Capa: ML Capas
Criado no Brasil.
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
Outras Obras
Contato
O livro é para maiores de dezoito anos. Contém gatilhos emocionais,
violência sexual, violência verbal, drama, sexo, cenas de ação. Não é um
livro dark, mas poderá engatilhar sentimentos, sensações, ou lembranças
ruins. Dessa forma, deixo o aviso de antemão, assim pode optar por
prosseguir com a leitura ou não.
Leitor (a) se tiver alguma crítica construtiva não deixe de escrever sua
resenha quando terminar a leitura. Se preferir, pode me procurar nas redes
sociais que terei o prazer de ler e responder.
Boa leitura!
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“Aprendi que existem coisas boas no mundo se você procurar por elas.
Aprendi que nem todo mundo é uma decepção, incluindo eu mesmo.”
— Por Lugares Incríveis
Meu avô estava falando algo sobre ter comprado um Annihilator. Uma
das raças de cavalos mais caras do mundo. Além da sua nova aquisição, virão
outros seis cavalos que foram resgatados de seus “donos” em terrível estado
por maus-tratos. É um assunto que me interessa muito, porém meus
Eles estão dançando no espaço que foi montado para nos divertirmos. É
Arizona quem tem comandado a playlist da festa de casamento de Miguel e
Nay.
Sou uma pessoa que viu o pior dos seres humanos diante dos próprios
olhos, que sentiu na pele a perversidade, que foi abusado física e
psicologicamente de formas tão cruéis que até hoje não consigo relatar para o
meu terapeuta.
Que tipo de homem eu seria para essa mulher incrível e cheia de vida
que é a Arizona? Um estorvo.
salvaram.
do Vicente, eu cuidava da Arizona por ela ser da minha família. E não queria
crédito por isso. Não mesmo.
Por mais que eu negasse meus sentimentos para os meus dois melhores
amigos — Anthony e Miguel — eles sabem que a amo desde a adolescência.
E esse amor não diminuiu com o tempo. Pelo contrário. Tem aumentado de
uma forma assustadora. Como se a qualquer momento não fosse caber dentro
do meu ser.
Ele estava dançando com a tia Jas. Os poucos momentos em que ele
deixava sua postura de homem glacial, eram quando estava com a família.
— Meio que já somos tios dos pirralhos. Por sermos mais velhos
ganhamos essa colocação. O Miguel é o nosso tio, mas nós três nos
consideramos irmãos.
— Arizona mais uma vez tentou interceder pelo amiguinho. Meu pai,
por mais que doa no fundo do coração dele, não irá ceder para a nossa
ursinha. Não em relação a isso. Se Vicente quiser trabalhar na advocacia terá
que se candidatar como qualquer outro.
— Não sei. Talvez pelo peso que daria no currículo dele — fito a
Arizona, e prossigo: —Ele quer ser Promotor. Porém, antes precisa ter no
mínimo três anos de atuação como advogado ou de prática jurídica geral.
— Ele pode ter prática jurídica, caso a função que exerça no emprego
seja de consultoria ou assessoramento.
Sorrio quando vejo que meu pai trocou de parceira com meu irmão.
Agora o juiz Medeiros está dançando com a Arizona.
Está ficando complicado controlar meu desejo por ela. Ela deixou de
ser uma garota para se transformar em um mulherão de fazer qualquer um
—Porra nenhuma! Sabe muito bem que ele não passa confiança
ARIZONA
Nay não terá lua de mel agora. Decidiram viajar juntos no meio do ano
para as Maldivas. Na verdade, será uma viagem em família, pois levarão o
Savas com eles. O segundo casamento de Miguel e Nay foi intimista, lindo e
perfeito. Depois do susto que levamos com o sumiço da peste da família —
após o acidente — só tínhamos o que agradecer e comemorar.
Depois que venci o câncer sinto que tenho que aproveitar tudo que
tenho direito. Acreditar nos meus sonhos, correr atrás das minhas ambições
na área profissional, continuar firme e forte nos meus projetos filantrópicos.
— Vai ser rápido. Não irá sentir quase nada por conta da pomada
anestésica.
—Eu sei que você gosta muito dela, Arizona, mas não acho justo se
preocupar tanto com a mãe dele, sendo que o Vicente é perfeitamente
saudável para cuidar das coisas do dia a dia da própria mãe.
— Ele tem estudado e trabalhado bastante, Nay. E faço isso pela dona
Rimos, sabendo que a minha mãe é muito ciumenta com todos nós. Ela
fala cautelosamente:
Sinto que a família toda tem certa implicância com o Vicente. Não sei
quando isso realmente começou. Para mim ele continua sendo o garoto que
me apoiou, que me protegeu.
Ainda não tive coragem de me declarar para ele, mas farei isso após sua
formatura. Finalmente tomarei a iniciativa e espero que dê tudo certo. Que
seja recíproco.
Ao longo dos anos ele teve duas namoradas, porém não duraram muito.
Por mais que doesse no fundo do meu coração vê-lo com outra garota,
continuava fazendo o meu papel de melhor amiga o apoiando e torcendo pela
sua felicidade. Porque no final era isso que importava. Amigos de verdade
agem assim.
— Ficou sexy.
Sorrio para a Nay pelo reflexo do espelho. Jake foi atender uma ligação
pessoal, então fico mais à vontade para analisar o meu novo adereço.
— Estou me sentindo estranha e erótica.
Ela ri.
Por enquanto só posso agradecer por ela não ter entrado na fase de
desejar e misturar alimentos que nunca passaram pela cabeça de alguém em
sã consciência.
Meus pais queriam abrir uma exceção para eu entrar como contratada
da equipe do doutor Rafael Sena. Contudo, não seria justo e nem queria
crescer profissionalmente tendo meus pais como ponte. Muitas pessoas do
Eu sou capaz.
do Instituto. Ela sabe que desde a nossa adolescência não nos damos bem.
Apesar de alguns anos para cá termos começado a nos tratar melhor do que
antes.
— Se ousar fazer isso a dona Selena irá buscar você pela orelha.
passar dos meses notei que não era um apreciador de arte realista aleatório.
Minhas obras são sempre adquiridas por ele.
Luri disse que ele é um milionário que não aparecia na mídia. Não me
enviou fotos e nenhum relatório. Apenas descreveu a aparência física. No
fim, minha imaginação não conseguiu acompanhar as características que
— Com certeza.
Faz quase uma semana que não venho ao clube secreto. Nem os
exercícios pesados na Colmeia conseguiram tirar minha tensão dos últimos
dias.
pessoa.
Com o coração quase pulando para fora do peito, Kostas ainda tem
coragem de brincar erguendo a garrafinha de água gelada. Estou prestes a
tentar derrubar o grandão barbudo quando finalmente me entrega a
garrafinha. Bebo a água quase toda.
A tia Jas comandou o treino hoje. Juro que não sou de reclamar dos
treinos, mas hoje a mulher estava uma máquina mortífera.
—Ainda bem que olhar demais não arranca pedaço — diz Kostas com
seu tom debochado.
— Aposto que não vieram treinar, pois sabiam que a tia Jas estava
atacada.
— Tia Jas descobriu que o tio Enzo colocou a bunda dela no seguro.
Discutiram, algumas coisas foram quebradas e agora ele está igual um
cachorrinho querendo carinho da dona — esclarece Nay.
— Espero.
— Ele ao menos deveria ter avisado para a tia Jas que tinha colocado a
bunda dela no seguro — profere Nay, pensativa.
Quando vejo o Miguel abrindo seu colete do terno, percebo que está
ferrado. Claro que o gênio deve ter feito algo parecido, ou em maior
proporção. Nem quero estar por perto quando Nay souber que seu marido
colocou alguma parte do seu corpo no seguro.
sendo colocado.
—Ok. Até!
braços e mãos.
Eu não sei o que fazer. Parece que meus pés não obedecem aos meus
E por algum motivo não consigo parar de olhar para o seu peitoral onde
a água escorre livremente, enquanto sua mão grande continua acariciando seu
pau.
vez que vejo um homem nu. Na verdade, os que eu vi foram nos vídeos
pornôs. Quem nunca? Pois é. Agora ao vivo e em cores...
diretamente na piscina de treino dos cavalos fiquei fascinada. Sem dúvida foi
um dos desenhos que mais tinha gostado de fazer.
sentia que o Elordi não gostava de mim, e isso mexia comigo mais do que
deveria.
esquecer.
E acho que foi assim que comecei a me apaixonar pelo Vicente. Só não
entendo como de repente voltei a pensar nesses sentimentos que estavam
sucumbidos pelo Elordi.
Elordi era muito mais alto que eu. Sem graça acabo tirando minhas
mãos do rosto, sentindo minhas bochechas quentes.
água escorrendo pelo seu peitoral, abdome e se perdendo entre sua virilha e
toalha que o cobre da cintura para baixo.
— Desculpa. Eu não sabia que você estava aqui. O meu quarto, assim
Ele não era muito de sorrir. Porém, o sorrisinho cínico que puxa nos
seus lábios me deu vontade de surrar sua cara bonita.
— Então pode sair! Vou me arrumar rápido e deixo o quarto livre para
você.
— Não foi!
Entro no meu estúdio, pronta para finalizar a arte realista que comecei a
fazer há duas semanas. Não estava conseguindo me concentrar o suficiente.
Mas agora que estou cheia de emoção e querendo expor isso, irei concluir.
Espero que o meu admirador não se assuste com essa minha obra.
Apesar de que, a maioria dos meus quadros são desenhos realistas
perturbadores. Pode assustar em um primeiro momento.
Agora com mais calma me dou conta de que a peste armou para que eu
encontrasse o Elordi dentro do quarto. Nay foi sua cúmplice. Mas a mente
perversa era do Miguel.
pelo Vicente.
seus sonhos.
Ela pagou uma indenização que Vicente usou para quitar as prestações
da casa, que era financiada pelo banco.
— Sabe que não precisa. Fico sem graça com os seus mimos.
estar. Aliás, a casa toda parece que não é limpa há semanas. Não é saudável
viver em um ambiente assim, ainda mais uma pessoa que vive com a saúde
instável.
— Muito pouco.
— Tem que se cuidar. Sabe que tenho muito carinho pela senhora.
Meus pais também gostam muito da senhora.
Falarei para o Vicente levar sua mãe ao hospital. Desde que ficou nessa
— Não precisava gastar comigo. Além disso, nem sei quando será a
colação de grau do Vicente.
—Claro! Só um instante.
Xereto dentro da gaveta para ver se encontro a outra parte. Mas não
encontro. Retorno ao quarto com os álbuns e a fotografia presa entre os meus
dedos.
— Eu acho que rasguei sem querer, filha. Essa foto foi tirada no seu
aniversário de dezessete...
—Dezesseis — corrijo.
Meu presente para ele será o último desenho que fiz de nós dois, com
base na última foto que tiramos juntos em um passeio pela praia do Leblon.
Ela sempre foi uma excelente dona de casa. Tudo era bem
arrumadinho, limpo, sempre tinha um bolo em cima da mesa, geladeira cheia
e organizada. E desde que ficou doente parece que nada é o mesmo.
Kostas vem entregar nossa refeição que pedi via aplicativo. O chamo
para se juntar a nós. Porém, como o barbudo é teimoso, disse que só irá
almoçar quando eu estiver no hospital.
— Tenho certeza de que será muito feliz, menina. Vai encontrar o amor
verdadeiro quando menos esperar.
Ela era conhecedora dos meus sentimentos pelo seu único filho.
Revelei a ela quando me pegou chorando no meu aniversário de dezoito anos.
Naquele dia fiquei magoada pelo Vicente não ter ficado até o final da
comemoração. Ele atendeu uma ligação de sua namorada e disse que ela
Tiro o jaleco por estar sentindo calor. Fala sério! Impossível eu estar na
menopausa.
Adentro o escritório da Nay sem bater. Ela desvia sua atenção dos
documentos na sua frente me fitando sem entender nada. Nem eu sei o que
está acontecendo comigo.
— Miguel quis dar uma força para vocês. E acho que foi uma boa ideia,
não é? — Abre um sorrisinho malicioso.
Começo a andar pela sua sala, irritadíssima. Nay começa a rir muito, a
— Calma, ursinha. Nunca vi, juro. — Ela me encara, séria. —Sabe que
está com ciúme dele agora, né?
— Não...não estou!
— Ah tá.
Nay é a minha melhor amiga. Tinha que desabafar com ela, ou iria
explodir.
— Não sabia que era possível um homem carregar algo tão grande
entre as pernas.
— Eca!
Revira os olhos.
— Tem que melhorar seus adjetivos. Fora sua impressão do pau dele,
sentiu mais alguma coisa?
— Vergonha.
— Conta logo, Arizona. Seja sincera comigo. Não sentiu seu coração
batendo mais forte, friozinho na barriga, calor, arrepio, nada...?
que tem trabalhado bastante para conseguir um aumento na empresa que está
trabalhando e estudando no seu tempo livre para o próximo concurso. A
última coisa que devo fazer nesse momento é exigir sua atenção.
Não sai como uma reclamação. Apenas concluí que meu primo postiço
e eu estaremos no mesmo projeto sendo que todos sabem que as chances de
brigarmos é alta.
forma possível.
Ela é uma pessoa bacana, simpática e bonita. É um pouco mais alta que
eu, tem cabelo curtinho, visual despojado. Sempre está sorrindo, se
dedicando aos seus compromissos referentes ao Instituto.
Desde que são amigos percebi, que Alicinha o olha com esperança de
que passem da zona de amizade. Talvez, aconteça um dia. Elordi nunca
namorou sério, não a ponto de apresentar alguém para a família. Pensando
bem... ele nunca foi visto publicamente com nenhuma mulher — tirando as
mulheres da família.
— Estou bem.
—Qualquer coisa que sentir... avise-me que ligo para os seus pais
imediatamente.
Sorrio do jeito que ele fala. Acho que ele é mais pilhado do que meus
pais. O que agora está sendo uma novidade. Quer dizer, no colegial vivíamos
como cão e gato, mas a qualquer sinal de que eu iria ao banheiro com certa
pressa, lá estava ele querendo saber se estava passando mal. Isso era
realmente adorável.
o que realmente mereço por exercer e fazer serviços que ultrapassam o meu
cargo.
— Tem três dias que você não aparece, Vicente. Por onde esteve?
— O que?
— Eu tive que mentir para a minha menina, Vicente! Falei que rasguei
a foto sem querer.
— Onde eu errei com você, meu filho? Você não era assim.
Sim. Arizona sempre foi e será a minha melhor amiga. Só que agora
meus interesses estão em primeiro lugar.
Alicinha insiste para nos ajudar com as crianças. No entanto, minha avó
foi categórica ao dizer que era melhor continuar com a mesma função.
Tenho vontade de trocar de lugar com ela. Vejo nos olhos castanho-
escuros que quer continuar perto do Elordi. Deveria alterar nossas funções.
Meu celular vibra no bolso da calça jeans de cintura alta. Era uma
mensagem da Nay. Abro o WhatsApp e tusso por tamanha surpresa ao ler:
colorido. Nay venda os meus olhos e me ergo pronta para prosseguir com a
brincadeira. Ainda bem que escolhi o meu par de tênis mais confortável para
vir.
Esbarro minhas costas num corpo grande e forte. Sendo bem treinada,
me viro rapidamente agarrando o braço masculino. Pressuponho que seja o
Miguel. E estou a ponto de projetar seu corpo para a grama usando uma
técnica de jiu-jitsu, porém seguro à vontade.
meu nariz. Era o Elordi. Só ele tem esse perfume no mundo todo. Na sua
última temporada no Japão retornou com esse aroma que foi feito
especialmente para seu uso.
Anthony tem sido seu maior parceiro para ir ao Koyosan, nas montanhas da
província de Wakayama, na região centro-sul do Japão. Miguel apresentou
aos seus dois melhores amigos e tornou-se o verdadeiro bálsamo deles.
Respirando em tragos começo a subir minhas mãos pelo seu braço. Sua
pele febril e máscula faz o meu corpo se arrepiar. Mesmo vendada, pressiono
mais os meus olhos fechados ao tocar no seu maxilar, em seguida na sua
barba-cerrada que arranha minha pele de um jeitinho gostoso.
anguloso. Não deveria estar fazendo isso, mas faço. Estou sendo guiada pelo
meu instinto e energia. Os indicadores contornam seu nariz romano, suas
sobrancelhas grossas, suas pálpebras, orelhas... cada lugarzinho. Quando as
desço para perto de sua boca sinto sua respiração quente, pesada.
Elordi segura o meu pulso e juro que por alguns segundos penso que
vai beijar a minha mão. Porém, quando uma das funcionárias vem avisar que
havia terminado a recreação o encanto se quebra. Como se tivéssemos sido
acordados num estalo de dedos.
Seu olhar desce para a minha boca, depois volta a se fixar nos meus
Escutamos a voz da Alicinha. Dou dois passos para trás para me afastar
do Elordi. Forço um sorriso para ela quando se aproxima com a rede que
guardamos as bolas.
Seus grandes olhos azuis refletiram desejo. Sei que ficou abalada, mas
isso não quer dizer nada. Na verdade, acho que ela ficou impressionada com
o meu tamanho.
vendada — foi como sentir o que era viver no paraíso. Mais um pouquinho e
teria beijado a palma de sua mão.
Por algum motivo ela ficou emocionada. Quis questionar, desejei ser
capaz de superar meus traumas e ser forte o suficiente para confessar o que
guardo por tantos anos. Não sou homem apto para tê-la como minha mulher.
Ela merece mais. Muito mais.
— Papai não vai gostar disso. Não vai dizer nada, irmão? Você é muito
Falando assim Ragner parece ser mais velho que ela. Assim como o
restante dos homens da família, sofremos de possessividade aguda.
Hoje fiquei de levar os meus irmãos à escola. Minha mãe pediu, pois
bem cedinho se encontraria com a sua equipe no fórum para irem à casa onde
as vítimas do processo estão em segurança. E o juiz Medeiros está em São
Paulo. Foi palestrar na semana do curso de Direito da USP.
Puxo o ar com força pela informação. Meu pai não vai gostar nada de
saber disso.
— Somos uma boa equipe. — Ragner pisca o olho direto para mim, e
conclui: — Nenhum moleque vai chegar perto da minha irmãzinha!
Meu carinho não espera por nós. Sai do seu quarto brava. Para
provocar, o caçula grita no batente da porta do quarto:
— Mas é menina!
Vicente esteve comigo durante todos esses anos. Esteve ao meu lado
durante o meu tratamento, me abraçou apertado todas as vezes que pensei que
o câncer iria voltar... ele é o homem certo.
Não tem nada mais clichê que se apaixonar pelo melhor amigo.
Todavia, aconteceu. E agora estou decidida a me declarar, e sinceramente
espero que possamos viver essa história de amor que tem perpetuado na
minha imaginação.
— Não vai ficar para o almoço, filha?
meus avós residem. Aos domingos nos reunimos. É uma tradição. Hoje
minha avó e tia Agatha prepararam a primeira refeição do dia especialmente
para o Elordi. Hoje ele fará o concurso para delegado civil.
chamada imediata, após resultados das provas objetivas. Elordi quer ser
delegado para mudar um pouco as coisas, ajudar mais as pessoas. Apesar de
ser cético em grande parte do tempo, todos sabemos que tem um coração
enorme.
tios.
O doutor Severo passa a mão grande no cabelo loiro — que quase não
vemos os fios grisalhos. Meu pai sempre teve birra para o lado do meu
melhor amigo. Minha mãe que sabe domar a fera.
— Pai, sério?
— Eu já venho, Kostas!
Quando percebo fico na ponta dos pés para alcançar sua bochecha e
pressiono meus lábios na sua pele. A barba bem-feita belisca a minha pele de
um jeitinho gostoso. Em seguida o abraço, fechando os olhos ao sentir sua
fragrância almiscarada exalando de forma sutil...uma delícia.
Elordi não esperava por isso. Seus braços grandes e pesados demoram a
retribuir o afeto. Nitidamente fica surpreso. Quase suspiro quando sinto seu
abraço.
Minha mão direita vai para a sua nuca, e então sussurro pertinho do seu
ouvido:
— Sei que não vai precisar, mas nunca é demais. Boa sorte na sua
prova. — Sorrio quando me abraça mais forte.
— Na verdade, achei bem fofo você ter ido desejar boa sorte para o
garoto de ouro.
— Por favor, Kostas. A família inteira o abraçou e desejou sorte para
ele. Fiz... por empatia.
Elordi passa por nós pilotando sua moto que custou quase meio milhão
de reais, e logo atrás Ezequiel o segue no carro junto com os outros da equipe
que fazem a segurança dele. Como sempre, o meu primo postiço está usando
sua jaqueta de couro preta e luvas de motociclista.
Expiro e inspiro. Minha mãe havia me dito isso algumas vezes. Talvez,
seja verdade.
Enrugo o nariz ao ler a mensagem do Vicente. Ele disse que está me
esperando no restaurante La Fiduccia. O restaurante de altíssimo nível fica no
Sei que está ganhando mais agora que subiu de cargo na importadora
de vinhos. Contudo, nesses ambientes os valores são exorbitantes. Antes ele
concordava em aceitar que eu pagasse metade da conta — o que não era um
problema para mim — agora faz questão de arcar com o valor sozinho.
Por muito anos pensei que me tinha somente como sua melhor amiga.
Em outros momentos parecia sentir algo por mim. O jeito que me olhava,
quando me tocava com mais carinho do que deveria. Isso foi alimentando as
esperanças que rondam o meu coração.
— Algumas.
— Convidei o Elordi.
Por muito pouco não bebo todo o vinho que estava na taça. Ele
continua:
A amizade dos dois não é como o Vicente gostaria que fosse. Elordi
tem uma amizade fortíssima com o Anthony e Miguel, e nunca permitiu que
ninguém entrasse nessa equação. Eles são apostos. Acredito que meu melhor
amigo esperava ser mais próximo do Elordi, pois desde que o conheceu ele
Vicente sofria muito bullying por ser magro demais, por não ter
habilidade nenhuma com esportes, por ser bolsista. Apelidos horríveis não
faltavam para ele. Isso mexeu com o meu melhor amigo. Ele realmente ficava
Sou grata ao Elordi por tudo que fez pelo Vicente quando ninguém
mais tinha coragem.
Cheguei a falar com a Irmã que era diretora ne época, fui à supervisão,
fiz pequenos protestos. Eu também fui alvo de bullying. Com apoio dos meus
pais e muita terapia aprendi a lidar com essa situação que tanto me magoava.
Pessoas que praticam o bullying também precisam de ajuda psicológica.
minha cabeça, o bad boy iria acabar magoando o meu amigo da mesma forma
que fez comigo quando tentei me aproximar. Porém, depois aprendi a lidar
com a amizade deles.
— Ele tem estudado muito para o concurso. Aliás, a essa hora já deve
ter começado a prova.
Ele sabe que minha relação com o Elordi nunca foi das melhores.
Seu tom de voz não faz jus ao sorriso que molda seus lábios.
— Bem. Obrigado por ter comprado roupa e sapato para ela ir à minha
— Talvez. Para ter certeza seria bom ler a bula do remédio e ver quais
são os efeitos colaterais.
limpeza.
investir o dinheiro que está juntando para ampliar a casa de vocês, fazer uma
reforma. Sua mãe adora cuidar do jardim, mas nem tem como sair sozinha
para a área externa. Faz tempo que falei que deveria fazer uma rampa de
acesso.
— Ela entende que não pode ficar perto dela o tempo todo. Dona
Hermínia sente um orgulho filha da mãe de você, Vicente. Só que deixá-la
em uma Casa de Repouso... eu não sei.
— Sei que vem de uma família podre de rica e que dinheiro nunca será
um problema para você. Mas não precisa ficar sempre fazendo caridade.
Sigo direto para o vestiário. Outras mulheres que estão escaladas nessa
missão terminam de trajar a roupa feita especialmente para nós. Logo depois
saio terminando de fazer o coque firme no cabelo.
eles para dizer como será feito o transporte. Luri conseguiu invadir o sistema
cativeiros são subterrâneos. Fora isso, Luri conseguiu imagem por satélite da
área florestal onde estão escondidos e viu que tem algumas covas pelas
redondezas.
Nay fica com cara de poucos amigos por não poder ir, porém sabe que
não seria certo arriscar se machucar estando grávida.
Vem outro com um enorme pedaço de madeira. Saco a arma dos dois
coldres e disparo dois tiros certeiros no meio da sua testa. Foram longos
minutos lutando, atirando, dando tudo para acabar com esses monstros.
Sem mais munições e sem poder esperar corro para dentro da mata.
Não poderia deixar eles matarem as crianças. Devem estar desesperadas e não
aguentarão muito se forem soterradas.
Encontro um dos infelizes jogando terra para dentro da cova. Filho da
puta! Sem nenhuma arma, não me resta outra opção a não ser luta corporal.
O homem é duas vezes maior do que eu. Pelo comunicador chamo por
reforço. Tento desviar como posso, contudo, acabo sendo alvo de alguns
socos seus no meu estômago, que por muito pouco não roubam todo o meu
oxigênio. Os meus golpes não parecem o desestruturar como gostaria. Miro e
acerto diversas vezes, sujando as luvas de couro com o seu sangue.
Vou ao chão com um dos seus golpes e antes que consiga me levantar
agarra meu tornozelo. Arrasta-me e me joga dentro da cova. O cheiro podre
causa ânsia. Penso que irei machucar alguma criança ao cair..., mas caio em
cima de corpos pequenos sem vida. A vontade de chorar se mistura com o
pavor.
—Elordi! Elordi!
— No braço. Acho que foi de raspão. Precisei fingir, pois tem mais
deles...vamos esperar ajuda — responde me olhando seriamente.
sentindo dor e estando mais ferido do que eu. Continuam jogando terra em
cima de nós.
aquece meu rosto, seu suor se misturando com o meu, nossas respirações
pesadas.
Talvez, não tenha mais um amanhecer para nós. Umedeço meus lábios,
sentindo-os secos e sedentos. Eu quero beijá-lo. Pode ser a última coisa que
eu faça.
Fora da cova vejo o quanto sua coxa está sangrando. Toco na sua testa
sentindo-o febril. Sem perder tempo solicito a equipe de resgaste.
— Certeza?
E sob o olhar de todos, sem me importar com nada fixo meu olhar no
seu como se só existisse nós dois. Agora estou mais aliviada. Não sei como e
nem porque, porém começamos a andar o mais rápido que conseguimos. Ele
forte, nem nos importamos com os machucados. Eu só quero sentir seu calor.
Porém, saber que uma pessoa importante se arriscou para salvar você,
que se colocou em risco... não tem como controlar a emoção. Elordi faz parte
da minha família. Ele é e sempre será importante na minha vida.
O jeito que fala parece que é mais para si. Ele acaricia minha bochecha
levemente, quase um raspar de dedos e limpa a garganta voltando a ter sua
postura altiva.
Só fui para casa quando escutei o tio Edu afirmar que todos os bandidos
estavam mortos. Inclusive o que bateu na Arizona. As crianças resgatadas
ficarão sob a guarda do Estado até encontrarem seus responsáveis.
Não era paranoia da nossa parte esse cuidado extra após a missão.
Encerro a ligação com o meu pai e fecho os olhos. Logo os olhos azuis
oceânicos transbordam na minha cabeça.
O maior e acredito que único defeito da Arizona era ser boa demais a
ponto de colocar a sua vida em risco. E ela estava disposta a salvar todas as
crianças possíveis, mesmo que isso custasse a sua própria vida.
A mulher era uma máquina. De longe era uma das melhores soldadas
da colmeia. Destemida, sempre pronta para qualquer missão, ágil, sempre
pensando nas vítimas. O maior problema era não medir as consequências.
de verdade.
Nas trepadas, as mulheres bem que tentam beijar minha boca, mas não
retribuo. Não da forma normal. Rapidamente trato de dispersar a atenção da
minha boca.
Tenho que me controlar. Não posso tomá-la como minha, não sabendo
que tem sentimentos pelo Vicente. Aliás, eu a empurrei para isso quando a
rejeitei. E sinceramente não sei o que fazer, principalmente agora que o seu
melhor amigo não me passa mais tanta confiança.
Não é sempre que venho dormir na morada dos meus pais. Apesar de
ter o meu apartamento na área nobre da cidade, faço questão de me dividir
entre lá e cá para acompanhar o crescimento dos meus irmãos de perto. E
quando o meu pai está viajando a trabalho gosto de ficar com eles.
— Podemos — afirmo.
Sendo o excelente irmão que sou, começo a narrar uma das centenas de
histórias infantis que decorei por causa deles.
Acatando um pedido especial dos meus avós, Anthony e eu decidimos
participar do evento beneficente como atletas. Se fosse um evento direto do
Instituto Eleonor estaríamos dentro num piscar de olhos. Mas como era algo
em prol de uma das causas que apoiamos, concordamos.
Atena que nem sonhe com uma coisa dessas. Escuto as instruções do tratador
de cavalo por educação. Conheço praticamente tudo do universo dos cavalos.
Monto no garanhão marrom, conversando com ele.
ter tanta sede de vitória quanto eu. Logo tomo a frente e alcançamos o
primeiro lugar.
Participei como competidor apenas por ser uma ação social que
promoveram em prol de crianças carentes, que têm algum tipo de deficiência
física ou mental. Olhando ao redor, praticamente só vejo os principais sócios
do Jockey Club, que compõem a elite carioca.
— Parabéns, irmão. Sua mãe tirou fotos de você na corrida para uma
vida toda. — brinca Anthony.
não tinha o que fazer. Ele fazia parte da vida dela e era o melhor candidato a
ganhar o coração da garota dos meus sonhos.
— Acho que ele já foi embora. Arizona ainda não chegou. O sonso
estava tão vidrado em você que nem sentiu falta da melhor amiga — sibila
Miguel com toda tranquilidade do mundo.
— Será que aconteceu alguma coisa com ela? Arizona costuma ser bem
pontual — indago curioso, afastando as engrenagens ruins da minha mente.
— Eu estou falando que acho que ele quer a sua bunda, e você parece
que não está nem aí.
Seguro-me para não socar sua cara. Anthony tenta segurar a risada, mas
é mais forte que ele.
— Falamos sobre isso mais tarde!
— Não estou preparado para essa conversa. Amo você, irmão. Mas
—Vi o jeito que ele estava olhando para você. Claro, ser homossexual
não é problema. Toda orientação sexual deve ser respeitada. Só que é
estranho... Quer dizer, ele e a ursinha são amigos há tanto tempo. Ao menos
ela deveria saber. Ou, será que ela sabe e não comentou nada a pedido dele?
Vicente, até onde sei, só namorou com garotas. Se ele realmente for
gay, será que não assumiu sua verdadeira orientação por receio dos
julgamentos?
vermelho.
Inseguranças.
Traumas.
Dúvidas.
Medo.
Ah, foda-se.
Nesse lugar quase noventa por cento das pessoas são da alta sociedade do
Rio. Tenho que marcar presença, mostrar que sou tão bom quanto eles.
Nossa relação que já era limitada ficou pior quando soube que eu havia
mudado de ideia sobre o curso de graduação. O doutor e doutora Severo em
um dos típicos almoços que fui convidado deixaram claro que se eu não
passasse de primeira no vestibular para entrar em medicina, custeariam
cursinho preparatório.
Quase não consigo controlar meu sorriso quando vejo o Elordi montado
no cavalo, parecendo um rei, um lorde inglês. É angustiante guardar o que
sinto por ele, não poder falar para todos ouvirem o que está guardando dentro
do meu coração.
Bato palmas com vontade quando ganha. Ele é bom em tudo. Não tinha
nada que esse ordinário não sabia fazer.
Por ter um compromisso preciso desmarcar com a Arizona. Sei que não
tenho sido um bom amigo faz tempo, mas quero sempre a manter por perto.
Preciso dela.
ser mãe solo. Eles não namoravam, nem tinham qualquer relação amorosa.
Só que mudei os planos deles.
velha. Uma longa história cheia de reviravoltas, mas que teve um final feliz.
Independente de tudo que passaram, não deixaram nada me atingir, muito
menos a minha irmã que já havia nascido quando meu pai descobriu tudo.
fim. Acredito que o patriarca dos Lobato deve ter pagado uma pequena
fortuna para a vítima desistir, ou conseguiu na base da ameaça. Infelizmente
nem todas tem estrutura psicológica para lutar.
olhando.
— Está errada...
Nunca mantive essa parte da minha vida oculta da família. Nem tentei,
pois sei que saberiam mais cedo ou mais tarde. Minha mãe não gostou de
saber, mas respeitou.
Juro que sinto que o meu coração fica diferente. Sou muito novo para
divertir um pouco.
— Arizona, me escuta...
— Tchau, Elordi!
Deixa-me plantado como um idiota. Cristo, que vontade de guardá-la
em um potinho. Olho para o teto, expirando e inspirando.
Não sei qual dos meus dois melhores amigos é o mais irritante.
— Mas pode ir, irmão. Cuide do que é seu, ou vem outro cuidar
rapidinho. A ursinha, com todo respeito e amor de irmão que sinto por ela, é
uma mulher belíssima. Os caras estão de olho nela. — Dá um tapinha
camarada na minha face, e conclui: —Se liga, mano.
pode estar alimentando sentimentos por mim, além da amizade, que nunca
poderei corresponder.
Tenho compromisso!
— Parabéns, filho.
— Nosso filho tem potencial, morena. Mas concordo que seria uma
aflição do cacete — diz meu pai, me fitando.
Miguel, que foi levar a Nay para atacar a cozinha do clube. Minha avó
explica a ausência deles. Se bem que desconfiei que não estariam, pois disse
que só nos veríamos no coquetel. Arizona também não estava, porém fiquei
tranquilo ao ver o Luige na área dos competidores.
Encaro o tio Alex através das lentes escuras dos óculos. Ele continua
olhando para a pista de corrida.
Seria burrice admitir que estou indo vigiar sua filha como um
cachorrinho. Então, prefiro omitir.
— Espero que vá, Elordi. Sei que Luige não tem uma boa fama.
Ele sorri.
onde está acontecendo o coquetel. Não curto, mas por educação tenho que
ficar.
Luige não participou do coquetel. Logo após a corrida foi embora. Pelo
que sei, suas festinhas começam cedo e duram até o dia raiar. Despeço-me
dos meus pais e vou para o heliporto do clube aguardar a Arizona.
Sua frase toca em mim como uma lufada de ar. Ela volta a olhar para a
Agradece quando recebe o drinque. Eu juro por Deus que não estava
preparado para assistir ela pegar o morango e chupar de leve a metade da
fruta. Em seguida o morde fechando os olhos por alguns segundos em deleite
Ela vai com as garotas e fico igual um pateta. Nem era para eu estar
aqui.
Luige aparece agarrado à duas mulheres. Pela cor dos seus olhos e a
maneira que está esfregando o nariz com os dedos a cada meia dúzia de
palavras que diz, evidencia que havia cheirado pó.
Estava pronto para ir ver a Arizona mais uma vez, quando uma mão
pequena com longas unhas pintadas de rosa acaricia a minha coxa por cima
da bermuda.
— Faz tempo que estou vendo você sozinho. Não está a fim de se
divertir?
—Isso é bom. Cada um faz aquilo que gosta, que tem vontade. Mas
realmente não estou interessado.
Deixo que Arizona me puxe para si. Entrelaça nossas mãos como se
fôssemos acostumados. Sua mão macia e pequena quase se perde dentro da
minha.
Antes que eu pudesse nos levar para um lugar mais tranquilo. Nós nos
assustamos ao ver uma garota rolando a escada até parar no chão. Só
desligam o som quando alguns convidados começam a pedir.
Por outro lado, não estava preparada para explicar ao Elordi porque agi
daquela maneira quando a bonitona de peitos enormes estava dando em cima
dele. Peguei a conversa no final. Claro que um homem grande como ele daria
conta de três mulheres fácil.
Eu não sei por que estou agindo como uma completa idiota. Se ele
exigir uma explicação... Ficarei muda.
Sentada na sala de estudos da universidade, deixo de escanteio o livro
que estou lendo para ajudar no meu trabalho de conclusão de curso, para
Quando me dou conta da sombra que faz quase por completo na mesa,
ergo o rosto me deparando com o olhar do Vicente. Sorrateiramente cubro
meu caderno de desenho descansando os meus braços em cima.
— Não tem que mentir para mim. Sou o seu melhor amigo.
Até uns dias atrás era o homem que eu acreditava fielmente estar
apaixonada. Estou uma bagunça de sentimentos.
A verdade é que sempre quis algum motivo para odiar o Elordi por ter
me rejeitado.
— Eu apenas não queria que fizesse papel de bobo. Elordi só tem dois
amigos. Anthony e Miguel. E você ficava atrás deles... eu estava querendo
— E agora ficou irritada comigo sem motivo! Por que não conta o que
realmente está acontecendo? Tem a ver comigo?
Vicente segura meu braço com força. Fico sem reação pela maneira que
intercede. Ele nunca tinha agido assim antes. Sempre foi carinhoso,
cuidadoso.
O encaro chateada pela situação. Faz tempo que ele não é o Vicente...
meu melhor amigo, a pessoa pela qual me apaixonei e criei sonhos
românticos.
Almoço no refeitório do hospital com a minha mãe. Nem sei expressar
o quanto amo essa mulher. Ela sempre será a minha doutora fada. Apelido
que a nomeei quando entrou no programa de seleção para trabalhar no
hospital Arizona. Minha mãe se aproximou de mim no momento que mais
precisei, sem saber que eu era filha do seu primeiro amor.
— Sim...
— E com o Elordi.
— Mãe, sério?
— Ele não agiu como deveria com você quando se conheceram, mas
filha, não estou passando pano para ele, juro. — Cruza os dedos indicadores
em frente aos lábios e os beija. — Não fazia muito tempo que o Elordi tinha
sido adotado pelos seus tios. E sabemos o quanto ele sofreu.
Nesse ponto minha mãe tem razão. Dona Eleonor prossegue falando:
— Ele raspou a cabeça para provar para você que não tinha ficado feia
sem cabelo. — Sorri com certa emoção. — Foi um choque quando eu abri a
porta e o vi careca.
amigo fez por você. Com o tempo, confesso que acreditei que pudessem
namorar, noivar, casar... sempre foram tão bonitinhos juntos. Mas conforme
foram crescendo vi que era somente amizade.
— Mãe...
— Meu amor, não se declare se não tiver cem por cento de certeza.
Se minha mãe falou tudo aquilo sem saber como agi na festa do Luige
com o Elordi... se soubesse teria dito com toda certeza do mundo que estava
certa. Mas nem eu sou capaz de admitir, de ter certeza... eu sou uma cadela
insegura.
Ele com certeza vai me achar uma bobinha. É raro ele ir à galeria da
família. Acho que o meu primo postiço não curte desenhos realistas. Suspiro
São quase dez horas e eu ainda estou decidindo o que irei vestir. Ao
menos a maquiagem e cabelo estão prontos. Por fim opto por um cropped e
calça flare. Escolho o par de saltos altos mais confortáveis que tenho.
— Impossível — resmunga.
sei que tem mais algum membro da equipe. O localizo na área vip. Está sério,
compenetrado e olhando para todos os lados sutilmente.
— O cara te incomodou?
Após beber o drinque vou para a pista de dança. Fico perto da Carol e
das outras garotas. Danço para valer a ponto de suar bastante. Reverso entre
uma dança e outra para ir ao bar tomar uma Gim-tônica. Na minha última ida,
Kostas impede trocando o pedido que fiz por uma garrafa de água. Ele não se
importa nem um pouco com a minha cara feia.
mim.
— Claro!
Beijar um cara qualquer não foi bom. O beijo foi normal, ele sabe
beijar bem, porém não me senti em êxtase. Queria apenas esquecer o Vicente
e não pensar no Elordi. E presumi que sair para dançar, conversar, paquerar e
beijar outro homem ajudaria.
— Eu vim te buscar!
— Ah, então me chamou para ver outro enfiando a língua na sua boca
— fala, furioso.
— Mas chegou no meu celular uma mensagem sua pedindo para buscá-
la, pois o Kostas não estava bem.
Olho em direção ao bar onde o Kostas estava. Nem sinal do sonso de
uma figa.
— Estava com quantas? Ou melhor, será que não estava com aquela
bonitona peituda?
— Espera, Arizona!
— Pare, Arizona...
— Perguntei mil vezes o que todas as garotas tinham que eu não tinha.
Claro, não estava no meu melhor momento. Meu cabelo estava crescendo
naquela época, estava ganhando peso...
— Arizona...
— Queria ao menos ter sido sua amiga. Tentei me convencer de que era
um garoto rebelde, que por conta de tudo que sofreu tinha dificuldade de
deixar as pessoas se aproximarem..., mas você parecia ser assim só comigo.
— Eu nunca quis...
—Arizona... me perdoa... por tudo que fiz você sentir, eu não tinha
ideia de que se sentia assim.
Aproximo-me o encarando.
— Não foi isso que perguntei. Se é ou não bom para mim. Diga, porra!
— Eu...
Agarro suas costas o apertando contra mim, querendo que tome tudo,
que continuemos nos beijando até cansarmos. Elordi é um homem grande,
forte, viril, tão másculo e sexual. Sua boca continua me consumindo, sedento.
Após sair do trabalho vou direto para o flat onde o meu outro Sugar
Daddy alugou para mim. Fica em um prédio bem localizado no Leblon.
Eu o amo e odeio com tanto afinco que tenho medo de mim mesmo.
A única coisa que ele não tem é o amor da Arizona. Por um tempo
desconfiei que minha melhor amiga era apaixonada pelo seu primo postiço.
Contudo, me precipitei. E caso fosse apaixonada pelo Elordi, nunca
permitiria que ficassem juntos. Ele não iria tomar a única coisa que tenho.
Arizona me ama além da amizade. Nunca retribuí, porém se precisar irei usar
isso a meu favor.
Não queria ser assim. Eu não sabia que era gay. Elordi me despertou
Sua mão que está na minha cintura sobe, ficando na lateral da minha
clavícula.
— Então pensou que o melhor seria me ignorar? Isso doeu pra caramba
—confesso.
— Meus sentimentos por você foram mudando com o passar dos anos
—murmura rouco, emocionado. — Eu comecei a ver você de outra forma.
Ficando cada dia mais angustiado com a sua presença... estava disposto a
— E... agora?
clareza, percebo que nada era mais doloroso de que o seu silêncio e
afastamento. Preferia estar brigando com o bad boy, invés de ser alvo da sua
indiferença.
o beijo... meu Deus! Que beijo. Meu corpo está formigando, um calor latente
sem fim.
Estou sentindo tantas coisas que nem sei por onde começar.
Banho... por que ele tinha que falar essa palavra? Estou tendo um
gatilho do dia que o vi tomando banho, tocando seu pau enorme pra cacete,
seu corpo molhado, peitoral definido, másculo.
— Espero que ajude.
retrovisor vejo o outro carro blindado da sua equipe. Amanhã todos saberão
que nos beijamos. Espero que o Ezequiel não seja um linguarudo igual ao
Kostas. Céus!
— Você se machucou.
— O quê?
Entendo sua afirmação quando vejo que está olhando para a marca que
está no meu braço. Na verdade, está com nuances roxinhas. Sibila sério, se
aproximando:
Pega o meu braço com leveza e cuidado. O examina com o seu olhar,
averiguando.
Eu não quero mentir. Não deveria omitir que Vicente no seu momento
de estresse segurou o meu braço a ponto de o machucar e na hora não agi,
pois não esperava uma atitude dessa do meu melhor amigo e possível paixão
da minha vida.
— Eu vou...
Demoro mais do que devia no banho. Uma parte minha não quer lidar
com o Elordi no momento. Não enquanto não tenha certeza do que realmente
quero. Sua presença é marcante, me instiga, me faz sentir coisas que estão
aflorando com força total.
A sala de ambiente aberto para a cozinha era bem espaçosa. Cogito que
o encontrarei sentado no sofá, ou na sacada. Mas para minha surpresa o
Elordi está cortando morangos em cima da tábua. Em frente está uma jarra
com algo que havia preparado e outras frutas dentro com bastante gelo.
Quando nota minha presença ergue o rosto anguloso e por alguns
segundos fica me olhando como se nada mais existisse. Era impossível não
Não lembro de ter tomado esse chá com ele por perto. Pelo visto Elordi
não era tão indiferente quanto pensei.
Eu preciso me policiar.
— Pedi para você ficar, mas não tem que ficar. Só se quiser.
— Ok.
Sorrimos nostálgicos.
— Nunca as desrespeitaria.
Quando percebo, meus dedos tocam no seu pulso. Elordi tenta afastá-
lo, mas seguro seu pulso em um pedido silencioso para não evitar o meu
carinho. Seu suspiro soa como permissão.
Acaricio seu pulso sentindo a pele protuberante que a tatuagem de
Sakuras vermelhas escondem. Passo todos os meus dedos por cima
Sua mão livre começa a mexer nas mechas dos meus cabelos ainda
úmidos. Continuo beijando suas marcas de mutilação que se infligiu.
Quando termino me aconchego nos seus braços. Elordi me abraça forte,
pressionando. Beija minha cabeça e ficamos em silêncio. Fungo, contendo
mais o choro.
São quase sete horas da manhã. Rapidamente vou para a cozinha com o
intuito de preparar um café da manhã rápido para começar o dia com o pé
direito.
apartamento assobiando. Traz minha bolsa que havia ficado dentro do carro.
— Que delícia!
croissant.
— Quanta delicadeza!
— Fingido — canto.
— Estou chateado agora com você, sabia? Eu não estava legal, ursinha.
Meu celular estava sem bateria, o seu estava dentro do carro...
vestimenta.
mais desculpas. Era um contador de histórias furadas. Ele não vai admitir.
— Só não vim aqui mais cedo, pois tive que voltar ao trabalho. Você
sabe o que é isso?
Minhas palavras voam quase tão rápido quanto o Elordi, que vira o
Vicente e o soca. Com agressividade cai no chão. Elordi está parecendo um
touro. Cambaleante Vicente se levanta com a boca entreaberta e expressão de
Tento impedir que o Elordi avance para cima do Vicente, mas ele faz
outra vez. Acerta em cheio um soco no olho do Vicente que cambaleia.
choro:
Elordi estende a mão, que tinha no dorso respingos de sangue que tirou
Gemo quando sinto o médico dando o último ponto. Levo três pontos
no supercílio. Aquele miserável.
Hoje acordei animado, pensei que teria um momento legal com a minha
melhor amiga enquanto tomaríamos café da manhã. Fiquei plantado igual um
Invento uma desculpa qualquer para o meu chefe. Não estou com
cabeça para aguentar aquela gentinha do meu trabalho. Ao chegar no flat não
consigo mais segurar o choro.
Arizona tem mentido para mim. Desconfiei que pudesse estar próxima
Meu corpo começa a sacudir de tão violento o choro e dor que estou
causando a mim mesmo mesclado aos meus sentimentos que estão
destruídos.
Apoio minha mão no chão sentindo-a latejar e sangrar devido à
mordida. Meu coração está esmagado.
Eu estou mal pela atitude do Vicente. Não sei o que está acontecendo
com ele, mas não é de hoje.
Elordi está pensando que omiti para proteger o Vicente. Uma parte de
mim poderia ter feito isso involuntariamente. No entanto, não contei para não
criar confusão, pois eu resolveria. Trato de explicar:
segunda vez. Estava a ponto de estourar com ele, quando o Elordi apareceu
na velocidade da luz partindo para cima do Vicente.
Agora mais do que nunca sei o quanto é difícil para uma mulher que é
vítima de violência doméstica enxergar que o homem que ama nunca vai
mudar. Ele sempre vai justificar a agressão e ainda por cima a culpar. E para
piorar mais a situação, a vítima começará acreditar que a culpa do seu
— Não tem que se sentir culpada. Só quero que enxergue que a atitude
dele foi péssima. — Toca no meu queixo, querendo meu olhar no seu. — Sei
que o Vicente é o seu melhor amigo, mas isso não o torna um ser humano
perfeito.
— Aceito tudo que vem com você. Até sua amizade com ele. Mas é
bom ele saber qual é o lugar dele agora.
Elordi estaciona e logo desce do carro para vir abrir a porta para mim.
Eu já ia abrir..., mas ele gosta de fazer isso. E sem dúvida é um hábito que
pouquíssimos homens têm.
Botafogo. O restaurante tem uma estrela Michelin. Não segue uma decoração
chiquérrima. É charmoso, o ambiente é moderno, com móveis de madeira,
adega e uma cozinha aberta. No segundo andar tem um terraço aconchegante
com jardim vertical. Tudo de muito bom gosto.
Espero que não pague o mico de babar olhando para esse homem.
Acredito que devido ao seu tamanho, sua expressão forte e marcante, nem
mesmo usando suéter social azul-marinho e por baixo uma camisa social
branca — ambas as mangas acumuladas no seu antebraço, despertando
olhares curiosos para as Sakuras vermelhas tatuadas na sua pele — parece
um mauricinho. Ele sempre teve presença.
— Quando se trata de coisas que você gosta... sou bem atento — revela
quase tirando o meu fôlego.
— Estou escutando.
Meus dedos estão pertinho da taça de vinho. Caso não aguente o que
tem para me dizer, colocarei álcool no organismo.
Captura minha mão por cima da mesa a levando aos seus lábios. Depois
fica acariciando a palma da minha mão com o seu polegar.
Nem tenho tempo de abrir a porta. Elordi me chama e logo sua boca
toma a minha num beijo molhado. Dou passagem para a sua língua, quase
derretendo quando sua mão pesada se mantém firme na minha nuca e a outra
na minha garganta.
Quando penso que irá parar, mordisca meus lábios e os umedece ao lamber.
— Eu também — admito.
— Gif? Tá de brincadeira!
— Claro que não. Nos beijamos e estou conhecendo o Elordi que disse
Nem quero saber o que meu pai vai fazer quando souber. Por isso quero
falar para ele, e não que saiba por terceiros.
blusinha com o slogan da banda Nirvana e meu par de vans preto. Pego
minha bolsa, o presente e saio do meu apartamento.
Peço a bênção dos meus avós, que são os primeiros que vejo na mansão
dos meus tios assim que entro. Logo sorrio ao escutar a falação alta, risadas,
barulhos comuns de quando uma família enorme se reúne.
Isso me faz lembrar que terei que tomar conta deles sozinha nesse final
de semana. Deus é mais.
— O que eu sei é que minha filha talentosa só faz desenhos para quem
é importante, de coisas ou pessoas que a inspiram. — Mexe as sobrancelhas.
— Eu só quero saber por que fui a última saber que estava se pegando
com o Elordi?
Cristo! Olho por cima dos seus ombros para encontrar a carinha de
culpada da Nay.
dramaticamente e sibilando:
Ao virar para ele sou alvo do seu sorriso tímido, misterioso. Nada de perder o
controle. Principalmente por estarmos na frente dos nossos familiares.
Seus dedos passam por cima do embrulho com certo carinho e apreço.
Como se estivesse acarinhando um objeto raríssimo de alta estimativa. Isso
toca o meu coração.
— Meus pais falam isso. Aliás, todos da família. Mas nunca tinha
escutado de você — murmuro, segurando a emoção.
— Com certeza é uma das coisas de maior valor que tenho agora.
Obrigado, minha... Arizona.
patriarca da família para um novo investimento que nos colocará como sócios
e sobre o Instituto Eleonor.
Tia Maria Flor está falando algo e finjo estar prestando atenção. Eu
estou ocupada demais olhando a interação do Elordi com a irmã. Romana
sabe usar talheres perfeitamente bem. Assim como todos nós, os pirralhos
tiveram aulas na escola de etiqueta. Mas a Romana faz questão de pedir para
o seu irmão cortar sua carne.
Não faz nem dois minutos que tinha entrado na mansão e a Nay falou:
— Poxa, Elordi saiu tão rápido. — Franzo o cenho para ela. — Pode
pegar o vinho sem álcool para mim, ursinha?
Ofego quando sinto seu pau duro no meu ventre. Oh, cacete! Só de
lembrar... sinto um calor imensurável.
— Aham...
Roça seus lábios nos meus. Aperto mais minhas mãos nas suas costas.
Sussurra:
Ou eu posso ficar e... melhor não. Nem sei se caberia tudo dentro de
mim. Fecho os olhos por alguns segundos me recriminando por estar
pensando em sexo. Não é o momento para isso.
— Eu levo, Arizona.
Ainda bem que o Ramiro não está mais na cidade. Nem sei o que diria
para ele. Destruí a sala do flat.
— Cheguei, mãe!
melhor.
— Mas como?
perdendo.
Elordi nunca vai me enxergar, nunca vai notar o amor que guardo há
tantos anos. Sei que ele me bateu num momento de fúria. Sempre foi
impulsivo. E apesar de ter feito isso unicamente para defender a Arizona, eu
o perdoo.
— Vicente, não te reconheço mais. Por favor, meu filho, olha para
mim. — A fito. — Vamos procurar ajuda profissional para você. Terapia
pode dar certo. Esse sentimento que está nutrindo pelo Elordi não é normal.
Isso não é amor, filho.
— Nunca vou deixá-los em paz. Eu o amo. Ele vai ter que me aceitar,
pois sou assim por culpa dele.
— Ser gay é sua orientação, meu filho. Não tem a ver com o Elordi,
comigo... com ninguém. E não tem problema nenhum ser homossexual.
— Sou assim por causa dele. E juntos eles não vão ficar!
—Chegamos, doutor.
apesar da idade avançada, definido. As olheiras escuras abaixo dos seus olhos
demostram que os anos que têm ficado preso não têm sido fácies.
—Oi... pai.
Desde que minha mãe revelou quem era o meu progenitor tive
vergonha. Argus José Morais nada mais era que um traficante de drogas barra
pesada da região sudeste do país. Ele cresceu na favela, se criou e desde então
se viu dentro do crime.
Saber disso aos dezesseis anos de idade mexeu mais comigo do que
deveria. E desde então queria provar de alguma forma para o meu pai que não
seria como ele. Que alcançaria meus objetivos sem sujar minhas mãos.
Mero engano.
Não tenho o sobrenome do meu pai, nunca foi visto comigo e muito
menos as pessoas próximas a ele sabiam da minha existência e vice versa.
— Como você é mais bonito pessoalmente, meu filho. Puxou para sua
mãe, com toda certeza. — Toca no meu rosto. — Nem acredito que veio.
saber da sua existência. Quando descobri sobre você já estava com quase
treze anos. Controlei-me ao máximo para não o trazer para minha vida, mas
preciso de você. Precisamos um do outro, garoto.
Seguro a risada. Argus está desesperado. Com certeza devo ser sua
única chance de sair desse buraco.
— Nunca vou ser um derrotado como você. Olha onde está...vive num
inferno.
Ele ergue a cabeça me olhando profundamente.
— Escuta, meu filho. Essa será nossa porta para uma vida onde
dinheiro nunca mais será problema.
— Estou escutando.
negócios aqui no nosso país. Mas tem uma Organização Secreta que luta
contra isso. São verdadeiros soldados treinados. Klaus quer acabar com eles.
Derrubá-los.
— Eles são como uma grande colmeia. São defensores e estão abalando
muito os negócios. Criaram sua própria tecnologia, são altamente treinados
de materiais especiais.
própria.
Abri a boca sem saber o que pensar. Arizona nunca falou nada a
— Era, Vicente. Precisamos de você, filho. Nos ajude a chegar até eles,
ou melhor, descobrir onde é a sede deles aqui no Rio...E teremos o nosso
futuro garantido.
— Nada pode acontecer com a Arizona. Nem com o Elordi, pai. Fui
claro?
Foi difícil para mim, um garoto adolescente marcado por traumas que
feriram até a alma, decidir que não era digno da garota mais linda que tinha
visto na vida.
Caralho, fui cativado pelos seus olhos oceânicos, seu sorriso doce e
puro. Tão puro que me senti sujo de ser alvo do seu olhar, de olhar para ela;
Eu poderia ter declarado meu amor por ela quando exigiu uma resposta
sincera de mim no estacionamento. Preferi agir. Não aguentava mais. Estava
afundando cada vez mais com as suas palavras, ao escutar o quanto feri seus
sentimentos, o quanto fui fraco por não ter aceitado sua amizade sincera.
— Você sabe que poderia ter colocado em jogo seu cargo público, não
é?
— Talvez ficou com receio de contar e você matar o cara que está
apaixonado por você — fala, Miguel, se sentando na grama.
Anthony ri, jogando o braço por cima do meu ombro. Ele profere:
investigar.
— Alex fez isso uma vez. Sem a minha irmã saber. Não encontraram
nada, porém na época ele era uma criança — sibila o Miguel, tirando um
saquinho de sementes de girassol do bolso, o abre e nos oferece. Derrama um
pouco em nossas mãos e começamos a comer. Ele prossegue: — Alex fez
isso para ficar mais tranquilo. E como não descobriu nada, teve que aceitar o
Vicente na vida da sua única filha. Mas se pensarmos bem, Vicente esteve
sempre com a Arizona, era uma criança. Que mal ele poderia causar?
sonhos, queria ser médico para ajudar pessoas e esteve com sua melhor amiga
no pior momento da vida dela.
— Quero ter certeza antes de falar com a Arizona. A última coisa que
preciso é que ele a use para me atingir, que faça joguete conosco.
— Assim que se fala, garoto de ouro. E não esqueça que está nos
devendo por termos acobertado a safadeza de vocês debaixo do teto dos
nossos avós — fala o Miguel, antes de encher a boca com mais sementes de
girassol.
Olhando para o céu escuro iluminado pela lua e estrelas, tenho certeza
de que tenho que enxergar o Vicente não apenas como amigo da Arizona e
sim como uma pessoa que pode nos atrapalhar.
Pela manhã saio cedinho para realizar os exames que solicitaram antes
Confesso que acabei optando por Direito por admirar o meu pai, por
saber que poderia fazer a diferença. Seja como membro da colmeia, na minha
— Vai tranquilo.
unidade.
— Ursinha safadinha.
— Lá vem você. Está vendo por que não gosto de falar tudo.
— Você está muito azeda hoje. Quando quiser falar, estarei com os
ouvidos prontos.
— Não sei quem é pior. Se você, minha mãe ou as tias.
Kostas faz questão de entrar comigo, mesmo afirmando que não precisava. O
ambiente é hostil, acredito que seja pela carga pesada que os funcionários têm
que lidar todos os dias.
— Não é isso...
— Não posso chegar lá e agir como a namorada dele. Sem álcool fica
difícil —resmungo.
— Se está pensando em bater nela, tudo certo. Estamos na delegacia
mesmo. O que são alguns salários mínimos para você? Nadinha.
Kostas murmura:
— Eu vou?
Ok.
— Irei lá.
Com o meu par de vans lilás paro pertinho deles. Assim que notam
minha presença sorrio — fingindo que está tudo bem. Abaixo e selo meus
lábios com os do Elordi em um selinho casto.
Espero que nenhum dos dois tenha percebido a referência. Saiu sem
querer.
Ela sai tão rápido que nem tivemos tempo de sermos apresentadas.
Acho bom assim, pois evitou constrangimento desnecessário para ambas.
Elordi tem sorte de eu não ter sido a sua parceira no treino. Não
esqueço a ceninha que presenciei. Além disso, estou indignada comigo
mesma por ficar tão afetada. Somos solteiros que estão ficando casualmente.
Durmo na casa dos meus pais, pois sabia que se fosse para o meu
apartamento chegaria atrasada no meu compromisso com as crianças. E eles
ficariam jogando isso na minha cara até cansarem.
Elordi comentou por alto que passaria o dia com os irmãos. Nem
lembrei de falar sobre o acampamento. Mas as respostas dos meninos deram
a entender que os irmãos Medeiros sabiam.
irritam, tiram nosso sossego. Entretanto, amamos mais que tudo nessa vida.
cima de mim.
assustar.
— Imagine se estivesse.
— Olha, por que tinha que ser tão gentil com a sua nova colega de
trabalho? Ela vai ser o seu braço direito lá?
Seguro a risada.
— Estou falando sério, Arizona. Estou com você. Você tem a porra do
meu coração. Não seria tolo de errar contigo outra vez. Principalmente agora
que sei que é recíproco.
Estou pensando que quando a tiver na minha boca... irei sugar até sua
alma.
Arizona é geniosa.
Seus olhos oceânicos mostram sua alma de forma tão transparente que
não poderia ficar mais cativado. Eu perdi tempo, sei disso. Poderia ter
conquistado meu espaço no seu coração como amigo e caminhar para o
atingir com todo amor que sinto por ela desde que a vi pela primeira vez.
verdadeiramente.
Independentemente de qualquer coisa, agora estou pronto para lutar por nós.
Arizona tenta escapar, mas acaba aceitando meu carinho. Suas costas
colam no meu peitoral coberto pela camisa térmica. Aproveitando a distração
das crianças, esfrego meu nariz no seu cabelo molhado inalando o cheirinho
do seu xampu. Sem resistir escorrego meus lábios pertinho da sua orelha e
sussurro:
— Gostosa do caralho.
— Elordi... as crianças.
Relaxo mais quando seus dedos começaram a alisar minhas mãos, que
estão unidas em cima do seu umbigo. A abraço apertado.
Meu coração não poderia ter outra dona a não ser ela. Minha Arizona.
Perdi as contas de quantas vezes acampei com os meus pais, meus tios
e primos. Uma verdadeira bagunça. Amo essa família demais. Nunca pensei
que pudesse ter pais como a Agatha e Samuel. De alguma forma sou
abençoado.
—Veste — murmuro.
— Só veste.
— Ok.
telefone.
Escutando o Asher narrar a história tenho que concordar que até que é
um pouco interessante.
Acho que seria ótimo você ir lá conferir... eu cuido do pessoal por aqui.
— Buuu!
dez crianças coladas nas nossas costelas, pés quase nas nossas caras, braços e
pernas por cima de nós. O lado bom é que estão babando no colchão. E ainda
bem que nenhum faz mais xixi na cama.
Beijo seu ombro assim que se deita entre minhas pernas. Está friozinho,
logo a morena cobre nossas pernas. Ela está usando um shortinho de moletom
que deixa muito pouco para a imaginação e um camisetão. Tenho quase
certeza de que não traja calcinha e sutiã.
Maravilhosa.
suspirando.
beijo lento.
— Vicente...?
Ela era inteligente. Percebeu que não conseguiria nada comigo e parou
com os presentinhos. Não vem mais perder tempo papeando comigo na
minha sala, me convidando para jantares nos melhores restaurantes e muito
menos para a acompanhar em sociais com seus amigos ricos filhinhos de
papai.
mais paciência.
Pelo pai dela não teria a necessidade de repor a falta. Sei que foi coisa
da Lucrécia.
Fecho a porta do flat a trancando em seguida. Acendo a luz e deixo o
O cabelo preto com fios grisalhos faz um belo conjunto com a barba
rala. Em alguns dedos carrega anéis grossos de ouro com pedras preciosas.
Dei alguns passos para trás pronto para sair correndo pela porta. No
entanto, fico inerte quando exibe a arma banhada a ouro em minha direção.
Puta merda!
do sofá.
— Estou falando sério! Posso ajudar, porém nada pode acontecer a eles
dois.
— Está brincando! Cristo, vai mesmo entrar no meu quarto pela janela?
— O que?
— Não irei facilitar as coisas para você, bonitão. Tem mesmo que pular
a janela, se arriscar e fazer tudo o que tanto esperei. Aguardo você à noite.
Pisca e sai andando como se não tivesse dito nada demais. A ursinha
não está sendo fofa.
Os olhares estavam sobre nós. Sinto que esperam pela grande novidade.
Creio eu que uma atualização do status do nosso relacionamento.
— Reparei, Anthony.
Adentro a morada dos meus pais carregando o meu irmão nas costas.
Está quase cochilando agarrado no meu pescoço. Para não correr o risco de
esmorecer o corpo a ponto de se soltar, mantenho minhas mãos firmes em
suas pernas. Romana está nas costas do meu pai no mesmo estado do caçula.
— Cuidem dos caçulas — pede minha mãe.
Encosto a porta do quarto no exato momento que meu pai está saindo
do quarto da menina dos nossos olhos.
— Sim.
— Use camisinha.
Mas que porra...
— Por isso não posso deixar de sentir orgulho. Passaria por tudo de
novo para no final você ser meu filho. Nasceu para ser meu filho, Elordi.
Meu e da sua mãe. É um homem forte. — Sorri.
Nós nos abraçamos apertado. Beija minha cabeça e sigo para o meu
quarto.
esperar, mas só quero ter certeza. Meus pais estão quase transando na piscina.
Volto a sentar na banqueta limpando a minha mente da curta cena que
presenciei — e que flagrei várias vezes ao longo dos anos. São um casal
apaixonado.
Era verdade. Poucas vezes tive o prazer de conhecer seu quarto durante
nossa adolescência. Mudou pouca coisa. Arizona desenhou uma árvore de
cerejeira finíssima na parede que sua cama fica encostada. O fundo verde-
piscina enaltece a arte.
Nunca a faria se desfazer de algo que marcou sua vida. Vicente esteve
com ela num momento que não a conhecia, foi seu único e melhor amigo por
um longo tempo.
Agora tenho meu lugar na vida da Arizona. O qual pertenço e não irei
sair, a não ser que a morena queira.
— Não! Eu gosto.
— Gosta?
Dedilho pela sua clavícula, os passando pela ponte dos seus mamilos.
Começo a acariciá-los por cima do tecido de algodão fininho e quase urro ao
sentir um piercing no seu seio direito. Belisco o biquinho trazendo o
piercing.
— Deixa eu ver?
chupando.
Espalho beijos por todo o seu seio até alcançar sua boca, plantando um
selinho molhado.
Fica na ponta dos pés e beija minha boca com sofreguidão. Pego-a pela
bunda a fazendo montar no meu colo.
Passo o nariz por cima da sua boceta, esfrego a barba sabendo que está
sentindo quase tudo devido ao tecido ser fininho. Desço mais um pouquinho
e percebo que havia soltado lubrificação natural deixando uma mancha quase
imperceptível.
— Tenho certeza de que quero comer sua boceta com a minha boca.
Ela cobre o rosto com as palmas das mãos. O som da minha risada
vibra. Subo e tiro suas mãos de seu rosto. A ursinha é uma graça. Vontade de
a abraçar e nunca mais soltar.
— Eu quero. É só... não sei o tipo que gosta. Você não tem preferência?
Isso existe?
— Responde, Elordi.
— Então como vou saber que minha amiguinha lá embaixo é seu tipo?
Planto beijos pelas suas pernas, coxas, conhecendo cada detalhe do seu
corpo. Fico de frente para sua vagina pequena, admirando os lábios vaginais
gordinhos, toda lisinha. Fecho a minha boca em cima dela como se fosse
beijar e sugo o que mantive nela. Melo meus lábios e barba com seu sabor de
mulher gostosa.
Espero que com a Arizona possa ser eu mesmo. Sujo, puto, malicioso.
— Sim...ai...isso.
Ronrona quando estimulo seu clitóris com a língua, sem tirar os dedos
de dentro dela. Não demora muito para a Arizona arfar, gozando. A minha
garota é sensível. Que coisa gostosa.
Sem perder tempo me lambuzo com seu mel, chupando sua bocetinha
centímetro a centímetro. A comendo com a boca, manipulando seu clitóris,
movo um dedo para dentro dela. Espalmo uma mão no seu ventre a mantendo
no lugar. A morena rebola na minha cara, me incentivando, querendo mais.
—E você?
—Estou bem. Fiz minha garota gozar. — Dou de ombros como se não
fosse nada demais.
— Não é uma boa ideia tomar banho com você. Tenho um autocontrole
ótimo, mas... é melhor não atiçar.
Para evitar ficar com o pau mais duro ainda, fico de bruços para não
olhar a bunda fenomenal que a Arizona tem. Não aguento muito.
barulho e acordar alguém. Nem sei como explicaria que dormi no quarto da
morena, que a fiz gozar gostosamente com a minha boca e que dormimos
agarradinhos.
ficar nas mãos da gravidade. Tio Alex respira fundo, mira o teto e fica
olhando fixamente para cima por longos minutos. Quando volta a me encarar
faz joinha com os polegares enormes dando espaço para eu passar.
Poderia ser uma armadilha. Na hora que estivesse perto dele suas mãos
enormes se fechariam em volta do meu pescoço. Era uma possibilidade.
Porém, o tio não está com o olhar de quem queria matar alguém. Apenas o
Miguel tem a honra de receber esse olhar do doutor Severo.
Quando piso no degrau a voz grossa profere:
meus filhos. Ordem decrescente. Mas posso liberar sua digital para acesso
rápido.
Entendi o recado.
Respiro fundo, miro o teto e fico olhando fixamente para cima por
longos minutos. Quando volto a encarar o Elordi faço joinha com os meus
polegares dando espaço para passar. Um sinal claro de que não o mataria por
estar saindo do quarto da minha filha.
independente, forte, destemida e que pode direcionar sua vida para o caminho
que julgar ser melhor.
Confio no Elordi, não tenho dúvidas sobre isso. Mas meu lado pai
protetor gostaria de colocar todas as minhas crias numa redoma. Infelizmente
Não consigo ser igual a Eleonor. A morena é uma mãe tranquila, não
tem tantas neuras igual a mim. Morro de ciúmes da Arizona, Apolo e Enrico.
Quero os proteger de tudo mesmo sabendo que é impossível. Esse sentimento
inclui minha mulher e meus irmãos. Quase inevitável.
Deveria matar o Elordi. Nem quero imaginar o que fez com a minha
filha..., mas se eu o matar não terá nenhum outro à altura da Arizona. Ficarei
na merda do mesmo jeito. Então o que me resta é continuar sendo passível.
— Não pensou assim quando era você querendo entrar entre as minhas
pernas.
— Era diferente.
Eleonor ri.
— Olha, não vamos nos intrometer. Apenas torcer para engatarem logo
um namoro e serem felizes.
moreno.
Poderia mentir para a minha mãe. O que não costumo fazer, aliás. No
entanto, pelo olhar que troca com o meu pai sei que estão cientes de onde
— Como não escutamos gritos do Alex daqui, deduzimos que ele não
viu você.
Nesse caso normalmente para minha mãe seria mais como: seu tio não
quis te matar?
ela.
dia para não o deixar interferir na nossa vida. O que é muito difícil.
— Ajudo você.
— Fiz de novo.
— Não! Pelo menos, não agora. Depois que tiver a minha vingança
— Bom, estou vivendo para me vingar. Depois que conseguir... não sei
o que farei. Sinceramente não pensei no depois.
— Obrigado, irmão.
Tenho a impressão de que meu pai está querendo falar sobre algo. Mas
como não diz nada prefiro não perguntar. Contudo, no fundo estou sentindo
que o jeito que me estuda — durante o café da manhã — poder ter a ver com
o fato de ter encontrado o Elordi, ou saber que o moreno dormiu comigo.
Que situação!
Assim que saio da sala de aula meu celular vibra. Sorrio ao ver o nome
do Elordi na tela. Atendo:
— Nem vou perguntar como sabe que minha aula acabou nesse exato
momento.
alguma coisa.
—Talvez, repetir o que fizemos ontem. Apesar de ter sido a única que
recebeu agrado.
— Bom, só posso torcer para aguentar tudo que estou guardando para
você.
— Então nos vemos à noite. Cuide-se, qualquer coisa que precisar sabe
que largo o Anthony e tudo mais para ir rapidinho até você.
Saio mais cedo do trabalho para vir visitar a dona Hermínia. Vicente
não a levou para fazer os exames o que me irritou bastante. Kostas está de
cara feia desde que avisei que viríamos a casa do Vicente.
manter contato.
Noto que dona Hermínia está com a expressão facial mais abatida.
Apesar de estar sem fome a acompanho na fatia de bolo com café puro que
fiz. A cozinha, como quase todos os outros cômodos, precisa de uma boa
limpeza.
Ajudo-a a deitar-se na cama. Ela parece inquieta, triste e angustiada.
grata por tudo que sua família fez por mim e meu filho.
— Está me assustando.
— Preciso contar algo... que sem dúvida vai mudar sua forma de
pensar.
Segurando a mão frágil da dona Hermínia espero que revele o que tanto
quer. Profere:
filho. Mas eu sou mãe. Vicente é o meu único filho, sempre fomos só nós
dois. Não que justifique. É que não tenho mais esperanças.
Estou chocada por saber que meu melhor amigo depois de anos está
apaixonado por mim. Sinceramente parece até brincadeira, de muito mau
gosto.
Acredito sim que por um tempo posso ter amado o Vicente. Porém,
agora tenho noção que posso ter misturado o sentimento de amizade com
amor, gratidão.
Eu amo o Vicente como amigo. Ele sempre vai ser o meu melhor
amigo. Mas agora o Elordi está na minha vida e ocupa o lugar que sempre lhe
pertenceu.
— Sim, filha.
Dona Hermínia está mentindo. E não falará o que iria dizer com o
Vicente presente. Beijo sua testa me despedindo dela com a promessa de a
— Porra, Arizona olha para mim. — Segura meu rosto entre suas mãos.
— Eu sou apaixonado por você. E sabe quando tive certeza? Quando a vi
saindo com o Elordi sem olhar para trás. Doeu na alma. Sei que fui um
completo idiota com você, que machuquei seu braço, mas não foi intencional.
— Não faz isso com a gente, por favor, Arizona. Olhe para mim. — O
encaro. — Eu te amo.
Vacila por alguns instantes. Não demora muito para voltar ter a mesma
expressão de desespero, angústia.
— Se estiver sendo sincero vai enxergar que está confuso. Assim como
percebi.
— Tem coisas da sua vida que não me conta e nunca exigi explicações.
E sinceramente não estava confortável para falar sobre o Elordi com você.
Principalmente quando eu ainda estava entendendo os meus sentimentos por
ele.
— Não seja boba, Arizona. Acha mesmo que ele vai parar de
— Ele vai te machucar! Ao menos sabe o que seu primo faz com as
mulheres que come?
pensamentos causando um ciúme insano que corre quente por todo o meu
corpo.
— Cuide melhor da sua mãe. A leve para fazer os exames, sabe que
não cobramos nada.
Tenta segurar meu braço, mas sou mais rápida. Abro a porta dando de
cara com o Kostas. O barbudo está cético, fitando o Vicente com dureza.
— Vamos, Kostas.
— Chega, Vicente!
Entro no carro e não olho pela janela até nos afastarmos da casa do
Vicente.
mal.
— Sim.
Como é cínico esse ser humano. Kostas adora comer besteiras e assistir
filmes românticos. Apenas me usa para disfarçar. Julga ser machão e fazer
coisas de meninas —palavras dele — acabaria com a sua reputação.
Quando toco nas mãos grandes do Elordi sinto seu olhar como brasa em mim.
Devolvo o olhar rapidamente. Não quero ser uma cadela com ele, mas estou
com raiva. Muita.
Ocupo meu lugar ao lado dos membros que são faixa roxa de três
graus. Após a oração, nos erguemos e Miguel puxa o aquecimento a pedido
do tio.
droga!
— Não precisa aplicar tanta força, Arizona — tio Samuel chama minha
atenção.
— OSS — respondo.
Conjecturo inventar uma desculpa para não rolar com ninguém. Porém,
procuro me acalmar e focar no treino. Quando chega a minha vez de rolar
com o Miguel quase rio da cara de desgosto que faz.
uma técnica que nos leve ao chão, percebo que minha paciência está por um
fio ao notar que Miguel não agirá. Espera meu ataque. Pois bem... assim faço
ao segurar firme na aba direita do seu quimono tão rápido ao cruzar e ajoelhar
que não tem tempo de evitar passar por cima das minhas costas e cair de
costas.
Coloco meu joelho na sua barriga com força demais o fazendo perder o
ar por alguns segundos. Respirando em sorvos longos o seguro o máximo que
posso. No entanto, o faixa-preta sai usando técnica e pouca força.
—Bate, Arizona — escuto o tio Samuel. — Tem que saber o seu limite,
caso contrário o oponente se aproveita.
para beber água da garrafa que gentilmente Kostas deixou para mim.
Poderia atender e saber o motivo por estar ligando tão tarde da noite.
Entretanto, não tenho direito de fazer isso. Eles são amigos. Acontece que
Alicinha gosta do Elordi. O celular para de tocar, logo começa a subir as
notificações de mensagens enviadas por ela.
O ajudei em alguns casos durante o dia. Após falar com a Arizona pelo
celular, verifiquei o andamento dos resultados das etapas que já realizei antes
de tomar posse. Consegui notas excelentes nas etapas da primeira fase. Agora
tatame percebo que está tensa. Suas mãos pequenas abrem e fecham
fortemente antes de começar a cumprimentar os membros — seguindo a
hierarquia de faixa. Até o tom da sua voz que costuma ser meio-soprano está
mais contralto.
Penso em formar dupla com ela. Franzo o cenho quando prefere ser
dupla com o Miguel, ao invés de comigo. Concluo que não quer misturar as
coisas. Afinal, somos da mesma família, somos membros da Organização
E justo hoje meu pai não formou as duplas. Deixou a livre escolha.
tinha certeza de que não bateria. Sairia desmaiada, mas não se entregaria. Ela
é porreta, faz o possível e impossível para aguentar a pressão dos treinos.
Entendo que é algo que faz para provar sua força. Nem precisa disso.
Depois de tudo que passou está mais do que evidente a princesa guerreira que
é.
— Filho, sabe que vai ter que controlar a proteção que sente pela
Arizona durante os treinos. Antes era mais fácil controlar, mas agora que
estão juntos... é tudo mais intenso.
— Foi mais forte de que eu. Ela está brava por alguma coisa e queria
ultrapassar o limite do seu corpo.
— Eu?
nada vem. Nossa conversa pelo celular foi descontraída, cheia de promessas
que antes eram ocultas. Desvio a atenção dos olhos azuis do meu pai para
olhar para a morena, porém ela não estava mais na quadra de artes marciais.
Puta merda.
Meu pai beija a minha testa antes de subir na sua moto e sair pilotando
sendo seguido pela sua equipe. Aviso que dormirei em casa. Subo na moto —
um dos presentes do juiz Medeiros — sentindo o olhar do Ezequiel quase
furando o meu corpo.
a nova senha de acesso para ele mesmo procurar tudo sobre o Vicente.
Não posso negar que estou intrigado pela Arizona não ter me esperado
como combinamos.
— Pois diga.
Não a quero controlar. Jamais faria isso. É que Vicente não é o mesmo.
Estive a ponto de entregá-la de bandeja para o melhor amigo, certo de que era
o homem ideal para ela. Tive que ser muito altruísta, pois sinceramente ainda
não me sinto digno de tê-la como minha. Contudo, estou disposto a ser.
Quando entro na morada dos meus pais sigo para a cozinha. Encontro
minha mãe atacando o pote de sorvete. Largo minhas coisas em uma das
banquetas, pego uma colher e me sento perto dela a ajudando a comer o
sorvete sabor Cookies cream. Um sabor tipicamente americano, mas que o
Brasil adotou por conta da procura.
doentes, reconectei os órgãos sadios. Fiz tudo direitinho. Optei por retirar
todo o intestino para ter absoluta certeza de que não deixaria nada passar.
— A primeira vez que perdi um paciente fiquei mal pra caramba. Seu
pai passou a semana toda comigo tentando me animar. Nunca irei me
acostumar com isso.
Quase arranco o pote de sorvete das suas mãos e saio correndo. Porém,
nesse momento minha mãe está precisando mais.
— Fui visitar dona Hermínia, ela queria me dizer algo, Vicente chegou
e declarou ser apaixonado por mim. Discutimos, nos magoamos, estou com
— Não acho que o Vicente seja apaixonado por você. O olhar dele
passa admiração, proteção, orgulho... apesar de que percebi a mudança nele,
o que não agradou o meu coração de mãe. Agora paixão?
— Meu bebê lindo, sei que sua autoestima a persegue desde a época
que ficou doente. Isso mexeu com você, não teria como não a afetar. E tá
tudo bem sentir insegurança, ninguém é onipotente em todos os campos. Só
Deus.
— Elordi sempre foi tão bonito, mãe. E por nunca ter me deixado
aproximar, acabei resumindo minha aparência a nada. Não estou jogando
toda a minha insegurança em cima dele, mas é que... acaba sendo uma
ele sabe o quanto e suas atitudes com você não foram propositais. E sim,
creio eu, uma maneira de protegê-la.
Tento dormir escutando música, mas nem isso abranda meus conflitos
internos. Minha cabeça não para um minuto. Dispo-me do pijama e trajo um
vestido simples de alças finas.
Acarinho todos os cavalos e éguas, falando com uma voz mansa e fofa.
Os animais entendem os seres humanos. E sinceramente desde que comecei a
me encontrar às escondidas com a Atena, percebi o quão tem feito bem para
mim. Essas últimas semanas não tive tempo de visitá-la como costumo fazer
fielmente.
— Perguntaria como foi seu dia. Porém, sei que não tem um dia sequer
que não dê trabalho para os tratadores. Só é boazinha com o seu menino, né?
Relincha toda mansa. Um sinal claro de que estou correta em tudo que
digo.
Entro na baia da Atena — que aliás é a maior de todas e tem apenas ela
como moradora — para ficarmos pertinho uma da outra. Acariciando o pelo
preto e macio me sentindo confortável para conversar, desabafar.
Gelo dos pés à cabeça. Não tenho coragem de olhar para trás e ver que
o Elordi está aqui. Fecho os olhos por alguns minutos, inspirando e
expirando. A voz gutural prossegue:
Para sempre.
Seu perfume tão exótico chega aos meus sentidos. Aperto os olhos
quando o calor do seu corpo atrás do meu predomina e sua mão grande se
espalma na minha barriga — por cima do tecido fino do vestido.
— Calma aí, ursinha. Miguel não revelou seu segredo. Muitas vezes a
peguei visitando a Atena. Inclusive a primeira vez que vi vocês juntas foi
quando estava correndo pelas terras e vim fazer uma rápida visita a essa
interação de vocês.
— Prefiro que seja agora. Sei que não foi legal sair sem dizer nada e...
— Vai?
— Com toda certeza de que tenho que... te amo. Sempre amei com tudo
— Falei isso antes para você, mas falarei de novo para não restar
dúvidas. —Olha-me com toda sua intensidade. — Naquela época, mesmo
sem cabelo, pálida, com os braços marcados e roxos por conta das agulhadas
que levou durante anos, magrinha, pequena, frágil... pra mim era a menina
mais linda que já tinha visto na minha vida.
Fico encantada com o cordão finíssimo de ouro que tem como pingente
um girassol. No centro tem várias pedrinhas de diamantes. É tão delicado e
bonito.
Não quero que ninguém me belisque. Tem que ser real. É real.
Estou altamente cativada e emocionada. Nem nos meus maiores sonhos
pensei que pudesse ter sido tão romântico.
A questão aqui não foi ter sido pedida em namoro com um colar lindo
de ouro e diamantes. E sim de dentro do pingente conter um medalhão o qual
solicitou que gravasse a data que nos conhecemos e que a partir de agora terá
todas as nossas datas.
Amanhã mesmo irei na joelharia pedir que gravem a data de hoje. O dia
que fui pedida em namoro pelo garoto por qual sou apaixonada desde a
adolescência — por mais que tivesse lutado contra isso devido os percalços.
— Ser sua namorada foi algo que sonhei muito — confesso, sendo alvo
— E tê-la como minha era um sonho distante. Mas agora as coisas são
diferentes.
Sem sair do capô do jipe afasto o cabelo para o Elordi colocar o colar
no meu pescoço. Arrepio-me toda quando planta um beijo na curva do meu
pescoço. Quando se afasta o puxo pela jaqueta de couro para alcançar a sua
boca. Sua mão grande agarra minha nuca colocando pressão, força.
Paramos o beijo para buscar fôlego. Elordi acaricia o meu nariz com o
seu de olhos fechados. Enquanto estou bem atenta para não perder nenhum
detalhe do seu rosto másculo. A garganta fica seca quando o assisto umedecer
os lábios com a ponta da língua, como se estivesse saboreando algo que ainda
está sob seus lábios.
— Você trouxe luz para o meu coração. Por mais que tivesse tentado
não sentir, me afastar... lá estava você no meu pensamento igual um anjo.
— Tem que evitar fazer essas declarações tão bonitas para mim. Ao
menos uma vez por mês é o suficiente.
— Acontece que toda vez que é fofo tenho vontade de reinar em você,
Elordi.
Ri envolvendo seus braços em meus ombros.
— Tá tudo certo. Pode fazer tudo isso comigo. Sendo você, não tem
problema.
fisicamente. Tenho sido forte, muito aliás. Contudo, não posso fingir que não
existe as incertezas sendo que estão assombrando os meus pensamentos.
— Elordi, nem sei como começar. Agora que estamos aqui, juntos... só
vem à cabeça que fui imatura.
— Não tem que se julgar culpada. Estou disposto a tudo para darmos
certo. Fale, o que lhe afligiu?
— Nós não transamos ainda. Então fico me perguntando se serei o
suficiente. É um homem experiente e gosta de algumas coisas que não são do
meu conhecimento.
o sexo sujo, sem ter sido abusado sexualmente... teria guardado a minha
primeira vez. Fui apresentado ao sexo da maneira mais cruel possível.
Controlo o choro ao notar a dor nos seus olhos. Nem posso imaginar o
que ele passou dentro do tráfico humano. Faria qualquer coisa para tê-lo
protegido... queria ser capaz de tirar essa dor que carrega há tantos anos
dentro de si.
— Jamais vai me escutar falando sobre o que passei e não tem por que
Espalmo minhas mãos por cima das suas que estão nas minhas coxas
expostas.
— Não quero que mude seus gostos. Diga quais são, Elordi?
— Eu sou shibarista.
— Perfeito.
— Vicente vai ter que aceitar o lugar dele na sua vida. Não sou seu
amigo e sim seu homem. E tudo bem terem uma amizade, mas o Vicente não
é mais o mesmo. Venho prestando atenção nisso há um tempo. Tem
consciência disso?
— Ele passou por muita coisa desde que a dona Hermínia sofreu o
acidente. Não que justifique, mas não quero ser imparcial. Vicente... esteve
comigo quando mais precisei. Parece errôneo o afastar de uma vez por todas
da minha vida.
— O pingo de consideração que tenho por ele é justamente por ter sido
— Eu sei.
— Não, não mesmo. Depois saberei do que se trata e falo para você,
namorada.
Entramos na morada dos meus pais na ponta dos pés. Troco o vestido
pelo pijama no closet rapidamente. Elordi já está deitado na cama sem a
jaqueta e os coturnos.
— Posso ficar sem camisa quando não tivermos debaixo do teto dos
seus pais.
— Poderíamos ter ido para a casa dos seus pais então. Poxa, Elordi!
— Espertinha. Só não quero que a gente avance o sinal perto dos seus
pais, ou de qualquer membro da família.
— Prontinho.
Passo a mão pela trança tendo certeza de que ficou melhor do que as
que faço. Ponto para o garoto de ouro. Beijo seus lábios suavemente.
— Ficou ótima.
Hoje tenho apenas dois tempos de aulas. Para adiantar o meu serviço no
trabalho decido ir trabalhar até o horário do almoço. Anthony, tia Jas e eu
entramos em um acordo de contratar pessoas adequadas para administrarem a
galaria. Não daríamos conta de tudo sozinhos. Fora que temos outras
estava à minha espera. Fico surpresa quando vejo o meu pai usando a roupa e
touca de cirurgião.
— Hoje é a folga dela, querida. Na verdade, a usei para vir até aqui sem
parecer muito constrangedor.
Fico tão chocada que nem tenho reação. O doutor Alex Severo está
fazendo de novo. Está me envergonhando.
— O senhor está estranho tem uns dias. Só fale de uma vez, pai.
— Pai...
Não movi meus pés pensando que o correto seria me cuidar. Camisinha
não é tão eficaz assim — claro, indiscutível o uso dela durante o ato sexual,
principalmente por conta das doenças sexualmente transmissíveis —, porém
quanto a gravidez era um risco à parte. Meu pai estava sendo exagerado, mas
coerente.
única filha.
Sorrio por saber o quanto sou cuidada pelos meus pais. Mesmo que eu
passe por situações de pura vergonha.
— Pode deixar.
Saio do hospital louca para encontrar o Elordi. Apesar do
incomodozinho que estou sentindo no local onde meu pai fez o procedimento
para inserir o implante... estou com uma libido surreal. De repente só penso
que devo fazer sexo o quanto antes com o meu namorado.
Quero saber transar, sentir o prazer de verdade, não que o meu vibrador
seja ruim...
— Agora que não está mais querendo a cabeça do garoto de ouro, estou
tranquilão.
— Pequena, espera...
Arfo com a boca colada na sua quando sua mão grande desceu um tapa
estalado na minha bunda por cima do jeans. Infelizmente não estou de vestido
ou saia. O que dificulta um pouquinho as coisas. Mas a fricção, o esfregar dos
— Vai ter que a merecer. Está pensando que será fácil, moreno?
O telefone fixo começa a tocar sem parar em cima da mesa. Mas nada
seria capaz de nos parar. Os amassos estão tão bons. Por um momento penso
em interromper e atender o telefone para saber quem está atrapalhando o
nosso momento. Quando penso que teríamos paz, soam batidas na porta.
— Sei que estão ocupados querendo fazer bebês, mas acho que devem
saber que o Alex está preso. O vulgo loiro raiz agrediu o Vicente. Nem
acredito que o Alex vai pagar não sei quantos salários mínimos. Enzo está lá
resolvendo as coisas.
— Enzo já está na delegacia. Ele ligou logo para o meu irmão. Sabe
— Porra, Miguel! Fala sério — peço indo buscar minha bolsa no sofá.
— Estou falando sério. Teria algumas semanas de paz com o loiro raiz
quietinho atrás das grades.
— Não sei como o Alex soube que Vicente machucou o seu braço, o
que resultou nele chegando com seu uniforme e touca hospitalar no trabalho
do Vicente. Alex socou o Vicente, foi uma briga feia e foram parar na
delegacia.
Quando olho para a minha filha tenho certeza de que não poderia ter
feito um trabalho melhor. Arizona foi muito bem educada e Eleonor
contribuiu para sua criação.
Minha única filha tem planos grandiosos para consolidar sua carreira,
sinto o amor deles e sei que por serem jovens, intensos e de personalidades
fortes, isso pode estragar o amor. Nem tudo é superável. Todos têm o seu
limite. Por mais bonito que o amor seja.
— Pode deixar.
— Sua mãe adora essa série que tenho quase certeza que é infinita.
pele.
— Prontinho, filha.
Molhei a gaze com álcool setenta por cento para passar no vestígio fino
— Estou ansioso.
familiar. Comandaria eles até o doutor Hugo iniciar o seu plantão. Sou
conhecido pelos residentes por ser carrasco. Sinceramente concordo com
eles.
porra!
tecnicamente nem mora mais conosco. Mas continuo sendo o pai dela, então
posso sim.
terno o puxando por cima da mesa arrastando os objetos junto com ele. O
mantenho preso com uma mão e direciono o soco no seu olho direito.
importante, prestigio e dinheiro não são bem tratas por mais que tenham
cometido algo errado. Definitivamente não me orgulho disso. Não sou
nenhum exemplo a ser seguido.
sabem que não podem sair por aí fazendo tudo que tem na telha tendo a idade
que for. Precisam ser responsáveis pelas suas próprias vidas e pelas vidas
alheias. Graças a Deus Arizona nunca fez nenhuma loucura do tipo, mas os
gêmeos... Jesus Cristo que nos ajude a mantê-los no bom caminho.
— Trinta e cinco salários mínimos — diz Enzo assim que entra na sala.
minha filha!
— Estou sabendo.
— E por que fiquei sabendo por acaso? Se não tivesse pegado o celular
— Ok. Já o perdoei.
— Espero mesmo. Acertei com o delegado, mas você tem que ir para
fazermos conforme a Lei.
Levanto-me do sofá pronto para arcar com as consequências.
No fundo sei que não havia revelado ao meu pai o tétrico dia que meu
melhor amigo machucou o meu braço, pois sabia que sua reação seria essa.
Miguel ligou para o Enzo que garantiu estar tudo sob controle. Claro
que os salários mínimos que meu pai pagou não farão falta. A questão é que
por ele ser um médico renomado e estarmos quase sempre na mira da mídia,
poderia ser um escândalo. Tudo que fazemos na vida nos traz consequências.
cena até seria cômica se não soubesse que saiu do hospital usando o uniforme
e touca hospitalar cirúrgica como se estivesse indo passear trajado numa
roupa informal.
Tio Enzo, Miguel e meu namorado saem para nos deixar sozinhos. É
óbvio que tenho que esclarecer as coisas com o meu pai, devo respeito a ele.
— Por céus, cada dia que passa gosto mais do garoto de ouro. Credo!
— Por mais forte que sejamos, não estamos imunes a tudo, minha vida.
Bati no Vicente por ele ter te machucado, bati nele com raiva de isso ter
acontecido antes e não fiquei sabendo para a defender e afastá-lo, mesmo
contra sua vontade. Eu sou o seu pai, Arizona. Enquanto eu respirar estarei
protegendo você, seus irmãos e sua mãe com tudo de mim.
— Mas vai ficar bem. Pode deixar que conto o que aconteceu. Assim
amenizo o meu lado.
— Fiquei preocupada sim. Assim como nós, meu pai também foi
treinado na Organização. Poderia ter matado ele.
— Percebi que era uma das suas preocupações. Cogitei até que iria
perguntar algo dele para o Miguel.
do meu pai.
O sorriso que estampa seu rosto bonito se torna sombrio. Vem para
mais perto fazendo minhas costas encostarem no vidro. Ergue o braço direito
espalmando a mão atrás de mim, abaixa o tronco... passando o nariz pelo meu
queixo, o subindo pela lateral do meu rosto.
— Espero que cumpra tudo isso, Elordi. Se não, não será mais o garoto
de ouro.
O moreno faz uma expressão facial de que não gosta nada dos possíveis
novos apelidos. Sorrio tocando sua barba cerrada e puxando seu corpo pelo
passante da calça.
Será que devo contar que tive contato apenas com o meu vibrador?
Talvez, devesse revelar gravando um áudio e enviando no seu WhatsApp.
Acho que assim seria menos vergonhoso.
Com a mão na sua nuca impulsiono minha boca para cima da sua.
Gemo quando coloca pressão quase tirando o meu ar. Esses beijos ainda vão
me matar de prazer. Então tudo certo.
Sua mão desce para a minha bunda a apertando, a castigando com sua
pegada forte. Eu gosto. Arfo quando suga a minha língua para logo a
entrelaçar com a minha num beijo faminto, cheio de paixão.
nenhuma mulher o agrada. Pensei até que vocês tinham algo, mas depois que
vi que são apenas melhores amigos a ficha caiu. Bem que você poderia ter me
contato, Arizona. Se bem que não temos tanta intimidade... mesmo assim
seria bom ter falado.
— Vicente é gay, Arizona. Como não sabe que seu melhor amigo gosta
da mesma fruta que você?
Eles não podem simplesmente seguir juntos, não quando amo ambos
profundamente.
Usei as informações que Klaus enviou sobre o Elordi para fazer a
cabeça da minha melhor amiga, que despertou em mim um homem que era
julgamentos e constrangimentos.
Magoei a menina dos meus olhos. Arizona não me olha como antes,
com aquela adoração demasiada e intensa paixão. Mas no fundo dos olhos
azuis reluzentes enxerguei a bondade, o carinho que sempre teve por mim.
cabelo, desesperado.
— Como não, meu filho? Está fora de controle! Não o reconheço mais.
Precisa de ajuda. A menina tem que saber a verdade, chega de mentiras!
pensamentos.
— Vicente, como isso é possível? Amar tudo bem, mas o que me causa
aflição é a maneira que se refere a Arizona, ao primo dela, o jeito que almeja
Eu estou cansado.
— Está tudo bem, filho. Sua mãe sempre vai te amar — murmura com
a sua voz chorosa.
— Deixa eu te ajudar, meu amor. Por favor, não continue seguindo esse
caminho, filho.
Dou alguns passos para trás para criar uma distância e evitar que seus
braços alcancem o meu corpo. Não quero sujar nem amassar meu terno. Fora
que não sinto nenhuma afeição. Na verdade, meus sentimentos em relação ao
meu pai são confusos. Ainda é um desconhecido. Um desconhecido do qual
me envergonho.
— Estou fazendo o que eu posso. Arizona se afastou de mim — revelo
sentindo a saliva amarga na boca.
Estava tendo um dia de merda no trabalho. Não via a hora de sair dessa
empresa e nunca mais colocar as solas dos meus sapatos aqui. Pensei que
Lucrécia seria a única a estragar o meu dia. No entanto, sou surpreendido
pela visita nada amistosa do doutor Alex Severo.
Assim que entra no meu escritório enroupado com seu uniforme e touca
hospitalar noto pela sua expressão facial dura que serei o alvo da sua fúria.
Tão logo me puxa por cima da mesa como um saco de batatas, são golpes
O doutor Severo vem como pai defender sua cria. E fez um excelente
serviço. Estou sentindo dor por todo meu corpo. Para apenas quando um dos
seus homens anuncia a chegada da polícia. Se ele fosse um homem esperto
teria acabado comigo de uma vez. Pouparia dores de cabeça futura. Sempre
estarei na vida da sua filha. Não poderia viver sem tê-la por perto, ser o seu
carinho e apoio.
nesse momento delicado que está nossa relação. Mesmo estando com raiva
por ter levado uma surra fodida do pai dela, não era sua culpa.
Meu celular vibra no bolso da calça social. O pego e vejo que é uma
chamada telefônica do Ramiro.
— Tudo por você, querido. Hoje mesmo irão na sua casa recolher sua
mãe, acredito que antes das seis horas da tarde. A noite eu ligo. Beijos!
Não me dou ao trabalho de ligar para empresa e avisar que não voltarei
hoje.
— Não saio daqui! Vou ligar para a polícia. Ainda respondo por mim!
Dona Hermínia não reluta, não fala e muito menos direciona seu olhar
para mim. As lágrimas continuam umedecendo seu rosto.
Não tenho escolha. Uma hora ou outra minha mãe iria abrir a boca e
colocar tudo a perder.
Tento sorrir após escutar o que Lucrécia disse, mas não tenho reação
alguma. Nem teria como ser uma brincadeira, apesar do sarcasmo eminente
em suas expressões faciais. Quero muito acreditar que tenha sido uma
brincadeira de péssimo gosto. Não por questão da orientação sexual do
Vicente. E sim pela mentira.
— Que pergunta essa minha. Claro que sabia, desculpa. É que quando
lembro que fui uma otária em ter investido nele fico com raiva.
Claro que Zayn não pensou que ao emprestar o celular para o meu pai o
doutor Severo fosse ler a mensagem do grupo deles, que subiu a notificação
justamente quando estava nas mãos do meu pai.
que de fato não era uma mentira. Além do mais, meu namorado não tem que
lidar com a decepção tremenda que estou sentindo pelo meu melhor amigo.
— Filha, não quero me meter na sua vida. Meu papel sempre será o de
orientar, cuidar e proteger você, mesmo quando não achar necessário. Você e
seus irmãos são tudo para nós. E preciso ser sincera, tudo bem?
acredito que seja o mais saudável a se fazer. Ele passou dos limites quando a
machucou. Não tiro a razão do seu pai. Se fosse eu ter lido a mensagem sairia
do mesmo jeito de onde estivesse para fazer picadinho do Vicente.
Miro seus olhos castanho-esverdeados sabendo que não poderia ter tido
uma mãe melhor que minha Eleonor.
— Conversaram?
do pedido de namorado que Elordi fez e aceitei. — Minha mãe une as mãos
rente ao rosto apertando os lábios, sem conseguir esconder o enorme sorriso.
— Depois conto tudo com maiores detalhes, prometo. Continuando,
encontrei a Lucrécia e pensei ter entendido errado. No entanto, afirmou que
não teve chance com o Vicente porque ele é gay.
— Vicente mentiu para mim. Durante todos esses anos. Sou uma idiota.
A maior.
— Irei descobrir a razão de ele ter mentido. E pensando bem... uns dias
atrás quando fui visitar dona Hermínia, ela estava disposta a revelar algo
sobre o filho. Vicente chegou na hora dizendo ser apaixonado por mim. Dona
Hermínia concordou, mas não acreditei.
— Então parece bem mais sério.
que me magoava, encontrava uma explicação para não parecer pior de que
realmente era. Meu Deus, mãe, fui tão... estúpida.
Dona Eleonor quer tirar foto para mandar no grupo que tem com as
minhas tias e avó. Estrago seus planos, pois eu quero anunciar à família sobre
o atual status de relacionamento que Elordi e eu estamos. Minha mãe revira
os olhos, mas aceita.
Após tomar um banho trajo um vestido leve de alças finas com
— Apartamento do Elordi.
— Até amanhã.
definitivamente o calor que emana do meu corpo não permite que eu sinta
frio.
Fico na ponta dos pés colando meu corpo ao seu e tomando sua boca
num beijo de língua, molhado e cheio de saudade. O que pode ser loucura já
que hoje mais cedo namoramos no seu gabinete antes de o Miguel bater na
porta para anunciar a confusão.
úmida, estou sentindo. Nem posso imaginar o estrago que fará quando
finalmente fizermos sexo.
— E vai. Muito, aliás. Vai ser minha putinha, vai deixar eu te comer do
jeito que eu quiser — sopra olhando no fundo dos meus olhos.
Mais um pouco e juro que vou derreter. Cacete. Gosto que use palavras
chulas, que faça promessas libertinas e vou amar mais ainda quando fizer
tudo que vem prometendo.
completamente dele.
Tento tirar sua camisa, mas me impede. Suga meu lábio com vontade
fazendo eu gemer descaradamente. Nem tive tempo de tentar o livrar da
camisa, pois fecho os olhos ficando mole ao sentir seu nariz, barba, lábios,
Seguro seus ombros com força quando começa a beijar acima dos meus
seios até que escorrega as alças e os puxa para fora. Estou parecendo uma
gata no cio, sem vergonha alguma na cara. Levo uma mão para seu cabelo
quando começa a mamar no meu mamilo entumecido, puxando o piercing,
lambendo e voltando a chupar.
Ficarei marcada.
calcinha melada no seu pau coberto. Elordi urra rouco quando paro de me
esfregar nele e passo a acariciar seu pau. Mordo seu queixo, passando a
língua em seguida até os seus lábios.
sua mão para dentro do moletom tirando o monstro do seu pau que passa do
seu umbigo. Minha boca chega a salivar admirando o pau largo, longo e
grosso. A cabeça parece um cogumelo, rosado, brilhando devido o pré-
sêmen.
Elordi pega a base do meu vestido e solto seu pau para nos livrarmos da
minha roupa. Volto a pegar sentindo o peso, admirando o que agora é meu.
Somente meu.
—Vamos transar?
Minhas bochechas estão febris, minha vagina cada vez mais molhada e
só penso em ser desse homem.
Cacete, até prestes a gozar esse homem não deixa de ser bonito.
Elordi alcança o orgasmo fazendo sua porra melar meus seios e barriga.
Mordisco os lábios, assistindo sua expressão de puro êxtase, urrando, sem
tirar os olhos de mim e só em seguida os fechando por alguns instantes.
Arizona não tem culpa das ações do Vicente. E diante do erro que
cometeu novamente, minha namorada fez o que costuma fazer sempre: foi
boa demais. Procurou uma justificativa para a forma que seu amigo agiu
mesmo estando com raiva e sabendo que não havia atuado de forma correta,
displicente com a mulher que amo. Não faria da sua primeira vez um ato
impensado de sua parte. Quero ser o melhor que não fui durante os anos que
a afastei de mim.
Arizona arfa olhando para o meu pau que amolece, mas sendo
ganancioso não demoraria muito para ficar rijo. Toco no seu mamilo,
apertando o biquinho rosado que tem o piercing, o puxando entre meu dedo
indicador e polegar. Aperta os lábios carnudos querendo conter os gemidos.
— Eu sei.
— Então...?
Não é uma boa opção, amor. Faremos nossa primeira vez da melhor forma
possível.
Não estou me sentindo usado pelo fato de a morena ter vindo a mim
para esquecer o que tanto a magoou. Ficaria puto da vida se não fosse eu a
pessoa a quem recorresse.
— E você adora.
— Não deveria dizer, mas passará a vida toda sendo impressionada por
mim.
— Hum...está bem-bom.
meu interesse.
— Sabe que acreditei por muito tempo que o Vicente poderia ser o
Sabia tanto disso que o empurrei para a mulher que amo, pois
acreditava que ele era o cara ideal. Por mais que aquilo me machucasse, fiz
por ser altruísta.
Entre a garota pura ficar com um fodido como eu, preferi desistir de
lutar pelo seu coração antes mesmo de entrar na batalha. Claro, não sabia dos
seus sentimentos por mim e muito menos que Vicente se tornaria um
ambicioso de merda.
— Ele mudou muito, Elordi. Nem de longe parece mais aquele garoto
sonhador, gentil, que adorava ajudar as pessoas, que não perdia uma ação
social comigo, bom filho... não queria enxergar sua mudança, pois estaria me
protegendo de uma grande decepção. Fiz isso sem perceber e esperançosa de
que fosse somente uma fase.
silenciosas.
— Como amigo sim. Porém, me deixei levar pela amizade, por tudo
que Vicente passou comigo no momento mais difícil da minha vida.
resumia apenas com Anthony e Miguel. Vicente era estudioso, estava sempre
com um livro na mão. Os garotos foram cruéis com ele, o fizeram desistir de
entrar em várias atividades que queria participar. O protegi como pude.
Porém, sabia que quando estivesse longe voltaria a ser o alvo dos valentões.
que inventava de última hora, da falta de cuidado com a própria mãe... dos
seus gostos requintados —bufa. — Procurava uma justificativa.
Por mais que eu seja um ciumento do caralho, tenho que admitir que se
descobrirmos que o Vicente realmente está num caminho sem volta, isso irá
quebrar o coração da minha garota.
Sei que ela o ama como amigo e tem uma gratidão enorme por ter
ficado ao seu lado quando não tinha mais nenhum amigo. Vicente insistiu,
fez coisas admiráveis, a protegeu e criaram um laço de amizade forte. Mas
seu caráter mudou drasticamente.
— Tudo bem ele ter ambição, mas a ponto de estar envolvido com
coisas ilegais? Meu Deus, isso acabaria com a dona Hermínia. Seria uma
grande decepção.
Meneia a cabeça olhando nos meus olhos. Nem posso imaginar a luta
interna que está travando consigo mesma.
machucar, sentir dor para tentar esquecer o que faziam comigo e no fim me
tornei um potencial suicida.
Se eu não tivesse passado por esse inferno, não teria me julgado tanto a
ponto de afastar a garota que me apaixonei e por qual daria tudo para não ter
machucado mesmo sem saber, pois acreditei estar fazendo o certo.
Vou até ela e giro a banqueta para ficar de frente para mim, assim
— Ela queria conversar sobre a ideia que teve sobre fazer cinema ao ar
livre com filmes e documentários voltados para as mulheres do Instituto. Não
retornei as ligações, li as mensagens e disse que poderia passar para a vó
Selena.
Instituto. Porém, nunca dei brecha para que pensasse algo amoroso entre nós
dois.
Acordo mais cedo do que costumo quando percebo que o Elordi não
está mais na cama. Antes de dormirmos foram longas horas nos beijando,
conversando e trocando carícias, desta vez, inocentes.
— Que orgulho. Tenho aula, mas posso faltar para acompanhar você.
— Nada disso. Será rápido, pois logo terei que estar na advocacia para
conferir se passei tudo para o Anthony.
intenções.
Nos beijamos longamente. Por pouco não solto a xícara. Esse homem
não tem pena de mim, meu Deus.
Pego sua mão e beijo a palma, emocionada e mais cativada pelo garoto
que me apaixonei na adolescência e que sempre continuei amando.
— Eu te amo.
Vem para mais perto, afasta meu cabelo e sinto seu hálito soprar no
meu ouvido, arrepiando-me toda:
Após três aulas da Imunologia sigo para a sala do meu orientador para
buscar o rascunho de doze páginas que escrevi sobre a problematização do
meu tema: como a vacina age no corpo.
orientações.
sozinhos, pois este horário ainda está tendo aula na maioria dos cursos que
são do período da manhã.
tentando me enganar?
— Você é gay. E continua jurando amor por mim, quando sabemos que
não é verdade. O que ainda está escondendo? Quem é você, Vicente? Uma
coisa posso garantir: não é mais o meu melhor amigo. Nem de longe se
parece com ele.
— Não sou viado, caralho! É mais fácil o Elordi ser, não podemos
esquecer que passou pela mão de muitos homens.
Guiada pela cólera ergo a mão fechada, acertando o seu nariz com um
soco. Ajo tão rápido que nem dá tempo de o Vicente reagir. É pego
desprevenido. Ignoro a dor latejante que se espalha na minha mão e dedos,
respirando em haustos o olhando tentando conter o sangramento.
— Arizona, porra...
Estamos no estacionamento.
— Quebrei o nariz do Vicente.
Seguro a risada.
—Vamos parar no quiosque perto da praia. Nay está com desejo e hoje
— Vicente não é mais aquele meu melhor amigo. Agora vejo isso.
— Você está triste — afirma, passando seu olhar sobre mim tentando
deduzir mais alguma coisa. — O que aconteceu?
Tenho medo desse Vicente que vi hoje. Ele não é mais o meu melhor
amigo.
decepção é saber que Vicente continua mentindo sobre o que diz sentir por
mim, por ter falado do abuso que Elordi sofreu de uma maneira totalmente
torpe.
Quando meus tios adotaram o Elordi foi algo que conseguiram manter
oculto o quanto puderam da mídia a fim de proteger o primogênito.
muito tempo.
Isso poderia tê-lo abalado? Acredito que de certa forma sim, porém
continuou usando sua faceta de bad boy. Nada parecia o abalar. Por mais que
tentasse não gostar dele, por toda a rejeição que sofri da sua parte, o
admirava.
— Descobri que fui uma tola, Nay. A maior idiota de todas por amar e
acreditar cegamente no meu melhor amigo.
— Ele não tira a camisa, pelo menos não perto de mim. Na escola
Elordi era do time de polo aquático. E depois de alguns meses começou a
esconder seu corpo da cintura para cima.
pescoço.
começa a rir.
Em outro momento irei falar, tirar tudo que ela sabe sobre o meu
namorado, e que fiquei privada de saber.
Não tive dúvidas de que a vitória seria nossa. Fernandez Antielle, foi
acusado pela sua ex-esposa de ter sido o mandante do seu sequestro. As
provas contra ele foram forjadas. Tudo passou pela perícia, pois sempre fica
alguma coisa que indique o verdadeiro culpado — no caso, essa pequena
falha mostrou a inocência do meu cliente.
aceitado o seu caso. Nossa advocacia só defende clientes que são realmente
inocentes.
— Miguel já deve ter xingando de tudo que é nome. Tio Enzo vem
pegando pesado com a gente.
voltar atrás.
— Não gosto quando entram na minha sala sem bater — ralha Luri
desviando a atenção da tela enorme do seu computador.
Luri empurra a pasta de couro na minha direção. A pego para ler o que
dizia o dossiê. O líder da equipe de hackers profere:
Luri continua:
hora caiu nas mãos da justiça e foi pego. Seu pai, o juiz Medeiros, foi quem
julgou e condenou Argus José de Morais a mais de trinta anos de prisão. A
coisa é mais do que drogas, o cara tem uma lista imensa de crimes. Está tudo
aí. Obviamente continuarei investigando. Estou analisando toda a lista de
contato que Argus tinha antes de ser preso. Fora Vicente, vulgo Henrique,
nunca recebeu visita de ninguém.
Encaro os meus dois melhores amigos sem reação. No fundo, queria
que tudo não tivesse passado de uma brincadeira e desconfiança do Miguel.
— Como isso é possível? Quer dizer, não o fato de ele ser gay. Mas não
faz sentido.
— Agora mais do que nunca faz sentido, irmão — diz Anthony sisudo.
Fito o meu melhor amigo deixando claro que não estou no meu melhor
momento para apreciar seu humor.
amigo.
— Não tem nenhum registro. E quero deixar claro que quem fez a
identidade falsa do Vicente está de parabéns. É quase perfeita. Hermínia
Ferraz de Almeida registrou o filho sem pai, então podemos considerar o fato
de o Argus ser pai biológico do Vicente. É uma possibilidade que não
descartei. Entrei em contato com a equipe da Tailândia, solicitando que
coloquem na tecnologia facial Argus, Hermínia e Vicente, que mostra a
porcentagem de quanto o filho tem do pai e quanto tem da mãe. Não
liberaram para nós, aliás, nenhuma outra sede da Serpentes of Anarchy, pois
está em fase de teste. Porém, já é algo.
que entrar em campo quando tivermos mais um passo à frente. Agora virou
assunto da colmeia. Claro que esse cara deve estar usando o Vicente para
atingir a família. Não sou o senhor Murat, mas estou quase, e juro que estou
sentindo que pode ter mais alguém envolvido.
meu corpo.
Poderia ir muito bem colocar o Vicente contra a parede e descobrir até
que ponto está envolvido com o Argus José Morais. É da minha natureza ser
impulsivo. Porém, com o passar dos anos, sendo educado pelos meus pais,
treinando na colmeia a parte teórica e prática, acabei evoluindo.
Mas neste momento quero mandar tudo para casa do caralho e acabar
com o Vicente. Estou com raiva por ter acreditado no seu caráter, por ter
cogitado e empurrado ele para a mulher que amo, conjecturando que era o
homem ideal para Arizona.
— Tentei ser amigo dele pela Arizona. Queria ter certeza de que não
havia errado sobre o perfil que tracei do Vicente. E agora essa merda toda.
somente para você... mostre que por mais podre que o melhor amigo dela
seja, nada será capaz de parar vocês.
Uma pena a maioria dos seus conselhos não surtirem efeito para si
próprio. Como se não precisasse de ajuda quando todos nós sabemos que
vivemos o inferno na cabeça, no corpo, na alma e por este motivo sempre
iremos precisar de ajuda profissional.
— Farei isso. É só que estou com tanta raiva de mim por não ter
percebido a real intenção do Vicente.
risonho.
imagina quando souber que seu melhor amigo nutre amor pelo seu homem.
— Era para a gente estar tomando umas cervejas. Vamos marcar para o
final de semana.
de olhos fechados.
— Acho que devemos falar com os seus pais, Anthony. Você não está
nada bem. Voltou com a paralisia, não tem dormido direito, está ansioso —
sugere Miguel.
— Irei melhorar. Não posso regredir agora, não quando finalmente vou
conquistar a primeira etapa do que sempre sonhei.
— Podemos fazer uma viagem espiritual. Agora podemos ir para a
Índia, o que acha?
No entanto, controlo minha tara pelo meu namorado sabendo que não
Minha avó ligou quase uma da manhã para solicitar minha participação
na feira de artesanato que as mulheres do Instituto Eleonor estão fazendo
Sinto que a cada dia que passa estou amando mais o Elordi. É
impossível não sentir medo do amanhã, saber se vamos realmente passar por
tudo juntos.
— Muita. — Passo os braços pelos seus ombros, fico na ponta dos pés
e tendo suas mãos grandes apertando minha cintura, nos beijamos
longamente. — Bom dia.
Eu pago.
Como estou com o Elordi, o líder da minha segurança irá nos encontrar
no Instituto da família.
— Algum problema?
— Nenhum. Bom, ainda não falamos sobre nós para nossa família...
— Acha mesmo que não sabem que vocês estão juntos? — questiona
Kostas ao descer seus óculos escuro até a metade da ponte do seu nariz.
— Não é por nada não, sei que vocês são os alecrins dourados que
nasceram no campo sem serem semeados. Contudo, não são as pessoas mais
discretas desse mundo. Só de olhar para vocês dá para ver que se pegam —
articula Kostas com o seu ar de deboche.
Alicinha sabe que Elordi gosta de flores, e com certeza deve saber de
outros gostos triviais do meu namorado ao longo do tempo que ambos vem
conversando.
— Verdade.
Por mais ciumenta que descobri ser, de forma alguma quero erguer uma
espada anunciando rivalidade feminina. Estalo a língua no céu da boca,
tentando me manter neutra, serena.
Claro, não tenho obrigação nenhuma de falar, revelar algo pessoal para
ela, contudo, por saber dos seus possíveis sentimentos pelo meu namorado o
certo seria esclarecer as coisas.
Choramingo quando morde meus lábios, mas logo passa a língua úmida
por cima da minha boca, mantendo o aperto na minha nuca, puxando um
— Nada demais.
— Estou com calor. O que é perfeitamente normal com esse sol e com
os seus beijos.
Puta merda! Estou quase me desmanchando nos seus braços. Mas nada
de ficar jogando. Quero transar e será com o Elordi, obviamente.
menos.
Beijo o canto da sua boca pronta para sair. Mas o meu homem de ouro
é mais rápido ao agarrar minha cintura, sai abraçado a mim, enchendo a curva
do meu pescoço de beijos, arrancando risadas minhas.
Tento me soltar dele, achando graça. Sem êxito sou agraciada com os
seus lábios macios tomando os meus. Quando descolamos os lábios e olho
para frente fico sem graça ao notar o olhar tristonho da Alicinha em cima de
nós. Afasto-me do Elordi.
O moreno olha por cima da minha cabeça, viro para a direção onde a
Alicinha estava, mas ela não está mais na barraca. Falo:
Prova disso é quando vou no direct dos caras que comentam suas fotos
de biquíni. Na verdade, eles deixam comentários em praticamente em todas
as fotos dela. Fico louco com os elogios ousados. O problema não é a minha
mulher publicar uma foto de biquíni exibindo sua beleza natural nas suas
redes sociais.
tudo é que a mulher da minha vida nunca reparou. Ela simplesmente vai e
faz, ajuda sem esperar nada em troca. Nunca destratou ninguém por nada. E
ao mesmo tempo se mantém uma guerreira altamente treinada nas missões da
colmeia.
— Percebi sim. Por isso nunca aceitei nenhum convite dela, ou que se
aproximasse mais de mim. Nosso contato sempre foi por conta do nosso
trabalho aqui no Instituo.
— Cerca de meia hora atrás ela estava falando sobre você. Eu ia falar
sobre nós, porém fomos interrompidas.
Solta uma gargalhada gostosa. Passo meus braços envolta do seu corpo
pequeno e macio, fechando os olhos ao inalar o cheirinho bom do seu cabelo.
— Por favor, pare de ser essa coisa fofa. Não aguento, Elordi.
— Tudo bem, Arizona. Sei que se pegam. Nem posso imaginar como
os bebês de vocês serão ursinhos de tão fofos, bochechudos. — Coloca a mão
— Alex realmente adora o fato de ter o Elordi como genro. Não que o
Na verdade, não é não. Vó Selena acredita que seja, todavia, todos nós
sabemos que disfarçar não é seu forte.
Por muito pouco a Arizona não quebrou o meu nariz. Caso tivesse
conseguido teria que passar por uma cirurgia de correção de fratura nasal para
restabelecer a região. Está terrivelmente inchado, dolorido e quando mastigo
dói tudo.
Após tomar dois analgésicos de uma vez escuto a campainha tocar.
Penso em não abrir ao ver o mafioso. Porém, ele sabe que estou aqui. E
Ao abrir a porta seu olhar cético fixa no curativo que o médico fez
ontem no hospital. Fecho a porta e me jogo no sofá.
— Adoraria ter novidades boas, Vicente. Mas pelo seu estado nem
abandonou, Vicente.
—Farei o possível...
— Esse tipo de coisa na máfia não existe. Se falhar não espere ver a luz
do sol novamente. A partir de hoje não visite mais seu pai na penitenciária. A
essa altura a Organização deve estar revirando tudo para encontrar qualquer
coisa contra você.
Nós nos encaramos por longos minutos até que o mafioso levantou e
saiu sem dizer mais nada.
Infelizmente Alicinha foi embora antes que eu pudesse conversar com
ela. Lembrei de tudo que o meu namorado falou, e sim, eu sei que não temos
por que nos conter. Porém, gostaria de ter explicado que não escondi o
viagem.
Digito rapidamente:
— Missão?
— Então vamos.
chefe que não é nada mais nada menos que Klaus Bianchi. Ele está na nossa
—Tenho quase certeza que é uma emboscada. Foi tão fácil invadir o
servidor. Sabemos que os mafiosos utilizam a melhor tecnologia que
— Sim, senhora.
armadilha. Tia Jas faz o sinal e nos separamos. Mato alto, construções velhas
devido ao tempo e a luz fraca é a primeira visão ampla que temos da cidade
abandonada.
Estou para pedir reforço quando vejo o Miguel — que está sem
máscara — em cima do telhado de uma das casas segurando a porra da
metralhadora que ainda está em fase de teste da Organização. A equipe de
após ter sido tirado de mim em um descuido — pego uma flecha e enfio no
olho do cara quando vem para cima de mim. Engulo a dor terrível nas
costelas, corro até o arco e continuo firme na missão.
com ele. Quem estiver disponível siga para o prédio azul, é o único que tem
dessa cor na cidade. Parece que é uma parte onde funcionava a usina
hidrelétrica — profere Luri falhando em esconder sua preocupação.
Olho para Kostas do outro lado da rua. Faz o sinal com a cabeça e ao
escutar três, saímos correndo. Minhas pernas estão pegando fogo, contudo,
consigo manter o fluxo de oxigênio sem precisar parar para puxar o ar. Estou
assustada com a falta de comunicação do Elordi.
Kostas.
Elordi está sem camisa e tem três cabeças que foram decapitadas dentro
do tanque.
atrás até alcançar a tampa do tanque. Por muito pouco meu corpo não extenua
ao perceber que a base tem um tipo de mecanismo automático. Usando do
meu desespero tento empurrar o ferro, sentindo as lágrimas umedecerem
meus lábios.
— Estão vindo, amor. Seu pai está a caminho, vamos arrumar um jeito
de quebrar.
do Elordi.
Era um dos desenhos que estavam faltando quando achei meu caderno
Tio Samuel sobe as escadas assim que a tampa é aberta por uma
alavanca automática. Puxa o Elordi. Com ajuda dos nossos o deita no chão,
de lado. Tento encontrar pulsação, mas não consigo sentir nada.
Segurando sua mão fria um filme passa pela minha cabeça desde o dia
que nos conhecemos até o momento de hoje mais cedo. Sou incapaz de
acreditar que esse seria o nosso fim. Não assim, não agora. Silenciosamente
Frida Kahlo.
Recuso-me acreditar que minha história com o Elordi seja uma tragédia
shakespeariana. Desde o dia que nos conhecemos, mesmo diante da sua
rejeição à minha amizade, de alguma forma torcia para no futuro nos darmos
bem.
sua boca e inspiro o ar pelo nariz, em seguida sopro o ar dentro da sua boca,
fazendo o peito se elevar. Continuo fazendo a insuflação sentindo meu corpo
tremer pelo pavor de não termos conseguido o salvar a tempo percorrendo
por todo o meu sistema.
Isso não.
O choro vem intenso quando o Elordi reage jorrando água pela boca.
Rapidamente tio Samuel volta a colocá-lo de lado, seguro sua cabeça
sentindo o alívio me abraçar. Logo outros membros da equipe adentram o
local. Pude respirar mais aliviada quando Kostas vem sendo seguido pelos
membros do resgate da Organização.
— Sei como se sente. Sinto isso 24/7 desde o dia que me designaram
para cuidar da segurança da peste — diz Matias antes de puxar a máscara da
sua cabeça.
— Seu pai já está na sede aguardando o Elordi. Ele vai ficar bem — diz
Anthony, mas nada e ninguém seria capaz de me acalmar.
— Querida, irá no outro. Não posso deixar meu filho sozinho por nada.
Nos vemos na sede.
Meu Deus, o Elordi todos esses anos escondeu o desenho que fiz na
adolescência tatuado nas suas costas.
Já havíamos começado uma história que nós dois não soubemos administrar,
deixando a insegurança e traumas assumirem o controle da situação.
Nay para pertinho de mim e passa a mão no meu cabelo. Estamos nós
quatro extrínsecos assistindo meu pai cuidar do Elordi, torcendo e orando
silenciosamente para que não tenha tido nenhum tipo de edema, lesão.
quanto emocionalmente.
Claro, agora sei que Elordi, assim como eu, sofre de insegurança física
e emocional. Ele tem seus traumas, sentiu na pele a violência que um ser
humano podre pode causar ao próximo sem remorso. Não posso o culpar por
ter ocultado esse segredo que veio ser descoberto num momento tão
agoniante. O entendo.
— Não.
Respondo sem tirar os olhos do Elordi, que ainda está sendo examinado
pelo meu pai.
mora dentro de mim, da ânsia e nojo que sinto de mim mesmo por saber o
que fui obrigado a fazer, e o que fizeram comigo sem meu consentimento.
que minha família representa. Eles não se importam como meu passado,
sempre fizeram parte do meu tratamento. Então, o mínimo que posso fazer é
me manter vivo, esquecer a vontade que tenho de me machucar para aliviar a
dor, de ser o melhor ser humano que conseguir.
soprado para dentro da minha boca. E então consigo empurrar a água para
fora do meu corpo. Mesmo o sentindo letárgico, meu corpo reage lutando
para se manter funcionando.
Viemos sabendo que tudo poderia ser uma grande armadilha. Mesmo
assim resolvemos arriscar. Klaus Bianchi pode estar liderando uma grande
captura de pessoas para seu comércio sexual e de órgãos, que vem crescendo
A cada avanço pelo prédio, reparei que era uma espécie de hidrelétrica,
talvez uma parte dela. Com a Uzi na mão e enxergando pela visão noturna
instalada no topo da arma, pausei os pés ao escutar lamurias. E então
refletores foram ligados e prendi a respiração por alguns segundos ao ver os
dois membros da nossa equipe que entraram no prédio, em cima da tampa de
Sou trazido de volta ao sentir meu corpo ser erguido e removido, mas
tudo se passou como um borrão, até não sentir mais nada.
— Pequena...
Arizona desperta no susto, atônita. Mas relaxa assim que toco no seu
braço, feliz por estar bem. Seus olhos apresentam cansaço e deixam evidente
que chorou bastante, até a pontinha do seu nariz está rubra.
A morena me olha com tanto amor que tive certeza de que se realmente
existe reencarnação, em todas as vidas meu coração irá pertencer a ela.
E então cai a ficha de que ela sabe, que me viu sem camisa. Um dos
segredos foi revelado em um dos momentos mais angustiantes da minha vida.
Não era para ter sido assim, no meio de uma missão. Estava tudo planejado
para termos um cenário romântico, longe de todos.
Puta merda.
— Arizona, sei que viu a tatuagem. Juro que minha intenção não foi
pensada para te magoar. Eu só era um tolo apaixonado, e não pensei duas
vezes em mantê-la pertinho de mim, mesmo de forma simbólica, tatuada no
meu corpo.
A pego pela nuca, tomando sua boca num beijo longo, demorado. Sua
língua toca a minha de forma esfomeada, assim como estou cheio de gana
pela morena gostosa. A mulher de toda minha vida, porra! Estou prestes a
sentar para pegá-la pela cintura quando escutamos a voz do Miguel:
Sorrimos entre o beijo, e antes que se afaste, selo mais uma vez nossos
lábios em um selinho singelo.
— Ficou aqui comigo o tempo todo? Poderia ter ido descansar. Aliás,
todos vocês — murmuro.
— Você nos assustou, Elordi. Luri quase teve um treco. Samira já deve
ter dado algum chá para ela, sabemos o que alivia.
— Fora que o loiro raiz do seu sogro estava desesperado. Ele meio sabe
lidar com você sendo o genro dele, e Deus nos livre que tivesse partido para
outra, ele ficaria louco aqui.
Ele havia saído direto do hospital para vir cuidar do Elordi. Minha mãe
quis vir, mas meu pai garantiu que seria melhor a dona Eleonor ficar em casa
Não saí do quarto desde que fomos liberados para ficar. Nay fez o favor
de pegar mudas de roupas limpas e minha necessaire no meu quarto, então
pude tomar banho no banheiro anexo ao quarto hospitalar.
Meu pai começa a examinar o Elordi com muita atenção, como sempre
costuma fazer com todos seus pacientes. Afasto-me um pouco para realizar o
exame de oxigenação. Neste momento, meus tios entram no quarto
acompanhados dos meus três melhores amigos.
Apesar de estar exausta, me mantenho firme, pois só sairei daqui com ele.
havia acontecido.
Demorei a entender que somos uma família que possui muito dinheiro.
Muito mesmo. A carreira jurídica que vários membros da família têm não
trouxe tanta riqueza, mas sim o prestígio mesclado à inteligência para investir
em várias áreas rentáveis, todo dia traz mais resultados positivos para
diversas contas bancárias.
E não poderia ser mais satisfatório usar esse dinheiro para melhorar as
condições dos menos favorecidos, de quem realmente precisa. Fazemos as
ações filantrópicas e sociais sem esperar nada em troca, muito menos que seja
divulgado por algum veículo de comunicação.
— Mãe, rainha de toda minha vida, juro que estou bem. Tio Alex disse
— Meu amor, Alex afirmou que nosso filho está fora de qualquer
perigo. Mesmo assim, concordo em ir ao hospital fazer um checape
minucioso.
— Eu vou. Se assim ficarão mais tranquilos, faço o checape. — digo
antes de beijar a mão da minha mãe.
Minha mãe quando passa por um susto, como o que passou algumas
horas atrás, fica insistente, demora um pouquinho para se acalmar de
verdade.
— Tia Agatha, nosso garoto de ouro está ótimo. Agora ele precisa
apenas do carinho da...
— Está confortável?
Aposto que deve estar relembrando do dia que me viu tomando banho.
Claro que Miguel não perderia a oportunidade de nos aproximar mesmo que
— Ok. Mas o meu também está livre. Não está mais em manutenção. Já
colocaram o sistema novo.
Levanto-me da cama tendo noção de que meu corpo ainda está fraco, e
uma pequena tontura me faz ficar sentado antes de colocar os pés no chão.
— O que sentiu?
— Tontura.
Não a contrapus.
Seus olhos estão marejados, seus dedos da mão direita sobem e descem
pelas minhas costas nuas. A todo instante está tocando-a, acariciando...
chega a fechar os olhos por alguns instantes.
— Preciso da minha mulher forte. Faremos uma pequena viagem à casa
da floresta.
— Tem que repousar, Elordi. Isso podemos deixar para outro final de
semana.
Pousa a mão que está nas minhas costas na minha coxa e resvala o
nariz pela lateral do meu rosto, sua respiração aquecendo minha pele. Quando
toca os lábios na minha orelha causa um arrepio gostoso por todo o meu
corpo. E então planta um beijo antes de beijar meu pescoço e escorregar os
lábios macios pelo meu ombro.
Com os olhos fechados sinto suas unhas seguirem os traços da sua obra
de arte que tatuei nas costas. Estamos há bastante tempo sentados na cama,
em silêncio, as palavras neste momento não são necessárias.
minha no pequeno armário embutido e veste, após se despir da roupa que está
usando, ficando alguns segundos apenas com uma calcinha pequena, é o
suficiente para o meu pau ganancioso querer ficar animadinho.
Sento-me entre suas pernas deixando espaço o suficiente para ela poder
admirar a tatuagem. E desde então estamos presos nesse momento.
pele... tudo que foi abafado por tanto tempo está vindo à tona.
— Sabe o quanto fiquei furiosa por ter achado meu caderno e terem
justamente arrancado o meu desenho preferido?
— Parou para pensar que tem um fator positivo por não termos nos
envolvidos na adolescência?
— Algumas vezes.
— Acho que não estaríamos preparados para viver esse amor, que já
sentíamos antes mesmo de admitirmos. Chega a ser um pouco doloroso
pensar assim, talvez nada romântico..., mas pode ser uma verdade.
elas importavam sim. Claro, hoje uso o foda-se, o que é muito bom, aliás.
Fora que estava dependente do meu melhor amigo.
— Porém, nada disso tira o fato de que a magoei muito, que alimentei
suas inseguranças. E se pudesse voltar atrás, teria feito diferente.
— Nada que agora a gente não supere... juntos. Eu amo você, amor. —
Acaricia o meu nariz com o seu. — Agora você é meu, moreno. Todo meu.
Seus lábios macios tocam a minha boca. Logo minha mão vai para sua
nuca, colocando mais pressão no beijo de língua que tanto adoro. A sensação
de beijar o amor da sua vida é inexplicável. Parece que a cada beijo, cada
carícia... se torna mais intenso, selvagem.
minha cabeça. Arizona não sabe que seu melhor amigo é sugar baby, nem
que tem visitado um presidiário condenado pelo meu pai. Todavia, saberá por
mim. Conhecendo como a conheço sei que isso vai decepcioná-la e perder
qualquer esperança de reconstruir sua amizade com o Vicente.
Por mais que o odeie e sinta um ciúme do cacete... sei que o Vicente foi
e ainda é muito importante para a minha namorada.
— Vou fingir que não estou te vendo em pé, me olhando com esses
olhos de quem vai pedir alguma coisa, sendo que deveria estar em repouso.
— Você e as outras duas pestes não pedem favor. E sim exigem, seus
capetas — fala após colocar sua mão no leitor biométrico e a porta abrir. —
Aliás, como você está?
— Bem, obrigado.
normal, pois sei que os três mosqueteiros de araque vão querer colocar os
rabos no campo minado fazendo o que bem quiserem. Não diga nada, Elordi!
Sou mais velho que você e ao menos a educação de vocês nesse quesito é
inquestionável.
principal que ocupa grande parte da parede, ligar anunciando o software que
contém a marca da Serpentes of Anarchy ocupar o centro da tela.
de fazer filho, sério. Samira, a minha adorável esposa e mulher da minha vida
acha que sou muito dramático, não concordo. Acha que estou exagerando?
— Certo. E depois?
não come toda a refeição apesar de ter muita insistência da Cuidadora, tem
começado a praticar a natação, mas não evolui por não apresentar vontade
alguma.
Sinto o desconforto por saber que minha mãe não está nada feliz. Essa
Casa de Repouso é uma das mais chiques que tem no país. Claro, sei que não
veio por vontade própria, mas pensei que iria se conformar e aproveitar o
luxo que nunca teve antes na sua vida.
— Mãe...
que está aqui, tenho certeza de que vai gostar. Posso fazer algo para que se
sinta mais à vontade? A decoração do seu quarto, posso deixar tudo do seu
jeitinho.
Nunca antes havia recebido um olhar tão duro quanto o que minha mãe
direciona-me nesse momento. Os olhares de preocupação, indignação e
decepção já estiveram presentes, agora este que parece tão sem vida, sem
emoção é novidade.
— Vai embora! — esbraveja com o semblante sério.
— Não, mãe. Vim ficar com a senhora. Sei que não entende, mas aqui é
o melhor lugar. Prometo que assim que tiver com uma condição financeira
melhor venho lhe buscar. Lembra que sempre sonhamos em ter uma casa em
frente à praia, afastada de tudo? Teremos um lar assim com todo conforto que
merecemos, mamãe.
— Está assim por conta daquelas coisas que falei sobre a Arizona e o
primo dela? — engulo em seco. — Ela descobriu que sou gay, mãe. Irei fazer
de tudo para contornar a situação, pois preciso dela na minha vida. Elordi não
vai ficar com ela, os dois não podem me deixar de lado, fingir que não existo.
— Já que de alguma forma falhei com você, que não consegui te salvar
de si mesmo... vou salvar a menina. Na primeira oportunidade que eu tiver,
juro por Deus, que irei contar tudo.
— Você não a ama, sabe disso. Está com essa obsessão descabida. Está
ele ter a única coisa que você tinha e ele não. Mas que isso mudou a partir do
momento que os viu juntos.
— Aquele seu amigo foi claro ao dizer que não podemos ter contato por
agora.
— Eu sei disso. Recebi essa informação. Escuta, por que internou sua
mãe na Casa de Repouso?
— Está me vigiando?
— Isso é bem a cara da sua mãe. Sempre querendo ser a santa, a boa
samaritana.
— Ela não é problema seu. Não esqueça onde está, a vida que levou e
que ainda tem, pois se comparar não chega aos pés da minha mãe. Dela eu
cuido!
— Tenho.
— Certo. Mesmo que o meu amigo tenha dito que não era para termos
contato, qualquer mudança nos planos me comunique, filho. Vou desligar.
Mas desde que seu Pedroso passou a se ausentar mais, deixando sua
herdeira no comando, ela tem aproveitado para descontar em mim qualquer
merda que esteja acontecendo na sua vida de princesa, ou simplesmente não
superou o fora que recebeu de mim. Um cara da ralé como eu.
Mulheres como a Lucrécia não aceitam um “não” numa boa. Isso mexe
com o ego podre de rico delas.
Começo a mexer nos documentos infinitos. Ao constatar os números,
cálculos, gráficos e planilhas nos primeiros documentos logo percebo que
—Eu trouxe esse par de luvas e máscara para você poder trabalhar, sem
correr perigo de ter uma crise alérgica com a poeira.
— Inacreditável.
—Inacreditável você manter essa postura de bom moço, sorrir para
tudo e para todos conservando sua mentira. Engana todos o tempo todo. Meu
pai, todos os funcionários e clientes, meus amigos, eu...e até sua melhor
amiga.
Fechei o semblante.
Solta uma risada que não dura muito, quando seguro seu braço sem me
importar de a estar machucando.
— Está me machucando!
Ela tenta se soltar, mas coloco mais força, fazendo com que solte um
gemido de desconforto.
— E-Eu juro que não falei o que ela já deveria saber, Vicente. Só
comentei que não ficamos, pois você obviamente é gay.
Lucrécia tenta se soltar de novo, contudo, não permito. Estou tão cego
de raiva... ela estragou tudo.
carreira em qualquer ramo. Quem pensa que é? Me solte agora mesmo, porra!
— Desgraçado...
choro, supera o fato de que eu nunca vou te comer e se vira sozinha nessa
porcaria de empresa.
do Pedroso presa pela reputação, adora estar nos holofotes por motivos que a
enalteçam.
jeito tem pressa. Ao menos é objetivo. Acesso seu perfil no site para me
certificar. Tem algumas informações sobre sua profissão e constato que é um
frequentador assíduo e seletivo no site por conta dos perfis dos outros garotos
que se relacionou. Pena não ter foto.
Por mim teria logo a formatura e pronto. Se esperarmos mais não vai
mudar em nada o quadro de saúde dos professores. O último concurso que
prestei fiquei no maldito terceiro lugar. Elordi passou em primeiro e não
assumiu o cargo. Então o segundo colocado tomou posse. Espero que em
empresa ter cuidado um pouco da parte jurídica, nem todas as causas foram
distintas. O pior de tudo é que só serão computadas as atividades após a
minha formação.
até a mesa.
Estou ansioso para jantar com o sugar daddy. O valor que recebi na
minha conta digital foi o mais alto que ganhei durante todos esses anos que
estou atuando nessa área.
Espero que não seja um velho asqueroso, pois já tive minha cota. Tomo
um gole do vinho que o sommelier serve sem eu solicitar. Disse apenas que
era sugestão do meu acompanhante.
elegantemente com sua postura de dono do mundo. Ele sempre foi assim:
soberano, misterioso, singular. Meu corpo fica em alerta se dando conta de
que o encontro que tenho hoje não é com um sugar daddy e sim com...
Afasta a cadeira e se senta com toda sua pose de lorde inglês. Elordi
Medeiros sempre chamou atenção. Por mais que não quisesse, era impossível
não o notar onde quer que fosse.
E todas as vezes que ele estava sério, lendo algum livro de terror ou
romance, longe de todos, o admirava sonhando que pudesse ser “diferente”
como eu era. Por nunca ter aceitado nenhuma investida das garotas da escola
e faculdade, tinha esperança de que fosse como eu.
Cristo, como sonhava com isso. E então comecei a perceber seus
olhares para a Arizona. A minha melhor amiga. E juntando ao fato da
Por esta razão não posso deixar simplesmente que ele tire a Arizona de
mim. Ela ficará comigo... já que não podemos ficar juntos.
Ao mesmo tempo que o amo perdidamente tenho raiva por sempre ter
conseguido tudo, sempre ter sido o destaque, ser o querido, o preferido, ter a
vida perfeita. O que ele não tinha era a minha Arizona. Ela já está me
deixando de lado por causa dele, se afastando, me excluindo dolorosamente
da sua vida. Isso não vou permitir.
E agora que sei que fazem parte de uma Organização Secreta, que
dividem esse segredo juntos, mesmo quando não se davam bem... não sairei
do caminho deles.
— Peguei o caso dele. Não contei para a Arizona, pois sei que atuam
apenas em defesa de pessoas inocentes. Nós, pobres mortais não temos muita
opção.
— E então decidiu que seria uma excelente ideia usar um nome falso?
Parece muito à vontade em estar cometendo falsificação de documento, ou
acha que o artigo 297 do Código Penal, com pena de dois a seis anos de
reclusão não se aplica a você. Claro, como advogado deve saber de tudo isso,
mas para estar se arriscando concluo que Argus José Morais deve ser uma
pessoa muito importante.
privilegiado.
— Não existe ninguém que vai me tirar do caminho. Poderia ter ido
perguntar ao meu pai, mas estou aqui te dando uma oportunidade de ser
honesto.
— Você é ridículo.
de ficar esvaído.
Todavia, sabendo que Vicente tem tido contato com um homem que foi
condenado na justiça pelo meu pai, nada me tira da cabeça que pode ter coisa
pior sendo encoberta. O pior de tudo é a sensação de ter acreditado nele, de
ter criado algum tipo de gratidão por ser amigo da mulher que amo.
Vicente, se começou a nutrir algum tipo de raiva doentia por mim por algo
que fiz involuntariamente, juro que recomendo tratamento psicológico.
O fito sem emoção alguma o assistindo se afogar mais e mais nas suas
mentiras.
— A partir de agora não tem mais conversa. Tudo que fizer terá
— Diga para Argus ou para o outro covarde para quem vocês estão
trabalhando, que logo será riscado na nossa lista. Não temos pena. Pode pedir
o que quiser para o jantar. É por minha conta.
restaurante.
— Estou zero chocado. Mas é estranho. Não por ele ser gay, isso não
tem nada a ver. A questão é ele estar mentindo, ter manipulado a melhor
amiga, todos ao redor.
se salvar seja lá no que esteja metido. Agora já não posso mais fazer nada.
Vou olhar nos olhos da minha mulher e revelar a verdade mesmo sabendo
que irá machucá-la. Porém, serei sincero ao dizer que tentei salvar a pele do
homem que acreditou fielmente ser seu melhor amigo.
Não será nada fácil a conversa que vou ter com a Arizona. Direi tudo
que descobrimos sobre o Vicente, mas será algo que ficará para depois do
momento romântico que foi preparado às pressas pela minha mãe, que fez a
pequena viagem mais cedo à casa da floresta.
Nem sou capaz de dizer o quanto estou ansioso ao revelar tudo que
venho guardando durante esses anos.
Agarro seu rosto com as palmas das mãos, abaixando a cabeça para
capturar seus lábios carnudos e macios. Suas mãos buscam apoio na minha
cintura, apertando meus músculos com força, acentuando o desejo absurdo
que sentimos um pelo outro com apenas um beijo. Quis muito estapear sua
bunda, a pegar pela nuca e devolver a mordida de um jeito mais intenso,
— Eles já falaram que não vão precisar de nós. Sério, não me façam
brochar agora. Tenho um encontro, pessoal.
Acabamos sorrindo do jeito do Kostas.
Tio Edu, assim como todos os meus outros tios — exceto Miguel —
construíram casas em florestas espalhadas pelo Brasil de forma estratégica. A
casa do tio Enzo ainda está em processo de construção.
disso.
caminho para cá cogitei dispensar o vinho, mas acho que vou precisar tomar
alguns goles para tentar me acalmar. Podemos ou não ter nossa primeira vez
juntos e isso com certeza está mexendo comigo. Obviamente só faremos sexo
se a minha mulher estiver pronta.
Será a primeira vez que vou foder sem ser um animal tarado. No clube,
meu corpo funciona conforme minhas lembranças dolorosas do abuso sexual,
de toda a violência que conheci ainda criança.
Arizona descansa os pés dos saltos de tira e coloca o meu blazer — que
estava usando desde que o coloquei por cima dos seus ombros antes de
entrarmos no helicóptero — no braço do sofá. Não pude deixar de notar o
quanto está malditamente sensual usando um vestido de cetim simples de
alcinha com tiras na lateral na cor vermelha. Tem pouca maquiagem no rosto
e a única joia que usa é o colar que lhe presenteei.
— Esse lugar é incrível. Nunca vou me cansar de dizer isso.
aproximar dela.
— Não e não. Mesmo se estivesse não ia querer. Sabe que sou curiosa,
Elordi. Qual parte da casa não conheço? — Apoia as mãos na minha cintura.
Sorri entusiasmada.
— Que são...?
Deus do céu, espero não a assustar. Talvez, se formos levar para o lado
da psicologia, eu seja um obcecado por tudo que tenha a ver com a Arizona.
Não é bem assim... eu acho.
um namorado tóxico. Do jeito que amava iria acabar ferindo nos dois,
desgastando nosso amor, o transformando em algo feio.
parece não acreditar no que está diante dos seus olhos oceânicos. Como se
quisesse ter certeza do que está vendo, se aproxima de uma obra. Ela
desenhou perfeitamente uma congolesa, que ainda está inserida no Instituto
da família, que se instalou em alguns países africanos para ajudar os menos
— Não pense que comprei suas obras por não apreciar arte. Sempre
admirei seu talento, sempre me espantou o fato de desenhar de forma tão
realista. Sei que cada obra para o artista é diferente, especial.
—Sempre a admirei de longe e juro por Deus que sempre foi uma
tortura fingir indiferença. E então o sentimento foi florescendo de forma
absurda, sem controle. Me vi a defendendo das garotas metidas da escola, a
protegendo dos comentários maldosos por causa da sua aparência frágil, que
para mim nada mais era que um lembrete do quanto foi um soldado de guerra
ao vencer o maldito câncer, impedi as sabotagens delas nos seus trabalhos,
principalmente nos de apresentações.
época... pedindo que nunca mais ficasse doente. Só não queria que sofresse
de novo, que passasse por tudo de novo. Eu ficava atento a cada passo seu, a
qualquer sinal de alerta imediatamente correria para falar aos seus pais. Só
sabia te amar escondido, meu único amor.
Toco nas suas mãos trêmulas, sem desviar os olhos dos seus.
idealizava, sempre pareceu ser um bom garoto, esteve do seu lado durante
seu tratamento, inteligente, bondoso. Aguentaria o manter por perto, forçar a
amizade simplesmente para ter certeza se ele realmente a merecia. Isso
acabava comigo e sou o maior estúpido por ter pensado assim até pouco
tempo. Antes de todas as revelações. Seria feliz por vê-la feliz com um
homem sem... normal. Me julguei fodido demais para ser digno do seu amor.
Não seria completamente feliz, mas sua felicidade iria me atingir mesmo de
longe.
— E me arrependo muito.
— Ele sempre ganhou meus abraços e admiração por coisas que não
tinha feito. — Se refere ao imbecil. — Poderia tê-lo abraçado, beijado e
admirado mais. Me fez acreditar que era ele, quando na verdade, sempre foi
você. Te julguei, me magoei com as suas atitudes, sofri pela sua rejeição.
Poderíamos ter evitado isso, Elordi.
Fica na ponta dos pés e alcança meus lábios, os roçando por cima dos
meus. Ainda de olhos abertos ficamos no embate intenso, explodindo de
desejo, paixão.
Nossas línguas buscam uma a outra com urgência assim que nos
rendemos ao beijo. Podemos ficar muito tempo nos beijando, todavia,
nenhum será o suficiente para sanar a gana que sinto pela minha mulher.
— Porra... agora você vai pagar por cada provocação, Arizona — digo
— Putinha vai ficar quando começar a foder meu pau sem folga.
Agarro seu cabelo pela nuca, direcionando seu rosto para mim.
— Nem ouse ser a porra de um homem fofo nesse momento que estou
ardendo de tesão. Vai me comer, cumprir tudo que vem me dizendo...
Aperto sua bunda com a mão, enquanto a outra continua firme na sua
nuca. A morena safada passa a língua por cima da minha boca, atiçando,
querendo o que tanto sonhei sem acreditar que um dia se tornaria realidade.
Meus dedos tocam sua pele macia à medida que afasto as alças finais
do vestido, deixando-as escorregarem por seus ombros. Suas mãos trabalham
desabotoando a camisa. Quando termina, tiro a camisa jogando no chão.
—Vou querer foder seus peitos depois... vai ser gostoso, morena.
Não vou gozar antes da minha mulher. Não porque isso poderia
machucar minha masculinidade. Longe disso. É que sempre que puder me
segurar para primeiro lhe proporcionar prazer, farei.
Fomos parando o beijo aos poucos assim que suas mãos começam a
passear nas minhas costas com mais intensidade. Olhando nos seus olhos, sou
nocauteado novamente pela minha mulher, quando começa a beijar meus
dedos, palma da mão, escorregando para as sakuras vermelhas, sentindo a
pele machucada pelas automutilações, as tentativas de suicídio que falharam,
e não tenho como apagar.
meu coração de amor, agora acontece o mesmo. Arizona não se importa com
a merda do meu passado. Provou isso antes, e parece disposta a me lembrar
sempre que possível. Vai para o meu braço esquerdo repetindo o mesmo
carinho.
de desejo.
Descalço os pés e abro o cinto sem tirar os olhos dos seus. Arizona é
uma mistura de anjo com ninfeta, deusa... porra, nem sei dizer ao certo.
Meu membro ereto pula para fora da cueca, passando do meu umbigo.
Alivio um pouco a dor iniciando uma masturbação lenta, espalhando a
lubrificação natural que sai da cabeça robusta por ele todo.
querendo gozar o quanto antes. Prolongo como posso, e então belisco de leve
seu brotinho voltando a estimular sem pena, com força.
— Gostosa do caralho! Agora sim vou sugar até não aguentar mais.
Meto a língua na sua bocetinha saboreando o seu mel. Porra, amo isso.
Mantenho as mãos no seu traseiro macio, enquanto a fodo com a boca.
Arizona movimenta o quadril, esfregando a boceta mais ainda na minha cara.
A como com vontade.
Posso sentir meu pau pesado, o saco duro e cheio. A chupo com mais
força, sem pausa, atolado na vagina pequena, a explorando.
O pego pela base, esfrego nos seus lábios vaginas sem a penetrar.
Massageio seus seios com força, brinco com os biquinhos, aperto o seu
mamilo direito fascinado pelo piercing.
Troco nossas posições arrancando uma risada sua. Sem colocar o meu
peso todo em cima do seu tenho apoio do meu braço e cotovelo. Acaricio seu
rosto com os dedos, perdido nos seus olhos azuis. Gemo roucamente quando
toca no meu pau, descendo e subindo as mãos lentamente.
tempo do mundo.
— Mesmo que sinta não vou pedir para parar. Finalmente vou ter você
por completo, moreno.
Acomodo minhas coxas entre as suas, meu pau encosta na sua boceta
sensível. Está toda melada, lubrificada, prontinha para receber seu homem.
Beijo seu nariz antes de firmar a mão na sua nuca.
quando tento mais uma vez penetrá-la. Pressiono mais uma vez sua bocetinha
a me receber. Beijo sua boca carnuda, abafando seu gemido quando
finalmente entro mais um pouco. Saqueio seus lábios, quando encontro a
barreira do hímen.
Agarra minha nuca com força, sugo sua língua e acaricio seu mamilo.
— Agora vai me dar essa boceta gostosa toda hora — falo, antes de
beijar seu queixo. — Vai aguentar?
Não duvido.
Abro um pouco de espaço entre nossos sexos para estimular seu clitóris
com os dedos severamente.
— Ai... ai...
Nunca vou esquecer dessa foda. Parece que agora entendo como é
gostoso fazer sexo quando é com a pessoa que você ama. Tudo é mais
intenso, quente, delicioso. Nada se compara.
Carrego no corpo marcas que causei a mim mesmo por não suportar o
inferno que vivia sendo escravizado no tráfico humano. Desconhecidos
abusando do meu corpo, fodendo a minha cabeça, tirando minhas esperanças
de dias melhores e sugando a merda da minha vida.
Mas o meu terapeuta deixou claro que não é um problema gostar dessa
técnica. O lado bom é que sou um praticante responsável, prezo pelo bem-
estar e prazer da minha parceira. Tenho autocontrole. Busquei nessa arte algo
para conter a dor que carrego no fundo da alma.
Olha para baixo e vira o rosto em minha direção fazendo uma careta
fofa. Óbvio que viu a lambança que fizemos e como estamos melados de
porra. Toco na sua bochecha rubra, segurando a risada.
momento incrível que tivemos, assim não caiu a ficha que o espermatozoide
— Você sabe, sei que sabe, ou tinha quase certeza de que eu era
virgem. Bom, quis contar com todas as letras para você. Porém, sempre
acontecia alguma coisa, ou você usando todo seu autocontrole não deixava a
gente ir para a próxima etapa, enfim. Confesso que o fato de ainda não ter
transado, era por ter idealizado muito por um tempo a famosa primeira vez.
Depois comecei achar bobo, depois só queria não ser mais. Porém, agora sei
que valeu a pena esperar. Foi perfeito. Você é perfeito.
—Nunca me senti tão bem como estou agora. Ou melhor, desde que
começamos a nos relacionar. Quero que saiba que se pudesse teria guardado
minha primeira vez para você — profiro com sinceridade.
Ainda bem que meu pau está mole, caso contrário iria amolecer. Só o
fato de o tio Alex ser mencionado fico em alerta. Nos damos bem, somos da
mesma família, tenho sua bênção para namorar sua filha. Mas o homem é
enorme, sabe como colocar pressão apenas com o olhar. Claro que ele não
deixaria sua única filha ter bebês antes de passar por toda a formalidade.
— Sabe como nossa família é. Amam ter filhos. Não sou diferente, e
acho que você também não. Mas tudo bem, morena. Podemos pensar,
planejar para daqui uns anos.
Pego sua mão e levo aos lábios, beijando dedo por dedo.
— Quero escutar mais. — Coloco seus cabelos longos para trás dos
seus ombros para não impedirem a visão espetacular que tenho dos mamilos
fartos. — Sei que um bebê...
Agarro sua cinturinha fascinado pelo seu corpo cheio de curvas, sem
máculas, com o meu cheiro de macho impregnado na sua pele macia.
— Continue.
Roça seus lábios nos meus. Sem conseguir aguardar seu beijo o tomo
de forma profunda, lenta. Nossas línguas se tocam quentes, molhadas,
ansiosas. O beijo se torna mais erótico.
— Morena, acabou de perder a...
meu pau.
todos os lugares.
— Será mesmo que sua bocetinha apertada aguenta o meu pau? Porque
vou meter até o talo, morena.
— Ohhhhh...
— Isso, amor... toma o meu pau, engole tudo — rosno agoniado, louco
de tesão, paixão.
para o seu clitóris. Sinto meus testículos mais pesados, a pressão deliciosa e
angustiante se instalando na minha rola. Estou quase gozando, contudo, quero
prolongar mais.
afastar meu braço querendo diminuir o aperto avassalador que está sentindo,
porém não permito. Quero que tenha outro orgasmo.
Urro metendo até as bolas quando minha mulher goza outra vez.
Continuo masturbando seu clitóris durinho fazendo voltas seguidas e mais
lentas, espalhando o gozo por toda a região. Minha rola cresce dentro dela,
sei que não vou aguentar segurar mais. Explodo num longo jato de porra,
jogando o esperma quente dentro da minha mulher.
Arizona me fez sentar de costas para ela. E assim, estou desde que
entrei na banheira. Estou recebendo seu carinho, carícias, todo seu amor.
Seus dedos deslizam pela omoplata, seguem reto pela coluna. Depois seus
lábios assumem o percurso que faz sem pressa.
Sinto seu sorriso nas minhas costas quando encosta a boca pertinho do
Olho para a janela enorme que fica na lateral esquerda de onde está a
sentado na sombra de uma árvore, lendo algum livro infantil, enquanto minha
mãe estendia as roupas no varal da nossa casa de madeira. Morávamos no
fundo da casa da minha tia.
Elas não se davam bem. E uma das discussões que tiveram — que
inclusive resultou em tapas — foi quando minha mãe havia aceitado a oferta
de trabalho de um homem que havia conhecido. Mariluce — minha mãe
biológica — não fazia ideia que estava entrando no tráfico humano. Ela não
era uma má pessoa. Eu a amava.
— E seu pai?
— Sou muito grato por ter sido adotado pelos meus pais. Nem posso
imaginar o que teria sido de mim se o seu Samuel ou dona Agatha não
tivessem aparecido.
— Eu também não.
— Desculpa ter tocado no assunto. É que essa parte da sua história não
sabia em detalhes. Fiquei sabendo por alto. E como...não éramos próximos.
— Não tem problema. Tem coisas sobre o meu passado que sempre vão
perturbar o meu presente, pois não tenho controle sobre tudo. Por isso ainda
me trato. Tento ao máximo diminuir as lembranças da minha mãe biológica e
eu vivendo no tráfico humano, da nossa separação, da sua morte... por isso
luto internamente para não esquecer dela debaixo do sol escaldante, estendo
roupa no varal, seu vestido simples balançando conforme o vento batia e eu
debaixo de uma árvore lendo um livro, e vez ou outra a olhando.
Suspira melancólica.
— Não a conheci. Meu pai disse que ela era modelo, namoraram antes
Desencosto do seu corpo, giro para ficar de frente e a puxo para o meu
colo. Sorrio ao escutar seu gritinho e gargalhada gostosa. Seus braços ficam
em volta dos meus ombros.
Nunca vou permitir que Arizona realmente veja como é minha alma. É
tudo tão sujo, sombrio que sou incapaz de compartilhar tudo. Prefiro apenas
que sinta meu amor, que sinta e veja as pequenas coisas que sempre farei por
ela, por nós.
Passo a mão na nuca lembrando de como foi gostoso todas as vezes que
transamos. Não me arrependo um minuto por ter esperado tanto para perder a
Claro que não iria me contentar apenas com um baita primeiro sexo
quente pra cacete. Queria mais. E agora que estou sentindo minha vagina um
pouquinho dolorida, sei que posso ter extrapolado agindo como uma tarada.
alívio, mas noto que realmente minha vagina está ardendo um pouco. Decido
tomar um banho gelado e lavar bem minha parte íntima. Higiene é tudo.
Encho o copo com o suco fresco de laranja com cenoura e saio de
dentro de casa. Sorvendo o suco delicioso, aproveito para admirar mais o
meu namorado que parece ter uma energia infinita. Como pode ter tanta
disposição depois de tanto sexo que fizemos? Bom, quando me recuperar ele
que me aguarde.
— Nada.
fizemos.
Minha mente está bem longe, sem conseguir desviar do corpo do meu
namorado.
— Arizona...?
Quando para na minha frente fico na ponta dos pés, alcanço sua boca e
o beijo lentamente. Suas mãos grandes vêm para o meu rosto, aprofundando
mais o beijo. Arfo quando mordisca meus lábios.
Ok. Posso estar agindo com uma bobona, mas não consigo evitar. Poxa,
não tem nem vinte e quatro horas que transamos como coelhos e já vamos
pular para a outra etapa do nível de intimidade.
— Achei a pomada.
amêndoas.
— Levanta o vestido.
— Eu passo, amor.
— Prontinho. — Beija cada uma das minhas coxas e para acabar de vez
com a minha sanidade planta um beijo na minha intimidade, na parte que não
aplicou a pomada. — Sem calcinha hoje. Quando formos embora use uma
cueca minha.
Seus olhos de ônix ficam mais intensos. O agarro entre minhas pernas e
suas mãos buscam suporte no mármore.
Merda. Como não querer dar para ele quando fala essas coisas? Estou
muito ferrada.
Elordi coloca o risoto vegetariano de abóboras grelhadas com farofa de
Bebi apenas o suco e comi duas maçãs. Prefiro esperar o almoço para
me saciar. Ofereço ajuda, mas recusa alegando que preciso ficar quietinha por
conta da minha atual condição. Não insisto, pois realmente prefiro ficar
sentada na banqueta o observando cozinhar sem camisa, trajando uma
bermuda Adidas preta, tendo de fundo as músicas do cantor Alfred García.
— Comece.
— Primeiro vamos almoçar.
— A conversa que teremos não tem nada a ver conosco. Não pense
besteiras, morena.
— É sobre o Vicente.
Ainda estava sendo difícil não o ter mais na minha vida. Nem teria
como passar por cima de todas as suas mentiras, acusações. Mesmo querendo
parecer bem, madura com a situação... estou apenas maquiando a dor de
perder meu amigo de infância. De saber que não tinha a mesma importância
na sua vida, que me usou.
— Elordi, não quero mais falar sobre o Vicente. Pelo menos hoje.
Vamos aproveitar as horas que ainda temos nesse lugar maravilhoso.
— Não falei a verdade ontem, pois estava focado em ter uma conversa
definitiva com o Vicente. Meu único intuito era tentar arrancar a verdade dele
numa conversa pacífica.
Recordo que havia dito que solicitou ao Luri para investigar sobre a
vida do Vicente. Sinto um calafrio se instalar na minha coluna.
— O que descobriram?
— Luri descobriu que Vicente é sugar baby e que usa uma identidade
falsa com o codinome Henrique Souza de Lima. Tem utilizado essa
identidade falsa para trabalhar como sugar baby e na secretaria de segurança
— Ele não conheceu o pai. Até onde sei dona Hermínia mantinha isso
em... segredo.
já tinha notado. Sabe que se eu estiver certo sobre tudo, não vou poder salvar
o Vicente. Isso iria contra a Organização, contra tudo que acreditamos e
prezamos. E que nem você...
E por mais que doa ter sido enganada por tanto tempo pela pessoa que
acreditei fielmente ser o meu melhor amigo, a ficha começa a cair.
Preciso de ar puro.
— Arizona...
— Ele me enganou por tanto anos. Vicente realmente ama você. Não é
de agora, Elordi. Fui tão burra. A porra de uma idiota. Tudo estava tão diante
dos meus olhos, mas... nunca pensei que o Vicente estivesse escondendo
tantas coisas de mim.
Continuo olhando para o rio.
depois da minha mãe sem dúvida alguma é a pessoa que mais amo nessa
vida.
Há um certo tempo tenho notado que parece querer ser mais que minha
amiga. Por mais que adore seus carinhos, de ser o centro da sua atenção...não
Tremo da cabeça aos pés ao escutar a voz do Caio. Assim que o seu
segundo soldado entra, fecha a porta do banheiro masculino. Sou capitão do
Mas hoje realmente estava para urinar nas calças. E como não me
viram, acreditei que não teria risco algum de nos encontrarmos.
— Pensa que não sei que adorou a surra que o Medeiros me deu por sua
causa, viado? — Solta uma gargalhada. — Vai se arrepender por ter aberto a
boca para o metido.
— Juro que não falei. Elordi apenas deduziu. Todos sabem que não me
deixam em paz. Por favor, não me machuque!
Vou dando passos para trás sentindo meus olhos arderem pelas
lágrimas acumuladas.
Nem se eu quisesse teria chance contra ele. Sou magro demais, não
tenho habilidade alguma para lutar. Sou um zero à esquerda quando se trata
disso.
— N-Nãoooo...
Não consigo evitar. Para o meu desprazer acabo engolindo água com
urina. Me debato, tento afastar as mãos deles da minha nuca e cabeça, mas
são mais fortes. Desde que entrei nessa escola comecei a ser perseguido pelo
Caio.
Meu corpo é jogado para trás tão rápido que não tenho como evitar o
impacto dolorido que causa na minha cabeça. Mesmo sentindo dor, sentindo
nada.
Para um homem que sonha em ser Promotor, ser filho de bandido não é
algo para levar a conhecimento público. Ainda bem que dona Hermínia me
registrou com ausência de pai, caso contrário estaria ferrado.
A segunda vez que senti medo na vida de perder alguém, foi quando
soube do acidente que havia sofrido. A motorista do carro era uma senhora
diabética que teve uma crise, perdeu a consciência e saiu fazendo estrago.
Tristemente minha mãe foi a que mais sofreu. A primeira vez que senti medo
de perder alguém foi quando a Arizona ainda estava em tratamento. Nem
queria imaginar a dor que seria a perder por uma doença tão cruel.
— Vou tomar.
Sei que a Arizona falou com os tios sobre darem uma chance para mim.
Meio que a manipulei fazendo certo drama por não estar ao menos estagiando
numa advocacia de renome quando tenho todo potencial. Rapidamente disse
que falaria com os seus tios. Aleguei que não precisava, mas no fundo era o
Desde os dezoito anos quando comecei no ramo, tive que lidar com
todo tipo de clientes. Por mais nojento que achasse um velho barrigudo,
sucedidos.
A última vez que vi minha mãe faz mais de um ano. Chorei muito
quando soubemos que iriam nos separar. Mas não tinha como lutar contra
esses criminosos. Vivemos sob os olhos deles, seguindo as regras como
prisioneiros, sendo escravizados.
que peguei do chão num dos quartos da boate que fica em cima, onde...
abusaram de mim. Guardo esse pedaço de vidro há muito tempo.
Claro que com esse pedaço não teria como me defender dos homens e
mulheres que violentam o meu corpo. Mas esse pedaço de vidro começou a
trazer um certo alívio para o meu corpo.
observando o sangue escorrer pelo novo corte que irá cicatrizar assim como
os outros. A sensação traz certo conforto.
mãe chegou em casa animada como nunca havia visto antes. Disse que havia
recebido uma proposta incrível de trabalho e que sairíamos daquela pobreza.
Nos mudaríamos para São Paulo, teríamos tudo que nunca tivemos.
lembro que Mariluce segurou tão forte minha mão que sabia que algo muito
errado estava acontecendo. E então continuamos andando seguindo o homem
que havia lhe prometido o tal trabalho na cidade grande. Vimos vários
homens armados próximos a caminhões. Mulheres e crianças sendo
arrastadas para alguns deles.
caminhões. Nossas malas foram jogadas dentro de outro caminhão que estava
vazio — contendo apenas bolsas, mochilas.
vencermos os criminosos.
Bati na porta, gritei até quase perder a voz. Mas isso parecia fascinar o
doente. Então desliguei minha mente, deixando que roubasse qualquer
resquício de pureza que havia dentro de mim, que violentasse o meu corpo.
Não tinha mais forças para lutar contra o adulto mais forte que eu.
De fato, não sabia o que era sexo até me jogarem naquele quarto. A
única coisa que sabia a respeito era que minha mãe era falada na cidade por
trabalhar com isso.
E queria muito não ter conhecido esse sexo que machucava, que faz
doer, que violenta, que abusa, que marca seu corpo, que te deixa doente, que
não respeita o “não”. Nem Deus parecia escutar meus pedidos socorro.
Estou sob proteção dos federais junto com outras crianças que foram
resgatadas. Lembro que um dia antes os criminosos pareciam muito
alterados, mais atentos que o normal. Então avisaram que à noite iríamos ser
transportados para outro lugar. Estava subindo no caminhão quando começou
Não gosto de falar muito. Então evito as crianças que estão residindo na
mansão comigo, onde é uma senhora que faz as refeições e nos dá a
medicação.
Gosto dela. Suas visitas me fazem bem. Ela não força conversa, muito
menos coloca seu trabalho acima do meu atual estado. É paciente, inteligente,
engraçada e muito doce. Uma pessoa boa, que tem um sorriso lindo, uma
profissional bem-sucedida.
mãe adotiva. Não mereço essa chance. Sei que quando o processo chegar ao
fim, serei encaminhado para algum abrigo. E ninguém vai querer adotar um
garoto de quinze anos problemático.
Bebo o chá que a senhora responsável por nós fez para a melhorar a dor
de cabeça e indisposição. Subo para o quarto. Tento ler o livro que ganhei da
Agatha. Entretanto, nada me distrai. Levanto da cama e me tranco no
banheiro.
as mangas da camisa para cima e gemo ao ferir meu pulso direito. Não sendo
o suficiente faço o mesmo com o pulso esquerdo.
uma calmaria. Uma pequena dose de alegria chega no meu coração quando
começo a ver o rosto bonito da Agatha sorrindo para mim. A imaginação é
colocada de lado quando escuto um impacto forte.
Medeiros.
Queria ter forças para dizer que: tudo bem eu morrer. Assim poderia
ficar em paz. Não teria mais dores, as lembranças ruins não iam mais me
machucar.
— Seja forte, garoto. Sua história não termina assim —declara com
vigor.
Pela intensidade que me olha aguardo sua resposta que com certeza virá
sem pudores. O que definitivamente amo é o fato de ser boca suja. Outra
coisa do meu namorado que só tenho para mim. Muitos nem imaginem que o
homem sério, culto e reservado tem um linguajar que me faz esquentar em
questão de segundos.
— Vou fingir que não escutei isso — fala Kostas ao se aproximar com
a minha bolsa.
— Sério que acham que são discretos? Puta que pariu, hein. E outra
— Vou fingir que não sei de nada. Apenas digam de uma vez que estão
namorando sério. Estamos ansiosos para escutar isso de vocês.
com seu bracinho curto. Acaricio seu cabelo e beijo seu ombro.
boy.
— O que aprontaram?
Sabemos que o único motivo dos pirralhos da família não terem sido
expulsos da instituição católica, foi pelo simples fato de a família ser um dos
donos do colégio prestigiado. Obviamente mantemos isso em segredo das
crianças até se formarem. Aliás, é algo que não vazou para a mídia e se
depender de nós nunca será do conhecimento deles.
Meus pais e meus tios prezam muito pela educação das crianças da
família nessa nova geração. Assim como nós, eles têm tudo que o dinheiro
pode proporcionar. Todavia, não estão sendo criados para terem tudo na mão
quando bem quiserem. Pelo contrário. Os presentes são méritos que devem
ser alcançados, não vivem sob pressão e sim rodeados de incentivo para
melhorarem quando não forem bem em alguma disciplina. E claro,
aprendendo a respeitar as diferenças.
Ragner suspira.
assunto para o outro. Nay pega a bandeja de petiscos, segura meu braço e
vamos em direção à piscina. Estamos numa distância segura para podermos
fofocar.
Minha melhor amiga — e tia — não tem papas na língua. Então seria
constrangedor começar a corar excessivamente na presença dos meus avós,
pais, tias e tios.
que é uma safada. Todas nós somos. — Pisca antes de comer um petisco.
Sem mais delongas começo a narrar uma das noites mais perfeitas da
minha vida. A única coisa que ganha é o dia que o Elordi me pediu em
namoro. Após recontar todo o momento romântico, digo:
Nay tenta enfiar mais petiscos na sua boca. Pego a bandeja da sua mão.
— Por Deus, Nay. Como você é dramática. Quero apenas que assuma.
na sua cara revelando o que praticamente sempre esteve diante dos seus
olhos, Arizona. Caramba foi terrível conter a minha língua.
— Ora por favor. Não há nada que a gente faça que essa família não
saiba — diz humorada.
— Estou com medo de ele estar envolvido com a máfia. Se for verdade,
não vou poder...
— O defender. É, eu sei.
— Entendi, meu bem. Mas tenho certeza de que estou com apenas um
bebê. — Beija a cabeça do Savas. O garotinho direciona sua atenção para a
torta de limão.
Então voltam a nos olhar com certo deboche em seus semblantes. Meu
Deus, até os pirralhos estão se divertindo com a situação.
— Vai com calma na bebida, loiro falso. Todos sabem que é conivente
— Elordi sabe disso. Tem minha bênção. Nunca foi um segredo — diz
meu pai.
— Logo será vovô. Irmã, espero que seu marido esteja com o coração
bom — fala Miguel amando provocar meu pai.
— Não, vovó...
— Cuidei disso — fala meu pai, fazendo a maioria das pessoas rirem.
Cristo, claro que já estão sabendo que colocou o implante no meu braço. —
Quem sabe depois da Arizona se estabelecer mais na carreira, depois do
casamento, enfim.
— Sim.
— Não.
Volto a olhar para o meu namorado sem graça. Claro que temos planos
para o futuro, e isso inclui casamento, filhos e tudo mais. Mas não é algo que
faremos agora. Bom, foi isso que entendi quando estávamos tendo o nosso
momento romântico e franco na banheira.
estávamos nos envolvendo. Não havia acreditado nele, e pelo menos essa
minha intuição não falhou.
Com pesar olho para uma fotografia minha com o Vicente na época que
eu estava em tratamento. As outras fotografias penduras no varal são dos
Era justamente a foto que o Vicente está com a cabeça raspada. Que
Vicente foi meu único amigo por um longo tempo. Seu apoio, carinho e
amizade foram essenciais para mim.
recordações.
pele branca. Na sua mão esquerda traz um recipiente de vidro com morangos
e chocolate derretido. Pausa assim que me vê.
Ainda bem que os quartos são à prova de som. Respondo sua pergunta
anterior.
O bad boy que me irritava profundava e que fiz de tudo para esquecer.
Agora percebo o quanto estou obcecada pela tatuagem que cobre suas
costas. Se pudesse ficaria olhando para o desenho o dia todo.
pensamentos.
— Estava o admirando.
Escuto o som da sua risada rouca e rio sem parar de acarinhar a Atena.
masculino exótico que tanto adoro misturado ao seu suor me agrada, o deixa
Estava tão distraída que nem percebi quando saiu de dentro da baia e
veio para pertinho de mim.
— Que bom que veio. Estava pensando em buscar você para dormir
Atena chama atenção do Elordi. Logo meu namorado tira uma mão da
minha cintura e começa a fazer carinho na testa dela.
— Prefiro não abusar tanto do bom humor do seu pai. Tem colchonete
— Nem precisava pedir. A levaria para lá. Sei que são seus preferidos.
Vou tomar um banho rápido. Tem uma garrafa térmica com água no banco
do passageiro.
— Ok. Estarei te esperando aqui com a Atena.
Seco meu corpo com a toalha que trouxe. Tomei banho no chuveiro que
foi colocado atrás do estábulo onde os trabalhadores o usam para se
limparem. Trajo a cueca e bermuda de moletom cinza.
Apesar da Arizona não ter tocado no assunto que envolve o Vicente, sei
que está se esforçando para se manter forte diante das revelações que tanto a
machucaram. É uma situação foda.
Minha garota vai ter de ficar do lado oposto do cara que foi seu melhor
amigo. Para uma pessoa como a Arizona que é boa, que tem princípios,
caráter e fiel a todos que ama, será como uma facada no seu coração.
Infelizmente não vou ter como impedir, ou livrar a pele do Vicente por
amor a ela. A conversa que tive com o Vicente no restaurante foi justamente
para tentar livrá-lo das mãos do maldito que está mexendo com ele, como se
fosse uma marionete somente para nos atingir.
O foco agora é saber de quem é a cabeça que está por trás do Vicente e
do Argus. Fora que ainda não temos confirmação alguma se são parentes.
Me despeço da Atena e saio do estábulo secando meu cabelo na toalha,
no outro braço seguro as peças de roupa sujas.
— Vou com o meu carro. Assim amanhã quando acordarmos cada vai
para sua respectiva casa evitando mais atraso.
— Muito.
O tesão primitivo vem com tudo. Sei que ainda está muito sensível para
receber meu pau, mas nada impede de a comer com boca. Como se tivesse
lido meus pensamentos sensualmente desliza os dedos por suas coxas grossas
até onde seu vestido cobre. E amassa o tecido o subindo lentamente e para ao
deixar amontoado na sua cintura.
Passo o nariz por toda sua virilha e desço para sua vagina, inalando seu
cheiro de fêmea. Esfrego a barba por toda a região, esfrego o queixo e sinto
os dedos da minha namorada puxarem meu cabelo.
Toco sua boceta com os dedos e os abro apreciando seu íntimo. Ainda
está um pouco avermelhada devido ao fato de termos exagerado. Fico
fascinado assistindo o clitóris pequeno sair da capa de proteção. Mantendo
—Ah...assim, assim...
Tomo sua boca num beijo faminto, longo. A morena fogosa desce a
mão pelo meu peitoral parando sua mão em cima da bermuda. Urro com os
lábios presos nos seus, no instante que começa acariciar meu pau duro. Para
foder com o meu autocontrole enfia a mão pequena dentro da cueca. Acaricia
meus testículos, sobe pela base do meu membro. Fica subindo e descendo
vagarosamente, me torturando.
Filha da puta.
Coloco mais pressão na sua nuca olhando no fundo dos seus olhos
azuis.
Luto para manter meus olhos abertos quando abocanha a glande que
está brilhando devido a lubrificação natural que escapa dela. Seguro sua nuca
controlando o animal que existe dentro de mim para não ser muito bruto.
Urro flexionando meus músculos, sentindo as veias do meu corpo latejarem.
Arizona escorrega os lábios pela minha rola até onde consegue. Volta para o
Sorrio quando sinto seu corpinho subindo para cima de mim querendo
aconchego.
A pior sensação é sentir mil lágrimas presas em você e acabar se
afogando dentro de si mesma.
Após tomar café da manhã apressada subo para o quarto para pegar
minha bolsa. Meus pais e irmão já tinham saído. Elordi e eu perdemos o
horário, fomos dormir quase às três da manhã. Ainda bem que tenho apenas
três tempos de aula hoje.
do carona.
Kostas faz sinal para a equipe que irá nos seguir e entra no carro
— Não sei. Tem algum compromisso? Se for com a tal bailarina, libero
você.
— Combinado.
sentindo?
— Péssima.
— Porra, fala sério, ursinha? Tem todo o direito de estar com raiva,
— Só preciso de um tempo.
índice de pessoas que saem com vida são baixos. E muitos não têm muita
perspectiva de um novo recomeço, nem todos conseguem vaga para
manterem um tratamento psicológico. O Instituto oferece tudo isso e mais um
pouco.
o Instituto oferece. E não tem nada mais satisfatório do que assistir a vitória
de uma pessoa que sofreu tanto na vida. Traz esperança de dias melhores, de
que nosso trabalho voluntário e humanitário tem realmente ajudado.
— Combinamos um dia.
— Olha, sei que você e Elordi estão juntos. Naquele dia quando os vi
cheios de carinho ficou claro. Mas hoje sua avó chegou contando a novidade
para todos.
que me iludi pensando que o conquistaria. E está tudo certo. Respeito você
como mulher e respeito o relacionamento de vocês.
Estranho a demora. Bato outras vezes aplicando mais força. Nada. Sigo
para a janela no intuito de espiar, mas é algo impossível por causa da cortina.
Também não escuto movimentação alguma que esteja vindo de dentro da
casa. Giro e seguro a maçaneta da porta de saída da cozinha. Assim como a
da frente está trancada.
Raramente dona Hermínia saia de casa. Vicente nunca tinha tempo para
sair com a mãe. E devido aos percalços que um cadeirante passa numa cidade
que não tem acessibilidade como deveria ter, para ela era cansativo,
desmotivador sair e precisar de ajuda para ir de uma calçada para outra, de
esperar o ônibus o qual o elevador para cadeirantes esteja funcionando.
— Seja direta, por favor. Tem semanas que ela não vem em casa?
— Cadê o Kostas?
— Estou aguardando.
três.
— Sim.
— Ficarei.
Encerramos a chamada.
Eles sabem tudo sobre mim.
Apesar de odiar e amar o Elordi com todas as forças, por pouco não
cedi. Por muito pouco não revelei que estou trabalhando para um mafioso que
odeia a família dele tanto quanto o meu pai. Esse não era o plano. Não era
para eu estar nessa situação de merda.
— Você prometeu, Klaus! A única coisa que pedi foi para não
machucar Arizona e Elordi — vocifero passando a mão no cabelo. —
Arizona bloqueou meu contato, não consigo mais falar com ela.
Vai até a mesa das bebidas e serve uísque, sorvendo o líquido sem
perder a elegância.
todo e por mais que beba água, nada vai matar sua sede.
— Se não posso sair. Quero ao menos que garanta que nada vai
acontecer a eles.
virgem, típica moça que serve apenas como esposa modelo e para gerar
herdeiros. Temos um filho. E ele vai ter que assumir os negócios da famiglia
quando chegar a hora. Terei que deixar tudo pronto para esse momento.
Infelizmente não tive como fugir do meu destino. Sou naturalmente um
homem cruel. Os homens que dormem comigo não acordam no outro dia.
Nunca posso deixar rastros.
O encaro sem reação. Olha no fundo dos meus olhos sem a dureza
rotineira que costuma manter, e continua:
— Desde que o vi pela primeira vez, quando vi sua foto, senti que era
diferente. E não estou errado quanto a isso, caro. Até as piores pessoas sabem
amar. Mesmo que seja de um jeito louco, sabem. Darei um jeito de o manter
sempre protegido. Tenho mais experiência. No entanto, temos uma coisa em
comum. Sofremos por um amor impossível, não correspondido. Fique do
meu lado, comigo e prometo que será feliz, amado.
— Temos um trato. Tenho minha mãe, tem o meu pai, eu não posso...
— Seu pai vai receber o dinheiro que prometi. Ele é um covarde que te
usou para chegar até mim, para ter minha atenção e ainda conseguiu negociar.
Bom, o fiz acreditar que sim. Argus só pensa no rabo dele. E sua mãe pode ir
com a gente, posso colocar ela na melhor clínica recebendo o melhor
tratamento, cuidados. Garanto.
Assisto umedecer seus lábios sensualmente com a língua. Entreabro os
lábios e aceito o convite silencioso do beijo profundo. Nunca havia beijado
Klaus me emperra contra a parede com força sem largar a minha boca.
Gemo roucamente quando mordisca meus lábios. Nunca pensei que teria uma
transa tão cheia de entrega. Imaginei diversas vezes, mas todas minhas
E pela primeira vez não precisei fingir que estava gostando, imaginar
que era o Elordi. Eu só conseguia sentir o Klaus de todas as formas.
Fiz algo que não costumo fazer. Usei meu sobrenome para não ser
Durante o caminho para cá Luri ligou mais uma vez e disse que o
magnata do petróleo, sugar daddy oficial do Vicente, havia conseguido a
vaga para a dona Hermínia.
Almeida.
— Claro que não! Dona Hermínia é lucida, responde por seus atos.
momento.
— Muito obrigada.
Olho com pesar para a dona Hermínia, que tem seus olhos e
pensamentos perdidos pela imensidão do jardim. As enormes olheiras
debaixo dos seus olhos, parece que envelheceu de repente.
Agacho na sua frente e pego suas mãos frias ganhando sua atenção.
Seus olhos castanho-claros estão cheios de lágrimas. Sorrio e beijos os dorsos
de suas mãos.
— Estou aqui pela senhora. — Toca meu rosto com seus dedos, e
acaricia o meu cabelo. — Está mais bonita, se é que seja possível. Tem algo
diferente.
— Prometo que conto tudo o que anda acontecendo na minha vida para
a senhora. Mas só depois — respiro fundo. —Vicente a internou contra sua
vontade.
— Está perturbando minha mãe, Arizona! Espero que não tenha falado
nada — profere praticamente suplicando com o olhar.
Claro que não falaria com a dona Hermínia como o seu filho faz para
ganhar dinheiro tão rapidamente.
Olho para céu que escureceu de forma rápida anunciando uma grande
tempestade. Sinto os primeiros pingos na minha pele. Odeio dirigir na chuva.
Que merda!
— Vamos nos apressar antes que comece a cair chuva forte — digo.
Ainda não sei até que ponto o Vicente é perigoso. Presumo que caso
tente algo contra mim será mais fácil o deter estando no banco do carona.
Entrego a chave para ele. Espero que o Kostas esteja a caminho, assim que
vir o meu jipe irá me seguir.
— Nada sobre a forma que ganha dinheiro. Fui visitá-la, queria ter
certeza se estava bem.
Prefiro ficar calada por estar tensa demais por conta da chuva e visão
ruim que estamos tendo da estrada. E por estar ao lado de uma pessoa que
julguei conhecer. Espero que seja honesto e responda minhas indagações.
— Sua mãe está infeliz naquele lugar. — Não consigo conter minha
língua.
— Está muito equivocado, sabe disso. Sua mãe está triste, abatida,
parece sem vida. Como tem coragem de falar toda essa baboseira. Dinheiro
não traz felicidade. Nem todos são movidos a dinheiro como você! Para o
carro!
coisa? Apesar de amar você, não posso deixar de falar que esse seu discurso é
papo furado. Queria ver se tivesse nascido sem ser uma privilegiada!
— Para o carro agora! Kostas deve estar perto. Irá fazer o retorno assim
que vir o meu carro.
Entro em pânico quando o carro da pista contrária vem com luz alta.
—Você está bem, Arizona? Ei, fala comigo. — Segura meu rosto.
—Deve ter sido nos cones e nas placas. Culpa do filho da puta que veio
de luz alta. — Liga o pisca alerta do carro.
—Deixa que eu saio para ver. Está escuro, a chuva está muito forte.
Vicente sai do carro e vai para a área onde estavam os cones altos e
grossos, e placas sinalizando a barricada e obras da pavimentação. Ele fica
alguns instantes olhando fixamente para o chão. Assustada resolvo sair de
dentro do jipe. Ele finalmente vira de frente e vem para a porta do carona
antes que eu possa sair.
— O que foi? — indago assim que clico no botão para o vidro abaixar.
— Atingimos um cachorro.
— Não podemos o deixar assim. Tem certeza de que ele não está
respirando?
—Absoluta! Está perigoso demais para continuarmos parados aqui na
beira da estrada.
— Frio.
conveniência, meu namorado abre a porta do carro para mim e entro sabendo
que fui uma grande imbecil. Elordi assume o banco do motorista. Observo
suas mãos grandes comandarem o volante, seus olhos escuros atentos na
estrada, a feição séria.
Sei que fui estúpida em querer dar uma chance para o Vicente ser
sincero comigo. Para ser honesta, queria muito que ele mostrasse
arrependimento pelas suas mentiras, que assumisse seus erros e contasse a
verdade. Assim eu poderia salvá-lo das mãos do mafioso para qual está
trabalhando.
Mas sabe quando você ama muito uma pessoa e mesmo depois da
mesma a decepcionar, magoar profundamente... não consegue simplesmente
virar as costas e seguir em frente, pois o bem que fez no passado não foi
apagado? É desta forma que estou me sentindo com o Vicente.
— Estou muito puto, Arizona — fala sem alterar o tom de voz. — Não
quero ser um escroto com a mulher que amo. Então preciso de um tempo,
pelo menos até chegarmos no seu apartamento.
Após o banho verifico a parte dolorida que bati na janela do carro. Está
bem vermelho. Possivelmente ficará um hematoma, mas dentre alguns dias
irá sumir. Trajo um conjuntinho de dormir e sigo para sala enxugando o meu
cabelo.
— Estou bravo por saber que estava com ele depois de tudo que
conversamos na casa da floresta. Se colocou em risco. Pegou a porra de uma
estrada sozinha, não chamou o Kostas, sequer me mandou uma mensagem.
— Não foi assim, Elordi. Eu não sabia que o Vicente iria aparecer lá.
a deixou incapaz.
distanciando do Vicente.
que não vamos ter como salvar o filho dela, uma vez que temos certeza de
que está trabalhando para um mafioso.
que está se mantendo forte, que dentro de você existe uma pequena esperança
de que ele possa sair desse caminho.
— Desculpa, eu...
—Falei isso ontem para você — lembra. — Se o Vicente for até o fim
com esse mafioso, ficará na nossa mira. Isso não posso mudar, nem você. O
único que pode impedir é o líder. E sabemos que o tio Edu não vai perdoá-lo.
— Pede algo para a gente jantar. E liga para o seus pais. —Meu
namorado sorri com a careta que faço. — Vou tomar um banho. Depois quero
saber em detalhes como foi esse acidente que sofreram.
Não sou ingênuo em pensar que posso mudar o sistema. Mas sei que
posso fazer a diferença, mesmo que seja mínima.
Estava planejando ter um jantar romântico e agradável com a minha
namorada depois de um longo dia de trabalho. Não trocamos muitas
mensagens. Entretanto, a última coisa que gostaria de saber era que tinha ido
sozinha para um local isolado e que, principalmente, estava na companhia do
Vicente.
Vicente é um perigo. Não sabemos como vai agir, até que ponto pode
ir.
Arizona não é o tipo de pessoa que esquece da noite para o dia o que
fizeram por ela. Sua bondade é uma virtude que poucos tem. Porém, aponto
como seu ponto fraco. Se Vicente realmente estiver envolvido com o
mafioso, caso fiquem frente a frente, no fundo sei que minha namorada não
irá o machucar como faria com qualquer outro bandido que somos
designados a acabar.
Ela acredita que sim. Mas sabemos que não faria isso com uma pessoa
que detém sua gratidão, apesar das mentiras, da forma como a magoou e
enganou.
Não posso impor que mude. Definitivamente não o tipo de homem que
age no intuito de machucar emocionalmente a mulher que ama, a fazendo se
sentir culpada quando não tem culpa de nada.
A única coisa que posso fazer é continuar do seu lado, ser seu porto
seguro quando precisar.
— Vem aqui.
A chamo para se sentar no meu colo. Afasto seu cabelo dos ombros e
beijo pertinho da sua orelha.
— Antes de você cuidar de mim quero saber como foi seu primeiro dia
de trabalho, delegado. — Beija o canto da minha boca.
— Então... aposto que a filha do doutor Stefano também deve ter ficado
a frente nas felicitações, na organização do café da manhã.
— Ela é escrivã.
— Todos sabem.
— Agora mesmo!
Após um beijo super quente voltei para a cama. O moreno disse que
não era necessário eu preparar o café da manhã. Mas do mesmo jeito que
gosta de cuidar de mim, adoro cuidar dele. Somos parceiros em tudo, então
Seguro a risada diante do apelido. Meu Deus, nunca na vida pensei que
fosse escutar alguém chamar esse barbudo grandão de: neném.
— Tente conversar com sua patroa. Você disse que ela é uma ótima
pessoa.
— Tudo bem. Adoraria que fosse jantar comigo e meus amigos. Mas
entendo. Te adoro, neném.
Diante de mim, presencio o Kostas sorrindo e dizendo para a namorada
desligar, enquanto ela rebate pedindo que ele faça. Foram longos minutos.
Dolorosos por sinal. Estava para pegar o celular da sua mão e encerrar a
ligação, já que ambos se recusavam a tomar iniciativa.
ontem.
— Está pensando que vou perdoar você por estar me olhando com essa
carinha fofa e seus grandes olhos azuis, se fazendo de inocente? — questiona.
— Perdoada! Porra, sou muito fácil.
Sorrio o assistindo servir café para ele.
— Não tenho aula pela manhã. Então troquei meu turno no sistema do
— Beleza.
Fiquei feliz por saber que meu pai está realizando uma extensa cirurgia,
assim evito seu sermão. O doutor Alex não se contentou em ter repreendido
minha ida a casa de repouso sem equipe de segurança e, principalmente, ter
aceitado conversar com o Vicente sem ninguém por perto, por quase uma
hora ontem, durante a ligação. Foi preciso minha mãe tirar o celular da sua
mão para poder conversar comigo.
— Sério, Nay.
— Sabe que poderia ter tido alguma emboscada. Arizona, não temos
ideia até onde o Vicente pode ir. Miguel me contou tudo.
— Entendo.
— Estou escutando.
— Sério que me falou isso? Logo você. Devo lembrar que você
escondeu de todos seus planos durante as missões da Organização?
— Estava sendo movida pela vingança, Arizona. Eu me machuquei.
Muito. Só não quero que aconteça o mesmo com você.
Por volta das quatro horas da tarde saio da biblioteca. Meu celular vibra
— Alô?
— Arizona...me perdoa.
— Eu sou um merda. Mas não podia, eu... acabaria de vez com a minha
carreira, minha mãe só me tem. Sou sua única família. Tive medo. Estou com
medo.
— Responde!
Sinto o gosto das lágrimas umedecerem meus lábios. Não pode ser, não
pode ser.
confirmando.
— É advogado dela?
— Praticamente o irmão mais velho dela. E você sabe que não eu não
sou o advogado dela, pois me ouviu falar com o próprio pelo celular —
— A avó dela está no hospital! Você tirou tudo que ela tinha, maldita!
— ouço uma mulher usando vestindo longo falar com os olhos cheios de
Kostas ia rebater, mas o tio Enzo chegou segurando uma pasta de couro
sintético.
Nem tenho mais forças e sou amparada pelo meu tio. Tudo está
girando, estou suando frio, por fim tudo ficou escuro.
“Em nome da sua estabilidade emocional, e da sua saúde mental, você
vai precisar entender que desistir, recuar, se retirar de algumas relações e
pessoas não significa fracasso, às vezes é sobre ser leal a você, ao que você
sente”
Iandê Albuquerque
Foi um acidente.
lavado pela chuva. Foi a porra de um acidente. E por estar dirigindo, eu que
responderia pelo crime. Isso acabaria com a minha carreira, com todos os
meus anos de estudo e dedicação. Não posso ter antecedentes criminais.
Estou uma pilha de nervos, não consegui dormir, muito menos comer.
Precisei ligar ao menos para pedir perdão pelo que fiz a uma inocente. Agi
como um verdadeiro covarde. Tive medo, receio, pois sabia que não teria
nenhuma chance, que acabaria com qualquer oportunidade de investidura no
cargo público.
— Não seja estúpido, porra! Acha que ela vai ser presa? —indaga
debochado.
— Você sim ficaria na prisão, caro. Mas estando comigo nada o irá
atingir.
Encaro seus olhos e lembro da proposta que fez. Não deveria estar
preocupado com o fato da Arizona se prejudicar por minha causa, de me
odiar por saber que matei uma pessoa inocente e fiquei calado, que sempre
escondi o amor que sinto pelo Elordi, e que ao mesmo tempo não suporto
nutrir esse sentimento que vem me consumindo. Porém, estou. Eu a amo
também.
Alice Alves da Silva. Eles estão com apenas uma parte das filmagens da
câmera de segurança do posto de gasolina.
Deduzo que por ser o covarde que conheço, Vicente não teve coragem
de socorrer a vítima. Arizona mais uma vez está envolvida na bagunça que
ele fez.
Saímos do elevador.
— Arizona não disse nada até o momento. Seu tio pediu um tempo a
Ando em direção a sala onde sei que deixaram a Arizona. Paro no meio
do caminho quando Raquel entra na minha frente.
— Rezende sabe muito bem que não vou ficar à frente da investigação.
Estou indo ficar com a minha mulher. Volte ao trabalho — expresso a
Arizona ergue a cabeça e me corta o coração ver seu estado. Seus olhos
estão opacos, tão tristes. Se levanta e acolho seu corpo trêmulo dentro dos
meus braços. Seu choro é sofrido, angustiante.
— Juro que não vi ela. — Soluça me olhando. Toco seu rosto com os
dedos. — Eu deveria ter saído do carro, mas acreditei no que ele havia me
dito. Sou responsável por esse acidente tanto quanto o Vicente.
— Mas eu estava lá, Elordi. E-Eu...tenho culpa sim. Não deveria ter
deixado ele dirigir, não deveria ter ido até a casa de repousou, não deveria ter
acredito nele. — Funga, respirando em haustos. — Agora a avó da Alicinha
está sozinha, destruí elas.
— Escuta, amor, preciso que tente ficar calma. Eu também estou triste
pela morte da Alicinha. Foi um infeliz acidente. Tudo será esclarecido pela
perícia. Arizona, você não tem culpa. O único culpado saiu do local do
acidente sem prestar socorro, não mostrou um pingo de humanidade para
socorrer a Alicinha — profiro segurando seu rosto entre minhas mãos. As
lágrimas continuam molhando seu rosto. — Inspire e expire. Isso, pequena.
Seus lábios tremem por conta do choro que está tentando conter. Minha
garota está aniquilada. E sinto não poder fazer muito, por não ter o poder de
consertar seu coração, de tirar a dor que está sentindo.
— Ela saiu pela porta dianteira lado direito. — Gesticulo com a mão,
indignado pelo rumo que apurou os fatos. — Pela porta do carona!
— Agora pretende apurar com mais precisão? Era para ter agido assim
desde o começo — rosno e o assisto afrouxar a gravata.
— Você é o delegado titular, mas não pode assumir o caso por motivos
óbvios. E sinceramente, acha que vale a pena responder um processo
administrativo interno por conta desse... palerma? — sua voz grossa sai num
murmúrio. Uso o meu autocontrole para não piorar a situação. — Traga a
Arizona. Após o depoimento ela será liberada. Luri está capturando as
imagens das câmeras de segurança da estrada e tentando limpar, pois estão
embaçadas devido à chuva.
—Tem certeza de que não quer ir para casa com a gente, meu bem?
Cuidamos de você — indaga tia Eleonor para a filha, que está inconsolável.
— Agora mesmo!
Ela não merecia morrer assim. Era uma garota linda, boa, inteligente.
— Vou preparar...
Praticamente corro até o meu ateliê. Começo a tirar alguns quadros que
fiz inspirados na amizade que tinha com o Vicente, os jogando no meio do
cômodo. Tiro-os com tanta violência da parede que não sinto as escoriações
que causam nas palmas das mãos. Vou para o outro lado, puxo o protetor da
obra que havia finalizado e daria de presente de formatura para o Vicente. Era
a última foto que tiramos juntos — antes de tudo vir à tona — na praia do
Leblon.
Encaro a foto com tanta raiva que não cabe dentro de mim. Mesmo
minhas unhas sendo curtas, as uso para destruir o papel. Grito do fundo da
alma estragando o desenho realista, o aniquilando. O jogo perto dos outros.
apaixonada, daquele que acreditei ser uma pessoa boa, daquele que tinha
minha gratidão e amizade, daquele que me usou, daquele que atropelou uma
pessoa inocente e não teve coragem de pedir ajuda, de socorrer.
— Nem posso imaginar como está sendo difícil para você, pequena.
Não pensei que fosse tão longe. Quis a impedir, temendo que se
machucasse mais. No entanto, Kostas segurou meu ombro e entendi que era o
momento de minha namorada liberar toda sua tristeza, cólera.
Respeito tem que andar de mãos dadas com o amor. Se não torna o
relacionamento perigoso.
Toco sua face, as mechas do seu cabelo sedoso e cheiroso, seus braços,
Abre os olhos exibindo o azul cor do céu que tanto amo. Respiro fundo
ao constatar que a tristeza continua fazendo morada neles, ou melhor, em
todo seu ser. Estão um pouco inchados fazendo par com as olheiras profundas
que ganhou de ontem para hoje.
que dona Stela já estava no seu sítio na companhia de uma amiga que é sua
vizinha mais próxima. Falaram que a avó da Alicinha estava no hospital,
porém estava em observação na UPA — unidade de pronto atendimento da
prefeitura do Rio de Janeiro.
será réu primário. O que vai facilitar muito sua vida. O pior de tudo é ser
julgado e poder cumprir a pena em regime aberto. Mas o Ministério Público
pode entender que o réu agiu com o dolo eventual. Ou caso seja pronunciado
poderá ser julgado pelo tribunal do júri.
Tenho que ser honesto em dizer que dificilmente Vicente pegará uma
pena digna do dano irreparável que causou a Alicinha e sua avó.
Cobre o rosto com a mão, sentida. Deito e puxo para apoiar a cabeça no
meu peitoral.
—Bom dia! Espero que tenha bastante coisa para comer, pois estou
pronto para o segundo round — diz Miguel, que entra na companhia da
esposa.
Miguel puxa a cadeira para sua esposa se sentar, logo senta na cadeira
do lado dela. Anthony se apoia no balcão de frente para nós e Kostas está
enchendo seu prato com tudo que tem na mesa, mastigando um pão de queijo
atingiu arrastando seu corpo. Encontraram as chaves próximo ao local que ela
foi atingida, alguns metros adiante encontraram a bolsa. Estudaram a área e
constataram que o sítio da avó da Alicinha fica pelas proximidades. Que cria
a hipótese forte de que ela estava na parada de ônibus, mas devido à
tempestade, achou melhor regressar ao sítio. E no meio do caminho
aconteceu a fatalidade.
Agarro a mão da Arizona assistindo as lágrimas descerem lentamente
pelo seu rosto.
— O encontraram? — indaga.
telefone só para ter certeza se o dito cujo não tinha ligado para você de outro
número. Avisei ao Luri para acessar o sistema do celular e tentar puxar a
ligação, mas ele disse que não tinha sinal algum — revela Kostas antes de
colocar mais um pão de queijo na boca.
e sobrinha.
— Hoje à noite terá reunião. Edu pediu para eu avisar —comunica meu
melhor amigo, fazendo carinho na barriga da esposa.
Conhecendo a mulher que tenho sei que vai querer participar do treino,
que funcionará como uma válvula de escape.
Fecho o zíper da bota cano baixo preta e cubro meu rosto com as mãos.
Estou uma bagunça terrível. Desconsiderei ir ao enterro da Alicinha várias
vezes desde que Ezequiel informou o endereço do cemitério. A pedido do
Elordi, contratou uma funerária para organizar tudo.
Dona Stela — avó da Alicinha — optou por não estender o velório. Ela
não tem familiares, apenas bons amigos que estão do lado dela nesse
momento tão difícil.
Aperto com força os lírios orientais que trouxe. Não são tão bonitos como os
da plantação da sua avó.
algo, ou só quando quiser conversar — diz minha avó segurando suas mãos.
— Dona Stela, sinto muito. Muito mesmo. Não era para estarmos nos
conhecendo assim — lamento sem conseguir segurar as lágrimas.
Kostas arregala os olhos para mim pedindo ajuda. Para não deixar
dúvidas move os lábios e leio: por favor.
— Vai ficar esgotada, amor. Após a reunião com certeza terá treino.
Seguro seu rosto molhado de suor olhando no fundo dos seus olhos
azuis.
— Me leva no clube.
Puxo o ar, pois não esperava que fosse pedir logo isso agora.
— Quer ir hoje?
— Sim.
Fica nas pontas dos pés e alcança meus lábios. A beijo com gana, a
faço gemer quando mordisco seu lábio carnudo. A morena não deixa barato e
devolva na mesma intensidade que tanto adoro.
— Podemos iniciar — diz tio Edu com seu olhar cético. —Estou a par
da situação. O plano era pressionar o Argus dentro da penitenciária para
revelar a verdade. Mas isso chamaria a atenção dos demais, além dele, deve
ter outros envolvidos e que tenham ligação direta com o cabeça de tudo.
Então mudei o plano. Um dos homens que fazem parte do círculo de Argus
revelou que o chefe é Klaus Bianchi. Consegui a transferência dele para outra
penitenciária. Argus deve estar para enlouquecer lá dentro, pois deve ter
percebido que o plano que tinha com o mafioso de pessoas não deu certo.
Também revelou que Argus José Morais é pai do Vicente Ferraz Almeida.
Fala:
— Nossa... vocês não têm noção como ela está doida por esse treino.
Game over peste e companhia.
roupas constato que veio direto do hospital. Sua atenção está na sua
primogênita.
Quando fomos tomar banho tive a certeza de que os dorsos dos seus
dedos estavam machucados, alguns inclusive com pequenos cortes. Ontem já
havia ferido as palmas das suas mãos. Assim como fiz ontem, hoje cuidei
novamente dos seus machucados. Para evitar quaisquer questionamentos
preferiu escondê-los usando outra bandagem.
— Um pouquinho.
— Talvez, seja melhor adiarmos o plano de...
— Quero ir — sussurra.
tem mais chances de efetuar seu plano com sucesso. Sem que a Organização
Secreta o localize e impeça o tráfico.
boas na vida, agora pertenço a Klaus Bianchi. Meu destino está nas suas
mãos sujas de sangue, não tem mais volta.
Começo a ler tudo. E claro, tem provas suficientes contra mim. Fico
estático quando vejo a foto do corpo da Alicinha. Ela era uma das voluntárias
— Acho que agora deve estar mais tranquilo. Não aconteceu nada com
sua querida Arizona — profere sisudo e ingere um gole do uísque sem tirar
os olhos de mim.
Arizona deve estar se culpando pelo que aconteceu com a Alicinha.
— Improvisamos para que fique do jeito que eu gosto, para quando for
necessário dar o exemplo para os meus homens.
consegui resistir.
— Vamos ao porão.
O sigo pela mansão. Quando abre a porta do porão não tenho tempo de
tampar o nariz antes de aspirar o cheiro podre.
— Não precisarei de você — fala para o um dos seus homens que veio
nos seguindo. Rapidamente retorna pelo corredor estreito, para e começa a
subir as escadas.
Caminho atrás do Klaus que anda com toda sua elegância para o fundo
do cômodo de iluminação precária. Sinto a sola do eu sapato grudento.
Quando olho para o chão para verificar no que pisei, engulo em seco por ter
quase certeza de que é sangue. Aqui é o local provisório onde Klaus pratica
hecatombe, onde aplica os castigos quando alguém falha com ele.
Segue para o outro lado da sala onde está uma mesa de ferro com
vários tipos de objetos em cima.
— Klaus, por favor... não posso. Foi um erro ter o trazido aqui.
— Estou realizando seu sonho, Vicente. Aposto que toda vez que ele te
machucava, humilhava... sonhava devolvendo tudo que ele lhe causou.
Comigo pode ser sempre você mesmo. Agora pode fazer tudo isso.
— Tem algo que ainda não inaugurei desde minha estadia no país. —
Olha para o lado esquerdo e seu sorriso cresce. — Venha conhecer o Berço
de Judas. É sem dúvida um dos meus preferidos.
Porra, claro que sonhei com o dia que esse infeliz pagaria pelo
tormento que fez na minha vida. Mas minha imaginação não foi tão hedionda
como o plano do Klaus está sendo.
Engulo em seco quando Caio começa a gritar e suplicar para o
soltarem. Ele está suspenso no ar pelas cordas e preso no dispositivo de couro
na cintura.
— Por favor, por favor, Meus Deus! Eu tenho dinheiro, digam quanto
querem. — Esperneia Caio se remexendo no ar, chorando.
Klaus solta uma risada rouca quando Caio começa a urinar de medo.
Com seu jeito vistoso começa a puxar as mangas da camisa social sem
— Caio, acho que se lembra de ter feito a vida do Vicente uma merda.
Estou certo?
Vicente.
soubesse que iria desistir colocou força sobre meus dedos o pressionando
para baixo.
Foi uma verdadeira cena de terror. Caio vomitou de dor quando seu
ânus entrou em contato com a ponta do instrumento. Tento o suspender no ar
Levanto do sofá com a caixa média que contém a máscara vitoriana que
há um bom tempo tenho guardada, sonhando com o dia que a Arizona iria
usar. Claro, se fosse da sua vontade querer vir ao clube.
— Pedi que fossem buscar no meu apartamento. Faz um tempo que
mandei fazer pensando em você.
alguma, foi feito do melhor material para deixar o mais confortável possível.
Seguro a risada.
— Pronta?
Paramos no canto de uma das tendas. Nossa atenção vai para a loira
sendo fodida de quatro por um preto alto, musculoso e por um ruivo que está
debaixo dela comendo sua boceta. Além de nós dois, um homem sentado na
Atrás da minha mulher, desço a mão pela sua barriga, passo por cima
da sua calcinha. Afasto-a para o lado, fecho os olhos e encosto nariz e lateral
do rosto na cabeça, cabelo. Minha namorada está excitada, muito
molhadinha.
atenção para a cena pornográfica ao vivo. Coloco mais pressão no seu clitóris
fazendo círculos lentos e fortes.
Tiro meus dedos da sua boceta e levo aos seus lábios, os melando. Sem
que espere beijo seus lábios carnudos sentindo seu gosto, apreciando sem
frescura, sem pudor.
Agarro um punhado do seu cabelo com força deixando sua cabeça rente
à cena erótica que está diante dos nossos olhos. Novamente meus dedos
comicham o caminho da sua intimidade. Meto um dedo na sua vulva
escorregando com um pouco mais de facilidade devido o gozo e lubrificação
que estão mesclados.
no meu rosto e toma minha boca num beijo delicioso, lento. Desço as mãos
pela sua cintura até parar com as palmas das mãos abertas nos seus montes
cheios que sou louco. Os esmago a fazendo gemer na minha boca.
Sem dizer nada entrelaço nossas mãos e sigo para outro ambiente do
clube.
Entramos numa tenda vazia. Solto sua mão e caminho até o móvel que
ficam guardadas as cordas de algodão. Tem várias embalagens que contém o
mesmo tipo de corda, que é a mais indicada para a pratica do shibari. Tiro a
corda e descarto o plástico dentro do compartimento embutido que é o lixo, o
mesmo que irei descartar a corda.
Fecho a cortina da tenda, deixando claro para os demais frequentadores
que não queremos telespectadores.
— Entendi.
Arizona como mulher. É apenas uma prática sexual que oferece uma
experiência construtiva, uma ferramenta de prazer onde aumenta o
intercâmbio de confiança e emocional das duas pessoas que estão praticando.
— Vou fazer você esquecer de tudo, morena. Agora só existe nós dois.
técnica shibari.
estava fazendo algo errado. Mas logo tratei de trancar esses pensamentos e
me permiti ser livre, a fazer tudo que tivesse vontade, a experimentar coisas
novas.
altamente convidativo.
meu pedido. Agradeço. Na mesa a frente estão sentados alguns colegas que
eram da classe do Vicente. Um deles veio perguntar se eu sabia do Vicente,
pois estavam tentando entrar em um acordo para marcarem a nova data da
colação de grau que foi adiada por alguns problemas. Respondi com um
simples: não. Quando insistiu, disse que não era mais amiga do Vicente.
dela.
Nem sei qual será o destino do Vicente — caso exista alguma chance
de escapar da Organização Secreta. Sinceramente, não me importo. Não mais.
A única coisa que sinto é por não poder poupar a dona Hermínia do
bebê. A família foi abençoada por termos mais um menino na família. Foi
lindo acompanhar a emoção do Miguel, Nay e do Savas — o primogênito
deles.
— Ainda será o tema Safari. Mas quero algo mais original. Quero que o
Caleb ame tudo, que saiba que é muito amado.
— Ele sabe disso, Nay. Você é uma mãe fantástica para o Savas, não
será diferente com o Caleb.
parte dos seus planos devido ao seu passado traumático. Porém, Miguel e ela
foram se curando juntos... depois veio o Savas, e logo aprendeu a ser mãe.
Nada melhor que um dia atrás do outro.
— Te amamos, ursinha.
Se refere a ela e seu bebê que está quentinho e protegido no seu útero.
— Amo vocês!
Queria muito estar com os meus fones de ouvidos para impedir a voz
desafinada do Kostas alcançar meus tímpanos. Desde ontem estou escutando
seus relatos do término do relacionamento casual com a bailarina.
Normalmente ele parte para outra. Mas parece que ela pegou de jeito o
ofereci. A reputação do cara voa longe de tão ruim. Ao menos sou sincero.
— Ei! Você meu amigo, que está sorrindo com o que passei, cuidado
com a sua cabeça, pois amanhã será sua vez... — canta horrendamente
meneando a cabeça. — Ela nem conversou comigo sobre isso. Apenas
Pela misericórdia!
que dificilmente Vicente será capturado pela polícia, pois está na mira da
Organização.
O dia acabou melhorando com essa notícia. Pelo fato de a dona Stela
não ter mais nenhum parente vivo e por ser uma senhora de idade não seria
nada seguro ficar sozinha no sítio. Há dias fico inquieta, pensando que se
passasse mal não teria ninguém para socorrer, ligar para a emergência.
Então pedi para o Elordi oferecer para ela uma funcionária do lar para
cuidar da casa, ajudar no preparo das refeições e residir com dona Stela de
segunda a sexta. Pelo que soubemos seus vizinhos costumam confraternizar
no final de semana, sendo assim a Cuidadora terá folga e retornará na
segunda de manhã.
Não fiz o pedido direto por ainda me atormentar pelo o que aconteceu.
Ainda preciso de um tempo.
tem várias roupas, itens pessoais e outras coisas do meu namorado ocupando
um espaço do meu closet. Não me incomodo. Talvez daqui uns anos a gente
converse sobre dividirmos o mesmo teto oficialmente.
Sinto meu corpo com sintomas de lipotimia. Quero não pensar no pior,
mas diante da situação não consigo controlar meus próprios pensamentos.
casa de repouso.
— Não sei se todos estão aqui fora. Estava no horário de visita, depois
começou uma confusão, o alarme de incêndio tocou e até agora estamos
esperando os bombeiros. Meu Deus, sinto muito. Eu...não sei se realmente
tem algo pegando fogo, não sei.
— Arizona!
Escuto a voz do Kostas, mas corro até a entrada contra seus protestos.
Tem um pouco de fumaça na entrada principal, tampo nariz e boca para evitar
inalar, mesmo sabendo que não irei impedir por muito tempo.
Só então percebo que está com o celular nas mãos. Corro atrás do
Kostas. Podemos respirar melhor, pois não há fumaça. Entramos no
complexo de fisioterapia. Fico responsável por abrir as portas do lado
esquerdo e Kostas do direito. Chamo pela dona Hermínia.
Aproximo minha orelha do seu nariz. Não escuto nada, nem som da sua
compressões cardíacas.
— Estou aqui, dona Hermínia, por favor. Volta, meu Deus, ela não
merecia isso.
— Não podemos fazer mais nada pela dona Hermínia, amor. Sinto do
fundo da minha alma.
Observo o corpo da dona Hermínia sem vida. Choro como uma criança,
sentindo uma dor terrível.
Elordi tentou me convencer de irmos para seu apartamento. Mas não
aceitei. Decidi vir à sede da colmeia para ficar por dentro das informações
recentes que Luri obteve. Estou malditamente quebrada por dentro pela forma
covarde que mataram a dona Hermínia.
Provavelmente o indivíduo não tem nenhuma informação útil que nos possa
ajudar a localizar o esconderijo do mafioso. Klaus é peixe grande, não é
estúpido. Claramente deve ter contrato um bandido qualquer para fazer isso,
sem dúvida sabia que o contratado não escaparia.
Estou num estado interno de estupor. Agora tenho que ser fria e manter
de roupa no vestiário dos funcionários usando o uniforme que foi dado por
um enfermeiro, que também iniciou um pequeno incêndio numa das salas de
jogos dos idosos.
Estou um pouco surpresa por saber que não tem dedo do mafioso e do
— Faz sentido. Argus não deve ter mais nenhum contato com o filho e
o mafioso. O covarde sem dúvida está pirando querendo notícias. Aliás, pode
ter inclusive cogitado que, de alguma forma, dona Hermínia poderia
atrapalhar seu plano ao revelar quem ele era para você, Arizona. Vicente
tinha contato com o pai durante um tempo, deveria relatar o quanto eram
próximas. Lembra que comentou que em algumas ocasiões sentiu que dona
Hermínia queria dizer algo?
que não fizesse. Em seguida saiu correndo para fora da instituição, entrou
num carro de um dos visitantes e fugiu.
— Quanto ao Argus, não duvido que terá o que merece. O circo deve
estar se fechando para ele dentro da penitenciária.
detentos, isso dentro da prisão é o fim. Uma hora os líderes dos grupos lá de
dentro vão se revoltar e cortar a cabeça dele fora — profere Luri.
— Irei
assistir.
Arizona tem sofrido com as perdas num curto intervalo de tempo. Ela está
sendo a mulher forte que sei que é, mas tem se esforçado além da conta para
isso. Me entristece saber que está sofrendo tanto, e não posso amenizar.
rosto dele está esfolado de tanta surra, alguns dentes voaram no ar devido aos
socos violentos.
Hermínia.
Ele disse que a única coisa que Argus revelou foi que sua ex-mulher
iria acabar abrindo o bico e atrapalharia os seus planos.
— Por favor, não sei de mais nada. Contei tudo, eu juro. Argus me
contratou para matar, não entrou em detalhes. Me entreguem para polícia,
mas não me matem.
Minha mulher fecha os olhos no instante que o Ezequiel estoura o
joelho do executor com um taco de beisebol. Rapidamente desligo o som,
— Ele não sabe de mais nada. Se soubesse falaria para tentar se livrar.
Antes mesmo de chegar aqui já tinha contado quem o contratou —
pronuncio.
tristeza estava sendo hospedeira no seu olhar e corpo. Ela estava solitária,
imensuravelmente triste.
Eu só quero que ela descanse em paz. Sei que está num lugar bem
melhor, disso não tenho dúvida. O que não me conformo é saber a forma
— Alguém suspeito?
— Enzo, Jas e Miguel estão indo para Baía de Guanabara. O que pude
entender na conversa, eles irão pegar as pessoas traficadas lá e levar para
Niterói — comunica. — Klaus, Vicente e outros da laia deles estão no
Esqueleto, provavelmente irão de helicóptero. E como sabem que estamos
atentos em todos os meios de transporte, acreditou que iria se safar. Deve ter
achado genial ser pego pela sua equipe em um lugar abandonado. Pela manhã
localizei o lugar onde estavam refugiados...
— Atenção, pessoal são seis horas da tarde! Tentem ser o mais rápidos
— Puta que pariu, Anthony. Eu não disse que podia, filho da mãe! —
esbraveja no comunicador.
para dentro do hotel abandonado. Kostas faz o sinal com três dedos
direcionando para o andar de cima, os outros dois seguem para o lado
esquerdo onde tem mais cômodos.
funcionando.
muito calmo. Seguimos o mesmo esquema com três dos nossos subindo para
o próximo.
Corremos para os cômodos vazios torcendo para um dos tiros não nos
acertar. Kostas entra num e eu no outro. Tiro a faca Karambit do coldre da
coxa, me encosto na parede, controlando um pouco a respiração. Quando
escuto seu passo prontamente mantenho a faca entre meus dedos pronta para
o acertar. Sem ter tempo para pensar, ao adentrar lentamente o cômodo com a
arma de fogo rente ergo o braço de forma certeira na sua jugular fazendo o
sangue jorrar.
Suspiro quando percebo que tem mais deles vindo. Nos encostamos na
lateral da parede a usando como escudo quando escutamos mais tiros e vozes.
Reconheço alguns integrantes da colmeia que lutam frente a frente contra os
bandidos. Sem esperar mais um minuto damos reforços — mesmo
precisando.
Puta merda.
Quando tenta me ferir com a faca pego distância. Olho para frente
sabendo que todos estão ocupados tentando se salvar. Na sua terceira
tentativa de acertar com a faca, aproveito para acertar suas costelas com um
golpe de muay thai. Encaro o vazio na parede que sem dúvida foi projetado
Sem onde segurar seu corpo foi direto para o lugar do elevador. Seu
grito ecoou.
Com uma cólera insana tiro a máscara quando vejo o Klaus e Vicente.
Klaus ri tentando não parecer nervoso. Ele sabe que está fodido.
— Cala a sua maldita boca! — grito com toda a força olhando para o
Vicente. — Seu pai, o mesmo que decidiu ajudar mandou matar sua mãe.
Você é um desgraçado, Vicente.
— Ele mandou matar sua mãe de forma covarde. Não cheguei a tempo
de salvá-la, se tinha alguém que poderia ter impedido era você, seu doente!
— exclamo.
— Se entrega, Vicente.
— Pode parar com a porra dos seus joguinhos. Vicente não vai se
entregar.
o odeio, não sei explicar como isso se instalou dentro de mim — gargalha
entre o choro. — Me perdi, eu só queria ser alguém importante, ter tudo que a
merda do dinheiro pode comprar, ter dado uma vida digna para a minha mãe.
Grita contra o vento. Tento controlar minha emoção, mas não consigo.
Eu sei o que tenho que fazer, preciso fazer isso.
— Juro que não sabia que iam tirar minha mãe de mim. Fui um burro,
estúpido. A perdi, perdi você, perdi tudo.
Para a minha surpresa joga arma no chão. Abre os braços e fala entre os
soluços do choro:
foi insistente para ser meu amigo, os momentos que passamos juntos desde o
meu tratamento contra o câncer. Tudo. Lembro de absolutamente tudo.
Sorrindo para mim sem parar de chorar abre os braços. Porra, não! E
então fecha os olhos e joga seu corpo para trás. Grito seu nome correndo para
a beira do prédio danificado. As lágrimas intrujam minha visão e assisto seu
corpo cair.
Sorrio para a foto. O fotógrafo que minha turma contratou para marcar
os melhores momentos da nossa colação de grau clica mais três vezes no
botão da câmera profissional. Mantemos o sorriso verdadeiro em nossos
rostos.
mercado.
Apolo e Enrico vem correndo para onde estou. Graças a Deus escolhi
um vestido de tecido leve. Abaixo-me, nos abraçamos em conjunto.
— Você está linda, mana. A mamãe tirou tantas fotos que pegou o
celular do papai para continuar tirando — diz Apolo passando a mão no seu
cabelo loiro.
— Papai chorou. Mas não diz que falei, ele meio que acha que é
segredo. Como se ninguém tivesse visto ele chorar — murmura Enrico com
toda sua marra.
— Prefiro ter você só para mim — falo colocando meus braços por
cima dos seus ombros.
Selo nossos lábios sem aprofundar o beijo. Elordi quase suplica para o
ajudar a controlar nossos beijos quando estivermos perto do meu pai. Como
sou uma namorada incrível tenho me controlado sempre que possível.
quando se aproxima.
Miguel e Nay tiveram uma noite bastante agitada... por conta do bebê
deles. Pelos desabafos da Nay no grupo das mulheres da família, seu caçula
estava tendo cólicas, ficou bem enjoadinho. Caleb está com três meses, desde
que nasceu não tem deixado seus pais terem uma noite de sono completa.
Claro, quem se diverte são os demais integrantes da família. Principalmente
por causa do Miguel.
máximo não fazer barulho para evitar que o novo bebê da família acorde
irritado e comece a chorar para o desespero de todos.
— Savas é tudo.
Rimos.
transbordando de amor. Kostas está rindo de algo que Ezequiel e tio Enzo
estão falando, os pirralhos estão sendo solidários em não fazerem tanto
barulho para não acordarem o caçulinha da família.
comigo, fazendo parte dessa etapa da minha vida. Perdi as contas de quantas
vezes imaginei que as coisas poderiam ter sido diferentes. Se Vicente tivesse
sido honesto com seus próprios sentimentos, que tivesse sido franco comigo,
que tivesse seguido o caminho do bem, que tivesse freado sua inveja e
ambição. Ele poderia ter conquistado tudo que sonhou com honra, sem se
corromper. Eu teria ajudado sendo sua melhor amiga. Infelizmente não
consigo desligar o meu cérebro e coração para evitar pensar nele, nos
momentos da nossa adolescência, do quanto foi meu alicerce durante meu
tratamento.
Não sei se realmente teria tido coragem para matá-lo. É uma pergunta
que não posso responder.
Naquela noite que se suicidou fiquei muito mal. Foi como se uma parte
de mim tivesse ido com ele. Mesmo diante das suas maldades, das suas
mentiras, de tudo que descobri e me machucou terrivelmente não conseguia
ser indiferente, fingir que não existia mais. Por mais que tivesse tentado,
quando o vi naquele dia trágico, tive certeza.
com o nosso líder para abrir uma exceção quanto ao que fazer com o corpo
do Vicente. Ele foi enterrado ao lado da sua mãe. Não comparecemos, não
estava em condições emocionais para presenciar.
A única coisa boa que restou daquela noite foi o fato de termos
Luri fez uma ligação anônima sobre uma organização criminosa estar
na mansão que Klaus estava usando como refúgio. Foi uma forma de
encontrarem o corpo do Caio Schumacher. Dois dias depois os noticiários só
noticiavam o assassinato do filho dos diplomatas.
outros detentos. Antes disso deve ter desejado a morte, pois pelo que
soubemos e acompanhamos, passou a ser uma marionete nas mãos dos
“chefes” da penitenciaria, que nada mais eram os que tinham mais poderes
aquisitivos lá dentro. Sofreu por meses, sendo capacho, apanhando, vivendo
o verdadeiro inferno estando vivo.
— Quero sim.
Elordi sempre teve meu coração. Demorou um pouco para o pegar para
si, mas chegou a tempo.
seu suporte, não que precise de um homem para a proteger, pois sei que é
capaz, mas sim porque a amo, Arizona. Você me faz querer sempre ser
melhor, sua bondade me atinge e emociona, quero ter bebês com você e
prometo que nunca iremos dormir brigados mesmo que tenhamos anos de
Meu anjo de olhos azuis — um pouco mais escuros do que sua mãe —
está completando seis meses de idade hoje. É uma garotinha muito esperta,
carinhosa. Bom, menos quando está com fome. Isso é algo que também
puxou da sua mãe. Além disso, adora estar na companhia dos nossos
familiares. Caleb e Sarai são os centros das atenções no momento.
No dia do meu casamento — que foi feito próximo a esse haras, pois
queríamos a presença da Atena — após minha esposa dizer sim, anunciou
que estava grávida. Fiquei extremamente emocionado. Fazia menos de um
mês que havia tirado o método contraceptivo, pois tínhamos decidido que
queríamos começar a formar nossa própria família. Foi um dos dias mais
sujos de tintas, descalça e usando uma camisa minha. Amava chegar em casa
e ver minha mulher dessa forma.
cemitério visitar dona Hermínia. Admitiu para mim que perdoou o Vicente. E
está tudo bem. De verdade, não esperava menos da minha esposa. Apesar de
o ter perdoado, suas visitas no cemitério são para dona Hermínia.
— Atena, preciso levar seu menino e sua menininha, pois minha mãe já
Pisca o olho direito. Ela não sabe a vontade que estou de a comer do
jeitinho que gostamos.
nenhuma parte do meu corpo. Por mais que eu tente, minha voz não sai. Sinto
as lágrimas rolarem pelo meu rosto se misturando com o suor.
Mordo meus lábios com força quando sinto a respiração dele no meu
pescoço, descendo pelo meu abdome. Sei que tem mais deles dentro do meu
possível da cidade.
Era para eu ter ido à Turquia há dois anos. No entanto, adiei meu plano
por conta de burocracias para conseguir instalar uma sede da Advocacia lá,
Por serem meus irmãos de alma cumpri com a minha palavra. Além
disso, nossa família recebeu outro integrante. Tio Edu e tia Maria Flor nas
ações humanitárias que fizeram na Jamaica completaram a família ao adotar
Maria Eduarda. Uma menina preta de oito anos que foi resgatada após sofrer
vários tipos de abusos. Eles ficaram no país que é insular no Caribe dois
Lavo meu rosto com a água, busco a toalha de rosto e enxugo. Minha
respiração volta ao normal gradativamente. Tem sido cada vez mais
aterrorizante a paralisia. Fiz tratamento com a melhor psicoterapeuta, além de
fazermos acompanhamento com o especialista da paralisia do sono, fora as
terapias.
Para uma pessoa fodida até a alma como eu, apesar de ter recebido o
melhor tratamento... não fui ingênuo ao pensar que iria me curar. O pior é
não conseguir de fato seguir em frente. Carrego dentro de mim a sede de
vingança.
meus pais adotivos me deram. Nunca escondi o que faria contra todos os
envolvidos que colocaram minha mãe e eu no tráfico humano. Meus pais me
aceitaram mesmo assim. Minha mãe em especial até uns meses atrás tinha
esperança de que eu fosse desistir.
Continua...
Primeiramente quero agradecer à Deus por este projeto ter ganhado
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