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CARTA PARA QUEM ATUA

CARTA PARA PNEUMÁTIQUES

CARTA PARA ATRIZES E ATORES

CARTA PARA ATRIZES E ATORES PNEUMÁTIC_S

Respirem, pulmoneiem!
Pulmonear não é deslocar o ar, gritar, inflar, mas pelo contrário. Pulmonear é usar todo o ar
que se inspira. Gastá-lo todo antes de se inspirar de novo.
Pulmonear é alcançar o final do fôlego, chegar até a asfixia do ponto final da frase. Percorrer a
abertura e o fecho da palavra com um ataque certeiro dos dentes, dos lábios e da boca.

Devemos comer o texto para que a platéia ouça a mordida e a deglutição da palavra, e se
pergunte o que está sendo comido no palco.
- Quê que estão comendo? Estão se comendo?!
AÇÃO 01 - Mastigação, sucção, deglutição.
Alguns pedaços de texto devem ser mastigados. Outros pedaços devem ser logo tragados,
deglutidos e engolidos. Pulmoneados de uma só vez.

Boa parte do texto deve jorrar num sopro só, sem retomada de fôlego. Nada de guardar umas
reservinhas de ar, nada de ter medo de perder o fôlego! Parece que é assim que se consegue
achar o ritmo: atirando-se em queda livre.

Nada de cortar tudo em “fatias inteligentes”. Nada de recortar seu texto igual salame para
acentuar certas palavras e carregá-las de intenções. Nada de reproduzir a tarefa de
segmentação da palavra que se aprende na escola.

AÇÃO 02 - “Aluno inteligente” que recorta frase em sujeito-verbo-predicado, exercício de


segmentação da palavra”.
Antes de tudo isso, a palavra forma uma espécie de tubo de ar, um cano de esfíncter, uma
coluna com descargas irregulares, espasmos, ondas cortadas, escapamento e pressão.
Onde fica o coração? Será que é o coração que bombeia e faz tudo isso circular?...
O coração de tudo isso está nos músculos do ventre. São esses músculos que apertam as
tripas e os pulmões. O ventre serve para defecar ou acentuar uma palavra.
Não adianta bancar o inteligente. Você tem é que botar os ventres, os dentes e as mandíbulas
pra trabalhar!

AÇÃO 03 - “O trabalho de acentuar a palavra”.

Por que se é atriz?


Por que se é ator?

Só atua quem não consegue viver no corpo e no sexo imposto. Porque temos um corpo novo
que quer falar. Nossos corpos são uma ameaça às normas ditadas ao corpo. E se estamos no
teatro, é porque tem algo que a gente não suporta. Todo e qualquer teatro age sempre e com
muita força sobre os cérebros, abala ou perpetua o sistema dominante.
O fim do sistema urge! O fim deste sistema de reprodução vigente tem que urgir! Porque quem
domina têm interesse em fazer nossa matéria desaparecer. Querem suprimir nossos corpos
e acabar com o lugar de onde se fala.

Quem domina nos faz crer que as palavras caem do céu, que elas são apenas pensamentos
inofensivos e não corpos. Coragem! Vamos desmontar esta velha mecânica social! O teatro é
um estrume rico!

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