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Como se interage com um bebê? Essa pergunta evoca uma série de ideias.
Olhamos nos seus olhos e sorrimos para eles, pois sabemos da importância do olhar humano
para a constituição subjetiva do bebê.
Falamos num tom melodioso e suave, o famoso mamanhês, pois sabemos da importância da
voz e que ela captura a atenção do bebê.
Falamos muito com eles, aliás, pois sabemos que é assim que eles entram na linguagem.
Seguramos eles longamente no colo, pois sabemos da importância do aconchego para que se
sintam seguros.
Oferecemos brinquedinhos de acordo com a faixa etária. Damos só leite durante um tempo,
depois introduzimos alimentos... enfim, cuidamos, da melhor maneira possível, desse bebê.
Sim, mas qual bebê? Afinal, na contraparte de todos os verbos acima tem alguém que é objeto
dessas ações. E é sempre bom lembrar que esse serzinho gracioso está desde que nasce
ativamente propondo ao mundo formas de interação.
É nessa interação de mão dupla que se forma a coisa mais importante que existe para uma
pessoa em desenvolvimento: o vínculo.
Às vezes pode ser que alguém esteja super disposto a mostrar um lindo brinquedo para um
bebê e este... bem, este só quer saber de brincar com o próprio pé. Sabendo da importância do
olhar para o bebê, buscamos avidamente o contato visual e às vezes... esse bebê vira a cara de
maneira tão contundente que é como se estivesse dizendo com todas as letras: agora não tô
afim. Na maior das boas intenções, o adulto propõe uma interação para encontrar um bebê que
não está interessado.
O contrário também pode acontecer. Um bebê gosta muito de um objeto que lhe foi
apresentado – um mordedor, digamos – e mal começou a explorar esse mundo novo quando o
adulto conclui que tem um outro brinquedo muito melhor, ou que já foi tempo o suficiente com
o brinquedo. (***)
Permitir que o bebê não queira fazer algo quando você quer, ou, inversamente, ser capaz de
mudar o rumo de uma interação em função do que o bebê propõe é extremamente importante
do ponto de vista da construção do vínculo afetivo. Como num diálogo adulto, seguir as
contribuições do bebê nos rumos da interação vai permitir que ele se sinta visto, ouvido e
querido. E como num diálogo, isso é uma construção a dois, que requer escuta de ambos.
Isso vale para todas as crianças, em todos os contextos. Porém, crianças que estão com suas
famílias próprias tem tempo para entender as idiossincrasias de seus pais e criarem seus
próprios recursos para se comunicar com eles, se adaptarem a seu estilo de interação ou
mesmo resistir a este estilo. Crianças em situação de cuidado provisório foram expostas a um
tipo de vínculo, seguido por rupturas, seguido de uma nova oferta de vínculo, com outro(s)
cuidador(es). Vocês podem imaginar a ginástica afetiva que é para uma criança ter que
recomeçar essa atividade relacional!
Costumamos pensar no tempo necessário para que uma criança acolhida se adapte a um novo
lar temporário. O que propomos é que existe, igualmente, uma necessidade de que este lar se
adapte a essa criança, a sua forma de se comunicar, suas singularidades, suas formas de investir
em novas relações e suas perguntas em relação ao mundo. E para fazer isso, é preciso seguir a
iniciativa dessa criança, ou bebê, para tornar esse diálogo afetivo verdadeiramente um diálogo.
Atenção ao tempo
Às vezes um bebê tem um tempo muito mais longo de atenção do que o previsto. É interessante
poder ficar junto com ele durante esse tempo. Pode ser que a criança se entedie rapidamente e
busque outro foco de atenção. Acompanhe-a nesse movimento também.