, b, . . . , c, dados nesta
ordem, e cujos outros termos podem ser obtidos a partir de termos anteriores
por aplicação sucessiva da regra

regra(ai , aj , . . . , ak ),

aplicada a termos ai , aj , . . . , ak , onde i, j, . . . , k são obtidos em função de l,


para m < l ≤ n:
a1 = a
a2 = b
.. ..
. .
am = c
al = regra(ai , aj , . . . , ak ),
para m < l ≤ n

4.1 Observação
Observação 3 Embora este seja um conceito importante para a Matemática Dis-
creta, que não pode ser negligenciado por quem se dedica a esta disciplina, não
teremos muitas oportunidades de lidar com sequências definidas por recursão em
nossos estudos. Como você terá a oportunidade de ver, elas também aparecem com
frequência nos estudos de outras disciplinas como Álgebra, Análise, Cálculo, etc.

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4.2 Exercı́cio resolvido


Exercı́cio 3 Uma das sequências mais famosas da Matemática é a sequência de
Fibonacci, que aparece — de maneira natural — nos mais variados contextos e
possui uma imensa gama de aplicações.
A sequência de Fibonacci é definida recursivamente do seguinte modo:
F1 = 1
F2 = 1
Fn = Fn−1 + Fn−2
para 3 ≤ n

Determine os 10 primeiros termos da sequência de Fibonacci, ou seja, determine


F1 , F2 , F3 , . . . , F10 .

Antes de ler a resolução, tente resolver o exercı́cio usando os con-


ceitos estudados.

Resolução do Exercı́cio 3 : Observe que, de acordo com a definição recursiva, os dois primeiros
termos da sequência são dados; e que a partir do terceiro, cada termo é a soma dos dois termos
anteriores. Assim, temos: F1 = 1, F2 = 1, F3 = F1 + F2 = 1 + 1 = 2, F4 = F2 + F3 = 1 + 2 = 3,
F5 = F3 + F4 = 2 + 3 = 5, F6 = F4 + F5 = 3 + 5 = 8, F7 = F5 + F6 = 5 + 8 = 13, F8 = F6 + F7 =
8 + 13 = 21, F9 = F7 + F8 = 13 + 21 = 34, F10 = F8 + F9 = 21 + 34 = 55.

5 Produto cartesiano
Dados dois objetos quaisquer, a e b, podemos formar o conjunto

{a, b}

cujos únicos elementos são a e b.


Observe que se estes objetos são idênticos, ou seja, se a = b, então todos os
conjuntos
{a} , {b} , {a, b} , {b, a}
são iguais.
Porém, se estes objetos são distintos, ou seja, se a 6= b, o conjunto {a, b} é
diferente dos conjuntos
{a} , {b}
mas é igual ao conjunto
{b, a}
Agora, se queremos formar a partir de a e b um novo objeto do qual “podemos
extrair” a e b, mas no qual a ordem em que a e b ocorrem é importante, devemos
recorrer a noção de sequência e não a de conjunto.

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Sejam A e B conjuntos, a um elemento de A e b um elemento de B.

O par ordenado ab é a sequência

(a, b)

cujo primeiro termo é a e cujo segundo termo é b.

Decorre da noção de igualdade entre sequências que para que dois pares ordena-
dos sejam iguais eles devem possuir os mesmos termos dispostos na mesma ordem:

Princı́pio da igualdade para pares ordenados

Sejam (a, b) e (c, d) pares ordenados.

Dizemos que (a, b) é igual a (c, d), simbolizado

(a, b) = (c, d)

se, e somente se, a = c e b = d.

Exemplo 10 Se temos os objetos a, b, c e d, e sabemos que (a, a) = (a, b) e que


(b, b) = (c, d), podemos concluir que a = b = c = d.

Os termos de um par ordenado recebem uma denominação especial:

Seja (a, b) um par ordenado.

Dizemos que a é a primeira coordenada de (a, b) e que b é a segunda


coordenada de (a, b).

Exemplo 11 (a) O par ordenado (a, a) tem primeira coordenada a e segunda co-
ordenada a.

(b) O par ordenado ({1, 2, 3, 4, 5}, Z) tem um conjunto finito como primeira coorde-
nada e um conjunto infinito como segunda coordenada.

A partir da noção de par ordenado, podemos definir uma das mais importantes
operações entre conjuntos:

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Sejam A e B conjuntos.

O produto cartesiano de A por B, tomados nesta ordem, é o conjunto de


todos os pares ordenados cuja primeira coordenada pertence a A e cuja segunda
coordenada pertence a B. Ou seja:

A × B = {(x, y) ∈ U : x ∈ A e y ∈ B}

Assim, dados um par ordenado (x, y) e dois conjuntos A e B, temos:

(x, y) ∈ A × B ↔ x ∈ A ∧ y ∈ B

Exemplo 12 (a) Se A = {0, 1, 2} e B = {a, b}, temos:

A × B = {(0, a), (0, b), (1, a), (1, b), (2, a), (2, b)}

e
B × A = {(a, 0), (a, 1), (a, 2), (b, 0), (b, 1), (b, 2)}

(b) Se A = ∅ e B = N, temos:
A×B =∅
De fato, não há um par ordenado cuja primeira coordenada seja elemento do ∅.

(c) Se A = {a} e B = N, temos:

A × B = {(a, y) ∈ U : y ∈ N}

Neste caso, A × B também pode ser definido por:

A × B = {(a, 0), (a, 1), (a, 2), (a, 3), . . .}

onde os outros elementos ficam subentendidos.

5.1 Observações
Observação 4 A denominação “produto cartesiano” se deve ao uso da operação ×,
entre conjuntos, na formalização do conhecido Método de Coordenação dos pontos
do plano e do espaço, devido a René Descartes(1596–1650).
Em certos casos, quando os termos que formam os pares ordenados são números
reais, os produtos cartesianos de dois conjuntos podem ser representados grafica-
mente no plano orientado, através do método elaborado por Descartes.

Observação 5 A noção de produto cartesiano se estende de maneira natural para


mais de 2 conjuntos.

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Sejam A1 , A2 , . . . , An conjuntos.

O produto cartesiano de A1 , A2 , . . . , An , tomados nesta ordem, é o conjunto


de todas as sequências de n termos cujo primeiro termo pertence a A1 , cujo
segundo termo pertence a A2 , . . . , cujo n-ésimo termo pertence a An . Ou seja:

A1 × A2 × · · · × An = {(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ U : x1 ∈ A1 , x2 ∈ A2 , . . . e xn ∈ An }

Assim, dados uma sequência (x1 , x2 , . . . , xn ) e n conjuntos A1 , A2 , . . . , An ,


temos:

(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ A1 × A2 × · · · × An ↔ x1 ∈ A1 ∧ x2 ∈ A2 ∧ · · · ∧ xn ∈ An

5.2 Exercı́cios resolvidos


Exercı́cio 4 Considere os conjuntos A = {1, 2, 5, 7}, B = {1, 3, 4}, C = {2, 3, 9} e
D = {1, 3, 7}. Determine os seguintes conjuntos:

(i) (A × B) − (C × D)
(ii) (A − B) × (D − C)
(iii) [(B ∪ C) ∩ D] × (A − D)

Exercı́cio 5 Se A × B = {(a, a)}, o que podemos concluir sobre A e B?

Antes de ler a resolução, tente resolver o exercı́cio usando os con-


ceitos estudados.

Resolução do Exercı́cio 4 : (i) Temos que A × B = {(1, 1), (1, 3), (1, 4), (2, 1), (2, 3), (2, 4), (5, 1),
(5, 3), (5, 4), (7, 1), (7, 3), (7, 4)}. E que C × D = {(2, 1), (2, 3), (2, 7), (3, 1), (3, 3), (3, 7), (9, 1), (9, 3),
(9, 7)}. Assim, (A×B)−(C×D) = {(1, 1), (1, 3), (1, 4), (2, 4), (5, 1), (5, 3), (5, 4), (7, 1), (7, 3), (7, 4)}.
(ii) Temos que A − B = {2, 5, 7}. E que D − C = {1, 7}. Assim, (A − B) × (D − C) =
{(2, 1), (2, 7), (5, 1), (5, 7), (7, 1), (7, 7)}. (iii) Temos que B ∪C = {1, 2, 3, 4, 9}. Assim, (B ∪C)∩D =
{1, 3}. Além disso, A − D = {2, 5}. Logo, [(B ∪ C) ∩ D] × (A − D) = {(1, 2), (1, 5), (3, 2), (3, 5)}.
Resolução do Exercı́cio 5 : Temos que a é o único elemento de A e de B, ou seja, A = B = {a}.

c 2019 Márcia Cerioli e Petrucio Viana


Coordenação da Disciplina MD/CEDERJ-UAB

Atualizado em 8 de abril de 2020.

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