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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000978381

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2154914-27.2019.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante ATCO
PLASTICOS LTDA, são agravados VITA BELLE DISTRIBUIDORA DE COSMÉTICOS
LTDA, JOSÉ ROBERIO DA SILVA TORRES e CLAUDIA FRANCO CAMARGO
TORRES.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 21ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ADEMIR BENEDITO


(Presidente) e DÉCIO RODRIGUES.

São Paulo, 22 de novembro de 2019.

MAIA DA ROCHA
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 35347


AGRV.Nº: 2154914-27.2019.8.26.0000
FORO: FORO REGIONAL DE SANTANA
AGTE.: ATCO PLASTICOS LTDA
AGDO.: VITA BELLE DISTRIBUIDORA DE COSMÉTICOS LTDA E OUTROS

*EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL Parte que


pretende a inclusão de empresa terceira, sustentando ser
pertencente ao mesmo grupo econômico da executada Não
demonstrado o preenchimento dos requisitos descritos no art. 50
do Código Civil Formação de grupo econômico não verificado
Empresas que não possuem identidade de sócios, tampouco
participação societária da executada com a empresa terceira
Decisão mantida Recurso não provido*

Trata-se de agravo de instrumento interposto em face da


r. decisão de fls. 166, proferida em execução de título extrajudicial, que
indeferiu o pedido para o reconhecimento da existência de grupo econômico
com a empresa Adbelle Distribuidora de Cosméticos Ltda., com a consequente
inclusão da referida empresa no polo passivo da execução.

Alega a agravante que o executado foi regularmente


citado, deixando, contudo, de efetivar o pagamento do débito ou indicar bens,
tampouco foram encontrados bens passiveis de constrição. Argumenta que
diligenciando administrativamente constatou que agravada continua ativa,
entretanto operando em nome de terceiros e com nova empresa denominada
Adbelle Distribuidora de Cosméticos Ltda.; que referida empresa se encontra
estabelecida no mesmo endereço da empresa executada, além de
comercializar os mesmos produtos; que a atividade econômica principal de
todas as empresas é idêntica; que o telefone de das empresas é idêntico,
além do endereço indicado ser o mesmo. Considerando tal contexto fático,
aponta que a agravada faz parte de grupo econômico. Alega ser é notório o
abuso da personalidade jurídica, ensejando a aplicação do instituto da

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desconsideração da personalidade jurídica, para que a execução se estenda


aos bens dos sócios da executada e empresas integrantes do mesmo grupo
econômico, nos termos do artigo 50 do Código Civil.

Recurso tempestivo, preparado, regularmente processado.

É o relatório.

O art. 50 do Código Civil expressa que em caso de abuso


da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, o Magistrado pode aplicar o instituto da desconsideração
da personalidade jurídica.

A desconsideração da personalidade jurídica conduz à


responsabilidade do sócio nos casos em que a sociedade é
manipulada como instrumento de fraude. Esse instituto
chegou ao pensamento jurídico brasileiro mediante
assimilação da disregard doctrine, desenvolvida nos
tribunais norte-americanos, ganhando celebridade a partir
do apoio e divulgação que lhe deram Rubens Requião e
José Lamartine Corrêa de Oliveira. Antes, a Consolidação
das Leis do Trabalho já permitia levar a responsabilidade
por obrigações da sociedade além dos limites do
patrimônio desta, para atingir as demais pessoas jurídicas
integrantes da mesma constelação empresarial (art. 2º, §
2º). Mais recentemente, o Código de Defesa do
Consumidor autoriza expressamente a desconsideração da
pessoa jurídica, a ser feita pelo juiz em processos
referentes a relações de consumo, “quando, em
detrimento do consumidor, houver abuso de direito,
excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social” (art. 28).

Indo além dessas disposições bem particularizadas em


setores específicos, os tribunais praticam a
desconsideração da personalidade jurídica para
responsabilizar sócios também em situações não previstas
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nas leis societárias ou tributárias aplicando-a em relação a


débitos perante fornecedores, prestadores de serviços,
mutuantes em geral etc, Isso é feito exclusivamente
diante de situações de fraude porque o combate a esta é
o objetivo único da disregard doctrine e, sem conduta
fraudulenta a debelar, impõe-se a clássica distinção entre
a personalidade jurídica do sócio e a da sociedade a que
pertence. (Instituições de Direito Processual Civil, Cândido
Rangel Dinamarco, vol. IV, pág. 366, Malheiros Editores,
São Paulo, 2.004.)

Na hipótese, em que pesem as alegações tecidas pela


parte, não se verifica quaisquer dos requisitos do art. 50 do CC, tampouco a
formação de grupo econômico a justificar a inclusão da empresa Adbelle
Distribuidora de Cosméticos Ltda no polo passivo da demanda.

A agravante não logrou comprar eventual coincidência de


sócios ou participação societária da executada na empresa Adbelle
Distribuidora de Cosméticos Ltda, nem mesmo abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial
entre as empresas mencionadas. No mais, apenas a coincidência de atividade
econômica não é suficiente ao fim pretendido pela parte e como bem
pontuado pelo r. juízo a quo “não há identidade de nenhum dos sócios da
executada e da empresa Adbelle Distribuidora de Cosméticos Ltda, conforme
se observa pelos extratos da JUCESP juntados às fls.164/169”

Sob os aspectos citados, imperiosa a manutenção da r.


decisão impugnada tal como lançada.

Isto posto, nega-se provimento ao recurso.

MAIA DA ROCHA
Relator

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