Você está na página 1de 4

apneia

a poesia não quer adeptos, quer amantes


certa vez disse meu amigo federico
a poesia deve ser entre duas pessoas ao invés de duas páginas
sugeriu aquele cara, o poeta entre pintores, frank o’hara

camaradas, às vintetrês & quarentetrês


na véspera de setembro, 23
telemarketicamente falando
lhes digo: não está sendo nada fácil

entre a paixão defasada & o amor resignado


num limbo afetivo m’encontro, buscando
mais uma vez afogar a estupidez
por ter baixado as guardas, exposto
o peito aberto —
a inocência dum lêmure
o fêmur dum troglodita
me moendo a existência
a distância como única saída:
sempre me atraí pelas proparoxítonas

a vida seguindo truncada


tipo tentar fazer uma roda
quadrada girar pela calçada
#flintstonesfeelings

(gatos cagando em edredons


braços mordidos por cães)

o amor é o contato de duas poesias, a fusão de dois devaneios


triste serem minhas divagações
fadadas à solidão, minha sorte afetiva
mais fria que geléia de ultrassom
começo a pensar ser melhor caminhar sozinho
pelo deserto seco do que milhar apenas
as pontas dos pés, colega gaston
pois
arriscar mergulhos profundos em pessoas rasas
pode
causar traumatismo emocional, a testa bate na pedra
o peito dolorido exala o cheiro dum orgão podre
quero me afundar num amor úmido
ficar sem ar entre tuas pernas
respirar pelo teu útero
incediando nossas vidas
você minha roma, eu teu nero

escuto várias loas, você é lindo, você é fofo


quando na verdade não passo de mais um bobo
enganado na casco do ovo um gato
resfriado deitado na impressora
espirrando enquanto as palavras
s’embalharam & minha barriga ronca

o silêncio é o mais triste, rude & efetivo dos recados


a saudade, uma das formas manifestas da maldade

sozinho eu tento trilhar os meus caminhos


possibilidades de felicidade dissipam sem liberdade
aqui caberia uma rima com outra cidade

tento falar ao celular


mas as palavras não saem, tudo é vão
minha mensagem não sai
mesmos as palavras, que tanto amo
também parecem querer me deixar

meu egocentrismo caprino


o caranguejo carente
ou teu orgulho felino?

triste é ter que pisar nas flores


que ainda não tiveram
a simples chance de nascer

o amor é um gato faminto, maltratado


& arisco, que arranha, foge & lambe
as feridas que causa sem querer querendo


sem saber o que fazer eu fico, atônito


pra onde ir? quero correr
mais rápido que o flash, romper
a barreira do som, romper
esta maldita maldição

triste é amar & ter que esfaquear o coração


picotar em pedacinhos minúsculos
pra ficar mais difícil &
ver se desisto de colar

eu te olho & tenho vontade de chorar

me sinto tosco babaca mais reles


que a mancha de ketchup mal
esfregada na farda de um meganha

mais fácil seria pensar & se dedicar


à coisas tipo futebol matemática
ou mesmo uma lasanha para
parar de se ludibriar com essas
esperanças vagas, deixar de crer
nesse meu próprio papo aranha

cristal por entre os seixos


numa noite fria, entre teus
seios, você me trouxe
o sol & hoje eu conheço
a escuridão da tua ausência

pois quando até o tinder diz


não há ninguém perto de você
& a poesia te abandona
é preciso deixar de lado o romantismo
o querer o gostar a porra da merda

do amar.

bagad., 27.9.XVI

Você também pode gostar