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Os Nove LUNG e Suas Ações Resultantes
A lista dos nove lung descreve padrões de vento e mostra a possibilidade de
romper com determinados padrões, seja na sua vida individual, seja num
grupo mais amplo ou padrões de vida coletivos. Portanto, em você como
indivíduo, na vida familiar, na sociedade em geral, ou no mundo, existem
padrões que podem ser discernidos e mudados. Precisamos trazer estes
ensinamentos para a realidade, porque é onde nós estamos.
Os ensinamentos de sabedoria descrevem um caminho para a iluminação
completa. Contudo, nem todos estão interessados em alcançar a
iluminação, mas a maioria de nós quer ter alguma virtude na vida. E isso é
motivo suficiente para refletir um pouco mais detalhadamente sobre o
vento e a mente e sobre o que estes ensinamentos têm a oferecer.
Veremos a seguir uma relação simplificada dos nove lung, ou ventos, e das
ações que resultam deles, do sutil para o denso.
A fim de explorar a presença destes ventos na nossa vida, comecemos
primeiramente com o vento mais denso e passemos progressivamente para
os ventos mais sutis, uma vez que os mais densos são mais óbvios.
O lung destruidor-da-era
9.
Num âmbito individual, o lung do poder da existência pode se referir a um
sentido extremo de superidentificação com a profissão ou status na vida, o
que resulta em não ter flexibilidade para mudar. Se você se identifica como
uma vítima das circunstâncias, é difícil sequer perceber oportunidades para
mudança. No âmbito coletivo, as sociedades se reúnem em torno de
sistemas de crenças, slogans de campanha, e convicções que reforçam uma
ilusão de ser do jeito que as coisas são.
7. lung Que Perturba os Humores do Corpo
O
Há um vento sutil que produz o pensamento. Em nossa prática de
meditação, depois de experimentar a dissolução das emoções negativas e a
dissolução da força do karma, é possível sentir uma sensação profunda de
abertura. Nesta abertura, você poderá sentir, ainda, movimentos muito sutis
de pensamentos, mesmo quando você está muito claro e aberto.
Pensamentos tolos, bobos, sem sentido, ou pensamentos significativos se
movem, mas não perturbam a nossa consciência. Você nem mesmo segue
os
pensamentos, ou se recorda de quais eram eles. Contudo, ainda existem
pensamentos. Logo, é possível estar consciente do movimento dos
pensamentos, e, continuar naquela consciência plena, nenhum dos seus
pensamentos a perturba. Seus pensamentos não estão interferindo com estar
presente. Isto significa que há um vento muito sutil que ainda está lá. Você
pode sentir o movimento deste vento su-
til, e este movimento faz com que estes pensamentos surjam. Não há
nenhuma razão em particular para alguns destes pensamentos, mas por.
quaisquer razões, há pensamentos.
Durante estes momentos, leve sua atenção a observar o observador; olhe
para aquele que está se sentindo muito aberto. Isto faz com que o espaço se
abra um pouquinho mais. Já existe bastante abertura ali, mas outro grau de
profundidade é possível. Quando, em algum ponto da sua prática de
meditação, houver algo que não se desfaz facilmente, utilizando-se a
expiração, então observar o observador provocará a dissolução mais
profunda. Novamente, quando sentimos um espaço mais profundo, ainda
pode haver um movimento sutil. Podemos nos sentir muito abertos, mas
ainda pode haver o movimento sutil do observador. Há alguém inteligente
que está percebendo a verdade. Você tem que liberar a sua identificação
com este ser inteligente. O que produz o observador, o que sustenta este ser
inteligente, é um vento sutil. Aqui não é tanto o caso de fazer uma
respiração profunda, ou fazer algum exercício para liberar este vento; em
vez disso, é a postura da mente em si mesma que traz a liberação. Quando
você olha diretamente quem está observando, isso tem um poder liberador
igual ao poder de liberar através da respiração das etapas iniciais. Este
padrão de vento se altera quando o observador observa aquele que está
observando.
De acordo com os ensinamentos Dzogchen, primeiro o objeto é
dissolvido; depois se sugere observar o observador. O resultado é que tanto
o observado quanto o observador se dissolvem. Por que você quer dissolver
tudo? Porque você quer se conectar com o espaço essencial da consciência
plena aberta. A falta da dissolução de formas, que são produtos da
dualidade, é o obstáculo para a conexão direta com esse espaço essencial, e é
por isso que estamos interessados em dissolver todas estas camadas. E por
este motivo que o refúgio interno é quietude, silêncio e espaçosidade.
Talvez o espaço da sua prática de meditação esteja muito mais claro do
que antes, e talvez esse espaço seja o espaço com o qual você não está muito
familiarizado. Quando esta experiência se torna mais familiar,
esse espaço permite que a sabedoria surja. A sabedoria é o reconhecimento do
corpo eterno. Se você pensa em dissolver progressivamente os obstáculos,
como estivemos discutindo, você deve experimentar o número 3, o lung da
consciência inata auto-surgida, apenas estar consciente, estar consciente de algo,
estar consciente novamente de algo, e então estar consciente de que “Estou
consciente dessa consciência.'
E, deste modo, no final das respirações liberadoras das Nove Respirações de
Purificação, a instrução é repousar totalmente nessa abertura
— nessa quietude, nesse silêncio, nessa espaçosidade. Se prestar muita
atenção internamente, você sente esta onda, movimento ou fluxo muito sutil.
Olhe para trás, para quem está repousando, para quem está sentindo esta
abertura, para quem está consciente desta abertura. Diretamente, de forma nua
e crua, olhe para dentro, para trás, e veja quem é. No momento em que você
olha quem é, tanto observador quanto observado se dissipam. Repouse no
estado inseparável de observador e observado. Olhe novamente, dissolva,
repouse. Repita isto algumas vezes até que você o experimente claramente.
Cada um de nós terá experiências diferentes na nossa prática de meditação. A
ênfase principal é que, conectando-se com questões muito concretas de raiva,
apego e ignorância da sua vida, e não se envolvendo com a história destas
questões, você pode se conectar com a estrutura das próprias emoções. Na
prática das Nove Respirações de Purjficação, nós estamos nos conectando com
o vento e liberando esse vento dos canais do coipo. Como resultado, é possível
ganhar uma conexão mais profunda com uma sensação de paz. A medida que
repetir este mesmo exercício, você poderá sentir cada vez mais esta paz. Isso é
verdade ou não? Alternativamente, você poderá residir na história sobre de
quem você está com raiva e por que você está com raiva, e chegar à seguinte
conclusão: “Sim, eu me sinto do mesmo modo em relação àquela pessoa.
Enquanto ela estiver agindo daquele modo, eu vou sentir raiva. Estou mantendo
a mesma posição, porque é a mesma situação. Sinto que eu tenho o direito de
me relacionar com aquela pessoa deste modo.” Você pode formar um clube em
torno da sua atitude. Mas você conse-
f
gue ver o poder e o efeito da prática para reconhecer e dissolver
completamente a sua atitude? É claro que você pode pensar: “Bem, estou
me. sentindo em paz, mas eu não mudei realmente.” Isso pode ser verdade
no início, mas você certamente não mudou por residir na sua raiva,
tampouco. Aqui você está na posição de efetuar uma mudança. Você está se
movendo na direção da mudança, porque à medida que os ventos se tornam
cada vez mais sutis, suas experiências de si mesmo ficam cada vez mais
profundas. E o que surge a partir dessas experiências, na forma de
pensamentos e emoções, muda. Quando nossos pensamentos e emoções
surgem, nossa relação com eles é completamente diferente. Isso se chama
mudança.
Então, como você nota a mudança? Para mim, mudança será ver se,
como resultado da realização desta prática ao longo do tempo, eu estou
começando a ter uma relação completamente diferente com os pensamentos
e sentimentos a respeito daquela pessoa de quem eu sentira tanta raiva.
Quando a minha relação com os meus sentimentos e pensamentos se abre, a
própria natureza da minha aparentemente sólida história muda. Há
simplesmente mais possibilidades disponíveis nesse espaço flexível da
consciência plena. Isso se chama mudança. Se eu estou tendo os mesmos
padrões de pensamento, se estou sentindo raiva e estou continuamente
pensando nela, não posso chamar isso de mudança. Talvez eu esteja tendo
pensamentos piores, o que significa que encontrei novas razões para ficar
com raiva e continuamente validar minha visão daquela pessoa: “Eu tenho o
direito de ficar zangado; Eu tenho todos os motivos para ficar zangado; é
bom ficar zangado; eu sei que é o meu amigo que precisa mudar.” Isso
também é mudança, mas na direção errada.
Quando libera a raiva através das Nove Respirações de Purificação, você
experimenta a cessação da raiva. Você se conecta com o espaço da ausência
da raiva. Você está sentindo estabilidade nesse espaço. Você está sentindo
familiaridade neste espaço. Se isso é verdade, um vento diferente está se
movendo agora. Portanto, no momento que estou consciente desse espaço,
um outro vento, mais sutil passou a circu-
lar. Sem qualquer esforço, estou consciente daquele espaço maior em mim,
No momento em que estiver consciente disso eu saberei que o vento
mudou.
Vamos explorar esta questão do observador criar a realidade. Quan do as
aflições mentais grosseiras são ativadas, isto significa que estamos
experimentando emoções negativas fortes, como a raiva. Talvez o apego
seja forte e você esteja desconectado de si mesmo. Sua visão da realidade, ou
sua perspectiva, é determinada pelas emoções negativas conflitantes que
você está experimentando. Você não está muito estável. Este não é o
melhor lugar de onde observar as coisas. A realidade que você está criando,
observando deste lugar, não é boa. Todo pensamento que você tiver e as
decisões subsequentes que você vier a tomar não serão boas. Você toma
uma decisão e você acha que é a melhor decisão que você pode tomar, mas
— na verdade — essa é a única decisão que você é capaz de tomar sob
aquelas condições. Mas, se continuar trabalhando com a prática, você
poderá chegar a um lugar onde sinta mais abertura. Você poderá minimizar
a presença do vento das aflições mentais grosseiras, as emoções negativas.
Acontece a mesma coisa com o vento da força do karma. Você pode liberar
este vento através da prática. Mais espaço aberto se tornará disponível. Você
experimentará a cessação destes ventos. Desse modo será possível que as
suas observações venham de observar o próprio espaço, e esse espaço em si
mesmo é a fonte das qualidades positivas. O conhecimento deste espaço
dará origem a coisas surpreendentes. A cessação da raiva pode dar origem
ao amor, por exemplo. Quando o vento emocional mais denso da raiva é
liberado, existe alguma conexão com o vento kármico dessa raiva que agora
pode se purificar. Quando encontra um certo grau de cessação desse vento
kármico, você reside ali.
Você poderia me perguntar: “Por que tenho que residir ali, se eu não
estou me sentindo mais zangado?” Essa é uma boa pergunta e a resposta é
que você deseja residir, ou descansar ali, porque você quer descobrir as
qualidades positivas, como o amor, que podem emergir desse espaço. O
solo está pronto, mas você quer receber o fruto.
Depois que você corta o mato num jardim, você planta as sementes. Nesse
ponto, você não pode dizer: “Está concluído.” Não, não está concluído,
ainda não é a hora da colheita. O que você faz? Você observa as sementes,
observa como elas estão crescendo. Você alimenta as sementes. O que você
lhes dá? Você lhes dá água e luz. Quanto mais umidade e luz, maior será o
crescimento.
Portanto, no momento da liberação, ou cessação, no momento em que vê
o espaço, você está descobrindo o solo em que a qualidade positiva cresce.
E o modo como a qualidade cresce é através da consciência plena aberta. A
consciência plena aberta dentro do espaço que se abre quando uma emoção
negativa se libera, precisa ser mantida constantemente, assim como a água e
o calor precisam ser constantes. Quando o solo é preparado por meio da
remoção do mato e há água e calor suficiente, com o tempo as plantas
crescem e os seus frutos amadurecem. Mas, se faltar água ou calor, mesmo
que estejam presentes, as sementes não germinarão. Mesmo se os ventos das
aflições mentais grosseiras e da força do karma estiverem esgotados, se você
não mantiver a consciência desse espaço, ele não dará frutos. No Ocidente,
parece que nós valorizamos métodos para liberar e esgotar as emoções
negativas. Mas, falta a segunda parte — atenção ao espaço. A primeira parte,
a liberação parece ser reconhecida. Reconhecem a cessação, mas não o
espaço. A maioria das pessoas simplesmente experimentaria o espaço,
dizendo: “Não há nada lá.” O que se quer dizer com “Não há nada lá.”?
Quer dizer que não há nenhuma coisa, não há coisas materiais lá. Estamos
acostumados com coisas. As coisas materiais têm significado para nós. Se
não acumulamos coisas, não vemos sentido na vida. E a maneira como nós
nos identificamos. Sem elas nós não existimos. Por isso o momento da
abertura não é sempre apreciado pelo que ele é e pelo potencial que ele
realmente tem, porque nós já nos deslocamos para o próximo projeto, o
próximo relacionamento, a próxima ideia, que são todos “coisas”. Por causa
da nossa dependência das coisas, o que inclui pensamentos e emoções, nós
não somos totalmente capazes de cultivar as qualidades positivas internas
genuínas que se encontram disponíveis.
Manter a consciência plena aberta no espaço que foi desobstruído é a parte
necessária que está faltando.
Portanto, o ponto que estou tentando enfatizar aqui — eu sempre toco
nesta questão de formas diferentes — é para não duvidar do espaço.
Devemos confiar no espaço. E o que isso significa? Significa que se
dissolver as coisas, alcançar esse espaço e descansar nesse espaço, você
saberá que esse espaço tem valor. Esse é o espaço que dá origem a tudo. A
experiência desse espaço dá origem à experiência do amor. E o próprio
espaço que gera a capacidade de experimentar amor. E o espaço que cria
toda uma realidade de amor, ou toda uma realidade de paz, seja na sua
família, na sociedade, no mundo todo, ou no universo inteiro. A capacidade
de criar essa realidade é o poder desse espaço. Mas temos que confiar nesse
poder. Temos que saber que é assim que a mudança positiva evolui
Novamente, é por esse motivo que coloco ênfase na quietude, silêncio e
espaçosidade como o refúgio interno, como o lugar para onde se voltar,
quando estamos confusos ou perdidos. E a base necessária para o refúgio é
a confiança.
Por outro lado, nós temos tantas experiências de lutas e esforços que
nunca funcionam. Temos muitas experiências em que tentamos na área
errada, sem obter um resultado positivo. Há quanto tempo estamos
tentando ser felizes? Tentar ser feliz é perda de tempo. Mas confiar no
espaço do ser como a fonte da felicidade realmente funciona. Não estamos
falando apenas de espaço; estamos falando de coisas muito, muito
específicas aqui. Você está tentando compreender a sua raiva em situações
kármicas muito específicas da sua vida. “Estou com raiva do meu patrão.”
Nesta prática, não estamos interessados na sua história detalhada sobre o seu
patrão. Não é isso que importa aqui. Você está sendo incentivado a se
relacionar com a raiva de uma maneira muito específica. A partir de um
lugar aberto de quietude, silêncio e uma mente espaçosa, você está sendo
incentivado a se conectar diretamente com essa emoção, a permitir a
experiência completa, sem repeli-la, nem produzir qualquer tipo de história,
ou se desconectar dela. Ao permitir essa emoção completa, você consegue
experimentar claramente a ener-
gia que existe debaixo da história. Há um vento; há um cavalo, uma estrutura
energética. Está claramente lá e você pode se conectar cOm ele e deslocá-lo
através da prática das nove Respirações de Purificação. Fazendo dessa
maneira você mudará a sua realidade.
Você nao pode mudar as suas emoções à força, por uma imposição da
vontade. Mas, conectando-se com a sua estrutura subjacente, o vento, ou o
cavalo que as emoções conduzem, é possível liberar essa estrutura e mudar a
sua experiência. Quando levamos a atenção para o corpo, e particularmente
para a respiração, é fácil observar como as emoções afetam a nossa respiração.
As vezes, você pode se pegar segurando ou restringindo a sua respiração na
presença da emoção. Ou você pode achar que a sua respiração fica rápida e
superficial. Existe uma relação entre a sua respiração e as aflições mentais
grosseiras.
Ao expirar muitas vezes, ao mesmo tempo em que dirige a sua consciência
através do canal direito branco, você está alterando a estrutura das aflições
mentais tais como a raiva, o orgulho, ou a inveja. O vento grosseiro fica muito
mais fraco. Isto é uma coisa que você pode sentir. E, quando você leva a
atenção para o canal, ele parece estar muito mais leve. Ao repetir a prática
com o canal esquerdo, você consegue sentir a alteração lá, também. Ao repetir
este processo novamente com o canal central, você é capaz de sentir a
alteração em toda a parte central do seu corpo. Você pode sentir um espaço se
abrindo dentro de você. Quando se conectar com essa espaçosidade,
familiarize-se com ela. Vá mais fundo nela. O canal central é um caminho para
o espaço imutável e a única maneira de viajar nesse espaço é ter um cavalo
sutil para cavalgar. Os cavalos indomados das aflições mentais e da força do
karma precisam ser liberados. Ao descobrir a espaçosidade e permiti-la, esteja
com ela sem seguir nem se identificar com qualquer pensamento que surja;
você encontrará um cavalo mais sutil, um vento mais sutil.
Quando se conectar com a espaçosidade, descanse nela. Esteja lá. Ao
descansar na quietude, no silêncio e na espaçosidade, qualquer quantidade de
tempo que você seja capaz de permanecer, muda você. Isto mudará algo em
você, provavelmente muito mais do què as muitas
outras coisas que você pode fazer para trabalhar a sua raiva. Você pode ter
uma conversa de dez horas com seu amigo sobre a sua raiva. Você pode
passar um fim-de-semana inteiro explorando como e por que você fica
zangado com alguém. Mas eu acredito plenamente que não existe comparação
entre dez horas de conversa e dez minutos de descanso no espaço da cessação
da raiva. Não há comparação quanto a qual método me transformará, ou
quanto à minha relação com a raiva e à transformação da raiva em amor ou
em experiências mais elevadas de sabedoria. Isto vale para todo mundo?
Talvez não. Algumas pessoas poderiam considerar uma conversa de dez horas
melhor, porque essa é a única coisa que elas conhecem. Isto não significa que
seja a melhor coisa para elas, significa simplesmente que é a única maneira que
elas conhecem. Se for a melhor coisa que alguém pode fazer num
determinado momento, tem valor. Mas não é o melhor método possível.
E essencial confiar no espaço que fica disponível quando a raiva é liberada.
E nesse espaço exato que a qualidade do amor emergirá. Costumo dar o
seguinte exemplo que um dos meus estudantes partilhou comigo. Ele estava
enfrentando problemas com um colega no trabalho. Eles es- tavam tendo
dificuldades nas suas relações de trabalho, e este estudante estava trabalhando
para liberar estas questões através da sua prática de meditação. Uma manhã,
ele ia pedir um café para si mesmo, quando de repente saiu da sua boca: u Dois
cafés, por favor.” Ele se viu pedindo um café para si mesmo e outro para o
colega que costumava ser a sua pessoa difícil. De algum modo, o pensamento
de comprar um café para esta pessoa surgiu de forma espontânea e genuína.
Assim, esse pensamento, essa pequena gentileza, manifestar-se-á sem qualquer
programação. E desta maneira você testemunha que a sua vida está mudando,
e a sua vida continua mudando. As mudanças não são feitas por meio de um
esforço direto ou uma imposição da vontade. Elas acontecem
espontaneamente, porque você remove os obstáculos que bloqueiam as suas
qualidades positivas, impedindo-as de emergirem. E tudo que você faz, e as
mudanças simplesmente acontecem por si mesmas. Estas são mudanças em
que podemos confiar. O que nós geralmente fazemos é o oposto. Em vez
%
de desobstruirmos o caminho, nós tentamos forçar o resultado. E então
fracassamos. E certeza que fracassaremos o resto de nossas vidas, se
continuarmos fazendo isso. Não há como mudarmos, forçando um resultado.
Mas se liberarmos os bloqueios que nos impedem de estarmos abertos e então
nos conectarmos com a abertura e confiarmos nela, o resultado surgirá
naturalmente a partir daí.
O segundo vento tem a ver com o despertar da sabedoria, que significa
estar consciente da essência, do espaço essencial do ser. Esta consciência é
sustentada pelo vento sutil e, de acordo com a tradição, existem cinco
sabedorias: a sabedoria da vacuidade, a sabedoria-como-o- espelho, a
sabedoria da equanimidade, a sabedoria discriminativa e a sabedoria que tudo
realiza. Como poderíamos experimentar a sabedoria na nossa vida diária? Há
ocasiões em que você pode estar muito aberto e permanecer desta maneira
por um longo período de tempo. Também é possível que, mesmo quando a
experiência de abertura esteja disponível para você, você não a reconheça
como tal. O momento em que você reconhece a abertura é muito poderoso.
O simples fato de estar ciente do que você está sentido quando você está
sentindo, é poderoso. Tantas vezes nosso relacionamento com a nossa pessoa
e a nossa comunicação com os outros se transforma numa história. Em geral,
passamos nosso tempo relatando experiências que aconteceram ontem, ou
poderiam acontecer amanhã, de modo que, muitas vezes, não fica claramente
visível para nós o que está realmente acontecendo no momento. Estou me
referindo à consciência da abertura como sabedoria. Abertura é o estado do
corpo da essência imutável, que é o primeiro vento; estar consciente desse
corpo imutável é sabedoria, o segundo vento.