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Universidade Estácio de Sá Elenice Rachid

Direito Civil I - 1° Aula

CONFLITOS DE LEI NO TEMPO

Ocorreu num momento temporal, num espaço de tempo.


1 Lei de locação residencial lei 6.649
ex: 2 Lei de locação residencial 8245/91

A lei 8245/91 revoga a lei 6.649, e permitiu a denúncia vazia.

O conflito temporal de leis tem lugar quando uma lei nova revoga uma lei anterior,
fazendo com que atos e fatos jurídicos que antes estavam em vigor, agora são modificados,
alterados pela nova lei.

Art. 6º da LICC

Quando uma lei está em vigor (tem vigência) o efeito que ela traz em seu conteúdo
passa a ser imediato e geral.

Todas as vezes que uma lei nova ou posterior modifica, altera, veda, impede, causas os efeitos de
outra lei (a velha ou anterior) provocando assim, conflitos seus efeitos serão aplicados de modo
imediato e geral. Deste modo, a lei velha ou anterior deixa de Ter vigor.
Tudo que estava descrito pela lei anterior, as situações jurídicas em geral, passa a ser
regido pela lei nova, imediata e genericamente.
Entretanto nem todos os negócios jurídicos seguirão esta norma. Podemos ver na 2ª
parte do Art. 6º, alguns casos em que a Lei nova não revoga a velha, tais como:
§ 1º O ato jurídico perfeito e acabado – ele não será atingido pela modificação da
lei nova. Ato jurídico e perfeito é aquela já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
consumou.

O ato é consumado quando preenche as formalidades da lei e os requisitos


fundamentais para sua validade e eficácia.

Ex: contrato de compra e venda de imóvel residencial urbano.

A transferência de domínio se dá na assinatura da escritura, entretanto, até este


momento somente as partes estão obrigadas, o efeito jurídico ainda é inter-partes.
Quando se faz o registro da transferência de domínio, no Registro Geral de Imóveis,
é que se dá publicidade ao ato, para que este efeito seja considerado erga omnis, ou seja, efeito que
também obriga terceiros.

A cláusula é o conteúdo de uma declaração de vontade das partes.


Condição – acontecimento futuro e incerto
- gera um direito condicionado, o qual já é um direito reconhecido ao
titular dele. É um direito condicionado a um fato futuro.

O direito está iniciado mas não está consumado.

Observe que a expectativa de direito não é direito adquirido. A pessoa ainda não é o
titular daquele direito pois está subordinado ao acontecimento de um evento.

Termo - acontecimento futuro e certo, geralmente com datas fixas para se consumar.
Portanto é um ato jurídico perfeito.

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Direito Adquirido - existe uma conexão, correlação entre este instrumento e o ato
jurídico perfeito e acabado.

São adquiridos os direitos que o titular, ou seu procurador, possam exercer, cujo
começo do exercício tenha termo pré-fixado anteriormente, ou condição pré-estabelecida
inalterável ao arbítrio de outrem.

Se ao invés de termo (data) fosse uma condição (que pode ou não acontecer) então
não sirva um direito adquirido.

Todo ato jurídico perfeito e acabado, acarretará Direito Adquirido para o seu titular.

Se no ato jurídico perfeito houver uma condição pré-estabelecida que dependa de


circunstâncias alheias estranha a vontade do titular do Direito, então o cidadão ainda NÃO adquiriu
o mesmo. Mas se a condição depende de um ato que depende da vontade do próprio titular então
dizemos que é considerado pelo legislador, como Direito Adquirido.

Se o ato tem um termo pré-fixado subordinando o efeito da aquisição, e sabemos que


ocorrerá fatalmente, então se considera um Direito já adquirido, mas se há um termo que pode vir a
não acontecer, porque não tem a pré-fixação da data, então esse Direito ainda não estará adquirido
até a dita data.

DIREITO ADQUIRIDO

Retroatividade – efeitos novos de uma lei nova que ao revogar uma anterior vai atingir os
atos ou fatos ou negócios praticados sob o império de uma lei anterior e que continuam
produzindo efeitos no tempo.
Irretroatividade – se impõe nos atos jurídicos perfeitos e acabados e nos direitos
adquiridos, impedindo que a injustiça e o caos na ordem jurídica aconteçam.

RETROATIVIDADE

Justa – uma lei nova foi criada para permitir que os cidadãos tenham uma legislação mais
justa, mais homogênea.
Injusta – se fosse aplicada aos direitos adquiridos e aos atos jurídicos perfeitos e acabados.

Coisa julgada material - é aquela decisão judicial da qual não caiba mais qualquer
possibilidade de reexame ou modificação.

Ela já atingiu tudo que é previsto dentro da Teoria Geral de recursos do Direito
processual brasileiro que pudesse modificar aquela decisão, que pudesse cassar aqueles direitos e
substituí-los por outros.

Pode-se construir uma teoria jurídica de direito adquirido no ordenamento jurídico


brasileiro com base nos seguintes dispositivos legais: Art. 6º § 1º e 2º da LICC com os artigos 74º,
inciso III, § único; 114º, 118º e 123º do Código Civil ?

RESPOSTA:

Sim, pois o Art. 6º da LICC se correlaciona com os demais artigos citados,


exatamente no que diz respeito à condição do ato jurídico realizado.
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1. Ato jurídico perfeito e acabado – acarretará um direito adquirido, mas se houver uma
condição ou termo que pode não se consumar, então este direito ainda não é adquirido, mas
apenas uma expectativa de direito (Art. 123º CC).

2. Direito adquirido – sendo um direito atual, significa dizer que já é um direito adquirido ( Art.
74º CC) e, consequentemente, não será atingido pela modificação da Lei Nova (Art. 6º LICC).
Se o direito é futuro, seja ele condicionado a evento futuro e incerto (Art. 114º CC), possua ele
condição suspensiva (Art. 118º CC) ou resolutiva (Art. 119º CC), logo a aquisição deste direito
não se acabou de operar, ele será então, influenciado pela Lei Nova.

A coisa julgada – não está sujeita ao Art. 6º da LICC nem possui as condições definidas pelos
outros artigos citados.

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DIREITO CIVIL I - 2° Aula

Resposta do Exercício

Art. 6º § 2º
Representação: Os pais representam os filhos menores
Menores sem pais são TUTELADOS
Maiores impossibilitados de exercer o DIR. são CURATELADOS

Devemos identificar o DIR. adquirido como possibilidade legal de exercício desse DIR.,
logo, quem puder exercer esse DIR., seja ele próprio, ou alguém por ele, considera-se em princípio
tendo adquirido esse DIR.
O DIR está adquirido em princípio, quando o seu titular puder exercê-lo em sua plenitude.
Portanto, se não há impedimento estará exercendo o DIR adquirido.

Para analisar o exercício do DIR temos que analisar 3 questões:


1) Exercício integral pleno do DIR
2) Este exercício do DIR não deve ter a subordinação a uma condição, ou termo , salvo se a
condição não puder ser alterada por vontade de terceiro e se o termo tiver a sua data pré-
fixada
3) Apesar da existência da condição e do termo , o legislador passa a reconhecer o direito
adquirido, quando a condição depende apenas da vontade do titular e o termo tem data
pré-fixada

Deste modo dizemos que o DIR. é adquirido por ficção.

PRESUNÇÃO E FICÇÃO

São técnicas jurídicas com recursos legais que o legislador se vale para atender a certas
solicitações sociais que não poderiam ser resolvidas senão através desta técnica de aperfeiçoamento
que permite que se aplique certos dispositivos legais, sem as quais isso não seria possível.

São meios pelos quais a técnica jurídica se faz na prática social para fazer com que a lei
possa atuar, tornar-se efetiva e não ficar no papel.

São aplicadas de maneira muito intensa pelo legislador em todos os ramos do DIREITO.

PRESUNÇÃO - o legislador considera como verdade legal, algo que é possível fisicamente.
Ex: num acidente com mortes, quando é impossível determinar quem morreu primeiro, (para
efeito de divisão de patrimônio) então se considera como possível a comoriência (morreram juntos)
É uma veracidade legalmente disposta por um dispositivo legal que embora não se tendo a
adequação da verdade física comprovada nada impede que pudesse realmente ter acontecido porque
não é um fato impossível fisicamente.
Ex: Art.11° do CC.

FICÇÃO - é um grau mais intenso de técnica jurídica, pois trata-se da veracidade na


falsidade ou impossibilidade física ou negação da realidade física.

Aqui o legislador impõe um determinado efeito jurídico que é absolutamente contrário ao


que existe na realidade física. Portanto, é uma afirmação tida como verdadeira pelo legislador que é

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absolutamente falsa quanto à realidade física. É uma absoluta antinomia (contrário, oposição) entre
a realidade jurídica e a física.
Ex: Art. 43° inciso III do CC.

Tipos de presunção que existe no DIR.

1. Presunção absoluta – Iuris et .... (são poucas)


Não admite prova em contrário.

2. Presunção relativa – a maior parte delas.


Admite prova em contrário.

3. Presunção Hominis – esta não precisa fazer prova de que existe ou não porque é
conhecida por todos. Ex: provar que uma pessoa precisa cumprir a lei.

Art. 74° caput e inciso III

Atuais - Os direitos completamente adquiridos


Futuros - Os direitos cuja aquisição ainda não se acabou de operar.

1) Deferido (Direito Adquirido) – Embora tenham uma condição ou termo, depende somente
da vontade do sujeito ou têm data pré-fixada.

2) Não Deferido (Direito Condicionado/Expectativa de Direito) – Possuem uma condição que


pode ser mudada segundo a vontade de terceiro ou possuem um termo que não é pré-fixado
e, consequentemente podem falhar.

Art. 114 e Art. 118

Algumas vezes se tem o DIR. mas não se pode exercê-lo, o que significa não poder dispor
dele para o que quiser.

Consideram-se adquiridos no DIR. Bras. Os direitos que podem ser exercidos pelos seus
titulares de maneira total, integral ou plena, isto é, não estando a aquisição deles subordinada a
nenhuma condição, termo ou formalidade indispensável. No entanto, se a aquisição do DIR. estiver
subordinada a uma condição cuja realização esteja dependendo apenas da vontade do titular e
portanto inalterável a vontade de terceiros ou mesmo se houver um termo pré-fixado (data) entende-
se que esses Dir. já estão adquiridos e são denominados no Art. 74° inciso III § único do CC como
direitos futuros deferidos.

Mas se a condição não for qualificada como dependente unicamente da vontade do titular e,
se o termo não for pré-fixado, então o DIR. não se terá adquirido e o CC no dispositivo legal
supracitado denomina-os de direitos futuros não deferidos.

SUBSUNÇÃO - é a adequação entre o fato concreto e o ordenamento jurídico feita pelo


Juiz. É a busca de um dispositivo legal no ordenamento jurídico para adequá-lo a um fato concreto (
conflito entre duas partes).

Art. 4 da LICC

Quando o juiz não encontra um dispositivo legal no ordenamento, temos lacunas da lei (no
CC) ou leis penais em branco (no CP)

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Lacunas legislativas Integração da norma jurídica: quando a
Lacunas ontológicas lei for omissa o juiz decidirá por
Lacunas Axiológicas analogia, costumes, PGD.

No Art. 5º

Toda lei tem que ter uma finalidade social.

Lacuna Ontológica - a lei está em vigor, existe o dispositivo legal, mas não está adequada à
finalidade social a qual ela se dirige. A lei está obsoleta e antiquada. Já não mais atua ou age com
finalidade. Há uma total defasagem.
A legislação brasileira é cheia de lacunas ontológicas, gerando defasagens entre a evolução
social e a lei que está regulamentando o fato.

Código Civil – 1916 – Código Penal 1940 – Código Comercial – 1850

O Juiz não deve aplicar a lei que está defasada e, consequentemente, aplicar o Art. 4º.

Lacuna Axiológica - é o estudo do valor. Para se decidir é preciso formar um juízo de valor
acerca do fato concreto. A segunda parte do Art. 5º fala das exigências do bem comum (do
interesse público). O juiz não pode aplicar a lei pura e simples, mas deve observar se ela está de
acordo com a consciência social. É preciso apreciar cada caso, e se acontecer uma dessas três
formas de lacuna, o juiz julga pelo Art. 4º.

Analogia Legis texto legal similar que deve ser aplicado


Iuris

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Direito Civil I - 3° Aula

SUJEITOS DE DIREITOS SUBJETIVOS OU TITULARES

Direitos Subjetivo - são assegurados, regulamentados, disciplinados pelo Dir.


Objetivo ou Positivo.

Direito Positivo - conjunto ou ordem de todas as regras jurídicas capazes de reger


uma sociedade.

Titulares de Direito Subjetivo – são pessoas que podem exercer este direito
porque são seus titulares e assim obterão as vantagens e prerrogativas que este exercício
pode lhe proporcionar e que é previsto e regulado pelo Direito Objetivo.

Direito Real de Propriedade Art. 524 cc.

João é proprietário de um imóvel. Logo, é titular do direito de propriedade


imobiliária cujo objeto é aquele imóvel.

No exercício do direito de propriedade do imóvel ele possuía as seguintes


faculdades jurídicas: usar, utilizar, gozar, fruir, transmitir, vender, doar, hipotecar etc.

Possui o direito de ação de reivindicação para proteger o direito de sua


propriedade. Logo, tudo isto é regulamentado pelo Direito Objetivo.

Quem são os Titulares ou Sujeito de Direitos?

1) só podem ser pessoas (pessoas naturais ou físicas, pessoas moral, coletiva,


social ou jurídica). São aquelas que são reconhecidas pelo ordenamento jurídico como as
que podem exercer os direitos subjetivos e obter neste exercício benefícios que o
exercício deste direito possa lhe proporcionar sobre determinado objeto.

Sujeito de Direito ----exercem direitos sobre os---- Objetos de Direito


É deste exercício do direito sobre o objeto de direito que os sujeitos recebem
vantagens e benefícios.

2) pessoas não podem ser objetos de direito mas já foram um dia, no período da
escravidão.

Objeto de Direito - bem ou coisa


- direito subjetivo (ex. direito de crédito)

* alguns direitos subjetivos não têm existência corpórea. Ex.: direito de autoria
intelectual, mas o objeto desse direito é corpóreo ex: livro, filme ou música que foram
criados.

Objetos de Direito - existência corpórea ou material

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- existência incorpórea ou imaterial

Sabendo-se que os animais, de maneira genérica e principalmente os que estão


em extinção, são protegidos por leis severas com relação a sua comercialização e
cativeiro, responda:

Os animais são titulares ou sujeito de direito à própria vida? Não, somente as


pessoas são titulares de direitos. Os animais são objetos de direito tutelados pelo estado,
devidos à sua raridade, para que não desapareçam ou sofram crueldade. Portanto, o
objeto neste caso, é a preservação desses animais.

Em que momento jurídico eu poderia afirmar com base no ordenamento jurídico,


que as pessoas se tornam titulares de direitos, podendo contrair direitos e obrigações?

 Pessoa Natural ou Física – Art. 1º cc


Nacionais ou estrangeiros – não havendo distinção entre eles na aquisição de direitos.

 Art. 4º cc – A personalidade civil começa com o nascimento com vida

Personalidade Jurídica – conjunto de atributos que permitirá que ela possa ser
reconhecida como sujeito titular de direitos, consequentemente contrair direitos e
obrigações ou transmitir esses direitos adquiridos.

Ao nascer com vida (elemento fáctico), o neonato passa a ser considerado pessoa,
adquirindo personalidade jurídica, passando a ter neste momento, a capacidade e aptidão
para tornar-se sujeito ou titular de direito, ainda que não tenha conhecimento disso.

Capacidade - de direito/gozo
Jurídica - exercício de agir ou de fato

Capacidade Jurídica de Direito e de Gozo

Nascer = sair do ventre materno

Nascituro é o feto concebido no ventre materno (não tem vida autônoma). Ao


nascer morto, o natimorto, não adquire capacidade jurídica.

Se nasce vivo e morre logo após, adquire os direitos, pois teve um minuto que seja
de vida autônoma.

Aplica-se um exame médico-legal para provar se nasceu com vida.


Ex.: Faço uma doação para um nascituro concebido que ainda está no ventre da
mãe.
Ele, o nascituro, possui um direito futuro deferido(Art.74) e condicional, pois precisa
nascer com vida para adquirir personalidade e se tornar capaz de receber a doação que
fiz. Neste momento, ele torna-se titular do direito, devendo ser representado por seus pais
na aceitação da doação (Art. 1165 cc).

Se nascer morto, não virá a adquirir o direito e, portanto, a doação retorna ao


doador.

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Se nascer com vida e morrer logo após ele terá personalidade, capacidade de
direito, receberá a doação pela aceitação de seus pais e a transmitirá (com a sua morte)
aos seus herdeiros (ascendentes), no caso, os pais. Art. 1603, inciso II.

Obs.: Existe também a doação à prole futura que, a partir do momento do


nascimento (natimorto ou neonato), será tratada do mesmo modo que a situação anterior.

Conclusão, mesmo sem a vontade dos indivíduos, eles podem tornar-se sujeito ou
titulares de direito, por força de reconhecimento legal, pois nascem com vida e adquirem
personalidade. Todas as pessoas nacionais ou estrangeiras têm capacidade de direito e
de gozo.

Art. 4º - ..., mas põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro.

Aqui o legislador está se referindo aos direitos futuros do nascituro. Mesmo que ele
não os adquira (se nascer morto) eu já atribuí com a doação.

Obs.: o aborto é uma impossibilidade do nascituro de exercer o direito futuro que


lhe for conferido.

O direito à vida só começa com o nascimento com vida, portanto, só o neonato tem
direito à vida.

Os direitos futuros do nascituro são tão bem protegidos que existe até a
possibilidade de ou o curador ou a mãe (representando o nascituro) ingressarem com
uma ação cautelar de “posse em nome do nascituro” requerendo que seja bloqueado um
percentual dos bens daquele que a mãe indica como pai, até que ele venha a se
submeter a um exame de DNA.
O objetivo dessa ação cautelar é proteger e resguardar o possível direito futuro do
nascituro na posse e sucessão daquele que o adotar como pai. (Art. 462 cc).

O Art. 462 cc (que é a redação antiga) acaba por criar um paradoxo com o Art. 4º
cc pois ele garante um curador para o nascituro na defesa de seus direitos futuros,
enquanto o art. 4º cc diz que só é pessoa após nascimento com vida e, obviamente, só
tem curador uma pessoa.

Outro ponto interesse é que no direito brasileiro não se exige a forma humana,
basta que seja concebido no ventre materno e que tenha nascido com vida para que se
torne uma pessoa e adquira personalidade e direitos.

Há uma série de questões que não estão previstas no ordenamento brasileiro, tais
como a biotecnologia, bioética, fertilização artificial, aluguel de útero etc.

Capacidade Jurídica de Exercício ou de Agir ou de Fato

O sujeito deste direito deverá exercitar atributos ou faculdades jurídicas


pessoalmente.
No caso de menores, falta-lhes entendimento ou discernimento para praticar os
atos da vida civil, e portanto, terão que ser representados por seus pais, porque não têm
capacidade de exercício, de agir ou de fato.

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Os indivíduos precisam ter capacidade plena (de dierito e de fato) para praticar os
atos de direito.

TUTOR - na ausência dos pais, administra os bens e exerce os direitos dos


menores.
CURADOR - exerce os direitos dos absolutamente incapazes.

Legal - aquela imposta pela própria Lei


Representação
Voluntária - vem num contrato de mandato
Mandato = contrato (procuração)
Mandado - expedido pelo juiz (ele manda)

Absoluta - quando o ordenamento jurídico não reconhece


Incapacidade nenhum valor de vontade daquela pessoa
Relativa - Art. 5°

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DIREITO CIVIL - 4° Aula

Absolutamente incapazes

Mesmo manifestando sua vontade, podem ter capacidade de exercício, de agir, não têm
capacidade de fato, entretanto têm capacidade de gozo e dir.
Não são capazes de, manifestando sua vontade, essa vontade ser reconhecida e não
gera efeito jurídico.
Eles podem adquirir dir, mas como a vontade não é reconhecida, alguém lhe
representará. O que não podem é fazê-lo por si mesmo.

Art.5º
*menores de 16 anos, pois não têm discernimento
*saúde mental (louco)
*deficiência física (surdo/mudo)
*ausência

Esses são os fatores que determinam a incapacidade:


 idade
 saúde mental
 deficiência física
 desaparecimento

Menores de 16 anos

Há uma determinação em lei baseada em estudos psicológicos/psiquiatras que esta idade


(século XIX) o indivíduo não tinha discernimentos.

Representações Art.84

Menores de 16 anos – os pais – pátrio poder – o pai no Direito Romano tinha dir de vida
sobre os filhos para contrapor a idéia de que o poder é do pai. A partir da Const.88 nos
Artigos 5º inciso 1º combinado Art.226 § 4º “os direitos e deveres são iguais para homens
e mulheres”.
No Art. 226 “há igualdade de dir entre homens e mulheres”.
Pelo sistema antigo a mãe só exercia o pátrio poder se o pai tivesse morrido, destituído,
ausente ou se tornado um débil mental. Hoje não é mais assim. O pátrio poder é exercido
por ambos.
No ante projeto de lei que está na câmara esta expressão passará a ser chamada
Autoridade Parental aqui poder=dever/pois os pais tem obrigação de sustentarem os
filhos com alimentação, saúde e educação pois na ausência desse dever os pais
responderão por crime de abandono material e crime de abandono intelectual (C.P.). Os
pais têm o dever de administrar os bens dos filhos porém não podem aliená-los.
Pelos TUTORES (nomeados) CURADOR (doentes mentais maiores e menores)

Representação dos incapazes

pais – 16 anos
curadores – menores ou maiores deficientes mentais, surdo, mudo e pródigo.

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tutores – menores de 16 na falta dos pais

Sobre os bens não podem aliená-los somente através de AUTORIZAÇÃO EXPRESSA


pelo juiz.

Art. 384 inciso 5 – Representação dos pais


Art. 426 inciso 1 - Tutela na falta dos pais
Art. 453 caput – Curatela (loucos, surdos e pródigos)

Interditos – pessoas com problemas mentais se for casado é feito pelo conjuge, caso
contrário pelos pais. O juiz nomeia um curador caso fique comprovado loucura.

Art. 5º

Loucos de todo gênero – quem determina a falta de sanidade é uma junta médica
composta de psicólogos e psiquiatras e o juiz decreta sua incapacidade.

Psicopatas – 1933 Lei que cuida da questão da relatividade da incapacidade. Eles podem
ser absolutamente incapazes ou relativamente incapazes, baseado no laudo médico.
Quem pode requerer a interdição dos bens são o conjuge, ascendentes, descendentes.
Então essa pessoa será nomeada para curador para representar se ele for absolutamente
e relativamente incapaz.

Dependência física e psíquica = drogas químicas (álcool, cola, bebida, cocaína, maconha,
crack)

891 Decreto Lei 25/11/38


Lei 6368 21/10/76 - psicopatas dependentes - através de laudo médico

Idade – a idade avançada não tem a ver com senilidade. Ex: Barbosa Lima Sobrinho que
escreve para o JB quase que diariamente.

Deficiente Físico (curador) – nem todas as deficiências deixam as pessoas incapazes,


pois enquanto puder exprimir sua vontade a pessoa possui capacidade.

Ausente – o ausente é o desaparecimento total da pessoa, sem que “ninguém” saiba


onde está. Quando esta pessoa possui bens surge uma questão para ser resolvida
imediatamente através de petição – por qualquer pessoa ligada a ele – requerendo
administração provisória dos bens. Se diante dos editais ele não aparece, então seus
sucessores provisórios recebem seus bens. Então as pessoas têm que dar uma caução
(garantia) que pode ser real ou fidejusçória.

Real – representada por um bem. Ex.: imóvel/automóvel.


Até 10 anos desaparecido ele está presumidamente morto. Se ele retornar, retoma o que
restou com a caução. A partir dos 15 anos não há mais o direito à caução, ele recebe os
bens que restarem. Se ele tiver 80 anos a sucessão definitiva se dá 5 anos depois.

Art. 6º - a diferença entre os absolutamente e relativamente incapazes está na forma pela


qual estas pessoas vão se tornar titulares de DIR quando adquirão bens.
Os absolutamente serão representados pois a vontade do incapaz não é reconhecida pelo
DIR, logo vale a vontade do representante.
Os relativamente serão assistidos eles apresentam sua vontade, apenas certos atos é
que fzem com que eles sejam assitidos (pais, curadores etc) os assistentes aconselham e

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assessoram na compra e venda de bens. Caso contrário esses atos se tornarão nulos.
Art. 145/147 Código Civil

Relativamente Incapazes só terão assistentes em determinados atos, em outros são


livres. Maior de 16 e menor de 21 anos pois ao completar 21 se torna plenamente capaz:

 podem votar mas não podem ser votados


 podem elaborar testamento. Art. 1627 incisoI cc o testamento é um negócio jurídico
personalíssimo, não é possível a assistência, deve fazê-lo sozinho, nem procuração é
admitida.
 pode ser testemunha (também não pode estar assistido)
 pode ser procurador (não se pode falar em mandato com assistência)
 aos 17 anos se torna maior para o serviço militar

Art. 154 – obrigações anuláveis quando contraidas por maiores de 16 e menores de 21:
 quando resultado de atos por eles praticados sem a autorização de seus devidos
representantes.
 sem assistência de seu curador em caso de ser interdito.

Art. 155 – quando o relativamente incapaz, dolosamente, pratica ato que não poderia sem
assistência, então ele não poderá se eximir da obrigação.

Art. 156 – o relativamente incapaz quanto às obrigações resultantes de ato ilícito em que
for culpado, equipara-se ao maior caso de ficção. Neste caso pode ser acionado por
responsabilidade civil. Art. 159 do cc

II – Pródigos

É a pessoa que não tem noção perfeita de valores no mercado e pratica atos de
dilapidação de seu patrimônio. Desvairado e tresloucado, não tem percepção afinada no
setor econômico apenas.

Os pródigos só podem ser interditados pelo conjuge, ascendente ou descendente, ou


seja, por aqueles que estão diretamente ligados à sucessão de seus bens. Nem mesmo
o MP pode pedir a interdição.

A pessoa que requer a interdição do pródigo se torna o seu curador, impedindo assim,
qualquer ação de alienação de bens por parte do pródigo.

 Só poderá casar com separação de bens, e o curador será o seu conjuge.


 A interdição pode cessar se for comprovado que o pródigo está curado da sua
prodigalidade.
Isto se dá por SENTENÇA JUDICIAL.

lll - SILVÍCOLAS

São indígenas ou primitivos tidos como aculturados e que ainda não se inseriram na
civilização.

São tutelados pela FUNAI para protegê-los, de serem vítimas da civilização, na defesa de
suas terras, na defesa dos atos que praticam contra seus bens, etc... (são representados
por membros da FUNAI)

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 LEI 6001 – ESTATUTO DO INDIO

Quando o indio se torna apto para a vida em sociedade civilizada, termina sua tutela
(processo de aculturação)
ALIENAÇÃO – fazer p/ terceiro/TRANSFERIR ou TRANSMITIR para TERCEIRO.

Os direitos reais sobre a propriedade são usar, gozar, dispor e fruir – a alienação se
encaixa em fruir.

Formas de alienação

venda – alienante (vendedor), adquirente (comprador).


Formas de alienação:

Direta

 venda (alienação onerosa porque há uma contraprestação)


 doação (sempre gratuita)
 permuta ou troca (onerosa)
 dação em pagamento (quitação de dívida através da entrega de um bem para sanar a
dívida em dinheiro) (onerosa)
 transação
 compromisso

Alienação EVENTUAL – pode ou não vir a se concretizar.

mútuo = mutuários da CEF quando o imóvel fica hipotecado se o mutuário não pagar ele
perde a titularidade do imóvel.

penhor = usada para bens móveis

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Direito Civil I – 5° Aula 03/04/00

REPRESENTAÇÃO E ASSISTÊNCIA

Quando as pessoas são relativamente incapazes ou absolutamente incapazes, não quer dizer que elas
não possam adquirir ou transmitir direitos, mas não podem fazê-lo por si só.
Os absolutamente incapazes devem ser representados
Os relativamente incapazes devem ser assistidos.

Estudos de artigos do CC sobre a representação e a assistência

Art. 379 – não existe mais a expressão “filhos legítimos”


São reconhecidos como filhos de 3 maneiras:
- na própria certidão de nascimento (previsto na CF e no ECA)
- por testamento
- outro documento qualquer
O pátrio poder exercido pelas mães era substitutivo, ou seja, somente na falta do pai.
A CF de 1988 noArt. 5°, inciso I e no Art. 226 § 4°, traz a igualdade para as mães, não havendo
nenhuma distinção no que diz respeito aos direitos da família.
Pátrio poder = dever jurídico dos pais de gerir os direitos dos filhos.

Art. 384 inciso V – divisão entre representação e assistência legalmente imposta

Art. 387 – quando interesses de pais e filhos forem divergentes, o juiz, a requerimento do filho ou
do MP, lhe nomeará curador especial, para evitar qualquer prejuízo aos interesses do filho.

Art. 426 inciso I – as atribuições do tutor, em casos de:


- falecimento de ambos os pais
- ausência dos pais
- destituição do pátrio poder por sentença judicial

Representar o menor até os 16 anos na vida civil e assisti-lo após esta idade até os 21,
nos atos em que for parte.

Art. 9 § 1° inciso I – Adquire-se a maioridade aos 21 anos, tornando-se o indivíduo plenamente


capaz na vida civil.
Está revogada a parte que diz “ouvido o tutor” – pois neste caso, a emancipação será dada pelo juiz.

Emancipação ou antecipação da maioridade – situação jurídica excepcional que justifica que o


menor, antes de completar os 21 anos, possa ser considerado maior.
A emancipação voluntária se dá quando o jovem, ao completar 18 anos, a recebe por concessão de
seus pais.
Deverá ser feita uma declaração expressa dos pais (pode ser instrumento particular), devendo ser
registrada na mesma circunscrição onde foi realizado o assentamento de pessoa natural.

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Não há renúncia do pátrio poder (este é irrenunciável), mas uma concessão voluntária de
emancipação, para agir como maior.

Art. 183
Para casar com menos de 21 anos é necessário permissão dos pais ou tutores e curadores, e se for
maior, de seus curadores, sendo a pessoa absolutamente incapaz.
Os assistidos (relativamente incapazes) e os representados (absolutamente incapazes), que desejem
se casar, podem requerer aos juízes (se menores ao juiz da Infância e Juventude, se maiores ao juiz
de família), uma sentença para substituir a vontade de seus pais, tutures e curadores, caso eles sejam
contra. Com a sentença positiva dada pelo juiz, esses menores fazem o pedido de habilitação para o
casamento na circunscrição de seus domicílios.

O mesmo processo se dá no caso de marido e mulher, quando casados sob qualquer que seja o
regime de bens (mesmo o da separação absoluta), que desejem vender ou alienar com hipotecas
bens imóveis. Ambos devem assinar. Caso um deles não queira, o outro pode pedir ao juiz de
família uma sentença de substituição de vontade (do outro) para que possam realizar o negócio.
O objetivo de se negar a assinatura seria assegurar futuramente a sucessão para os herdeiros
necessários (ascendentes e descendentes).

Art. 183 inciso XII


Idade núbil – é a idade mínima exigida para se casar pelo Direito Bras., que é de 16 anos para as
mulheres e 18 para os homens. Abaixo dessa idade só com ordem judicial, para efeito de gravidez e
para evitar o cumprimento de pena. Algumas vêzes o juiz determina a separação de corpos até que a
menor atinja a idade de 16 anos.
Entretanto, com menos de 21 anos, podem casar com a anuência de seus pais, tutores e curadores.
O casamento emancipa, logo os menores que se casam, imediatamente passam a ter a maioridade.
Também quanto ao regime de bens no casamento as mulheres só podem escolhê-lo até os 50 anos,
acima disso o regime de separação de bens é imposto; entretanto, os homens podem escolhê-lo até
os 60 anos.
Esses limites são colocados por interesse público, e não por interesses individuais.

Art. 9 - Consegue-se a maioridade:


 ao exercer um emprego público
 com a colação de grau em ensino superior reconhecido pelo MEC.
 pelo estabelecimento civil e comercial com economia própria
 com o serviço militar

Art. 10 - a existência da pessoa natural termina com a morte


 Morte Real –
 Morte Presumida - ocorre quando alguém torna-se ausente juridicamente, ninguém sabe onde se
encontra este indivíduo.
Se essa pessoa deixou bens que precisam ser administrados, seus pais, filhos ou conjuges podem
requerer ao juiz uma administração provisória de seus bens. Durante um ano são publicados
editais, caso ele não apareça neste período, seus sucessores podem pedir ao juiz a sucessão
provisória e fazem uma caução-garantia em favor do desaparecido assegurando a entrega dos
bens caso ele apareça.
 Morte Civil - não existe mais. O indivíduo, embora existisse fisicamente, era civilmente morto.
Não podia possuir bens ou patrimônio. Só tinha a roupa do corpo, ou seja, podia até ser morte
por qualquer pessoa sem que esta pessoa tivesse problemas.

PERGUNTA - Se com a morte termina a personalidade civil, e se com o fim desta, também se
extingue a capacidade de direito/gozo e de agir/fato, obviamente este indivíduo deixou de ser
pessoa. Se ela não é mais pessoa, pode-se entender que ela é objeto de direito?
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RESPOSTA - A pessoa que morre é coisa, é objeto de direito. Entretanto não se pode vender o
corpo ou comercializá-lo, mas se pode doar os órgãos com o consentimento da família. Logo, é
coisa e ninguém duvida, mas como foi, em vida, um titular de direitos, não se admite que possa ser
objeto de comércio. Contudo mantém seus direitos de imagem.

Pessoa Jurídica tem personalidade jurídica são sujeitos ou titulares de direito


podem adquirir, transferir, etc., direitos subjetivos e contrair obrigações.

Outras denominações – pessoa moral, pessoa social ou pessoa coletiva


Pessoa Jurídica
Conceito – reunião de pessoas de patrimônio que se juntam por um objetivo
comum

Externo Soberania
Autodeterminação
Direito Público
União, Estados Membros, Municípios, DF,
Interno Autarquias, Fundação de Direito Público,
Entidades Paraestatais

Classificação da
Pessoa Jurídica Associação de utilidade pública
Sociedades Civis (literárias, pias, c/ fins lucrativos)
Sociedades Comerciais – animus lucrandi
Direito Privado Empresas Públicas
Sociedades de Economia Mista
Partidos Políticos
Fundações

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Direito Civil I - 6ª Aula Rio 10/04/00

Associações - s/ fim lucrativo


Sociedades civis - c/ fim lucrativo - todos aqueles constituídos por prestadores de serviços
- s/ fins lucrativos - possuem objetivo
As sociedades civis podem revestir-se das modalidades de sociedade comerciais,exceto a sociedade
anônima, que será sempre uma sociedade mercantil.
Art.1364 - todas as sociedades com modalidade comercial, serão registradas no Registro Civil.
lei 6015/75 art.114, II

Lei 5.764 de 16.12.71 (Art.18 § 6º ) fala do arquivamento


As soc. Cooperativas não podem ter fins lucrativos (Art.3º)
Assembléia geral ou Instrumento Público (art.14º)
Arquivamento (art.18 § 6º)
Empresas Públicas
Sociedade de Economia Mista são ambas pessoas jurídica de direito privado - Decreto 200 e
Art.16 cc

Lei 6.404 rege as S.A.

Representação das pessoas jurídicas - Art. 17 cc

Art.20cc - tem distinção de vida e de patrimônio

THE DISREGARD OF THE LEGAL ENTITY ou LIFTING THE CORPORATE VEIL.


Isto está previsto no Art. 28 da Lei 8078/90 Código do Consumidor

FUNDAÇÕES
É um patrimônio s/ sujeito ou titular de direitos, ao se extinguir seu patrimônuio vai para outra
Fundação.
Não terá finalidade lucrativa e constitui uma exceção às demais pessoas jurídicas.
São societas bonorum

pessoa natural
Instituidor pessoa jurídica de direito público- fiscalizada pelo TC
pessoa jurídica de direito privado

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Direito Civil I - 7ª Aula - 08/05/00

FATO JURÍDICO

Antes de entendermos o que é fato jurídico, temos que entender o que é fato.
Fato é todo acontecimento, todo evento, tudo que sucede, tudo o que ocorre é um fato. Logo,
qualquer tipo de acontecimento é um fato.
Fato Social é todo o acontecimento ou evento, ou seja, tudo o que ocorre na sociedade.
Quando um fato social passa a ser jurídico?
O que acarretaria um fato social em sua conversão em jurídico?
Nem todos os fatos sociais podem converter-se em fatos jurídicos. Porém, todo fato jurídico
é um fato social.
Sem direito não há sociedade, logo todo fato jurídico é um fato social. É um evento que
produz efeito, que ocorre na sociedade.
Alguns fatos sociais convertem-se em fatos jurídicos e são inseridos no Ordenamento
Jurídico.
Como é que esta conversão acontece?
Através da norma jurídica e de um dispositivo legal. O fato social que for relevante
(importante, necessário) para o direito, por ter sido reconhecido como um fato conveniente, passa
então a produzir efeito jurídico, ou seja há aquisição, modificação ou extinção de direitos. Um ou
outro, ou ambos as mesmo tempo.
Porém, isso não existe isoladamente. O mecanismo é legislativo, é através da CF, através de
projeto de lei que transforma-se em lei, etc.
Evidente que é preciso haver clamor social para que certos tipos de conduta sejam
transformadas em normas jurídicas via a exteriorização: lei ordinária, decreto lei, etc.
Essa transformação deveria ser sempre o resultado de um anseio social. Deveria ser sempre
através dos costumes, mas no Brasil é alcançado pelo anseio, pelo clamor social, principalmente
aquele veiculado pela media.
Assim, podemos observar que um fato social não tem importância no universo jurídico até o
momento em que ele não cria nem transforma direitos. Mas a partir do momento em que ele atua
transformando os pilares do direito, ele passa a ser um fato jurídico.
Ex: Está alguém atravessando a rua e um mendigo pede esmola e o transeunte nega. Isso é
um fato social.
Mas, se nesta mesma cena, o transeunte empurra o mendigo, este cai e quebra a testa, passa
a ser um fato jurídico.
Então, o fato passa de social para jurídico. Houve a lesão da integridade corpórea do
mendigo. Pois aí, alguns valores foram violados e atingidos, passando a ter uma manifestação de
direito.

Fato Jurídico em sentido estrito (“STRICTO SENSU”) ou


Involuntário
Fato Jurídico Ato Jurídico em
Ato Jurídico sentido estrito
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(“STRICTU SENSU”)
“LATO SENSU” Fato Jurídico em sentido amplo
Negócio jurídico ou
Humano (“LATO SENSU”)
Ato jurídico
ou ou Lícito
em sentido amplo Voluntário
Ato Ilícito Penal
Civil

FATO JURIDICO LATO SENSU OU SENTIDO AMPLO (ou genérico, abrangente).

Quer dizer que sempre que um fato social é relevante para o Direito - porque é inserido no
ordenamento como norma de conduta, norma jurídica e, através de dispositivo legal é capaz de
produzir efeito jurídico de aquisição, modificação e extinção de direito - nós temos um FATO
JURIDICO LATO SENSU.
Ex: Um homícidio, um contrato de compra e venda, a cobrança de imposto são FJLS. Seja
penal, administrativo, comercial ou internacional será sempre um FJLS.
Portanto, a características principal do FJLS é ser um fato social , um evento, um
acontecimento na sociedade relevante para o direito que produz efeitos jurídicos de aquisição,
modificação e extinção.

Quanto à origem os Fatos Jurídicos de Lato Sensu podem ser:


- Involuntários - um acontecimento natural fora da vontade do homem.
- Voluntários - teve a participação da vontade do homem. Ato volitivo é o ato manifestado
pela vontade (voluntas voluntatis)

FATO JURÍDICO INVOLUNTÁRIO OU STRICTO SENSU

Têm por gênese um acontecimento natural, fora da vontade do homem. Por serem alheios à
vontade, trata-se de um fato e não de um ato. Não se pode evitar que aconteçam. São oriundos dos
efeitos da natureza ou por iniciativa de terceiros. Apesar de não termos participação neles produzem
efeitos previstos em lei. Exemplos:
 Fatos ligados ao tempo (idade, maioridade, etc.);
 Acontecimentos ordinários (vida, morte não provocada, etc.); e
 Acontecimentos Extraordinários (decorrentes de caso fortuito ou força maior).

Os acontecimentos naturais podem ser dividos em duas espécies:


- ordinários - acontecem habitualmente, são muito comuns.
- extraordinários - acontecem excepcionalmente e se caracterizam pela imprevisibilidade
e pela inevitabilidade, podendo aparecer juntos ou isolados.

Acontecimentos ordinários acarretam efeitos jurídicos de aquisição, modificação ou


extinção de direitos para várias pessoas que não podem impedir que aconteçam. Exemplos:
- nascimento - nasce com vida , adquire direito, se morrer transmite),
- morte - perde direito, deixa de ser titular do patrimônio, porém transmite direito para os
herdeiros.
- a prescrição e a decadência - o decurso do tempo previsto em lei faz com que alguém
seja meramente possuidor de um bem ou perca o direito de ser o possuidor desse mesmo bem - um
imóvel - deixando que o tempo passe, é o caso do usucapião (na prescrição) ou da perda do direito
de agir (na decadência).

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- a contigüidade de imóveis - os imóveis vizinhos. Você não pode querer que alguém não
seja seu vizinho, que alguém construa ao lado, na frente , atrás... Isso é impossível de ser evitado.
Todos são fatos jurídicos lato sensu acontecimento natural ordinário - alguém perde direito,
outro ganha.

Acontecimentos extraordinários - trazem em si a imprevisibilidade e a inevitabilidade - os


atos do governo (ato do Príncipe) que vêm através da força de quem detém o poder político. Ex:
Collor e Zélia no confisco da poupança.
- Caso Fortuito e Força Maior - são questões complexas que estão descritas no art. 1058
do CC.
O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir - inevitabilidade e imprevisibilidade
Servem como força de exclusão de punibilidade. Ex: tinha que viajar para cumprir a
prestação, mas teve greve de avião.
A jurisprudência não considera mais casos fortuito ou de força maior, alegar que não pode
viajar por causa da chuva de verão no Rio, que alagou a cidade. Porque este fato deveria ser
previsto, já que ocorrem temporais desse tipo todos os anos.
Sendo assim, você perde a ação, pois só vale quando é inusitado. Se acontece várias vezes, o
homem age com culpa, imprudência e negligência.
Contudo, um seqüestro em Valença será considerado caso fortuito ou de força maior, pois
não é algo previsível.

FATO JURÍDICO HUMANO OU VOLUNTÁRIO

Quando há participação da vontade do homem ou voluntariedade na origem do fato. Por tal


razão, trata-se essencialmente de ato e não de fato, passando então a se chamar ato jurídico lato
sensu ou sentido amplo. Exemplo: o contrato, o qual depende da manifestação da vontade das
partes.
Os fatos acontecem, os atos são praticados.
Eles existem em duas formas:
- Ato Jurídico Lato Sensu ou Lícito - quando é praticado de acordo, ou previsto, ou
permitido pelo ordenamento jurídico.
- Ato Ilícito - é aquele não previsto em lei. Quando é praticado em detrimento ao
princípio de que ninguém pode causar dano a outrem. Previsto no Art. 159 do CC.

ATO JURÍDICO LATO SENSU OU LÍCITO

Se subdivide em:
 Ato Jurídico em Sentido Estrito ou Stricto Sensu -
 Negócio Jurídico ou Ato Jurídico

O termo negócio jurídico não foi aceito por Clóvis Beviláqua (na criação do CC ) mas no
Art. 81, quando ele define ato jurídico é o mesmo conceito de negócio jurídico.
Em ambos temos a participação da vontade do homem, ambos são lícitos, ambos são espécie
de atos jurídicos.
Ato Jurídico Stricto Sensu - Art. 81 do CC - refere-se à prática do próprio ato, para
produzir os efeitos jurídicos já previsto em lei. Ao se praticar o ato, os efeitos decorrentes da prática
desse ato não são resultado de uma manifestação de vontade, porque esses efeitos já estavam
previstos em lei, regulamentando todas as vezes que uma pessoa praticar tal ato.
Sempre que alguém praticar aquele ato jurídico strictun sensun automaticamente
desencadeia uma série de efeitos jurídicos já previstos na lei. Exemplos:
 Reconhecimento de filhos na certidão, gera efeitos patrimoniais e pessoais
Patrimoniais - com a morte dos pais , passa o filho a ser sucessor e herdeiro legítimo
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Pessoais - usar o nome do pai e mãe, alimentação, ( também não foi você quem criou)
 Casa abandonada - res nulius - no momento que alguém passa a ocupá-la, essa pessoa é
a nova possuidora. Pelo Art. 485, se ela ficar 20 anos ocupando a casa, ele poderá entrar
com uma ação de usucapião (não foi ele que criou essa lei)
 Casamento, Art. 194, a autorizada fala o que está na lei.
 Fixação de domicílio - no momento em que se estabelece a residência, se recebe amigos,
correspondências, etc., está fixado o domicílio (você escolhe o local) mas está previsto em
lei que é ali sua residência.
 Um navio afunda e bate numa caixa com ouro e o capitão pega o ouro para ele. É um
direito de invenção = encontrar.
Você vai se limitar a praticar o próprio ato, não decorrerá de sua vontade os efeitos gerados
por ele.

Negócio Jurídico ou Ato Jurídico - Art. 81 do CC - se caracteriza pela vontade do homem


com objetivo de adquirir efeitos jurídicos garantidos pela lei. É uma vontade livre e determinada
para atingir seus objetivos. Entretanto neste caso, há liberdade de escolha para a produção de
efeitos. Exemplo: pacto antenupcial e venda de imóvel. O vendedor quer o preço, o comprador quer
o imóvel.
Todos os contratos são negócios jurídicos porque há um ajuste de vontade para se alcançar
um determinado efeito a ser atingido.
Existem alguns negócios jurídicos que não são contratos, porque apesar de a vontade da
pessoa ter um objetivo determinado e específico, não há ajuste de vontade. Ex: o testamento é um
negócio jurídico, porque quem o faz tem por objetivo deixar algum bem para alguma pessoa após a
sua morte. Não há acordo nem ajuste, mas tem um objetivo certo - transmitir o bem (efeito). É um
negócio jurídico, mas não é um contrato. Não há ajuste de vontade.

Os Contratos podem ser:

- Gratuito - só há ônus para um dos contratantes - Ex: doação - Art. 1165 do CC


- Oneroso - há ônus para todos os contratantes - Ex.: compra e venda
- Unilateral: quando tem ônus para somente uma das partes.
- Bilateral: o vendedor tem o direito de receber o preço, o comprador tem o direito de
receber o imóvel. O direito de um é o dever do outro.
- Consensuai - se manifesta apenas pela vontade das partes. Ex.: compra e venda
- Reais - além da manifestação da vontade existe a obrigação complementar de entregar o
bem. Ex.1: no depósito, o depositante tem que entreguar o bem ao depositário no tempo
acordado. Ex.2: no contrato de comodato, um bem infungível (imóvel) é gratuitamente
entregue a uma pessoa para que esta o utilize por um certo tempo e devolva depois no
mesmo estado e conservação.

Qual a natureza jurídica do contrato de compra e venda? Negócio jurídico bilateral,


oneroso, consensual
E da Doação? Negócio jurídico unilateral, gratuito

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Direito Civil I - 7ª Aula - 15/05/00

BENS

Objeto de direito - é todo aquele que pode ser pressentível na colocação pelo homem,
sujeitando-se portanto a todo exercício de direito que esse homem, titular de direito, pode exercer
sobre ele, obtendo vantagens, prerrogativas e benefícios que o ordenamento jurídico lhe permitir.

O Código Civil Brasileiro teria seguido uma orientação do Código Civil Alemão (Art. 90 do
BGB) quando denomina coisa a todo o objeto de direito que tenha existência material, concreta e
indiscutivelmente comprovada (móveis e imóveis); e reservaria a expressão bens para os objetos de
direitos que não têm corporeidade (direitos e obrigações).
Entretanto, se analisarmos com cuidado, observaremos que o Código Civil Brasileiro no Art.
54 fala em bens materiais e imateriais, não se tratando portanto de uma simples cópia do Alemão,
porque o nosso legislador criou uma certa alternativa nesta configuração, já que ele não se refere a
objeto de direito somente aqueles que tenham existência corpórea, como deveria ser, caso
seguisse ao pé da letra o Código Alemão.
Se analisarmos sob o ponto de vista da física, notamos que coisa é tudo aquilo que existe no
universo, seja corpóreo ou incorpóreo.
Então temos que coisa é gênero e bem é espécie.

Seguiremos analisando o Código Civil, utilizando a seguinte terminologia:


Bens - não têm corporeidade, são imateriais e têm realidade jurídica
Coisas - têm corporeidade, são materiais e têm realidade física

Patrimônio - é o complexo de indivisível de bens ou relações jurídicas, envolvendo direitos


e obrigações e avaliado pecuniariamente.
Esta definição dá margem à dúvida, pois neste caso não seriam considerados como
patrimônio os direitos da personalidade, os direito de família, os direitos fundamentais, etc. - que
em princípio são inestimáveis, mas que obviamente, poderão ser suscetíveis de avaliação
pecuniária, caso violados. Entretanto, segundo o próprio conceito de patrimônio, claro está que
esses direitos não fazem parte dele, já que não podem ser avaliados pecuniariamente.

Bens quanto à configuração física - Arts. 43 à 57

Art. 43, inciso I - foi derrogado pelo Art. 20, incisos VIII à X da CF no tocante ao espaço
aéreo e ao subsolo. O Art. 526 do CC teve sua interpretação mudada pelos Arts. 176 e 177 da CF. O
Decreto Lei 271 de 28/02/67 em seus Arts. 7 e 8 faz ressurgir o direito de superfície.

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Casos de Ficção: árvores são imóveis quando fixadas ao solo, quando retiradas do solo
(toras de madeira) passam a ser móveis. Os frutos, enquanto na árvore são imóveis por natureza,
após colhidos são móveis.
inciso II - a semente plantada é considerada bem imóvel por acessão física artificial,
conquanto que possua caráter permanente.
inciso III - bens exploradas na propriedade agrícola ou industrial, tornam-se imóveis por
acessão intelectual no momento em que ingressam no complexo. Quando estão na loja ou sendo
transportados são bens móveis. O mesmo acontece com o gado em relação à fazenda agrícola e a
máquina de costura em relação à fábrica de roupas.
Observar que para um bem adquirir a natureza jurídica de bem imóvel por acessão
intelectual é necessário que o proprietário, intencionalmente, o empregue em seu negócio.
Art. 45 - a qualquer momento, porém, estes bens podem deixar de ser imóveis e retornarem
à mobilização.
Art. 46 - o que se tira de um prédio para novamente nele incorporar, pertencerá ao imóvel e
será imóvel. Se numa demolição o material não for mais empregado em reconstrução, então será
considerado móvel.
Art. 47 - define os bens móveis, semoventes e móveis propriamente ditos.
Art. 48 - classifica-os em: móveis por natureza, por antecipação e por determinação legal.
Art. 49 - trata do aspecto móvel (enquanto material isolado) e imóvel (quando aderidos a
obra) dos materiais de construção.
Art. 50 - bens fungíveis (os móveis em geral) e bens infungíveis (móveis e imóveis). Repare
que será infungível a obrigação de fazer quando ela requerer a atuação personalíssima (qualidades
pessoais ou habilidade técnica) do devedor.
Art. 51 - bens consumíveis: terminam com o primeiro uso; e bens inconsumíveis: podem ser
usados continuadamente.
Art. 52 e 53 - coisas divisíveis: podem ser fracionadas em partes homogêneas e distintas,
sem alterar suas qualidades essenciais; e coisas indivisíveis: não podem ser fracionadas sem que
haja uma alteração em sua identidade.
Em relação à indivisibilidade das coisas, ver Arts. 707 (servidão), 757 (hipoteca) e 889
(obrigação indivisível das coisas) do CC.
Art. 54 - inciso I - classifica as coisas singulares em:
Simples - materiais (corpóreas) e imateriais (incorpóreas)
Coisas Singulares
Compostas - materiais (corpóreas) e imateriais (incorpóreas)
inciso II - coisas coletivas ou universais.
São as constituídas por várias coisas singulares, consideradas em conjunto, formando um
todo único, que passa a ter individualidade própria, distinta da dos seus objetos componentes. Se
apresentam como:
- universalidade de fato: conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos. Cada uma
das partes continua tendo suas características peculiares. Ex.: biblioteca, rebanho, galeria
de quadros, etc.
- universalidade de direito: constituída por bens singulares corpóreos heterogêneos ou
incorpóreos, a que a norma jurídica dá unidade com o intuito de produzir certos efeitos.
Aqui, não se pode separar o bem do todo. Ex.: o patrimônio, a herança, etc.
Art. 55 - nas coisas coletivas, se desaparecer o todo, menos um, estará extinta a coletividade,
mas não o direito sobre o remanescente.
Art. 56 - sub-rogação real do bem coletivo. Significa dizer que se for retirado um bem da
universalidade de direito para ser vendido, a contrapartida, ou seja, o dinheiro que entrar continuará
mantendo intacta a universalidade.
Art. 57 - patrimônio e herança são universalidade de direitos.

Bens reciprocamente considerados - Arts. 58 à 64

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Art. 61 - bens acessórios do solo
Art. 62 - as benfeitorias são acessórias, exceto nos casos dos incisos I, II e III

Bens públicos e privados - Arts. 65 à 68

Art. 65 - conceito dos bens públicos


Art. 66 - classificação dos bens públicos: de uso comum do povo, de uso especial e
dominicais. Veja Lei 7661/88

Coisas fora do comércio - Arts. 69

Art. 69 - coisas que estão fora do comércio ou bens inalienáveis

Bem de família - Arts. 70 à 73

Art. 70 - Veja Lei 8009/90

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