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DESPERTANDO L,O CORPO SAGRADO   

 
 
Os ​Nove ​L​UNG​ e Suas Ações Resultantes 

A  lista dos nove ​lung descreve padrões de vento e mostra a possibilidade de 
romper  com  determinados  padrões,  seja  na  sua  vida  individual,  seja  num 
grupo  mais  amplo  ou  padrões  de  vida  coletivos.  Portanto,  em  você  como 
indivíduo,  na  vida  familiar,  na  sociedade  em  geral,  ou  no  mundo,  existem 
padrões  que  podem  ser  discernidos  e  mudados.  Precisamos  trazer  estes 
ensinamentos para a realidade, porque é onde nós estamos. 
Os  ensinamentos  de  sabedoria  descrevem  um  caminho  para  a  iluminação 
completa.  Contudo,  nem  todos  estão  interessados  em  alcançar  a 
iluminação,  mas  a  maioria  de  nós  quer  ter  alguma virtude na vida. E isso é 
motivo  suficiente  para  refletir  um  pouco  mais  detalhadamente  sobre  o 
vento e a mente e sobre o que estes ensinamentos têm a oferecer. 
Veremos  a  seguir  uma  relação  simplificada  dos  nove  ​lung​, ou ventos, e das 
ações que resultam deles, do sutil para o denso. 

1. O  ​lung  do  espaço  da  natureza  bõn:  reside  na  natureza 


essencial. 
**> 
2. O  ​lung  da  bem-aventurança  da  sabedoria  primordial:  desperta 
a sabedoria. 

3. O  ​lung  da  consciência  inata  auto-surgida:  repousa 


espontaneamente na natureza da mente. 

4. O  ​lung  do  cavalo  da  mente:  provoca  movimento  de 


pensamentos. 

5. O  ​lungàdi  força  do  karma:  determina  a  direção  de  qualquer 


transição. 

6. O  ​lung  das  aflições  mentais  grosseiras:  causa  a  expressão  das 


emoções 
negativas (os cinco venenos: raiva, cobiça, ignorância, inveja e orgulho) 
7. O ​lung​ que perturba os humores do corpo: causa doença através do 
desequilíbrio das emoções negativas. 

8. O ​lung​ do poder da existência: constrói seres e seus ambientes. 

9. O ​lung​ destruidor da era: causa ações de destruição dos seres e de seus 


ambientes. 

A  fim  de  explorar  a  presença  destes  ventos  na  nossa  vida,  comecemos 
primeiramente  com  o  vento  mais  denso  e  passemos  progressivamente  para 
os ventos mais sutis, uma vez que os mais densos são mais óbvios. 

  O ​lung​ destruidor-da-era 
9.

Como  o  seu  nome  indica,  o  vento  destruidor-da-era  é  destrutivo.  Ele 


pode  se  referir  às  forças  coletivas,  como  os  medos  coletivos  que  levam  à 
decisão  de  ir  à  guerra  e  a  conseqüente  devastação  de  vidas  e  da  paisagem. 
Pode  se  referir  às  forças  do  materialismo  e  seus  efeitos  sobre  o 
meio-ambiente  global,  com  a  conseqüente  destruição  de  ecossistemas  e  da 
atmosfera  da  terra.  Ou  pode  se  referir  a  interromper  ou  terminar  um 
relacionamento,  ou  dar  fim  à  dor  que  se  sente  através  de  um  ato  violento 
como o suicídio. 

  O ​lung​ do Poder da Existência 


8.

Num âmbito individual, o ​lung do poder da existência pode se referir a um 
sentido  extremo  de  superidentificação  com  a  profissão  ou  status  na  vida,  o 
que  resulta  em  não  ter  flexibilidade  para  mudar.  Se  você  se  identifica  como 
uma  vítima  das  circunstâncias,  é  difícil  sequer  perceber  oportunidades  para 
mudança.  No  âmbito  coletivo,  as  sociedades  se  reúnem  em  torno  de 
sistemas  de  crenças,  slogans  de  campanha,  e  convicções  que  reforçam  uma 
ilusão de ser do jeito que as coisas são. 
7.   ​lung​ Que Perturba os Humores do Corpo 
O

O  ​lung  que  perturba  os  humores do corpo leva à enfermidade e à doença. 


Talvez  você  tenha  algum  tipo  de  enfermidade no seu corpo ou sinta alguma 
dor,  ou  você  teme  que  haja  algum  problema  ali.  Para  explorar  melhor  isto, 
comece  conectando-se  com  a  quietude,  o  silêncio  e  a  espaçosidade.  Deste 
espaço  aberto,  olhe  diretamente  para  a  sua  experiência  de  dor  ou  doença. 
Deixe  que  a  sua  mente  viaje  através  do  seu  corpo  para  uma  determinada 
área.  Às  vezes,  você  poderá  perceber claramente que a sua doença tem a ver 
com  a  sua  raiva,  apego,  ou  ignorância.  De  acordo  com  a  medicina tibetana, 
toda  doença  está  conectada  com  estes  três  venenos-raiz.  Mas  como  você 
pode  ter  certeza  disso?  No  mínimo  você  pode  ter  alguma  ideia  dessa 
associação, que será suficiente para trabalhar na meditação. 
Ao  trazer  a  atenção  para  a  sensação  de  dor  ou  doença,  conecte-se com a 
experiência  diretamente  e  faça  as  Nove  Respirações.  Se  você  tiver  tempo, 
respire  nove  vezes  para  cada  um  dos  três  canais,  totalizando  vinte  e  sete 
respirações.  Cada  vez  que  você  expirar,  faça  uma  ponte  consciente  entre 
essas  áreas  doentes  do  corpo  e  os  canais,  enquanto  você  libera  as  tensões 
daquela região do corpo, e direciona o ar através dos canais ao expirar. 
Quando  você  tiver  feito  a  parte  física  tangível  do  exercício  respiratório, 
volte  ao  mesmo  lugar,  levando  um  sentimento  de  abertura.  Com  abertura, 
observe  aquela  região  do  corpo;  viaje  internamente  pelo  corpo  novamente. 
Pense  por  um  momento  em  alguém  que  você  sente  que  é  o  seu  melhor 
amigo.  Quais  são  as qualidades desse seu melhor amigo, que fazem com que 
você  se  sinta  relaxado,  fazem  você  sentir  que  você  pode  ser  quem  você  é, 
fazem  você  sentir  que  pode  dizer  bobagens  ou  tolices?  Você  não  precisa 
fingir  ser  alguém  com  esta  pessoa;  você  simplesmente  relaxa.  Portanto, 
como  você  se  sente  pelo  fato  desse  seu  amigo ter um verdadeiro sentido de 
abertura  em  relação a você, e não o julgar,? Você se sente ótimo. Do mesmo 
modo  pense  que,  depois  do  exercício,  você  é  o  seu  próprio  melhor  amigo. 
Você  é  o  melhor  amigo  daquele  que  está  doente.  Você  é  o  melhor  amigo 
daquele que está experimentando dor. 
Nesse  momento,  olhe  com  atenção  aberta,  mesmo  que  seja  somente  por 
cinco minutos. Olhar para essa região deste modo ​é​ a cura. 
E  importante  continuar  e  repetir  esta  prática  até  você  se  familiarizar 
muitíssimo  com  esse  lugar  de  consciência  plena  aberta.  Normalmente  não 
fazemos  isso.  Ao  contrário,  nós  nos  envolvemos  num  monólogo  interno: 
“O  que  há  de  errado  comigo?”.  Quando  você  olha para aquela parte do seu 
corpo,  você  diz:  u​​ Estou  doente.  Este  é  o  lugar  da  minha  doença.  E  o  lugar 
da  minha dor. Este é o lugar do meu problema. E este que vai me dominar.” 
Há  alguém  que está enviando todas essas mensagens amedrontadoras àquele 
lugar  do  corpo.  Mas  agora,  aquele  que  está  olhando  não  é  mais  aquela 
pessoa  que  julga. É uma pessoa totalmente diferente. E um amigo. Como eu 
disse,  tenha  a  imagem  do  seu  melhor  amigo  para  sustentar  o  princípio  da 
consciência  plena  aberta.  E  claro,  para  ter  algum  grau  de  abertura,  fazemos 
as  Nove  Respirações.  Pode  ser  que  precisemos  fazer  mais  do  que  três 
respirações  para  cada  canal,  para  remover  nossas  tendências  de  repelir  ou 
apegar-se  à  nossa  experiência,  preencher  o  momento,  ou  desconectar-se 
totalmente,  a  fim  de  vir  a  este  lugar  onde  sentimos  abertura  suficiente  para 
simplesmente estar com nossa experiência. 
Logo  dizemos  que  expulsar  os  três  venenos  da  aversão/raiva,  apego/ 
cobiça,  e  ignorância  na  expiração  têm  tudo  a  ver  com  a  sua doença. Há um 
vento  que  causa  doença.  E  esse  vento  tem  uma  característica  dos  três 
venenos.  O  veneno  deixa-o  doente.  Logo  você  está  associando  sua 
experiência  dos três venenos com sua doença. Como resultado de expulsar o 
veneno  na  expiração,  você  sente  um  grau  de  abertura  e,  em  especial,  uma 
abertura  em  relação  às  suas  tensões,  dores e doença, que diminui a sensação 
de  estar  doente  e  libera  sua  identidade  como  alguém  que  está  doente. Você 
está permitindo que o melhor indivíduo emerja 
— a pessoa autêntica em si mesmo. Você permite que essa pessoa olhe. 
Essa  pessoa  traz  informação  e  energia  totalmente  diferentes  ao  lugar  da 
doença.  E,  então,  é  uma  questão  de  dez  ou  quinze  minutos  a  meia  hora,  a 
uma  hora,  quando  você  estabelece  um  padrão  regular  de  cinco  a  dez 
minutos por dia, até que esse se torne um padrão que permeia a sua  
vida.  Se  isso  se  tornar  um  padrão  em  sua  vida,  existe  uma  chance  muito 
maior de você curar a sua doença. 

6.   ​lung​ das Aflições Mentais Grosseiras 


O

Estivemos  tentando  reconhecer  a  frequência  de  certos  estados 


emocionais  em  nossas  vidas  e  reconhecer  que  alguma  coisa  está 
influenciando  nossas  emoções.  Por  exemplo,  considere  o  número  6,  o  ​lung 
das  aflições  mentais  grosseiras.  Ele  se  refere  às  cinco  emoções  negativas  da 
raiva,  cobiça,  ignorância,  inveja,  e  orgulho.  Elas  são  comuns  a  todas  as 
escolas  de  Budismo  e  são  conhecidas  como  os  cinco  venenos.  Entre  estes 
cinco venenos, nós já começamos a explorar os três venenos-raiz 
— raiva,  apego  e  ignorância.  Ioda  experiência  de  sofrimento  pode 
encontrar  sua  causa-raiz  dentre  estes  três  venenos.  Você  pode  saber  onde 
eles  se  manifestam,  pode  saber  como  se  sente  ao  experimentá-los,  e  pode 
também  refletir  sobre  a  sua  capacidade  ou  incapacidade  de  lidar  com  eles 
corretamente. 
Embora  você  possa  saber  que  estas  aflições  mentais  grosseiras,  ou 
emoções  negativas,  existem  em  você  e  influenciam  sua  vida,  você pode não 
estar  consciente  do  que  as  faz  provocar  esta  influência.  Que tipo de energia 
está  provocando  a  sua  raiva?  Pode ser que você nunca tenha prestado muita 
atenção  nisto.  Em  muitas  das  práticas  que  tenho ensinado nos últimos anos 
eu  incentivo  meus  estudantes  a  olharem  para  uma  situação  difícil, 
conectarem-se  com  a  emoção  que  surge  naquele momento, e descobrirem a 
presença  da  emoção  no  corpo,  na  respiração  e  na  mente.  Essa  é  uma 
abordagem  básica.  A  razão  de  trazermos  a  experiência  da  emoção  de  volta 
ao  corpo,  respiração  e  mente  —  e  não  a  história  conceptual  dela  —  é  para 
compreendermos  a  estrutura  energética  do  nosso desconforto e sofrimento. 
Como  um  estado  mental,  a  raiva  é  difícil  de  controlar.  A  tendência  é 
justificarmos  e  racionalizarmos  a  nossa  raiva,  mas  isto  apenas  a  fortalece, 
mas se você se conscientiza da energia que a raiva dirige, você pode traba 
lhar  diretamente  com  essa  energia  e  mudá-la.  Isso  influenciará,  então,  a 
mente  da  raiva.  Portanto,  seja  a  raiva  ou  qualquer  outra  emoção  negativa, a 
ideia  é  focar  a  energia  da emoção em si mesma, e não a sua história. “Foque 
a  energia’  é  outra  maneira  de  dizer:  “Conecte-  se  com  o  vento.”  Este  é  o 
significado  por  trás  da  analogia  de  pegar  o  cavalo  (energia)  e  depois 
conduzi-lo  numa  direção  positiva  ao  longo  do  caminho  (canais  do  corpo) 
para a liberação (abertura). 
A  primeira  sugestão  para  se  pegar  o  cavalo  é  ver  onde  o  cavalo  aparece. 
Examine  a  situação,  o  lugar  onde  você  ficou  com  raiva,  ou  traga  à  mente  a 
pessoa  de  quem  você  sentiu  raiva.  Fica  mais  fácil  se  você  reconhecer  sua 
própria raiva no momento em que a estiver sentindo. 
Mas  você  pode  trabalhar  também  com  uma  retrospectiva  da  raiva, 
lembrando-se de quando você a sentiu no passado. Admitir apenas que ficou 
com  raiva,  reconhecer  aqueles  momentos  e  experiências,  sentir  aquelas 
experiências  é  a  maneira  de  se  pegar  aquele cavalo. Você pode refletir sobre 
ela,  dizendo:  “Semana  passada,  eu  fiquei  realmente  com  raiva  daquela 
pessoa.”  Você  reconhece  a  sua  emoção:  “Eu  senti  raiva.”  Só  de  trazê-la  à 
mente,  você  pode  sentir  a  agitação  no  seu  corpo  e  a  alteração  na  sua 
respiração.  Não  se  trata  de  julgar  a  si  mesmo  ou  outra  pessoa,  ou  pesar  os 
méritos  de  ter  ficado  ou não com raiva. Aqui você está tentando somente se 
lembrar,  tentando  reconhecer  que  realmente  ficou  com  raiva.  Você  se 
recorda  de  tal  maneira  que  a  experiência  se  torna  fresca  neste  momento,  e 
você a sente. Qualquer que seja a experiência de raiva no momento presente, 
ou  qualquer  que  seja  a  experiência  que  a  recapitulação da raiva traga, você a 
sente.  No  momento  em  que  você  a  sente  no  seu  corpo  e  sente  como  ela 
afeta  a  sua  respiração,  existe  uma  boa  chance  de  você  estar  se  conectando 
com  aquele  vento  em  particular,  chamado  o  ​lung  das  aflições  mentais 
grosseiras.  E  muito  provável  que  você  esteja  pegando  ou  já  tenha  pegado 
esse cavalo. 
O  importante  é  não  analisar  nem  julgar  a  raiva,  e  sim  sentir  o  vento  que 
sustenta  essa  raiva,  o  vento  que  influencia  essa  raiva,  o  vento  que faz surgir 
essa  raiva.  Conecte-se  com esse vento. A única maneira de realmente fazê-lo 
— torno a repetir — é trazendo a atenção de volta  
ao  seu  corpo,  e  despertando  essa  experiência  de  raiva  no  seu  corpo  e  na 
sua  respiração.  Então  você  estará  pegando  o  cavalo.  Pegar  o  cavalo,  quer 
dizer  o  vento,  é  mais  fácil  do  que  pegar  o  cavaleiro,  a  mente.  Conduzir  o 
cavalo  é  a  maneira  mais  fácil  de  conduzir  o  cavaleiro.  Portanto  esta  é  uma 
abordagem específica para lidar com situações negativas. 
Quando  começamos  a  sentir  alguma  sensação  do  efeito  produzido  por 
fazer  a  prática  das  Nove  Respirações  —  com  relação  às  aflições  mentais 
grosseiras,  as  emoções  negativas,  e  os  três  venenos-raiz  —  ver  a  mudança 
significa  que  você  está  desobstruindo  alguma  coisa  mais  profunda  do  que a 
história. 

5.   ​lung​ da Força do Karma 


O

E  importante  reconhecer  a raiva ​diretamente.​  Se você se perguntar por que 


ficou  com-raiva,  sua  mente  conceptual  terá algumas respostas: “Essa pessoa 
é  má  e  várias  vezes  e  intencionalmente  fez  coisas  prejudiciais  a  mim.” E ​ela 
que  tem  problema  com  a raiva. Você tem razões maravilhosas para justificar 
sua  raiva,  certo?  Estas  são  as  respostas  que  chegam,  quando  você  se 
pergunta  por  que  ficou  com  raiva.  Agora,  se  você  fizer  a  pergunta:  “Esta 
raiva  é  realmente  necessária?”  outro tipo de resposta surge. Você diz: “Bem, 
do  ponto  de  vista  da  prática  talvez  a  raiva  não  seja tão necessária. Estas são 
todas  ilusões;  não  tenho  que  me  envolver  com  elas”  Você  pode  achar  isso, 
mas a pergunta ainda permanece: por que você continua a ficar com raiva? E 
essa  é  uma  boa  pergunta.  Você  fica  com  raiva  porque  há  um  vento  forte, e 
com  ele  vem  uma  sensação  de  desesperança  e  impotência.  Você  não  tem 
poder  nem  força  para  detê-lo.  Você  não  tem  a sabedoria para detê-lo. Você 
não  está desperto naqueles momentos em que a raiva surge. Poderíamos nos 
referir  a  isso  como  sendo  “o  vento  da  força do karma” soprando. As vezes, 
força  do  karma  provoca  este  efeito  de  você  não  saber  onde  está  ou  como 
chegou  ao  lugar  em  que  se  encontra.  Você  diz:  “Como  foi  que  eu  me  meti 
nesta  situação?”  E  como  se  você  estivesse  perguntando  a  outra  pessoa. 
Depois  de  todas  as  ações  que  você  empreendeu,  depois  de  tudo  que  você 
quis,  quando  você  começa  a  sofrer  em  consequência,  você  então  se 
pergunta:  “Por  que  eu  estou  aqui?”  Dá  a  impressão  de  que  essa  não  é  uma 
pergunta  muito  boa.  A  razão  de  você  estar  se  perguntando  isso  pode  ser  o 
fato  de  que  o  que  quer  que  você esteja experimentando não seja o que você 
queria  experimentar.  “Não  é  realmente  o  que  eu  queria.  Não  sei  como 
cheguei aqui.” 
Obviamente  há  ventos  além  da  sua  vontade,  ventos  que  empurram  você 
em  direções  que  você  não  pretendia  ir.  Esses  ventos  existem  em  nós.  Nos 
ensinamentos  Bõn,  esses  ventos  são  conhecidos.  Quando  realizamos  uma 
prática  de  purificação,  nós  não  a  estamos  fazendo  porque  arruinamos  a 
nossa  vida.  Nós  estamos  fazendo  prática  de  purificação,  porque  nós 
poderíamos  arruinar  as  nossas  vidas.  Estamos  purificando  o  potencial,  ou 
“queimando  as  sementes.”  Estamos  queimando  as  sementes  para  que  elas 
não  cresçam  e  amadureçam  como  frutos  negativos.  Queimar  as  sementes  é 
importante,  e  podemos  queimar  sementes  kár-  micas,  reconhecendo  as 
raízes. 
Ao  trabalhar  com  o  número  6,  o  ​lung  das  aflições  mentais  grosseiras, 
estamos  tentando  reconhecer  as  sementes  e  as  raízes  das  nossas  emoções 
negativas.  Em  uma  situação  kármica  não  é  tão  fácil  conhecer.  Você  não  é 
capaz  de  dizer:  “Meu  karma  está  exatamente  ali.”  Não  será  assim.  Mas 
obviamente,  o  vento da força do karma poderia estar ali, e quanto mais você 
for  capaz  de  purificar  seu  vento  emocional,  mais  você  poderá  chegar  a  um 
lugar  de  claridade  e  ver  que  existe  alguma  coisa  sobre  a  qual  você  não  tem 
poder.  Ele  simplesmente  o  leva a fazer certas coisas. Ajuda ver e reconhecer 
isto  abertamente.  Reconhecimento  aberto  significa  reconhecer  alguma coisa 
sem julgamento. 
Como trabalhamos com o número 5, o ​lungàa. força do karma? Você quer 
ter  consciência  plena.  A consciência plena é muito simplesmente reconhecer 
que  há  alguma  força,  além  da  racionalidade,  que  o  empurra  numa  certa 
direção.  Você  está  tentando  estar  consciente  de,  e  se  conectar  com  essa 
força,  ou  vento.  Você  tenta  purificar  esse  vento  através  do  exercício  das 
Nove  Respirações.  A  força  do  karma  é  basicamente  um  vento,  ou ​lung, que 
o  empurra numa determinada direção, sem a sua escolha, sem a sua vontade. 
Às  vezes  você  acha  que  é  o  que  você  quer;  às  vezes  você  sabe  que  não  é o 
que  você  quer.  Mas,  ele  não  muda a su.i direção. Até ser purificado, o vento 
da  força  do  karma  o  empurrará  numa  determinada  direção.  E  claro  que  a 
força  do  karma  não  é  necessariamente  ruim  —  isso  é  importante 
compreender.  Quando  nós  purificamos,  purificamos  os  ventos  kármicos 
negativos.  As vezes, cultivamos ventos kármicos positivos. Creio que muitos 
rituais de cura são modos de cultivar ventos kármicos positivos. 
Eu  incentivo vocês a reconhecerem os três venenos-raiz e de que maneira 
eles  aparecem  no  número  6,  o  ​lung  das  aflições  mentais  grosseiras,  e  no 
número  5,  o  ​lung  da  força  do  karma;  e  também  o  que  eles  significam  no 
número 4, o ​lung do cavalo da mente. Embora nossa consciência plena possa 
se  reposicionar  para  observar  diferentes  aspectos  da  nossa  experiência,  o 
método  que  aplicamos  é  o  mesmo:  as  Nove  Respirações  de  Purificação. 
Quando  estamos  procurando  purificar  o  vento  da  força  do  karma,  nós 
ficamos  menos  envolvidos  pessoalmente  com  os três venenos-raiz. Há mais 
reconhecimento  de  como  eles  surgem  em nós, quando estamos trabalhando 
com  o  número  5.  Há  uma  sensação  de  maior  abertura  do  que  quando 
estamos  trabalhando  com  o  vento  das  aflições  mentais  grosseiras,  ou 
emoções negativas. 
Portanto  o  nosso  trabalho  interior  é  lembrar-se destes três venenos- raiz. 
Apesar  do  fato  de  haver  as  cinco  emoções negativas, lembre-se que existem 
os  três  venenos-raiz.  O  método  é  sempre  as  Nove  Respirações  de 
Purificação.  Através  das  Nove  Respirações,  nós  desenvolvemos  uma 
consciência  diferente,  compreensão  diferente.  A  ferramenta  é  a  mesma. 
Estamos  tentando  reconhecer  os  três  venenos-raiz;  nós  simplesmente 
ficamos  com  isso.  Com  o  ​lung  das  aflições  mentais  grosseiras,  estamos 
tentando  nos  relacionar  com  o  cavalo,  ou  a  energia,  da própria emoção, em 
vez  de  nos  envolvermos  com  o  cavaleiro,  ou  a  história.  E,  então,  quando 
você  sentir  a  conexão  com  o  cavalo,  use a ferramenta. Quando você sente a 
conexão  com  o  cavalo,  as  Nove  Respirações  são  uma  prática  muito 
poderosa.  Ela  tem  poder,  mas  sem  a  conexão  clara  com  a  vida  da pessoa, é 
apenas respiração. Portanto, se você for capaz de liberar os  
ventos  das  aflições  negativas  grosseiras,  as emoções negativas, então suas 
chances de trabalhar com os ventos kármicos melhoram. 
Com  os ventos kármicos, apenas esteja consciente de determinadas forças 
que  existem  em  você,  forças  que  o  movem  numa  determinada  direção;  crie 
então  uma  intenção  positiva:  “Que  eu  possa  purificar  esses  ventos  através 
das  Nove  Respirações.”  Pode  ser  uma  intenção  simples como essa. Há uma 
certa  consciência  de  que  existe  uma  força.  Não  é  apenas  a  raiva  em  si 
mesma,  e  sim  ser  capaz  de  sentir  a  força,  o  poder desta força que o conduz 
naquela  direção.  Se  você  prestar  atenção  a  ela,  às  vezes  você  será  capaz  de 
senti-la.  “Eu  não  queria  ficar  com  raiva,  mas  eu  quase  me  senti  impelido 
naquela  direção.”  Por  isso,  quando  você  se  encontrar  observando,  ou 
dizendo  algo  desse  tipo,  nesse  momento  apenas  feche  os olhos e sinta-o. O 
que  você  acabou  de  dizer  —  sinta-o.  No  momento  que  você  se  expressa, 
feche  os  olhos  e  esteja  apenas  abertamente  consciente  do  que  acabou  de 
dizer.  Há  uma  chance  de  você  estar  se  conectando  com  aquele  vento 
kármico,  porque  aquele  vento  está  ativo  naquele  momento.  Mas  se  você 
estiver pensando, você não vai se conectar; pensar não conecta. Portanto, no 
momento em que você está consciente dele e diz: “Eu não sei. Ele realmente 
me  impulsiona”,  naquele  exato  momento,  apenas  feche  os  olhos  e  sinta-o. 
Você  está  selecionando.  Eu  sempre  digo:  “Selecione  corretamente.”  E  o 
único  modo  de  você  poder  deletá-lo,  ou  liberá-lo,  ou  guiá-lo.  Se  você  não 
selecioná-  lo  corretamente,  pressionar  o  botão  ​delete  não  vai  adiantar. 
Selecionar  significa  estar  consciente  sem julgamento, e sentir no seu corpo e 
em  sua  respiração.  Esta  é  a  maneira  de  selecionar.  Até onde poderemos ir é 
uma questão mais complicada. Mas isto é o que precisamos tentar. 
A  maneira  de  se  conectar  com  o  vento  kármico  é reconhecer a força que 
está  além  da  sua  vontade.  Os  tibetanos  dizem  com  frequência:  “Oh,  é  meu 
karma.”  Vocês  também  podem  ouvir  os  ocidentais  usarem  esta  expressão: 
“É  meu  karma.”  O  que  isso  significa:  “É  meu  karma”?  Isso  significa  que 
você  não  tem  opção?  “E  meu  karma. Tenho que aceitá-lo.”, “É meu karma. 
Não  sei  o  que  fazer.”  “E  meu  karma.  Talvez  nada  possa  ser  feito.”  Você  é 
capaz de ouvir uma sensação de desesperança, de im- 
 
DESPERTANDO O CORPO SAGRADO 

potência  sendo  expressas.  As  forças  kármicas  estão  além da sua vontade ou 


intenção.  Há  uma sensação disso. Portanto, quando o vento kármi co sopra, 
você  não  consegue  realmente  mudar  o  que  está  acontecendo,  mas  você 
pode  mudar  as  causas  que  o  farão  acontecer  na  próxima  vez.  A  questão 
básica é estar consciente de que existe alguma coisa além da sua vontade. Há 
forças  que  estão  além  do  alcance  da  vontade.  O  karma  é  esta  força.  E 
importante  compreender  que  existe  karma,  É  importante  acreditar  na 
existência  do  karma  até  que  você  o  realize  totalmente.  Se  não  houver  um 
sentido  de  crença  ou  boa-vontade  para  compreender a existência do karma, 
você  não  vai  liberar  o  seu  karma,  e  é  mais  provável  que  você  continue 
agindo  nos  modos  que  perpetuam  o  karma.  Basicamente,  reconhecer  a 
existência  do  karma  é  reconhecer  a possibilidade de transformação. Porque, 
numa  determinada  etapa,  transformação  não  se  trata  apenas  de  quais 
habilidades  ou  boas  ideias  você  tenha,  existe  algo  mais  profundo  que  isso. 
Se  você  tem consciência disso e trabalha com isso, talvez você se torne mais 
confiante face a um desafio. 

4.   ​lung​ do Cavalo da Mente 


O

Há  um  vento  sutil  que  produz  o  pensamento.  Em  nossa  prática  de 
meditação,  depois  de  experimentar  a  dissolução  das  emoções  negativas  e  a 
dissolução  da  força  do  karma,  é  possível  sentir  uma  sensação  profunda  de 
abertura.  Nesta  abertura,  você  poderá sentir, ainda, movimentos muito sutis 
de  pensamentos,  mesmo  quando  você  está  muito  claro  e  aberto. 
Pensamentos  tolos,  bobos,  sem  sentido,  ou  pensamentos  significativos  se 
movem,  mas  não  perturbam  a  nossa  consciência.  Você  nem  mesmo  segue 
os 
pensamentos,  ou  se  recorda  de  quais  eram  eles.  Contudo,  ainda  existem 
pensamentos.  Logo,  é  possível  estar  consciente  do  movimento  dos 
pensamentos,  e,  continuar  naquela  consciência  plena,  nenhum  dos  seus 
pensamentos a perturba. Seus pensamentos não estão interferindo com estar 
presente.  Isto  significa  que  há  um  vento  muito  sutil  que  ainda está lá. Você 
pode sentir o movimento deste vento su- 
til,  e  este  movimento  faz  com  que  estes  pensamentos  surjam.  Não  há 
nenhuma  razão  em  particular  para  alguns  destes  pensamentos,  mas  por. 
quaisquer razões, há pensamentos. 
Durante  estes  momentos,  leve  sua  atenção  a observar o observador; olhe 
para  aquele  que  está  se  sentindo muito aberto. Isto faz com que o espaço se 
abra  um  pouquinho  mais.  Já  existe  bastante  abertura  ali,  mas  outro  grau de 
profundidade  é  possível.  Quando,  em  algum  ponto  da  sua  prática  de 
meditação,  houver  algo  que  não  se  desfaz  facilmente,  utilizando-se  a 
expiração,  então  observar  o  observador  provocará  a  dissolução  mais 
profunda.  Novamente,  quando  sentimos  um  espaço  mais  profundo,  ainda 
pode  haver  um  movimento  sutil.  Podemos  nos  sentir  muito  abertos,  mas 
ainda  pode  haver  o  movimento  sutil  do  observador.  Há  alguém  inteligente 
que  está  percebendo  a  verdade.  Você  tem  que  liberar  a  sua  identificação 
com  este  ser inteligente. O que produz o observador, o que sustenta este ser 
inteligente,  é  um  vento  sutil.  Aqui  não  é  tanto  o  caso  de  fazer  uma 
respiração  profunda,  ou  fazer  algum  exercício  para  liberar  este  vento;  em 
vez  disso,  é  a  postura  da  mente  em  si  mesma  que  traz  a  liberação. Quando 
você  olha  diretamente  quem  está  observando,  isso  tem  um  poder  liberador 
igual  ao  poder  de  liberar  através  da  respiração  das  etapas  iniciais.  Este 
padrão  de  vento  se  altera  quando  o  observador  observa  aquele  que  está 
observando. 
De  acordo  com  os  ensinamentos  Dzogchen,  primeiro  o  objeto  é 
dissolvido;  depois  se  sugere  observar  o observador. O resultado é que tanto 
o  observado  quanto o observador se dissolvem. Por que você quer dissolver 
tudo?  Porque  você  quer  se  conectar  com  o  espaço  essencial  da  consciência 
plena  aberta.  A  falta  da  dissolução  de  formas,  que  são  produtos  da 
dualidade, é o obstáculo para a conexão direta com esse espaço essencial, e é 
por  isso  que  estamos  interessados  em  dissolver  todas  estas  camadas.  E  por 
este motivo que o refúgio interno é quietude, silêncio e espaçosidade. 
Talvez  o  espaço  da  sua  prática  de  meditação  esteja  muito  mais  claro  do 
que antes, e talvez esse espaço seja o espaço com o qual você não está muito 
familiarizado. Quando esta experiência se torna mais familiar, 
esse  espaço  permite  que  a  sabedoria  surja.  A  sabedoria  é  o  reconhecimento  do 
corpo  eterno.  Se  você  pensa  em  dissolver  progressivamente  os  obstáculos, 
como  estivemos  discutindo,  você  deve  experimentar  o  número  3,  o  ​lung  da 
consciência  inata  auto-surgida,  apenas estar consciente, estar consciente de algo, 
estar  consciente  novamente  de  algo,  e  então  estar  consciente  de  que  “Estou 
consciente dessa consciência.' 
E,  deste  modo,  no  final  das respirações liberadoras das Nove Respirações de 
Purificação, a instrução é repousar totalmente nessa abertura 
— nessa  quietude,  nesse  silêncio,  nessa  espaçosidade.  Se  prestar  muita 
atenção  internamente,  você  sente  esta  onda,  movimento  ou  fluxo  muito  sutil. 
Olhe  para  trás,  para  quem  está  repousando,  para  quem  está  sentindo  esta 
abertura,  para  quem  está  consciente  desta  abertura.  Diretamente,  de  forma nua 
e  crua,  olhe  para  dentro,  para  trás,  e  veja  quem  é.  No  momento  em  que  você 
olha  quem  é,  tanto  observador  quanto  observado  se  dissipam.  Repouse  no 
estado  inseparável  de  observador  e  observado.  Olhe  novamente,  dissolva, 
repouse. Repita isto algumas vezes até que você o experimente claramente. 
Cada  um de nós terá experiências diferentes na nossa prática de meditação. A 
ênfase  principal  é  que,  conectando-se  com  questões  muito  concretas  de  raiva, 
apego  e  ignorância  da  sua  vida,  e  não  se  envolvendo  com  a  história  destas 
questões,  você  pode  se  conectar  com  a  estrutura  das  próprias  emoções.  Na 
prática  das  Nove  Respirações  de  Purjficação,  nós estamos nos conectando com 
o  vento  e  liberando  esse  vento  dos  canais do coipo. Como resultado, é possível 
ganhar  uma  conexão  mais  profunda  com  uma  sensação  de  paz.  A  medida  que 
repetir  este  mesmo  exercício,  você  poderá  sentir  cada  vez  mais  esta  paz.  Isso é 
verdade  ou  não?  Alternativamente,  você  poderá  residir  na  história  sobre  de 
quem  você  está  com  raiva  e  por  que  você  está  com  raiva,  e  chegar  à  seguinte 
conclusão:  “Sim,  eu  me  sinto  do  mesmo  modo  em  relação  àquela  pessoa. 
Enquanto ela estiver agindo daquele modo, eu vou sentir raiva. Estou mantendo 
a  mesma  posição,  porque  é  a  mesma  situação.  Sinto  que  eu  tenho  o  direito  de 
me  relacionar  com  aquela  pessoa deste modo.” Você pode formar um clube em 
torno da sua atitude. Mas você conse- 

f
gue  ver  o  poder  e  o  efeito  da  prática  para  reconhecer  e  dissolver 
completamente  a  sua  atitude?  É  claro  que  você  pode  pensar:  “Bem,  estou 
me.  sentindo  em  paz,  mas  eu  não  mudei  realmente.”  Isso  pode  ser verdade 
no  início,  mas  você  certamente  não  mudou  por  residir  na  sua  raiva, 
tampouco.  Aqui  você  está  na posição de efetuar uma mudança. Você está se 
movendo  na  direção  da mudança, porque à medida que os ventos se tornam 
cada  vez  mais  sutis,  suas  experiências  de  si  mesmo  ficam  cada  vez  mais 
profundas.  E  o  que  surge  a  partir  dessas  experiências,  na  forma  de 
pensamentos  e  emoções,  muda.  Quando  nossos  pensamentos  e  emoções 
surgem,  nossa  relação  com  eles  é  completamente  diferente.  Isso  se  chama 
mudança. 
Então,  como  você  nota  a  mudança?  Para  mim,  mudança  será  ver  se, 
como  resultado  da  realização  desta  prática  ao  longo  do  tempo,  eu  estou 
começando  a ter uma relação completamente diferente com os pensamentos 
e  sentimentos  a  respeito  daquela  pessoa  de  quem  eu  sentira  tanta  raiva. 
Quando  a minha relação com os meus sentimentos e pensamentos se abre, a 
própria  natureza  da  minha  aparentemente  sólida  história  muda.  Há 
simplesmente  mais  possibilidades  disponíveis  nesse  espaço  flexível  da 
consciência  plena.  Isso  se  chama  mudança.  Se  eu  estou  tendo  os  mesmos 
padrões  de  pensamento,  se  estou  sentindo  raiva  e  estou  continuamente 
pensando  nela,  não  posso  chamar  isso  de  mudança.  Talvez  eu  esteja  tendo 
pensamentos  piores,  o  que  significa  que  encontrei  novas  razões  para  ficar 
com  raiva  e continuamente validar minha visão daquela pessoa: “Eu tenho o 
direito  de  ficar  zangado;  Eu  tenho  todos  os  motivos  para  ficar  zangado;  é 
bom  ficar  zangado;  eu  sei  que  é  o  meu  amigo  que  precisa  mudar.”  Isso 
também é mudança, mas na direção errada. 
Quando  libera  a  raiva  através  das  Nove  Respirações  de Purificação, você 
experimenta  a  cessação  da  raiva.  Você  se  conecta com o espaço da ausência 
da  raiva.  Você  está  sentindo  estabilidade  nesse  espaço.  Você  está  sentindo 
familiaridade  neste  espaço.  Se  isso  é  verdade,  um  vento  diferente  está  se 
movendo  agora.  Portanto,  no  momento  que  estou  consciente  desse espaço, 
um outro vento, mais sutil passou a circu- 
lar.  Sem  qualquer  esforço,  estou  consciente  daquele  espaço  maior  em  mim, 
No  momento  em  que  estiver  consciente  disso  eu  saberei  que  o  vento 
mudou. 
Vamos  explorar  esta  questão  do observador criar a realidade. Quan do as 
aflições  mentais  grosseiras  são  ativadas,  isto  significa  que  estamos 
experimentando  emoções  negativas  fortes,  como  a  raiva.  Talvez  o  apego 
seja forte e você esteja desconectado de si mesmo. Sua visão da realidade, ou 
sua  perspectiva,  é  determinada  pelas  emoções  negativas  conflitantes  que 
você  está  experimentando.  Você  não  está  muito  estável.  Este  não  é  o 
melhor  lugar  de  onde  observar  as  coisas.  A  realidade que você está criando, 
observando  deste  lugar,  não  é  boa.  Todo  pensamento  que  você  tiver  e  as 
decisões  subsequentes  que  você  vier  a  tomar  não  serão  boas.  Você  toma 
uma  decisão  e  você  acha  que  é  a  melhor decisão que você pode tomar, mas 
—  na  verdade  —  essa  é  a  única  decisão  que  você  é  capaz  de  tomar  sob 
aquelas  condições.  Mas,  se  continuar  trabalhando  com  a  prática,  você 
poderá  chegar  a  um  lugar  onde  sinta  mais  abertura. Você poderá minimizar 
a  presença  do  vento  das  aflições  mentais  grosseiras,  as  emoções  negativas. 
Acontece  a  mesma  coisa  com  o vento da força do karma. Você pode liberar 
este  vento através da prática. Mais espaço aberto se tornará disponível. Você 
experimentará  a  cessação  destes  ventos.  Desse  modo  será  possível  que  as 
suas  observações  venham  de  observar o próprio espaço, e esse espaço em si 
mesmo  é  a  fonte  das  qualidades  positivas.  O  conhecimento  deste  espaço 
dará  origem  a  coisas  surpreendentes.  A  cessação  da  raiva  pode  dar  origem 
ao  amor,  por  exemplo.  Quando  o  vento  emocional  mais  denso  da  raiva  é 
liberado,  existe  alguma  conexão  com  o  vento kármico dessa raiva que agora 
pode  se  purificar.  Quando  encontra  um  certo  grau  de  cessação  desse vento 
kármico, você reside ali. 
Você  poderia  me  perguntar:  “Por  que  tenho  que  residir  ali,  se  eu  não 
estou  me  sentindo  mais  zangado?”  Essa  é  uma  boa  pergunta  e  a  resposta é 
que  você  deseja  residir,  ou  descansar  ali,  porque  você  quer  descobrir  as 
qualidades  positivas,  como  o  amor,  que  podem  emergir  desse  espaço.  O 
solo está pronto, mas você quer receber o fruto. 
Depois  que  você  corta  o  mato  num  jardim,  você  planta  as sementes. Nesse 
ponto,  você  não  pode  dizer:  “Está  concluído.”  Não,  não  está  concluído, 
ainda  não  é  a  hora  da  colheita.  O  que  você  faz?  Você  observa as sementes, 
observa  como  elas  estão  crescendo.  Você alimenta as sementes. O que você 
lhes  dá?  Você  lhes  dá  água  e  luz.  Quanto  mais  umidade  e  luz,  maior  será o 
crescimento. 
Portanto, no momento da liberação, ou cessação, no momento em que vê 
o  espaço,  você  está  descobrindo  o  solo  em  que  a  qualidade  positiva  cresce. 
E  o  modo  como  a  qualidade  cresce  é através da consciência plena aberta. A 
consciência  plena  aberta  dentro  do  espaço que se abre quando uma emoção 
negativa  se  libera,  precisa  ser  mantida  constantemente, assim como a água e 
o  calor  precisam  ser  constantes.  Quando  o  solo  é  preparado  por  meio  da 
remoção  do  mato  e  há  água  e  calor  suficiente,  com  o  tempo  as  plantas 
crescem  e  os  seus  frutos  amadurecem.  Mas,  se  faltar  água  ou  calor,  mesmo 
que estejam presentes, as sementes não germinarão. Mesmo se os ventos das 
aflições  mentais  grosseiras e da força do karma estiverem esgotados, se você 
não  mantiver  a  consciência  desse  espaço,  ele  não  dará frutos. No Ocidente, 
parece  que  nós  valorizamos  métodos  para  liberar  e  esgotar  as  emoções 
negativas.  Mas, falta a segunda parte — atenção ao espaço. A primeira parte, 
a  liberação  parece  ser  reconhecida.  Reconhecem  a  cessação,  mas  não  o 
espaço.  A  maioria  das  pessoas  simplesmente  experimentaria  o  espaço, 
dizendo:  “Não  há  nada  lá.”  O  que  se  quer  dizer  com  “Não  há  nada  lá.”? 
Quer  dizer  que  não  há  nenhuma  ​coisa,  não  há  coisas  materiais  lá.  Estamos 
acostumados  com  coisas.  As  coisas  materiais  têm  significado  para  nós.  Se 
não  acumulamos  coisas,  não  vemos  sentido  na  vida.  E a maneira como nós 
nos  identificamos.  Sem  elas  nós  não  existimos.  Por  isso  o  momento  da 
abertura  não  é  sempre  apreciado  pelo  que  ele  é  e  pelo  potencial  que  ele 
realmente  tem,  porque  nós  já  nos  deslocamos  para  o  próximo  projeto,  o 
próximo  relacionamento,  a  próxima ideia, que são todos “coisas”. Por causa 
da  nossa  dependência  das  coisas,  o  que  inclui  pensamentos  e  emoções, nós 
não  somos  totalmente  capazes  de  cultivar  as  qualidades  positivas  internas 
genuínas que se encontram disponíveis. 
Manter  a  consciência  plena  aberta  no  espaço  que  foi  desobstruído  é a parte 
necessária que está faltando. 
Portanto,  o  ponto  que  estou  tentando  enfatizar  aqui  —  eu  sempre  toco 
nesta  questão  de  formas  diferentes  —  é  para  não  duvidar  do  espaço. 
Devemos  confiar  no  espaço.  E  o  que  isso  significa?  Significa  que  se 
dissolver  as  coisas,  alcançar  esse  espaço  e  descansar  nesse  espaço,  você 
saberá  que  esse  espaço  tem  valor.  Esse  é  o  espaço  que  dá  origem a tudo. A 
experiência  desse  espaço  dá  origem  à  experiência  do  amor.  E  o  próprio 
espaço  que  gera  a  capacidade  de  experimentar  amor.  E  o  espaço  que  cria 
toda  uma  realidade  de  amor,  ou  toda  uma  realidade  de  paz,  seja  na  sua 
família,  na  sociedade,  no  mundo  todo,  ou no universo inteiro. A capacidade 
de  criar  essa  realidade  é  o  poder  desse  espaço. Mas temos que confiar nesse 
poder.  Temos  que  saber  que  é  assim  que  a  mudança  positiva  evolui 
Novamente,  é  por  esse  motivo  que  coloco  ênfase  na  quietude,  silêncio  e 
espaçosidade  como  o  refúgio  interno,  como  o  lugar  para  onde  se  voltar, 
quando  estamos  confusos  ou  perdidos.  E  a  base  necessária  para o refúgio é 
a confiança. 
Por  outro  lado,  nós  temos  tantas  experiências  de  lutas  e  esforços  que 
nunca  funcionam.  Temos  muitas  experiências  em  que  tentamos  na  área 
errada,  sem  obter  um  resultado  positivo.  Há  quanto  tempo  estamos 
tentando  ser  felizes?  Tentar  ser  feliz  é  perda  de  tempo.  Mas  confiar  no 
espaço  do  ser  como  a  fonte  da  felicidade  realmente  funciona.  Não  estamos 
falando  apenas  de  espaço;  estamos  falando  de  coisas  muito,  muito 
específicas  aqui.  Você  está  tentando  compreender  a  sua  raiva  em  situações 
kármicas  muito  específicas  da  sua  vida.  “Estou  com  raiva  do  meu  patrão.” 
Nesta prática, não estamos interessados na sua história detalhada sobre o seu 
patrão.  Não  é  isso  que  importa  aqui.  Você  está  sendo  incentivado  a  se 
relacionar  com  a  raiva  de  uma  maneira  muito  específica.  A  partir  de  um 
lugar  aberto  de  quietude,  silêncio  e  uma  mente  espaçosa,  você  está  sendo 
incentivado  a  se  conectar  diretamente  com  essa  emoção,  a  permitir  a 
experiência  completa,  sem  repeli-la,  nem  produzir  qualquer  tipo  de história, 
ou  se  desconectar  dela.  Ao  permitir  essa  emoção  completa,  você  consegue 
experimentar claramente a ener- 
gia  que  existe  debaixo  da  história.  Há  um  vento;  há um cavalo, uma estrutura 
energética.  Está  claramente  lá  e  você  pode  se  conectar  cOm  ele  e  deslocá-lo 
através  da  prática  das  nove  Respirações  de  Purificação.  Fazendo  dessa 
maneira você mudará a sua realidade. 
Você  nao  pode  mudar  as  suas  emoções  à  força,  por  uma  imposição  da 
vontade.  Mas,  conectando-se  com  a  sua  estrutura  subjacente,  o  vento,  ou  o 
cavalo  que  as  emoções  conduzem,  é  possível  liberar  essa  estrutura  e  mudar a 
sua  experiência.  Quando  levamos  a  atenção  para  o  corpo,  e  particularmente 
para a respiração, é fácil observar como as emoções afetam a nossa respiração. 
As  vezes,  você  pode  se  pegar  segurando  ou  restringindo  a  sua  respiração  na 
presença  da  emoção.  Ou  você  pode  achar  que  a  sua  respiração  fica  rápida  e 
superficial.  Existe  uma  relação  entre  a  sua  respiração  e  as  aflições  mentais 
grosseiras. 
Ao  expirar  muitas  vezes,  ao  mesmo  tempo  em que dirige a sua consciência 
através  do  canal  direito  branco,  você  está  alterando  a  estrutura  das  aflições 
mentais  tais como a raiva, o orgulho, ou a inveja. O vento grosseiro fica muito 
mais  fraco.  Isto  é  uma  coisa  que  você  pode  sentir.  E,  quando  você  leva  a 
atenção  para  o  canal,  ele  parece  estar  muito  mais  leve.  Ao  repetir  a  prática 
com  o canal esquerdo, você consegue sentir a alteração lá, também. Ao repetir 
este  processo  novamente  com  o  canal  central,  você  é  capaz  de  sentir  a 
alteração em toda a parte central do seu corpo. Você pode sentir um espaço se 
abrindo  dentro  de  você.  Quando  se  conectar  com  essa  espaçosidade, 
familiarize-se com ela. Vá mais fundo nela. O canal central é um caminho para 
o  espaço  imutável  e  a  única  maneira  de  viajar  nesse  espaço  é  ter  um  cavalo 
sutil  para  cavalgar.  Os  cavalos  indomados  das  aflições  mentais  e  da  força  do 
karma  precisam  ser  liberados.  Ao  descobrir  a espaçosidade e permiti-la, esteja 
com  ela  sem  seguir  nem  se  identificar  com  qualquer  pensamento  que  surja; 
você encontrará um cavalo mais sutil, um vento mais sutil. 
Quando  se  conectar  com  a  espaçosidade,  descanse  nela.  Esteja  lá.  Ao 
descansar  na  quietude,  no  silêncio  e  na  espaçosidade,  qualquer  quantidade de 
tempo  que  você  seja  capaz  de  permanecer,  muda  você.  Isto  mudará  algo  em 
você, provavelmente muito mais do què as muitas  
outras  coisas  que  você  pode  fazer  para  trabalhar a sua raiva. Você pode ter 
uma  conversa  de  dez  horas  com  seu  amigo  sobre  a  sua  raiva.  Você  pode 
passar  um  fim-de-semana  inteiro  explorando  como  e  por  que  você  fica 
zangado  com  alguém. Mas eu acredito plenamente que não existe comparação 
entre  dez horas de conversa e dez minutos de descanso no espaço da cessação 
da  raiva.  Não  há  comparação  quanto  a  qual  método  me  transformará,  ou 
quanto  à  minha  relação  com  a  raiva  e  à  transformação  da  raiva  em  amor  ou 
em  experiências  mais  elevadas  de  sabedoria.  Isto  vale  para  todo  mundo? 
Talvez  não.  Algumas pessoas poderiam considerar uma conversa de dez horas 
melhor,  porque  essa  é  a  única  coisa  que elas conhecem. Isto não significa que 
seja  a melhor coisa para elas, significa simplesmente que é a única maneira que 
elas  conhecem.  Se  for  a  melhor  coisa  que  alguém  pode  fazer  num 
determinado momento, tem valor. Mas não é o melhor método possível. 
E  essencial  confiar  no  espaço  que fica disponível quando a raiva é liberada. 
E  nesse  espaço  exato  que  a  qualidade  do  amor  emergirá.  Costumo  dar  o 
seguinte  exemplo  que  um  dos  meus  estudantes  partilhou  comigo.  Ele  estava 
enfrentando  problemas  com  um  colega  no  trabalho.  Eles  es-  tavam  tendo 
dificuldades  nas  suas  relações  de  trabalho,  e este estudante estava trabalhando 
para  liberar  estas  questões  através  da  sua  prática  de  meditação.  Uma  manhã, 
ele  ia  pedir  um café para si mesmo, quando de repente saiu da sua boca: u​​ Dois 
cafés,  por  favor.”  Ele  se  viu  pedindo  um  café  para  si  mesmo  e  outro  para  o 
colega  que  costumava  ser  a  sua  pessoa  difícil. De algum modo, o pensamento 
de  comprar  um  café  para  esta  pessoa  surgiu  de  forma  espontânea  e  genuína. 
Assim,  esse  pensamento, essa pequena gentileza, manifestar-se-á sem qualquer 
programação.  E  desta  maneira  você  testemunha que a sua vida está mudando, 
e  a  sua  vida  continua  mudando.  As  mudanças  não  são  feitas  por  meio de um 
esforço  direto  ou  uma  imposição  da  vontade.  Elas  acontecem 
espontaneamente,  porque  você  remove  os  obstáculos  que  bloqueiam  as  suas 
qualidades  positivas,  impedindo-as  de  emergirem.  E  tudo  que  você  faz,  e  as 
mudanças  simplesmente  acontecem  por  si  mesmas.  Estas  são  mudanças  em 
que podemos confiar. O que nós geralmente fazemos é o oposto. Em vez 


de  desobstruirmos  o  caminho,  nós  tentamos  forçar  o  resultado.  E  então 
fracassamos.  E  certeza  que  fracassaremos  o  resto  de  nossas  vidas,  se 
continuarmos  fazendo  isso.  Não há como mudarmos, forçando um resultado. 
Mas  se liberarmos os bloqueios que nos impedem de estarmos abertos e então 
nos  conectarmos  com  a  abertura  e  confiarmos  nela,  o  resultado  surgirá 
naturalmente a partir daí. 

3.   ​lung​ da Consciência Inata Auto-Surgida 


O

O  ​lung  da  consciência  inata  auto-surgida  refere-se  à  capacidade  de  cada 


indivíduo  despertar  e  reconhecer  a  união  de  espaço  e  consciência  plena. 
Quando  não  estou  consciente,  eu  perco  a  conexão  com  a  abertura  e  caio  na 
ignorância.  Eu  experimento  a  dúvida  e  a  insegurança.  Mas,  quando  estou 
desperto,  eu  estou  desperto  nessa  união.  Na  tradição  do  Dzogchen,  seu 
mestre  o  introduz  à  sua  mente  natural  que  geralmente  não  é  reconhecida. 
Quando  entramos  no  espaço  da  união  de  abertura  e  consciência  plena,  esse 
espaço  é  a  natureza  da  mente.  Quando  falamos  sobre  meditar,  é  sobre  isso 
que  estamos  falando.  Sabemos  que  a  união  está  sempre  lá.  Quanto 
adentramos  esse  espaço, nos conectamos a ela. A prática de meditação celebra 
a  capacidade  de  reconhecer  a  abertura  e  confiar  nela.  Ao  não  permitir  que  a 
nossa  mente  conceptual,  ou  ignorância,  interfira  com  essa  união,  nós 
permitimos  que  todos  os  pensamentos,  sentimentos,  sensações  e  memórias 
surjam,  residam  e  se  dissolvam  sem luta. Nós descansamos naquele espaço da 
consciência  plena  aberta. Esse é o modo como continuamos — nós residimos 
no  reconhecimento  da  união  de  espaço  e  consciência  plena.  Praticando 
durante  meia  hora,  45  minutos,  ou  uma  hora,  você  expande  continuamente 
sua  capacidade  de  manter  a  conexão  com  esse  reconhecimento,  de  tal  modo 
que,  um dia, os movimentos, sons e pensamentos não conseguirão perturbar a 
sua  conexão  com essa união e, em vez disso, eles se tornam um ornamento da 
união em si mesma. 
Se  experimenta  a  consciência  desperta  inata  você  tem  a  introdução  à 
natureza  da  mente,  e  isto  afeta  a  sua  mente  em  movimento  muito 
positivamente.  Você  descobre  uma  porção  de  qualidades  escondidas,  como  a 
compaixão,  o  amor  e  a  alegria.  Ter conexão com essa união é como descobrir 
um  tesouro  escondido.  Pense  nesta  imagem  única:  Você  tem  a  chave  do 
tesouro.  O  tesouro  é  a  união  —  a  união  de  essência  e  sabedoria,  mãe e filho, 
espaço  e  luz,  abertura  e  consciência.  Por  mais  que  esta  união  seja  descrita,  a 
sua  chave  é  a  consciência  desperta.  Portanto,  quando  abrir  o  tesouro  com  a 
chave  da  sua  consciência  desperta,  você  terá  tudo  de  que  precisa.  Não  estou 
falando  de  um  carro  novinho  em  folha,  e  sim  de  todas  as  qualidades  que 
buscamos  na  vida,  como  amor,  esperança,  entusiasmo,  fé  e  confiança,  estão 
exatamente  ali.  Quando  você  se  abre  ao  momento  e  se  conecta  com  a 
consciência  desperta,  as  qualidades  positivas  emergem.  O  que  é  apropriado 
surge  espontaneamente  em  quaisquer  circunstâncias  em  que  você  se 
encontrar. 
Se  você  estiver  com  pessoas  que  não  são  nem  amigas,  nem  da  família,  são 
apenas  neutras  para  você,  e  se  uma  delas  estiver  enfrentando  alguma 
dificuldade  ou  dor,  você  —  de  modo  natural  e  espontâneo  —  sente  sem 
esforço  a  disposição  de  ajudar  aquela  pessoa,  embora  ela  não  seja  alguém 
próximo  de você. A ação espontânea da bondade compassiva surgirá em você, 
porque  ela  está  em  você,  na  fonte,  e  você  tem  uma  conexão  com  a  fonte. 
Contudo,  ela  não  surgirá  espontaneamente  se você perdeu a conexão. Se você 
perdeu  a  conexão  com  esse  tesouro  interno,  se  você  perdeu  a  consciência,  o 
amor  espontâneo  não  surgirá.  Aqui  estou  falando  de  como  o  nosso 
reconhecimento  consciente  do  número  3,  o  ​lung  da  consciência  inata 
auto-surgida,  afeta  o  número  4,  o  ​lung  do  cavalo  da  mente,  que  é a mente em 
movimento,  nossos  pensamentos.  As  qualidades  emergirão.  Se  elas  não 
estiverem  disponíveis  numa  situação,  quando  você  vir  alguém  sentindo  uma 
dor,  e  isso  não tocar o seu coração, isso significa que o seu coração precisa ser 
exercitado  na  prática.  Você  precisa  permitir  que  a desconexão e a distração se 
dissolvam  e  que  o  reconhecimento  se  desenvolva.  Você  precisa  se  conectar 
com  o  espaço  do  seu  coração  de  uma  forma  mais  calorosa,  mais  profunda  e 
mais  intensa. 
2.   ​lung​ da Bem-Aventurança da Sabedoria Primordial 
O

O  segundo  vento  tem  a  ver  com  o  despertar  da  sabedoria,  que  significa 
estar  consciente  da  essência,  do  espaço  essencial  do  ser.  Esta  consciência  é 
sustentada  pelo  vento  sutil  e,  de  acordo  com  a  tradição,  existem  cinco 
sabedorias:  a  sabedoria  da  vacuidade,  a  sabedoria-como-o-  espelho,  a 
sabedoria  da  equanimidade,  a  sabedoria  discriminativa  e  a sabedoria que tudo 
realiza.  Como  poderíamos  experimentar  a  sabedoria  na  nossa  vida  diária?  Há 
ocasiões  em  que  você  pode  estar  muito  aberto  e  permanecer  desta  maneira 
por  um  longo  período  de  tempo.  Também  é  possível  que,  mesmo  quando  a 
experiência  de  abertura  esteja  disponível  para  você,  você  não  a  reconheça 
como  tal.  O  momento  em  que  você  reconhece  a  abertura  é  muito  poderoso. 
O  simples  fato  de  estar  ciente  do  que  você  está  sentido  quando  você  está 
sentindo,  é  poderoso.  Tantas vezes nosso relacionamento com a nossa pessoa 
e  a  nossa  comunicação  com  os  outros se transforma numa história. Em geral, 
passamos  nosso  tempo  relatando  experiências  que  aconteceram  ontem,  ou 
poderiam  acontecer  amanhã,  de  modo  que,  muitas  vezes, não fica claramente 
visível  para  nós  o  que  está  realmente  acontecendo  no  momento.  Estou  me 
referindo  à  consciência  da  abertura  como  sabedoria.  Abertura  é  o  estado  do 
corpo  da  essência  imutável,  que  é  o  primeiro  vento;  estar  consciente  desse 
corpo imutável é sabedoria, o segundo vento. 

  O ​lung​ do Espaço da Natureza Bõn 


1.

O  mapa  começa  com  o  ​lung  essencial  da  natureza ​bõn. Que tipo de vento é 


este?  A  que  estado  da  realidade  ele  está  se  referindo?  Ele  se  refere  à  nossa 
natureza  essencial,  significando  uma  percepção  da  essência de todas as coisas: 
a  essência  da  forma e a essência da consciência; a essência do ambiente, ou do 
recipiente,  e  a  essência  do  conteúdo.  Quando  você  está  em  meditação 
profunda, quando os pensamentos e as emoções não estão ativos, quando está 
simplesmente respirando, você pode  
chegar  ao  lugar  em  que  você  é  basicamente um com o universo. Muitos de 
nós  vislumbramos  alguma  experiência  da  essência,  fomos  tocados  ou 
comovidos  pela  natureza  de  tal  maneira  que  pudemos  sentir  que 
vislumbramos  o  sagrado.  Muitos  de  nós  temos  momentos  em  que 
experimentamos  isto,  porque  isto  é  o  que  ​é.  Nós  nos  sentimos  tão 
descansados  e,  contudo,  tão  vivos,  em  paz,  e  conectados  com  toda  a  vida. 
Nesse  sentido  de  unicidade,  nós  experimentamos  tanta  potencialidade  e vida. 
Então  há  momentos  em  que  experimentamos  isso.  Para  muitas  pessoas,  isso 
poderia  ser  semelhante à experiência do ​lung do espaço da natureza ​bón,​  e para 
algumas pessoas isso poderia ser realmente a experiência. 
Isto  é  algo  que  nos  conecta  a  todos,  e  onde  a  separação  nunca  existe.  E 
claro  que você pode dizer que acredita nisso, mas experimentar realmente essa 
verdade  em  si  mesmo  requer  a  consciência  mais  pura  —  a  consciência 
não-dual,  o  sentido  mais  puro  do  despertar.  Esse  despertar  é sustentado pelo 
vento mais sutil. Não acontece simplesmente; há um vento sutil que sustenta a 
experiência.  Há  um  ​lung​,  um  vento,  um  prana,  um  ​qiy​   um  ​ch  7;  você  pode 
chamá-lo  de  onda;  pode chamá-lo de movimento. Pode até haver maneiras de 
falar  sobre  isto  em  termos  científicos.  O  mais  importante  é  que  tudo  está 
conectado.  Isso  tem  algo  a  ver  conosco?  Sim.  Em  todos  os  indivíduos,  essa 
onda,  esse  movimento,  esse  deslocamento  existe  em  nós.  E  uma  questão  de 
despertar  e  conectar-se  a  ele.  E  a  nossa  capacidade  de  estar  consciente  dele 
que  define  se  poderemos  ou  não  experimentar  esta  conectividade.  Ele  está 
verdadeiramente  lá,  mas  —  o  fato  de  nós  o  reconhecemos  ou  não  —  fará  a 
diferença entre vagarmos em sofrimento ou experimentarmos a liberação. 

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