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Terapia no mundo do faz de


conta!

DRA CÁSSIA VIRGINIA MOREIRA DE ALCÂNTARA


A leste do Sol e a oeste da Lua

PETER C. ASBJORNSEN E JORGEN MOE


Era uma vez um camponês muito pobre. Seus filhos eram tantos que ele
não tinha comida nem roupa bastante para lhes dar. Todos eram crianças
bonitas, mas a mais bonita era a filha caçula, que era de uma beleza
infinita.
Numa noite de quinta-feira, quando o outono já ia tarde, o tempo estava
tempestuoso e uma escuridão pavorosa reinava lá fora. A chuva caía com
tanta força e o vento soprava tão furiosamente que as paredes da cabana
tremiam. Todos estavam sentados ao pé do fogo, ocupados com uma
coisa ou outra. Foi então que, de repente, ouviram-se três pancadinhas
na janela. O pai saiu para ver o que estava acontecendo. Ao chegar lá
fora, viu um enorme urso branco.
"Boa noite para o senhor", disse o urso branco. "Para você também",
disse o homem.
"Quer me dar sua filha mais nova em casamento? Se o fizer, torná-lo-ei
tão rico quanto agora é pobre", disse o urso.
Bem que passou pela cabeça do homem que não seria má ideia ser rico,
mas ele achou que devia conversar com a filha primeiro. Assim, entrou
em casa e contou a todos sobre o enorme urso branco que estava lá fora
e que prometera torná-los todos ricos, contanto que pudesse se casar
com a filha mais nova.
Imediatamente a menina exclamou: "Não!" Nada pôde convencê-la a
mudar de ideia. O homem saiu e combinou com o urso branco que ele
deveria voltar na quinta-feira seguinte para ter uma resposta. Nesse
meio-tempo, conversou com a filha, não se cansando de ressaltar o
quanto seriam ricos e a fortuna que ela própria teria. Finalmente a
menina concordou. Assim, lavou e remendou seus trapinhos, enfeitou-se,
e ficou tão elegante quanto podia. Não precisou de muito tempo para se
preparar para a viagem, pois não tinha grande coisa para levar.
Na noite da quinta-feira seguinte o urso branco veio buscar a mocinha.
Ela subiu nas costas dele com sua trouxa, e lá se foram. Quando já
tinham trilhado um bom pedaço de chão, o urso branco perguntou: "Não
está com medo?"
Não, não estava.
"Segure firme no meu couro peludo e não terá nada a temer", disse o
urso.
Os dois andaram um caminho muito, muito comprido, até chegarem a
uma montanha. O urso branco deu uma pancada na pedra e uma porta
se abriu. Entraram num castelo, onde havia muitos cômodos, todos
iluminados e rutilantes de prata e ouro. Uma mesa deslumbrante já
estava posta. O urso branco deu à menina uma sineta de prata. Se
quisesse alguma coisa, bastava tocar e a teria imediatamente.
Bem, já era tarde da noite depois que ela comeu e bebeu alguma coisa.
Com muito sono depois da longa jornada, resolveu se deitar. Assim,
pegou a sineta para tilintá-la. Mal a tinha na mão, encontrou-se num
aposento com uma cama que era de uma alvura sem par, com
travesseiros e cortinas de seda, e franjas de ouro. Tudo no quarto era
ouro e prata. Depois que ela se deitou e apagou a luz, um homem entrou
e se deitou ao seu lado.9 Era o urso branco, que se desprendia da sua
pele durante a noite. Ela nunca conseguia vê-lo, pois ele nunca chegava
antes que ela tivesse apagado a luz e estava de pé e longe dali antes do
nascer do sol.
Durante algum tempo a menina sentiu-se satisfeita, mas logo tornou-se
silenciosa e triste. Passava o dia todo sozinha, e morria de saudades de
sua casa, do pai, da mãe, dos irmãos e das irmãs.
Um dia, quando o urso branco lhe perguntou o que a estava afligindo,
respondeu que se sentia solitária e entediada e queria visitar sua casa
para ver o pai, a mãe, os irmãos e as irmãs. Era por isso que estava
triste, por não poder ir vê-los. "Bem, bem", disse o urso. "Talvez
possamos encontrar uma solução para isso. Mas tem que me prometer
que só vai falar com sua mãe quando houver gente em volta para ouvir.
Nunca fale com ela a sós. Ela tentará pegar você pela mão e levá-la com
ela para outro quarto. Mas se você fizer isso, atrairá uma maldição sobre
nós dois."
No domingo o urso branco foi vê-la e disse que estava pronto para levá-la
ao encontro do pai e da mãe. Lá se foram os dois, ela montada nas
costas do urso. Fizeram uma longa viagem. Finalmente chegaram a uma
casa suntuosa, e ela viu os irmãos e as irmãs correndo em volta dela.
Foi uma alegria ver como era tudo lindo. "Seu pai e sua mãe moram aqui
agora", disse o urso branco. "Não esqueça o que eu lhe disse, ou será a
nossa desgraça."
Não, Deus me livre, ela não esqueceria. Ao chegarem à casa, o urso
branco deu meia-volta e partiu.
A menina entrou para ver o pai e a mãe e todos ficaram eufóricos. Como
poderiam agradecer à filha pelo que fizera pela família? Agora tinham
tudo com que já tinham sonhado, e as coisas não poderiam estar
melhores. Estavam todos curiosos para saber onde ela estava morando e
como estava se arranjando.
Bem, ela lhes contou, morar onde estava morando era muito confortável.
Tinha tudo que podia desejar. Não faço ideia do que mais ela disse, mas
é pouco provável que tenha contado a história toda para alguém.
Naquela tarde, depois do jantar, tudo aconteceu exatamente como o urso
previra. A mãe quis conversar a sós com a filha em seu quarto. Mas ela
lembrou o que o urso branco dissera e se recusou a subir para o segundo
andar. "O que temos para conversar pode esperar", disse, e se
desvencilhou da mãe. No fim das contas, porém, de alguma maneira, a
mãe conseguiu enredá-la e a menina teve de lhe contar toda a história.
Contou-lhe como, todas as noites, quando se deitava, um homem entrava
em seu quarto assim que a luz era apagada. Nunca o vira, porque ele
estava sempre de pé e longe do quarto quando ela acordava. Sentia-se
imensamente triste, porque queria muito vê-lo, sobretudo porque passava
os dias inteiros sozinha e era tudo tão enfadonho e solitário.
"Oh, minha querida", disse a mãe. "Você anda dormindo com um troll ou
coisa parecida!
Vou lhe dar uns bons conselhos sobre como conseguir espiá-lo. Tome
este toco de vela e esconda-o na roupa. Quando ele estiver dormindo,
pode acendê-lo, mas tome cuidado para não pingar nem uma gota de
cera nele."Ela pegou a vela e a escondeu em suas roupas, e naquela
noite o urso branco voltou para buscá-la.
Depois de caminharem uma curta distância, o urso branco perguntou se
tudo acontecera como ele previra. Ela não pôde negar que sim.
"Cuidado," ele disse, "se seguir o conselho da sua mãe, atrairá uma
maldição sobre nós dois e estaremos ambos liquidados." Não, de
maneira nenhuma!
Após chegar em casa, a menina foi se deitar e tudo aconteceu como das
outras vezes. Um homem entrou e se deitou ao seu lado.
No meio da noite, porém, depois de se certificar de que ele dormia a sono
solto, ela se levantou e acendeu a vela. Deixou a chama brilhar sobre ele
e viu que era o mais belo príncipe que se possa imaginar. Apaixonou-se
tão profundamente por ele que pensou que não seria capaz de continuar
vivendo a menos que lhe desse um beijo, naquele instante mesmo. E
assim fez. Mas, enquanto o beijava, três gotas de cera quente pingaram
na camisa dele e ele despertou.
"O que você fez?" ele exclamou. "Agora atraiu uma maldição sobre nós
dois. Se tivesse esperado apenas um ano, eu teria sido libertado! Tenho
uma madrasta, e ela me enfeitiçou de tal modo que sou urso de dia e
homem à noite. Terei de deixar você e ir à procura dela. Ela mora num
castelo a leste do sol e a oeste da lua.
Mora lá também uma princesa, com um nariz de três varas de
comprimento, e é ela a mulher que terei agora de desposar."
A menina chorou e lamentou a sua sorte, mas aquilo não adiantou nada.
O príncipe tinha de partir. Ela perguntou se podia acompanhá-lo. Não,
não podia. "Então diga-me como chegar lá", ela pediu. "Com certeza
posso pelo menos procurar por você." Sim, isso ela podia fazer, mas não
havia nenhuma estrada que levasse para onde ele ia. Ficava a leste do
sol e a oeste da lua, e ela jamais conseguiria descobrir como chegar lá.
Na manhã seguinte, quando acordou, tanto o príncipe quanto o castelo
tinham desaparecido, e ela se viu deitada num pequeno canteiro verde
no meio de uma floresta escura e lúgubre. A seu lado estava a mesma
trouxa de trapinhos que trouxera de casa.
Depois de esfregar os olhos para afugentar o sono e de chorar até ficar
exausta, tomou seu caminho, andando dia após dia até que avistou um
alto penhasco. Ali perto estava sentada uma velha, brincando com uma
maçã de ouro, que jogava para o ar. A menina perguntou-lhe se sabia
como encontrar um príncipe que estava morando com sua madrasta num
castelo a leste do sol e a oeste da lua e que estava na obrigação de se
casar com uma princesa com um nariz gigante.
"Como ouviu falar desse príncipe?" perguntou a velha. "Talvez você seja
a moça que lhe estava destinada?" Sim, era ela. "Bem, bem, então é
você, não é?" disse a velha. "Tudo que sei é que ele mora num castelo a
leste do sol e a oeste da lua e que você chegará lá ou tarde demais ou
nunca. Mas vou lhe emprestar meu cavalo para que a leve até minha
vizinha mais próxima. Talvez ela possa ajudá-la.
Quando chegar lá, basta dar uma batidinha embaixo da orelha esquerda
do cavalo e mandá-lo voltar para casa. E se quiser levar com você esta
maçã de ouro, não faça cerimônia.“A menina montou o cavalo e cavalgou
por muito, muito tempo. Chegou a outro penhasco, e perto dele estava
sentada uma outra velha, que segurava um pente de ouro. A menina
perguntou a ela se sabia o caminho do castelo que ficava a leste do sol e
a oeste da lua, e a velha respondeu, como a primeira, que não sabia
nada sobre aquele castelo, a não ser que ficava a leste do sol e a oeste
da lua. "Você chegará lá ou tarde demais ou nunca. Mas vou lhe
emprestar meu cavalo para que a leve até minha vizinha mais próxima.
Talvez ela possa ajudá-la. Quando chegar lá, basta dar uma batidinha
embaixo da orelha esquerda do cavalo e mandá-lo voltar para casa."
A velha deu-lhe seu pente de ouro. Talvez encontrasse algum uso para
ele, disse à menina. A menina montou e, mais uma vez, cavalgou por
muito, muito tempo. Finalmente chegou a um outro penhasco, e perto
dele viu uma outra velha. Esta estava fiando com uma roda de fiar de
ouro. Perguntou-lhe também se sabia como encontrar o príncipe e onde
se erguia o castelo que ficava a leste do sol e a oeste da lua. Mas tudo se
passou exatamente como antes. "Talvez você seja a moça que lhe estava
destinada?" Sim, era ela. Mas aquela mulher não tinha nenhuma ideia
melhor sobre como chegar ao castelo. Sabia que ficava a leste do sol e a
oeste da lua, mas só isso. "E você vai chegar lá ou tarde demais ou
nunca, mas vou lhe emprestar meu cavalo para que alcance o Vento
Leste e pergunte a ele. Pode ser que ele conheça essas paragens e
possa soprá-la para lá.
Quando o encontrar, basta dar uma batidinha debaixo da orelha esquerda
do cavalo que ele trotará sozinho para casa." A velha entregou-lhe sua
roda de fiar de ouro. "Pode ser que lhe sirva para alguma coisa", disse.
A menina cavalgou durante todo um longo dia até chegar à casa do Vento
Leste, mas chegou. Perguntou ao Vento Leste se ele podia lhe dizer qual
era o caminho para ir ter com o príncipe que morava a leste do sol e a
oeste da lua. Sim, o Vento Leste ouvira falar volta e meia do príncipe e do
castelo, mas não sabia como se chegava lá, porque nunca soprara tão
longe. "Mas se quiser vou com você até o meu irmão, o Vento Oeste.
Talvez ele saiba, porque é muito mais poderoso. Se montar nas minhas
costas, eu a levarei lá." Sim, ela montou nas costas dele e os dois
partiram numa rajada.
Quando chegaram à casa do Vento Oeste, o Vento Leste disse a ele que
a menina que trouxera estava destinada ao príncipe que morava no
castelo a leste do sol e a oeste da lua. Ela saíra à procura desse príncipe
e ele a trouxera até ali e gostaria de saber se o Vento Oeste sabia como
chegar ao castelo. "Não", disse o vento oeste. "Nunca soprei tão longe.
Mas se quiser vou com você até meu irmão, o Vento Sul, porque ele é
muito mais poderoso que qualquer um de nós dois, e já soprou por toda
parte. Talvez ele seja capaz de saber. Monte nas minhas costas e eu a
levarei até ele." Sim, ela montou nas costas dele e eles viajaram até o
Vento Sul, e tenho a impressão de que isso não foi nada demorado.
Ao chegar lá, o Vento Oeste perguntou ao Vento Sul se sabia o caminho
para o castelo que ficava a leste do sol e a oeste da lua, pois a menina
que trazia estava destinava ao príncipe que lá morava.
"É mesmo?" disse o Vento Sul. "Então é esta? Bem, já visitei muitos
lugares, mas até hoje nunca soprei lá. Se quiser, levo-a até meu irmão, o
Vento Norte; ele é o mais velho e o mais poderoso de todos nós. Se ele
não souber onde é, você nunca encontrará no mundo quem saiba. Monte
nas minhas costas, e eu a levarei lá." Sim, ela montou nas costas dele e
os dois partiram numa lufada.
Não precisaram ir muito longe. O Vento Norte estava tão furioso e
rabugento que, quando ainda estavam longe da sua casa, ele soprou
vários pés de vento em cima deles. "Que um vendaval os carregue! O
que querem?" bramiu a distância, e os dois tiveram um calafrio. "Bem",
disse o Vento Sul, "não precisa esbravejar tão alto, pois sou eu, seu
irmão, o Vento Sul, e aqui está a menina destinada ao príncipe que mora
no castelo que fica a leste do sol e a oeste da lua.
Ela quer saber se alguma vez você esteve lá e se pode lhe mostrar o
caminho, pois quer muito se reencontrar com o príncipe.""Sim, sei onde
é", respondeu o Vento Norte. "Uma vez soprei uma folha de choupo por
aquelas bandas, mas depois fiquei tão cansado que por vários dias não
consegui soprar um só furacão. Se quer mesmo ir lá e não tem medo de
vir comigo, eu a levarei nas minhas costas e verei se consigo soprá-la até
lá." Sim, do fundo do coração, ela desejava ir e tinha de chegar lá, se
fosse possível. E não teria medo, por mais turbulenta que fosse a
viagem. "Muito bem, então", disse o Vento Norte. "Mas terá de dormir
aqui esta noite, pois vamos precisar de um dia inteiro se quisermos
chegar lá de alguma maneira."
Cedo na manhã seguinte o Vento Norte acordou a menina. Ele se inflara
tanto, tornara-se tão forte e grande que ficou horripilante.
Partiram os dois, lá em cima no ar, como se não pudessem parar até
chegar ao fim do mundo. Aqui na terra houve uma terrível tempestade.
Alqueires de floresta e muitas casas ficaram inundados. Navios
naufragaram às centenas quando a tempestade foi arrastada para o mar.
Os dois sopraram sobre o oceano — ninguém pode imaginar o quanto
foram longe — e sobre ele ficaram todo o tempo. O Vento Norte foi
ficando cada vez mais cansado. Logo estava tão esbaforido que mal lhe
sobrava um sopro. Suas asas tombavam cada vez mais, até que por fim
ele mergulhou tão fundo que as cristas das ondas molharam os seus
calcanhares. "Está com medo?" perguntou o Vento Norte. Não, não
estava.
Não estavam muito longe da terra firme agora, e só restou ao Vento
Norte força suficiente para jogá-la no litoral sob as janelas de um castelo
que ficava a leste do sol e a oeste da lua. Mas ele estava tão fraco e
exausto que teve de ficar ali e descansar por vários dias antes de poder
voltar para casa. Na manhã seguinte a menina sentou-se sob a janela do
castelo e começou a brincar com a maçã de ouro. A primeira pessoa que
viu foi a princesa do nariz comprido que iria se casar com o príncipe. "O
que quer por sua maçã de ouro, menina?" perguntou a princesa do nariz
comprido quando abriu a janela.
"Não está à venda, nem por ouro nem por dinheiro" respondeu a menina.
"Se não está à venda nem por ouro nem por dinheiro, o que quer para
vendê-la? Pode dizer o preço você mesma", disse a princesa.
"Bem, poderá tê-la se eu puder passar a noite no quarto onde o príncipe
dorme", disse a menina que o Vento Norte transportara. Sim, ela podia
dar um jeito. Então a princesa pegou a maçã de ouro; mas quando a
menina subiu ao quarto do príncipe naquela noite, encontrou-o
profundamente adormecido. Chamou seu nome e o sacudiu, chorou e se
afligiu, mas não conseguiu acordá-lo. Na manhã seguinte, ao nascer do
sol, a princesa do nariz comprido entrou no quarto e a escorraçou.
Durante o dia, a menina ficou sentada sob a janela do castelo e começou
a se pentear com seu pente de ouro, e a mesma coisa aconteceu. A
princesa lhe perguntou quanto queria pelo pente. Ela disse que o pente
não estava à venda, nem por ouro nem por dinheiro, mas se tivesse
permissão para ir ao encontro do príncipe e passar com ele aquela noite,
a princesa poderia ficar com o pente.
Quando chegou ao quarto do príncipe, a menina viu que ele estava de
novo profundamente adormecido. Por mais que chamasse, sacudisse,
chorasse e rezasse, não conseguiu fazê-lo reagir. Ao raiar do dia a
princesa do nariz comprido apareceu e a escorraçou de novo.
Durante o dia, a princesa ficou sentada sob a janela do castelo e
começou a fiar com sua roda de fiar de ouro. A princesa do nariz
comprido quis ter a roda também. Abriu a janela e perguntou à menina
quanto queria por ela. A menina disse, como dissera duas vezes antes,
que a roda não estava à venda nem por ouro nem por dinheiro, mas se
pudesse ir ver o príncipe que estava lá e passar com ele aquela noite, a
princesa poderia ficar com ela. Sim, poderia entrar, seria muito bem-
vinda.
Mas agora vocês precisam saber que havia pessoas de bom coração
hospedadas no castelo, e quando estavam no seu quarto, que era pegado
ao do príncipe, haviam ouvido uma mulher chorando, rezando e
chamando pelo príncipe por duas noites seguidas. E tinham contado isso
ao príncipe.
Naquela noite a princesa foi ao quarto do príncipe levando-lhe uma poção,
mas ele só fingiu toma-la. Jogou-a sobre o ombro, pois tinha descoberto
que era uma poção para dormir. Quando a menina entrou, encontrou o
príncipe inteiramente desperto, e então lhe contou toda a história de como
chegara ao castelo. "Ah", disse o príncipe, "você chegou na hora certa,
porque amanhã seria o dia do meu casamento. Mas agora não terei de
me casar com o nariz comprido. Você á única mulher no mundo que pode
me libertar. Vou dizer que quero pôr minha noiva à prova, para ver se é
adequada para ser minha mulher. Vou pedir a ela que lave a camisa que
tem as três manchas de cera.
Ela tentará, pois não sabe que foi você que pingou a cera na camisa e
que ela só pode ser lavada por aquela que a manchou, não pelos trolls,
mesmo os mais sagazes destas redondezas. Depois direi a ela que só
posso me casar com a pessoa capaz de deixar a camisa limpa, e sei que
você pode fazer isso."
Durante a noite toda eles conversaram sobre sua alegria e seu amor. No
dia seguinte, quase na hora do casamento, o príncipe disse: "Antes de
mais nada, quero ver o que minha noiva é capaz de fazer."
"Sim!" disse a madrasta, com muita espontaneidade.
"Bem," disse o príncipe, "tenho uma bela camisa que gostaria de usar no
meu casamento. Mas, por alguma razão, ela está com três manchas de
cera que precisam ser removidas.
Jurei desposar a mulher que conseguir limpá-la.?' Não vale a pena ter
uma que não consiga."
Bem, não era nenhum grande desafio, elas disseram, e concordaram
com o pacto. A princesa do nariz comprido começou a esfregar com toda
a força que tinha, mas quanto mais raspava e friccionava, maiores
ficavam as manchas. "Ah!" disse a velha troll, sua mãe. "Você não sabe
lavar. Deixe-me tentar." Assim que ela a tocou, a camisa ficou pior que
antes. Por mais que esfregasse, torcesse e escovasse, as manchas iam
ficando maiores e mais escuras, e a camisa, cada vez mais suja e feia.
Depois todos os outros troas começaram a esfregar, mas quanto mais
lavavam, mais escura e feia ficava a camisa, até que finalmente ficou tão
preta como se tivesse saído de dentro de uma chaminé.
"Ah!" disse o príncipe. "Nenhuma de vocês vale um vintém; não sabem
lavar. Ora, lá fora tem uma mendiga. Aposto que aquela menina sabe
lavar melhor que todas vocês. Entre aqui, moça!" ele gritou. Ela entrou.
"Você é capaz de deixar esta camisa perfeitamente limpa, moça?" ele
perguntou.
"Não tenho certeza", ela respondeu, "mas acho que posso." Mal ela
pegou a camisa e a mergulhou na água, ela ficou branca como a neve,
até mais branca. "Sim, você é a moça destinada para mim", disse o
príncipe. Diante disso, a velha bruxa teve um tal ataque de raiva que
explodiu ali mesmo e, logo depois dela, a princesa do nariz comprido e,
depois da princesa, toda a cambada de trolls. Ou pelo menos eu nunca
mais ouvi falar deles.
Quanto ao príncipe e à princesa, libertaram todas as pessoas boas que
haviam sido levadas para lá e aprisionadas; e carregaram toda a prata e
todo o ouro. E partiram a toda pressa para o mais longe possível do
castelo que fica a leste do sol e a oeste da lua.
A HORA DE OFICINAR...
Com o sentimento que este conto lhe deixa
escreva numa folha em branco as três palavras
que lhe ocorrerem primeiro, deixando fluir a
integração de anima e animus a partir da
música de fundo.
Diante das palavras escritas olhe-as e leia-as
várias vezes. Encontre uma palavra que seja o
ponto de partida para algo que faz algum
sentido para você e destaque essa palavra
desenhando um círculo e colocando-a no
centro. A partir deste centro trace quatro setas
em formato de uma cruz que nasce ao centro
da palavra e se expande para as direções
norte-sul, leste-oeste.
Escreva novas palavras nestas setas. O que
eles podem lhe dizer? Onde você pode
detectar seu lado feminino e seu lado
masculino nesta produção?
Após nosso encontro repita esta operação com
as outras duas palavras, porém, agora, vamos
nos ocupar de outra tarefa.
O que lhe proponho agora é fazer uma oração.
Uma oração ecumênica (que não está dirigida
a nenhum Deus específico) mas a todos os
deuses que habitam dentro de nós, seres
humanos em geral. Dirija sua oração aos
deuses e às deusas do universo. Convoque-os
pedindo-lhes que anima e animus estejam
cada vez mais equilibrados em suas ações.
Escreva a oração em torno do círculo.
Estamos chegando ao final de nossa oficina. É
hora do fechamento. Vamos voltar ao conto e
reprisá-lo internamente. Depois, escolher uma
palavra-chave com a qual você quer expressar
o vivido hoje, neste encontro.

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