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Alice Ali Molde


Arminda Antônio
Laimo Rachide
Valeriano Lale Juta

Modelo de Atuação do psicólogo

Licenciatura Em Psicologia Educacional Com Habilitações Em Intervenção No


Desenvolvimento Humano e Aprendizagem

Universidade Rovuma
Montepuez
2020
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Alice Ali Molde


Arminda Antonio
Laimo Rachide
Valeriano Lale Juta

Modelo de Atuação do psicólogo

Licenciatura Em Psicologia Educacional Com Habilitações Em Intervenção No


Desenvolvimento Humano e Aprendizagem

Trabalho de carácter avaliativo a ser


apresentado na cadeira de Psicologia
Comunitária, curso de psicologia, 4 ano,
leccionada pela decente.
MA: Machel Isac

Universidade Rovuma
Montepuez
2020
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Introdução
A presente trabalho de pesquisa tem como objetivo analisar o contexto do modelo da
atuação do psicólogo e o papel do psicólogo social e suas contribuições no contexto da
sociedade contemporânea. A Psicologia Social as recebeu influências no decorrer do
tempo de outras áreas como a sociologia, filosofia, antropologia, dentre outras, para que
se firmasse como uma disciplina independente. E o trabalho foi realizado com base na
revisão bibliografia na qual constam na última pagina.
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Modelo de atuação do Psicologia

Na visão de MANCEBO (1997:24) nos últimos quinze anos, têm sido desenvolvidos
modos alternativos de atuação. Conforme Basto e ACHCAR citado por CATÃO (2011),
o sentido destas mudanças, ainda pontuais, seriam os citados a seguir:

(1) os esquemas conceituais, tradicionalmente centrados no plano individual (indivíduo


a-histórico, isolado do seu contexto social) estariam se ampliando para uma concepção
de sujeito visto na sua interdependência com o contexto sódo-cultural; (2) as fontes de
conhecimento, norteadoras das práticas, estariam caminhando da perspectiva
unidisciplinar para a multidisciplinaridade, abarcando, em especial, os conhecimentos
produzidos no campo da Sociologia e da Antropologia; (3) a intervenção psicológica
centrada na ação do psicólogo isolado sobre um indivíduo, dentro de uma perspectiva
curativa (ou de remediação), estaria evoluindo para uma atuação em equipes
multiprofissionais, centrada em contextos, em grupos, com características preventiva e
de prospecção; (4) os recursos técnicos adotados, restritos e originários basicamente no
âmbito da própria Psicologia, estariam se diversificando com a absorção de técnicas que
extrapolam o campo propriamente "psi"; (5) a clientela atingida pelo campo "psi",
predominantemente de classe média e com algum poder aquisitivo estaria mais
diversificada, atingindo classes mais populares; (6) a postura "consumista" diante dos
conhecimentos, técnicas e praticas, já que gerados em outros contextos e aqui aplicados
de forma acrítica, estaria sendo substituída por uma posição mais "crítica", diante da
preocupação em gerar conhecimentos e tecnologia apropriados à realidade em que
atuam e, por fim, (7) as "práticas alternativas" vêm ampliando o compromisso ético do
profissional, originalmente voltado para o atendimento de necessidades individuais
("preocupação humanista") e agora mais preocupado com o engajamento pela
transformação social.

Psicologia e problemas sócias

Segundo CATÃO (2011: 460) Um problema social existe quando


coletividades sofrem por mutilações do cotidiano, por desigualdade
social e injustiça vivenciada. Isto é, quando as instituições que
deveriam estar em consonância com o desejo humano não cumprem
seus objetivos ou não existem.

Quando isso acontece, as leis são transgredidas e não atendem as coletividades nas suas
necessidades, nas suas carências, no seu desejo de ser gente, e a relação entre fazer e ser
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humano não se produz. A relevância do problema social está diretamente associada à


extensão dos seus efeitos, por exemplo, aumento dos índices de mortalidade,
desnutrição, analfabetismo, fome, exclusão pelas diferenças humanas e desigualdade
social, sofrimento e padecimento psíquico. E de acordo com mesmo autor “os
problemas sociais são produtos de um sistema social, econômico, político e cultural e,
como tal, não são explicados unicamente pelas características e condições das
instituições sociais vigentes ou pelas características dos seres humanos e da cultura
(CATÃO, 2011: 460).

São, antes, fenômenos sociais configurados no jogo dessas relações, nas


intersubjetividades em ato, durante o viver cotidiano. Dessa maneira, levam em conta
tanto as instituições e seus sistemas de produção e organização, quanto os indivíduos e
suas funções psicológicas voluntárias, que medeiam as suas relações com o mundo,
fazendo a história.

A análise dos problemas sociais, na perspectiva da Psicologia, reflete, por um lado,


uma compreensão desse entrelaçamento (CATÃO, 2011: 460). Por outro lado, exige
referências conceituais e metodológicas que deem conta dessa realidade, isto é, do ser
humano e suas implicações com o mundo e com os problemas sociais. É necessário ir
além do empírico e ser capaz de explicitar os mecanismos ocultos de construção do real.
Uma análise profunda que desperte os afetos e a reflexão da realidade e seu
compromisso como sujeito social. “Desvelar a realidade de tal forma que nos sintamos
capazes de nos comover até as entranhas com a dor e o sofrimento da humanidade
excluída, discriminada, vítima da violência e de nos solidarizarmos com suas causas e
lutas” (SACAVINO, citado por CATÃO, 2011: 461).

A análise do problema social reside no enfoque do problema não como materialidade


externa ao indivíduo, na forma de uma crise do estado de bem-estar social, mas na
consideração das implicações psíquicas desse indivíduo, como apropriações, mediações,
sofrimentos, reflexões e potência de ação. Esta perspectiva aguça o olhar para captar as
múltiplas e sutis nuanças do problema social, tal como vividas pelo sujeito (SAWAIA,
citado por CATÃO 2011).

Relação ser humano e problemas sociais


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Na visão de CATÃO (2011:462) O ser humano é um ser social e histórico; é um ser


constituído no seu movimento, em todas as suas fases e processos de mudança ao longo
do tempo, pela relação com a cultura e condições sociais produzidas. Concebe-se o
desenvolvimento do ser humano vinculado à história social mediado por sistemas
simbólicos. A abordagem psico-sócio-histórica, admitindo a influência da natureza
sobre o ser humano, afirma que este age sobre a natureza e cria, através das mudanças
nela provocadas, novas condições para sua existência, portanto, precisa aprender formas
de satisfação de suas necessidades, e sendo essas sociais, precisam ser estimuladas de
maneira a serem adquiridas.

Um ser rico em possibilidades tem na sociedade, na cultura e nas relações sociais, os


limites e condições impostas para significações e construções do seu projeto de vida
(CATÃO, 2011).

O sistema psicológico e as funções psicológicas voluntárias, emoção, consciência,


imaginação, linguagem, memória, analisadas no movimento das condições reais de vida,
na prática social do sujeito no mundo, coloca-se como a base dos estudos desenvolvidos
por Vigotski. E segundo VIGOTSKI (2004) construiu as bases de estudo do psiquismo
humano como um sistema integrado de funções psicológicas, em que todas estão
relacionadas entre si, ao corpo biológico, mediadas pela cultura e pela história social. As
emoções têm um papel fundamental nesse sistema, juntamente com a razão, formam
uma unidade tendo como finalidade a expansão humana e a potência de ação
(VIGOTSKI, 2004), "é por essa via analítica que Vigotski sustenta a ideia de sujeito
que se constitui nas determinações sociais, mas como dimensão de resistência"
(SAWAIA, 2010: 369). Nesta perspectiva, são os significados que vão propiciar a
mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no "filtro" através
do qual o homem é capaz de sentir, analisar e agir sobre os problemas sociais. A
capacidade de significar e configurar sentidos é a base da liberdade, permitindo a
atividade criadora, fazendo do ser humano um ser projetado para o futuro.

VIGOTSKI (2004) distingue o significado propriamente dito do sentido, referindo-se ao


sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da
palavra, que consiste num núcleo relativamente estável, compartilhado por todas as
pessoas que a utilizam. Por sua vez, o sentido refere-se ao significado para cada
indivíduo. Nesta direção, analisamos que os seres humanos não são especificamente
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determinados pelas características objetivas de seu contexto social, mas igualmente pela
forma com que capturam e se relacionam com este contexto, configurando implicações
e significados. É através da reflexão crítica na dimensão do vivido que o ser humano
poderá lidar com o problema social em direção às possibilidades/impossibilidades do
futuro, superando a objetividade anterior negada pela subjetividade, transformando sua
situação.

Preferencialmente, procuramos analisar o problema social não somente como uma


materialidade externa ao indivíduo, tentamos enfocar o problema social como uma
configuração dos afetos, dos desejos desistidos, sucumbidos, adiados, das necessidades
banalizadas, descompromissadas por parte do Estado, da coletividade, e pelo próprio
indivíduo (CATÃO, 2011). Introduzir a afetividade, como objeto da análise do
problema social, remete a uma concepção de necessidade humana que supera a
dicotomia entre ética e necessidade. Nesta perspectiva, a práxis analítica deve
preocupar-se com o exercício e fortalecimento da legitimidade social e individual de
cada um.

Prevenção e tratamento da psicologia comunitária

Segundo XIMENES et all (2017:5) a psicologia comunitária trata-se, portanto, de uma


Psicologia que busca a mudança comunitária e social, cujo psicólogo coloca-se como
um facilitador de processos sociais e humanos. Nessa perspectiva, deve-se partir das
condições da comunidade e dos seus potenciais, buscando-se identificar os processos
psicossociais que bloqueiam ou facilitam o desenvolvimento dos seus moradores. Tem
como objetivo promover o fortalecimento e desenvolvimento comunitário.

Segundo XIMENES et all (2017) destaca a importância dos movimentos sociais, em


especial o movimento da Saúde Mental Comunitária para a constituição da Psicologia
Comunitária. Além disso, buscou-se substituir o modelo médico centrado na doença por
um modelo psicossocial que considera as origens sociais dos problemas de saúde
mental.

É pertinente destacar a crítica feita por Saforcada e Alves citado por XIMENES et all
(2017) a esse modo de atuar em saúde, por se tratar de uma perspectiva dualista, cuja
função de cuidar da mente é do psicólogo e do psiquiatra, enquanto o cuidado com o
corpo cabe a outras especialidades médicas. Além disso, nessa perspectiva, há a
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separação de serviços de saúde, havendo, por exemplo, equipamentos específicos de


saúde mental, cuja a oferta restringe-se ao atendimento a pessoas com diagnóstico de
transtorno mental, ao invés de oferecer um serviço abrangente. Para Ximenes et all
XIMENES et all (2017), o objeto de estudo da Psicologia Comunitária é o reflexo
psíquico do modo de vida comunitário. O objetivo da Psicologia Comunitária é o
aprofundamento de consciência e o fortalecimento de uma identidade de sujeito da
comunidade como responsável e ativo na transformação positiva da realidade. A
Psicologia Comunitária tem como horizonte a libertação, partindo de uma práxis
transformadora das condições de vida das populações que vivem processos de opressão,
dominação, exploração e também de pobreza, tendo em vista que não se pode pensar a
saúde sem considerar essas condições.

Segundo GÓIS (2005). O psicólogo comunitário não deve se colocar como promotor da
transformação social, sua intervenção busca potencializar ações concretas na realidade
comunitária a ser transformada. Para tanto, faz-se necessário potencializar os recursos
comunitários, integrando suas práticas aos movimentos sociais; à organização, luta e
reivindicação comunitária; as associações comunitárias; aos sindicatos; aos demais
movimentos e grupos de organização e luta política, ou seja, o psicólogo deve atuar
menos em instâncias de controle, desenvolvendo práticas com grupos populares (GÓIS,
2005).

Nessa perspectiva, a Saúde Comunitária corresponde tanto a um conjunto de atividades


como a uma concepção de saúde, à medida em que se propõe à criar espaços de diálogo,
vivência e atividade, a fim de, partindo-se das potencialidades que toda comunidade
possui, fortalecer grupos e redes comunitárias de apoio, cuidado e proteção, com foco
na promoção e prevenção. Nessa mesma direção, GÓIS (2005) defende a Saúde
Comunitária como um processo que inclui a produção, o fortalecimento, a recuperação e
gestão da saúde, compreendida em sua multidimensionalidade e em seus determinantes
sociais. A gestão da saúde corresponde aos processos participativos que objetivam a
proteção e promoção da saúde. De tal modo, o foco é a participação ativa da
comunidade, ou, no dizer de GÓIS (2005), a construção do sujeito comunitário, como
via para o desenvolvimento comunitário.

Desse modo, a ênfase recai, de maneira geral, nas potencialidades e capacidades da


comunidade, e no que se refere especificamente ao cuidado da saúde, articulando-se
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indivíduo, família e comunidade. Compreende-se ainda, saúde como um conceito


positivo, de modo que se busca, a partir da Saúde Comunitária, a Gestão da Saúde
Positiva ou seja, mobilizar recursos voltados não para a enfermidade, mas para a
proteção e promoção da saúde GÓIS (2005).

A perspectiva da Psicologia comunitária coloca a ênfase em dois temas recorrentes no


campo da saúde Mental: (i) uma preocupação na Prevenção e (ii) a necessidade de focar
os níveis ecológicos (APTER, 1982). Segundo APTER (1982), estes temas são
baseados em algumas contestações:
 Questionável eficácia dos serviços de saúde mental tradicionais.
 A insatisfação com desigualdades na prestação de serviços.
 Elevada necessidade de serviços de saúde mental para a população em geral.
 A escassez ameaçadora na avaliação do "manpower" disponível na saúde
mental.
 Inadequação do modelo médico.

Assim, o objetivo dos programas preventivos de grande escala centra-se na redução do


número de pessoas que necessitam de psicoterapia, chamando a atenção para a
necessidade de modificar a forma de prestação e os tipos de serviços (APTER, 1982).

O impacto das perspectivas da comunidade pode ser melhor conceituado em termos de


ênfase e orientação que destacam alguns conceitos-chave: prevenção; intervenção nos
níveis organizacional e comunitário; e procedimentos para promover habilidades e
competências. (HELLER e MONAHAN citado em APTER, 1982: 4). 

A definição de Prevenção não é consensual, contudo a mais tradicional é a de Gerald


Caplan distinguindo três níveis:

Prevenção Primária: intuito de reduzir a incidência de novos casos de desordem mental


na população para combater forças perniciosas, que operam na comunidade e, pelo
fortalecimento da capacidade das pessoas lidarem com o stress (APTER, 1982);
"qualquer intervenção biológica, social ou psicológica específica que promova ou
aprimore a robustez mental e emocional, ou reduz a prevalência e / ou incidência de
distúrbios de aprendizado e comportamento na população em geral" (BOWER cit in
APTER, 1982, p. 209); entre outras.
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Prevenção Secundária: objetivo de reduzir a duração de casos de desordem mental que


ocorrem apesar dos programas de prevenção primária (APTER, 1982); "são para
identificar sinais de desajustes o mais rápido possível e introduzir corretivos imediatos
para curto-circuito nos resultados negativos" (COWEN cit in APTER, 1982:210);
preocupa-se em identificar os grupos vulneráveis, de forma a reduzir a gravidade ou
duração das dificuldades identificadas (ou potenciais dificuldades) por forma a prevenir
problemas futuros (APTER, 1982); entre outras.

Prevenção Terciária: o intuito é minimizar as incapacidades permanentes e reduzir os


efeitos residuais das dificuldades emocionais, o foco encontra-se essencialmente nos
programas de tratamento e reabilitação; direcionada para a redução das probabilidades
de que indivíduos que já experienciaram dificuldades emocionais se tornem mais
severamente incapacitados (APTER, 1982).

Atuação do psicólogo em contexto social

Diante de tudo que foi descrito no decorrer da pesquisa, é possível afirmar que a
Psicologia Social na atualidade tem seu foco no meio e busca compreensão do
comportamento social (ALMEIDA, 2018:1). Ela possui inter-relação com a Sociologia,
pois ambas buscam estudar situações voltadas para o cotidiano. É função do psicólogo
social colaborar na luta contra o rompimento dos entraves sociais, tais como:
preconceitos, estigmas, estereótipos e estigmas, mostrando através de intervenções que
somos pessoas de direito, capazes de combater as desigualdades sociais, assim como
compreender suas causas e efeitos. Na visão de SARRIERA (2000) e Neiva (2010)
Psicologia Social busca compreender as mazelas sociais, levando o sujeito a realizar
reflexões sobre seu papel enquanto sujeito de identidade, que interage com seu meio e
que precisa lutar pelos seus direitos e superar as desigualdades sociais e construir uma
nova forma de encarar as questões sociais que tanto colaboram para a formação e
solidificação da cidadania.

Segundo SARRIERA (2000) e NEIVA (2010), O papel do psicólogo na comunidade é


de fundamental importância, pois este profissional faz o uso de seus conhecimentos para
poder ajudar as pessoas que sofrem pela falta de melhores condições. O psicólogo
depara-se com diversas situações que na maioria das vezes chocam, mas que é
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necessário abrir novos espaços para a resolução desses problemas sociais, buscando
melhores condições de vida.

Desde os tempos mais remotos, as pessoas desfavorecidas sofrem com graves


problemas de exploração, opressão, pobreza, falta de oportunidades, preconceitos,
discriminação. Mas isso vem sendo estudado e há quem tente solucionar. Dentro de uma
comunidade é necessário comprometer-se com as diversas mudanças a serem feitas e
aproximar-se dessa população oprimida. Ainda é possível trabalhar nessas pessoas uma
consciência mais crítica, fazendo com que elas busquem uma identidade pessoal.

Como militantes dos direitos humanos, através de seus inúmeros trabalhos e de suas
campanhas, o psicólogo é visto na sociedade como um operador da inclusão social e
também se vê como uma pessoa, um profissional que vem discutindo o que se tem feito
durante tanto tempo acerca dos problemas sociais e da exclusão provocada pelas
“anormalidades” que a sociedade criou.

Na perspectiva de Neiva (2010) O modo que a sociedade lida com esta imagem e a
relação que a Psicologia tem com este assunto, foi uma importante questão colocada em
pauta pelo Conselho de Psicologia.  E cada ponto discutido nestes debates fomenta
ainda mais a intervenção e a vontade deste profissional exigir e cobrar de todos a
existência dos Direitos Humanos.

A psicologia ganhou autonomia e a responsabilidade de produzir ações na sociedade.


Sua característica de profissão elitizada desmoronou. Sua intervenção que outrora se
concentrava apenas na clínica, agora tem por obrigação transformar-se numa
intervenção comunitária, mais humanizada. O que nos presenteia com as “Psis” sociais,
comunitárias, da saúde e muitas outras variáveis que chegam ao mesmo cociente: a
comunidade.

Agora, sabemos que o psicólogo para atuar na saúde, possui suas referências dentro dos
parâmetros atribuídos pelo Conselho Federal de Psicologia e pelas Políticas Públicas
NEIVA (2010).

Ainda que pareça ter sido solucionado o problema inicialmente apontado para a atuação
na saúde, estamos longe de ter alcançado este patamar de um serviço integral, universal
e igualitário, defendido pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Existem muitos percalços
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com relação ao “querer” atuar na comunidade e “ter” que atuar nas instituições
praticando a clínica tradicional. Não sabemos se ainda existem resquícios da formação
fragmentada, se existem limites para a criação de novas políticas públicas ou se as
dificuldades advêm de uma “politização do poder”.

O que sabemos é que, ao analisar a psicologia como atuante na saúde


pública, temos que refletir quais são os compromissos ético-políticos
prioritários em suas ações. Se antigamente a psicologia estava
associada a patologias, desvios, doenças e promoção da saúde, hoje
ela precisa ter uma característica despatologizante, mas além de
despatologizar a patologia enquanto doença, é necessário
despatologizar a sociedade enquanto doença social, enquanto um
câncer incurável (SILVA, 2012:20.

Uma das ferramentas é a intervenção psicossocial que intera sujeito e meio social,
direcionando às diversas áreas, visando o bem-estar psicossocial dos indivíduos,
organizações, comunidades, grupos, instituições, não perdendo sua característica de
pesquisa-ação. Ou seja, conforme SARRIERA (2000), a intervenção psicossocial diz
respeito à relação indivíduo e coletivo, na interação dos sistemas macro-meso-
microsociais.

Nossa realidade nos traz uma imagem de sociedade desigual, violenta,


com baixo nível educacional, altos índices de preconceito e exclusão,
prostituição, drogadição entre outros problemas sociais. Tal imagem
torna-se marginalizada, distante de uma possibilidade de mudança. É
muito comum imaginarmos que os grandes problemas sociais
encontram-se apenas nas favelas, nos morros, nas comunidades,
estereotipando a população pobre pela falta de elementos positivos
(educação, emprego, saúde, etc.) e pelo excesso de elementos
negativos (SILVA:22).

E neste contexto o papel da intervenção psicossocial passa a ser o de agir sobre os


fatores psicológicos insatisfatórios que podem ocorrer em diversas situações; diferentes
instituições, condições sociais, desenvolvimento da personalidade, mudanças diversas,
momentos críticos. A intervenção psicossocial age onde existe um mal estar, não
significando dizer que seu grupo-alvo são apenas os “desfavorecidos”, pois até mesmo
nas classes mais altas existem problemas.

A intervenção psicossocial trabalha definindo prioridades para que não corra o risco de
perder o foco dos objetivos imediatos. Possui caráter preventivo, já que seu objetivo
maior é o bem-estar psicossocial e uma melhor qualidade de vida das pessoas, grupos,
instituições e comunidades. Por ter recebido influências da psicologia institucional,
através do trabalho preventivo, desenvolve a psico-higiene, que é uma maneira de
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enfrentar os problemas e situações do cotidiano buscando este bem-estar psicossocial.


Também busca compreender a realidade sócio-histórica e cultural de cada grupo-alvo
para identificar suas necessidades, que variam para cada contexto social.

Conclusão
O objetivo deste trabalho foi tomar como base as discussões sobre os modelos de
atuação do Psicólogo comunitário para refletir sobre as metodologias atuação do
mesmo, com os instrumentais de intervenção social.
com as abordagens pode se concluir que a psicologia comunitária permite conhecer a
comunidade, o modo de vida de seus moradores, os equipamentos públicos, dentre
outras aspectos que compõem a realidade local, interagir com os moradores, identificar
lideranças, criar vínculos familiares e comunitários, enquanto a visita domiciliar é uma
forma de construir intimidade com o lugar, estabelecer relações mais próximas de
cuidado e confiança, conhecer aspectos psicossociais que, de outro modo não seria
possível.
E é função do psicólogo social colaborar na luta contra o rompimento dos entraves
sociais, tais como: preconceitos, estigmas, estereótipos e estigmas, mostrando através de
intervenções que somos pessoas de direito, capazes de combater as desigualdades
sociais, assim como compreender suas causas e efeitos. Enfim, a Psicologia Social
busca compreender as mazelas sociais, levando o sujeito a realizar reflexões sobre seu
papel enquanto sujeito de identidade, que interage com seu meio e que precisa lutar
pelos seus direitos e superar as desigualdades sociais e construir uma nova forma de
encarar as questões sociais que tanto colaboram para a formação e solidificação da
cidadania.
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Bibliografia

ALMEIDA, Flávio A. A. Psicologia social e o papel do psicólogo na sociedade


contemporânea. Brazil. 2018.

APTER, S.J. Crianças problemáticas, sistemas problemáticos. EUA, Pergamon General


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CATÃO, M. F. O ser humano e problemas sociais: questões de intervenção. Temas em


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GÓIS, C.W. Psicologia Comunitária: Atividade e Consciência. Fortaleza, CE:


Publicações Instituto Paulo Freire. 2005

MANCEBO, Deise. Formação do psicólogo: uma breve análise dos modelos de


intervenção. Psicologia CIENCIA E PROFISSÃO, 1997. 17. (1). 20-28.

NEIVA, Kathia Maria da Costa. Intervenção Psicossocial: aspectos teóricos,


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SARRIERA, Jorge Castellá. Psicologia Comunitária- estudos atuais. Porto Alegre:


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15

SAWAIA, B. B. (2010). Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre


liberdade e transformação social. Psicologia & Sociedade, 364-370.

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para atuar na comunidade, com a comunidade. Psicologado, [S.l.]. (2012).

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L.M. Saúde Comunitária e Psicologia Comunitária: suas contribuições às
metodologias participativas. Psicologia em Pesquisa | UFJF | 11(2) | 4-13 | 2017.

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