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Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v. 4, n.1, p. 51–58. 2002. http://www.fen.ufg.br.

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ADMISSÃO EM CENTRO CIRÚRGICO COMO ESPAÇO DE CUIDADO


NURSING ASSISTANCE FOR PATIENTS IN SURGICAL CENTER ADMISSION

Enêde Andrade da Cruz1


Zulene Maria de Vasconcelos Varela2

CRUZ, E. A.; VARELA, Z. M. V. Admissão em Centro Cirúrgico como espaço de cuidado. Revista Eletrônica de
Enfermagem (on-line), v. 4, n. 1, p. 51 – 58, 2002. Disponível em http://www.fen.ufg.br.

RESUMO: Objetivamos neste estudo com abordagem qualitativa, descrever o cuidado da enfermeira na
admissão de pessoas em Centro Cirúrgico, a partir da observação assistemática deste profissional, realizando
este procedimento. Na instituição escolhida, o espaço para admissão é comum a todos os elementos da
equipe, ao fluxo de pessoas e clientes, que permanecem próximos um dos outros, gerando interpretações
errôneas na comunicação, dificultando a efetivação desse cuidado. A preocupação da enfermeira, em
desenvolver a admissão, como prerrogativa própria e humanização foi evidente. A continuidade desse
procedimento, é dificultada pela equipe cirúrgica, para liberação do paciente, o que está marginalizando as
alternativas de cuidado e gerando insatisfação nas profissionais.

UNITERMOS: Cuidado, Enfermagem, Admissão em Centro Cirúrgico.

ABSTRACT: We objectified in this study with qualitative handling, to analyze the nurse's care in the people's
admission in Surgical Center, starting from this professional's assistematic observation, accomplishing this
procedure. In the chosen institution, the space for admission is common to all the elements of the team, to the
people's flow and customers, that stay close one of the other ones, generating erroneous interpretations in the
communication, hindering of that the efective care. The nurse's concern, in developing the admission, as own
prerogative and humanização was evident. The continuity of that procedure, it is hindered by the surgical team,
for the patient's liberation, what is leaving out the care alternatives and generating dissatisfaction in the
professionals.

KEYWORDS: Care, Nursing, Admission in Surgical Center.

INTRODUÇÃO do homem. Assim, a necessidade de receber


informações, atenção e apoio, como um cuidado
Ao longo de sua experiência profissional, especial, é imprescindível, até porque sua
como docente em campo de prática em Centro percepção está, muitas vezes, aguçada tentando
Cirúrgico (CC), a autora tem convivido com captar algo que possa estar interferindo ou que
situações complexas, no momento da entrada do venha a interferir na sua dita operação. São
paciente nesse setor. situações como essas, que podem aumentar os
Sabe-se que a chegada de uma pessoa que seus temores e, conseqüentemente, sua ansiedade
necessita de cirurgia, nesse setor, é sempre e insegurança, frente à perspectiva imediata da
precedida da sensação de medo: medo do cirurgia.
desconhecido, do ambiente estranho, medo da Para quem se encontra nessa situação
cirurgia e do seu resultado, medo da anestesia, das individual, particular e mesmo única, as
alterações da imagem corporal, enfim, medo da circunstâncias também apresentam características
morte, além de outros tidos como grandes inimigos específicas, uma vez que, ao se aproximar o

1
Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Docente da UFBA, Doutoranda em Enfermagem pela Universidade
Federal do Ceará;
2
Enfermeira, Doutora, Professora Titular da Universidade Federal do Ceará.
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momento da cirurgia, é comum à pessoa sentir-se elas se colocam como ameaçadoras e geradoras
atemorizada ou mesmo ameaçada, não só pelo de conflitos e ansiedades, trazendo-lhe desconforto,
ambiente estranho, equipamentos, paramentação da desconfiança, insegurança, e estresse, ao ponto de
equipe, pessoas estranhas etc. como, também, pela muitas, determinar, a suspensão da cirurgia.
forma como é recebido considerando que cada Nesse ambiente, a vida diária da enfermeira,
pessoa reage de maneira diferente aos seus como administradora e coordenadora da assistência
temores e preocupações já destacados por de enfermagem, está inserida em um mundo
D’ASSUMPÇÃO (1994, p.16) no apelo de um intersubjetivo, compartilhado com seu semelhante,
paciente aos médicos: sendo portanto, um mundo comum que pode ser
vivenciado e interpretado por todos. Agindo sobre os
”ao me levarem para a sala de cirurgia, outros e sendo por esses também afetada por eles a
por favor não me deixem sozinho e sem enfermeira, como coordenadora da assistência,
qualquer informação sobre o que irá pode estabelecer um relacionamento mútuo de
acontecer, ... para mim, tudo é novidade, comunicação terapêutica envolvendo a equipe e a
tudo é assustador. Porém, se alguém que pessoa necessitada de cirurgia, para um cuidado de
eu já conheça, estiver junto de mim, qualidade, ou, caso contrário, para o desencadear
estarei seguro e me será mais fácil de desajustes.
enfrentar tudo aquilo que virá em O cuidado da enfermeira, na admissão do
seguida”. paciente em CC, deve ter como um dos objetivos o
de reduzir os agentes estressores, que podem
Justamente, nesse momento, é que o ocorrer nesse momento, proporcionando o conforto,
paciente pode exteriorizar o estresse emocional, a ajuda e o apoio exigidos para o bem-estar da
pelo que precisa ser ouvido, cumprimentado, pessoa necessitada de cirurgia. As ocorrências
valorizado e chamado pelo nome, não por apelidos oriundas do ambiente e/ou do contexto social,
como freqüentemente acontece, tipo “tio”, “vô” ou podem interferir no sucesso da cirurgia.
“vó”. CASTELLANOS et al (1985), destacaram O Contexto ou espaço social, segundo CHINN
situações dessa natureza, como negativas e et al (1995), é o local dentro do qual a experiência e
indicadoras de desrespeito ao paciente, com os valores surgem e interagem, colocando-se na
probabilidade, inclusive, de aumentar seus temores dependência da importância cultural e da influência
e insegurança. da representação mental dessa experiência, que
O sentir-se ameaçado e inseguro, pode ser envolve julgamento. Este julgamento, segundo as
conseqüência de outros fatores, ao exemplo de autoras, abrange a exploração de significados
ocorrências no contexto do ambiente de CC, pois adquiridos em função do contexto e da imagem
tudo aquilo que o paciente vê e escuta nesse local, mentalmente construída, como resultado prático do
tende a gerar um sentimento até certo ponto significado conceitual do contexto estudado.
ameaçador, fazendo aumentar a sua ansiedade e É nesse instante que a pessoa precisa da
insegurança, além de caracterizar um cuidado atenção da enfermeira, tida, no caso, como a
desumano e com baixo nível de qualidade. profissional capacitada para prestar o cuidado e o
Dentre as ocorrências que podem surgir no conforto de que necessita, a fim de reduzir o nível
contexto do ambiente em CC, encontram-se aquelas de ansiedade e dissipar seus temores, readquirindo
referentes à própria dinâmica do trabalho de equipe, por conta disso, a confiança abalada.
além de outras relacionadas ao fluxo de pessoas, de A enfermeira deve, pois, receber a pessoa e
vez que o ambiente é único e compartilhado por mostrar sua presença, mostrando que sua
todos. Tem-se, como exemplos, o transporte de existência ali significa, segundo SANTIN (1998
grandes frascos com conteúdo sanguinolento, p.129), “estabelecer laços pessoais de
aspirado de cirurgias anteriores; o transporte de intersubjetividade, onde há espaço para a confiança
peças cirúrgicas mal acondicionadas e descobertas; e esperança”. É preciso, assim, que o paciente sinta
o abandono do paciente para cumprimentos a enfermeira como uma brisa suavizante, capaz de
efusivos e demorados com companheiros (as) de lhe trazer novas esperanças (ZEN & BRUTSCHER,
trabalho; o surgimento inoportuno, naquele local e 1985).
naquele momento, de funcionário, dirigindo-se à Estar presente requer, por conseguinte, um
enfermeira próxima ao paciente, para informar que: comportamento de mostrar-se por inteiro, ou seja
“o aspirador desta sala não está funcionando”, ou estar diretamente ligada à demonstração de afeto e
“está faltando oxigênio nesta sala”, ou “o ar de dar atenção ao outro. Tal se expressa na forma
condicionado desta sala não está funcionando” ou, de ouvir o outro, um ouvir atento e reflexivo, para
ainda, “o anestesista desta sala não chegou”. Essas uma maior compreensão do que se passa com o
situações podem ser comuns e naturais para a outro. É uma forma essencial de cuidado (SILVA,
equipe, mas não o são para o paciente. Para esse, 1999).
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É nesse momento que o cuidado dos para dar apoio espiritual à pessoa, auxiliando-a,
profissionais, junto à pessoa necessitada de cirurgia, conforme sua religião, a utilizar a meditação e a
torna-se indispensável ao bem-estar da mesma, crença em si e no aspecto espiritual, para o
pela interdependência que se cria entre ambiente enfrentamento de situações difíceis (Watson, 1979
interno e externo interferindo nas percepções dessa apud GEORGE, 2000). Não raro se coloca como
pessoa, tornando o ambiente ameaçador ou não advogada, para defendê-la e apoiá-la em todas
(Watson, 1979 apud GEORGE, 2000; TALENTO, intercorrências decorrentes da dinâmica do trabalho,
1993). A interdependência de ambientes, aqui do ambiente e do próprio procedimento cirúrgico e
referenciada, pode ser possível através da de mensageira, para manter o elo de ligação com a
experiência de integração de ações humanitárias, família da pessoa que está sendo operada, até sua
entre enfermeira e paciente; é como se, por alguns saída desse setor.
instantes, pudesse haver troca de papeis, lançando A manutenção de um ambiente seguro é
mão de técnicas e estratégias reconhecidas no uma das primeiras necessidades, recomendadas,
trabalho em Enfermagem, como essenciais, ao inclusive por TUDOR (1994), quando fala da
compartilhamento e compreensão mútuos. É sentir- expansão do papel do enfermeiro de centro
se em um estado de ser mais, sendo pessoa, no cirúrgico.
sentido ontológico, na busca do ser mais junto com Também, Roy apud GALBREATH (2000),
o outro. lembra que os estímulos provenientes do ambiente,
Essa busca só pode alcançar resultados ou seja, as condições, circunstanciais e situações
através do diálogo, que se constitui no “ser do encontradas ou que circundam o mesmo, podem
homem”, com uma forma de relação em que a afetar o comportamento de pessoas ou grupos,
pergunta e resposta, funcionam como meios de dificultando sua adaptação. Essa dificuldade é
comunicação. Comunicação de um ser que fala, decorrente dos estímulos negativos do ambiente,
uma tradição que precisa ser reconhecida e produzindo respostas também negativas de
compreendida, uma historia de vida expressada adaptação e de enfrentamento, pela interferência no
através da linguagem, com suas idéias e subsistema regulador do organismo, de natureza
conjecturas (pré-julgamentos e julgamentos) e que química, neural ou endócrina. Portando, a
têm importância na interpretação de possíveis percepção do paciente, distorcida da realidade,
resultados da ação terapêutica da enfermagem. pode constituir um acontecimento estressante e
Essas constituem possibilidades de abertura de ameaçador, conduzindo, muitas vezes, à suspensão
novas alternativas, para a interpretação e da cirurgia.
compreensão do que se passa consigo naquele É só de posse dessa compreensão, que a
momento de sua história de vida (GADAMER, enfermeira pode promover uma assistência
1990). humanizada, assim entendida como o ato de
A interpretação só pode ser efetivada a partir receber e de assistir o paciente com humanidade,
do que se ouve e do que se sabe do outro, através levando-o a perceber, ou mesmo, a sentir, que suas
da linguagem; na verdade, o que se sabe muda no necessidades imediatas, no momento em que
curso da história de vida e de novas experiências adentra ao CC, estão sendo satisfeitas (FERREIRA,
que vão sendo acumuladas, mudando, também, as 1971).
perspectivas segundo BARRETO et al (1999), que Considerando que o momento da admissão
são necessárias à compreensão, para correção ou em CC é um dos poucos momentos em que a
eliminação de necessidades de cuidado. enfermeira desse setor pode atuar diretamente com
A pessoa, nesse momento, está precisando o paciente, deve essa profissional centralizar sua
de cuidado – admissão – atenção, preocupação e atenção no cuidado - admissão e no ambiente, a
valorização da sua condição – necessitada de fim de proporcionar melhores condições de
cirurgia – a fim de que a enfermeira, possa atendimento ao mesmo. O cuidado, é um ato
compreendê-la e controlar toda e qualquer situação profissional do enfermeiro e se expressa na
no ambiente, capaz de interferir na aceitação do interação com a pessoa necessitada de assistência
procedimento, readquirindo, assim, a confiança no e de apoio para sua sobrevivência e seu bem-estar
sucesso da operação. Para tanto, nesse instante, a e/ou de ajuda, compreensão e capacitação para
enfermeira precisa assumir a posição de mãe enfrentar situações de risco. Nesse sentido, busca-
carinhosa, compreensiva e protetora; de psicóloga, se, com este trabalho, descrever o cuidado da
na identificação, compreensão e conforto em enfermeira, frente ao fenômeno da admissão do
presença de alterações comportamentais; de paciente em CC, vez que, de um lado, está a
assistente social, na identificação e compreensão profissional e seu universo de trabalho, e, do outro,
dos problemas relativos à sua cultura e a pessoa necessitando de cirurgia, com uma visão
necessidades pessoais, ajudando a resolve-los. de mundo diferente, até porque se encontra fora de
Assume até mesmo, a posição de uma religiosa, sua cultura, (Leininger apud GEORGE, 2000).
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Espera-se, com este trabalho, oferecer uma Assim, percebendo a presença (ou ausência)
contribuição à construção do conhecimento, de uma ocorrência ou de um fato importante, é
especialmente, à reflexão da enfermeira sobre os despertada a curiosidade do pesquisador, para
aspectos essenciais de cuidado, a serem questões de seu interesse, na busca de respostas
considerados na admissão do paciente em CC. para as mesmas (FUREGATO, 1999).
Para tanto, é, pois necessário, caracterizar o
METODOLOGIA ambiente em que se deu a admissão do paciente.
O espaço onde a admissão é desenvolvida, é
Trata-se de um relato de experiência a partir comum a todos os elementos da equipe, tanto
da observação do cuidado da enfermeira, durante a interna quanto externa, vez que existe uma porta
admissão da pessoa necessitada de cirurgia, em ampla que dá acesso ao corredor interno do CC, e
CC. que permanece aberta, a maior parte do tempo.
Contamos com o apoio de uma colega que, Essa situação, aliada ao fato do corredor, ser
trabalhando na Instituição, facilitou sobremodo relativamente estreito, possibilita freqüentes
nosso acesso à mesma, desde a Diretoria até o interrupções, no cuidado prestado pela enfermeira,
setor de observação, no caso o CC. Nessa unidade, decorrentes da solicitação de orientações
fomos muito bem recebidas e apresentadas, de administrativas e assistenciais, e de informações por
logo, aos sujeitos da pesquisa. Para continuidade do parte da clientela interna e externa ao CC: sobre os
trabalho e respeitando os aspectos éticos pacientes que estão chegando, aguardando, ou que
determinados pela Resolução 196/96 BRASIL se encontram em cirurgia, ou, no Centro de
(1996), sobre pesquisas com seres humanos, a Recuperação Pós-Anestésica (CRPA). Referida
proposta do estudo foi apresentada às enfermeiras, porta, colocada diretamente em frente ao CRPA,
com os devidos esclarecimentos, a partir do que propicia uma maior rotatividade dos profissionais
conseguimos de todas, a assinatura do termo de para o desenvolvimento de suas atividades, dando
consentimento, para efetivação da observação, margem, também, a conversas indesejáveis e ao
considerada sem risco e/ou constrangimento. Essa transporte de material, com aspecto desagradável
forma de proceder, foi escolhida para captação da para o paciente que está à espera da cirurgia. Alem
realidade do mundo empírico, pela maior dessas situações, outras semelhantes ocorrem no
probabilidade de ser fiel aos eventos naturais e, percurso que vai até à Sala de Operação (SO).
ainda, de favorecer a obtenção de resultados mais Esse é um espaço limitado para a demanda
coerentes com a realidade. de fluxo de pessoas, onde se incluem os pacientes
Foram observadas três enfermeiras de uma que permanecem muito próximos, um dos outros,
Instituição Pública, de grande porte, da cidade de dificultando o trabalho e provocando interpretações
Fortaleza - Ceará, as quais estavam procedendo à erradas no processo de comunicação.
admissão de pacientes em CC, que iriam ser No contexto social estudado, foi observado o
submetidos a cirurgia. direcionamento de vários profissionais, afluindo para
A observação caracterizada como não o local de recebimento do paciente no CC, os quais
estruturada ou assistemática, foi realizada pela apenas demonstraram curiosidade de verificar quem
autora, no dia 03.05.2000, no período das 10h00 às estava chegando, vez que, após alguns segundos,
14h00, no CC da Instituição supra- citada. O espaço retornavam aos seus locais de trabalho, sem nada
de tempo, das 13h00 às 14h00, caracterizou-se terem feito. No entanto, a preocupação em receber
como o período real de observação do cuidado, vez o paciente foi manifestada pelas enfermeiras, como
que foi o momento da admissão dos pacientes uma prerrogativa própria, evidenciando situação de
nesse setor, para realização das cirurgias, na parte ajuda.
da tarde. No total foram seis admissões. Essa preocupação foi demonstrada na forma
Tal observação foi justificada pela como a enfermeira que, com humanidade, se
necessidade de ser obtido o conhecimento aproximava da pessoa, apresentando-se e pondo-se
espontâneo do cuidado da enfermeira, na admissão à sua disposição para ajudá-la. No entanto, a
do paciente, nesse momento, de forma casual. O continuidade do cuidado de admissão, foi voltada
êxito dessa observação está diretamente ligado à mais para os seus aspectos técnicos/instrumentais,
experiência, perspicácia e discernimento do fato que se comprova quando, através dos
pesquisador, para registrar, fielmente, os dados questionamentos apressados e direcionados a
obtidos, não se caracterizando portanto, de esses cuidados, foram, em sua maioria, voltados às
totalmente espontânea, dada a necessidade de condições essenciais, ao desenvolvimento da
interação mínima com o sistema e com o controle cirurgia, tipo: “O Sr. Ou Sra. está em jejum? – tem
que se impõem em situações semelhantes alergia? diabetes? é hipertenso (a)? é tabagista?
(LAKATOS & MARCONI, 1995). etilista?” Tal acontecia ao mesmo tempo em que
folheava o prontuário, na busca de algo que
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pudesse interferir ou impedir o procedimento enfermagem tem para oferecer à humanidade. É


cirúrgico. dessa forma que propõe dez fatores básicos do
Também foi observada a passividade dos cuidado, dos quais, os três primeiros formam os
pacientes que durante a maior parte do tempo fundamentos filosóficos para a ciência do cuidado,
permaneceram com o olhar fixo na enfermeira que o constituindo as bases para essa análise:
admitia, sujeitando-se às regras e normas do 1o A formação de um sistema humanístico-
serviço, por ela determinadas, limitando-se apenas, altruísta;
a responder alguns questionamentos que lhe foram 2o A estimulação da fé-esperança;
direcionados, em forma apressada. Não raro esses 3o O cultivo da sensibilidade para si e para os
pacientes limitaram a responder a última questão, outros;
que, por sinal, também não era ouvida pela Foi considerada, ainda, a emoção transmitida
enfermeira, preocupada em dar continuidade a pela enfermeira e percebida pela autora, nessa
outras perguntas, evidenciando pressa no relação, vez que esta define o campo onde ocorre
cumprimento de sua tarefa. uma observação, independente do observador, o
Surpreendente também foi observar o que especifica a natureza do ato, cuja emoção ou
descontentamento das enfermeiras com o seu sentimento é influenciada, pelo campo de atuação.
próprio desempenho, quando eram interrompidas Condição essa destacada por MATURANA, (1995),
para esclarecer situações administrativas ou para que ressalta, ainda, que essa emoção precisa ser
atender solicitações apressadas da equipe médica, compreendida, levando-se em consideração,
pelo paciente, quando nem mesmo haviam simultaneamente, a ocorrência, o aprendizado e o
conseguido concluir a função técnica de admiti-lo, reconhecimento dos atos.
pelo que respondiam simplesmente: “calma já estou Para responder ao questionamento
levando”, demonstrando, na fisionomia sua formulado, na resposta comportamental da
insatisfação. Apesar disso, limitavam-se a concluir a enfermeira, na admissão da pessoa necessitada de
tarefa, de forma apressada em atendimento à cirurgia em CC, foi considerado o comportamento da
solicitação. equipe, observado no seu todo, mas,
Não foram observadas atividades ou ações de especificamente, o da enfermeira que, no contexto
enfermagem voltadas às intercorrências no da observação, vê-se tolhida em sua autonomia, vez
ambiente, principalmente quanto ao tumulto gerado que é pressionada por todos para resolver,
pelas conversas paralelas, caso ocorrente em um simultaneamente, os problemas administrativos da
determinado momento, quando foi dito, por uma unidade e os assistenciais junto ao paciente.
enfermeira, junto a um paciente: “está faltando o O momento da chegada dessas pessoas ao
Raio X”, e outro paciente, que aguardava sua CC é bastante complexo, isso porque elas chegam
admissão, ter questionado “é comigo?”. A quase que simultaneamente, em razão de ser
enfermeira, de tão envolvida em sua atividade, sempre idêntico o horário para o início da cirurgia e,
sequer o ouviu e continuou dirigindo-se ao paciente também, face à pressão exercida pela equipe, para
que estava admitindo. O paciente que havia liberação das mesmas.
questionado ficou inquieto e, nesse momento, foi Essa situação dificulta o cuidado na admissão
necessária a intervenção da autora (observadora), da pessoa, pela pressa exigida da equipe que nem
no sentido de tranqüilizá-lo. se dá conta dessa condição e das necessidades
No local de admissão do paciente, também foi decorrentes.
percebido o respeito por parte da equipe de A preocupação da enfermeira em admitir a
enfermagem do CC, em relação à atividade pessoa em CC, caracteriza-se como uma forma de
desenvolvida pela enfermeira. valorização do mesmo, demonstrando um
Os comentários da observação do cuidado da sentimento voltado para o aspecto humano do
enfermeira, na admissão do paciente em CC, processo de comunicação, apesar da complexidade
foram fundamentados na resposta ao estrutural do ambiente que, em determinados
questionamento sugerido por CHINN et al (1995), momentos, induz a comportamentos indesejados.
para exploração de contexto e valores, o qual foi A par disso, demonstra, também, uma
adaptado à realidade do estudo, na questão: Que preocupação em cumprir uma norma institucional,
resposta comportamental é esperada da enfermeira não pondo à mostra um interesse direto pelas
na admissão do paciente em CC, no contexto social condições emocionais do paciente, fato verificado na
descrito? pressa com que a atividade era desenvolvida.
Também serviu de apoio a teoria trans- A passividade do paciente pode conduzir a
pessoal de Watson apud TALENTO (2000), falsas interpretações de sua condição, trazendo à
amparada em trabalhos de vários humanistas, tona evidências de que o processo de comunicação
filósofos, desenvolvimentistas, psicólogos, e que enfermeira x paciente não ocorreu, podendo o
encara o cuidado como o atributo mais valioso que a mesmo apresentar, posteriormente, reações
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emocionais negativas ou retardar sua recuperação valores humanísticos e comportamento altruísta,


(SILVA & SILVA, 1995). desenvolvido através do exame dos pontos de
O respeito da equipe de enfermagem interação com várias culturas e experiências
demonstra, também, a consideração com o ser pessoais. É uma forma de relação compreensiva.
humano, no sentido de garantir a conclusão da Nessa situação, o cuidado pode ser desenvolvido a
atividade, talvez pelo seu envolvimento nas partir do exame dos próprios pontos de vista da
atividades de preparo da sala de operação, embora, pessoa, de suas crenças e valores, bem assim da
em determinados momentos, tenha sido solicitada forma como interage com outras culturas e outras
da enfermeira, alguma orientação, ou mesmo por experiências de vida.
respeito à atividade e situação da pessoa. Nesse contexto, o paciente é, portanto, o foco
Nesse contexto o desenvolvimento das das atenções, pois, como ser humano, é constituído
atividades, como um todo, é bastante dificultado de corpo e alma, o que quer dizer, mente e emoção.
pela complexidade da dinâmica de trabalho, A enfermeira deve buscar o olhar dessa pessoa,
decorrente da diversidade de visão de mundo e de para escutar seus sentimentos e dialogar. É preciso
valores que ocorrem no encontro de seres humanos, que seja ela um ser cuidador, empenhado em cuidar
onde se encontram envolvidos: níveis de de um ser humano único, que, naquele momento,
conhecimento, experiências de vida, sentimentos e vive o seu drama e que precisa ser compreendido
emoções, em um processo de subjetividade e (CREMA, 1999).
intersubjetividade. Nesse emaranhado de Para que isso aconteça, o cuidado –
pensamentos, ocorrem diversas formas de operação admissão – torna-se um fenômeno complexo que se
mental, capazes de desencadear desconfiança, concretiza em determinados contextos específicos,
insegurança, ansiedade e estresse, pela própria como o ambiente de CC, cujos significados são
estranheza do ambiente e da situação. variados e dependem dos valores, crenças e
Caracterizada como complexa, essa situação experiências de vida, de quem vivencia a
exige compreensão, também designada de ética da necessidade de uma cirurgia. É, portanto, um ato de
compreensão, que tem como princípios básicos, a afetividade e de partilha, que exige dedicação,
tolerância, o direito humano de livre expressão, o compreensão e compromisso da enfermeira – ser
respeito institucional democrático às minorias e o humano, com o paciente, que vê, ouve e sente.
respeito a argumentos contrários aos nossos, Requer demonstração de afeto, disponibilidade,
porque “o contrário de uma verdade não é um erro, interesse e valorização do seu sentimento.
mas uma verdade contrária” diz MORIN, (1997 pg. A admissão em CC, é entendida como um
24.). Essas constatações precisam ser consideradas fenômeno concreto, constituído de ações e
para um cuidado de qualidade. atividades de cuidado de enfermagem, dirigidas à
Nesse complexo contexto foi observado que pessoa necessitada de cirurgia, com necessidades
todos estão voltados para o atendimento à pessoa evidentes e/ou potencializadas, pela iminência do
que está sendo admitida, embora permaneçam ato cirúrgico ou pelas ocorrências oriundas da
atentos à clientela externa e interna (equipe) que se dinâmica de trabalho desse ambiente, segundo
aproxima desse local, para alguma necessidade. A seus valores e forma de interação, visando à
situação determina, assim, o comportamento da melhoria de sua condição, ao se submeter à
enfermeira no desempenho das atividades de cirurgia, e a reagir à mesma, de forma satisfatória.
admissão da pessoa, em CC, haja vista a influência O Cuidado deve ser entendido como um ato
que sofre, não só pela limitação do espaço, mas, de interação, constituído de ações e atividades de
também, pela dinâmica do trabalho e fluxo de enfermagem, dirigidas ao paciente e com ele
pessoas. compartilhadas, envolvendo o dialogo, a ajuda, a
troca, o apoio, o conforto, a descoberta do outro,
ADMISSÃO NO CENTRO CIRÚRGICO COMO esclarecendo dúvidas através da capacidade de
ESPAÇO DO CUIDADO ouvi-lo, cultivando a sensibilidade, valorizando-o,
compreendendo-o e ajudando-o a melhorar sua
Para Watson apud TALENTO (2000), o condição no enfrentamento da cirurgia ou diante de
cuidado é o desenvolvimento de ações, atitudes e uma situação de risco conforme mostra a Figura 01.
comportamentos, com base em conhecimento A intenção é que o paciente saia do CC em
científico, experiência, intuição e pensamento condições de recuperação, sem ter sido exposto a
crítico, realizado para e com o paciente/ser, para riscos de qualquer natureza, sendo essa, uma das
promoção, manutenção e/ou recuperação de sua finalidades do cuidado nesse setor (GHELLERE et
dignidade. É o atributo mais valioso que a al, 1993).
enfermagem tem a oferecer à humanidade. Trata-se Com essas ações, a enfermeira pode criar um
da essência da enfermagem e denota reciprocidade ambiente que favoreça a confiança, a liberdade e a
entre a enfermeira e a pessoa. É baseado em transformação e que irão ser percebidas pelo
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paciente (FUREGATO, 1999). As pessoas, com o desenvolvimento, como uma forma de promover o
senso aguçado de percepção conscientizam-se dos bem-estar, auto-realização e sobrevivência, ou
eventos que ocorrem no meio, percebendo e mesmo encarar uma morte aliviada e tranqüila. Essa
reagindo de acordo com sua percepção de mundo. é a essência da enfermagem e saúde, sendo
Segundo Leininger, 1979 apud GEORGE, portanto, imprescindível a toda situação que envolva
(2000), o cuidado é inerente à pessoa humana e é o encontro de profissionais e pessoas com
essencial à vida, ao nascimento, crescimento e problemas de saúde.

Figura 01 – Admissão em Centro Cirúrgico

importantes, não podem prescindir dos aspectos


CONSIDERAÇÕES FINAIS humanos do cuidado.
Essa situação pode até estar marginalizando
A admissão da pessoa necessitada de as alternativas de cuidado, com vistas a minimizar o
cirurgia, em CC, é um fenômeno complexo, aqui sofrimento da enfermeira, o mesmo acontecendo em
abordado, apenas em alguns aspectos, que se relação às formas de enfrentamento do paciente em
constituíram fruto de observação. situações de risco.
Neste estudo, foi verificado que, embora a A compreensão dessa situação demonstra
preocupação da enfermeira em prestar o cuidado na que além de palavras e tentativas, é necessária uma
admissão da pessoa em CC, tenha demonstrado um ação transformadora que deve ter, como ponto de
fazer voltado para a valorização e humanização do partida, a compreensão do ser, em uma relação
paciente, embora sofrendo transformações na humana de troca, de demonstração de afeto e de
interação e no processo de comunicação, o apoio respeito, assumida por nós enfermeiras e pelo
destinado ao mesmo, pela equipe médica, paciente em situações de risco, essencialmente em
entendida a equipe cirúrgica, é de difícil CC, onde a visão de mundo é totalmente diferente,
concretização, não sem deixar de direcionar o modo para cada um que adentra ali, com a finalidade de
de assistir a pessoa, em CC. Um assistir voltado ser submetido a algum tipo de cirurgia.
para os aspectos técnico-operacionais do cuidado, Este estudo serviu de estímulo à busca de
centrados nas condições essenciais ao estratégias que possibilitem uma maior
desenvolvimento da cirurgia que, embora sejam compreensão das dificuldades enfrentadas pela
Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v. 4, n.1, p. 51–58. 2002. http://www.fen.ufg.br. 58

enfermeira, ao proceder à admissão da pessoa em GHELLERE, T. et al. Centro Cirúrgico: aspectos


CC, principalmente aquelas relacionadas ao espaço fundamentais para enfermagem. Florianópolis:
destinado à concretização desse cuidado. UFSC, 1993.
Nesse sentido, é necessário que as LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamento de
enfermeiras reflitam sobre a necessidade de buscar metodologia científica 3a. edição revista e
melhores condições de trabalho, de modo que ampliada. Atlas,. 1995. p192-195.
possam oferecer um ambiente mais tranqüilo, em MATURANA, H. Ciência e Cotidiano: a antologia das
penumbra com música ambiente suave, onde seja explicações científicas In: WATZLAWICK, P.;
possível dar tempo ao paciente para expressar seus KRIEG P. (orgs.). O olhar do Observador:
sentimentos, crenças e valores, temores e contribuições para a construção do conhecimento
experiências de vida, de forma que possam esses construtivista, São Paulo. Editorial PSH. 1995.
elementos ser trabalhados, não só para melhorar as p.163 - 198.
condições de enfrentamento da cirurgia, e também MORIN, E. Complexidade e ética da solidariedade
ao profissional de assegurar melhor qualidade de In: CASTRO, G. et al. Ensaios de Complexidade.
vida no trabalho. Porto Alegre, Sulina, 1997. p.15 - 24
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