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A ATIVIDADE SUCROALCOOLEIRA EM GOIÁS E OS ASPECTOS JURÍDICOS

RELACIONADOS AOS SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS

Márcio Martins Naves Júnior


marciomnj@gmail.com
Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Helena Beatriz de Moura Belle


helenabeatriz@pucgoias.edu.br
Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Resumo
A energia derivada do etanol de cana-de-açúcar passou a ter destaque no cenário nacional e
internacional. O governo brasileiro, objetivamente, tem sido um dos maiores aliados e
incentivadores dessa nova matriz energética, considerada limpa. Os recursos que compõem a
matriz energética de um país devem ser analisados para ser compreendida toda a sua cadeia
produtiva, desde a gênese até sua a entrega ao consumo humano. O Brasil se revela o maior
produtor mundial de cana-de-açúcar, e crescem os discursos em defesa da produção e
expansão de etanol, porém, os impactos ambientais nessa área têm sido ponto de pauta de
críticos e representantes dos governos. Torna-se indispensável e oportuno discutir os
problemas ambientais decorrentes da estrutura produtiva canavieira. Este artigo tem por
objetivo aclarar as consequências dos impactos ambientais provenientes da produção
convencional de cana-de-açúcar em Goiás, sob a ótica do Direito Ambiental brasileiro,
mediante abordagem técnico-científica desses impactos, para conhecer os mecanismos
jurídicos de que se vale o Estado para coibir condutas que afrontam a legislação pertinente.
Para o desenvolvimento do presente estudo adotou-se o tipo de pesquisa qualitativa, com
técnica de leituras em referências bibliográficas primárias, de artigos e de regulamentos
vigentes, também, buscas em sites especializados.

Palavras-chave: Bioetanol de cana-de-açúcar. Impactos ambientais. Aspectos jurídicos.

Abstract
The energy derived from ethanol of sugarcane began to have role in the national and international
scenario. The Brazilian government, objectively, has been one of the greatest allies and supporters of
this new source of energy, considered clean. The energetic resources that makes the energetic matrix
of a country should be analyzed during the whole process, from its inception until its disposal for
human consumption. Brazil is revealed as the world's largest producer of sugarcane, and growing
discourse to defend the production and expansion of the ethanol, however, the environmental
impacts in this area have been the subject of critics and government representatives. It is
indispensable and appropriate to discuss the environmental problems of the sugarcaneproduction
structure. This paper aims to clarify the consequences of the environmental impacts of conventional
production of sugarcane in the State of Goiás, in perspective of Brazilian Environmental Law, making
an approach through technical and scientific insights of the impacts from this productive process and
identify the legal mechanisms that relies on the State to restrain behaviors that violate the law
concerning this matter. For the development of this study, it was adopted a qualitative
research, with reading techniques of primary references, articles and existing regulations,
and also specialized searchsites.

Keywords: Bio-ethanol of sugarcane. Environmental impacts. Society.


Introdução

Por muito tempo o mundo utilizou como única fonte de matriz energética os
combustíveis natureza fóssil como sinônimo de desenvolvimento. Imaginava-se que
surgissem de fontes inesgotáveis. O crescimento econômico, populacional e tecnológico dos
países fez emergir de forma mais agressiva o aumento do consumo de tais recursos
energéticos e, por conseguinte, o surgimento dos primeiros problemas relacionados ao seu
uso.
Combustíveis até então tidos como infinitos foram explorados exaustivamente pelo
homem até sua redução drástica, implicando disputas, às vezes, sangrentas por sua posse e
aumento de preço.
A considerar não somente a escassez dos recursos energéticos, também, e
notadamente, os efeitos da transformação dos elementos em energia e a liberação de gases
tóxicos poluentes oriundos de sua combustão, responsáveis pelas mais diversas alterações no
meio ambiente, existe motivo de grande preocupação para a sociedade e para os operadores
do direito.
Nesse contexto em que desenvolvimento e proteção ao meio ambiente (base essencial
para a vida humana) estavam trilhando caminhos diametralmente opostos, o Governo Federal
brasileiro passou a desenvolver uma política energética, tida como limpa, pautada em recursos
naturais renováveis, de baixo custo de produção, que resultaria na diminuição do êxodo rural
com a fixação e inclusão social do homem no campo, além de reduzir a dependência do país
com relação aos combustíveis de natureza fóssil.
Dessa forma, foi implantada no Brasil a agroindústria sucroalcooleira, movida por
megafinanciamentos governamentais, com o intuito de agregar um novo recurso energético à
matriz até então deficitária. As usinas de cana-de-açúcar se espalharam por todo o país,
chegando a Goiás e trazendo, além da promessa de prosperidade, grandes problemas para a
área ambiental, dada a crescente instalação de unidades de produção.

Origem da cana-de-açúcar e sua introdução no Brasil e expansão em Goiás

A cana-de-açúcar é uma planta da família das gramíneas e da espécie sacharum


Officinarum L., proveniente da Ásia Meridional, mais precisamente da Ilha da Madeira. De
acordo com Junqueira (2006), o ser humano estabeleceu seu primeiro contato com a cana-de-
açúcar na Nova Guiné, sendo depois espalhada pela Índia.
No Brasil, as primeiras mudas que chegaram para abastecer o setor açucareiro foram
identificadas em meados do século XVI; o português Martin Afonso de Souza, em 1552,
trouxe-as da Ilha da Madeira, e foram cultivadas na Capitania de São Vicente.
A partir do Regime Imperial, no fim do século XIX, teve início o processo de
modernização agroindustrial. Com isso, criaram-se engenhos centrais e, consequentemente,
aumentou o número de fornecedores de cana e a concentração em unidades maiores de
produção.
Na década de 1930, época de intervencionismo estatal intenso, o setor agroindustrial
canavieiro teve sua estrutura produtiva reorganizada, com a criação do Instituto Açúcar e
Álcool (IAA). Em 1973, após a II Guerra Mundial, ocorreu a crise do petróleo, provocada
pelo embargo dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP) e em pouco mais de sete anos o preço do barril de petróleo praticamente triplicou. No
Brasil, em 1975, durante o governo ditatorial de Ernesto Geisel, por meio do Decreto nº
76.593/1975, criou-se o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) – com o intuito de
substituir o petróleo por outras fontes de energia, resolver o problema interno de
abastecimento e, conforme Cortez et al. (2009), criar um pulmão para o setor açucareiro,
capaz de absorver os excedentes da produção de açúcar ao convertê-lo em álcool.
Assim, o início da utilização do etanol como combustível, no Brasil, data de 1931,
com a instituição do procedimento de adição de 5% de etanol à gasolina e sua efetiva
incorporação aos recursos energéticos brasileiros, a partir de 1975 com a criação da Proálcool.
Com o Proálcool, aumentou-se para 10% a participação do álcool na gasolina e o
incentivo às vendas de automóveis movidos por esse combustível. A partir de então, a cana-
de-açúcar passou a ter um crescimento vertiginoso no território nacional. Atualmente, é
responsável por 22% do etanol presente na composição da gasolina.
O Brasil é destaque no cenário mundial e lidera a produção de cana, etanol e açúcar,
com aproximadamente 572,7 milhões de toneladas, 27,7 bilhões de litros e 31,3 milhões de
toneladas, respectivamente, na safra 2008/2009 (MAPA, 2009).
Schlesinge (2008) assevera que o setor sucroalcooleiro passa por um momento de
intensa euforia. Nos próximos seis anos, o país receberá investimentos da ordem de 14 bilhões
de dólares. Isso fará com que a produção de etanol salte de 18 bilhões para 35,7 bilhões de
litros por ano. Nesse ritmo, a produção será suficiente para atender o mercado de 7 bilhões de
litros destinados a exportação e 28 bilhões de litros para o consumo interno no decorrer dos
anos 2012 e 2013.
Toda essa produtividade é assegurada por meio de extensas plantações de cana
(monocultura) em grandes propriedades (latifúndios), concentradas nos arredores das usinas
de beneficiamento.
A Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (2010) revela que,
atualmente, a matriz energética brasileira é composta por 46% de energia renovável, ante os
12,9% no mundo e apenas 6,7% nos países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), fazendo do Brasil o segundo maior produtor de etanol
e o principal exportador mundial do produto.
Em Goiás, o Proálcool contribuiu diretamente para o crescimento de agricultura e
ocupação do estado, iniciada na década de 1930, com a implementação da Política do
Governo Vargas, denominada Marcha para o Oeste.
A instalação de usinas, principalmente as mais antigas, ocorreu por incentivo do
Fundo de Participação e Fomento à Industria do Estado de Goiás (Fomentar), criado para
promover a implantação, com êxito, dessas sociedades, com o objetivo de industrializar o
estado. Com tais ações, as usinas de álcool foram mudando o cenário do Estado de Goiás, que
era, predominantemente, marcado pela criação de gado e pelo cultivo de lavouras brancas
(arroz, feijão, milho).
O Estado de Goiás, explica Santos (2008), tornou-se um importante produtor de cana-
de-açúcar, em virtude dos fatores econômicos (terras de baixo custo, incentivo
governamental), estruturais (boa malha rodoviária, infraestrutura implantada) e geoambientais
(solos férteis, disponibilidade hídrica, clima com estações bem definidas, e declividade
favorável à colheita da cana).
Atualmente, a produção sucroalcooleira experimenta seus momentos mais promissores
desde a sua implantação no Brasil e em Goiás. Os investidores de vários países e estados, com
foco no cenário promissor, aproveitam a conjuntura política e econômica interna do país e de
Goiás, no sentido de impulsionar a interiorização da cana-de-açúcar em áreas de todos os
municípios, às vezes inapropriadas e sem analisar as consequências ambientais.
Os principais fatores responsáveis por alavancar a expansão sucroenergética no Brasil
e em Goiás concentram-se na escassez do petróleo, seu alto custo de produção e intensas
flutuações em seu preço no mercado internacional. Por outro lado, surge a necessidade de
produzir uma energia limpa, renovável, de baixo custo de produção, para atender as
necessidades energéticas emergentes do país. Na contramão, existem os programas para
reduzir a emissão de poluentes atmosféricos decorrentes da queima de combustíveis fósseis e
também os efeitos da utilização exageradas dos motores flexíveis quanto ao consumo – flex
fuel, somados à necessidade de conter o êxodo rural com a geração de renda para o homem do
campo, proporcionando sua permanência no meio rural.
O certo é que a cultura da cana-de-açúcar está presente em quase todos os estados da
federação, ocupando, conforme Carvalho (2007), cerca de 9% da superfície agrícola do
Brasil, exibindo terceiro lugar no ranking nacional de área plantada, perdendo apenas para o
cultivo da soja e do milho.
Com a implantação da agroindústria sucroalcooleira em Goiás, seus impactos foram e
são facilmente percebidos na vida da comunidade do interior do estado. As 36 usinas
instaladas (e mais 22 em fase de implantação) de acordo com Messac (2010) geram
expectativas e chamam a atenção para novos investimentos. A Secretaria de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás (SEAGRO) divulgou a produção canavieira,
revelando um aumento de mais de 20% em relação à safra 2008/2009, com estimativas de que
o Estado receba um montante estimado em cerca de 5 bilhões de reais em investimentos no
setor sucroalcooleiro.
As usinas estão espalhadas ao longo do território goiano concentradas, sobretudo, em
regiões nas regiões do sudoeste e centro goiano, em maior número no Vale do São Patrício.
Cidades como Acreúna, Caçu, Jataí, Rio Verde, Serranópolis, Quirinópolis, Itumbiara,
Itapaci, Itapuranga, Rubiataba e Carmo do Rio Verde tiveram suas rotinas modificadas em
meio aos canaviais que passaram a compor o cenário, até então marcado pela pecuária e
cultivo de lavouras de soja, algodão, milho, arroz e feijão.
Segundo relatório divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB),
em 2007, a área plantada de cana-de-açúcar poderá aumentar de 200 mil hectares para cerca
de 400 mil (10o%) nas terras agricultáveis do estado.
O sucesso conquistado nessa área industrial favorece o consumo e alavanca a
economia. Mas os danos ao meio ambiente e, por conseguinte, às pessoas, tano na região
como mundialmente, é visível e angustiante. A situação se agrava quando não há controle da
autorização para funcionamento e expansão em termos de produção em cada um dos
complexos industriais, penalizando sobremaneira as condições de vida da população. As
constantes ocorrências, das mais variadas, como tempestades, chuvas ácidas, efeito estufa,
vendavais, furacões, secas, inundações, erosões, assoreamento e desertificação, tudo isso
causa grandes prejuízos às cidades e à população. O que se percebe é a falta de
conscientização tanto dos empresários, como do governo e dos usuários dos recursos.

Necessidade da tutela ambiental

A partir da década de 1980 a legislação ambiental brasileira foi aprimorada com


fundamento nas problemáticas apresentadas e discutidas na Conferência de Estolcomo. No
arcabouço normativo nacional, foram criadas a Lei nº 6.938/1981, que instituiu o Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e a Lei nº 7.347/1985, que norteou ações civis
públicas como instrumento legal para a defesa do meio ambiente e outros interesses difusos e
coletivos; a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e, por fim, a Lei 9.605/1998, que versa
sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.
Com o advento da CF/1988, foram criadas políticas e meios processuais voltados para
a tutela ambiental. Com isso, a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado passou a
ter status de direito humano fundamental de terceira dimensão. Em outras palavras, o meio
ambiente assiste de modo subjetivamente indeterminado a todo gênero humano, fato que gera
ao Estado e à coletividade, obrigação especial de defendê-lo e preservá-lo em prol da
sobrevivência das presentes e futuras gerações.
A CF/1988, em seu art. 225, dispõe:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

Nesse sentido, a CF/1988 criou competências legislativas concorrentes, dando


prosseguimento à Política Nacional de Defesa Ambiental – Lei nº 6.938/1981 –,
recepcionando-a em plenitude com vistas à preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, no sentido de assegurar, no país, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana.
Sabe-se que a aplicabilidade dessas normativas dependerá, muito mais, de um intenso
trabalho de conscientização da comunidade e de um esforço coletivo dos representantes
governamentais, para a preservação e zelo do meio ambiente, sem perder de vista o progresso,
a economia e a globalização dos estados e do País.
A conscientização está diretamente relacionada à compreensão dos significados e das
determinações legais vigentes. A Lei nº 6.938/1981, art. 3º, inciso I, apresenta o Direito
Ambiental como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”
Todavia, no campo conceitual de Direito Ambiental, verifica-se que há subjetividade
na legislação, e isso se confirma com a conceituação de Silva (2000), ao afirmar que significa
“a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais, e culturais que propiciem o
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.”
Dessa forma, o conceito de meio ambiente e da própria existência do homem e dos
demais seres não é distante ou separável, uma vez que o homem e os demais seres são
elementos integrantes do meio, assim sendo, a qualidade do meio ambiente influencia
diretamente na qualidade de vida. É necessário, portanto, que o homem assuma seu papel de
protetor do local onde vive e não seja apenas mero expectador, inserido num cenário de
destruição causada por seus semelhantes.

Princípios do Direito Ambiental

Os dispositivos constitucionais revelam o nível de importância, especialmente, no que


se refere aos preceitos norteadores das ações e compreensões dos assuntos relacionados
diretamente ao direito ambiental, e enumeram os seguintes princípios: princípio do
desenvolvimento sustentável, princípio do poluidor pagador, princípio da participação
princípio da prevenção.
O princípio do desenvolvimento sustentável está disposto na CF/1988, no caput do
art.225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado [...], impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e futuras
gerações.”
Sobre o tema, leciona Antunes (2001) que “o desenvolvimento sustentável é aquele
que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades.”
Verifica-se que, para efetividade do direito ao meio ambiente equilibrado, é
necessário, antes de tudo, implementar a compatibilização entre a preservação do meio
ambiente e a continuidade do desenvolvimento econômico e tecnológico. O desenvolvimento
sustentável pressupõe a exploração consciente e equilibrada dos recursos naturais, tendo como
parâmetro a satisfação dos anseios das presentes e futuras gerações.
A economia mundial, na atualidade, está fundamentada em uma política de
crescimento, baseada na busca sem medidas do lucro, dos ganhos financeiros, em detrimento
de outros elementos que estão diretamente relacionados à existência da vida. Salienta-se que a
busca do crescimento econômico, apenas, condicionando todas as soluções à evolução
tecnológica e aos ganhos comparativos, é o rumo exatamente oposto ao caminho do
desenvolvimento com sustentabilidade.
É necessário considerar que o etanol vem contribuindo para a redução dos gases
relacionados ao efeito estufa, e, o caminho da sustentabilidade perpassa pela redução de tais
gases, para alcançar melhores condições de emprego, manutenção da biodiversidade
ecológica e conservação dos recursos naturais, que são finitos, como a água, o solo e o ar.
Acreditar em um desenvolvimento rural sustentável implica focar-se em objetivos, com a
consciência de que estes serão alcançados desde que ocorra uma reestruturação econômica,
acompanhada de educação e conscientização ambiental.
O princípio do poluidor pagador está previsto na CF/1988, artigo 225, § 3º, que
dispõe: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
de reparar os danos causados.”
Assim, empresários, sociedades empresariais e demais organizações econômico-
financeiras, ou sem fins lucrativos, deverão estar envolvidos no processo de preservação e
educação ambiental.
O princípio da participação, conforme Fiorillo (2010), constitui um dos elementos do
Estado Social de Direito, e, para que se desenvolva, é necessária a efetivação de dois
elementos fundamentais: a informação e a educação ambiental, que se estabelecem numa
relação de complementaridade.
Deve-se levar em consideração a efetividade da preservação ambiental, com uma
melhor conscientização ecológica, pois o meio ambiente compõe o patrimônio da
coletividade, não podendo, assim, dispor-se, livremente e de maneira irresponsável, dos
recursos. Existem interesses mais amplos e coletivos que não podem e não devem ser
violados, sob pena de comprometer a existência desses recursos, à disposição da atual
geração, para as gerações vindouras.
O princípio da prevenção está disposto na CF/1988, artigo 225, que determina, como
dever do poder público e da coletividade, proteger e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações. Ademais, deve-se levar em conta que grande parte dos danos
ambientais são irreparáveis, ou, a mais grave e, irreversíveis.

Danos ambientais causados pelo setor sucroalcooleiro em Goiás

A implantação das usinas canavieiras pelo interior do Estado de Goiás trouxe, além da
promessa de prosperidade, inúmeras alterações nos cenários interioranos, principalmente no
que tange ao meio ambiente. A substituição do cerrado nativo pela monocultura da cana, a
contaminação do ar e da água, a redução da biodiversidade causada pelo desmatamento e
implantação da monocultura, assoreamento de corpus d’água, a degradação de áreas de
preservação permanente e de matas, as queimadas, a emissão de fuligem e fumaça, o
agravamento das condições climáticas (com aumento da temperatura nas madrugadas e a
diminuição da umidade do ar), a eliminação das biotas e dos mananciais, o aumento do uso da
água, a elevação do número de mortes de animais, problemas com efluentes e poluentes,
desertificação, erosões, dentre inúmeras outras alterações ambientais, fizeram com que o
estado viesse a atuar no sentido de combater tais impactos.
Podem-se enumerar como principais causadores de danos ao meio ambiente os
seguintes fatores: queimadas, poluição do solo e das águas e expansão sobre o bioma cerrado.
Dentre todos os impactos ambientais gerados pela agroindústria sucroalcooleira, a
mais controvertida e discutida tem sido a prática da queima da palha utilizada como
facilitador da colheita. Essa atividade causa efeitos negativos provenientes da combustão
incompleta da palha da cana-de-açúcar, que gera substâncias tóxicas degradadoras do meio
ambiente, podendo-se citar o monóxido de carbono e o ozônio, que provocam poluição
atmosférica e incômoda à população, notadamente nos períodos mais secos do ano, quando as
condições climáticas estão desfavoráveis à dispersão dos poluentes, além do lançamento na
atmosfera de partículas conhecidas como carvãozinho.
O carvãozinho consiste num particulado liberado pelas queimadas e que possui em sua
composição química hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Essa substância, mesmo em
concentrações reduzidas no ar, possui propriedades cancerígenas e agravam os problemas
respiratórios.
As queimadas prejudicam o crescimento das plantas e o desenvolvimento de outras
culturas circunvizinhas, além de incinerar a fauna silvestre.
No sentido de coibir as queimadas, a CF/1988, artigo 170, inciso VI, dispõe sobre a
ordem econômica:
Art.170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação.

Cumpre ressaltar, também no mesmo diploma legal, o artigo 186, I e II, que orienta:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;

Na mesma direção, a Lei nº 6.938/1981, artigo 14, determina:


Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção
dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental
sujeitará os transgressores:
(...)
IV - à suspensão de sua atividade.
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

A mesma lei traz em seu corpo definições importantes para o contexto:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de


ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características
do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;
Nessa esteira, o Código Florestal da União (Lei nº 4771/65) dispõe sobre o assunto em
seu art.27:

É proibido o uso de fogo nas florestas e demais formas de vegetação.


Parágrafo único. Se peculiaridades locais ou regionais justificarem o
emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, a permissão será
estabelecida em ato do Poder Público, circunscrevendo as áreas e
estabelecendo normas de precaução.

A Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), artigo 54, leciona:

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou
possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade
de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a
quatro anos, e multa.

As queimadas da palha da cana-de-açúcar causam impactos ambientais que afetam a


sustentabilidade até mesmo da própria cultura, uma vez que, no solo, o fogo altera as
composições químicas, físicas e biológicas, elimina microorganismos úteis, deixa o solo
desnudo, prejudicando, dessa forma, a reciclagem de nutrientes e, por conseguinte, seu
empobrecimento.
Conforme dispositivos constitucionais, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito
Federal podem legislar concorrentemente quando o assunto for meio ambiente e, sendo de
competência da União, torna-se fundamental o estabelecimento de normas gerais de aplicação
em todo o território nacional, e cabe aos municípios definirem normas de interesse local.
Nesse sentido, leis municipais que versem sobre o conteúdo ambiental podem ser mais
restritivas que as leis federais, todavia, as primeiras não podem ser mais permissivas que as
últimas.
Nesse enfoque, existe em Goiás a Lei 15.834/2006, que dispõe sobre redução
gradativa da queima da palha de cana-de-açúcar em áreas mecanizáveis, e estabelece em seu
artigo1º:
Art. 1°. Os plantadores de cana-de-açúcar que, utilizem como método de pré-
colheita a queima da palha em áreas mecanizáveis, são obrigados a reduzirem
gradativamente o uso do fogo com método despalhador e facilitador do corte,
nos seguintes prazos e percentuais:
I – 1º ao 5º ano (2008 - 2012) - 10% da área cortada;
II – 6º ao 10º ano ( 2013-2017) – 25% da área cortada;
III – 11º ao 15º ano (2018 – 2022) – 50% área cortada;
IV – 16º ao 20º ano (2023 – 2027) – 75% da área cortada
V – 21º ano (2028) – 100% da área cortada;
Verifica-se que a permissão para as queimadas da cana-de-açúcar implica contribuir
para a destruição do planeta. Por essa razão, ainda que existam normas de natureza
constitucional e ordinária, vem ocorrendo em Goiás o ajuizamento de ações civis para coibir
tais condutas, que causam danos irreparáveis ao meio ambiente e à saúde humana.
A poluição do solo e das águas ocorre durante o processo de produção do etanol, do
qual resulta a vinhaça, um resíduo químico escuro, de forma líquida, produzido em alta
proporção (aproximadamente treze vezes superior à quantidade de álcool), altamente
corrosivo.
Melissa et al. apud Freire e Cortez (2000) ressaltam que a vinhaça
é caracterizada como efluente de destilarias com alto poder poluente e alto
valor fertilizante. O poder poluente, cerca de cem vezes maior que do esgoto
doméstico, decorre de sua riqueza em matéria orgânica, baixo pH, elevada
corrosividade e altos índices de demanda bioquímica de oxigênio (DBO),
além de elevada temperatura na saída dos destiladores. É considerada
altamente nociva à fauna, flora, microfauna e microflora das águas doces (...).

Até a década de 1970, o resíduo possuía uma destinação certa: ser despejado em rios
ou armazenado em represas de contenção. Em 1978 foi proibido o seu despejo nas águas pela
Portaria nº 323, do Ministério do Interior. Atualmente, a vinhaça é direcionada in natura para
a biofertirrigação e da em áreas de cultivo, por meio de canais, para irrigar as plantações de
cana-de-açúcar e incorporar nutrientes ao solo.
O descarte do vinhoto, todavia, ocorre principalmente por meio de canais abertos em
meio às plantações. Com isso ocorre sua infiltração nas águas subterrâneas, comprometendo
sua potabilidade, uma vez que transfere para o lençol freático altas concentrações de amônia,
magnésio, alumínio, ferro e matéria orgânica.
Ressalta-se que o uso da vinhaça, quando feito de maneira incorreta, além de provocar
mau cheiro, escorre pelos terrenos cultivados, atingindo os lençóis d’água que ficam na parte
inferior e que a proliferação de micro-organismos, além de consumir o oxigênio dissolvido na
água destruir a fauna e a flora aquáticas.
Existem, hodiernamente, parâmetros sugeridos pela Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) para a utilização da vinhaça na
biofertirrigação, requerendo estudos de caracterização do solo e da vinhaça, no sentido de
minimizar os impactos ambientais decorrentes de sua utilização, como, por exemplo, a
saturação do solo e a contaminação dos lençóis freáticos pelo uso indiscriminado dessa
técnica. Entretanto, nem sempre tais parâmetros são observados pelas usinas, o que resulta em
graves problemas ambientais.
A Resolução CONAMA nº 01/1986 em seu inciso XII, relaciona as atividades que
dependem dos estudos de impactos ambientais e dos relatórios de impactos ao meio ambiente,
dentre várias delas, estão as destilarias de álcool. Assim, os empreendimentos
sucroalcooleiros, por se valerem de recursos ambientais considerados potenciais poluidores,
devem, antes de iniciarem suas atividades, obter o Licenciamento Ambiental a fim de
regularizar as suas respectivas atividades.
Ainda não existe uma no Brasil política direcionada para o uso de resíduos, porém
existem leis e decretos que devem ser obedecidos para a utilização de resíduos
agroindustriais. Deste modo, citam-se o código das águas (Decreto 24.643/1934), que
resguarda as águas contra a disposição de poluentes, e o Código Florestal (Lei 4.771/1965),
que fixa o limite mínimo de 20% de cobertura arbórea na parte sul da região centro-oeste. O
Código Florestal, art. 2º, determina:

Art. 2. As larguras mínimas das faixas de mata ciliar, de acordo com as


larguras dos cursos d’água, não permitindo, assim, que grandes plantações
sejam locadas em suas margens e nascentes, visando a minimização de
problemas de contaminação das águas.

Mesmo diante da legislação que determina proteção às águas com cobertura arbórea, o
que se observa é um misto de descaso, tanto por parte das usinas que se instalam, com suas
plantações de cana-de-açúcar, às margens dos cursos d’água, quanto do Estado, cuja
fiscalização é ineficiente e permissiva em defesa de um utópico desenvolvimento à custa da
degradação ambiental.
No que se refere à expansão sobre o bioma cerrado, com abundância de terra
agricultável e solo fértil, Goiás vem sendo considerado o celeiro da produção de etanol no
Brasil. O bioma cerrado abrange cerca de dois milhões de quilômetros quadrados e faz
conexão com outros biomas, como a Amazônia, a Mata Atlântica, o pantanal e a caatinga, que
ocupam, em Goiás, cerca de 97% de sua área .
Mesmo diante de tamanha dimensão territorial, Macedo (2005) relata que nas últimas
décadas, devido ao avanço da pecuária, o cerrado vem tendo sua área reduzida de forma
acelerada, a uma taxa estimada em 3% ao ano, estando já totalmente destruída, pelo menos
50% de sua cobertura original.
Em Goiás, a estimativa da área total a ser utilizada no cultivo da cana-de-açúcar para a
safra 2010/2011 é de aproximadamente 601,2 ha, o que corresponde a 27,4% de aumento em
relação à safra 2009/2010, de 471,9 ha (CONAB, 2010). Com o aumento da área cultivada,
cresce também a preocupação ambiental com relação à expansão dos canaviais pelo bioma
cerrado.
Segundo Macedo (2005, p.128) “as últimas décadas [...] com o avanço tecnológico da
pecuária, o cerrado vem tendo sua área reduzida a uma taxa acelerada, estimada em 3% ao
ano, sendo que pelo menos 50% do cerrado original já foi totalmente destruído.”

Muito embora seja divulgado que a cana é direcionada para áreas que já sofreram o
processo antrópico, como áreas marginalizadas, pastagens degradadas, o que se tem
observado é a expansão da atividade canavieira migram para áreas de melhores condições de
produção.
Nesse sentido, Johansson e Azar (2007) apud Martha Júnior (2008), afirmam que os
produtores/empresas rurais, no que tange à alocação de terras, maximizam seus lucros e, para
tanto, utilizam a terra potencialmente mais rentável, não vislumbrando, dessa forma, que a
terra degradada ou em processo de degradação e de baixa qualidade possa ser a mais rentável.
Silva e Miziarra (2010) identificaram dados importantes em relação à expansão da
atividade canavieira pelo interior de Goiás. Os autores afirmam que a área utilizada para a
expansão da cana corresponde a 15% e 6%, respectivamente, da formação de cerrado e mata,
e apenas 12% expandem para áreas de pastagens.
Os autores ainda apontam duas situações contrastantes entre si: na porção norte, a
expansão se dá predominantemente sobre o cerrado, e na sul, em substituição a áreas
agropecuárias.
Percebe-se que no tocante às áreas ocupadas com outras formas de uso, que perdem
lugar para o cultivo da cana-de-açúcar, a agricultura aparece em primeiro lugar, cedendo
14,38% de sua área; em seguida vem o cerrado, perdendo 7,69%,; as áreas de mata (áreas de
não cerrado situadas na porção sul do estado), perdendo 4,81%; e, por fim, a pecuária, que
cede 3,67% de área..
Segundo Gomes (2010), até 2035 o Bioma Cerrado deverá perder cerca de 6 mil
hectares para a cultura canavieira, em termos de novos desmatamentos; e, no que diz respeito
às áreas destinadas a outras atividades produtivas, como agricultura, pastagens e
reflorestamentos, é possível que mais de 100 mil hectares sejam convertidos em áreas para a
produção de etanol. Isso corresponde a uma expansão de 31.324 hectares (2007) para 145.575
hectares (2035), um salto de 365% em relação ao total.
O bioma cerrado vem sendo ocupado de forma silenciosa e ocultada por falácias; em
defesa de interesses de poucos, a expansão sucroalcooleira se dá em áreas de pastagens
degradadas ou que já passaram por um processo de transformação humana causando um
gradativo desequilibro no meio ambiente.
Mecanismos de controle dos impactos negativos da atividade sucroalcooleira

Diante de todos os problemas enumerados neste estudo, começaram a surgir leis


municipais para limitar a expansão no cultivo da cana-de-açúcar e proibir sua queima. São
decisões judiciais que surgem para impedir as queimadas, e, recentemente, em o STF admitiu
repercussão geral no Recurso Extraordinário nº 586.224, de12 de dezembro de 2008, que
versava sobre o controle incidental de constitucionalidade de uma lei municipal de Paulínia-
SP, tendo em vista que a referida norma proíbe radicalmente a queima da cana-de-açúcar, ao
passo que a constituição estadual permite tal prática, desde que esteja dentro dos padrões
exigidos no controle ambiental.
Por sua vez a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e a Agência
Goiana de Meio Ambiente, criaram, conjuntamente, a Instrução Normativa nº. 001/2007, que
define critérios e procedimentos para o licenciamento ambiental de forma sustentável, além de
implantar o Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar, no intuito de proteger áreas que
são impróprias para a atividade agrária.
Em 2006, o Poder Legislativo goiano aprovou a Lei nº 15.834, tendo por objetivo a
eliminação gradativa das queimadas. Todavia, a referida lei mostrou-se insuficiente quando
aplicada ao combate à queima da palha da cana, uma vez que acabou legitimou a queima em
áreas inferiores a 150 hectares, permitindo esse procedimento até 2028 nas áreas
mecanizáveis, nos limites estabelecidos nesse regulamento. Essa lei acabou por limitar a
proteção estabelecida pela Lei Federal nº 6.938/1981, que veda a utilização de fogo em
vegetações, exceto em casos excepcionais. O procurador geral de justiça interpôs Ação Direta
de Inconstitucionalidade, tendo por objeto a Lei Federal nº 15.834/2006. Julgada em 2009, a
Corte Especial decidiu parcialmente procedente a ação de inconstitucionalidade arguída, e
acolheu a inconstitucionalidade quanto ao ponto de elevação do limite temporal destinado ao
encerramento do processo de mecanização do método despalhador da cana-de-açúcar,
estendido para tempo muito superior àquele declinado em norma de caráter geral.
Somando-se a isso inúmeros municípios goianos aprovaram leis vedando a queima da
cana. Dentre eles, encontram-se: Ceres (Autógrafo de Lei n° 024/07), Uruana (Lei nº
1.035/2007), Nova Glória (Lei nº 458/2007), Rianápolis (Lei nº 880/2007), Santa Izabel (Lei
nº 444/2007), Nazário (Lei nº 179/2008), Pilar de Goiás (Lei nº 002/2008), Santa Rita do
Araguaia (Lei nº 1.185/2007), Marzagão (Lei. nº 645/2007), Goiandira (Lei nº 1.117/08) e
Rio Quente (Lei nº 482/07). Não proibindo as queimadas, mas limitando as áreas para
expansão do cultivo da cana, entra em cena os municípios de Rio Verde (Lei nº 5.206/2006) e
Chapadão do Céu (Lei nº 681/2008).
No sentido de coibir condutas que afrontam a legislação ambiental, o Ministério
Público dentro de suas atribuições legais, vem atuando com mecanismos coercitivos. Por
exemplo, nas cidades de Cabeceiras e Piracanjuba, foram firmados Termos de Ajustamento de
Conduta, no sentido de prevenir e afastar os danos ambientais causados pelas queimadas,
determinações que estão sendo cumpridas sob pena de pagamento de multas diárias.

Considerações finais

A sociedade moderna tem vivenciado o agravamento dos problemas relacionados às


questões ambientais, ao mesmo tempo em que se dá conta da existência de limites em suas
reservas de recursos naturais, sejam eles energia, água ou metais. Nesse cenário, a energia
desempenha um papel de destaque, impondo repensar com urgência as bases de um modelo
de suprimento que apresenta sinais de esgotamento e buscar novos recursos que permitam dar
continuidade ao processo de desenvolvimento socioeconômico. Assim, como solução mais
econômica e de curto prazo, apresenta-se a bioenergia como uma das melhores alternativas
para gerar energia, uma vez que o país dispõe de terras livres, clima adequado (luz, água e
temperatura) e, com a mesma importância, conhecimento suficiente e disposição
empreendedora.
Os benefícios do etanol são inúmeros, entretanto, embora seja revestido por uma
concepção de energia limpa, o que se observa é que o avanço dos canaviais, na maioria das
regiões goianas vem acompanhado de degradação dos recursos naturais, patrimônio da
sociedade. Por outro lado, beneficia o crescimento econômico e também os empresários.
Surge, assim, a preocupação do estado em assegurar o cumprimento da constituição,
garantindo um ambiente equilibrado.
Em meio aos meios ambientais comprovados o Estado de Goiás passou a se valer de
instrumentos capazes de coibir tais condutas. Destarte, surgiram as ações civis públicas, os
inquéritos civis, as leis que proíbem queimadas e limitam a expansão da cultura da cana e
tantas outras normas no sentido de proteger o bem comum.
O processo produtivo do etanol nos moldes convencionais apresenta pontos
divergentes quanto à concepção de energia limpa. Diante disso o Direito desponta para atuar
como norteador no cumprimento dos regulamentos, no repensar o planejamento e a gestão da
produção de cana-de-açúcar. Iluminar o cenário sucroalcooleiro, propiciando soluções
adequadas para as divergências, aliando o desenvolvimento econômico ao meio ambiente
sustentável e equilibrado, de forma a assegurar a sobrevivência das gerações atual e das
futuras gerações.

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