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LFG – PROCESSO PENAL – Aula 01 – Prof.

Renato Brasileiro – Intensivo I – 29/01/2009

DIREITO PROCESSUAL PENAL

CONTEÚDO DO CURSO – 15 ENCONTROS

I. INQUÉRITO POLICIAL
II. AÇÃO PENAL
III. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
IV. PROVAS
V. PRISÃO

Bibliografia: Pacceli já está atualizado e é um bom livro. Nucci (SP) tem que ser lido com certo
cuidado (posições muito particulares). Olhar para ver se já estão atualizados. Fernando Capez.
Não sei se vale a pena comprar um manual de processo penal este ano porque há dois projetos de
lei quase aprovados no Congresso, um relativo a prisão e outro relativo a recursos.

Obs.: Processo Penal é uma matéria interessante que ganha em relevância devido às alterações
processuais ocorridas no ano passado (2008). O CPP sofreu 3 profundas alterações:

1) Em virtude da Lei de Procedimento – Lei n.º 11.719/08


2) Em virtude da Lei do Procedimento do Júri (Matéria do Intensivo II) – Lei n.º 11.689/08
3) Em virtude da Lei n.º 11.690/08 – alterou o capítulo relativo às provas.

Princípios – O professor prefere abordar os princípios ao longo do curso, do que dedicar uma
aula inteira sobre princípios.

O que for importante da matéria, o professor vai ditar com calma.

I - INQUÉRITO POLICIAL

1. CONCEITO

Quando o Código Penal prevê o crime de homicídio, “matar alguém”, é como se o


Código estivesse dizendo: “É bom que vc não mate alguém porque se vc matar, surge para o
Estado a chamada pretensão punitiva que é o poder-dever do Estado de submeter vc a um
processo penal”.

Eu não posso dar início a um processo penal sem um mínimo de provas. E como eu
consigo esse mínimo de provas? Em regra via IPL. Mas nem sempre. Posso começar com outros
elementos, mas, em regra é isso.

“Procedimento administrativo inquisitório e preparatório consistente em um conjunto


de diligências realizadas pela polícia investigativa para apuração da infração penal e de sua
autoria, presidido pela autoridade policial a fim de fornecer elementos de informação para
que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.”

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 TERMO CIRCUNSTANCIADO ou Termo Circunstanciado de Ocorrência

Se estou falando de IPL também tenho que abordar o chamado “termo


circunstanciado”. Em alguns Estados, “termo circunstanciado de ocorrência”. O TC não tem a
mesma formalidade que o IPL. É quase um boletim de ocorrência.

A questão é: quando eu instauro um inquérito policial e quando eu instauro um termo


circunstanciado?

O termo circunstanciado será usado para as infrações de menor potencial. Hoje, no Brasil,
o que é uma infração de menor potencial ofensivo?

Infração de menor potencial ofensivo: “São todas as contravenções e crimes cuja


pena máxima não seja superior a 2 anos. Tanto faz se cumulada ou não com multa e tanto faz
se sujeitos (em virtude do crime) ou não a procedimento especial”.

Antes, havia essa discussão e houve um entendimento de que se o crime estivesse sujeito
a procedimento especial, não seria infração de menor potencial ofensivo. Hoje isso não tem
relevância. É o que acontece com o porte de drogas para consumo pessoal. É procedimento e é
infração de menor potencial ofensivo.

2. NATUREJA JURÍDICA DO IPL

“É procedimento administrativo.”

Qual é a grande importância disso? É uma só: se o delegado cometer alguma ilegalidade
no inquérito, isso tem o condão de afetar o processo? Essa é a relevância. Só há que se falar em
nulidade no curso do processo. Se é um procedimento meramente administrativo, esses vícios
vão ser uma irregularidade ou uma ilegalidade, mas que de modo algum afetará o processo.
Portanto:

“Eventuais vícios existentes no inquérito não afetam a ação penal a que deu origem.”

Exemplo: Delegado prendeu alguém em flagrante e esqueceu de comunicar o juiz. É uma


grave violação a um dispositivo constitucional. A própria Constituição diz: “a prisão de
qualquer pessoa será comunicada à autoridade judiciária.” E, no caso, qual é a consequência?
Ora, a prisão em flagrante tornou-se ilegal. Exige relaxamento. O que, de modo algum, vai trazer
prejuízo para o processo: O MP pode oferecer a denúncia e o cidadão responderá por ele
normalmente. E por que? Porque é um mero procedimento administrativo e não um processo
jurisdicional.

3. PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL

Fica a cargo da autoridade policial, exercendo as funções de polícia judiciária.


Geralmente, a autoridade policial é determinada pelo local da consumação do delito. Se o crime
ocorreu na circunscrição da minha delegacia, eu autoridade policial, devo investigá-lo. Óbvio

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que essa regra não se aplica às grandes capitais onde há delegacias especializadas para a
apuração de certos crimes.

Nesse ponto surge uma distinção interessante feita por alguns doutrinadores:

A maioria da doutrina usa a expressão polícia judiciária (a que investiga o delito). Porém
alguns doutrinadores a diferenciam de polícia investigativa. É a mesma polícia. Ora exercendo
funções de polícia judiciária, ora de polícia investigativa.

 “Polícia Judiciária – é a polícia que auxilia o Poder Judiciário no


cumprimento de suas ordens.”

Quando um juiz estadual expede um mandado de busca e apreensão, ele vai dar esse
mandado de busca e apreensão para a polícia civil cumprir. Quando a polícia está cumprindo
essa ordem do Poder Judiciário, estará exercendo a função de polícia judiciária porque age a
mando do Judiciário.

 Polícia Investigativa – é a polícia quando atua na apuração de infrações


penais e de sua autoria.

A própria Constituição faz essa diferenciação, colocando em incisos diferentes essas duas
funções:

“Art. 144. § 1º A polícia federal, instituída por lei como


órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social


ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em
lei; (Polícia Federal com função de polícia INVESTIGATIVA).

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia


judiciária da União.”

Atribuições da Polícia Investigativa

SP: Trote em quartel do Exército – Soldados novatos foram amarrados e espancados, lhes
baixaram as calças e usaram um cabo de vassoura. Há crime (lesão corporal, injúria, atentado
violento ao pudor). E quem investiga? De quem é a competência criminal? São soldados (agentes
e vítimas) no exercício da função. Se vc define a competência, fica fácil chegar a quem vai julgar
o crime. Neste caso, de quem é a competência? Da própria Justiça Militar.

Um crime foi praticado. Quem investiga? Vc vai definir isso pela competência. Se o
crime for de competência da Justiça Militar da União, quem investiga? São as próprias Forças
Armadas. Na verdade, nesse caso, vamos fazer o chamado IPM. Há delegado de polícia? Não. O
que há é um oficial das Forças Armadas que é designado como “encarregado”. Às vezes um
coronel médico é designado como encarregado para a condução do inquérito.
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Se o crime for de competência da Justiça Militar Estadual, neste caso, quem investiga o
delito é a própria Polícia Militar, através de um IPM e tendo à frente um encarregado.

Há manuais que dizem que IPL só na polícia civil e na federal. Isso está errado.

Se o crime for de competência da Justiça Federal, ou também da Justiça Eleitoral, quem


investiga? Polícia Federal.

Se o crime for de competência da Justiça Estadual, quem investiga é a Polícia Civil. Só


que aí tem um detalhe interessante. A Polícia Federal também pode investigar delitos que sejam
de competência da Justiça Estadual. É nisso que o aluno erra. Ele acha que as atribuições da
Polícia Federal são idênticas à competência da Justiça Federal. Errado!

As atribuições investigatórias da Polícia Federal são mais amplas do que a competência


criminal da Justiça Federal. É o que diz o o inciso I, § 1º, do art. 144, da CF, segundo o qual
compete à Justiça Federal, entre outras atribuições:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social


ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas (até aqui é
competência da Justiça Federal), assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;”

À Justiça Federal incumbe o julgamento de crime político e de crimes praticados contra


bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas. Pela
própria leitura desse inciso vê-se que as atribuições da polícia federal são mais amplas. A Lei nº
10.446/02 deixa isso claro:

LEI Nº 10.446, DE8 DE MAIO DE 2002.

Dispõe sobre infrações penais de


repercussão interestadual ou
internacional que exigem repressão
uniforme, para os fins do disposto no
inciso I do § 1o do art. 144 da
Constituição.

“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o


Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Na forma do inciso I do § 1 o do art. 144 da Constituição,


quando houver repercussão interestadual ou internacional que
exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia
Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da
responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no
art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias
Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre
outras, das seguintes infrações penais:

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I – seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts.


148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por
motivação política ou quando praticado em razão da função
pública exercida pela vítima;

II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4 o da Lei


8.137, de 27 de dezembro de 1990); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República
Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência
de tratados internacionais de que seja parte; e
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e
valores, transportadas em operação interestadual ou
internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou
bando em mais de um Estado da Federação.
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o
Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros
casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada
pelo Ministro de Estado da Justiça.

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília, 8 de maio de 2002.”

A pessoa tem essa idéia: Violação de direitos humanos. Houve a palavra bonita e acha
que a competência é da Justiça Federal. Violação de direitos humanos é de competência estadual.
Pode ir para a federal no chamado incidente de deslocamento.

O melhor exemplo são essas quadrilhas especializadas em clonagem de cartão. Como elas
operam em vários Estados da Federação, a Polícia Federal acaba investigando. A competência é
da Justiça Federal? Não. Será da Justiça Estadual. Então, as atribuições da Polícia Federal
acabam sendo mais amplas do que a competência criminal da Justiça Federal.

COMPETÊNCIA QUEM INVESTIGA PROCEDIMENTO AUTORIDADE


Própria Corporação – Inquérito Policial Militar –
Justiça Militar Encarregado
Polícia Militar, FAB IMP

Justiça Federal Polícia Federal Inquérito Policial - IPL Delegado

Justiça Eleitoral Polícia Federal Inquérito Policial - IPL Delegado

Polícia Civil
Justiça Estadual Inquérito Policial - IPL Delegado
Polícia Federal

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4. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

4.1. O IPL é uma peça escrita.

“Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só


processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade.”

E gravar o IPL, pode? Hoje temos uma novidade muito interessante: o art. 405, § 1º. O
CPP sofreu uma alteração que é novidade (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008):

“Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo


em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve
resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.
§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do
investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos
meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior
fidelidade das informações.”

Isso, entendam bem, está colocado dentro do processo judicial. Porém, o legislador
acabou usando termos próprios do inquérito policial: investigado, indiciado (estão no inquérito).
No processo é acusado, réu. Agora, alguns doutrinadores já estão dizendo que por conta do § 1º,
eu posso me valer de meio audiovisual para registro.

4.2. Inquérito policial é instrumental.

“Em regra, o inquérito é o instrumento utilizado pelo Estado para colher elementos de
informação quanto à autoria e materialidade do crime. O inquérito é obrigatório (não que deva
sempre existir). Havendo um mínimo de elementos, o delegado é obrigado a instaurar o
inquérito.”

Pergunta-se: a vítima faz um requerimento ao delegado e o delegado indefere. Cabe


recurso?? CABE! Cabe recurso inominado para o Chefe de Polícia (nomenclatura antiga,
ultrapassada). Hoje, na verdade, o Chefe de Polícia em alguns Estados é o Secretário de
Segurança Pública e, em outros, o Delegado Geral (caso de SP). E no âmbito da Polícia
Federal seria o Superintendente da PF no Estado (art. 5º, § 2º):

“§2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá


recurso para o chefe de Polícia.”

4.3. O Inquérito é dispensável.

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O IPL é obrigatório para o delegado, mas não preciso dele para dar início a uma ação
penal. Se o titular da ação penal contar com peças de informação, com provas do crime e de sua
autoria, poderá dispensar o inquérito policial.

Melhor exemplo: Crimes tributários. A Fazenda mastiga tudo. Não precisa instaurar IPL.
Geralmente fraude contra o INSS é investigada via auditoria. Quando ela chega, o Procurador da
República pode deflagrar a ação penal, sem precisar instaurar inquérito porque já tem a prova.

“Art.27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a


iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação
pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a
autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de
convicção.”

Com base nessa espécie de informação, eu já tiver elementos suficientes, eu poso oferecer
a denúncia, mesmo sem inquérito policial.

4.4. O Inquérito é sigiloso.

Apesar do sigilo, quem tem acesso aos autos? O juiz e o MP. E aí vem a pergunta que
pode ser cobrada que é aquela relativa ao advogado: “Advogado tem acesso aos autos de IPL?”
A Constituição, no art. 5º, LXIII, diz o seguinte:

“LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os


quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência
da família e de advogado.”

Se ele tem direito à assistência do advogado, como é que o advogado pode fazer algo se
não tem acesso aos autos? Como impetrar um habeas corpus? Além disso, o estatuo da OAB, no
art. 7º, XIV, diz que ao advogado é assegurado o acesso aos autos. Esse acesso é irrestrito?

O que a jurisprudência tem dito sobre o assunto:

“O advogado tem acesso às informações já introduzidas no inquérito, mas não em


relação às diligências em andamento.”

Se o delegado já juntou aos autos o exame de corpo de delito, se já ouvi uma testemunha,
o advogado tem acesso. Se a diligência está em andamento, não terá acesso, sob pena de ver-se
frustrada a investigação numa interceptação telefônica, numa quebra de sigilo de dados
bancários, etc. Isso é feito em autos apartados.

Logo após esta aula, foi editada a Súmula Vinculante 14, que trata justamente sobre o
tema, confirmando exatamente o que o professor falou sobre o acesso do advogado aos autos do
IPL:

Súmula Vinculante 14: “É direito do defensor, no


interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa”.

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2 julgados sobre o tema: STF: HC 82.354 e HC 90.232.

Foi dito que o estatuto da OAB autoriza o advogado a examinar autos e IPL, mesmo sem
procuração. Detalhe importante: se no IPL houve quebra de sigilo de dados, somente o advogado
com procuração nos autos. No IPL, havendo a quebra de qualquer sigilo, não é razoável que
qualquer advogado tenha acesso, mas só aquele com procuração, sob pena de ferir a intimidade.

Vc é advogado. Chega na delegacia e diz que quer ter acesso aos autos. Aqui na delegacia
quem manda sou eu. Entra na justiça. Qual é o remédio jurídico correto para se ter acesso aos
autos? Mandado de segurança ou habeas corpus? Cuidado pelo seguinte: Se vc entrar com
advogado (discutindo a sua prerrogativa como advogado), o ideal é que vc entre com mandado
de segurança (autoridade coatora cerceando direito líquido e certo do advogado aos autos). E se
entrar com habeas corpus, está errado? Se entrar com habeas corpus não deve entrar como
advogado, mas representando os interesses do cliente. Mas habeas corpus não tutela a liberdade
de locomoção? Acesso aos autos não tem nada a ver com isso?

“Para o STF, sempre que puder resultar, ainda que de modo potencial prejuízo à
liberdade de locomoção, será cabível habeas corpus.”

E é o que acontece no exemplo do professor. Se vc está preso e o delegado está negando


acesso aos autos do IPL,teoricamente, isso traz um prejuízo à liberdade de locomoção do sujeito.

Outro exemplo importante: quebra ilegal de sigilo bancário pelo juiz (caiu no TRF 5ª
Região). Pode impetrar HC? Mas sigilo de dados bancários é direito à intimidade. Se é assim,
entro com MS. O STF entende que pode ir de HC. A quebra ilegal pode ser usada no processo
penal e do processo Penal pode resultar a prisão e é por isso que se pode usar o HC. Então,
cuidado porque o STF tem ampliado demais o uso do HC.

4.5. Inquérito é uma peça inquisitorial (ou inquisitiva).

Aqui não há contraditório. Aqui não há ampla defesa. Esse ponto, só para deixar bem
claro, amanhã se vc for fazer uma pós graduação, mestrado, doutorado, vc vai ver que muitos
doutrinadores e teses acadêmicas dizem que há contraditório e ampla defesa dentro do inquérito,
só que é uma tese bem acadêmica. Para concurso, tem que dizer que o inquérito é inquisitivo
(sem contraditório e sem ampla defesa). Mas no processo, óbvio, a coisa é diferente: há
contraditório e ampla defesa.

Prova disso é o § 1º, do art. 305 (prisão em flagrante), do CPP:

§ 1o Dentro em 24h (vinte e quatro horas) depois da


prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em
flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas e, caso o
autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para
a Defensoria Pública.

No Momento da prisão, se o autuado não informa o nome do advogado, o que o delegado


faz? Tem que remeter cópia à defensoria pública. Se tivesse ampla defesa, eu teria que ter um
advogado presente na lavratura do auto. O advogado não precisa estar presente. Precisa receber

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cópia do IPL. Apesar disso, o IPL continua sendo inquisitorial: sem contraditório, sem ampla
defesa.

4.6. O Inquérito policial é informativo

“Visa à colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da


infração penal”

O professor tem usado muito a expressão “elementos de informação.” Aí surge uma


questão interessante para o concurso: “Qual é a diferença entre elementos de informação e
prova? Ou é tudo a mesma coisa?” Há uma diferença que antes era trabalhada apenas pela
doutrina, mas hoje está no CPP.

 ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO – São aqueles elementos colhidos na fase


investigatória cuja característica é a ausência da dialética, por uma fase inquisitorial. Isso
significa que não há contraditório e nem há ampla defesa. Se é assim, pelo menos em
regra, eu uso esses elementos de informação para quê? Como é possível condenar alguém
com base em elementos produzidos sem contraditório? “Esses elementos prestam-se
para a decretação de medidas cautelares e para a formação da opinio delicti.” Se vc
quiser prender alguém temporariamente, tem que trazer para o juízo alguns elementos de
informação. Se alguma expressão em latim é trazida é porque é usada em prova: Opinio
delicti - opinião, convicção do MP.

 PROVA – aqui o sistema é diferente. Agora, a fase é judicial. E na fase judicial, eu sou
obrigado a respeitar (a própria CF adota) o sistema acusatório. E o sistema acusatório
caracteriza-se pela observância do contraditório e pela observância da ampla defesa.

VALOR PROBATÓRIO DOS ELEMENTOS INFORMATIVOS – eu pergunto: esse


depoimento colhido na fase investigatória (normalmente mais convincente do que aquele colhido
na fase judicial) pode ser usado para fundamentar uma sentença condenatória? Art. 155, do CPP:

“Art.155. O juiz formará sua convicção pela livre


apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.  (Redação dada pela Lei
nº 11.690, de 2008)”

O próprio legislador, quando se refere a prova, ele diz que é aquilo que é produzido sob
contraditório judicial. Teoricamente, se vc ler no manual que o IPL é o instrumento usado para
produzir prova, está errado. Lá há, pelo mesmo em regra, a colheita de elementos informativos.

O advérbio “exclusivamente” tem que ser usado com cuidado.

Para a prova da Defensoria, dizer o seguinte:

 Corrente 01: “Elementos informativos não podem fundamentar uma


condenação, pois não foram produzidos sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa.”

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Por outro lado, vc está fazendo uma prova para delegado, para MP e para magistratura, vc
vai defender a seguinte corrente:

 Corrente 02: “Elementos informativos isoladamente considerados não podem


fundamentar uma condenação (era uma leitura da jurisprudência que o CPP
agora também faz), porém, não devem ser ignorados pelo juiz, podendo se
somar à prova produzida em juízo, servindo como mais um elemento na
formação da convicção do juiz.”

Essa segunda corrente diz o seguinte: não posso condenar alguém exclusivamente com
base elementos de informação, mas nada impede que eu use a prova colhida em juízo e outros
dois ou três elementos colhidos na fase investigatória.

STF (RE 287658 e RE AGR 425734) e também a nova redação do art. 155: quando o
legislador optou pelo termo “exclusivamente”, ele está adotando a segunda corrente.

(fim da 1ª parte da aula)

PROVAS CAUTELARES, NÃO REPETÍVEIS E ANTECIPADAS

 “Provas cautelares: são aquelas em que existe um risco de desaparecimento do


objeto pelo decurso do tempo. Interceptação telefônica e busca e apreensão são
bons exemplos. Nessas provas cautelares o contraditório é diferido (se dá em
momento posterior)”.

Depois da interceptação, quando acabou a diligência, é feito um laudo de degravação.


Depois disso, ela será juntada aos autos e, aí sim, é feito o contraditório.

 “Provas não repetíveis: são colhidas na fase investigatória porque não podem
ser produzidas novamente na fase processual. Também tem contraditório
diferido”

Essa é uma prova colhida na fase investigatória. O melhor exemplo é o exame do corpo
de delito feito no local do crime. Não há como manter esse local fechado aguardando a fase
judicial para realizar a perícia. A prova é produzida na fase investigatória e usada no processo.
Mesma coisa da cautelar: contraditório é diferido. Durante o processo, o advogado se quiser que
faça uma contraprova. Hoje, há a figura do assistente técnico no processo penal (novidade criada
no ano passado).

 “Provas antecipadas – em virtude de sua relevância e urgência são produzidas


antes de seu momento processual oportuno e até antes do início do processo,
porém com a observância do contraditório real”

Cuidado com isso! Os manuais jogam como se as três fossem expressões sinônimas. Não
são. Na prova cautelar e não repetível, o contraditório é diferido. Na antecipada, o contraditório é
real. Qual é o melhor exemplo de prova antecipada? Art. 225, do CPP:

“Art. 225.  Se qualquer testemunha houver de ausentar-se,


ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao
tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício
ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe
antecipadamente o depoimento.”
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Esse é o famoso depoimento AD PERPETUAM REI MEMORIAM – já caiu em prova.


Vc já não existe mais, mas o seu depoimento ficou para o processo e é o que interessa. Na prova
do 225, o contraditório é real, é feita na presença do juiz.

4.6. O inquérito policial é indisponível.

“Delegado não pode arquivar IPL.”Art. 17, CPP:

“Art. 17.  A autoridade policial não poderá mandar


arquivar autos de inquérito.”

Quem arquiva é o juiz mediante pedido do MP.

4.7. O inquérito policial é discricionário.

Como pode ser obrigatório e discricionário? É obrigatório para o delegado que tem que
instaurá-lo diante de um mínimo de prova, mas é discricionário em relação à diligência.

“Em relação às diligências, o inquérito policial é discricionário.”

O delegado na hora de conduzir o IPL não fica vinculado a cumprir toda e qualquer
diligência. A depender da espécie do crime, promoverá as diligências mais oportunas. Art. 14:

“Art.14.  O ofendido, ou seu representante legal, e o


indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será
realizada, ou não, a juízo da autoridade.”

5. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO IPL

A depender da espécie de ação penal, a forma de instauração é diferente:

5.1. Crime de ação penal privada

“No caso da ação penal privada (calúnia, difamação, injúria, etc.), a instauração do IPL
fica condicionada ao requerimento do ofendido ou de seu representante legal. O delegado não
pode instaurar de ofício.”

5.2. Crime de ação penal pública condicionada

Neste caso, o legislador já impõe uma condição. Aqui dependerá: ou

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 da representação do ofendido; ou

 da requisição do Ministro da Justiça (crime contra honra do Presidente da


República) - Somente com a representação ou requisição do Ministro da Justiça é
que o IPL pode ser instaurado.

5.3. Crime de ação penal pública incondicionada

O Estado tem maior liberdade para instaurar o IPL: Assim, pode ser instaurado de ofício
pela autoridade policial que toma conhecimento do fato pessoalmente. Neste caso, vc deve lavrar
uma Portaria. Também se pode instaurar esse IPL mediante requisição do juiz ou do MP, do
próprio ofendido, ou por qualquer do povo.

 Pedido de instauração feito pelo juiz


Juiz que requisita o inquérito é complicado. Por que? Se ele já está requisitando o IPL,
imagina no dia que tiver que sentenciar.

“A doutrina ampla entende que essa requisição do juiz viola o princípio da


imparcialidade. Se vc é juiz, ao invés de requisitar a instauração do IPL é melhor que vc abra
vista dos autos ao MP: Diga o MP”

 Pedido de instauração feito pelo MP

O delegado é obrigado a cumprir requisição do MP? É o tipo de pergunta que vai ter duas
respostas a depender do concurso.

“Diante de requisição do MP, o delgado é obrigado a instaurar o IPL?”

 Prova para Juiz, MP: “Examinador, requisição é sinônimo de ordem, portanto o


delegado está obrigado a atendê-la.”

 Prova para Delegado: “Examinador, requisição não pode ser entendida como uma
ordem pois não há hierarquia (e aí é o detalhe) entre MP e delegado. O delegado
atende à requisição em virtude do princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública.”

 Pedido de instauração feito a requerimento do ofendido

Também é possível um crime de ação penal pública incondicionada em que a vítima


requeira a instauração do IPL.

Auto de prisão em flagrante – seria uma forma de instaurarmos o IPL. É obvio que a
prisão em flagrante é possível em crimes de ação penal privada e nos crimes de ação penal
pública condicionada. Mas nesses dois casos, depende de representação do ofendido. Estuprador
pode ser preso, mas sua prisão em flagrante depende da anuência da vítima.

 Pedido de instauração feito por qualquer do povo – DELATIO CRIMINIS

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Última forma de instauração: notícia oferecida por qualquer do povo – alguém que tome
conhecimento de um crime de ação penal pública incondicionada e comunica à autoridade
policial. Como é conhecida essa notícia oferecida por qualquer do povo? Delatio criminis.

Outro ponto interessante que já caiu em prova objetiva: delatio criminis


INQUALIFICADA ou denúncia anônima (não usar isso na prova por ser termo vulgar). Essa
delatio criminis nada mais é do que a denúncia anônima ou apócrifa. O melhor exemplo, qual é?
Disque-denúncia. O denunciante não se identifica. Pergunta: posso instaurar inquérito com base
em denúncia anônima?

“Denúncia anônima ou delatio criminis inqualificada – antes de instaurar o IPL deve a


autoridade policial verificar a procedência das informações (STJ, HC 74096 e STF HC
84827).”

6. AUTORIDADE COATORA PARA FINS DE HABEAS CORPUS

O IPL foi instaurado contra um sujeito nitidamente querendo prejudicá-lo. O sujeito entra
com HC visando ao trancamento do IPL. Dependendo de como esse IPL tenha sido iniciado, a
depender de como foi isso, a depende da autoridade coatora, a competência para julgar o HC vai
ser de um órgão jurisdicional distinto.

Se tem requerimento do ofendido ou do representante legal dirigido à autoridade coatora


é o próprio delegado. Neste caso, para onde vai o HC? Juiz de primeira instância.

Quando o delegado instaura o IPL por requisição do MP, quem é a autoridade coatora? O
MP. Como o delegado é obrigado a instaurar o IPL, a autoridade coatora é o MP. Se é assim, a
quem pertence a competência para julgar o HC? Vai para o TJ ou TRF (no caso do Procurador
da República).

E no caso da prisão em flagrante? Cuidado! Ela tem dois momentos:

 1ª Fase da prisão em flagrante (ADMINISTRATIVA): Essa primeira fase que


é administrativa, quando o PM conduz o preso até a delegacia da policia civil e o
delegado lavra o APF. Enquanto isso, enquanto está nesta fase, o delegado é a
autoridade coatora, neste caso, quem julga é o juiz de 1º grau.

 2ª Fase da prisão em flagrante (JUDICIAL): Jamais podemos esquecer que a


prisão em flagrante se judicializa e é quando o delegado faz a comunicação ao juiz
(art. 306). Quando o juiz é comunicado e não faz nada, ele tornou-se a autoridade
coatora, razão pela qual o habeas corpus. Deverá ser julgado pelo respectivo TJ
ou TRF. Assim, se eu for entrar com o CH vai ser encaminhado ao TJ ou TRF.

7. NOTITIA CRIMINIS

“É o conhecimento pela autoridade, espontâneo ou provocado de um fato delituoso. É a


notícia do crime.”

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Queixa é a notícia inicial da ação penal privada. Particular tem o carro roubado vai à
delegacia e oferece uma notitia criminis.

Quais são as espécies de notitia criminis? A doutrina a subdivide em:

7.1. Notitia criminis de cognição imediata

Também conhecida como notitia criminis espontânea: “A autoridade policial toma


conhecimento do fato por meio de suas atividades rotineiras.”

Exemplo: delgado de polícia, em ronda, se depara com um cadáver. Está lendo o jornal e
vê uma notícia de um crime. Alguém chega no plantão da delegacia e conta o crime.

7.2. Notitia criminis de cognição mediata

Ou notitia criminis provocada: “A autoridade policial toma conhecimento do fato por


meio de expediente escrito (requerimento da vítima, representação do ofendido, reaquisição do
ministro da Justiça, requisição do promotor, notícia oferecida por qualquer do povo).”

7.3. Notitia criminis de cognição coercitiva

A autoridade policial toma conhecimento do fato pela apresentação do indivíduo preso


em flagrante e o auto de prisão em flagrante vai dar início ao inquérito policial.

8. DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS

Como visto, o delegado tem uma certa discricionariedade com relação às diligências que
serão realizadas. É óbvio que o CPP traz um roteiro. Art. 6º, do CPP:

“Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da


infração penal, a autoridade policial deverá:

8.1. Diligência no local do crime

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se


alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos
peritos criminais;”

O delegado deve preservar os vestígios deixados pela infração penal. Vestígio é sinônimo
de corpo de delito. Qualquer vestígio é corpo de delito, como a porta do carro arrombada, um
copo, sangue na cadeira, etc.

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Perito – basta um, seja oficial, seja não-oficial.

Exceção: Acidente de trânsito com vítima – tem lei antiga que autoriza remoção para não
prejudicar o fluxo de pessoas e coisas – art. 1º, da Lei 5960/73.

8.2. Apreensão de objetos

“II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato,


após liberados pelos peritos criminais;

Feita a apreensão, lavra-se o chamado “auto de apreensão.” Quando alguém é preso em


flagrante, a autoridade policial faz o auto de apreensão discriminando todos os objetos que
estavam com a pessoa. Qual a finalidade do auto de apreensão? Para quê se apreende os objetos?

a) Futura exibição do objeto.


b) Necessidade de contraprova – pode acontecer que amanhã seja necessário fazer
isso, para demonstrar o equívoco do laudo.
c) Eventual perda em favor da União, como efeito da condenação (confisco) –
cuidado com isso! Melhor exemplo: Vários helicópteros da Polícia Federal.

8.3. Colheita de provas e Condução coercitiva

“III - colher todas as provas que servirem para o


esclarecimento do fato e suas circunstâncias;”
“IV - ouvir o ofendido;”

É possível determinar a condução coercitiva da vítima para ser ouvida? Isso acontece
muito. O IPL foi instaurado, a vítima foi intimada para depor e a vítima não compareceu. O
delegado PODE determinar a condução coercitiva da vítima.

Há doutrina que entende que não se pode obrigar a vítima ao exame pericial. É possível a
condução coercitiva para ouvi-la, não para sujeitá-la à perícia após um estupro, por exemplo.

8.4. O interrogatório

“V – ouvir o indiciado, com observância, no que for


aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro,
devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que
Ihe tenham ouvido a leitura;”

Esse inciso trata do interrogatório do acusado. Uma coisa é o interrogatório na fase


policial (sem contraditório e sem ampla defesa). Outra coisa é o interrogatório em juízo.

Interrogatório policial – aqui não há contraditório, não há ampla defesa.


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Interrogatório judicial – aquele feito em juízo. Foi muito alterado em 2003. Hoje, em
juízo, antes de começar o interrogatório em si, tem um ponto interessante chamado de direito de
entrevista com o advogado. Isso é de uma importância fundamental! É vc poder conversar com
o advogado antes do interrogatório para que seja articulada a tese de defesa. Art. 185, do CPP:

  “Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade


judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e
interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
(Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)”

“IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto


de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação
do seu temperamento e caráter.”

O interrogatório será sobre a vida pregressa do acusado, para auxiliar o juiz na hora da
fixação da pena, das circunstâncias judiciárias. Depois, vamos interrogar o acusado sobre o fato
delituoso e, por último, desde 2003, as partes tem direito a reperguntas. Os advogados de defesa
e o MP também podem fazer perguntas ao acusado. Antigamente era um ato privativo do juiz.

Curador para o menor de 21 anos, na hora do interrogatório, continua existindo? Não. A


doutrina é tranqüila. Diante do novo Código Civil que consagra a maioridade aos 18 anos, isso
deixou de ser necessário ao menor de 21. Cuidado para não achar que não existe mais curador.
Ainda é preciso a nomeação de curador para:

 Índios não adaptados e


 Inimputável por doença mental.

8.5. Reconhecimento de pessoas

“VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a


acareações;”

O tema agora é reconhecimento de pessoas e reconstituição do crime. Isso será


aprofundado na aula de provas.

O acusado é obrigado a participar do interrogatório de reconhecimento? Ou o


reconhecimento está abrangido pelo direito ao silêncio, segundo o qual o acusado não é obrigado
a produzir prova contra si mesmo? O reconhecimento é feito colocando-se o acusado entre
pessoas semelhantes. Ele é obrigado a participar do reconhecimento? O direito ao silêncio é
conhecido pelo princípio do nemo tenetur se detegere.

“O acusado não é obrigado a praticar nenhum comportamento ATIVO que possa


incriminá-lo.”

Bafômetro é abrangido pelo direito ao silêncio. O art. 306, do Código de Trânsito foi
alterado. Antes era conduzir veículo sob a influência do álcool. Agora a redação é conduzir
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veículo com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 0,6 decigramas. Isso é
imbecilidade. Se o próprio tipo penal estabelece o parâmetro técnico, não dá para comprovar isso
mediante prova testemunhal. Se eu me recuso a soprar o bafômetro, como comprovar? Não dá.

Voltando ao reconhecimento. O acusado é obrigado a participar? Cuidado! A


reconstituição envolve comportamento ATIVO. E o reconhecimento de pessoas ou coisa não
demanda nenhum comportamento ativo. Ele não faz nada, portanto, não está protegido pelo
direito ao silêncio. Já no caso da reconstituição, como demanda um comportamento ativo, está
protegida ao direito ao silêncio.

“VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame de


corpo de delito e a quaisquer outras perícias;”

8.6. Identificação criminal

“VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo


datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes;”

Próxima diligência: Identificação criminal. Ela envolve dois procedimentos:

 Identificação fotografia
 Identificação datiloscópica

Essa identificação é obrigatória? Cuidado! Antes da Constituição de 1988, essa


identificação criminal era compulsória. Tanto é verdade, que há uma Súmula do STF, 568,
anterior à Constituição, que dizia o seguinte: A identificação criminal não constitui
constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente. Antes,
mesmo com identidade, tinha que sujar as mãos.

Depois da Constituição de 1988, temos uma norma constitucional no rol dos direitos e
garantias individuais, art. 5º, LVIII:

“Art. 5º, LVIII – O civelmente identificado não será


submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas
em lei.”

O que antes era a regra, agora tornou-se a exceção, desde que essa exceção esteja prevista
em lei, porque é norma de eficácia limitada. Que lei é essa que autoriza a identificação criminal?

 Art. 109, do ECA.


 Lei das Organizações Criminosas – art. 5º, da Lei 9.034/95.
 Lei Específica sobre a Identificação Criminal – art. 3º, da Lei 10.054/00.

“Art. 3o da Lei n.º 10.054/00 - O civilmente identificado por


documento original não será submetido à identificação criminal,
exceto quando:

I – estiver indiciado ou acusado pela prática de homicídio


doloso, crimes contra o patrimônio praticados mediante violência
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ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes contra


a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento público
(O estelionato tinha que estar no rol e não está);
II – houver fundada suspeita de falsificação ou adulteração do
documento de identidade;
III – o estado de conservação ou a distância temporal da
expedição de documento apresentado impossibilite a completa
identificação dos caracteres essenciais;
IV – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou
diferentes qualificações;
V – houver registro de extravio do documento de identidade;
VI – o indiciado ou acusado não comprovar, em quarenta e
oito horas, sua identificação civil.”

O ECA é uma lei específica para criança e adolescente, mas a Lei das Organizações
Criminosas é de 1995, enquanto que a de identificação é de 2000 (e não ressalvou a hipótese de
crimes praticados por organizações criminosas).

“Para o STJ, o artigo 5º, da Lei 9.034/95 (Organizações Criminosas), foi revogado pelo
art. 3º, da Lei 10.054/00, que não dispôs sobre a identificação criminal de pessoas envolvidas
com o crime organizado.(RHC 12.965)”

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