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Gabriel Fontenelle Micas Psicólogo 08/06/2020

Residência de Saúde Mental do Adulto ESCS/FEPECS

Resenha Tutorial Reforma Psiquiátrica 10

Objetivos - Tutor
1. Discutir o que o autor chama de Contaminação
2. Entender o significado de Serviço Substituido
3. Compreender o que o autor designa como o objeto pobre;
4. Refletir sobre as expressões "A Instituição Inventada é feita de atravessar"; "O
Universal é feito de falsos intelectuais"; e o "O universal humano está por fazer-se"
5. O trabalho terapêutico como trabalho de desinstitucionalização".

1- Discutir o que o autor chama de Contaminação


Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um termo criado na
década de 1970 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana
para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios.

A contaminação aparece no texto em diferentes momentos.


Diz-se que o social, e a sociabilidade de louco, deve ser contaminada. De outro modo, como é
habitualmente pela nossa herança sócio-histórica, ela se encontra ausente.
O laboratório deve ser um lugar de contaminação

Fala-se de que deve haver uma guerra contra instituições descontaminadas, que são inúteis e
nocivas, que derivam de um higienismo médico tradicional.

Parece que a contaminação seja uma contaminação por significados, subjetividades. Uma
contaminação de um objeto “objetivo” e pobre. Uma busca por contaminá-lo e torná-lo rico
novamente, rico de significado e possibilidades.

Contaminação, em termos de doenças biológicas, implica também um contato com o outro.


Apenas há contaminação quando existe um contato, uma troca entre as pessoas.

Talvez essa contaminação aponte para uma busca de menos isolamento, e maior promoção de
laços sociais também, para que sejam contaminadas as subjetividades muito vezes pobres e
higienizadas pela psiquiatria.

Pode ser isso. Ou outra coisa

Me parece que a instituição negada é uma descrição dura da contaminação, ou seja, ela
revelava a contaminação. Aqui me parece que a contaminação é algo mais nocivo, me parece
talvez que a instituição negada revela as violências institucionais, o empobrecimento da
subjetividade, tudo de empobrecedor que é contaminado e carregado historicamente pela
psiquiatria na prática institucional.
Então a instituição inventada é uma prática que não busca descontaminar, dizendo que
não há violências, buscando ontologia onde existe ficção. Aqui diz-se de cara que é
inventada, ela é assumida, ciente, e organizada com respeito a essa contaminação.

É a noção que existe um novo objeto, a existência sofrimento de um indivíduo, e que ele está
em não equilíbrio, porém que esse também é um objeto de alguma forma criado, por estar em
não equilíbrio, e esta instituição está contaminada por olhares também. Ela não assume em
forma alguma que vê as coisas como elas são. Não diz verdades últimas, mas reconhece
que suas verdades são inventadas, são contaminadas.

Fala-se de que deve haver uma guerra contra instituições descontaminadas, que são inúteis e
nocivas, que derivam de um higienismo médico tradicional.

ou seja, essas instituições dizem-se que são descontaminadas, que são ahistóricas, e que vêem
o objeto e a natureza tal como ela é. Encerram as possibilidades quando se dizem “isentas”.

Aula:
Instituição é conjunto de valores
E contaminação é desisntitucionalização
2. Entender o significado de Serviço Substituído
Os serviços substitutivos estão para substituir o lugar dos manicômios. É uma substituição de
onde as pessoas em sofrimento psíquico são acolhidas. Também é uma substituição no modo
do cuidado, no que se busca. Geralmente a pessoa não fica mais alojada no CAPS, mas passa
o dia aí e volta para casa. Substitui-se a lógica asilar por uma familiar e territorial.
Substitui-se visão do objeto-doença para sujeito sofrimento-existência.
Substitui-se tratamento focado na biologia da doença e isolamento, para uma busca por
articulações sociais e reinserção no social.

Rotelli diz que o deserto se repovoa.


Um muro que reequilibra vidas. Existe uma anomia do território, um sem lugar desses
indivíduos, é preciso de uma instituição e poder institucional para desinstitucionalizar.

3. Compreender o que o autor designa como o objeto pobre

Isso se vê em alguns trechos do texto: quando se reduz o sujeito à doença ou comunicação


perturbada, como se isso fosse algo pobre.

Também diz-se que o objeto pobre é aquele privado das funções específicas da vida
cotidiano, aquela pessoa que se joga na lata de lixo. A existência é ser destinado ao resto.
Entre a imundíce e a eternidade, este é o lugar dos restos, e o último degrau da realidade e da
eternidade. Esse é o último limiar da nossa vida.
Para mim me parece que são os indivíduos marginalizados, que se tornam objetos pobres, que
são vistos como restos, refugos, são pessoas que perderam sua riqueza, que se tornaram
empobrecidas diante da visão reducionista psiquiátrica.

4. Refletir sobre as expressões "A Instituição Inventada é feita de atravessar"; "O


Universal é feito de falsos intelectuais"; e o "O universal humano está por fazer-se"

Diz-se que a instituição inventada é permeável. Essa está sujeita a críticas, ela não aponta
verdades últimas e ontológicas. Não abrigam um poder que só elas podem conferir ao mundo.
Ela pode ser atravessada pelo social.

“Todos aqueles que a partir de hoje aderem ao ponto de vista universalístico estão tranqüilos;
o universal é feito de falsos intelectuais. O verdadeiro intelectual, isto é, aquele que se colhe
no desajuste, inquieta: o universal humano está por fazer-se" (Sartre 1965).

Essa ideia de que indivíduos que buscam e apontam verdades estáticas, estagnadas e
universais estão tranquilos porque não enxergam a desordem, não vive a inquietude da
insegurança do não-saber.

Acaba que a pessoa é um falso intelectual porque ela, na verdade, não reflete muito a respeito
do mundo, por outro lado, ela imprime sobre o mundo o seu paradigma, e busca enxergá-lo
através de sua lente apriorística, não está aberto a outras possibilidades.

O universal humano está por fazer-se implica que isso é um fazer diário, construído, é um ato
contínuo do ser. Não é algo concreto, o universal, e estático, porém dinâmico e inconstante.

Depois Rotelli aponta que esse fazer-se é feito a partir da singularidade de cada um. Dessa
forma não há um universal, porém perspectivas individuais, através de diferentes práticas e
relações e teias. Essas se relacionando vão ao contrário de uma autonomização e petrificação
em uma esquizofrenia.

5. O trabalho terapêutico como trabalho de desinstitucionalização".


O trabalho terapêutico é um trabalho que vá contra a instituição psiquiátrica hegemônica,
uma ruptura com um paradigma.
Dessa forma, não se focará na doença ou periculosidade, mas no indivíduo existência-
sofrimento, e sua relação com o corpo social.

O trabalho terapêutico, assim, não vai separar o objeto fictício, da existência de alguém.

Um desmantelamento da relação de causalidade e finalidade, e uma proposição de


possibilidade-probabilidade. Abrir os horizontes, não fechar tudo em uma caixa. É uma busca
pelo resgate de uma complexidade que foi simplificada.
Desinstitucionalização não é alterar a aparência da psiquiatria, mas ir em suas raízes acima
expostas.
É uma criação de outro modo de ser e estar, uma criação de oportunidades para o paciente,
uma busca por novos meios de estar no social. É uma busca por tornar as pessoas atores
sociais. Para não estarem sufocados à máscara do doente.

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