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Autônomo, porém não abandonado a sua sorte.

O apoio da atividade autônoma na escola


de Educação infantil (zero a três anos)

Andrea Szöke, Hungria

Tradução livre: Carmen Orofino e Mariana Americano

Resumo

A escola de educação infantil Emmi Pikler de Budapeste põe em prática o princípio pikleriano
do valor da atividade autônoma da criança ao não intervir diretamente nem em seu
movimento nem em sua brincadeira. Mas isto acaba sendo uma tarefa muito complexa para o
adulto. Por um lado, deve garantir a segurança emocional, que segundo outro dos princípios se
origina nos cuidados. Por outro lado, deve assegurar um ótimo entorno cumprindo alguns
requisitos materiais como: que o espaço esteja bem equipado e bem dotado de materiais,
objetos e brinquedos adequados, suficientes e em bom estado. Também deve garantir que a
criança tenha tempo suficiente para a brincadeira. E também se preocupar em acompanhar e
apoiar permanentemente a criança com sua presença, transmitindo empatia e segurança. A
continuação do texto aprofunda todas estas questões.

Palavras chaves: atividade autônoma, movimento, brincadeira livre, cuidados, equipamento,


espaço, tempo, objetos, acompanhamento.

A atividade autônoma das crianças pequenas

Na escola de educação infantil Emmi Pikler de Budapeste consideramos que apoiar a atividade
autônoma das crianças é uma das nossas tarefas mais importantes. Para atingir este objetivo
trabalhamos e pensamos muito juntas.

Um dos princípios básicos da abordagem pikleriana é o valor da atividade autônoma. Na


prática, isto significa que o adulto organiza o tempo e o espaço para criança e não intervém de
maneira direta em seus movimentos e brincadeiras. Deixa que ele desenvolva sua atividade
autônoma livremente seguindo sua própria imaginação.

Emmi Pikler reconheceu a fundamental importância da atividade autônoma para o


desenvolvimento harmonioso da personalidade. Se o adulto é capaz de resistir à tentação de
sugerir, de intervir nos movimentos e na brincadeira da criança, por exemplo, sentando-lhe,
colocando-o de pé ou mostrando-lhe como se pode montar uma torre de cubos, então as
crianças experimentam, exercitam e resolvem problemas com grande com concentração. Além
de oferecer segurança emocional o adulto tem outras coisas para fazer. Não inicia a
brincadeira, não o põe em marcha nem sequer anima a criança a brincar, mas assegura um
ótimo entorno com certos requisitos materiais e constantemente acompanha e apoia a criança
em sua atividade.

O acompanhamento da atividade autônoma é uma tarefa complexa. Se o adulto compreende


como tem que estar presente e apoiar as crianças em sua brincadeira estes sentem, por sua
vez, a sua atenção e a liberdade que lhes é dada. A pedagogia Pikler ajuda a cuidadora a
aprender a observar e a ver que a criança pequena enquanto experimenta brincadeiras, seus
próprios movimentos, vive o prazer, o sentimento de que eu que faço, sou capaz, que é uma
importante experiência para ela. Se a cuidadora espera e imediatamente não vai em socorro
da criança que talvez não tenha conseguido solucionar alguma coisa então saberá, terá a
experiência de que as crianças acostumadas à brincadeira livre não perdem o ânimo em
situações semelhantes. Pode ser que continuem tentando, que busquem novas soluções ou
que voltem a uma atividade que já eram capazes de realizar bem ou com mais facilidade. Estas
dificuldades fortalecem a segurança interna e o sentimento de competência da criança
pequena através de quem conhece outra qualidade da aprendizagem. Tudo isso contribui
também para uma maior segurança interna da educadora.

Muita gente pensa que tem que ajudar o bebê ou a criança pequena chamando sua atenção
sobre os brinquedos. Essa é uma verdadeira pena, pois assim tiramos da criança a iniciativa, a
experimentação e a possibilidade de resolver a situação por ela mesma. Muitas vezes o que
guia a criança em sua atividade com os objetos não é conquistar uma meta e sim o prazer da
atividade em si mesma, a vivência de sua própria competência. Temos que dar espaço ao
interesse que vem deles e assim serem capazes de aproveita-lo. Esta abordagem muitas vezes
dá margem a equívocos, pois muita gente pensa que assim as crianças acabam abandonadas a
sua sorte.

Nas fotos abaixo vemos uma criança de dois anos e meio, sozinha. Sem dúvida, não parece
estar abandonada, percebemos sua atenção, seu olhar, seus movimentos. Brinca de maneira
pacífica, tranquila, concentrada, com objetos domésticos muito sensíveis, mas isso não se dá
de forma espontânea, a cuidadora tem inúmeras tarefas a respeito que requerem grande
atenção de sua parte.

Creio que o mais importante é que a cuidadora se mostra presente de modo que as crianças
sempre sentem seu interesse, e com sua presença transmite empatia e segurança tanto
quando está perto como quando está mais longe, ocupada com outra criança. Eles já tem a
experiência de que mesmo quando não a veem, ela segue estando presente, podem contar
com ela. Mas, como é possível a cuidadora estar presente deste modo? Não é fácil, depende
de muitos fatores comuns como a atmosfera do grupo, o quanto conhece as crianças, se o
espaço onde brincam está organizado e como a cuidadora está presente com sua atenção sutil
e seu interesse, disposta a ajudar.

Para que possam brincar tranquilamente as crianças necessitam de espaço suficiente e um


entorno seguro. A atividade das crianças muda constantemente: agora manipulam, agora
realizam atividades de grande movimento, e isso é característico de zero a três anos.
Procuramos que o espaço da brincadeira tenha uma distribuição apropriada mesmo que seja
pequeno. Por exemplo, certos móveis como a mesa escolar, colocamos dentro da sala
somente quando nos preparamos para comer. Na distribuição dos brinquedos também
procuramos deixar espaços livres aonde as crianças possam exercer sua necessidade de
movimentar-se.

A segurança do entorno deve ser tal que minimize a necessidade de proibições por parte do
adulto. Onde se juntam muitas crianças pequenas o risco de acidente é maior. Para evitar,
alteramos o ambiente caso seja preciso. Por exemplo, se vemos que uma criança está muito
instável na escada, que não está atenta a seus próprios movimentos, que o aparato é perigoso
para ele, então nós tiramos da sala e em vez disso podemos colocar outro aparato que as
crianças já conheçam bem. Nos esmeramos em desenhar o espaço da brincadeira. Para os
menores que ainda se deslocam se arrastando ou engatinhando separamos com uma cerca
uma área de tamanho apropriado. Esta área cercada os ajuda a sentir-se seguros e os protege
dos movimentos repentinos dos maiores, ao mesmo tempo também ajuda os maiores para
brincar e mover-se tranquilamente sem impedimentos, sem ter que desviar dos pequenos, Se
nós temos que recordar constantemente, por exemplo, que tenham cuidado com os menores,
interrompemos a brincadeira e isso também não melhorará a relação criança-adulto.

Para que as crianças possam se concentrar em sua brincadeira é preciso que tenham tempo
suficiente. Para isso é importante uma boa rotina. Uma organização do dia-a-dia que se adapte
às necessidades das crianças, o tempo e a ordem dos acontecimentos e sua regular repetição
facilitam a vida na escola e sua adaptação à ela. Quando a transição entre as distintas
situações é fluida como por exemplo alimentação, a troca de fraldas, a lavagem das mãos, não
há necessidade de interromper desnecessariamente o momento da brincadeira e as crianças
não tem que esperar sem fazer nada. Procuramos organizar e transmitir a rotina de maneira
que seja clara para as crianças. Sabem depois de quem será sua vez de se alimentar e assim
poderão se preparar. E até que a cuidadora que está dando de comer não lhes avise, podem
brincar em paz e com tranquilidade. As crianças que frequentam a escola infantil se sentem
cada vez mais seguras porque sabem quando e o que podem esperar.

As imagens da brincadeira de Fülöp foram feitas durante o momento da refeição. Do outro


lado da cerca, na foto não se vê, sua cuidadora está alimentando outra criança. Isto não
incomoda Fülöp em absoluto, ele conhece bem a rotina, sabe quando será a sua vez e até que
chegue passa seu tempo ativo. Em seu rosto expressa que foi completamente abstraído do
mundo externo, coloca os frascos na cerca área de alimentação, com grande concentração.

Brincadeiras e brinquedos

A cuidadora também tem múltiplas tarefas em torno dos brinquedos. Com os lactantes
procuramos que os brinquedos estejam homogeneamente distribuídos a uma distância
acessível. Aos maiores já lhes oferecemos os brinquedos agrupando-os em baldes, cestos ou
estantes baixas procurando deixar espaço disponível para grandes movimentos. Um espaço
para brincar bem disposto espera as crianças na chegada pela manhã, na volta da brincadeira
no parque ou quando retornam à sala depois da sesta. A cuidadora reorganiza a sala várias
vezes ao longo do dia quando percebe os brinquedos dispersos pelo solo, dando chance para
novas brincadeiras. Procuramos que haja constância na organização e disposição dos
brinquedos, assim as crianças sabem onde os vão encontrar.

Também é tarefa da cuidadora pensar na quantidade de brinquedos disponíveis uma vez que
havendo brinquedos suficientes e uma quantidade adequada de cada tipo podemos prevenir
muitos conflitos. Há certos brinquedos que não podemos ter na sala tantos quanto o número
de crianças, por exemplo, carretilhas ou carrinhos de bebê. Procuramos tê-los em número
suficiente para que a cuidadora possa oferecer um objeto similar em caso de conflito.

Procuramos oferecer brinquedos de materiais diversos de acordo com o nível de


desenvolvimento e interesse atual das crianças. Por brinquedos muita gente entende
exclusivamente os objetos feitos expressamente para crianças que geralmente se vendem nas
lojas. Porém, com sentido mais amplo todo o objeto que damos a criança para brincar pode
ser considerado um brinquedo, por exemplo, óculos, bolas, cestas, colheres de madeira, ou
frascos como os que brincava Fülöp. O objetivo do brinquedo não é despertar o interesse da
criança, a criança já se interessa por si mesma. Um bom brinquedo é aberto, se pode usar de
muitas maneiras, permite muitas atividades, dá opção à criatividade, à invenção. Para
qualquer idade que escolhermos nunca decidimos olhando o que o brinquedo tem, mas
observamos quantas atividades a criança pode fazer com ele. Consideramos importante ter um
grande número de brinquedos de materiais naturais, por exemplo, de madeira, junco e
também temos tigelas de metal, objetos de tecido ou fio, assim como brinquedos de plástico
nas salas.

Damos grande importância à observação minuciosa da brincadeira das crianças porque nos
ajuda a saber a etapa de desenvolvimento de cada criança e também a ver o que lhe interessa,
o que lhe preocupa e assim preparar brincadeiras apropriadas para ela. Por exemplo, ao voltar
das férias de verão as crianças escolhem bolsas e roupas para brincar e com ajuda desses
objetos se recordam da viagem familiar e das férias.

A tarefa e a responsabilidade do adulto são particularmente importantes na escola já que é


nela que a criança poderá brincar exclusivamente com o que foi preparado, diferente da
família onde também têm acesso a outros objetos.

São pouco conhecidas as atividades de encaixar, colocar em pé e fazer configurações. Para


isso é necessário preparar objetos ocos que sejam idênticos e objetos cujo centro de gravidade
está na sua base como, por exemplo, um frasco, um objeto de uso comum. Essas atividades só
aparecem na brincadeira da criança se ela encontra em seu entorno os objetos apropriados.

E que brincadeira tão magnífica permitem estes frascos a Fülöp! Nas fotos o vemos
construindo com os frascos uma garagem para os carrinhos. Se propõe uma tarefa difícil:
equilibrar sobre uma tábua estreita frascos que cambaleiam. Esta é uma grande vantagem da
brincadeira livre, propor uma tarefa a si mesmo, a partir do próprio interesse, do próprio
desenvolvimento cognitivo. Quanta experiência ganha deste modo!

Apoiar a autonomia

Além de garantir os requisitos para uma brincadeira tranquila e concentrada é importante que
a cuidadora responda diretamente à brincadeira da criança. Isso significa fundamentalmente
apoiar a atividade de brincar. Este apoio pode ter várias formas:

- Percebe, responde com seu olhar ou palavras, reflete sobre o trabalho da criança, como faz a
cuidadora de Fülöp. “Olhe quantos frascos você colocou sobre a cerca”. Em vez de uma
aprovação vazia: "que habilidoso que você é", quanto mais a educadora se expressa, a criança
consegue compreender com maior precisão o que ela conseguiu fazer e resolver.

- Na foto, em segundo plano, Mari, a outra cuidadora, coloca mais frascos para brincar, pois
percebe quanto essa brincadeira está interessando a Fülöp. Com isto, não somente apoia sua
brincadeira, mas também ajuda a manter uma atmosfera tranquila, porque sabe que muitas
vezes as crianças tem vontade de brincar com as mesmas coisas que seus companheiros. A
cuidadora também ajuda as crianças inativas ordenando os brinquedos de maneira
interessante, despertando assim sua vontade de brincar.

- Podemos ajudar na boa convivência entre as crianças apresentando normas claras e


inequívocas. É uma tarefa difícil assegurar uma atmosfera tranquila, serena e equilibrada
durante todo o dia. Existem dificuldades, existem conflitos. Mas se a cuidadora está por perto,
se sabe como e quando intervir, por exemplo, organizando os brinquedos, oferecendo outros
novos, ou, se achar necessário, recordando as normas às crianças e mostrando alguma saída
possível para uma situação difícil, então a inquietude será somente transitória. Naturalmente
não podemos prever todos os conflitos.

Fülöp se desespera quando Samu, um de seus companheiros, pega um dos frascos que
enfileirou. Mari o recorda da norma bem conhecida: "Fülöp está brincando com este frasco,
olhe, ali no chão você encontrará mais frascos". A maneira com que Mari se propôs conseguir
que Samu devolvesse o frasco não foi uma instrução nem uma proibição. Se há muitas
proibições, as crianças as vivem como impedimentos e depois de um tempo nem as ouvem.
Mari, no entanto, confiava em Samu, sabia que Samu conhecia bem a norma segundo a qual
não pode tirar do companheiro um objeto com o qual ele está brincando. Esta forma de
expectativa indireta supõe que a intenção da criança é a mesma que aquela que o adulto
espera dele.

A criança em grupo nem sempre pode fazer o que quer. Não pode tirar o brinquedo de seu
companheiro, tem que esperar até que este deixe de brincar com o objeto. Tem que renunciar,
trocar, mas tem uma série de oportunidades de brincadeiras prazerosas, e com o tempo verá
as normas e as regras como parte natural da vida. Essas normas são simples e facilmente
compreensíveis. A cuidadora sempre as utiliza na situação pertinente e com propósito, de
maneira que as crianças as aceitem e as incorporem com maior facilidade.

Almejamos que as crianças encontrem soluções pacíficas para seus conflitos. Elas precisam
aprender a considerar o outro, compreender seus motivos e ao mesmo tempo defender-se
seja com palavras, ou buscando outro lugar para brincar. Assim aprendem a defender seus
próprios interesses.

Para que a criança brinque com tranquilidade, necessita sentir-se segura na escola. Sua base é
a segurança emocional proporcionada pela relação que a une a sua cuidadora. Um elemento
importante para o seu sentimento de segurança é saber que sempre pode contar com ela. A
criança dá sinais de que está em apuros e a cuidadora, mesmo que esteja longe, lhe dá sinais
de que se deu conta disso. Portanto, a brincadeira autônoma não significa abandono, mas que
o adulto não intervém desnecessariamente, não tenta dirigir ou ativar a brincadeira.

Então, a cuidadora nunca pode brincar com a criança?

Brincar juntos é um prazer que aprofunda o sentimento de pertencimento. Quando se confia


nas crianças, elas inventam um sem-fim de variações em suas brincadeiras, suas ideias são
inesgotáveis. Muitas vezes brincam de forma diferente daquela que os adultos imaginam ou
esperam. O importante é que os adultos se abstenham de dar a si mesmos o papel principal na
brincadeira porque assim "lhe tiramos aquilo que é o mais precioso e delicioso em toda
brincadeira: a iniciativa autônoma própria” (Pikler, 1976).

Quando o adulto é o protagonista e sai da brincadeira, essa se desfaz. Além disso, brincar
juntos geralmente significa estar com somente algumas das crianças, o que põe em perigo as
relações sociais, gera rivalidade entre as crianças quando se elogia aquele que atende às
expectativas do adulto. Pensamos que não é bom brincar no lugar da criança, converter-se no
protagonista, pois se o adulto deixar de brincar causará decepção. Não tem um bom efeito no
desenvolvimento da criança, não ajudamos o seu desenvolvimento se brincamos em seu lugar.
Não promovemos com ele o desenvolvimento de sua personalidade, de sua autonomia.
Esperamos até que a criança inicie a brincadeira conosco. Porque da maneira com que brinca
com suas mãos e com os objetos ao seu redor "da mesma forma brincaria toda criança com as
pessoas ao seu redor -cedo ou tarde- quando os adultos o compreenderam e não rejeitaram
sua aproximação. Porém a criança nunca começa com brincadeiras prontas que já
conhecemos, mas sempre inventam brincadeiras apropriadas ao seu interesse e nível de
desenvolvimento cognitivo atual” (Pikler, 1976).

Por exemplo, inicia um jogo de esconder-se, oferece um café ou nos previne que não pisemos
no tapete porque agora é um barco. E o adulto, se o leva a sério, mostrará a criança que a
compreende e apoia sua brincadeira.
Além de garantir os requisitos da brincadeira, sua ajuda e apoio diretos, não é fácil para a
cuidadora estar entre as crianças sem ter uma relação direta com eles; quer dizer sem estar
cuidando ou dando de comer, por exemplo. Muitas delas sentem que não estão fazendo nada,
mesmo que, na realidade, esteja fazendo muito. A experiência é que quando se atende 10 ou
12 crianças, não acontece de estar sem fazer nada em nenhum momento. Sua presença é tão
natural como de uma mãe em casa. Limpa o nariz, arruma o gorro, organiza a comida, reúne
folhas secas com o ancinho, organiza os brinquedos na sala, etc., e entre tantas coisas, está
atenta às crianças, cuida deles. A presença ativamente atenta da cuidadora ajuda a criança a
tornar-se independente, e ao mesmo tempo sentir que ela está disponível.

Para tanto, a relação entre a criança e a cuidadora não se constrói principalmente durante a
brincadeira, mas durante os momentos de cuidado. Na abordagem pikleriana, um dos âmbitos
mais importantes da relação entre o adulto e a criança é o momento dos cuidados, é neste
tempo, quando estão juntos, quando podem estar juntos. Como aprendemos com Anna
Tardos “os cuidados devem ser um verdadeiro encontro entre a cuidadora e a criança”. Este
encontro se dá várias vezes por dia já que a cuidadora troca a fralda três ou mais vezes
durante o dia. Isto significa que com cada criança está de 10 a 15 minutos sozinha, três vezes
ao dia, quando atende somente a esta criança: atende aos seus sinais, responde, a reconhece
como um igual e o trata deste modo, deixa que viva sua competência e apoia suas iniciativas,
inclusive quando inicia uma brincadeira, por exemplo, colocando o gorro sobre sua mão em
vez de sua cabeça ou, escondendo se atrás de sua roupa, iniciando um jogo de esconder. Se
durante os cuidados a criança experimenta segurança emocional, depois aproveitará a
oportunidade do brincar livre ou da atividade autônoma e se voltará ao mundo exterior com
interesse. Assim não sentirá a falta do adulto no seu tempo de brincadeira. Esses tempos
aproveitados com o adulto a ajudarão a sentir-se bem na continuação de sua atividade, a estar
equilibrada sem o adulto.

Para terminar, voltamos à brincadeira de Fülöp. Provavelmente ele aprendeu por experiência
que os frascos podem cair, pois foi muito cauteloso ao colocar este último sobre a cerca.
Deixou sua mão perto quando queria fechar a tampa aberta. Aproximou sua mão lenta e
cuidadosamente, então o frasco ao lado caiu. Fülöp não se desesperou, ele voltou a pegá-lo
mais uma vez. Ficou contente de conseguir colocá-lo em cima novamente; sem tirar os olhos,
observa sua obra com excitação. Mari, sua cuidadora, esteve perto dele, arrumando a sala,
mas para Fülöp, não lhe ocorreu pedir ajuda. Finalmente não conseguiu realizar a tarefa que se
havia proposto de fechar a tampa de um dos frascos, mas ele não se entristeceu nem se
desesperou.

A grande vantagem da brincadeira livre não é somente que a criança propõe uma tarefa a si
mesma, mas que ela pode descobrir ter se proposto uma tarefa muito difícil, então pode dar
um passo atrás ou pode modificá-la. O ato de voltar a colocar o frasco em seu lugar também
causou prazer a Fülöp.

Na escola, a cuidadora desempenha um papel importante para que as crianças tenham tempo
suficiente para brincar e movimentar-se e o façam em uma atmosfera pacífica. Faz parte do
seu trabalho garantir que as crianças aproveitem a beleza da brincadeira o maior número de
vezes possível.

A tarefa da cuidadora perante a brincadeira da criança não é de animar, não é ensiná-lo a


brincar, mas sim assegurar as condições necessárias e apoiar com sua atenção as iniciativas da
criança tanto quando estão juntos como quando a criança brinca sozinha.

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