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José Mestre
Turma A
Introdução/Escolha pessoal
Das qualidades que destaco mais em Eddie Daniels seriam o seu som
redondo e controlado e fácil projecção, tanto como a sua grande
capacidade de execução e precisão técnica (“fast-runs” ou saltos
intervalares, especialmente em tempos rápidos mas também em baladas)
e de construção de ideias (harmonicamente “avançadas”), o que resulta
num estilo bastante melódico e de percepção “effortless”.
Grava albums com Freddie Hubbard (tp), Richard Davis (b), Don Patterson
(or) e Bucky Pizzarelli (g), até se especializar mais no clarinete de jazz e a
sua “big-break” no mesmo com o album “Breakthrough” (GRP) de 1984,
que mistura e faz a ponte entre ambos os estilos de música, jazz e clássica
(Post-bop, Third Stream).
Trabalhou com a Gordon Goodwin's Big Phat Band (“Swingin' for the
Fences”), Gary Burton (“Benny Rides Again”), Putte Wickman (“Two of a
Kind” - 2002), Buddy DeFranco e Rolf Kuhn (“The Three Sopranos” - 2003)
e mais recentemente lança os albums “Just Friends – Live at The Village
Vanguard” (1988) ainda com Kellaway e “Heart of Brazil” (2018), com Ted
Nash e o Harlem Quartet.
Links audio:
Harmonia:
Notas:
Outro centro tonal (falso) poderia ser F concert (Gmaj – cl). Aqui Fmaj7 presente no
A resolve para o início do B (ii-V-I/IV com sub tritónica no V7/IV- F#13(#11) em vez
de C7), e do A. Outros possíveis centros tonais seriam Abmaj7/Abmaj7(#11)
(jónio/lídio na 2ª parte do B), e Em7 (dórico ou menor harmónico no 2-5-1 menor do
B).
Modos presentes tanto no tema como nos solos:
- Jónio;
- Dórico/Dórico #11;
- Frígio/Frígio dominante;
- Lídio; Mixólidio; Eólio;
- Lócrio/Super-lócrio (escala alterada).
Ritmo:
– No tema inicial:
- secção ritmíca e clarinete sincronizados no início dos A's e fim do B (mesmo
rítmo/homofonia);
- Piano em comping (sincopado) durante tema e solos de cl.
- Ritmo do baixo entre o ritmo da melodia e ritmo do comping do piano;
Algumas figuras rítmicas presentes (tema e solos):
– 1º Chorus:
- Secção rítmica:
- piano em comping; baixo passa para walking bass (que não fazia no tema
inicial).
– Clarinete:
- começa em swing com um feeling quase lay-back e simples;
- a 1ª frase do compasso 1 ao 4 começa com um padrão 3-5-6-7 de A-7,
continua para o 7 de E-7 e uma triade descendente de Emaj7, seguido de
enfase no #11 e b9 que resolvem em 5 e 3 de Cmaj (#11 C# = 5/Cmaj7);
- a 2ª frase é um motivo melódico do IV → 6-(5-3-5-7); o mesmo padrão
5-3-5-7 repete 2x, na 2ª com uma ornamentação bluesy (7-1-2-3-1-2-1-1);
- a 3ª frase é uma frase longa de arpejos (triades e quatriades) que realçam a
harmonia:
- a 1ª liga em sincopa uma triade de A-7 na 1ªinv a uma quatriade Cmaj9
(que deixa implícito a triade de A-7 mais quatriade de E-7), a uma tríade
diminuta de C#, e depois a 1ªinv da triade de Cmaj (ou um Bm7b5 rootless).
– A 4ª frase começa em 3-1-5 do Ivmaj seguida de tríade descendente de E,
seguido duma enclosure (b3-9-b9-b3) que resolve no 5 de A-7. Segue um
motivo melódico “bluesy” de semínimas (5-1-3-5, 4-5-b5-b6-b5).
– A 5ª frase repete o motivo de triade/quatriade descendente na 4ª frase 3
vezes, e entre estas dá enfase a algumas extensões (13/b9-#11-13) dos
acordes (tríade G# desc → b7-b3-13-b9 → b9-> quatriade G7 desc → 5-b9-
#11-> quatriade aumentada Fmaj+7).
– A frase 6 liga uma enclosure (7-9-b9-1) a triade de C (3-5-1) e daqui a uma
escala cromática que realça o 5 do IV tríade de G. O mesmo motivo aparece a
seguir transposto (triade C6).
– O chorus acaba em notas longas com enfase no 1 e 3 de Cmaj (uso de bends).
– 2º Chorus:
– Ainda com a high note da frase anterior, segue para um 6-3-1 (triade
de C#o na 1ª inv), que repete no mesmo rítmo (6-5-b3) para acabar a
frase em 5-3-1-2 de Cmaj7;
– A 2ª frase deste chorus nº2 aparece em grupos de 2 colcheias de
tercina (quase alusivas a uma escala de bebop Cmaj) a resolver num
1 (A) longo que repete em ritmo bluesy (bends);
– Frase 3: a seguir uma frase com um motivo melódico repetido várias
vezes ( tercinas de semicolcheia que resolvem em chord tones),
seguido de outro motivo melódico (blues) em tercinas de seminima
síncopadas que resolve no 9 do acorde seguinte (Fmaj7);
– Frase 4: Novamente repete o motivo tercinas de semicolcheia, que
desenvolve nos compassos a seguir esta ideia mas em tercinas de
colcheia; entre esta ideia ouve-se voice-leading ascendente (1-b9-
b3-3-9) até ao fim desta frase;
– Frase 5: Em resposta desta última frase, um frase diatónica alusiva à
melodia do tema (9-1-7-6-7| 7-5-4-3-b9-5-5|); em resposta as
tercinas de colcheia novamente no 6 de F/G;
– Na última frase do B junta-se um padrão de 3m/3M a uma escala de
bebop dominante ascendente (C7 bebop);
– Repete novamente a ideia de semínimas da frase 5 (notas
curtas/notas com bends), com um padrão 5-3-7-6, seguido de 1
triade maior (Cmaj 1ªinv ou 1-b6-b7 de E-7) e um motivo diminuto
(tríade C#o), que resolve num 6-5-3-2-1 de Cmaj7.
– A última ideia é em estilo “one note solo” ( C ), dando a ideia de
kicks da bateria (síncopado).
Apesar de não muito complexo em termos técnicos, Daniels apresenta um solo
bastante lírico com um “bluesy” layback swing, baseado em motivos
melódicos/padrões simples sempre alusivo a melodia do tema, mas com bastante
variedade ritmica (tercinas colcheia/semicolcheia, síncopas) várias
repetições/desenvolvimento motívico, long notes (high notes) e bends (uma
provavel alusão a um recurso comum na swing era), e enclosures ou escala bebop
(motivos de bebop).
Também prevalece a junção de 1 ou 2 ideias em frases um pouco mais longas (4/5
compassos). Na harmonia Daniels parece dar maior enfase a triades (M, +, - ou o) e a
extensões dos acordes (“grace notes”). Outro aspecto é o som focado e compacto de
Daniels, com bastante controlo – timbre escuro nos graves e rendondo nos
médios/agudos (não demasiado brilhante).
Solo Piano:
Aqui Billy Childs intervala entre figuras rítmicas ou motivos do bebop (tercina-escala
bebop) e motivos melódicos (blues, tríades) alusivos ao tema. No geral o solo parece
ter mais uma “inside approach” de não fugir muito a tonalidade do tema, mas
também aparecem algumas fast runs seguidos destes motivos (algum “outside-
inside”), que aumentam a tensão e a libertam para os chord tones. Childs apresenta
grande facilidade e leveza técnica, tanto como de ideias bastante claras (e
desenvolvimento) que aludem a um solo com maior influência de bebop/post-bop e
bastante “swing feeling”.
Depois de mais uma reexposição do tema, Eddie Daniels parte para um 2º solo de 1
chorus apenas, bastante influenciado pelas ideias anteriores do primeiro solo.
Outros exemplos de ideias neste chorus final:
• - enfase diatónico (chord notes, estilizado com bends)
• - ideias em tercinas (colcheia/semicolcheia)->enclosures->chord tones;
• ideias baseadas no modo super-lócrio descendente a resolver novamente em
chord tones, ou escala de bebop/crómatica descendente a resolver nestes;
• padrões 1-2-3-5 (Coltrane), que Daniels utiliza bastante.
• De novo enfase e, high-long notes em estilo bluesy antes do last time repeat e
fade out.