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Shanna Hamilton

PORT 459R

Um chefe, um jagunço, um fazendeiro simples

Ao longo do romance, Riobaldo chega a ter muitos papéis, incluindo: professor, jagunço,

chefe, e acaba sendo um fazendeiro tomando conta da sua terra ao lado da sua esposa. Durante

essa jornada é visto mudanças internas em Riobaldo. Existe uma dualidade no Riobaldo – a

conflita interna de sua consciência interna contra o seu percebido “dever” como líder dos

jagunços.

Nessa metade da leitura de Grande Sertão: Veredas existe uma grande mudança interna

em Riobaldo. Isso começa quando ele se torna o chefe dos jagunços e recebe o apelido de

“Urutú-Branco” (315). Na primeira metade Riobaldo nega poder várias vezes e jamais quis ser

numa posição de poder, mas agora tem uma mudança interna e até está pensando, “O Chefe era

eu mesmo!” (314). Aqui é visto primeiramente essa dualidade de Riobaldo, o homem indeciso

que não tem muita coragem contra o novo líder que toma poder e está pronto para tomar as

decisões difíceis que vem com a posição. Riobaldo começa a explicar em muitas ocasiões o seu

processo mental em tomar uma decisão que vai afeitar os jagunços que estão seguindo-o agora.

Em cada instância onde tem uma decisão difícil, Riobaldo luta com essa conflita interna

antes de decidir o que fazer. Um exemplo disso é quando ele está viajando com Alaripe e Quipes

para encontrar um rapaz e uma moça viajante que ele acredita que seja Otacília, sua prometida.

Depois de passar um dia viajando e não encontrando-os, Riobaldo tem um diálogo interno onde

ele quer contar a história da sua vida inteira para o Alaripe e Quipes, enquanto eles continuam na

busca da sua futura esposa. Então isso é o querer dele que ele comenta que é doidice, e chega à

seguinte conclusão imediatamente depois: “Ali eu era o Chefe, estava para reger e sentenciar: eu

era quem passava julgamento! Então, falei: ‘Vão sozinhos... Eu não posso ir mais, por meu
dever.’” Nesse exemplo Riobaldo decide para cumprir com o seu dever como o líder e retorna

para os seus homens, mesmo que ele tem o desejo de ficar viajando e falando com os dois que

estão com ele.

Essa incompatibilidade dentro do seu ser é um problema constante para Riobaldo, que as

vezes limita a sua capacidade para tomar decisões na hora precisa. Essa dualidade é mais

prevalente quando chega a hora da luta final contra Hermógenes e os seus homens. Antes que

eles invadirem a rua Paredão onde Riobaldo e os seus homens tem encontrado refúgio, Riobaldo

decide ir para o rio e tomar um banho, pensando que vai passar tempo suficiente antes que o seu

inimigo vai chegar e a luta vai começar. Quando o Hermógenes chega logo de um lugar

inesperado, Riobaldo fica muito sem jeito. O desejo dele é primeiro para ficar atrás e não ir perto

do perigo, e segundo para fazer o possível para garantir que Diadorim vai ser tudo bem e nada de

mal vai acontecer com ele. Somente depois que ele chega perto e Diadorim diga para ele ter

cuidado, ele se torna corajoso e pensa, “[e]u comandava? Um comanda é como o hoje, não é

como ontem. Aí eu era Urutú-Branco: mas tinha de ser o cerzidor, Tatarana, o que em ponto

melhor alvejava” (416). Aqui é visto novamente essa luta interna de seu papel, como o chefe,

como um homem muito experiente em tiroteio; esses dois sendo completamente contrário do

homem que poucos minutos antes estava pensando em fugir da luta.

Riobaldo passa mal durante a guerra com Hermógenes e quando acorda, o seu primeiro

pensamento é um de certeza que Diadorim morreu. Somente depois que ele processa essa

informação (e quer negar), ele pergunta para os seus homens que estão no seu redor, “E a

guerra?!” A dualidade visto aqui é esse amor que Riobaldo senti por Diadorim e a tristeza de

saber com certeza que está morto (um sentimento manso) em contraste com a sua pergunta sobre

a condição da guerra, uma pergunta esperada de um líder duro que se importa com a morte de
Hermógenes e os seus homens acima de tudo. Riobaldo percebi o seu dever como chefe, como o

Urutú-Branco, como um de um líder focado com um coração fechado – ele faz de tudo para não

mostrar o que está sentindo dentro de si.

Riobaldo quer ter o melhor dos dois mundos – ele quer ter os seus sentimentos íntimos e

seguir o seu coração, mas ao mesmo tempo quer ter os seus jagunços no seu redor e ter a

liberdade de viajar sem destino e lutar sem propósito maior. Ao final do livro ele expressa um

desejo para levar o grupo dos seus homens para viver com ele e a sua nova esposa, Otacília.

Claro que isso não funciona, pois a dualidade de homem nunca pode ser mantida. Um lado ou o

outro vai ganhar, e por estar falando com o interlocutor como um ex-jagunço e um proprietário

de terra, fica claro que ele decidiu para manter o lado mais confortável e fácil. No fim, parece

que a luta maior era mesmo dentro da sua própria mente e a desejo que ganhou era o seguinte:

“Também eu queria que tudo tivesse logo um razoável fim, em tanto para eu então poder largar a

jagunçagem” (411). No final da sua vida, Riobaldo tem largado tudo a ver com a jagunçagem

para trás e está vivendo uma vida confortável com a sua esposa Otacília.

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