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Gabriel Fontenelle Micas Psicólogo 01/06/2020

Residência de Saúde Mental do Adulto ESCS/FEPECS

Resenha Tutorial Reforma Psiquiátrica 9

1. Refletir sobre a desinstitucionalização e espaços de controle do louco;


2. Entender o que significa hospital psiquiátrico como sinônimo de manicômio;
3. Pensar o objeto da Psiquiatria moderna e seus efeitos na prática clínica;
4. Refletir sobre a "a loucura como repetição";
5. Entender o que é a transformação de ambulatórios em laboratórios;
6. Compreender os efeitos de colocar "a doença mental entre parênteses".

1- Espaços de controle do louco não são apenas espaços físicos, porém instituições, olhares,
incrustações judiciárias, diagnósticas, científicas, aplicadas, muitas vezes, a classes
subalternas. A loucura é como uma institucionalidade introjetada, uma subjetividade induzida
e produzida por toda essa instituição.

Todos as expressões de sofrimento, dificuldade e desequilíbrio se resumem ao olhar


onipotente do médico, e o controle recaí sobre este também. A doença é como uma subtração
de poder e um controle do louco.

2. Entender o que significa hospital psiquiátrico como sinônimo de manicômio;


Entende-se que todo hospital psiquiátrico terá características manicomiais, não adianta
humanizá-los, eliminar uma violência adicional ou supérflua. Entende-se que a formação e
modus operandis de um hospital psiquiátrico, independente da reformulação superficial,
porém seus pilares, tem características manicomiais.

A privação de liberdade, e apartamento com relação ao social. O isolamento como forma de


tratamento e estudo do indivíduo. O sobrepoder de uma profissão, do psiquiatra. A redução
de um indivíduo à doença, tudo isso caracteriza a base de um hospital psiquiátrico. Lá não é
possível a produção social, reatamento de vínculos, mas apenas a contenção dos sintomas e
apartamento da pessoa em crise, ou louca, do social. Não se permite o acolhimento da crise e
loucura no meio social.

3- O objeto da Psiquiatria é a doença, e não o indivíduo, dessa forma, todas as expressões de


sofrimento, dificuldade e desequilíbrio se resumem ao olhar onipotente do médico, e o
controle recaí sobre este também. A doença é como uma subtração de poder e um controle do
louco. O indivíduo não pode mais saber sobre si mesmo. Tem-se uma visão de relação
mecânica de causa-efeito também. A doença como objeto também se sobrepõe à ideia de
periculosidade do louco.

Nessa visão, a doença é algo que está no corpo ou psiquismo do indivíduo, algo que ele
mesmo não pode fazer muita coisa, e fica refém do olhar e atuações do médico.
Foca-se apenas, na prática clínica, nos sintomas e seus desenvolvimentos. Se esquece da
vivência, história do indivíduo. Se esquece de seu protagonismo, de sua existência.

Aqui a prática clínica é focada em cura, em extinguir os sintomas e retornar a pessoa à


normalidade.

4. Refletir sobre a "a loucura como repetição";


Considero que o que se entende aqui é: a loucura é uma repetição a respeito do que foi dito da
pessoa, uma repetição do foco e reducionismo à doença. Uma repetição talvez de heranças
transgeracionais; uma repetição de desigualdades sociais e opressões; uma repetição com
relação a passados de violência e abuso; uma repetição de padrões psicológicos.

Principalmente, é uma repetição do olhar e lugar que a instituição psiquiátrica coloca o louco.

Dessa forma, o cuidado seria em desinstitucionalização essa cena que se repete, invenção de
outros modos de se relacionar com a existência sofrimento, e criação de oportunidades e
probabilidades para o indivíduo.

5. Entender o que é a transformação de ambulatórios em laboratórios;


Aparentemente, laboratórios, em Trieste, quer dizer uma estrutura complexa: um lugar de
produção de cultura, trabalho, intercâmbio e relações entre artistas, pessoas doentes ou não.
Lugar onde os papéis são intercambiáveis, e o objetivo é experimentar práticas inovadoras.

Me parece um lugar de reprodução social, de reinserção social, onde há contato com


diferentes pessoas, diferentes formas de socializar, cultura, onde a pessoa pode-se
ressignificar enquanto sujeito social; buscar sua emancipação.

Frente aos desertos infinitos, é necessário reeguer um muro, para equilibrar as vidas. Assim o
deserto se repovoa. Cidade é tecida por instituições, e o doente sendo uma, existe a
necessidade de um poder institucional para usar a sua instituição, convertê-la e transformá-la.

Os laboratórios, os Centros de Saúde Mental, são uma embalagem a mostra, para preservar o
futuro do louco. É uma instituição provisória e inventada.

Uma instituição para se promover desistitucionalização, uma intermediação com o social,


como Andressa colocou, eram poucos os grupos lá. Muitas das atividades eram feitas fora do
Centro, era sempre uma busca de ir além dele, de reconexão com o social.

É um social inventado para uma sociabilidade de alguma forma ausente, um social


contaminado, revalorização de gestos que, de outra forma, se curvam em sintoma.

6. Compreender os efeitos de colocar "a doença mental entre parênteses".


Quando se coloca a doença mental em parênteses, não se descarta ela, ela não deixa de
existir. Porém procura-se focar e dar maior valor na real existência da pessoa, onde o
psiquiatra também se torna participante do processo, não só um observador. Entende-se que a
doença não é mais ontologia, mas realidade inventada, apesar de uma realidade dura e difícil.

É a promoção de um olhar que encontre finalmente um sujeito, que veja uma biografia, uma
subjetividade. Assim, apenas esse olhar já torna-se terapêutico, pois resgata o que, muitas
vezes através de relações sociais tóxicas, foi-se perdido. Existe uma menor possibilidade de
controle, porque o indivíduo

É a produção da vida e reprodução social do indivíduo. Reconstrução de sentido, produção


de valor, identificar situações de sofrimento e opressão, reinserção social. É resgatar à
pessoa um lugar como ator social.

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