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Elis

Regina
Todas as letras
Pesquisa, organização e diagramação:
Vladimir Araújo

Projeto gráfico:
Juliana Mesquita e Juliana Palezi
Elis
Regina
Todas as letras
Dá sorte
Eleu Salvador
Viva a Brotolândia – 1961 Samba feito para mim
Paulo Tito
Dá sorte fazer o que eu digo Viva a Brotolândia – 1961
Dá sorte querer seu amor
Dá sorte cantar comigo Pedi pra fazerem um samba para mim.
Pra desabafar meu coração.
Cante então a canção que eu fiz para ser feliz Tenho tanta coisa pra dizer de mim.
Cante então a canção que eu fiz para ser feliz Como eu gostaria de falar numa canção.

Creio no supremo poder Sei que o mundo é mau, jamais vai entender,
Gosto de quem gosta de mim Que este samba vive de hum sofrer
Serei tudo que quero ser

Tu serás
O tema é meu. Nasceu assim.
Sou feliz, tenho alguem que me quer e que eu quero bem Era preciso fazerem um samba pra mim.

Amei alguém. Fui só de alguém.


Ângela Martignoni/Othon Russo
Viva a Brotolândia – 1961
O mundo não procurou compreender.

Sonhando
Tu serás a vida e o meu destino Então pedi para fazerem um samba assim.
E este samba foi feito todinho pra mim.
(Dream)
Tu serás angústia e tormento
Tu serás a chama que ilumina
O eterno fogo de minha alma
B. de Vorzon/T. Ellis/Vs. Juvenal Fernandes
Viva a Brotolândia – 1961
E na noite escura, minha estrela
Sonho Tu serás… tu serás
Eu sempre sonho Estrela que mostra o meu caminho
Que o amor irei buscar Tu serás… somente tu.

Sigo Vivo para amar-te e adorar-te


Uma alameda Pois és a razão dos meus desejos
E alquém é o meu par E se em ti não penso a todo instante
Não posso acalmar o meu tormento
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Alguém que eu venero


Que tanto quero
Não sei quem é

Sonho

Fala-me de amor
E no meu sonho
Sigo com um certo alguém
(Take me in your arms)
Markus/Rotter/Vs. Max Gold
Viva a Brotolândia – 1961

Murmúrio
Fala-me de amor,
Mesmo que seja pra mentir
Fala-me de amor,
Djalma Ferreira/Luiz Antônio Se vais partir.
Viva a Brotolândia – 1961
Um beijo louco
Vai nesta canção Para lembrar o que passou
Meu último adeus Dura tão pouco
Coração sonha em vão Mesmo que seja o fim
Com os beijos seus Aperta-me assim
E nos braços teus
Foi esta canção Toda magia viverei
Que eu murmurei Beija-me assim
Tu também longe amei Depois adeus!
Murmuraste eu sei.
Eu queria sentir teu beijo
Há neste murmúrio huma saudade Com carinho e emocão
A vontade louca de voltar E guardar este amor tão puro
Ser como era antes mesmo por instantes No fundo do coração
E depois morrer para não chorar
Baby face As coisas que eu gosto (My favorite things)
Davis/Asket/Vs. Fred Jorge Hammerstein/Rodgers/Vs. Fernando César
Viva a Brotolândia – 1961 Viva a Brotolândia – 1961

Baby face As coisas que eu gosto eu vou lhe dizer


Esse rostinho lindo São coisas bonitas que vêm de você
Baby face É o céu de um sorriso embriagador
Parece ingênuo E esses seus olhos lembrando o amor
Não é isso não
Baby face Nem sei como pode você ser assim
Que encontrei sorrindo e me deixou sonhando E ter tudo, tudo que é bom para mim
Nem de encomenda eu ia achar
Baby face Outro igual a você para amar
Esse seu modo estranho de olhar pra mim

Mesmo de mentira
Me faz acreditar Os seus olhos
Que você sabe amar Seu sorriso
Mentindo Que bonitos são
Baby Face. Carlos Imperial
Você não existe Viva a Brotolândia – 1961
Na certa sonhei
Quando inventei você Diz mesmo de mentira
Que eu sou tudo pra você
Diz mesmo de mentira
Que ao seu lado eu vou viver

Garoto último tipo


Diz.
Prefiro a mentira
(Puppy Love) Pois a verdade é ruim
Diz mesmo de mentira
Paul Anka/Vs. Fred Jorge Diz que você gosta de mim
Viva a Brotolândia – 1961

Quero viver na ilusão


Hoje eu vi um tal brotinho
Pois afinal não machuca o coração
Que o meu coração

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Se a verdade me faz mal
Foi logo conquistando
Eu não vou fazer da minha vida um carnaval
E eu nem disse não
Mente
Garoto último tipo
É melhor assim
Broto sensação
Diz que você gosta de mim
Não sei porque

Amor, amor
Dei meu coração

Saiu pra rua (Love, love)


Trânsito parou

Dor de Covelo
Bill Caesar/Vs. Carlos Imperial
E pra mim o olhar mandou Viva a Brotolândia – 1961

Que garotinho Amor, amor


Mas que tipão João Roberto Kelly Quero um amor que não tenha fim
E roubou meu coração Viva a Brotolândia – 1961 Amor, amor
Quero um amor pra mim
Beber pra esquecer é teimosia
Hoje muito whisky, muita alegria, Amor, amor
Amanhã ressaca, saco de gelo Quero um amor que me queira bem
O bar não é doutor que cure a dor de cotovelo Amor, amor
Eu reciso amar alguém
A dor pra curar não tem receita
É corcunda que se deita Vivo a sonhar
Sem achar a posição Que estou a beijar
E sentir saudade não faz mal O meu grande amor
Não é no fundo do copo
Que você vai encontrar sua moral Sempre a esperar
Quem me queira amar
Beber pra esquecer...
O meu peito agora diz
Eu preciso de um amor
Só assim serei feliz
Poema
Fernando Dias
Poema de Amor – 1962

Poema
É a noite cheia de amargura
Poema
É a luz que brilha lá no céu
Poema
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É ter saudade de alguém


Que a gente quer e que não vem
Poema
É o cantar de um passarinho
Que vive ao leú, perdeu seu ninho
É a esperança de o encontrar
Poema
É a solidão da madrugada
Um ébrio triste na calçada
Querendo a lua namorar
Dá-me um beijo
(Kiss me, Kiss me)
Trovajoli/Daniell/Vs. Romeu Nunes

Pororó-Popó
Poema de Amor – 1962

Dá-me um beijo
Um só
João Roberto Kelly Um só
Poema de Amor – 1962
Mata meu desejo
Bate bate bate constante De mim

Meu pequeno mundo de ilusão


Pororó-popó Tem dó
Dançando na festa, beijinho na testa e só
Pois num beijo só você poderá sentir
(My little corner of the world)
Seu telefone eu anotei O que sinto é desejo sim de mim
Cupido me laçou
E apertou o nó Dá-me dá-me um beijo
Poró-poroporó Mais um
Hilliard/Pockriss/Vs. José Mauro Pires
Poema de Amor – 1962
Só um
Todo dia eu discava Ó vem meu doce bem
Poró-poroporó E vamos depois Ao meu pequeno mundo de ilusão
Discava escondida da mamãe e da vovó Os dois São teus os sonhos meus
Os dois No meu pequeno mundo de ilusão
Tudo começou de brincadeira
E eu fiquei brincando a vida inteira Pela vida nos deixando com ardor Só tu então
Serás a inspiração
Para sempre E neste mundo
Sempre Terás meu coração
Amor
E se, meu doce bem,
Vieres aplacar esta paixão
Serão somente teus

Nos teus lábios

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O meu pequeno mundo e a ilusão

Eu sempre quis
Contigo, coração,
Haroldo Eiras/Ataliba Santos
Poema de Amor – 1962 Viver feliz
Em meu mundo de ilusão

Vou comprar
um coração
Nos teus olhos
Vejo a luz com que sempre sonhei
Nos teus lábios
Sinto os beijos que as vezes roubei

Vem de novo

Saudade é recordar
A saudade em meu peito apertar Paulo Tito/Romeu Nunes
E por isso eu canto Poema de Amor – 1962

Nos teus olhos Vou comprar um coração


Renan França/Verinha Falcão
As estrelas refletem o brilhar Para trocar por este meu Poema de Amor – 1962
Dos teus lábios Porque sem ilusão não sei viver
Beijos mil me fazem lembrar E este meu coração cansou de amar De que vale o que tenho
Só tristezas pra contar
Desde então Com um novo coração E tristeza é ter saudade
Não sonho e nem vivo Vou repetir os erros meus Saudade é recordar
Porque, amor, só posso encontrar Fazer oque já fiz
Nos teus lábios e os teus olhos quero olhar. Amar em vão Tu cruzaste o meu caminho
Ser infeliz mais uma vez. Quando eu era a própria dor
Sim os teus olhos quero olhar Hoje deixo o teu carinho
Por amor ao teu amor
Confissão Podes voltar
Umberto Silva/Paulo Aguiar/Luiz Maranhão Othon Russo/Nazareno de Brito
Poema de Amor – 1962 Poema de Amor – 1962

Vai nesta cancão Deixa passar a incerteza que te afasta de mim


A confissão
De alguém que hoje é feliz, feliz
Quero pensar que ainda me queres como ontem, e assim
Quero guardar esta ilusão
Vai dizer também Adormecer e contigo sonhar
Que só alguém
Que ninguém mais faz infeliz

Las O que passou, passou


Se tu soubesses que torturas em minha alma sem ti

secretárias
Pepe Luis/Vs. Martha Almeida
Sei que não volta mais
Eis o consolo eneletivo dos meus ais

Pra que lembrança sem esperança?


Noites inteiras a pensar que havia outra qualquer
Mas mesmo assim haja o que houver
Podes voltar outra vez para mim
Poema de Amor – 1962
Se um é pouco, dois é bom, três é demais

Pizzicato
Pizzicati
Cha Cha Cha
Para o secretário
Cha Cha Cha

Canção
Para estenodatilografar
Cha Cha Cha
Para o secretário
Cha Cha Cha

de enganar
despedida
Cha Cha Cha
Como é bom bailar Stern/Marnay/Vs. Fred Jorge
Poema de Amor – 1962

Quando eu ouvi tocar um doce pizzicati


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Necessito secretário competente


Quase desandou
Com experiência e boa apresentação
e quase parou
Solicito homem jovem e bonito
O pobre coração que só palpita por ti
E com carta de recomendação
Walter/Joluz E sempre te adorou
Que domine o idioma Italiano Poema de Amor – 1962

Teu olhar Em doce pizzicato o coração pulsou


O Francês e o Inglês com perfeição

Meu olhar E alegre saltou


Nao me importa seja loiro ou moreno

Nosso olhar E alegre cantou


Mas que tenha bem alegre o coração
E como um violino doido a suspirar
Tuas mãos Sonhou… sonhou… sonhou…
Quando formos de manhã para o trabalho

Minhas mãos
E a tarde na hora de regressar

A emoção Plum plum plum


Que beleza eu e o meu secretário
Que delicioso
Caminhando e cantando o cha cha cha

A noite a se perder nos faz, Plum plum plum


Meu amor, Maravilhoso
Outra vez
Amar Minha cancão de amor nasceu no meu coração
Sonhar Só para ti
Minha paixão
É manhã Em doce pizzicato eu vou levar-te a emoção
Na manhã do adeus O meu amor sem fim

Repousa A canção que eu canto


Teus lábios nos meus É por ti meu bem
É um doce pizzicato
Um beijo irá fazer Sempre a saltitar
Teu olhar
Meu olhar Plum plum plum
Outra vez
Amar
Chorar
A Virgem de
Macareña
(La Virgen de la Macareña)
Dengosa
Tango italiano
B. B. Munterde/Calero/A. Bourget
Elis Regina – 1963 Castro Perret
Elis Regina – 1963

À noite quando me deito


Eu sou dengosa
Eu rezo à Virgem de Macareña Malgoni/Baretta/Palessi/Romeo Nunes Gosto de carinho
Assim sozinho em meu quarto Elis Regina – 1963 Amor pra mim
Falo à Virgem Santa todo o meu tormento
Tem que ter denguinho
Um tango italiano
É de coração que eu peço O nosso tango Eu sou assim
Que alguém um dia me queira Quero um dia dançar Dengosa para amar
Que me abraçe com ternura E sonhar novamente Procuro aguém dengoso
E me beije com doçura
Para ser meu par
Um tango italiano
Ó Virgem Santa Um terno tango Amar com dengo
Ó Virgem Santa porque sofro tanto Como aquele que viu começar Dá gosto da gente amar
Ouvi o que pede Nosso amor tão distante Beijar com dengo
Ouvi o que pede a angústia do meu pranto
Dá gosto de se beijar
E nos teus braços
Porque, ó Santa querida, Rodando ao compasso do tango a recordar Amor com dengo
Não encontro na vida alguém para meu amor?
Torna mais gostoso o carinho
Nosso passado Mas para amar com dengo
Porque, ó Santa querida, E o amor esquecido veremos retornar É preciso ter jeitinho
Não encontro na vida alguém para meu amor?
Alguém que seja ternura Um tango italano
E viva comigo os sonhos que sonhei E os teus braços
O meu corpo de novo estreitar
É de coração que eu peço E teus olhos de novo encontrar
Que alguém um dia me queira

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Que me abraçe com ternura E no céu de teus olhos buscar
E me beije com doçura A aventura perdida

Ouvi o que pede


Ouvi o que pede minha alma aflita
Minha Virgem Santa
Outra vez (Again)
Cochran/Newman
Minha Virgem Santa de Macareña

Tristeza de carnaval
Elis Regina – 1963

Jamais
O meu amor tu terás
Bidú/Mutinho Não te darei novamente
Elis Regina – 1963 A boca ardente, oh, não!

O carnaval Verás
Sempre faz feliz alguém Que o sonho que se desfaz

Formiguinha triste
As vezes traz tristeza Nem deixa rastro na alma
E a alegria foge E acalma a ilusão de um coração

Tudo é quarta-feira Eu não quero


Joãozinho Tudo é sempre cinza De novo sofrer
Elis Regina – 1963
Pra quem amou foi muito bom Tal como eu já sofri
Pra quem perdeu chorou demais
Era uma vez uma triste formiguinha
Depois voltou o carnaval Eu não quero de novo viver
Que vivia tão sozinha tocando seu violão
Na fantasia de sol No amargor em que já vivi
Tão simplezinha era sua morada
E a esperança de encontrar
Mas existia lugar pra mais alguém
Um novo amor O sonho que se desfez
No carnaval Não deixou rastro em minha alma
Mas certo dia, como diz a lenda,
No carnaval Não sonharei outra vez
Tudo lá no quintal se iluminou
No carnaval
Formiguinha encontrou outra
Inverno sozinha não passou
Silêncio À noite
Berstein/Roberto Côrte Real
Túlio Paiva Elis Regina – 1963
Elis Regina – 1963

balançou
1, 2, 3,
Silêncio!
À noite, amor
Atenção! Vou ver o meu amor
O samba já tem outra marcação A lua há de brilhar
Pra nós dois
O pandeiro já não faz o que fazia
Violão só é na base da harmonia
Nazareno de Brito/Alcyr Pires Vermelho À noite, amor
Elis Regina – 1963
Silêncio! Vou ver o meu amor
Atenção! 1, 2, 3, balançou
1, 2, 3, o meu samba quero assim
E pra nós as estrelas virão
Requebra e vai por mim
Porque o samba já tem outra marcação

1, 2, 3, vai não vai


A roda do mundo sempre vai girando E o sol que sabe que eu espero
Vai girando sem parar 1, 2, 3, ouve o prato a marcar Que só a noite eu quero
Tudo nessa vida se renova O nosso balançar
Compreende e já se vai
Faz um passo todo figurado
A bossa velha deu lugar à bossa nova
E segue o rebolado
O samba já tem outra marcação A onda do balanço me enrolou Ó Deus, fazei
E essa é nova marcação
Eu não posso parar
Fazei que a noite seja
Vejo o tempo correr sem me cansar Sem fim pra mim
Você pode notar
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Batam palmas para quem gostou


Do meu samba que a ninguem negou

Ressurreicão Adeus amor


De todo coração
Sensação enquanto balançou

Marino Pinto/Pernambuco Almeida Rêgo/Newton Ramalho


Elis Regina – 1963 Elis Regina – 1963

Ressurreição, meu amor do passado Adeus amor


Tu és a razão do meu porvir Eu tenho de partir
Eu sonho em vão por que sonho acordada Eu sei que vou sentir
Quisera saber o que há de vir Uma saudade imensa de você

A chama que se apaga Que vai ficar

Flertei
Sempre mata a esperença Sozinho como eu
Minha chama de esperar-te A remoer lembranças do passado
Não se cansa
Meu Deus como é que eu vou ficar
Ressurreição, me levou ao passado Castro Perret Sem ter você pra me abraçar?
E curou de uma vez a minha dor Elis Regina – 1963 Sem ter aqueles beijos que são meus?
Milagre do amor Só meus
Agora sim estou certinha com um só
Tanto brinquei que Cupido me acertou Adeus amor
Eu tive tantos mas a nenhum eu amei Eu voltarei, querido,
E, no entanto, sem querer, gamei pra recomeçar a nossa vida
Veja você, eu que nunca pensei em amar
Eu que flertava apenas para brincar
Mas fui brincar de amor quem soube entender meu coracão
E o flerte transformou-se em gamação
Alô saudade
Paulo Aguiar/Umberto Silva
O Bem do Amor – 1963

carinho
Saudade e
Telefonei para a saudade
Dizendo a ela o que sentia
Como ela trouxe a solução
Meu coração logo esqueceu toda a paixão

Acreditei no que me foi prescrito


E em tudo o que eu não acreditava Renan Franca/Verinha Maranhão
O Bem do Amor – 1963

Sem teu amor


Depois do tempo em que levei sofrendo assim
Felicidade voltou pra mim
Saudade e carinho
Ai que vontade de amar!
Todo amor tem o seu ninho
Luiz Mauro
O meu amor, onde andará?
O Bem do Amor – 1963

Meu coração não pode mais viver assim Tantos amores eu já tive

Se você quiser
Sem teu amor Quantos amores mais terei?
Meu coracão vive chorando triste assim Nenhum, porém, comigo vive
Sem teu amor Sozinha sempre viverei

Baden Powell/Mario Telles


Tudo acabou
O Bem do Amor – 1963
Fiquei sozinha
Você quer que eu te conte o que é o amor, Sem teu querer
Feito para dois amar,

Manhã de
Feito de sorriso e flor? Tudo mudou
E, sem carinho,

AMOR
Você quer. Não sei viver
Mas será que você quer?
Caminhar neste luar para eu te mostrar. Meu coracão hoje só vive de ansiedade

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Vem. Por você
Espero em vão o fim de toda essa saudade Sergio Malta/Joluz
Você quer ver na luz do meu olhar, De você O Bem do Amor – 1963
Como eu te quero bem,
Como eu te quero amar? Vou esperar É manhã
Ó, meu querido, Vem o sol
Eu não sei. Volte pr favor Vem trazer o calor
Eu não sei se você quer. Que aquece a emoção
Eu posso te dar amor, Meu coracão De um olhar
Se vocie quiser. Não vai viver toda esta vida De um aperto de mão
Sem teu amor
Vem a chuva também
Vem chorar a alegria
Do retorno de alguém
De um amor
Numa terna ilusão

E se faz lá no céu
O enlace da chuva e do sol
Mania de gostar A natureza sorri
É tão lindo o matiz do arrebol
Luis Mauro
O Bem do Amor – 1963
Já se fez a manhã do amor
Já se pôs o arco-iris além
Vem a chuva
Mania boba é essa da gente de gostar de alguém. Alguém que nos faz um pouquinho feliz quando vem.
Alguém que quando vai não diz pra onde nem porque. Parte deixando saudade. Fazendo a gente sofrer. Vem o sol
Com eles, meu bem.
Não vai outra vez meu amor, não vá pra longe de mim. Esse negócio de saudade não foi feito pra mim.
Com você aqui bem perto. Juntinho do meu coração. Não viverei mais nesta solidão.
Há uma história triste
Othon Russo/Niquinho
O Bem do Amor – 1963

Há uma história triste pelo ar


História que não tem “era uma vez…”
Há uma história triste pra contar
História que começa com “talvez”

Foi, talvez, amor que acabou


Foi, talvez, um sonho que apagou
Restos de lembrança e amargura
Rugas de saudade e de ternura

Retorno Meus olhos


Aécio Kauffmann Sergio Napp
O Bem do Amor – 1963 O Bem do Amor – 1963

Meu bem eu agora voltarei Meus olhos


Bem sei que estarás a me esperar Saudades que eu trago
Do amor de você
Deixei meu coração cheio de amor juntinho ao teu
E só me acompanhou a saudade em seu lugar Meus olhos
Silêncios na espera
Agora voltarei novamente aos braços teus De alguém que não vem
E tu sempre estarás eternamente nos braços meus
Ah, se você entendesse
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Na estrada desta vida A beleza de amar


Nunca mais Que eles trazem em si
Nunca mais sozinha
Longe amor Ah, se você compreendesse
Dos teus carinhos O que escondem meus olhos
Voltaria pra mim

Domingo em Copacabana
Roberto Faissal/Paulo Tito
O Bem do Amor – 1963

Copacabana cheia
Bom é domingo mesmo
Dias de sol vem alegrar o nosso amor

Mar azul
Onda azul
Vem beijar meus amores

Copacabana bela
Lua de luz acesa
Ando calçada cheia sem pensar

Ai, rio até sozinha


Da beleza do meu Rio

Da TV Rio até o Forte


Gente que passa sem ter norte
Copacabana eu vou sonhar junto de ti
O bem do amor
Rildo Hora/Clóvis Mello
O Bem do Amor – 1963

Se você pensava
Bem no amor achar
O bem no amor encontrará
E quando você quiser

Vá buscar ternura
No amor que existe
Num lugar feito pra dois
Sim, vá buscar

Tem perfume a flor que nasce


No jardim ao sol

De ver tanto encanto na flor


Fui pedir a rosa viva e multicor
Perfume e cor
Fiz nosso amor
E o mundo prá nós dois

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É pra frente que se anda
Caminhando sem olhar pra trás
É pra frente que se anda
Caminhando sem olhar pra trás

É como a roda da história


Que nunca pode parar
Há um turbilhão de anseios
Despertando a nossa voz

Há um mundo de esperança
Esperando,
Esperado por nós

E a gente vai seguindo


Olhando só pra frente
Sem se voltar pra trás

Mundo de paz
Procurando nosso mundo
Mundo de paz
Túlio Paiva
O Bem do Amor – 1963
O MORRO NÃO TEM VEZ DIZ QUE FUI POR AÍ
(Tom Jobim/Vinícius de Morais) (Zé Keti/H. Rocha)

O morro não tem vez Se alguém perguntar por mim


E o que ele fez já foi demais Diz que fui por aí

Pout Pourri
Mas olhem bem voces, quando derem vez ao morro Levando o violão debaixo do braco
Toda a cidade vai cantar Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
E se houver motivo, é mais um samba que eu faço
ESSE MUNDO É MEU Se quiserem saber se eu volto, diga que sim
(Sérgio Ricardo/Ruy Guerra) Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Escravo no mundo em que sou
Escravo no reino em que estou
Dois na Bossa 1 – 1963 (Com Jair Rodrigues)
Mas acorrentado ninguém pode amar ACENDER AS VELAS
Mas acorrentado ninguém pode amar (Zé Keti)

Acender as velas, já é profissão


FEIO NAO É BONITO Quando nao tem samba, tem desilusão
(Carlos Lyra/Gianfrancesco Guarnieri) Acender as velas, já é profissão
ESSE MUNDO É MEU Quando nao sou eu, é Nara Leão
Feio, nao é bonito (Sérgio Ricardo/Ruy Guerra)
O morro existe mas pede pra se acabar
Canta, mas canta triste Saravá, Ogum, mandinga da gente continua
Cade o despacho pra acabá A VOZ DO MORRO
Porque tristeza é só o que tem pra cantar (Zé Keti)
Chora, mas chora rindo Santo guerrero na floresta
Porque é valente e nunca se deixa quebrar Se você nao vem eu mesma vou brigá Eu sou o samba
Ama, o morro ama Se voce nao vem eu mesma vou brigá A voz do morro sou eu mesmo, sim senhor
Amor bonito, amor aflito Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Que pede outra história Eu sou o rei do terreiro
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A FELICIDADE Eu sou o samba


(Tom Jobim/Vinícius de Morais) Sou natural daqui do Rio de Janeiro
SAMBA DO CARIOCA A felicidade é como a pluma Sou eu quem leva alegria
(Carlos Lyra/Vinícius de Morais)
Que o vento vai levando pelo ar Para milhões de corações brasileiros
Vamos, carioca, Brilha tão leve, mas tem a vida breve
sai do teu sono devagar Precisa que haja vento sem parar
O MORRO NAO TEM VEZ
O dia já vem vindo aí (Tom Jobim/Vinícius de Morais)
E o sol já vai raiar
Sao Jorge, teu padrinho, SAMBA DE NEGRO O morro não tem vez
te dê cana pra tomar (Roberto Correa/Sylvio Son) E o que ele fez já foi demais
Xango, teu pai, te dê Mas olhem bem voces
muitas mulheres para amar Subi lá no morro só pra ver Quando derem vez ao morro
O que o nêgo tem Toda a cidade vai cantar
Pra cantar assim gostoso Vai cantar, vai cantar
E fazer samba como ninguém Vai cantar, vai cantar

VOU ANDAR POR AÍ


(Newton Chaves)

Vou andar por aí, perguntar por aí


Pra ver se eu encontro
A paz que perdi

O SOL NASCERÁ (A sorrir)


(Cartola/Elton Medeiros)

A sorrir eu pretendo levar a vida


Pois chorando eu vi a mocidade perdida
Preciso aprender a ser só
Marcos Valle/Paulo Sergio Valle
Dois na Bossa 1 – 1965
Samba eu canto assim – 1965

Ah! se eu te pudesse fazer entender


Arrastão
Sem teu amor eu não posso viver
Edu Lobo/Vinícius de Morais
Dois na Bossa 1 – 1965

Que sem nós dois o que resta sou eu


E u a s s i m t ã o s ó Eh... tem jangada no mar
E eu preciso aprender a ser só Eh, eh, eh... hoje tem arrastão
Poder dormir sem sentir teu amor Eh... todo mundo pescar
A ver que foi só um sonho e passou Chega de sombra João
A h ! o a m o r
Jovi, olha o arrastão entrando no mar sem fim
Quando é demais ao findar leva a paz Ê meu irmão me traz Yemanjá pra mim
Me entreguei sem pensar
Que a saudade existe e se vem é tão triste
Vê, meus olhos choram a falta dos teus
Minha Santa Bárbara
Esses teus olhos que foram tão meus
Me abençoai
Por Deus, entenda que assim eu não vivo Quero me casar com Janaína
Eu morro pensando no nosso amor
Por Deus, entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor
Eh... puxa bem devagar

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Eh, eh, eh... já vem vindo o arrastão
A h ! o a m o r Eh... é a Rainha do Mar
Quando é demais ao findar leva a paz Vem, vem na rede João
Me entreguei sem pensar Pra mim!
Que a saudade existe e se vem é tão triste
Vê, meus olhos choram a falta dos teus
Esses teus olhos que foram tão meus
Valha-me Deus Nosso Senhor do Bonfim
Por Deus, entenda que assim eu não vivo Nunca, jamais se viu tanto peixe assim
Eu morro pensando no nosso amor
Por Deus, entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor

Terra de Segue nessa marcha triste Anda.Teu caminho é longo Pára no final da tarde Mas...

ninguém
Seu caminho aflito Cheio de incerteza Tomba já cansado O dia vai chegar
Leva só saudade Tudo é só pobreza Cai um nordestino Que o mundo vai saber
E a injustiça Tudo é só tristeza Reza uma oração Não se vive sem se dar
Que só lhe foi feita Tudo é terra morta Prá voltar um dia Quem trabalha é que tem
Marcos Valle/Paulo Sergio Valle
Desde que nasceu Onde a terra é boa E criar coragem Direito de viver
Dois na Bossa 1 – 1965
Saudade do Brasil – 1980 Pelo mundo inteiro O senhor é dono Prá poder lutar Pois a terra é de
(Com Marcos Valle) Que nada lhe deu Não deixa passar Pelo que é seu n i n g u é m
Sem Deus com a família César Roldão Vieira
Dois na Bossa 1 – 1965

Sapato de pobre é tamanco

Menino das
laranjas
A vida não tem solução
Morada da rico é palácio
E casa de pobre é barracão

Reza
Théo de Barros
Dois na Bossa 1 – 1965 (Com Jair Rodrigues) Quem é pobre sempre sofre,
Samba eu canto assim – 1965
Vive sempre a trabalhar
Menino que vai pra feira Edu Lobo/Ruy Guerra
Dois na Bossa 1 – 1965
Vender sua laranja até acabar Mas eu sofro só de dia, Samba eu canto assim – 1965
Filho de mãe solteira
Cuja ignorância tem que sustentar De noite eu vivo pra sambar Por amor andei já
Tanto chão e mar
É madrugada, vai sentindo frio Senhor já nem sei
Porque se o cesto não voltar vazio Se o amor não é mais
A mãe arranja um outro prá laranja Bastante pra vencer
E esse filho vai ter que apanhar
A mulher de branco é esposa Eu já sei o que vou fazer
Meu Senhor
Compra laranja E a esposa do preto é mulher Uma oração
Menino que vai pra feira
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Mas minha mulher é só minha, Vou cantar para ver se vai valer
É madrugada vai sentindo frio Laia ladaia sabadana ave-maria
Porque se o cesto não voltar vazio Do branco eu nem sei se só dele é Laia ladaia sabadana ave-maria
A mãe arranja um outro prá laranja
E esse filho vai ter que apanhar Ah! meu santo defensor
Traga o meu amor
Compra laranja doutor Branco fica atormentado
Ainda dou uma de quebra pro senhor Laia ladaia sabadana ave-maria
E nem tem tempo pra pensar Laia ladaia sabadana ave-maria
Lá no morro a gente acorda cedo
Que é só trabalhar Se é praga ou oração
Comida é pouca e muita roupa
Mas o preto é mais que branco
Mil vezes cantarei
Que a cidade manda pra lavar pra mãe d’água Iemanjá
Laia ladaia sabadana ave-maria
De madrugada ele menino Laia ladaia sabadana ave-maria
Acorda cedo tentando encontrar
Um pouco pra comer, viver até crescer
E a vida melhorar A terra do dono é só dele
Compra laranja doutor E ali ninguém pode mandar
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Mas se eu não pegar na enxada
Não tem ninguém pra plantar

Eu semeio tanto milho e a colheita é do senhor


Mas o dia da igualdade tá chegando seu doutor.
Influência do Jazz
Formosa
Carlos Lyra
Elis no Fino da Bossa 1965-1967

Baden Powell/Vinícius de Morais


Pobre samba meu Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Baden Powell e Ciro Monteiro)
Foi se misturando se modernizando, e se perdeu
E o rebolado cadê?, não tem mais Formosa, não faz assim
Cadê o tal gingado que mexe com a gente Carinho não é ruim
Coitado do meu samba mudou de repente Mulher que nega
Influência do jazz Não sabe não
Tem uma coisa de menos
Quase que morreu No seu coração
E acaba morrendo, está quase morrendo, não percebeu
Que o samba balança de um lado pro outro A gente nasce, a gente cresce
O jazz é diferente, pra frente pra trás A gente quer amar
E o samba meio morto ficou meio torto Mulher que nega
Influência do jazz Nega o que não é para negar
A gente pega, a gente entrega
No afro-cubano, vai complicando A gente quer morrer
Vai pelo cano, vai

Discussão
Ninguém tem nada de bom
Vai entortando, vai sem descanso Sem sofrer
Vai, sai, cai... no balanço! Formosa mulher!
Pobre samba meu
Tom Jobim/Newton Mendonça
Volta lá pro morro e pede socorro onde nasceu Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com pery Ribeiro)
Pra não ser um samba com notas demais

Samba do avião
Não ser um samba torto pra frente pra trás Se você pretende sustentar opinião
Vai ter que se virar pra poder se livrar E discutir por discutir
Da influência do jazz Só prá ganhar a discussão
Tom Jobim Eu lhe asseguro pode crer
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com lennie Dale) Que quando fala o coração
As vezes é melhor perder

Vem Balançar
Eparrê, Do que ganhar, você vai ver

15
Aroeira beira de mar Já percebi a confusão
Salve Deus e Tiago e Humaitá Você quer ver prevalecer
Eta, costão de pedra dos home brabo do mar A opinião sobre a razão
Walter Santos/Tereza Souza Eh, Xangô, vê se me ajuda a chegar Não pode ser, não pode ser
Elis no Fino da Bossa 1965-1967
Prá quê trocar o sim por não
Minha alma canta Se o resultado é a solidão
Quem vem lá?
Vejo o Rio de Janeiro Em vez de amor
Quem vem lá?
Estou morrendo de saudade Uma saudade vai dizer quem tem razão
Rio, teu mar, praias sem fim
Se é de samba pode se chegar
Rio, você foi feito pra mim
No meu samba tem sempre lugar
Cristo Redentor
Prá quem vem balançando

Devagar com a louça


Braços abertos sobre a Guanabara
Querendo sambar
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
Quem vem lá?
A morena vai sambar
Quem vem lá?
Seu corpo todo balançar Luiz Reis/Haroldo Barbosa
Rio de sol, de céu, de mar Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Elza Soares)
Se é de samba pode se chegar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão
No meu samba tem sempre lugar Devagar com a louça que eu conheço a moça,
Rio de Janeiro,
Prá quem vem balançando vai devagar moçinha, devagar ei.
Rio de Janeiro
Querendo sambar Eu conheço a moça, devagar com a louça,
Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro vai devagar, prá não errar.
Pra quem Devagar com a louça que eu conheço a moça,
Cristo Redentor
Traga o samba redondinho, vai devagar.
Braços abertos sobre a Guanabara
bem certinho assim E eu conheço a moça, devagar com a louça.
Este samba é só porque
todinho solto Vai, prá não errar.
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Mas não venha contando mentira rapaz Ela é mais enrolada do que linha em carretel,
Seu corpo todo balançar
Não ponha no meu samba tão fácil demais ja viu, mais você nessa jogada, hehe, vira bola de papel.
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando Dê o fora dessa louça, peça logo o seu boné.
E vamos nós Você vai ficar de touca, quem avisa amigo é, pois é..'
Aterrar
Bocochê
Amor em paz Baden Powell/Vinícius de Moraes
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Baden Powell)
Tom Jobim/Vinícius de Moraes
Elis no Fino da Bossa 1965-1967
Menina bonita, pra onde é "qu'ocê" vai

Mulata
Menina bonita, pra onde é "qu'ocê" vai
Eu amei
Vou procurar o meu lindo amor

Assanhada
E amei, ai de mim, muito mais do que devia amar
No fundo do mar
E chorei
Vou procurar o meu lindo amor
Ao sentir que iria sofrer e me desesperar
No fundo do mar
Ataulfo Alves Foi então
Nhem, nhem, nhem
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Ataulfo Alves) Que da minha infinita tristeza aconteceu você
É onda que vai
Encontrei
Ô, mulata assanhada Nhem, nhem, nhem
Em você a razão de viver e de amar em paz
Que passa com graça É onda que vem
E não sofrer mais
Fazendo pirraça Nhem, nhem, nhem
Nunca mais
Fingindo inocente Tristeza que vai
Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz
Tirando o sossego da gente! Nhem, nhem, nhem
Tristeza que vem
O amor é a coisa mais triste quando se desfaz
Ah! Mulata se eu pudesse
E se meu dinheiro desse Foi e nunca mais voltou
Eu te dava sem pensar Nunca mais! Nunca mais
Esta terra, este céu, este mar Triste, triste me deixou
E ela finge que não sabe
Nhem, nhem, nhem

Agora Ninguém Chora Mais


Que tem feitiço no olhar!
É onda que vai
Ai, meu Deus, que bom seria Nhem, nhem, nhem
Se voltasse a escravidão É a vida que vem
Eu pegava a escurinha Jorge Ben Nhem, nhem, nhem
E prendia no meu coração!... Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Jorge Bem Jor e Zinho) É a vida que vai
E depois a pretoria Nhem, nhem, nhem
16

Resolvia aquestão! Chorava todo mundo Não volta ninguém


Mas agora ninguém chora mais
Chora mais, chora mais Menina bonita, não vá para o mar
Chorava todo mundo Menina bonita, não vá para o mar
Mas agora ninguém chora mais
Chora mais Vou me casar com o meu lindo amor
ô, ô, ô, ô No fundo do mar
Vou me casar com o meu lindo amor

Mas Que Nada


Chorava mãe, chorava pai No fundo do mar
Na hora da partida
Mas era uma beleza Nhem, nhem, nhem
Em vez de tristeza É onda que vai
Jorge Ben
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 Mas era uma beleza Nhem, nhem, nhem
Em vez de tristeza É onda que vem
Mas, que nada ô, ô, ô, ô Nhem, nhem, nhem
Sai da minha frente Chorava mãe, chorava pai É a vida que vai
Que eu quero passar Chorava todo mundo Nhem, nhem, nhem
Pois o samba está animado Mas agora ninguém chora mais Não volta ninguém
E o que eu quero é sambar
Este samba Mas pois o menino voltou Menina bonita que foi para o mar
Que é misto de maracatu Voltou homem, voltou doutor Menina bonita que foi para o mar
É samba de preto velho Menino que é bom não cai Dorme, meu bem
Samba de preto tu Pois já nasceu com a estrela Que você também é Iemanjá
Mas, que nada E sempre a mente sã Dorme, meu bem
Um samba como esse tão legal Menino que é bom não cai Que você também é Iemanjá
Você não vai querer Pois é protegido de Iansã
Que eu chegue no final
Chorava todo mundo
Mas agora ninguém chora mais
Chora mais, chora mais
Telefone
Falsa Baiana
Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Os Cariocas)

Plém plém plém plém plém plém plém plém plém


Geraldo Pereira
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Wilson Simonal) Plém plém
Ocupado pela décima vez
Baiana que entra no samba e só fica parada Plém plém
Não samba, não dança, não bole nem nada Telefono e não consigo falar
Não sabe deixar a mocidade louca Plém plém
Baiana é aquela que entra no samba de qualquer Estou ouvindo há muito mais de um mês
maneira Plém plém
Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras Já começa quando eu penso discar
Deixando a moçada com água na boca
Eu já estou desconfiado
A falsa baiana quando entra no samba Que ela deu meu telefone prá mim
Ninguém se incomoda, ninguém bate palma
Ninguém abre a roda, ninguém grita ôba Plém plém
Salve a Bahia, senhor E dizer que a vida inteira esperei
Mas a gente gosta quando uma baiana Plém plém

Somewhere
Samba direitinho, de cima embaixo Que dei duro e me matei prá encontrar
Revira os olhinhos dizendo Plém plém
Eu sou fiilha de São Salvador Toda a lista quase que eu decorei
Plém plém
Dia e noite não parei de discar Stephen Sondheim/Leonard Bernstein
Elis no Fino da Bossa 1965-1967
E só vendo com que jeito
There's a place for us

Eu só queria saber
Pedia prá eu ligar
Plém plém plém plém Somewhere a place for us
Não entendo mais nada Peace and quiet and open air
Prá que é que eu fui topar? Wait for us
Miriam Ribeiro/Vera Brasil
Somewhere

17
Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Claudete soares) Trimm trimm
Não me diga que agora atendeu There's a time for us
Eu só queria ser Será que eu… eu consegui? Agora encontrar? Some day a time for us
Um só dos teus anseios O moço atendeu… alô! Time together and time to spare
Eu só queria ser Time to look, time to care
Um só dos teus momentos Someday
Eu só queria ser Somewhere
Dentro de ti
We'll find a new way of living

Se acaso você chegasse


A brisa que passou We'll find there's a way of forgiving
Uma canção me trouxe Somewhere
A brisa que passou
Passou e não me trouxe Felisberto Martins/Lupicínio Rodrigues There's a place for us
O sol de um meigo olhar Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Elza Soares e Jair Rodrigues) A time and place for us
Na escuridão Hold my hand and we're halfway there
Se acaso você chegasse Hold my hand and I'll take you there
Só nesta solidão No meu chatô e encontrasse Somehow
Sofre o meu coração Aquela mulher Someday
Cativo da canção que passou Que você gostou Somewhere
Será que tinha coragem
Eu só queria ser De trocar nossa amizade There's a place for us
Um só dos teus anseios Por ela que já Hold my hand and we're halfway there
Eu só queria ser Lhe abandonou? Hold my hand and I'll take you there
Um só dos teus momentos Somehow
Eu só queria ser Eu falo porque essa dona Someday
Dentro de ti Já mora no meu barraco Somewhere
À beira de um regato
E um bosque em flor
De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E assim nós vamos
Vivendo de amor
Zambi Edu Lobo/Vinícius de Morais
O fino do fino – 1965

É Zambi no açoite, ei, ei é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...
É Zambi na noite, ei, ei, é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

Chega de sofrer... Eh! Zambi gritou. Sangue a correr é a mesma cor É o mesmo adeus e a mesma dor.

É Zambi se armando, ei, ei é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...
É Zambi lutando, ei, ei, é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...
18

Chega de viver na escravidão. É o mesmo céu. O mesmo chão. O mesmo amor. Mesma paixão.

Ganga-Zumba ei, ei, ei, vai fugir... Vai lutar tui, tui, tui, tui, com Zambi...
E Zambi gritou ei, ei, meu irmão... Mesmo céu, tui, tui, tui, tui, mesmo chão.

Vem filho meu, meu capitão. Ganga-Zumba... Liberdade! Liberdade! Ganga-Zumba vem meu irmão.

É Zambi lutando, é lutador. Faca cortando, talho sem dor. É o mesmo sangue e a mesma dor.

É Zambi morrendo, ei, ei é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...
Ganga-Zumba, ei, ei, vem aí... Ganga-Zumba, tui, tui, tui, tui, é Zambi...
Esse mundo é meu
Sergio Ricardo/Ruy Guerra
O fino do Fino – 1965
Elis no Fino da Bossa 1965-1967
Té o sol raiar (Tempo feliz)
Baden Powell/Vinícius de Morais
Esse mundo é meu O fino do Fino – 1965

Esse mundo é meu


Feliz o tempo que passou, passou
Tempo tão cheio de recordações
Fui escravo no reino e sou
Tantas canções ele deixou,deixou
Escravo no mundo em que estou
Trazendo paz a tantos corações
Mas acorrentado ninguém pode amar
Que sons mais lindos tinha pelo ar
Saravá, Ogum, mandinga prá gente continua
Quanta alegria de viver
Cade o despacho pra acabá
Ah, meu amor, que tristeza me dá
Santo guerrero da floresta
Vendo o dia querendo amanhecer
Se você nao vem eu mesma vou brigá
E ninguem cantar
Se voce nao vem eu mesma vou brigá

Resolução
Mas meu bem
Escravo do reino e sou
Deixa estar
Escravo do mundo em que estou
Tempo vai, tempo vem
Mas acorrentado ninguém pode amar
E quando um dia esse tempo voltar
Edu Lobo/Lula Freire Eu nem quero pensar o que vai ser
Saravá, Ogum, mandinga prá gente continua O fino do Fino – 1965
Até o sol raiar
Cade o despacho pra acabá Samba eu canto assim – 1965
Santo guerrero da floresta
Se você nao vem eu mesma vou brigá
Se voce nao vem eu mesma vou ficar É, vou contar o que há.
É tempo de dizer quem sou
Sim. Eu cansei de lutar
E agora quero descansar

19
Canção do amanhecer
Tanto eu esperei para vencer
E agora vejo que perder
Nada mais é do que cansar
Edu Lobo/Vinícius de Morais
O fino do fino – 1965 Eu cansei e perdi
Em tanta coisa acreditei
Ouve Se ninguém viu o que eu vi
Fecha os olhos, meu amor Ninguém sabe mais do que eu sei
É noite ainda
Que silêncio! Mas se a esperança vai me deixar
E nós dois E nem mais vou saber chorar
Na tristeza de depois Nem sorrir sem amor para dar
A contemplar
O grande céu do adeus Não. É preciso não morrer
Ah! É preciso decidir de uma vez
Não existe paz O que é pra fazer
Quando o adeus existe
E é tão triste o nosso amor Ou viver ou morrer
Ah! Vem comigo Há tanto para se fazer
Em silêncio Ou viver ou morrer
Vem olhar Há tanto para se fazer
Esta noite amanhecer
Iluminar Todas as canções que eu já cantei
Os nossos passos tão sozinhos Agora tem de me valer
Todos os caminhos E me fazer acreditar
Todos os carinhos
Vem raiando a madrugada Que é preciso viver
Música no céu! E o resto é só deixar pra lá
E, mesmo só, vou seguir
E nada me fará mudar
Chegança Amor demais
Edu Lobo/Oduvaldo Vianna Filho Silvio César/Ed Lincoln
O fino do Fino – 1965 O fino do Fino – 1965

Estamos chegando daqui e dali A canção é o lamento do amor demais


E de todo lugar que se tem pra partir Quem chorou
Estamos chegando daqui e dali Quem sofreu

Maria do Maranhão
E de todo lugar que se tem pra partir Quem perdeu a paz

Trazendo na chegança Venho dizer


Foice velha, mulher nova Na canção
E uma quadra de esperança O que chorou
Carlos Lyra/Nelson L. de Barros
E uma quadra de esperança Seu coração Samba eu canto assim – 1965

Ah, se viver fosse chegar Vem Maria, pobre Maria


Ah, se viver fosse chegar A noite é linda Maria do Maranhão
Vem cantar Que vive por onde anda
Chegar sem parar, parar pra casar E anda de pé no chão
Casar e os filhos espalhar Vem
Por um mundo num tal de rodar Toda tristeza Maria desceu escada
Por um mundo num tal de rodar Vai passar Atravessou o país
Procurava muito pouco
Só assim tu terás Muito pouco ser feliz
Amor sem fim
Amor demais Nem feliz queria ser

maior
Por um amor
Que feliz não pode ser
Quem anda pelas estradas
Atravessando o país

Maria, pobre Maria


Maria do Maranhão
Que vive por onde anda
Francis Hime/Ruy Guerra
João Valentão é brigão E anda de pé no chão
20

Samba eu canto assim – 1965


Pra dar bofetão
Vim, eu vim te dizer Não presta atenção e nem pensa na vida Maria seguiu estrada
Eu vim te lembrar A todos João intimida A estrada de uma estrela
Que a vida não é só tristeza e dor Faz coisas que até Deus duvida Maria não viu a estrela
Mas tem seu momento na vida Maria é só na estrada

Sou sem paz


É pobre quem tem medo de falar
O mundo que quer É quando o sol vai quebrando Mas muita gente seguiu
E depois não dá o amor que guardou Lá pro fim do mundo pra noite chegar A estrela que ela não viu
É quando se ouve mais forte E vai dizer pra maria
Sim, eu vim te dizer O ronco das ondas na beira do mar Que tudo tem solução Adilson Godoy
Samba eu canto assim – 1965
Eu vim te falar É quando o cansaço da lida da vida
Que o amor pra ser bom Obriga João descansar Até mesmo pra Maria
Tento em mim seu amor
Pra não ser qualquer É quando a morena se enrosca Maria do Maranhão
Nasceu como uma flor cantando bem
Precisa gritar a força que tem Do lado da gente Que vive por onde anda
E ninguém jamais amou assim
De tudo mudar Querendo agradar E anda de pé no chão
Nunca assim
Vem, meu amor Se a noite é de lua Sofro sem tudo em mim
Vem, que amar é vencer A vontade é de contar mentira É só tristeza e dor
Mas amar é também É de se espreguiçar É só você e a felicidade que se foi
É de se deitar na areia da praia Que se foi
Gente que vai e vem Que acaba onde a vista
Gente que também quer Não pode alcançar Você fugiu de mim
Ver este mundo melhor E assim adormece esse homem E triste, amor, eu canto assim
Que nunca precisa dormir pra sonhar E a saudade em mim
Que o povo é assim Porque não há sonho mais lindo
E dá o que tem Do que sua terra, não há Volte então, sou sem paz
É o povo que faz Com o seu amor e a felicidade que virá

João Valentão
A vida maior Dorival Caymmi
Que virá
Samba eu canto assim – 1965
Consolação/Berimbau/Tem dó
Baden Powell/Vinícius de Morais
Samba eu canto assim – 1965

Saveiros
Se não tivesse o amor
Se não tivesse essa dor
E se não tivesse o sofrer
E se não tivesse o chorar
Dory Caymmi/Nelson Motta
… Compacto duplo – 1966

Capoeira me mandou Nem bem a noite terminou

Eternidade
Dizer que já chegou Vão os saveiros para o mar
Chegou para lutar Levam no dia que amanhece
As mesmas esperanças
Berimbau me confirmou Do dia que passou
Luiz Chaves/Adilson Godoy
Vai ter briga de amor Quantos partiram de manhã
Samba eu canto assim – 1965
Tristeza camará Quem sabe quantos vão voltar
Só quando o sol descansar,
Se ele é mais que céu
… E se os ventos deixarem,
É mais que luz
Os barcos vão voltar
É mais que amor
Ah! Tem dó Quantas histórias pra contar
Quem viveu junto não pode nunca viver só E em cada vela que aparece
Sinto o infinito
Ah! Tem dó Um canto de alegria
Da paz que vem
Mesmo porque você não vai ter coisa melhor De quem venceu no mar
Nascendo em mim

E sinto, enfim Não me venha achar ruim


Que é mais que tudo Porque você me conheceu assim

Aleluia
É mais que o mundo Me diga agora, ora, ora
Me ensinou Não foi assim que você gamou?

Paz que eu tanto amei, chorando Você sabe muito bem


Edu Lobo/Ruy Guerra
Não, não se vá Que mesmosendo louca, assim Samba eu canto assim – 1965
Nossa eternidade Gamei também

21
Elis no Fino da Bossa – 1994 (Com Edu Lobo)
Que sempre sonhei Me diga agora, ora, ora
Nasceu no que sou Será que alguém não foi quem mudou? Barco deitado na areia
Não dá pra viver, não dá
Sim, é mais que tudo Lua bonita sozinha
Não faz o amor, não faz

Último canto
É mais que o mundo
Me ensinou
Toma decisão, aleluia!
Que um dia o céu vai mudar
Francis Hime/Ruy Guerra Quem viveu a vida da gente
Samba eu canto assim – 1965 Tem que se arriscar

Vou acender uma vela Amanhã é teu dia


Vou só cantar o meu canto Amanhã é teu mar, teu mar
E vou cantar da maneira E se o vento da terra
A mais singela Que traz teu amor, já vem

E só depois Toma decisão, aleluia!


Vou te esquecer Lança o teu saveiro no mar
E só depois Beabá de pesca é coragem
Vou te esquecer Ganha o teu lugar

Vou acender uma vela Mesmo com a morte esperando


Vou só chorar o meu pranto Eu me largo pro mar, eu vou
E vou chorar da maneira Tudo o que sei é viver
A mais singela E vivendo é que eu vou morrer

E só depois Toma decisão, tá na hora!


Quero esquecer Que um dia o céu vai mudar
Quem não tem mais nada a perder
Quando um amor acaba em pranto Só vai poder ganhar
É o mesmo que alguém morrer
Vou acender esta vela
Que é por mim e é por ela
Ensaio geral
Gilberto Gil

Jogo de roda
Compacto duplo – 1966

O Rancho do Novo Dia


O Cordão da Liberdade
Edu Lobo/Ruy Guerra E o Bloco da Mocidade
Compacto duplo – 1966
Vão sair no carnaval
É preciso ir à rua
É ô lê, é hora
Esperar pela passagem
É ô lê, de roda
É preciso ter coragem
E aplaudir o pessoal
Jogo a vida
O Rancho do Novo Dia
Jogo a tarde
Vem com mais de mil pastoras
Jogo a faca e a razão
Todas elas detentoras
Jogo o mundo à sua sorte
De um sorriso sem igual
E a mentira eu jogo ao chão
O Cordão da Liberdade

Canto triste
Ensaiado com carinho
A roda vai rodar
Pelo Zé Redemoinho
E eu jogo o meu amor então
Pelo Chico Vendaval
E se eu puder
Oh, que linda fantasia
Entro na roda e vou rodar também
Edu Lobo/Vinícius de Morais Do Bloco da Mocidade
Compacto duplo – 1966 Colorida de ousadia
Gira a roda
Costurada de amizade
Porque sempre foste a primavera em minha vida Roda o tempo
Vai ser lindo ver o bloco
Volta pra mim Nasce um samba em minha mão
Desfilar pela cidade
Desponta novamente no meu canto Olho a praia
Minha gente, vamos lá
Eu te amo tanto mais, te quero tanto mais Chamo o vento
Nossa turma vai sair
Há quanto tempo faz partiste Abro os braços e a canção
Nossa escola vai sambar
Como a primavera que também te viu partir Vai cantar pra gente ouvir
Sem um adeus sequer Eu sei aonde estou
Tá na hora, vamos lá
E nada existe mais em minha vida E sei onde é que eu quero ir
Carnaval é pra valer
E quem quiser
22

Como um carinho teu, como um silêncio teu Nossa turma é da verdade


Lembro um sorriso teu tão triste Entre na roda e vá rodar também
E a verdade vai vencer
Ah, Lua sem compaixão, sempre a vagar no céu
Onde se esconde a minha bem-amada Ó, meu amor
Onde a minha namorada O mundo assim não pode ser
Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço É só tristeza e noite pra se ver
Peço apenas Sozinha estou num mundo

Rosa morena
Que ela lembre as nossas horas de poesia Em que o mal é rei
Das noites de paixão Mas o meu canto vem fora de lei
E diz-lhe da saudade em que me viste
Que estou sozinho e só existe Ó, meu amor
Meu canto triste Vem prá perto de mim cantar Dorival Caymmi/Antônio de Almeida
Compacto simples – 1966
Na solidão Que nessa roda a dor vai se entregar
A minha voz é fraca
Rosa morena
Mas em meu olhar
Onde vais morena rosa
O novo mundo roda sem parar
Com essa rosa no cabelo
Sem parar
E esse andar de moça prosa
Sem parar
Morena, morena rosa
A rodar
A rodar
Rosa morena o samba está esperando
A rodar
Esperando p’rá te ver
Deixa de lado essa coisa de dengosa
E assim tenho um norte
Anda rosa, vem me ver
Tenho a vida
Tenho um samba de cordão
Deixa de lado essa pose
Tenho a noite já vencida
Vem pro samba, vem sambar
Na palma de minha mão
Que o pessoal está cansado de esperar
Meu samba já chegou
Tanta tristeza quer também
E o teu amor
Samba na roda do meu coração
Canto de Ossanha
Baden Powell/Vinícius de Morais
Compacto simples – 1966
Dois na bossa 2 – 1966
Elis, como e porque – 1969
Aquarela do Brasil – 1969

O homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz "vou" não vai, porque quando foi já não quis
O homem que diz "sou" não é, porque quem é mesmo é "não sou"
O homem que diz "tô" não tá, porque ninguém tá quando quer
Coitado do homem que cai no canto de Ossanha, traidor
Coitado do homem que vai atrás de mandinga de amor
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai... não vou!
Que eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer

23
a tristeza de um amor que passou
Não , eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer
na manhã de um novo amor
Amigo senhor, saravá, Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha, não vá, que muito vai se arrepender
Pergunte ao seu Orixá, o amor só é bom se doer
Pergunte ao seu Orixá o amor só é bom se doer
Vai, vai, vai, vai, amar sofrer
Vai, vai, vai,
Vai, vai, vai, vai, chorar dizer
Vai, vai, vai,
due eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer
a tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer
na manhã de um novo amor
Poutpourri de
Louvação
introdução
SAMBA DE MUDAR Gilberto Gil/Torquato Neto
(Geraldo Vandré) Dois na bossa 2 – 1966 (Com Jair Rodrigues)

Samba eu canto assim


Samba eu faço asism
Vou fazer a louvação
Louvação, louvação

Só quem sofreu
Do que deve ser louvado

Quem chorou
Ser louvado, ser louvado
Dois na bossa 2 – 1966 (Com Jair Rodrigues)
Meu samba vai ouvir
Meu povo, preste atenção

Meu samba vai cantar


Atenção, atenção
Repare se estou errado
SAMBA DE MUDAR
Só na tristeza e na dor (Geraldo Vandré)
Alguém pode entender
Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.

Que a dor vai se acabar Só quem sofreu


E assim somente Quem chorou
E louvo, pra começar, da vida o que é bem maior.

Meu samba vai ouvir


Louvo a esperança da gente na vida, pra ser melhor.

Meu samba vai cantar


Quem espera sempre alcança. Três vezes salve a esperança!
NÃO ME DIGA ADEUS
(Paquito/L. Soberano/J. C. Silva)
Só na tristeza e na dor
Louvo quem espera sabendo que pra melhor esperar.

Não Alguém pode entender


Procede bem quem não pára de sempre mais trabalhar.

Não me diga adeus Que a dor vai se acabar


Que só espera sentado quem se acha conformado.

Pense nos sofrimentos meus E assim somente Vou fazendo a louvação

VOLTA POR CIMA ENQUANTO A TRISTEZA NÃO VEM


Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
(Paulo Vanzolini) (Sérgio Ricardo) Ser louvado, ser louvado
Ali onde eu chorei Por isso canta, canta
Quem 'tiver me escutando
Qualquer um chorava Nasceu uma rosa na favela
Atenção, atenção
Dar a volta por cima que eu dei Canta, canta
Que me escute com cuidado
Quero ver quem dava Nasceu uma rosa na favela Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.
O NEGUINHO E A SENHORITA CARNAVAL
24

(Noel Rosa/A. da Silva)


Louvo agora e louvo sempre o que grande sempre é.
(D. Ferreira/Ataulfo Alves)
Louvo a força do homem e a beleza da mulher.
Eu gostei da filha da madame Lê lê lê
Louvo a paz pra haver na terra. Louvo o amor que espanta a guerra.
Que nós tratamos de sinhá A rainha do samba chegou
Lê lê lê
Louvo a amizade do amigo que comigo há de morrer.
A sinhazinha também gostou do neguinho O batuque do nêgo enfezou
Louvo a vida merecida de quem morre pra viver.
O crioulinho não tem dinheiro pra gastar
Louvo a luta repetida. A vida pra não morrer.
NA GINGA DO SAMBA
Mas a madame tem preconceito de cor (Ataulfo Alves)
Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
E DAÍ É na ginga bonita que o samba tem Do que deve ser louvado
(Miguel Gustavo) Quem não tem ginga, no samba não se dá bem Ser louvado, ser louvado
De todos peço atenção
Proibiram que eu te amasse GUARDA A SANDÁLIA DELA Atenção, atenção
Proibiram que eu te visse (Sereno/Germano Mathias) Falo de peito lavado
Proibiram que eu saisse
E perguntasse a alguém por ti Guarda a sandália dela Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.
Que o samba sem ela não pode ficar
Proibiram tudo Diga também pra ela Louvo a casa onde se mora de junto da companheira.
Proibam muito mais! Que a escola sem ela não pode sambar Louvo o jardim que se planta pra ver crescer a roseira.
Preguem avisos! Louvo a canção que se canta prá chamar a primavera.
Fechem portas! SAMBA DE MUDAR
Ponham guizos! (Geraldo Vandré) Louvo quem canta e não canta, porque não sabe cantar.
Nosso amor perguntará,
Mas que cantará na certa quando enfim se apresentar.
E daí? Porque o samba é o samba bom O dia certo e preciso de toda a gente cantar.
O samba é meu
Da nossa dor E assim fiz a louvação
É um samba de sofrer Louvação, louvação
Samba de querer Do que vi pra ser louvado
Samba de... Ser louvado, ser louvado
Samba de mudar Se me ouviram com atenção
Atenção, atenção
Saberão se estive errado

Louvando o que bem merece. Deixando o ruim de lado.


Amor até o fim
Upa, neguinho
Gilberto Gil
Dois na bossa 2 – 1966
Montreaux Jazz Festival – 1982

Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri Amor não tem que se acabar


Dois na bossa 2 – 1966 Eu quero e sei que vou ficar
Compacto simples – 1968
Elis especial – 1968 Até o fim eu vou te amar
Elis Regina in London – 1969 Até que a vida em mim resolva se apagar
Montreaux Jazz Festival – 1982
O amor é como a rosa num jardim
Upa, neguinho na estrada A gente cuida, a gente olha
Upa, pra lá e pra cá A gente deixa o sol bater
Virge, que coisa mais linda! Pra crescer, pra crescer
Upa, neguinho começando a andá
Começando a andá, começando a andá A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
E já começa a apanhá Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar
Cresce, neguinho e me abraça
Cresce e me ensina a cantá Amor não tem que se acabar
Eu vim de tanta desgraça Até o fim da minha vida eu vou te amar
Mas muito te posso ensiná Eu sei que o amor não tem, não tem que se apagar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Capoeira, posso ensiná Eu sei que o amor não tem que se apagar
Ziquizira, posso tirá
Valentia, posso emprestá

Tristeza que
Mas liberdade só posso esperá

Pra dizer adeus


Patá tá tri

se foi
Tri tri tri
Trá trá trá

25
Adilson Godoy

Samba
Dois na bossa 2 – 1966 Edu Lobo/Torquato Neto
Elis – 1966
Toda tristeza já passou Elis no Fino da Bossa 1965-1967

em
E agora um novo amor
vem surgindo Adeus
Sorrindo Vou pra não voltar

paz
E onde quer que eu vá
Por isso bem feliz eu sei que Sei que vou sozinha
Toda tristeza já passou
E que agora um novo amor Tão sozinha amor
Vem surgindo Nem é bom pensar
Sorrindo Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Por isso vou
Caetano Veloso
Vou cantando agora Elis – 1966
Ah, pena eu não saber
Vou levando agora Como te contar
A beleza de um novo amor O samba vai vencer Que o amor foi tanto
Que me nasceu Quando o povo perceber E no entanto eu queria dizer
Que é o dono da jogada
Vou cantando agora Vem
Vou levando agora O samba vai crescer Eu só sei dizer
Felicidade só Pelas ruas vai correr Vem
Uma grande batucada Nem que seja só
Prá dizer adeus
Samba não vai chorar mais
Toda gente vai cantar
O mundo vai mudar

E o povo vai cantar


Um grande samba em paz
Meu povo, preste atenção
Na roda que eu te fiz
Quero mostrar a quem vem
Aquilo que o povo diz
Posso falar, pois eu sei
Eu tiro os outros por mim
Quando almoço, não janto
E quando canto é assim

Agora vou divertir


Agora vou começar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser escutar

Quem tem dinheiro no mundo


Quanto mais tem, quer ganhar
E a gente que não tem nada
Lunik 9 Gilberto Gil
Elis – 1966
Fica pior do que está Elis no Fino da Bossa 1965-1967
Seu moço, tenha vergonha
Acabe a descaração Poetas, seresteiros, namorados, correi
Deixe o dinheiro do pobre É chegada a hora de escrever e cantar

Roda
E roube outro ladrão Talvez as derradeiras noites de luar
Agora vou divertir Momento histórico, simples resultado do desenvolvimento da ciência viva
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar Afirmação do homem normal, gradativa sobre o universo natural
Quero ver quem vai sair Sei lá que mais
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir Ah, sim!
Os místicos também profetizando em tudo o fim do mundo
Se morre o rico e o pobre E em tudo o início dos tempos do além
Enterre o rico e eu Em cada consciência, em todos os confins
Quero ver quem que separa
Da nova guerra ouvem-se os clarins
O pó do rico do meu
Se lá embaixo há igualdade
Aqui em cima há de haver Guerra diferente das tradicionais,
Quem quer ser mais do que é Guerra de astronautas nos espaços siderais
Um dia há de sofrer E tudo isso em meio às discussões,
26

já!
Muitos palpites, mil opiniões
Agora vou divertir Um fato só já existe que ninguém pode negar

2... 1...
Gilberto Gil/João Augusto
Agora vou prosseguir
Elis – 1966
Quero ver quem vai ficar

4... 3...
Quero ver quem vai sair
5...
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir 7... 6..
Seu moço, tenha cuidado
Com sua exploração E lá se foi o homem conquistar os mundos, lá se foi
Se não lhe dou de presente Lá se foi buscando a esperança que aqui já se foi
A sua cova no chão Nos jornais, manchetes, sensação, reportagens, fotos, conclusão:
Quero ver quem vai dizer
Quero ver quem vai mentir A lua foi alcançada afinal,
Quero ver quem vai negar Muito bem, confesso que estou contente também
Aquilo que eu disse aqui

Agora vou divertir A mim me resta disso tudo uma tristeza só


Agora vou terminar Talvez não tenha mais luar pra clarear minha canção
Quero ver quem vai sair O que será do verso sem luar?
Quero ver quem vai ficar O que será do mar, da flor, do violão?
Não é obrigado a me ouvir Tenho pensado tanto, mas nem sei
Quem não quiser escutar
Poetas, seresteiros, namorados, correi
Agora vou terminar É chegada a hora de escrever e cantar
Agora vou discorrer
Quem sabe tudo e diz logo Talvez as derradeiras noites de luar
Fica sem nada a dizer
Quero ver quem vai voltar
Quero ver quem vai fugir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai trair

Por isso eu fecho essa roda


A roda que eu te fiz
A roda que é do povo
Onde se diz o que diz... Onde se diz o que diz...
Veleiro
Edu Lobo/Torquato neto
Elis – 1966

Ê... ô... tá na hora e no tempo


Vamos lá que esse vento traz
Recado de partir

Beira de praia
Não faz mal que se deixe Boa palavra
Se o caminho da gente vai pro mar
Caetano Veloso
Elis – 1966
Eu vou, tanta praia deixando
Sem saber até quando eu vou Aprendeu sozinho
Quando eu vou,quando eu volto Na areia, no chão
A brincar sozinho

Estatuinha
Eu vou pra terra distante Sem a mão de um irmão
Não tem mar que me espante
Não tem, não Aprendeu com o vento
Que o sono passou
Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri Anda, vem comigo que é tempo E acordou sozinho
Elis – 1966 Vem depressa que eu tenho No solo sem amor
Braço forte e o rumo certo
Se a mão livre do negro tocar na argila Tava dormindo, acordei
O que é que vai nascer? Aqui o dia está perto Para acertar o namoro
E é preciso ir embora Me deram o que de beber
Vai nascer pote pra gente beber Ah! vem comigo nesse veleiro Numa caneca de ouro
Nasce panela pra gente comer
Nasce vazinho, nasce parede Tá na hora e no tempo, ê... ô... Não lhe deram nada
Nasce estatuinha bonita de se ver Vamos embora no vento ê... ô... Não é seu este chão
Deita olhando o céu
Se a mão livre do negro tocar na onça Que o céu não tem dono, não
O que é que vai nascer?

27
Como um passarinho

Sonho de Maria
Vai nascer pele pra cobrir nossas vergonhas Aprende a voar
Nasce tapete pra cobrir o nosso chão Solta o pensamento
Nasce caminha pra se ter nossa ialê Num braço de mar
Nasce atabaque pra se ter onde bater
Marcos Valle/Paulo Sergio Valle
Elis – 1966 Voou pra beira do rio
Se a mão liver do negro tocar na palmeira Pousou num poço dourado
O que é que vai nascer? Tanta roupa pra lavar Moça com seu namorado
Tanto barraco pra arrumar Rico com seu empregado
Nasce choupana prá gente morar Tanta coisa pra esperar
Nasce rede pra gente se embalar Aprendeu sozinho
Nasce esteira pra gente se deitar Todo o morro a sambar Deitado no chão
Nasce os abanos pra gente abanar Tanta gente pra invejar A esperar sozinho
Nenhum sonho pra sonhar Tempo de encontrar irmão

Maria parou de trabalhar Inda a madrugada


No ar uma voz chamou Espera nascer
Maria olhou o céu Não lhe deram nada
Maria desejou o céu Mas não quer morrer

A vida é uma canção para se cantar Boa palavra, rapaz


Mas é tarde pra voltar Boa palavra, rapaz
Maria deixou a criança chorar Boa palavra, rapaz
Uma estrela deixou de brilhar É assim que um homem faz

Chorou.
Chorou o céu. Chorou
E a lágrima do céu apagou
Tudo o que maria deixou

E maria pra sempre acabou


Tem mais samba
Chico Buarque
Elis – 1966

Tereza sabe sambar


Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Francis Hime/Vinícius de Morais
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos Elis – 1966
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha Chegou, chegou, sim senhor
Tem mais samba no som que vem da rua Chegou sem anunciar
Fez um alô pro tiô
Tem mais samba no peito de quem chora Fez um olá pra tiá
Tem mais samba no pranto de quem vê Depois dançou e dançou
Que o bom samba não tem lugar nem hora Até o dia raiar
O coração de fora samba sem querer E não contente enturmou
Com as cabrochas de lá
Vem que passa teu sofrer
E não contente enturmou

Canção do sal
Se todo mundo sambasse seria tão fácil viver
Com as cabrochas de lá

Salve, salve a Dona Tereza


Ela vai pro céu
Ela tem aquela nobreza
Que tinha Izabel

Carinhoso
Milton Nascimento
Elis – 1966
Compacto simples – 1968 Branquinha igual assim não pode existir
Balanço igual eu juro que nunca vi
Trabalhando o sal No carnaval nós vamos nos divertir
A turma tá que tá que não cabe em si
É amor, o suor que me sai
Pixinguinha/João de Barro
Elis – 1966
28

Vou viver cantando


Porque Tereza enturmou
Meu coração
Não sei porque O dia tão quente que faz Depois foi-se embora Tereza

Homem ver criança


Foi como um luar
Bate feliz, quando te vê Foi deixando tanta tristeza
Buscando conchinhas no mar
E os meus olhos ficam sorrindo Na turma de lá
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim, foges de mim Trabalho o dia inteiro A gafieira já fez “subiscrição”

Ah! Se tu soubesses Pra vida de gente levar Pra passar cera e dar uma caiação

Como sou tão carinhoso A turma tá que tá que não sai de lá


E muito e muito que te quero
E como é sincero o meu amor Água vira sal lá na salina Tereza um dia pode querer voltar

Eu sei que tu não fugirias mais de mim


Quem diminuiu água do mar? Porque Tereza enturmou

Água enfrenta o sol lá na salina


Porque Tereza enturmou
Vem!.. vem!... vem!.... vem!... Voltou, voltou sim senhor
Sol que vai queimando até queimar Voltou sem anunciar
Vem sentir o calor Fez um alô pro tiô
Dos lábios meus Fez um olá pra tiá
À procura dos teus Trabalhando o sal Tereza é branca na cor
Mas isso diexa pra lá
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração Pra ver a mulher se vestir Porque Tereza enturmou
E só assim então E ao chegar em casa Porque ela sabe sambar

Serei feliz, bem feliz


Tereza sabe sambar
Encontrar a família a sorrir Tereza sabe sambar
Filho vir da escola
Problema maior é o de estudar
Que pra não ter meu trabalho
E vida de gente levar
Imagem
Canção de não cantar
Luiz Eça/Ronaldo Bôscoli
Dois na Bossa 3 – 1967

Cantador
Sérgio Bittencourt Bom
Festival dos festivais – 1966 Ai, que bom é ver vocês
Guardo o meu violão.
E cada vez que eu volto
Dory Caymmi/Nelson Motta
Já nos faltam canções. Festival da Música Popular Brasileira Volume 2 – 1967 É para dizer
São muitas as razões, Que sem ter vocês
que temos pra cantar, Amanhece, preciso ir Sem ver vocês
mas hoje, amor, melhor Meu caminho é sem volta e sem ninguém
Eu vou pra onde a estrada levar
Não sou ninguém
é não cantar,
enquanto houver em nós Cantador, só sei cantar
vontade de fugir de um canto
Canta
que na voz não vai saber mentir.Ah! eu canto a dor
Que a vida passa
Canto a vida e a morte E, se ela passa
Meu canto para ser um canto certo, Canto o amor
Melhor cantar
vai ter que nascer liberto
e morar no assobio Cantador não escolhe o seu cantar É de vocês
do ocupado e do vadio Canta o mundo que vê O meu cantar
do alegre e do mais triste E pro mundo que vi meu canto é dor
só há canto quando existe Mas é forte pra espantar a morte
É só pra vocês

muito tempo e muito espaço Prá todos ouvirem minha voz


Nosso cantar

pra canção ficar se eu passo Mesmo longe


e dizer o que eu não disse.
Enquanto a nossa meta não for atingida,
Ah que bom se eu ouvisse De que servem meu canto e eu continuamos gritando o nosso canto.
o meu canto por ai. Se em meu peito há um amor que não morreu
Ah! se eu soubesse ao menos chorar
Enquanto nossa música não voltar ao que é, nós lutamos.
Por isso o violão Cantador, só sei cantar Faz escuro, mas nós cantamos.
prefere emudecer.
E vem pedir perdão Ah! Eu canto a dor
O amanhã está breve.
por não poder cantar De uma vida perdida sem amor
Vamos cantar, logo logo, o que é nosso.

29
que hoje, amor, melhor Porque, mais que nunca, é preciso cantar o que é nosso.
é não cantar.

MANGUEIRA MUNDO DE ZINCO DESPEDIDA DA MANGUEIRA


(Assis Valente/Zequinha Reis) (Nássara/Wilson Batista) (Aldo Cabral/Bendito Lacerda)

Nao há, nem pode haver Aquele mundo de Zinco que é Mangueira Em Mangueira na hora da minha despedida
Como Magueira não há Desperta com o apito do trem Todo mundo chorou, todo mundo chorou
O samba vem de lá, alegria também Uma cabrocha e uma esteira Foi pra mim a maior emoção da minha vida
Morena faceira só Mangueira tem Um barracão de madeira pois em Mangueira o meu coracao ficou
Qualquer malandro em Mangueira tem
FALA, MANGUEIRA! PRA MACHUCAR MEU CORAÇÃO
(Mirabeau/Milton de Oliveira) Mangueira fica pertinho do céu, Elis (Ary Barroso)
Mangueira vai assistir o meu fim
Fala, Mangueira, fala E deixa o nome na história Ficou pra machucar meu coracao!
Mostra a força da tua tradição O samba foi minha glória
Com licença da Portela,

Pout-pourri
Eu sei que muitas cabrochas
Favela Mangueira mora no meu coração Vão chorar por mim

Mangueira
EXALTACÃO À MANGUEIRA

de
(Enéas Brites da silva/Aloisio A. Costa)
LEVANTA MANGUEIRA
(Luiz Antonio)
Mangueira teu cenário é uma beleza
Qua a natureza criou, ô ô Levanta, Mangueira, a poeira do chão
O morro com seus barracões de zinco Samba de coração
Quando amanhece, que esplendor! Ai, mostra a sandália de prata da mulata Dois na Bossa 3 – 1967 (Com Jair Rodrigues)
Todo mundo te conhece ao longe Acorda a cuíca e o tamborim
Pelo som do teu tamborim Mostra que o samba nasceu em Mangueira,sim
E o rufar do teu tambor Levanta Mangueira, a poeira do chão
Chegou ô ô a Mangueira, chegou! Samba de coração
Cruz de cinza, cruz de sal
Manifesto zinho Rocha
Walter Santos/Teresa Souza
Dois na Bossa 3 – 1967
Compacto simples – 1968
Marcha de
Guto/Mario
Dois na Bossa 3
– 1967
Santa Clara clareai,
quarta-feira de cinzas
Carlos Lyra/Vinícius de Morais
gem
São Domingo alumiai
traz mensa
a m úsica não fria Dois na Bossa 3 – 1967
Vai chuva, vem sol
A min h ou g uer ra
chantagem
E não faz
Vai chuva, vem sol
ia
em ideolog
E nem fala Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Sol, vem sol, vem sol, vem sol
es falar
as para lh Ninguém passa mais brincando feliz
Eu vim apen
De uma gra
nde perda a esquerda Que o menino quer E nos corações
ireita ou d
Brincar, brincar
i se é da d Saudades e cinzas foi o que restou
Que nem se
nsura cort
a Tanto que chamou
rta se a ce Vem sol, vem sol
Pelas ruas o que se vê
Que me impo ha
Tudo que já fez
é v er mel É uma gente que nem se vê
to dela se
Pois eu gos
Cruz de cinza, cruz de sal,
a Que nem se sorri
de e amarel
Ou se é ver
Casca de ovo no quintal
Se beija e se abraça
, amigo E sai caminhando
mar ad a, companheiro
Tudo que chamou
Oh, ca Dançando e cantando cantigas de amor
bora
Ela foi em
Vem sol, vem sol
go
qu e foi conti
E o pior
Santa Clara clareai
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
Vem sol, vem sol
de golpe
i um gran
Para mim fo É preciso cantar e alegrar a cidade
E a trizteza do menino
d o ou armado
de esta
Não sei se
Ou talvez
de coração São Domingo alumiai A tristeza que a gente tem
ito grande Vem sol, vem com tanto azul no céu Qualquer dia vai se acabar
Pra criança se perder de tanto rir
qu e a dor foi mu e Todos vão sorrir
Só sei diz er ansformou-s
inteira tr Pro menino se alegrar e o céu cair
a v id a Voltou a esperança
h
Nessa rua onde o brinquedo é só você.
E min
e agitação É o povo que dança
Numa enorm Contente da vida, feliz a cantar
andato
Sol, vem sol, vem sol, vem sol
si m te rm ina meu m Porque são tantas coisas azuis
Já que as deportado
Que o menino quer
E há tão grandes promessas de luz
i cassado e
Pois eu fu
Brincar, brincar
ocê Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
nge de v
Pra bem lo
Tanto que chamou
30

e dizer Quem me dera viver pra ver


in h a am ad a, quero lh Vem sol, vem sol E brincar outros carnavais
Tudo que já fez
Oh, m
teu amor
Que sem o Com a beleza dos velhos carnavais
Eu posso at é morrer Cruz de cinza, cruz de sal, Que marchas tão lindas
Casca de ovo no quintal E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

MINHA NAMORADA EU SEI QUE VOU TE AMAR A VOLTA MINHA NAMORADA


(Carlos Lyra/Vinícius de Morais) (Tom Jobim/Vinícius de Morais) (Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli) (Carlos Lyra/Vinícius de Morais)

Meu amor eu hoje estou contente Eu sei que vou te amar Mas quero que você me fale Os seus olhos têm que ser
Todo mundo, de repente, Por toda minha vida vou te amar Que você me cale só dos meus olhos
Ficou lindo, ficou lindo de morrer Em cada despedida eu vou te amar Caso eu perguntar Os seus braços o meu ninho
Desesperadamente eu sei que vou te amar Se o que a faz tão linda No silêncio de depois
Hoje eu estou rindo E cada verso meu será Foi tua pressa de voltar E você tem que ser a estrela derradeira
Nem eu mesma sei do quê Pra te dizer que eu sei que vou te amar Minha amiga e companheira
Porque eu recebi Por toda minha vida Levanta e vem correndo No infinito de nós dois
Uma cartinhazinha de você Me abraça e sem sofrer
Que diz assim: MINHA NAMORADA Me beija longamente PRIMAVERA
(Carlos Lyra/Vinícius de Morais) (Carlos Lyra/Vinícius de Morais)
Se você quer ser minha namorada O quanto a solidão precisa para morrer?
Oh, que linda namorada, Mas se em vez de minha namorada Amor, eu lhe direi
Você poderia ser! Você quer ser minha amada Amor que eu tanto procurei
Minha amada mais amada pra valer Ah, quem me dera eu pudesse ser
Se quiser ser somente minha A tua primavera

Pout-pourri romântico
Exatamente essa coisinha Aquela amada E depois morrer
Essa coisa toda minha Pelo amor predestinada
De ninguém mais pode ser Sem a qual a vida é nada
Sem a quel se quer morrer.

Você tem que vir comigo em meu caminho


E talvez o meu caminho seja triste pra você Dois na Bossa 3 – 1967 (Com Jair Rodrigues)
Yê-melê
Samba da
benção (Samba saravah)
Chico Feitosa/Luiz Carlos Vinhas
Compacto simples – 1968

Yê-melê ari ará


Yê-melê ará

Lapinha
Ye-melê ari ará Baden Powell/Vinícius de Moraes/Vs. Pierre Barouh
Compacto simples – 1968
Canto de Yemanjá
Etre heureux c'est plus ou moins ce qu'on cherche
Zauê zaua
J'aime rire chanter et je n'empêche
Melê Mela
Pas les gens qui sont bien d'être joyeux
Indê olá
Pourtant s'il est une samba sans tristesse
Onda do mar
C'est un vin qui donne pas l'ivresse
Un vin qui ne donne pas l'ivresse
A rainha mãe do mar
Non ce n'est pas la samba que je veux
Traz o seu amor
Sua benção vem me dar Baden Powell/Paulo César Pinheiro
J'en connais que la chanson incommode
E eu dou uma flor Compacto simples – 1968
D'autres pour qui ce n'est rien qu'une mode
Quando eu morrer me enterre na Lapinha D'autres qui en profitent sans l'aimer
Quando eu morrer me enterre na Lapinha Moi je l'aime et j'ai parcouru le monde
Zauê zaua
Calça, culote, palitó almofadinha En cherchant ses racines vagabondes
Melê Mela
Calça, culote, palitó almofadinha C'est la chanson de samba qu'il faut chanter
Indê olá
Onda do mar
Vai, meu lamento vai contar On m'a dit qu'elle venait de Bahia
Toda tristeza de viver Qu'elle doit son rythme et sa poésie
Algum dia vai chegar
Ai, a verdade sempre trai À des siècles de danses et de douleur
Que eu vou ouvir
E às vezes traz um mal a mais Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprime
Esse canto de Yemanjá
Ai, só me fez dilacerar Elle est blanche de forme et de rimes
Vai do mar sair
Ver tanta gente se entregar Blanche de forme et de rimes
Mas não me conformei Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Zauê zaua
Melê Mela Indo contra lei
Sei que não me arrependi Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprime
Indê olá
Tenho um pedido só Elle est blanche de forme et de rimes
Onda do mar

31
Último talvez, antes de partir Blanche de forme et de rimes
Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Quando eu morrer me enterre na Lapinha

Samba do perdão
Quando eu morrer me enterre na Lapinha Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprime
Calça, culote, palitó almofadinha Elle est blanche de forme et de rimes
Calça, culote, palitó almofadinha Blanche de forme et de rimes
Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Baden Powell/Paulo César Pinheiro Sai, minha mágoa Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Elis especial – 1968
Sai de mim
Há tanto coração ruim
Mais uma vez amor
Ai, é tão desesperador
A dor chegou sem me dizer
O amor perder do desamor
Agora que existe a paixão
Ah, tanto erro eu vi, lutei
A hora não é de sofrer
E como perdedor gritei
Que eu sou um homem só
Mas quem quer pedir perdão
Sem saber mudar
Não deixa a tristeza saber
Nunca mais vou lastimar
E no entando a tua falta
Tenho um pedido só
Vem vazar meu coração
Último talvez, antes de partir
Mas a vida ensina a crer e a perdoar
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Quando um amor valer
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
E o nosso é tão grande que já nem sei
Calça, culote, palitó almofadinha
Tenha pena das penas que eu penei
Calça, culote, palitó almofadinha
Não despreze mais meu padecer
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Afasta a melancolia e a solidão
Cordão de ouro
Já não cabem mais no meu violão
Eu vou partir porque mataram meu besouro
Tanta mágoa, sim, que eu vou morrer
Soluço eterno, pedir do coração
Só quem morre de amor pede perdão
Tributo ao Tom Jobim
Tom Jobim
Elis especial – 1968 De onde vens Bom tempo
Dory Caymmi/Nelson Motta Chico Buarque
VOU TE CONTAR (WAVE) Elis especial – 1968 Elis especial – 1968

Vou te contar Ah, quanta dor vejo em teus olhos Um marinheiro me contou
Os olhos já não podem ver Tanto pranto em teu sorriso Q u e a b o a b r i s a l h e s o p ro u
Coisas que só o coração pode entender Tão vazias as tuas mãos Que vem aí bom tempo
De onde vens assim cansada
Fundamental é mesmo o amor
De que dor, de qual distância O pescador me confirmou
É impossível ser feliz sozinho
De que terras,de que mar Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
OUTRA VEZ
Só quem partiu pode voltar
E eu voltei prá te contar
Outra vez sem você
Dou duro toda a semana
Dos caminhos onde andei
Outra vez sem amor
Senão pergunte à Joana
Fiz do riso amargo pranto
Outra vez vou sofrer
Que não me deixa mentir
No olhar sempre teus olhos
Vou chorar
Mas, finalmente é domingo
No peito aberto uma canção
Até você voltar
Naturalmente, me vingo
VOU TE CONTAR (WAVE) Eu vou me espalhar por aí
Se eu pudesse de repente te mostrar meu coração
Saberias num momento quanta dor há dentro dele
Dor de amor quando não passa No compasso do samba
A primeira vez era a cidade
É porque o amor valeu E u d i s f a r ç o o
Da segunda, o cais e a eternidade
c a n s a ç o
J o a n a d e b a i x o
FOTOGRAFIA
d o b r a ç o
Carregadinha de amor
Eu, você, nós dois

Da cor do pecado
V o u q u e v o u
Aqui nesse terraço a beira-mar
Pela estrada que dá numa
O sol já vai caindo a o seu olhar
p r a i a d o u r a d a
Parece acompanhar a cor do mar
Que dá num tal de
f a z e r n a d a
Você tem de ir embora
Bororó
32

Como a natureza mandou


A tarde cai em cores
Elis especial – 1968
V o u
Se desfaz
Esse corpo moreno, S a t i s f e i t o, a l e g r i a b a t e n d o
Escureceu
Cheiroso e gostoso n o p e i t o
O sol caiu no mar
Que você tem O radinho contando
E aquela luz…
É um corpo delgado, d i r e i t o
Da cor do pecado,
VOU TE CONTAR (WAVE) A vitória do meu tricolor
Que faz tão bem V o u q u e v o u
L á n o a l t o
So close your eyes…
Esse beijo molhado, O sol quente me leva
Laralara…
Escandalizado, n u m s a l t o
…fundamental é mesmo o amor
Que você deu
É impossível ser feliz sozinho
Pro lado contrário
Tem sabor diferente,
Sozinho…
d o a s f a l t o
Que a boca da gente
Sozinho…
Pro lado contrário da dor
Vou te contar Jamais esqueceu
Um marinheiro me contou
E quando você me responde
Os olhos já não podem ver
Q u e a b o a b r i s a l h e s o p ro u
Umas coisas com graça,
Coisas que só o coração pode entender
Que vem aí bom tempo
A vergonha se esconde
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho
Porque se revela Um pescador me confirmou
A maldade da raça. Que um passarinho lhe cantou
O resto é mar
Esse corpo, de fato, Que vem aí bom tempo
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho a brisa e me diz Tem cheiro de mato,
É impossível ser feliz sozinho Saudade, tristeza, Ando cansado da lida
Essa simples beleza. Preocupada, corrida,
When I saw your first the time was half past three Esse corpo moreno, s u r r a d a , b a t i d a
When your eyes met mine it was eternity Morena enlouquece. d o s d i a s m e u s
Eu não sei bem porque Mas uma vez na vida
Agora sei Só sinto na vida Eu vou viver a vida
Da onda que seguiu no mar O que vem de você que eu pedi a Deus
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver
Corrida de jangada

Mangueira
Edu Lobo/José Carlos Capinam
Elis especial – 1968

Carta ao mar Tributo à


Aquarela do Brasil – 1969
Elis Regina in London – 1969

Meu mestre deu a partida


é hora, vamos embora Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli
Pros rumos do litoral, vamos embora Elis especial – 1968 Elis especial – 1968
Na volta eu venho ligeiro, vamos embora
Eu venho primeiro pra tomar seu coração Me multiplicando em sol MANGUEIRA
Tento uma canção pra você (Assis Valente/Zequinha Reis)
É hora, Trago flores, girassóis
Não me importa mal me querer Nao há, nem pode haver
É hora, vamos embora Como Magueira não há
É hora, vamos embora, é hora vamos embora O que vai de mim, vem O samba vem de lá, alegria também
Vamos embora, ora vamos embora De um desejo imenso de ser outra vez Morena faceira só Mangueira tem
É hora, vamos embora, é hora Um barco, um azul
vamos embora Outra vez, de tarde, morrer FALA, MANGUEIRA!
(Mirabeau/Milton de Oliveira)
Viração, virando vai Céu sem naves espaciais
Olha o vento, a embarcação Flores, só naturais Fala, Mangueira, fala
Minha jangada não é navio, não Só nós dois e as coisas banais Mostra a força da tua tradição
Não é vapor nem avião Mas não, pra quê Com licença da Portela,
Mas carrega tanto amor Favela Mangueira mora no meu coração
Dentro do meu coração Pra que mundo, segue o mundo
Sem o mar, sem amar EXALTACAO À MANGUEIRA
Sou seu mestre, meu proeiro (Enéias B. da Silva/Aloísio A. Costa)
Sou segundo, sou primeiro De que vale o som sideral
Olha a reta de chegar, olha a reta de chegar Ou a rima mais genial Mangueira teu cenário é uma beleza
Mestre, proeiro, segundo, primeiro Se o amor está aqui neste sal Qua a natureza criou, ô ô
Reta de chegar, reta de chegar Neste encontro franco e frontal O morro com seus barracões de zinco
Meu barco é procissão Quando amanhece, que esplendor!
minha terra é minha igreja Nesse barco longe do mundo Todo mundo te conhece ao longe

33
Noiva é meu rosário Toda a nossa vida e um segundo Pelo som do teu tamborim
No seu corpo vou rezar Pra dizer do amar que voltei E o rufar do teu tambor
Minha noiva é meu rosário Que sou do mar Chegou ô ô a Mangueira, chegou!
No seu corpo vou rezar Sou do mar
Do mar LEVANTA MANGUEIRA
Ora, (Luis Antonio)

Ora vamos embora Levanta, Mangueira, a poeira do chão


Vamos embora,vamos embora Samba de coração
Vamos embora,vamos embora Ai, mostra a sandália de prata da mulata
É hora, vamos embora, é hora vamos embora Acorda a cuíca e o tamborim
Nego, vamos embora Mostra que o samba nasceu em Mangueira,sim
Velho, vamos embora, nego, vamos embora

Vira
Levanta Mangueira, a poeira do chão
Vamos, vamos embora, ora, vamos embora Samba de coração

mundo
É hora, vamos embora,é hora
vamos embora DESPEDIDA DA MANGUEIRA
Gilberto Gil/José Carlos Capinam
Elis especial – 1968
(Aldo Cabral/Benedito Lacerda)

Sou viramundo virado Em Mangueira na hora da minha despedida


Nas rondas da maravilha Todo mundo chorou, todo mundo chorou
Cortando a faca e facão Foi pra mim a maior emoção da minha vida
Os desatinos da vida Sou viramundo virado pois em Mangueira o meu coracao ficou
Gritando para assustar Pelo mundo do sertão
A coragem da inimiga Mas inda viro este mundo PRA MACHUCAR MEU CORAÇÃO
Pulando pra não ser preso Em festa, trabalho e pão (Ary Barroso)
Pelas cadeias da intriga Virado será o mundo
Prefiro ter toda a vida E viramundo verão Ficou pra machucar meu coracao!
A vida como inimiga O virador deste mundo
A ter na morte da vida Astuto, mau e ladrão
Minha sorte decidida Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
Noite dos mascarados Noite dos Mascarados
(La nuit des masques) Chico Buarque
Quando o carnaval chegar – 1972 (Com Chico Buarque)
Chico Buarque/Vs. Pierre Barouh
Elis Regina em Paris – 1968 (Com Pierre Barouh) Ele: Quem é você?
Ela: Adivinhe, se gosta de mim
Os dois: Hoje os dois mascarados
Qui êtes-vous?tu dois deviner Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
Si tu m'aimes, tous les deux on se cache Ele: Quem é você, diga logo
Ela: Que eu quero saber o seu jogo
Aujourd'hui asques Ele: Que eu quero morrer no seu bloco
Derrière nos mnder Ela: Que eu quero me arder no seu fogo
Ele: Eu sou seresteiro
Pour se dema Poeta e cantor
Ela: O meu tempo inteiro
ites vite Só zombo do amor
Qu i êtes - vo u s? D Ele: Eu tenho um pandeiro

is- mo i à q u el jeu x tu m'invites Ela: Só quero um violão


Ele: Eu nado em dinheiro
D m e fo n dre à ta suite Ela:Não tenho um tostão
Je vou dr a is ne la f uite Fui porta-estandarte
a is q u'o n p ren Não sei mais dançar
Je voudr Ele: Eu, modéstia à parte
d e, p oèt e et c hanteur Nasci pra sambar
g a b on Ela: Eu sou tão menina
Moi, je va onde qui mène au bonheur Ele: Meu tempo passou
J'ai perdu la rrs les routes Ela: Eu sou Colombina
Ele: Eu sou Pierrot
Moi, je cou moi Os dois: Mas é carnaval
Não me diga mais quem é você
Je reste chez déroute
34

Amanhã, tudo volta ao normal


L'amour me pas... Deixe a festa acabar
Deixe o barco correr
Je n'y croyais Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou
a re je p o r te un d rapeau Da maneira que você me quer
a n f O que você pedir
Moi, dans la fart, je joue bien du pipeau Eu lhe dou
Modestie à p ragile Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Je suis si f trop Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
J'ai dix ans dme bine
Je suis colo rot
Je suis pier
m p or te a u jou rd'hui qui tu es
et qu'i
Mais c'ést Carevnaievnadl ra normal
Demain tout ruedt va finir, laissons le temps courir
Demain to ur sa lumière
Laisse au jo urd'hui je suis ce que tu attends de moi
Aujo n s fa ire, on verra
Si tu veu x la isso
q u e d em a in o n se ret rouvera
Peut-être que demain on se reconnaîtra
Peut-être
La, la, la, la...
Deixa Aquarela do Brasil /
Baden Powell/Vinícius de Morais
Elis Regina em Paris – 1968 Nega do cabelo duro Um novo rumo
Deixa, Elis, como e porque – 1969
Aquarela do Brasil – 1969 Artur Verocal/Geraldo Flach
Fale quem quiser falar, meu bem. I Festival Universitario da Musica Popular Brasileira (1968)
Saudade do Brasil – 1980
Deixa,
Deixe o coração falar também,
AQUARELA DO BRASIL
Porque ele tem razão demais quando se queixa.
Vou caminhando sem caminho
(Ary Barroso)
Então a gente deixa, deixa, deixa,
Em cada passo vou levando meu cansaço
Deixa, O que me espera?
Ô, ôi essas fontes murmurantes
Ninguém vive mais do que uma vez.
Ôi onde eu mato a minha sede
Uma terra, um desencontro
Deixa,
E onde a lua vem brincá
A cidade, a claridade
Diz que sim prá não dizer talvez.
Ôi, esse Brasil lindo e trigueiro
E essa estrada não tem volta
Deixa,
É o meu Brasil brasileiro Lá se solta o fim do mundo
A paixão também existe.
Terra de samba e pandeiro Um fim incerto que me assusta
Deixa,
Brasil! Brasil!
Não me deixe ficar triste.
Longe ou perto, se prepara
Prá mim... prá mim... Ninguém para para pensar
Para olhar a dor que chora a morte
NÊGA DO CABELO DURO De um valente lutador
(Rubens Soares/David Nasser)

A noite do meu bem Nêga do cabelo duro,


Quem fui, já não sou
Qual é o pente que te penteia ?
(La nuit de mon amour) Qual é o pente que te penteia ?
Qual é o pente que te penteia ?
Vou chegando à encruzilhada descobrir
Um caminho e uma nova direção
Dolores Duran/Vs. Pierre Barouh Onde piso vou deixando o que não sou
Elis Regina em Paris – 1968 Quando tu entras na roda,

35
Vou para luta
O teu cabelo serpenteia,
Ce soir
Não paro não
O teu cabelo está na moda,
Je veux trouver la rose la plus belle
Vou para luta, agora eu vou
Qual é o pente que te penteia ?
Et la première étoile qui m'appelle
Não paro não
Pour célébrer la nuit de mon amour
Tem tanta gente que se vai
Ce soir A imensidão do seu querer
Je veux la paix des enfants qui s'endorment Querendo vida sem a morte
Je veux l'écho d'une vie qui se forme Ser mais forte sem sofrer
Pour célébrer la nuit de mon amour E ter certeza sem buscar

Tristeza
Ce soir
Ganhar o amigo sem se dar
Je veux la joie d'un voilier qui s'élance
Sem semear, colher o amor
Et l'abandon d'une main qui s'avance
O amor ferido pela guerra
Pour célébrer la nuit de mon amour Haroldo Lobo/Niltinho
Quem na terra desconhece
Elis Regina em Paris – 1968
Aparece sem valor
Ce soir Ergo meu braço qual alguém
Je voudrais toute la beauté du monde Tristeza, Que já caiu mas levantou
Pour que ce soit la nuit la plus profonde Por favor vai embora,
Puisqu'elle sera la nuit de mon amour Minha alma que chora, Quem fui, já não sou
Está vendo o meu fim,
Pourtant
Ces joies soudain me semblent incertaines Fez do meu coração a sua moradia,
Vou chegando à encruzilhada descobrir
Je ne peux croire qu'elle serait vaine Já é demais o meu penar,
Um caminho e uma nova direção
Cette espérance qui me vient de toi Quero voltar àquela vida de alegria, Onde piso vou deixando o que não sou
Quero de novo cantar. Vou para luta
Ah... Não paro não
Mais cet amour tant me tarde à venir La, ra, ra, ra, Vou para luta, agora eu vou
Que je ne sais plus comment retenir La, ra, ra, ra, ra, ra, Não paro não
Cette tendresse La, ra, ra, ra, ra, ra,
Que je veux offrir... Quero de novo cantar.
O barquinho
Roberto menescal/Ronaldo Bôscoli
Elis, como e porque – 1969
Aquarela do Brasil – 1969
Récit de Cassard
Elis Regina in London – 1969 Michel Legrand/Jacques Deny
Elis, como e porque – 1969
Dia de luz festa de sol
E o barquinho a navegar Autrefois, j'ai aimé une femme

Vera Cruz
No macio azul do mar Elle ne m'aimait pas,
on l'appellait Lola
Tudo é verão o amor se faz Autrefois.
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
Milton Nascimento/Márcio Borges Déçu, j'ai voulu l'oublier
Elis, como e porque – 1969
Alors j'ai quitté la France,
Sem intenção nossa canção je suis allé au bout du monde
Hoje foi que a perdi
Vai saindo deste mar e o sol Mas onde, já nem sei
Beija o barco e luz, dias tão azuis je ne pense qu'à elle
Me levo para o mar
Em Vera me larguei
Festa do mar, desmaia o sol j'ai voulu vous parler franchement
E deito nesta dor
E o barquinho a deslizar vous ne m'en voulez pas
Meu corpo, sem lugar

O sonho
E a vontade de cantar il n'est pas question
d'influencer Genevieve,
Ah! quisera esquecer
Céu tão azul, ilhas do sul Genevieve est libre
A moça que se foi
E o barquinho coração De nossa Vera Cruz Egberto Gismonti
Deslizando na canção E o pranto que ficou Elis, como e porque – 1969
Do norte que sonhei Aquarela do Brasil – 1969
Tudo isso é paz, tudo isso traz Das coisas do lugar
Uma calma de verão e então Sinto que é hora

Giro
O barquinho vai, a tardinha cai Nos rios me larguei Salto
O barquinho vai Correndo sem parar Meu foguete some queimando espaço
Buscava Vera Cruz Tudo vejo e abraço
Nos campos e no mar A vaidade
36

Mas ela se soltou Estou morando em pleno céu


Pra longe se perdeu Namorando o azul

Andança
Quero em outra mansidão Ando no espaço louco
Um dia ancorar Meu foguete segue deixando traços
E ao vento me esquecer Entre estrelas vejo a liberdade
Antonio Adolfo/Tibério Gaspar
Que ao vento me amarrei E fotografo todo o céu Danilo Caymmi/Edmundo Souto
Elis, como e porque – 1969
Elis Regina in London – 1969
E nele vou partir E revelo paz Elis, como e porque – 1969
Atrás de Vera Cruz
Hoje a cidade inteira se enfeitou Busco cores e imagens Vim.Tanta areia andei
Coberta de alegria, a noite serenou Ah! quisera encontrar Faltam pássaros e flores Da lua cheia eu sei
A casa branca, praça e chafariz A moça que se foi Uma saudade imensa
Da rua principal à porta da matriz Do lar de Vera Cruz Coração na mão Vagando em verso eu vim
E o pranto que ficou Corpo solto Vestida de cetim
Tem lua acesa clareando o chão Do norte que perdi Estou entre estrelas Na mão direita rosas vou levar
Tem moça pra dançar de saia de algodão Das coisas do lugar Vou deitar neste luar
Tem violeiro violando o amor Me dá amor
Cantando em verso a paz, desponta um cantador Indo de encontro ao riso Amor
Do quarto minguante Me leva amor
De ponta a ponta E o sol queimando Por onde for quero ser seu par
Bandas e cordões A pele branca
E a lua tonta Despertando Rodei de roda andei
Gira os corações Vejo a cama e meu amor Dança da moda eu sei
Acordado estou Cansei de se sozinha
No giro, dança Choro… Verso encantado usei
Quem quer se alegrar Choro… Meu namorado é rei
Velho ou criança Choro… Nas lendas do caminho onde andei
Vem que tem lugar
Me dá amor
Sobe o foguete acarinhando o céu Amor
E a rua floresceu bandeiras de papel Me leva amor
A vida em festa num giro girou Por onde for quero ser seu par
Tristeza adormeceu e a noite serenou
Memórias de Marta Saré Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri
Elis, como e porque – 1969

A casa lá da fazenda
A lua clareando a porta

Samba da Pergunta A volta


Deixando o brilho claro
Nas pedras dos degraus

Cristal de lua
Pingarrilho/Marcos Vasconcelos Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli
Elis, como e porque – 1969 Aquarela do Brasil – 1969
Elis Regina in London – 1969
Pra dentro Marta Saré
Ela agora mora só no pensamento Pra dentro Marta Saré
Ou então no firmamento Quero ouvir a sua voz
Em tudo que no ceu viaja E quero que a canção seja você
Pra dentro Marta Saré
Pode ser um astronauta E quero, em cada vez que espero
Pra dentro
Um passarinho Desesperar, se não te vir
Pé de vento O rosário obrigatório É triste a solidão
Pipa de papel de seda É longe o não te achar
Quem sabe um balãozinho Que lindo é o seu perdão
A janta lá na cozinha
Ou estar num asteróide Que festa é o seu voltar
Todo dia à mesma hora
Na estrela Dalva que daqui se olha As estórias de Dorinha Mas quero que você me fale
Pode estar morando em Marte Que você me cale
Nunca mais se soube dela Caso eu perguntar
Desapareceu Se o que a faz tão linda
Pra dentro Marta Saré
Foi sua pressa de voltar
Pra dentro Marta Saré
Levanta e vem correndo

37
Pra dentro Marta Saré
Pra dentro, pra dentro Me abraça e sem sofrer
Me beija longamente
A lanterna azul partida O quanto a solidão precisa para morrer
A dor, a palmatória, a raiva

Wave
A cantiga mais sentida
Um galope de cavalo

A time for love


Tom Jobim Mestre severino
Aquarela do Brasil – 1969
Saudade do Brasil – 1980
Pra dentro Marta Saré
Webster/John Mandel
Vou te contar,
Pra dentro Marta Saré
Elis Regina in London – 1969
Os olhos já não podem ver
Pra dentro Marta Saré
Coisas que só o coração pode entender Pra dentro, pra dentro A time for summer skies
Fundamental é mesmo o amor For humming-birds and butterflies
É impossível ser feliz sozinho Bate forte o coração For tender words that harmonize with love

O resto é mar, A time for climbing hills


Dor no peito magoado
É tudo que eu nem sei contar O sorriso mais sem jeito For leaning out of window sills
São coisas lindas que eu tenho pra te dar Do primeiro namorado Admiring the daffodils above.
Vem de mansinho a brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho A time for holding hands together
A time for rainbow colored weather
Pra dentro Marta Saré
Da primeira vez era a cidade Pra dentro Marta Saré A time of make believe that we've been draming of
Da segunda o cais e a eternidade Pra dentro Marta Saré
As time goes drifting by
Agora eu já sei The willow bends and so do I
Pra dentro, pra dentro
Da onda que se ergueu no mar But oh, my friends, what ever sky above
E das estrelas que esquecemos de contar Moço Severino I've known a time for spring, a time for fall
O amor se deixa surpreender Por do sol But best of all
Enquanto a noite vem nos envolver Pra dentro Marta Saré A time for love
Se você pensa Minha
Roberto Carlos/Erasmo Carlos
Elis Regina in London – 1969 Francis Hime/Ruy Guerra
Elis no Teatro de Praia – 1970
Elis no Teatro de Praia – 1970 Watch
Minha
Se você pensa que vai fazer de mim what Vai ser minha
O que faz com todo mundo que te ama Desde a hora
Acho bom saber que pra ficar comigo vai ter que mudar happens Que nasceste
Norman Gimbel/Michel Legrand
Elis Regina in London – 1969 Minha
Você tem a vida inteira pra viver Não te encontro
E saber o que é bom e o que é ruim Só sei que estas perto
E tão longe
Let someone start believing in you,
Acho bom pensar depressa e escolher antes do fim
Let him hold out his hand No silêncio
Let him touch you and watch what happens Noutro amor
Ou numa estrada
Daqui pra frente, tudo vai ser diferente
Você tem que aprender a ser gente Que não deixa
O teu orgulho não vale nada One someone who can look in your eyes, Seres minha
And see into your heart Como sejas
Onde estejas
Vou te achar
Você não sabe Let him find you and watch what happens
Nem nunca procurou saber Vou me entregar
Que quando a gente ama pra valer Cold, no I won't believe your heart is cold Vou te amar
O bom é ser feliz e mais nada
E é tanto, tanto amor
Maybe just afraid to be broken again
Que até pode assustar
Let someone with a deep love to give Não temas essa imensa sede
Que ao teu corpo vou levar
How insensitive Give that deep love to you,
(Insensatez) Minha és e sou só teu
And what magic you'll see
Sai de onde estás pra eu te ver
Tom Jobim/Vinícius de Morais/Vs. Norman Gimbel Pois tudo tem que acontecer
Tem de ser
Let someone give his heart, someone who cares like me
Elis Regina in London – 1969
38

Let someone give his heart who cares like me Tem de ser
How insensitive Vem para sempre
I must have seemed Para sempre
When he told me that he loved me

Perdão não tem


How unmoved and cold

Irene
Vexamão
I must have seemed
When he told me so sincerely
Why he must have asked
Edson Arantes do Nascimento
Did I just turn and stare in icy silence
What was I to say? Tabelinha, Elis x Pelé – 1969 (Com Pelé)
Edson Arantes do Nascimento
Tabelinha, Elis x Pelé – 1969 (Com Pelé)
Não
What can you say

Não vá embora não


When a love affair is over?
Outro dia
Porque a saudade
Caetano Veloso Me pegaram de surpresa
Vai ficar em seu lugar
Why he must have asked
Elis no Teatro de Praia – 1970
Did I just turn and stare in icy silence Me deram um violão
E fizeram eu cantar
What was I to do? Não me faça sofrer
A sua ausência
Eu quero ir, minha gente
Eu todo desajeitado
What can one do
Tenha paciiencia
Cantando tudo errado
When a love affair is over?
Não vá embora
Eu não sou daqui
Sem saber como parar
So now he's gone away Não me deixes não
Eu não tenho nada
Foi um tremendo de um vexame
Quando você chegou
And I'm alone
Mas o engraçado
Foi recebida de braços abertos
With a memory of her last look Quero ver irene rir É que eu cantava errado
Jurava me dar amor
Vague and drawn and sad
E os “puxa” achava bom
Ser boazinha
I see it still Quero ver irene dar sua risada
E não falar em ir embora
Estava o rádio
All the heartbreak in his last look

Jornal e a televisão
How he must have asked,
Agora depois de tanto tempo
E eu todo sem graça
Could I just turn and stare in icy silence
Quer partir sem dizer qual a razão
Só fazia láralá
What was I to do?
Não vá, meu bem
Porque depois, perdão não tem
What can one do
When a love affair is over?
Aquele
abraço
Can’t take
my eyes
off you
B. Crewe/B. Gaudio
Elis no Teatro de Praia – 1970

You're just too good to be true.


Gilberto Gil Can't take my eyes off you.
Elis no Teatro de Praia – 1970 You'd be like Heaven to touch.
Este samba vai para Dorival Caymmi, I wanna hold you so much.
João Gilberto e Caetano Veloso. At long last love has arrived
And I thank God I'm alive.
O Rio de Janeiro continua lindo,
O Rio de Janeiro continua sendo
You're just too good to be true.
O Rio de Janeiro, fevereiro e março,
Can't take my eyes off you.
Alô, alô Realengo,
Aquele abraço, Pardon the way that I stare.
Alô torcida do flamengo, There's nothing else to compare.
Aquele abraço!
Alô, Alô Realengo,
The sight of you leaves me weak.
Aquele abraço, There are no words left to speak,
Alô torcida do flamengo, But if you feel like I feel,
Aquele abraço! Please let me know that it's real.

Zazueira
Chacrinha continua balançando a pança,
You're just too good to be true.
E buzinando a moça e comandando a massa,
Can't take my eyes off you.
E continua dando as ordens no terreiro,
Alô, alô seu Chacrinha Velho Guerreiro, I love you, baby,
Alô, alô Terezinha, Rio de Janeiro, And if it's quite alright,
Alô, alô seu Chacrinha velho palha ço, Jorge Ben

39
Elis Regina in London – 1969
Alô, alô Terezinha, Aquele abraço,
I need you, baby,
Elis no Teatro de Praia – 1970
Alô moçada da favela, aquele abraço, To warm a lonely night.
Todo mundo da Portela, aquele abraço, Ela vem chegando (ela vem chegando)
I love you, baby.
Todo mês de fevereiro, aquele passo, E feliz vou esperando (e feliz vou esperando) Trust in me when I say:
Alô Banda de Ipanema, aquele abraço, A espera é difícil (a espera é difícil)
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço,
Oh, pretty baby,
Mas eu espero sambando (eu espero sambando)
A Bahia já me deu régua e compasso,
Don't bring me down, I pray.
Quem sabe de mim sou eu, aquele abraço, Menina bonita do céu azul
Oh, pretty baby, now that I found you, stay
Pra você que me esqueceu, aquele abraço, Ela é uma beleza
And let me love you, baby.
Alô Rio de Janeiro, aquele abraço! Menina bonita, você é demais Let me love you.
Alegria na minha tristeza

Zazueira
You're just too good to be true.
Zazueira
Can't take my eyes off you.
Zazueira You'd be like Heaven to touch.
I wanna hold you so much.
Ela vem chegando (ela vem chegando) At long last love has arrived
E feliz vou esperando (e feliz vou esperando)
A espera é difícil (a espera é difícil)
And I thank God I'm alive.
Mas eu espero sonhando (eu espero sonhando)
You're just too good to be true.
Can't take my eyes off you.
Uma flor é uma rosa
Uma rosa é uma flor
É um amor esta menina
I love you, baby,
Esta menina é meu amor
And if it's quite alright,
I need you, baby,
Zazueira To warm a lonely night.
Zazueira I love you, baby.
Zazueira Trust in me when I say:
Oh, pretty baby,
Don't bring me down, I pray.
Oh, pretty baby, now that I found you, stay.
urvas da Estrada
As c
de Santos
Roberto Carlos/Erasmo Carlos
Em pleno verão – 1970

Se você pretende saber que


m eu sou eu posso lhe dizer.
Entre no meu carro e na est
rada de Santos você vai me
conhecer.

Você vai pensar que eu nã


o gosto nem mesmo de mim.
E que na minha idade só
a velocidade anda junto a
mim.

Só ando sozinho e no meu


caminho o tempo é cada vez
menor.
Preciso de ajuda. Por favor
me acuda. Eu vivo muito só.
40

Se acaso numa curva eu me


lembro do meu mundo,
eu piso mais fundo, corrij
o num segundo, não posso
parar.

Eu prefiro as curvas da est


rada de Santos onde eu ten
to esquecer
um amor que eu tive e vi
pelo espelho na distância
se perder

Mas se o amor que perdi eu


novamente encontrar,
as curvas se acabam e na
estrada de Santos eu não
vou mais passar.
Não, não vou mais passar.
Bicho do mato
e rolar
Vou deitar Jorge Ben
Em pleno verão – 1970 Frevo
Bicho do mato Tom Jobim/Vinícius de Morais
Em pleno verão – 1970
Baden Powell/Paulo César Pinheiro Nego teve aí
Em pleno verão – 1970 Bicho do mato Vem, vamos dançar ao sol
Vem, que a banda vai passar
Devagar pra não cair Vem, ouvir o toque dos clarins
Não venha querer me consolar
Que agora não dá mais pé Anunciando o carnaval
Nem nunca mais vai dar Bicho do mato
Também quem mandou se levantar Bicho bonito danado E vão brilhando os seus metais
Quem levantou pra sair Bicho do mato
Perde o lugar Nego teve aí Por entre cores mil
Verde mar, céu de anil
E agora, cadê teu novo amor E disse assim: Nunca se viu tanta beleza
Cadê que ele nunca funcionou Ai, meu Deus

Bicho do mato
Cadê que nada resolveu Que lindo o meu Brasil!

Quaquaraquaquá, quem riu Quero você para mim


Quaquaraquaquá, fui eu Eu só vou embora
Quaquaraquaquá, quem riu Se você disser que sim
Quaquaraquaquá, fui eu

Fechado pra
Mas eu só ponho o meu boné
Ainda sou mais eu Onde eu posso apanhar
Devagar se vai ao longe

balanço
Você já entrou na de voltar Devagar eu chego lá
Agora fica na tua
Que é melhor ficar
Porque vai ser fogo me aturar
Bicho do mato
Quem cai na chuva Nego teve aí Gilberto Gil
Bicho do mato

41
Em pleno verão – 1970
Só tem que se molhar
Devagar pra não cair
Fechado pra balanço
E agora cadê, cadê você
Deve ser bom, deve ser bom
Cadê que eu não vejo mais, cadê
Tô fechado pra balanço
Pois é quem te viu e quem te vê
Meu saldo deve ser bom

Até aí morreu Neves


Deve ser bom
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
Vou sambar de roda um pouco
Quaquaraquaquá, quem riu
Um xaxado bem guardado
Quaquaraquaquá, fui eu Jorge Ben
Em pleno verão – 1970 E mais algum trocado
Se tiver gingado eu tô, eu tô, eu tô
Todo mundo se admira
Se segura malandro Eu tô de corpo fechado, eu tô, eu tô
Da mancada que a Terezinha deu
Pois malandro que é malandro não se estoura Deve ser bom, deve ser bom
Que deu no pira
Se segura malandro Tô fechado pra balanço
E ficou sem nada ter de seu
Meu saldo deve ser bom
Ela não quis fazer fé
Pois um dia há de chegar a tua hora
Na virada da maré
Vai cantar, vai brincar sem fantasia Um pouco da minha grana
Você vai chorar de alegria Vais ter saudade, baiana
Breque!
Pois ela vai voltar pra alegrar o seu coração Ponho sempre por semana
Cinco cartas no correio
Mas que malandro sou eu
Pois malandro que é malandro não se estoura não Gasto sola de sapato
Pra ficar dando colher de chá
Mas aqui custa barato
Se eu não tiver colher?
Porque até aí morreu Neves Cada sola de sapato
Vou deitar e rolar!
Até aí morreu Neves Custa um samba, um samba e meio
Até aí morreu das Neves
O vento que venta aqui
Até aí morreu das Neves O resto...
É o mesmo que venta lá
O resto não dá despesa
E volta pro mandingueiro
Devegar malandro Viver não me custa nada
A mandinga de quem mandigá
Devagar, cuidado! Viver só me custa a vida
Afobado come cru E a minha vida foi dada
Devagar se vai ao longe
Comunicação
These are the songs
Tim Maia
Em pleno verão – 1970 (Com Tim Mais)
Edson Alencar/Hélio Matheus
Em pleno verão – 1970
These are the songs
(Roda, roda e avisa!)

Não tenha medo


I want to sing
These are the songs Sigo o anúncio e vejo
Em forma de desejo o sabonete
Em forma de sorvete acordo e durmo na televisão.
I want to play
Caetano Veloso
I will sing it every time
Em pleno verão – 1970 Creme dental, saúde
E vivo num sorriso, paraíso
And I sing it every day
Tenha medo, não, tenha medo, não These are the songs Quase que jogado, impulsionado, no comercial.
Não tenha medo não, tenha medo, não
Só tomava chá
I want to sing and play
Nada é pior do que tudo Quase que forcado vou tomar café
Nada é pior do que tudo Ligo o aparelho, vejo o Rei Pelé
Vamos entao repetir o gol!
Esta é a canção que eu vou ouvir
Nem um não, nenhum senão Esta é a canção que eu vou cantar
Nem um ladrão, nem uma escuridão E na lua sou
Mais um astronauta-patrocinador
Fala de você, meu bem
Nada é pior do que tudo
Que você já tem no seu coração mudo Do nosso amor também Chego atrasado perco o meu amor
Mais um anúncio sensacional!

Osanah
Sei que você vai gostar
Nem um cão, nem um dragão
Nem um avião, nem uma assombração Ponho um aditivo dentro da panela, gasolina
Nada é pior do que tudo Passo na janela da cozinha tem mais um fogão
Que você já tem no seu coração mudo
Tony Osanah Tocam a campainha
Nem um chão, nem um porão Compacto duplo – 1970 Mais uma pesquisa e eu respondo
nem uma prisão, nem uma solidão Que enlouquecendo, já sou fã do comercial!
Nada é pior do que tudo Sei prá onde vou
Que você já tem no seu coração mudo Agora eu sei quem sou (Na Brastel, tudo a preço de banana!
Sei do meu caminho
42

Quem não se comunica, se trumbica!


Eu sei com quem eu vou Tereeziiinha...!

Copacabana
Estamos pensando em bloco...
Descubro riso Conheça o Brasil pela Varig!
Invento a luz Ducal... meu nome é Gal!... Ducal!....)
Tudo é claro para quem quer ver

velha de guerra Osanah, Osanah, Osanah


Osanah, Osanah, Osanah Nada será como antes
Joyce/Sérgio Flackman
Pela vida afora eu vou jogando fora Milton Nascimento/Ronaldo Bastos
Em pleno verão – 1970
As coisas que eu guardei por guardar Compacto duplo – 1970
Elis – 1972
Nós estamos por aí, sem medo Um passo à frente
Nós, sem medo, estamos por aí Ou volto atrás
Mas não fico no meusmo lugar Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia gente se vê
Qualquer sorte me espera Sei que nada será como antes, amanhã
E a tarde talvez vá me mostrar Osanah, Osanah, Osanah
Treze ventos nas janelas Osanah, Osanah, Osanah
Que notícias me dão dos amigos
E as praças do mundo a me chamar Que notícias me dão de você
Não me importa o tempo
Eu fico aqui e agora Sei que nada será como está
Sou mais um na multidão Amanhã ou depois de amanhã
Na vitrine dos magazines E quero tudo que houver prá querer
O que é passado nào volta mais Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Procurando uma camisa da cor do mar
E o futuro ainda não chegou
Num domingo qualquer, qualquer hora
Mão no bolso, riso lento Ventania em qualquer direção
E a tarde passando devagar Osanah, Osanah, Osanah
Osanah, Osanah, Osanah Sei que nada será como antes, amanhã
Não me encontro na vitrine
Não ligo, é difícil me encontrar Que notícias me dão dos amigos
Que notícias me dão de você
Sou só eu na multidão Sei que nada será como está
E eu queria me ver passar Amanhã ou depois de amanhã
Desfilando com a camisa da cor do mar Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Olha eu lá!
Ih! Meu Deus do céu!
A fia de Chico Brito
Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza
Ela – 1971

Ih! Meu Deus do céu!


Estou rindo à toa
Chico Anysio Ih! Meu Deus do céu!
Compacto duplo – 1970 Ela me afeiçoa

Sou filha de Chico Brito Espontaneidade


Pai de oito filho maior Eu sou, eu sou
Nascida em Baturité Na mesticidade
Criada a carne de sol Eu vou, eu vou

Sete homem e eu mulher A sorte e a morte


Oito filho prá criá Ocorrem subitamente
Sete homem prá peixeira
E a mulher prá… Estou diante dela
A felicidade
Dos oito filho do velho Exijo a parcela

Casa no campo
Tem sete que se casou Da cumplicidade
Os homem fez casamento Lá vem o crime
E cinco já procriou Se anime
Só eu é que tô sobrando Zé Rodrix/Tavito
É hora de matar a saudade
Na certa Deus se enganou Compacto duplo – 1970
Acabo me abilolando Elis 1972
Porque meu caso é casar
E caso de quarquer jeito Eu quero uma casa no campo

43
Caso inté no… Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Sou filha de Chico Brito Dos amigos do peito e nada mais
Pai de oito filho maior
Nascida em Baturité Eu quero uma casa no campo
Criada a carne de sol Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Sete homem e eu mulher Dos limites do corpo e nada mais Golden slumbers
Oito filho prá criá
Sete homem prá peixeira Eu quero carneiros e cabras John Lennon/Paul McCartney
Ela – 1971
E a mulher prá… Pastando solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
De tanto piscar o os olhos Eu quero a esperança de óculos Once there was a way to get back homeward
Já tô ficando zarolha E um filho de cuca legal
De tanto chamar com a mão Eu quero plantar e colher com a mão
Once there was a way to get back home
Na mão já tenho inté bolha A pimenta e o sal Sleep pretty darling do not cry
Já fiz duzenta novena
Já me cansei de rezar Eu quero uma casa no campo
And I will sing a lullaby
Meus cotovelo tá inchado Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
De no portão debruçar Onde eu possa plantar meus amigos
Mas caso de quarquer jeito Meus discos e livros
Golden slumbers fill your eyes
Caso inté no… E nada mais Smiles awake you when you arise
Sleep pretty darling do not cry
And I will sing a lullaby

Boy, you gonna carry that weigth


Carry that weight a long time
Madalena
Cinema Olympia Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza
Ela – 1971
Caetano Veloso
Ela – 1971 Oh, Madalena
Não quero mais
O meu peito percebeu
Essas tardes mornais, normais
Que o mar é uma gota
Não quero mais
Comparado ao pranto meu
Video-tapes, mormaço, março, abril
Fique certa
Eu quero pulgas mil na geral Quando o nosso amor desperta
Eu quero a geral Logo o sol se desespera
Eu quero ouvir gargalhada geral
Quero um lugar para mim, pra você
E se esconde lá na serra

Na matiné do cinema Olympia Eh Madalena


Tom Mix, Buck Jones
O que é meu não se divide
Tela e palco
Nem tão pouco se admite
Sorvetes e vedetes Quem do nosso amor duvide.
Socos e coladas
Pernas e gatilhos Até a lua se arrisca num palpite
Atilhos e gargalhada geral Que o nosso amor existe
Do meio-dia até o amanhecer
Na matiné do cinema Olympia
Forte ou fraco, alegre ou triste

Oh, Madalena, Madalena, Madalena, Madalena


Oh Ma, oh Mada, oh Madale
44

Oh Madale, le, le, le oh Ma, oh Mada

Falei e disse Aviso aos navegantes Black is beautiful


Baden Powell/Paulo César Pinheiro Baden Powell/Paulo César Pinheiro Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle
Ela – 1971 Ela – 1971 Ela – 1971

Mulher, se Deus não criasse você Esse ano vai sobrar um Hoje cedo na rua do Ouvidor
Ele próprio custava a crer Quem falou já morreu Quantos brancos horríveis eu vi
Mas só que tem que não dá pé você Quem sabe dele sou eu Eu quero esse homem de cor
Ser a mulher de quem Vinícius falou A vida quem dá é Deus
Um Deus Negro do Congo ou daqui
Formosa, não faz assim Quem é malandro não dá
Carinho não é ruim Vidinha boa à ninguém Hoje cedo amante negro eu vou
Malandro traz no cantar Enfeitar o meu corpo no seu
Eu avisei bem, não faça ingratidão A pinta que o canto tem Eu quero esse homem de cor
Porque eu também sei dançar Briga com quem sabe mais
conforme a canção Não dá camisa a ninguém Um Deus Negro do Congo ou daqui
E quem vai embora agora sou eu Olha, aqui você faz Que se integre no meu sangue europeu
Adeus pra quem já me esqueceu Aqui mesmo vai entrar bem
Black is beautiful black is beautiful
Tá acabada essa parada Black beauty so beautiful
E agora cada qual no seu lugar I wanna a black I wanna a beautiful
Não tem nada se a jogada dela I wanna a black I wanna a beautiful
É ver a lua em vez de um lar
Que se integre no meu sangue europeu
Teresa é nome de mulher Black is beautiful black is beautiful
Ah, que pena que me dá Black beauty so beautiful
Ela não ser mais Teresa mulher I wanna a black I wanna a beautiful
I wanna a black I wanna a beautiful
Mundo deserto
Ela
César Costa Filho/Aldir Blanc
Ela – 1971

Ela sente a solidão do oitavo andar


Roberto Carlos/Erasmo Carlos
Todo dia à hora triste do jantar Ela – 1971

Num mundo deserto de almas negras


Só um copo, só um prato
E ao lado um só talher Me visto de branco
Me curo da vida sofrida, sentida
Tudo é um em seu pequeno mundo Que deram pra mim

Num mundo deserto de almas negras


De mulher
Sorriso não nego
Mas vejo um sol cego
Surge a esperança na vida Querendo queimar o que resta de mim

Vivo num mundo deserto de almas negras


Ela que dança e convida alguém
Ao elevador do oitavo andar
Na vontade da verdade eu quero ficar
E não acredito no dito maldito
Pro primeiro amor do oitavo andar
Que o amor já morreu

Ela e ele qualquer Tenho fé que o meu país


Ainda vai dar amor pro mundo
Um amor tão profundo, tão grande
Ela duela o pranto do amor
Com ele qualquer Que vai reviver quem morreu

Desce e se esquece no elevador Vivo num mundo deserto de almas negras


Com ele qualquer

45
Os argonautas
Ela lembra a vida do interior

Ela na varanda espera seus irmãos


Caetano Veloso

Estrada do sol
Mesa posta, luz de velas, canções Ela – 1971

Ela brinca de princesa O barco, meu coração não aguenta


Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
E vem o carnaval
Tom Jobim/Dolores Duran
Passa a Páscoa em paz consigo, no quintal Ela – 1971 O dia, o marco, meu coração
O porto, não
Quero que você me dê a mão
Os dias frios de junho Vamos sair Navegar é preciso, viver não é preciso

As rendas brancas nos punhos, balões É de manhã, vem o sol, O barco, noite no céu tão bonito
Mas os pingos da chuva que ontem caiu Sorriso solto perdido
Ainda estão a brilhar, Horizonte, madrugada
E um dia no teatro do local
Ela é a virgem no presépio de Natal Ainda estão a dançar O riso, o arco, da madrugada
Ao vento alegre O porto, nada
Que me traz esta canção.
Navegar é preciso, viver não é preciso
Quero que você me dê a mão,
Ela e um dia qualquer
É na varanda, Páscoa, Natal Vamos sair por aí O barco, o automóvel brilhante
Sem pensar no que foi O trilho solto, o barulho
Com um ele qualquer que sonhei, Do meu dente em tua veia
Que chorei, que sofri, O sangue, o charco, barulho lento
Pois a nossa manhã O porto silêncio
Ela duela o pranto do amor
Já me fez esquecer,
Me dê a mão, vamos sair prá ver o sol. Navegar é preciso, viver não é preciso
Sozinha outra vez
No oitavo andar onde tudo é um
Alô, alô. Bala
bala
Taí Carmem Miranda
Heitor/Maneco/Wilson Diabo
com
Os maiores sambas enredos de todos os tempos – 1971

Uma pequena notável


Cantou muito samba

Tiradentes
João Bosco/Aldir Blanc
É motivo de carnaval Elis – 1972

Pandeiro, camisa listrada A sala cala


Tornou a baiana internacional E o jornal prepara
Décio Antonio Carlos/Penteado/Estanislau Silva
Os maiores sambas enredos de todos os tempos Volume 2 – 1972 Quem está na sala
Seu nome corria chão Com pipoca e bala
Na boca de toda gente Joaquim José da Silva Xavier
E o urubu sai voando
Que grilo é esse? Morreu a 21 de abril
Manso
Pela independência do Brasil
Vou embarcar nessa onda Foi traído e não traiu jamais
É o Império Serrano que canta A inconfidência de Minas Gerais O tempo corre
Dando uma de Carmem Miranda E o suor escorre,
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes Vem alguém de porre
Cai, cai, cai, cai E há um corre-corre
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Quem mandou escorregar Esse grande herói pra sempre deve ser lembrado E o mocinho chegando
Cai, cai, cai, cai Dando
É melhor se levantar, oi

20 anos blue
Eu esqueço sempre nesta hora,
Linda, loura
Minha velha fuga em todo impasse
46

Eu esqueço sempre nesta hora,


Linda, loura

Mucuripe
Sueli Costa/Vitor Martins Quanto me custa dar a outra face
Elis – 1972

O tapa estala
Hoje de manhã quando acordei Fagner/Belchior No balacobaco
Olhei pra vida e me espantei Elis – 1972
E é bala com bala
Eu tenho mais de vinte anos As velas do Mucuripe E é fala com fala
Eu tenho mais de mil perguntas sem respostas Vão sair para pescar E o galã se espalhando
Estou ligada num futuro blue Vou levar as minhas mágoas
Dando
Pras águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Os meus pais nas minhas costas Sem ter medo de saudade No rala-rala
As raízes na marquise Sem vontade de casar Quando acaba a bala
Eu tenho mais de vinte muros É faca com faca
Calça nova de riscado
O sangue jorra pelos furos Paletó de linho branco
É rapa com rapa
Eu me realizando
Pelas veias de um jornal Que até o mês passado
Lá no campo 'inda era flor Bambo
Eu não te quero, eu te quero mal Sob o meu chapéu quebrado
O sorriso ingênuo e franco
Quando a luz acende é uma tristeza
Essa calma que inventei, bem sei De um rapaz novo encantado
Trapo, presa
Com vinte anos de amor
Custou as contas que contei Minha coragem muda em cansaço
Eu tenho mais de vinte anos Aquela estrela é dela Toda fita em série que se preza
Eu quero as cores e os colírios Vida, vento, vela leva-me daqui. Dizem, reza
Meus delírios Acaba sempre no melhor pedaço
Estou ligada num futuro blue
Olhos abertos
Zé Rodrix/Guttenberg Guarabyra
Elis – 1972

Atravessando uma ponte, de noite


No meio da chuva
Cercada pelo silêncio
Daquela cidade do interior

Atrás da porta
Depois da ponte, uma estrada de terra
Molhada de chuva
Cercada pelo silêncio
E sem nenhum pedaço de amor Francis Hime/Chico Buarque
Elis – 1972
Vendo os olhares desertos
De tantas pessoas antigas Quando olhaste bem nos olhos meus
Tantas pessoas amigas E o teu olhar era de adeus
Querendo um cigarro e um carinho Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
Gente que puxa uma briga na estrada E me arrastei e te arranhei
Com os olhos brilhando E me agarrei nos teus cabelos
Precisa só de um abraço No teu peito, teu pijama
Bem forte e bem dado Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
E eu quero encontrar as pessoas No tapete atrás da porta
De mãos e de olhos abertos Reclamei baixinho
Sem me preocupar
Com dinheiro e posição Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar

47
Eu preciso encontrar as pessoas E me vingar a qualquer preço
Ficar de mãos dadas com elas Te adorando pelo avesso
Conversar com a boca Pra mostrar que ainda sou tua

Cais Vida de bailarina


E os olhos do coração Só pra provar que inda sou tua

Milton Nascimento/Ronaldo Monteiro Américo Seixas/Dorival Silva


Elis – 1972 Elis – 1972

Para quem quer se soltar Quem descerrar a cortina


Invento o cais Da vida da bailarina
Invento mais que a solidão me dá Há de ver cheio de horror
Invento a lua nova a clarear Que no fundo do seu peito
Invento o amor Abriga um sonho desfeito
E sei a dor de me lançar Ou a desgraça de um amor

Eu queria ser feliz invento o mar Os que compram o desejo


Invento em mim o sonhador Pagando amor a varejo
Vão falando sem saber
Para quem quer me seguir Que ela é forçada a enganar
Eu quero mais Não vivendo pra dançar
Tenho o caminho que sempre quis Mas dançando pra viver
E um saveiro pronto prá partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
Águas de março Tom Jobim
Elis – 1972
Elis & Tom – 1974 (Com Tom Jobim)
Montreaux jazz Festival – 1982

É pau, é pedra, é o fim do caminho


É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mao, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto
48

É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto


É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
Doente
morena
Gilberto Gil/Duda
Elis – 1973
Luz das Estrelas – 1984

De manhã cedo ela sai


Leva a chave
Me deixa trancado
O dia inteiro
Não ligo
Deito sobre os trilhos
E vejo o trem passar
Entre brinquedos, cigarros
O Tesouro da Juventude
Em não sei quantos volumes
E quando canto
Deixo a imaginação voar
Mas ontem à noite
A mão sobre meus cabelos
Ela me disse:
"Meu bem, não tenha medo
No verão que vem
Nós vamos à praia"

49
Me deixa em paz Boa noite, amor Oriente
Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza Maria José de Abreu/Francisco Matoso Gilberto Gil
Elis – 1972 Elis – 1972 Elis – 1973

Paz! Boa noite amor


Meu grande amor
Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Que eu já não aguento mais Contigo sonharei Se oriente, rapaz
Me deixa em paz Pela constatação de que a aranha
Sai de mim E a minha dor esquecerei Vive do que tece
Me deixa em paz Se eu souber que o sonho teu Vê se não se esquece
Foi o mesmo sonho meu Pela simples razão de que tudo merece
Vai! Boa noite, amor
Consideração

Hoje o fogo se apagou E sonhe enfim Considere, rapaz


Nosso jogo terminou Pensando sempre em mim A possibilidade de ir pro Japão
Vai prá onde Deus quizer Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Já é hora de Na carícia de um beijo Pela curiosidade de ver
De voce partir Que ficou no desejo Onde o sol se esconde
Não adianta mais ficar Boa noite, meu grande amor. Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação

Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão
O caçador de
esmeralda

Agnus sei
João Bosco/Aldir Blanc/Cláudio Tolomei
Elis – 1973

Verde que te quiero oro


Bandeiras removendo a terra

campo
Esmeralda que aguarda agora
No riacho além de Tordesilhas

Meio de
João Bosco/Aldir Blanc E Fernão se apaixonou como um selvagem
Elis – 1973
Pela sereia do sertão
Na água, imagem virgem
Faces sob o sol, os olhos na cruz
Miragem esverdeada
Os heróis do bem prosseguem na brisa na manhã
Gilberto Gil
Vão levar ao reino dos minaretes
No mel das abelhas e nos frutos Elis – 1973
A paz na ponta dos arietes
O gosto dela, febre da paixão
A conversão para os infiéis Prezado amigo Afonsinho
Fernão se esmerava na conquista
De esmeralda, inferno de Fernão Eu continuo aqui mesmo
Para trás ficou a marca da cruz Aperfeiçoando o imperfeito
Na fumaça negra vinda na brisa da manhã Dando tempo, dando um jeito
E um dia no Fusca duas portas, dois amantes
Ah, como é difícil tornar-se herói Desprezando a perfeição
Fernão louco, Esmeralda desvairada
Só quem tentou sabe como dói Que a perfeição é uma meta
O enleio dos delirantes
Vencer Satã só com orações Defendida pelo goleiro
No Recreio dos Bandeirantes
Que joga na seleção
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê E eu não sou Pelé, nem nada
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê Se muito for eu sou um Tostão

Cabaré
Ê anda, ê hora, ê manda, ê mata, responderei não!
50

Fazer um gol nesta partida não é fácil, meu irmão


Dominus dominium juros além Entrou de bola, e tudo!
Todos esses anos agnus sei que sou também
Mas ovelha negra me desgarrei João Bosco/Aldir Blanc
O meu pastor não sabe que eu sei Elis – 1973
Da arma oculta na sua mão
Na porta lentas luzes de neon
Meu profano amor eu prefiro assim Na mesa flores murchas de crepon
À nudez sem véus diante da Santa Inquisição E a luz grená filtrada entre conversas
Ah, o tribunal não recordará Inventa um novo amor, loucas promessas
Dos fugitivos de Shangri-Lá
O tempo vence toda a ilusão De tomara-que-caia surge a crooner do norte
Nem aplausos, nem vaias: um silêncio de morte
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê Ah, quem sabe de si nesses bares escuros
Ê anda, ê hora, ê manda, ê mata, responderei não! Quem sabe dos outros, das grades, dos muros

No drama sufocado em cada rosto


A lama de não ser o que se quis
A chama quase morta de um sol posto
A dama de um passado mais feliz

Um cuba-libre treme na mão fria


Ao triste strip-tease da agonia
De cada um que deixa o cabaré
Lá fora a luz do dia fere os olhos

Ah, quem sabe de si nesses bares escuros


Quem sabe dos outros
Ladeira da Preguiça
Gilberto Gil
Elis – 1973

Comadre
Essa ladeira
Que ladeira é essa?
Essa é a Ladeira da Preguiça
João Bosco/Aldir Blanc
Preguiça que eu tive sempre

Folhas secas
Elis – 1973
De escrever para a família
Em tudo o que me acontecer E de mandar contar pra casa
O dedo da comadre tá Que esse mundo é uma maravilha
Na corda quando escurecer E pra saber se a menina já conta as estrelas
Nélson Cavaquinho/Guilherme de Brito
Anágua da comadre lá Elis – 1973
E sabe a segunda cartilha
E pra saber se o menino já canta cantigas
Branco de doer Quando eu piso em folhas secas E já não bota mais a mão na barguilha
Me convidando a imaginar Caídas de uma mangueira E pra falar do mundo, falar uma besteira
Se o vento bater Penso na minha escola Formenteira é uma ilha
A ginga que a comadre dá E nos poetas da minha Estação Primeira Onde se chega de barco, mãe

E a ginga da comadre tá Não sei quantas vezes Que nem lá


Em tudo que me acontecer Subi o morro cantando Na Ilha do Medo
No copo que eu me embriagar Sempre o sol me queimando Que nem lá
E assim vou me acabando Na Ilha do Frade
Se relampejar Que nem lá
Se eu adoecer Quando o tempo avisar Na Ilha de Maré
Se a febre aumentar Que eu não posso mais sambar Que nem lá
A comadre vem Sei que vou sentir saudade Salina das Margaridas
Ao lado do meu violão
Na palha que eu adormecer Da minha mocidade Essa ladeira
Nas águas em que eu me lavar Que ladeira é essa?
E na pitanga que eu morder Quando eu piso em folhas secas Essa é a Ladeira da Preguiça
Na arapuca que eu armar Caídas de uma mangueira

51
Penso na minha escola Ela não é de hoje
Onde eu me esconder E nos poetas da minha Estação Primeira Ela é desde quando
Em tudo quanto eu pude olhar Se amarrava cachorro com linguiça
No que ouvi dizer Não sei quantas vezes
A ginga da comadre tá Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando

É com esse que eu vou


No samba que eu me exceder E assim vou me acabando
No doce que eu me lambuzar E assim vou me acabando
Na hora que eu endoidecer E assim vou me acabando
Pedro Caetano
Se o sangue espirrar Elis – 1973
Se a ferida arder
Se a boca chupar É com esse que eu vou
A comadre vem Sambar até cair no chão
É com esse que eu vou
Desabafar na multidão
Se ninguém se animar
Eu vou quebrar meu tamborim
Mas se a turma gostar
Vai ser pra mim

Eu quero ver
O ronca ronca da cuíca
Gente pobre, gente rica
Deputado, senador

Quebra, quebra
Quero ver uma cabrocha boa
No piano da patroa
Batucando
É com esse que eu vou
Conversando no bar
Milton Nascimento/Fernando Brant

Na batucada da vida
Elis – 1974
Saudade do Brasil – 1980

Ary Barroso
Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira

Ponta de areia
Elis – 1974 E o motorneiro parava a orquestra um minuto
No dia em que eu apareci no mundo Para me contar casos da campanha da Itália
Juntou uma porção de vagabundo
Da orgia
E de um tiro que ele não levou
Milton Nascimento/Fernando Brant
De noite, teve samba e batucada Levei um susto imenso nas asas da Pan Air Elis – 1974
Que acabou de madrugada Montreaux Jazz Festival – 1982

Em grossa pancadaria
Descobri que as coisas mudam
E que o mundo é pequeno nas asas da Pan Air Ponta de areia, ponto final
Depois do meu batismo de fumaça Da Bahia à Minas, estrada natural
Mamei um litro e meio de cachaça Que ligava Minas ao porto, ao mar
Bem puxado E lá vai menino xingando padre e pedra Caminho do ferro mandaram arrancar
E fui adormecer como um despacho Velho maquinista com seu boné
Deitadinha no capacho na porta dos enjeitados Lembra o povo alegre que vinha cortejar
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo fruto Maria Fumaça, não canta mais
Cresci olhando a vida sem malícia Para moças, flores, janelas e quintais
Na praça vazia, um grito um ai
Sem nenhum pecado, sem pavor
Quando um cabo de polícia
Despertou meu coração
O medo em minha vida nasceu muito depois Casas esquecidas, viúvas nos portais
E como eu fui pra ele muito boa Descobri que a minha arma
Me soltou na rua à toa
Desprezada como um cão
É o que a memória guarda dos tempos da Pan Air

O mestre-sala
E hoje que eu sou mesmo da virada
E que eu não tenho nada, nada
Nada existe que não se esqueça

dos mares
E por Deus fui esquecida
52

Alguém insiste e fala ao coração


Irei cada vez mais me esmulambando
Seguirei sempre cantando
Tudo de triste existe que não se esquece
Na batucada da vida Alguém insiste e fere o coração
João Bosco/Aldir Blanc

Travessia
Nada de novo existe neste planeta
Elis – 1974
Que não se fale aqui na mesa de bar Luz das estrelas – 1984

Há muito tempo nas águas da Guanabara


Milton Nascimento/Fernando Brant E aquela briga e aquela fome de bola O dragão do mar apareceu
Elis – 1974 Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
E aquele tango e aquela dama da noite
Quando você foi embora E aquela mancha e a fala oculta Conhecido como navegante negro
Fez-se noite em meu viver Tinha a dignidade de um mestre-sala
Forte eu sou, mas não tem jeito E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Que no fundo do quintal morreu
Hoje eu tenho que chorar Morri a cada dia dos dias que vivi Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Minha casa não é minha Jovens polacas e por batalhões de mulatas
E nem é meu este lugar
Cerveja que tomo hoje
Estou só e não tem resisto É apenas em memória dos tempos da Pan Air Rubras cascatas
Muito tenho pra falar Jorravam das costas dos santos
Entre cantos e chibatas
A primeira Coca-Cola foi,
Solto a voz nas estradas, já não quero parar Me lembro bem agora, nas asas da Pan Air Inundando o coração
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar? Do pessoal do porão
Sonho feito de brisa vento vem terminar Que a exemplo do feiticeiro gritava, então:
A maior das maravilhas foi
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar Voando sobre o mundo nas asas da Pan Air
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Vou seguindo pela vida Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Me esquecendo de você Em volta dessa mesa velhos e moços lembrando o que já foi Glória a todas as lutas inglórias
Eu não quero mais a morte Que através da nossa história
Tenho muito que viver Não esquecemos jamais.
Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual
Vou querer amar de novo Em volta dessas mesas existe a rua vivendo o seu normal
E se não der não vou sofrer Salve o navegante negro
Já não sonho, hoje faço Que tem por monumento
Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais
Com meu braço o meu viver Em volta da cidade... As pedras pisadas do cais
Dois Caça à raposa
prá lá,
dois
João Bosco/Aldir Blanc
Elis – 1974

prá ca
O olhar dos cães
A mão nas rédeas
E o verde da floresta
João Bosco/Aldir Blanc
Elis – 1974 Dentes brancos, cães
A trompa ao longe, o riso
Sentindo frio em minh'alma Os cães, a mão na testa
Te conv i d e i p r a d a n ç a r
A t u a vo z m e a c a l m av a

Maria Rosa
O olhar procura, antecipa
São dois pra lá, dois pra cá A dor no coração vermelho
Senhorita e seus anéis, corcéis
Meu coração traiçoeiro E a dor no coração vermelho
Batia mais que o bongô Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves
Tremia mais que as maracas Elis – 1974 O rebenque estala, um leque aponta: foi por lá
Descompassado de amor
Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos Um olhar de cão
M i n h a c a b e ç a ro d a n d o Vestindo farrapos calçando tamancos As mãos são pernas
Rodava mais que os casais Pedindo nas portas pedaços de pão ? E o verde da floresta
O teu perfume gardênia A conheci quando moça era um anjo de formosa
E não me pergunte mais Seu nome: Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão Oh, manhã entre manhãs
A trompa em cima, os cães
A tua mão no pescoço Os trapos de suas vestes não é só necessidade Nenhuma fresta
As tuas costas macias Cada um, para ela, representa uma saudade
Por quanto tempo rondaram Ou de um vestido de baile, ou de um presente , talvez O olhar se fecha, uma lembrança
A s min h a s n o i te s v a zi a s Que algum dos seus apaixonados lhe fez Afaga o coração vermelho
Uma cabeleira sobre o feno
No dedo um falso brilhante Quis certo dia Maria por a fantasia de tempos passados Afoga o coração vermelho
B rin cos i g u a i s a o c o l a r Por em sua galeria uns novos apaixonados

53
E a ponta de um torturante Esta mulher que outrora a tanta gente encantou Montarias freiam, dentes brancos: terminou
B an d- a i d n o c a l c a n h a r Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou
Línguas rubras dos amantes
Eu hoje me embriagando E então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção Sonhos sempre incandescentes
De whisky com guaraná Mandou fazer essa capa de recordação Recomeçam desde instantes
Ouvi tua voz sussurrando Vocês Marias de agora, amem somente uma vez Que os julgamos mais ausentes
São dois pra lá, dois pra cá. Prá que mais tarde esta capa não sirva em vocês.
Ah! recomecar, recomecar
Como canções e epidemias
Ah! recomeçar como as colheitas
Como a lua e a covardia
Ah! recomeçar como a paixão e o fogo
E o fogo, e o fogo...

O compositor me disse
Gilberto Gil
Elis – 1974

Compositor me disse que eu cantasse distraidamente essa canção.


Que eu cantasse como se o vento soprasse pela boca vindo do pulmão.
E que eu ficasse ao lado pra escutar o vento, jogando as palavras pelo ar.

O compositor me disse que eu cantasse ligada no vento, sem ligar pras coisas que ele quis dizer.
Que eu não pensasse em mim nem em você.
Que eu cantasse distraidamente como bate o coração.

E que eu parasse aqui.

Assim..
Pois é
Tom Jobim/Chico Buarque
Elis & Tom – 1974 Modinha
Tom Jobim/Vinícius de Morais
Elis & Tom – 1974
Pois é... Fica o dito e o redito por não dito. E é difícil dizer que foi bonito. É inútil cantar o que perdi.

Taí.. Nosso mais-que-perfeito está desfeito. E o que me parecia tão direito. Caiu desse jeito sem perdão. Não
Não pode mais meu coração
Então... Disfarçar minha dor eu não consigo. Dizer: – somos sempre bons amigos, é muita mentira para mim Viver assim dilacerado
Escravizado a uma ilusão
Que é só
Desilusão
Enfim... Hoje na solidão ainda custo a entender como o amor foi tão injusto pra quem só lhe foi dedicação.

Ah, não seja a vida sempre assim


Pois é... e então ...
Como um luar desesperado
A derramar melancolia em mim
Poesia em mim

Vai, triste canção, sai do meu peito


E semeia a emoção
Que chora dentro do meu coração
Coração
Só tinha de ser com você
Tom Jobim/Chico Buarque
Elis & Tom – 1974

É... só eu sei quanto amor eu guardei

Triste
54

Corcovado
Sem saber que era só pra você

É. Só tinha de ser com você Tom Jobim


Elis & Tom – 1974
Tom Jobim
havia de ser prá você Elis & Tom – 1974 Luz das estrelas – 1984
Montreaux Jazz Festival – 1982
Senão era mais uma dor Triste é viver na solidão
Um cantinho, um violão Na dor cruel de uma paixão
Este amor, uma canção Triste é saber que ninguém pode
Senão não seria o amor
Pra fazer feliz a quem se ama Viver de ilusão
Que nunca vai ser
Aquele que o mundo não vê
O amor que chegou para dar Muita calma pra pensar Nunca vai dar
E ter tempo pra sonhar O sonhador tem que acordar
O que ninguém deu pra você Da janela vê se o Corcovado
O Redentor, que lindo Tua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Quero a vida sempre assim Que para pra te ver passar
Só pra me maltratar
É. Você que é feita de azul Com você perto de mim
Me deixa morar nesse azul Até o apagar da velha chama Triste é viver na solidão

Me deixa encontrar minha paz E eu que era triste Triste é viver na solidão
Descrente desse mundo Na dor cruel de uma paixão
Você que é bonita demais Ao encontrar você eu conheci Triste é saber que ninguém pode
O que é felicidade, meu amor Viver de ilusão
Que nunca vai ser
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você Nunca vai dar
O sonhador tem que acordar.
Você sempre foi só de mim
Retrato em branco e preto

Inútil
Tom Jobim/Chico Buarque
Elis & Tom – 1974

paisagem
Já conheço os passos dessa estrada,
Sei que não vai dar em nada,
Seus segredos sei de cor.
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho Tom Jobim/Aloysio de Oliveira
Eu vou ficar tanto pior, Elis & Tom – 1974

O que é que eu posso contra o encanto Mas pra que?


Desse amor que eu nego tanto, evito tanto Pra que tanto céu?
Pra que tanto mar, pra que?
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar De que serve esta onda que quebra e o vento da tarde?
Com seus mesmos tristes velhos fatos De que serve a tarde?
Inútil paisagem
Que num álbum de retratos eu teimo em colecionar.
Pode ser que nao venhas mais

Lá vou eu de novo como um tolo,


Que não voltes nunca mais
De que servem as flores que nascem pelos caminhos
Procurar o desconsolo Se o meu caminho sozinho é nada?
Que cansei de conhecer.
Novos dias tristes, noites claras,
Versos, cartas,
Minha cara, ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado,

Brigas nunca mais

55
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão. Tom Jobim/Vinícius de Morais
Vou colecionar mais um soneto, Elis & Tom – 1974

Outro retrato em branco e preto Chegou, sorriu,


A maltratar meu coração. Venceu, depois chorou.
Então fui eu
Quem consolou sua tristeza,
Na certeza de que o amor

O que tinha de ser Por toda minha vida


Tem dessas fazes más,
Que é bom para fazer as pazes

Mas depois fui eu


Tom Jobim/Vinícius de Morais Tom Jobim/Vinícius de Morais
Elis & Tom – 1974 Quem dela precisou, Elis & Tom – 1974
E ela então me socorreu.
Porque foste na vida E o nosso amor Meu bem-amado
A última esperança Mostrou que veio pra ficar Quero fazer-te um juramento uma canção
Encontrar-te me fez criança Mais uma vez, por toda a vida. Eu prometo, por toda a minha vida
Porque já eras meu Bom é mesmo amar em paz, Ser somente tua e amar-te como nunca
Sem eu saber sequer Brigas, nunca mais Ninguém jamais amou, ninguém
Porque és o meu homem
E eu tua mulher Meu bem-amado
Estrela pura aparecida
Porque tu me chegaste Eu te amo e te proclamo
Sem me dizer que vinhas O meu amor
E tuas mãos foram minhas com calma O meu amor
Porque foste em minh'alma Maior que tudo quanto existe
Como um amanhecer Oh, meu amor
Porque foste o que tinha de ser
Soneto de
Chovendo na roseira
Tom Jobim/Vinícius de Morais
Elis & Tom – 1974

De repente do riso fez-se o pranto


Tom Jobim Silencioso e branco como a bruma
Elis & Tom – 1974
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
Olha, está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
De repente da calma fez-se o vento
A frescura das gotas úmidas
Que dos olhos desfez a última chama
Que é de Luísa
E da paixão fez-se o pressentimento
Que é de Paulinho
E do momento imóvel fez-se o drama
Que é de João
Que é de ninguém
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
Pétalas de rosa carregadas pelo vento
E de sozinho o que se fez contente
Um amor tão puro carregou meu pensamento

Fotografia
Fez-se do amigo próximo, distante

separação
Olha, um tico-tico mora ao lado
Fez-se da vida uma aventura errante
E, passeando no molhado,
De repente, não mais que de repente
Adivinhou a primavera
Tom Jobim
Olha, que chuva boa, prazenteira Elis & Tom – 1974
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa, criadeira Eu, você, nós dois
Que molha a terra Aqui neste terraço à beira-mar
Que enche o rio O sol já vai caindo

Cadeira vazia
Que limpa o céu E o seu olhar
Que traz o azul Parece acompanhar a cor do mar

Pétalas de rosa carregadas pelo vento Você tem que ir embora


56

Um amor tão puro carregou meu pensamento A tarde cai


Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves Em cores se desfaz,
Lupiscinio Rodrigues na Interpretacao de: – 1974
Olha, um tico-tico mora ao lado Escureceu
E passeando no molhado O sol caiu no mar
Entra meu amor fica a vontade
Adivinhou a primavera E aquela luz
E diz com sinceridade
Lá em baixo se acendeu
O que desejas de mim
Olha, o jasmineiro está florido
Entra podes entrar a casa é tua
E o riachinho de água esperta Você e eu
Já q u e can saste d e v i ve r n a r u a
Se lança embaixo do rio de águas calmas
E teus sonhos chegaram ao fim
Eu, você, nós dois
Ah… você é de ninguém Sozinhos neste bar à meia-luz
Eu sofri demais quando partiste
E uma grande lua saiu do mar
Passei tantas horas triste
Parece que este bar já vai fechar
Que nem devo lembrar esse dia
Mas de uma coisa podes ter certeza
E há sempre uma canção
Que teu lugar aqui na minha mesa
Para contar
Tu a c a d e i r a a i n d a e s t á v a z i a
Aquela velha história
De um desejo
Tu é s a f i l h a p r ó d i g a q u e v o l t a
Que todas as canções
Procurando em minha porta
Têm pra contar
O que o mundo não te deu
E faz de conta que sou o teu paizinho
E veio aquele beijo
Que tanto tempo aqui fiquei sozinho
Aquele beijo
A esperar por um carinho teu
Aquele beijo
Voltaste, estás bem, estou contente
Só que me encontraste muito diferente
Vo u t e f a l a r d e t o d o o c o r a ç ã o
N ão t e dare i c a r i n h o n e m a fe to
Mas pra te abrigar podes ocupar meu teto
Prá te alimentar podes comer meu pão
Alto da Bronze Boi barroso Homens de preto
Paulo Coelho/Foquinha Folclore Paulo Ruschel
Música popular do sul – 1975 Música popular do sul – 1975 Música popular do sul – 1975

Alto da Bronze, Eu mandei fazer um laço do couro do jacaré Os homens de preto trazendo a boiada
Cabeça quebrada, Pra laçar o boi barroso, num cavalo pangaré Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Praça querida Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Sempre lembrada Meu Boi Barroso, meu Boi Pitanga
A praça 11 da molecada O teu lugar, ai, é lá na canga Os homens de preto trazendo a boiada
Praça sem branco Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Do rato branco e do futebol Eu mandei fazer um laço do couro da jacutinga E o bicho coitado não pensa em nada
Da garotada endiabrada Pra laçar o boi barroso, lá no alto da restinga Só vai pela estrada direto a charqueada
Das manhãs de sol Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Guardo a eterna lembrança Meu Boi Barroso, meu Boi Pitanga
Do tempo feliz em que eu era criança O teu lugar, ai, é lá na canga Os homens de preto trazendo a boiada
Do tempo em que a vida era Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Da minha infância a grande quimera Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Hoje eu, pobre profano,
Me lembro de ti e dos meus desenganos Os homens de preto trazendo a boiada
Ó, meu Alto da Bronze dos meus oito anos Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
E o bicho coitado não pensa em nada
Só vem pela estrada, vem, berrando, berrando,
vem berrando

57
O gado coitado, nasceu, foi marcado
Aí vai condenado na estrada berrando
A querência deixando
Os homens marvado empurrando e gritando
Toca boi, toca boi

O gado coitado, nasceu foi marcado


Aí vai condenado direto a charqueada
Mas manda a poeira no rumo de Deus
Berrando pra ele dizendo pra Deus
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto, empurrando a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez


Como nossos pais
Belchior
Falso brilhante – 1976

Não quero lhe falar, meu grande amor


Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar


E eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida de qualquer pessoa

Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina


Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Que somos jovens

Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua


É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz

Você me pergunta pela minha paixão


Digo que estou encantado com uma nova invenção Velha roupa colorida
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão Belchior
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova nova estação Falso brilhante – 1976
Eu sei de tudo da ferida viva no meu coração

Já faz tempo eu vi você na rua Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Voce não sente, não vê

Cabelo ao vento e gente jovem reunida Que uma nova mudança em breve vai acontecer
Na parede da memória
58

Essa lembrança é o quadro que dói mais O que há algum tempo era novo e jovem

Minha dor é perceber E precisamos todos rejuvenescer


Hoje é antigo

Que apesar de termos feito tudo que fizemos


Ainda somos os mesmos e vivemos Nunca mais seu pai falou "She's leaving home"
Como nossos pais E meteu o pé na estrada "Like a Rolling Stone..."

Nossos ídolos ainda são os mesmos Para correr no seu carro


Nunca mais você buscou sua menina

E as aparências não se enganam, não Loucura, chiclete e som


Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém Nunca mais você saiu a rua em grupo reunido

Você pode até dizer que tou por fora Cabelo ao vento
O dedo em V

Ou então que tou inventando Amor e flor


Mas é você que ama o passado e que não vê Que é do cartaz
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem No presente a mente, o corpo é diferente

Hoje eu sei que quem deu me deu a idéia


E o passado é uma roupa que não nos serve mais

De uma nova consciência e juventude Como Poe, poeta louco americano,


Está em casa guardado por Deus Eu pergunto ao passarinho blackbird, o que se faz?
Contando o vil metal

Minha dor é perceber Blackbird me responde:


E raven, never, raven, never, raven

Que apesar de termos feito tudo tudo o que fizemos "Tudo ja ficou pra trás"
Nós ainda somos os mesmos e vivemos E raven, never, raven, never, raven
Ainda somos os mesmos e vivemos Assum preto me responde:
Como os nossos pais "O passado, nunca mais!"
Um por todos (Versão 1) Um por todos (Versão 2)
João Bosco/Aldir Blanc
Falso brilhante – 1976
João Bosco/Aldir Blanc
Los hermanos
Do ventre chão da terra mãe Do ventre chão da terra mãe Atahualpa Yupanqui
Nasce o herói improvisado Nasce o beato improvisado Falso brilhante – 1976
Querido filho pranteado da fortuna e do acaso Querido filho pranteado da fortuna e do acaso
Yo tengo tantos hermanos
Avante! Um por todos e todos por um! Avante! Um por todos e todos por um! Que no los puedo contar
Ficam, das lutas ao longe, Ficam, das lutas de um homem, En el valle, la montaña
Duas medalhas pregadas Bustos de bronze e histórias En la pampa y en el mar
Em peito de bronze Que as horas consomem Cada cual con sus trabajos
Con sus sueños cada cual
E as bandeirinhas e as rifas E as bandeirinhas e as rifas Con la esperanza delante
O foguetório e a fanfarra O foguetório e a fanfarra Con los recuerdos detrás
Meio velório, meio farra Meio velório, meio farra Yo tengo tantos hermanos
O sentimento dos teus pares O sentimento dos teus pares Que no los puedo contar

Heróis dos escolares e das lavadeiras Senhor dos escolares e das lavadeiras Gente de mano caliente
Oh! Deus das mocas solteiras Oh! Deus das moças solteiras Por eso de la amistad
Que rezam ao teu retrato sobre a penteadeira Que rezam ao teu retrato sobre a penteadeira Con un lloro pa' llorarlo
Con un rezo pa' rezar
Eu te conheço Eu te conheço Con un horizonte abierto
Sei preço da fama e nao esqueço Sei preço da fama e nao esqueço Que siempre esta mas allá
Que deitei em tua cama, em teu berço Que deitei em tua cama, em teu berço Y esa fuerza pa' buscarlo
Eu sei teu preço Eu sei teu preço Con tesón y voluntad
Eu te conheço Eu te conheço Cuando parece mas cerca
Meu oportuno herói Meu milagroso irmão Es cuando se aleja mas
Yo tengo tantos hermanos
Eu lavo as mãos Eu lavo as mãos Que no los puedo contar

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Pôncio cônscio pilhado em flagrante Pôncio cônscio pilhado em flagrante
Lavo as mãos e prossigo adiante Lavo as mãos e prossigo adiante Y así seguimos andando
Eu por mim mesma Eu por mim mesma Curtidos de soledad
Todos por mim Todos por mim Nos perdemos por el mundo
Meu oportuno herói Meu milagroso irmão Nos volvemos a encontrar
Y así nos reconocemos
Por el lejano mirar
Por las coplas que mordemos
Semillas de inmensidad.

Fascinação
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
Y así seguimos andando
Curtidos de soledad
F. D. Marchetti/M. de Feraudy/Vs. Armando Louzada
Falso brilhante – 1976 Y en nosotros nuestros muertos
Transversal do tempo – 1978 Pa' que nadie quede atrás
O teu corpo é luz, sedução Yo tengo tantos hermanos
Os sonhos mais lindos sonhei Poema divino cheio de esplendor Que no los puedo contar
De quimeras mil um castelos ergui Teu sorriso prende Y una hermana muy hermosa

Quero
E no teu olhar, tonto de emoção Me enebria, entontece Que se llama libertad
Com sofreguidão mil venturas vivi És fascinação amor

Thomas Roth
Falso brilhante – 1976

Quero ver o sol atrás do muro Quero uma estrada que leve à verdade Quero voar de mãos dadas com você Quero rodar nas asas do girassol
Quero um refúgio que seja seguro Quero a floresta em lugar da cidade Ganhar o espaco em bolhas de sabão Fazer cristais com gotas de orvalho
Uma nuvem branca, sem pó nem fumaça Uma estrela pura de ar respirável Escorregar pelas cachoeiras Cobrir de flores campos de aço
Quero um mundo feito sem porta, vidraça Quero um lago limpo de água potável Pintar o mundo de arco-íris Beijar de leve a face da lua
Gracias a la vida Violeta Parra
Falso brilhante – 1976

O cavaleiro e
os moinhos
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dio dos luceros, que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado

Jardins da infância
Y en las multitudes el hombre que yo amo
João Bosco/Aldir Blanc
Falso brilhante – 1976

Acreditar na existência dourada do sol


Gracias a la vida, que me ha dado tanto
João Bosco/Aldir Blanc Mesmo que em plena boca
Falso brilhante – 1976
Nos bata o açoite contínuo da noite
Me ha dado el oído que, en todo su ancho

É como um conto de fadas


Graba noche y día grillos y canarios
Arrebentar a corrente que envolve o amanhã
Tem sempre uma bruxa pra apavorar
Despertar as espadas
Martillos, turbinas, ladridos, chubascos
O dragão comendo gente
Varrer as esfinges das encruzilhadas
A bela adormecida sem acordar
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Tudo o que o mestre mandar
Todo esse tempo foi igual a dormir num navio
E a cabra cega roda sem enxergar
Sem fazer movimento
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Mas tecendo o fio da água e do vento
E você se escondeu
Me ha dado el sonido y el abecedario
E você esqueceu
Eu, baderneiro, me tornei cavaleiro
Con él las palabras que pienso y declaro
Malandramente pelos caminhos
Pique-papos tem distância
"Madre,", "amigo," "hermano," y los alumbrando
Meu companheiro tá armado até os dentes
60

Pés pisando em ovos, veja você


Já não há mais moinhos como os de antigamente
La ruta del alma del que estoy amando
Um tal de pular fogueira,
Pistolas, morteiros, vejam vocês
Pega malhação de judas

Tatuagem
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
E quebra-cabeças, vejam vocês Me ha dado la marcha de mis pies cansados
E você se escondeu Con ellos anduve ciudades y charcos
E você não quis ver Playas y desiertos, montañas y llanos
Olha o bobo na berlinda Y la casa tuya, tu calle y tu patio Chico Buarque
Olha o pau no gato Falso brilhante – 1976
Polícia e ladrão
Tem carniça e palmatória bem no teu portão Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem pra seguir viagem
Gracias a la vida que me ha dado tanto

Você vive o faz de conta Quando a noite vem


Me dio el corazón, que agita su marco
Diz que é de mentira E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega, mas não lava
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Brinca até cair Cuando miro al bueno tan lejos del malo
Chicotinho tá queimando, mamãe posso ir Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo te alucina, salta e te ilumina
Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Pique-papos tem distância Quando a noite vem


Pés pisando em ovos, bruxa, dragão E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Um tal de pular fogueira
E a cabra cega vai de roldão
Me ha dado la risa, y me ha dado el llanto
Pega malhação de judas
Así yo distingo dicha de quebranto Quero pesar feito cruz nas tuas costas
E um passarinho morto no chão Que te retalha em postas mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Los dos materiales que forman mi canto
E você conheceu
Y el canto de ustedes que es el mismo canto Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
E você aprendeu Y el canto de todos que es mi propio canto Marcada a frio, a ferro e fogo em carne viva

Corações de mães, arpões


Sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes...
Colagem
Claudio Lucci
Vecchio novo
Claudio Lucci/José Maria Pereira
Elis – 1977 Elis – 1977

Se você com muita calma usar sua raça Amor sem pé nem cabeça
Vai surpreender Que vive dentro de nós
A surpresa para muitos é uma arma Explode tão facilmente
Pra se esconder E sem mais nos esquece só

Se esconder não é tão bom Quantos e tantos presságios


Que, por instantes, nos faz
Pra viver, pra morrer Sentir ser forte, moleque
E estranhamente encarar
Se você lembrar que tudo é relativo
Vai compreender Um belo poema novo
Mas a compreensão por vezes tão sensata Vecchio de tanto amor
Vai lhe conter Amar
Vecchio em canto novo
Se conter não é tão bom Sempre aqui onde está
Pra viver, pra morrer
Ah, se eu pudesse abarcar
Se você tentar despir essa colagem A força da alma vadia
Vai se perder Como um costume leal
E a perda de si próprio é quase um passo Eu até que não brincaria
Pra conceder Como um poema novo
Vecchio de tanto amor

61
Conceder não é tão bom Amar
Pra viver, pra morrer, pra nascer Vecchio em canto novo

Cartomante
Sempre aqui onde está
Somos homens sem lugar
Homens velhos com raça Amor sem pé nem cabeça
Ivan Lins/Vítor Martins
À espera de algum descuido Que vive dentro de nós
E com cuidado gozamos paz Explode tão Sutilmente Elis – 1977
Transversal do tempo – 1978
Somos homens bons demais E, maroto, nos deixa só
Sufocados pelo mal Nos dias de hoje é bom que se proteja
Ofereça a face pra quem quer que seja

Qualquer dia
Nos dias de hoje esteja tranqüilo
Só queremos acreditar
Haja o que houver pense nos seus filhos
Que isso tudo pode acabar

Ivan Lins/Vítor Martins


Não ande nos bares, esqueça os amigos
Elis – 1977 Não pare nas praças, não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Nessa calma sertaneja Não ponha o dedo na nossa ferida
De quem sabe o que fareja
Eu te encontro qualquer dia Nos dias de hoje não lhes dê motivo
Eu te encontro qualquer dia Porque na verdade eu te quero vivo
Tenha paciência, Deus está contigo
Já conheço os teus rastros Deus está conosco até o pescoço
Já comi no teu prato
Já bebi tua cerveja Já está escrito, já está previsto
Eu conheço o teu cheiro Por todas as videntes, pelas cartomantes
Eu te encontro qualquer dia Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas
Ah! Eu te encontro qualquer dia No jogo dos búzios e nas profecias

Logo quem me julgava morto Cai o rei de Espadas


Mas esquecendo a qualquer custo Cai o rei de Ouros
Vai morrer de medo e susto Cai o rei de Paus
Quando abrir a porta Cai, não fica nada
Morro velho
Milton Nascimento
Elis – 1977

No sertão da minha terra


Fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força
Parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer

Orgulhoso camarada de viola em vez de enxada

Filho do branco e do preto


Correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos
Sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver

Orgulhoso camarada conta histórias prá moçada

Filho do senhor vai embora


Tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes
Deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar
Some longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outro


Trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua
Que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor
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E agora na fazenda é quem vai mandar

E seu velho camarada já não brinca mais, trabalha

Caxangá
Milton Nascimento/Fernando Brant
Elis – 1977 (Com Milton)
Trem azul – 1982

Sempre no coração, haja o que houver


A fome de um dia poder moder a carne dessa mulher

Veja bem meu patrão como pode ser bom


Você trabalharia no sol e eu tomando banho de mar

Luto para viver, vivo para morrer


Enquanto minha morte não vem eu vivo de brigar contra o rei

Em volta do fogo todo mundo abrindo o jogo


Conta o que tem pra contar
Casos e desejos, coisas dessa vida e da outra
Mas nada de assustar
Quem não é sincero sai da brincadeira correndo
Pois pode se queimar

Queimar!!!
Saio do trabalho e... volto para casa e...
Não lembro de canseira maior
Em tudo é o mesmo suor
Tr a n s v e r s a l d o t e m p o
João Bosco/Aldir Blanc
Elis – 1977

As coisas que eu sei de mim são pivetes da cidade. Pedem, insistem e eu me sinto pouco à vontade.
Fechada dentro de um táxi, numa transversal do tempo. Acho que o amor é a ausência de engarrafamento.
As coisas que eu sei de mim tentam vencer a distância. E é como se aguardassem feridas numa ambulância.
As pobres coisas que eu sei podem morrer, mas espero. Como se houvesse um sinal sem sair do amarelo.

A dama do apocalipse
Natan Marques/Crispin del Cistia
Elis – 1977

Romaria
Branco por cima e o negro de um sorriso herói

Sentimental eu fico
Trancam-me a mente e eu nego o quanto a dor destrói
Renato Teixeira
Rasgam-me o sonho e o mal me põe na vida Elis – 1977

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E a vida me faz sem medo É de sonho e de pó, o destino de um só
Renato Teixeira
Elis – 1977 Feito eu perdido em pensamentos
Nos diademas, pragas, anjos de neon Sobre o meu cavalo
Sentimental eu fico É de laço e de nó, de gibeira o jiló,
Nos holocaustos trompas, flexas, megatons Quando pouso na mesa de um bar Dessa vida cumprida a sol
Eu sou um lobo cansado carente
Rasgam-me a terra e o fogo traz a vida De cerveja e velhos amigos Sou caipira, Pirapora
E a vida não traz segredo Nossa Senhora de Aparecida
Na costura da minha vida mais um ponto Ilumina a mina escura e funda
No arremate do sorriso mais um nó O trem da minha vida
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Fecha-se o ar e o sol se nega Tem coisa transformando a água em pó O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Nega-se o pão e a paz Meus irmãos perderam-se na vida
E apesar de estar no bar caçando amores Em busca de aventuras
E o amor me cega Eu nego tudo e invento explicações Descasei, joguei, investi, desisti
Amigo velho amar não me compete Se há sorte eu não sei, nunca vi
Eu quero é destilar as emoções
Sete rajadas correm, somem Me disseram porém que eu viesse aqui
E uma mulher Sentimental eu fico Pra pedir em romaria e prece
Quando pouso na mesa de um bar Paz nos desaventos
Se entrega e se impõe ardente Eu sou um lobo cansado carente Como eu não sei rezar, só queria mostrar
De cerveja e velhos amigos Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Constante, serpente, vulgar
E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã
Rasga-se o sonho e o corpo sente a dor crescer Uma tontura solta na cabeça
Abre-se a mente e o cego vê a luz nascer Um olho em Deus e outro com satã

Trava-se a guerra e o fogo faz a vida E quando o sol raiar desentendido


E a vida não tem segredo Eu vou ferir a vista na manhã
E olharei pra quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã
O rancho da goiabada João Bosco/Aldir Blanc
Transversal do tempo – 1978

Os boias-frias
Quando tomam umas biritas
Espantando a tristeza
Sonham com bife à cavalo, batata-frita
E a sobremesa
É goiabada cascão
Com muito queijo
Depois café, cigarro
E um beijo de uma mulata
Chamada Leonor ou Dagmar

Sinal Fechado
Amar
O rádio de pilha
O fogão jacaré
A marmita

Deus lhe pague


Paulinho da Viola O domingo
Transversal do tempo – 1978
O bar
Onde tantos iguais
– Olá, como vai?
Se reúnem contando mentiras
– Eu vou indo, e você, tudo bem? Chico Buarque
Pra poder suportar
– Tudo bem, eu vou indo correndo Transversal do tempo – 1978
Pegar meu lugar no futuro. E você?
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir Ai, são pais-de-santo, paus-de-araras são passistas
– Tudo bem, eu vou indo em busca
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir São flagelados, são pingentes, balconistas
De um sono tranqüilo, quem sabe?
Por me deixar respirar, por me deixar existir Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados
– Quanto tempo…
Deus lhe pague Dançando, dormindo de olhos abertos à sombra da alegoria
– Pois é, quanto tempo…
Dos faraós embalsamados
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– Me perdoe a pressa Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"


É a alma dos nossos negócios. Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
– Oh! não tem de quê Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Eu também só ando a cem
– Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos
– Quem sabe?
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui


O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague
Construção
Chico Buarque
Transversal do tempo – 1978

– Quanto tempo…
– Pois é, quanto tempo… Amou daquela vez como se fosse a última
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Beijou sua mulher como se fosse a última
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir E cada filho seu como se fosse o único
– Tanta coisa que eu tinha a dizer Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair E atravessou a rua com seu passo tímido
Mas eu sumi na poeira das ruas Deus lhe pague
– Eu também tenho algo a dizer Subiu a construção como se fosse máquina
Mas me foge a lembrança Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
– Por favor, telefone, eu preciso beber Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir Tijolo com tijolo num desenho mágico
Alguma coisa, rapidamente E pelo grito demente que nos ajuda a fugir Seus olhos embotados de cimento e lágrima
– Pra semana... Deus lhe pague
– O sinal... Sentou pra descansar como se fosse sábado
– Eu procuro você... Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
– Vai abrir... E pelas moscar-bicheiras a nos beijar e cobrir Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
– Prometo, não esqueço E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Dançou e gargalhou como se ouvisse música
– Por favor, não esqueça Deus lhe pague
– Adeus, E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
– Não esqueço, adeus. E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego


Querelas do Brasil
Maurício Tapajós/Aldir Blanc

Boto Transversal do tempo – 1978

O Brazil não conhece o Brasil


O Brasil nunca foi ao Brazil

Cão sem dono


Tom Jobim/Jararaca Tapi, jabuti, iliana, alamandra, alialaúde
Transversal do tempo – 1978
Piau, ururau, aquiataúde
Piau, carioca, moreca, meganha
A praia de dentro tem areia Jobim akarare e jobim açu
A praia de fora tem o mar Sueli Costa/Paulo César Pinheiro Oh, oh, oh
Transversal do tempo – 1978
Um boto casado com sereia Pererê, camará, gororó, olererê
É nas noites que eu passo sem sono Piriri, ratatá, karatê, olará
Navega num rio pelo mar Entre o copo, a vitrola e a fumaça
Que ergo a torre do meu abandono O Brazil não merece o Brasil
E que caio em desgraça O Brazil tá matando o Brasil
O corpo dum bicho deu na praia
É nas horas em que a noite faz frio Gereba, saci, caandra, desmunhas, ariranha, aranha
E a lembrança ao castigo me arrasta
E a alma perdida quer voltar
Sertões, guimarães, bachianas, águas
Caranguejo conversa com arraia Solidão é o carrasco sombrio E marionaíma, ariraribóia
E a saudade a vergasta Na aura das mãos do jobim açu
Marcando a viagem pelo ar
Oh, oh, oh
Se eu cantar a alegria sai falsa
Se eu calar a tristeza começa Gererê, sarará, cururu, olerê
Ainda ontem vim de lá do Pilar E eu prefiro dançar uma valsa Ratatá, bafafá, sururu, olará
Ontem vim de lá do Pilar Que ouvir uma peça
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Com vontade de ir por aí E eu recuo, eu prossigo e eu me ajeito
Eu me omito, eu me envolvo e eu me abalo Tinhorão, urutú, sucuri

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Eu me irrito, eu odeio, eu exito O Jobim, sabiá, bem-te-vi
Na ilha deserta o sol desmaia Eu reflito e me calo Cabuçu, cordovil, Caxambi, olerê
Do alto do morro vê-se o mar Madureira, Olaria e Bangu, olará
Cascadura, Água Santa, Pari, olerê
Papagaio discute com Jandaia Ipanema e Nova Iguaçu, olará
Se o homem foi feito pra voar
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Inhambu cantou lá na floresta
E o velho Jereba fêz-se ao ar
Sapo querendo entrar na festa
Viola pesada pra voar Saudosa maloca
Adoniran Barbosa
Ainda ontem vim de lá do Pilar Transversal do tempo – 1978

Ontem vim de lá do Pilar Se o sinhô não tá lembrado, dá licença de contar.


Com vontade de ir por aí Ali onde agora está este adifício arto, era uma casa véia, um palacete assobradado.
Foi aqui seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca, construimo nossa maloca.
Mais um dia – nóis nem pode se alembrá – veio os home co’as ferramenta e o dono mandô derrubá.

Peguemos todas nossas coisa, e fumos pro meio da rua apreciá a demolição.
Camiranga, urubu, mestre do vento
Urubu caçador, mestre do ar Que tristeza que nóis sentia. Cada táuba que caía doía no coração.

Matogrosso quis gritar, mas por cima eu falei: – Os home tá co'a razão. Nóis arranja outro lugar.
Urutau cantando num lamento
Pra lua redonda navegar
Só se conformemo quando o Joca falou: – Deus dá o frio conforme o cobertor.
E hoje nóis pega paia nas grama do jardim. E pra esquecer nóis cantemos assim:

– Saudosa maloca... maloca querida! Dim dim donde nóis passemo os dias feliz da nossa vida.
Meio-termo
Lourenço Baeta/Cacaso
Transversal do tempo – 1978

Ah! como eu tenho me enganado...


Como tenho me matado por ter demais confiado nas evidências do amor.

Como tenho andado certo... como tenho andado errado...


Por seu carinho inseguro... por meu caminho deserto...

Como tenho me encontrado... como tenho descoberto


a sombra leve da morte passando sempre por perto.

E o sentimento mais breve rola no ar e descreve a eterna cicatriz.


Mais uma vez... mais de uma vez...
Quase que fui feliz.
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A barra do amor é que ele é meio êrmo.


A barra da morte é que ela não tem meio-termo.

Corpos Ivan Lins/Vítor Martins


Transversal do tempo – 1978

Existem mais mundos, ou altos ou fundos, entre eu e você.


Existem mais corpos, ou vivos ou mortos, entre eu e você.

Procure saber... procure em você... procure em mim.


Procure em todos... na lama, no lodo, na febre, no fogo.

Existem mais mundos, ou altos ou fundos, entre eu e você.


Existem mais corpos, ou vivos ou mortos, entre eu e você.
Violeta de Belford Roxo João Bosco/Aldir Blanc
Elis especial – 1979

Vivia entre bordados


Pensativa Violeta Ou bola ou búlica
Noves fora
A branca adolescente
De raro encanto e mão frias João Bosco/Aldir Blanc
Elis especial – 1979

Mão fria, coração quente É tanto nem se discute no meio, tou meia tantã, lélé.
Fagner/Belchior Quem te botou quebranto Mas ninguém fica pra sempre na frente de "vejo amanhã" pois é.
Elis especial – 1979
Vivia triste no canto Barba, cabelo, bigode, na marra você me arrancou, mas quem
Passando as contas do terço tem cabelinho na venta, não senta, não vai nesse andor, morou?
Meu Deus!
São José tirando a barba
O que é que eu faço?
Me lembra alguém que eu conheço Chega, já foi tempo do "tá louca"
Tua beleza tá me carregando pelo braço
Chega, dá o fora que eu tou nas bocas
Um dia um menino cego Chega, eu nunca mais dormi de touca
Da laranja eu quero um gomo
Tocou Violeta e viu Chega eu nunca mais, nunca mais
Do limão quero um pedaço
E depois o surdo ouviu
E da menina mais bonita
Chagas sumiram, curou-se o coxo Selo, carimbo, estampilha no centro da cuca eu levei, calei.
Eu quero um beijo e um abraço
Por obra e graça Mas sou marraio no jogo, no tronco ferido eu sou rei, falei.
De santa Violeta de Belfort Roxo Tempo há pro tabibitati sotaque só falta engasgar, porque
É tudo ou nada
Noves fora nada é bola ou búlica, é fogo esse jogo, não dá pra enganar, nêga.
E, milagre dos milagres
É tudo ou nada
Sem jamais haver provado Dá o fora sua louca.
Noves fora nada
O leito nupcial Eu nunca mais vou dormir de touca.
Violeta deu à luz
Ja rezei até pro meu santo
Um bebê de vitral, em meio ao "É hoje só"
Na terra Canindé
Da terça de carnaval
Que me dê amor bem grande
Que pequeno não dá pé

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O alentado rebento
Vai se chamar Juvenal

Credo
É tudo ou nada
Por sinal o mesmo nome
Noves fora nada
De um sargento do local Dinorah, Dinorah
É tudo ou nada
Noves fora nada Ivan Lins/Vítor Martins
Elis especial – 1979
A tua falta somada
A minha vida tão diminuida Quando a turma reunia alguém sempre pedia
Com esta dor multiplicada Milton Nascimento/Fernando Brant
Pelo fator despedida
Ah, Dinorah, Dinorah
Elis especial – 1979
E o malandro descrevia e logo já se via
Deixou minha alma muito dividida Caminhando pela noite de nossa cidade É, Dinorah, Dinorah
Em frações tão desiguais Acendendo a esperança e apagando a escuridão
Vamos, caminhando pelas ruas de nossa cidade
E até que ela chegasse a um motel de classe
E desde a hora
Viver derramando a juventude pelos corações
Ui, Dinorah, Dinorah
Em que você foi embora
Sou um zero e nada mais
Dava um frio na barriga e pé pra muita briga
Tenha fé no nosso povo que ele resiste Ui, Dinorah, Dinorah
Um, dois, três
Ene infinito Tenha fé no nosso povo que ele insiste
E acorda novo, forte, alegre, cheio de paixão
E nos espelhos ela se despe
Do meu lado esquerdo
É você que é demais Vamos, caminhando de mãos dadas com a alma nova
Dança nos olhos uma chacrete
Viver semeando a liberdade em cada coração E o pessoal na pior: repete!

Tenha fé no nosso povo que ele acorda


Tenha fé em nosso povo que ele assusta
Mas o verdadeiro fato está dentro do quarto
Ui, Dinorah, Dinorah
Caminhando e vivendo com a alma aberta
Ele abre o seu armário e vê no calendário
Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal É, Dinorah, Dinorah
Vamos, companheiros pelas ruas de nossa cidade E se abraça em frente a ela, o terno, o corpo dela
Cantar semeando um sonho que vai ter de ser real Ui, Dinorah, Dinorah
Caminhemos pela noite com a esperança
Desenhando na lapela a boca, o beijo dela
Caminhemos pela noite com a juventude Ah, Dinorah, Dinorah
Joana francesa
Chico Buarque
Elis especial – 1979
Bodas de prata
João Bosco/Aldir Blanc
Elis especial – 1979
Tu ris, tu mens trop Luz das estrelas – 1984

Tu pleures, tu meurs trop Você fica deitada de olhos arregalados


Ou andando no escuro de peignoir
Tu as le tropique
Não adiantou nada
Cortar os cabelos e jogar no mar
Dans le sang et sur la peau
Não adiantou nada o banho de ervas
Não adiantou nada o nome da outra
Geme de loucura e de torpor No pano vermelho pro anjo das trevas
Ele vai voltar tarde cheirando à cerveja
Já é madrugada Se atirar de sapatos na cama vazia
E dormir na hora mormurando: "Dora"
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Mas você é Maria
Você fica deitada com medo do escuro
Mata-me de rir Ouvindo bater no ouvido
O coração descompassado
Fala-me de amor É o tempo, Maria, te comendo feito traça
Num vestido de noivado
Songes et mensonges
Sei de longe e sei de cor

Entrudo
Geme de prazer e de pavor
Já é madrugada
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Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda Carlos Lyra


Elis especial – 1979

Bonita
Vem, oh minha amada
Desce a estrada de rainha
Vem molhar meu colo
Vou te consolar Num passo de rancho corre o manto
Tom Jobim/Gene Lees/Ray Gilbert
No medo e espanto morre minha alegria
Vem, mulato mole Elis especial – 1979
Vem, oh, fantasia
Dance dans mes bras What can I say to you Bonita Arrasta a saia, rasga o dia
What magic words would capture you Meu passo é o compasso na avenida
Like a soft evasive mist you are Bonita Teu riso que dança, trança, triste e sofrido
Vem, moleque me dizer
Onde é que está You fly away when love is new
What do you ask of me Bonita Se meu abandono
Ton soleil, ta braise What part do you want me to play Em cinzas frias amanhece
Shall I be the clown for you Bonita Mas o sangue não se cansa
I will be anything you say Não se esquece de chamar
Bonita
Don't run away Bonita E eu abro alas, jogo lanças
Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateau Bonita Serpentinas de cores feridas
Don't be afraid to fall in love with me E rompo estandartes na avenida em dor
Tu as le parfum I love you Sem céu, sem luz, sem sol, sem cor
I tell you I love you,
De la cachaça e de suor Bonita Mas vem, ou tudo ou nada
If you love me Meu entrudo, minha espera
Life will be beautiful Meus campos de guerra, vem amada
Geme de preguiça e de calor Bonita, Bonita De tanto que eu chamo, canto, peço e preciso

Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Cai dentro
Baden Powell/Paulo César Pinheiro
Essa mulher – 1979
Montreaux Jazz Festival – 1982

Até que eu vou gostar


Se de repente combina da gente se cruzar
Ora, veja só, pois é, pode apostar
Se você gosta de samba, encosta e ve se dá
Valsa rancho
Francis Hime/Chico Buarque Vem
Elis especial – 1979 Pode chegar
Que vai ter
Valsa, rancha Me valsa De balancear
Me faz esquecer Me rancha De bambolear
Esperar Me faz E aqui no mocó
Em mil lágrimas Me deixa Tem que dizer no gogó
Mil lágrimas Que criança Pois é, vem
Mil lágrimas Que esperança Tem que dar nó, vem
Que prazer Rebolar, remexer, requebrar, vem
Valsa, rancha Que saudade
Me faz responder Que maldade Bota a baiana pra rodar
Transbordar Piedade De cima em baixo eu quero ver
Em mil lágrimas Que fartura Não sossego o facho até acabar
Mil lágrimas Que loucura Diz que isso é com você
Mil lágrimas Que cruel tortura
Nos carinhos teus Quaquaquá-quará-quaquá
Mil abraços Minha santa criatura
Mil fracassos Diz que jura Tem nêgo querendo lhe gozar
Meu delírio Pela mãe de Deus E logo prá cima de “moi”
Teus pedaços E é por isso que nao tem colher de chá... Não dou
Teu calor Valsa, rancha Nem vem na cola, que se entrar de sola vai dançar
Seja feito Me faz desfazer E é prá nunca mais você poder falar

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Teu desejo Descansar Que dá na bola porque na bola você não dá.Viu?
Seja um beijo De mil lágrimas
Seja como for Mil lágrimas

Deixa o mundo e o sol entrar


Quantos braços Mil lágrimas
Mil regaços
Valsa rancha
Mil e um noites Me faz duvidar
Faz um outra vez Delirar Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle
Como se ainda fosse Prometer Elis especial – 1979

Como é doce Desatar


De repente, vejo bem
Como você fez Responder
Eu sou alguém com medo de viver
Transbordar
Sou prisioneiro das coisas que eu amei
Devolver
Mas não tem sentido estar na vida
Me acabar
Preso a quem não quero mais
Devagar
Desmaiar
De outro lado está você
Com você
Nessas promessas vou, quase sem ver
Que esse amor aflito, guardado só pra nós
De tão grande já não dá no quarto
Pede o mundo e a luz do sol

Meu passado já morreu


Quem veio dele, sei, vai me entender
Que o amor existe enquanto há paixão
Siga minha amiga pela vida
E que eu viva um novo amor

De outro lado estamos nós


Sem compromissos, vem, sem lar, sem lei
Siga minha amante enquanto houver amor
Abre as portas todas deste quarto
Deixa o mundo e o sol entrar
O bêbado e a equilibrista João Bosco/Aldir Blanc
Essa mulher – 1979

Caía a tarde feito um viaduto


E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua, tal qual a dona de um bordel
Pedia a cada estrela fria
Essa mulher
Um brilho de aluguel Joyce/Ana Terra
Essa mulher – 1979

E nuvens, lá no mata-borrão do céu


De manhã cedo essa senhora se conforma
Chupavam manchas torturadas
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Que sufoco!
Ah, como essa santa não se esquece
Louco!
De pedir pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão
O bêbado com chapéu-coco
Depois sorri meio sem graça
Fazia irreverências mil
E abraça aquele homem, aquele mundo que a faz assim feliz
Pra noite do Brasil
De tardezinha essa menina se namora
Meu Brasil
Se enfeita, se decora, sabe tudo, não faz mal
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Ah, como essa coisa é tão bonita
Com tanta gente que partiu
Ser cantora, ser artista, isso tudo é muito bom
Num rabo de foguete
E chora tanto de prazer e de agonia
Chora a nossa pátria, mãe gentil
De algum dia, qualquer dia, entender de ser feliz

Beguine dodói
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Mas sei que uma dor assim pungente
Ah, como essa louca se esquece
João Bosco/Aldir Blanc/Cláudio Tolomei Não há de ser inutilmente
Quanto os homens enlouquece nessa boca, nesse chão
Essa mulher – 1979 A esperança
Depois parece que acha graça
Dança na corda bamba de sombrinha
E agradece ao destino aquilo tudo que a faz tão infeliz
Olha, meu bem E em cada passo dessa linha
O que restou daquele grande herói Pode se machucar
70

Essa menina, essa mulher, essa senhora


Sem ter amor, enlouqueci e ando dodói Azar!
Em quem esbarro a toda hora no espelho casual
A esperança equilibrista
É feita de sombra e tanta luz
Como Tarzan depois da gripe, Sabe que o show de todo artista
De tanta lama e tanta cruz que acha tudo natural
De emplastro sabiá Tem que continuar
Tomando cana nos botequins
Eu vou me acabar

Espremo cravos defronte ao espelho


Lembrando você Basta de clamares inocência
Faço novena, tomo gemada Cartola
Ah, não dá mais! Essa mulher – 1979

Julio Lousada que me socorra Basta de clamares inocência


Nessa aflição mortal Eu sei todo o mal que a mim você fez
Maracujina já não resolve Você desconhece consciência
Ao recordar Só deseja o mal a quem o bem te fez
Meias fumê, ligas vermelhas e um olhar fatal
Minha Dalila, volta depressa Basta! Não ajoelhes, vá embora
Que o teu Sansão tá mal Se estás arrempedido
Vê se chora

Quando você partiu


Me disse chora
Não chorei
Caprichosamente fui esquecendo
Que te amei
Hoje me encontras tão alegre e diferente
Jesus não castiga um filho que está inocente

Basta não ajoelhes, vá embora


Se estás arrependida
Vê se chora
Altos e baixos Eu, heim, Rosa!
Sueli Costa/Aldir Blanc
Essa mulher – 1979
João Nogueira/Paulo César Pinheiro
Essa mulher – 1979
Bolero
Foi, quem sabe, esse disco
Esse risco de sombra em teus cílios
Foi ou não meu poema no chão
Eu, hein, rosa!
Se manca, segura essa banca de escrupulosa
Eu, hein, rosa!
de
Ou talvez nossos filhos

As sandálias de saltos tão altos


O relógio batendo, o sol posto, o relógio
O meu jogo é na retranca, área muito perigosa

Você parece que nem lembra mais de tempos atrás


A tua figura era vergonhosa
satã
Guinga/Paulo César Pinheiro
As sandálias, e eu bantendo em teu rosto Eu me reparti querendo reconstituir Essa mulher – 1979
A quem hoje me vira o rosto assim
E a queda dos saltos tão altos Mas eu nem me abalo Você penetrou como o sol da manhã
Sobre os nossos filhos Você vai cair do cavalo E em nós começou uma festa pagã
Com um raio de sangue no chão Quando precisar de mim Você libertou em você a infernal cortezã
Do risco em teus cílios
Eu, hein, rosa!
E em mim despertou esse amor
Foram discos demais, desculpas demais Vem mansa porque a contradança é mais audaciosa
Atormentado e mal de Satã
Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas Eu, hein, rosa!
Meu táxi, whisky, Dietil, Diempax Apela pra ignorancia é coisa indecorosa Você me deixou como o fim da manhã
Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos E em mim começou esse angústia, esse afã
O amor quando traz tanta vida Acho que estou é forçando demais as cordas vocais Você me plantou a paixão imortal e mal sã
Você naõ merece um dedo de prosa Que se enraizou e será meu maldito final amanhã
E pra resumir, faço questão de conferir
Se se quebra ou não um vaso ruim E agora me aperta a aflição
Saia no pinote
Senão vai ser de camarote
De chorar louca e só de manhã
Que eu vou assistir seu fim
É a seta do arco da noite
Sangrando-me agora
São lágrimas, sangue, veneno

71
Correndo no meu coração
Formando-me dentro esse pântano de solidão

As aparências enganam Tunai/Sérgio Natureza


Essa mulher – 1979
Saudade do Brasil – 1980

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam


Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas
São o alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam


Poque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor

As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam


Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor
Pé sem cabeça
Danilo Caymmi/Ana Terra
Essa mulher – 1979

Você me fez sofrer


Ninguém me faz sofrer assim
O que era tanta beleza
Num pé sem cabeça, você transformou
Mas você onde está
Não me viu, não será?
Que teu sono vai ter paz

No céu da vibração
Se meu rosto se acender, brilhar
Se teu olho te trair, não vai durar
Seu porto seguro, seu lugar comum
Você navegando pra lugar nenhum
Gilberto Gil
Quem sabe de tudo 1980
Não sabe o seu fim
Mas eu não me quero fugindo daqui
Também não te deixo zombando de mim Os homens são mortais
Quem sabe de tudo não sabe seu fim Todos os animais
Os vegetais também o são
Como será
Não ser assim?
Não precisar
O começo, o meio, o fim
A encarnação, Deus?

Rebento
Como será
Não estar aqui nem lá
E tão somente andar ao léu
No céu da vibração?
Gilberto Gil
Elis – 1980
72

Para os olhos, fez-se a cor Vento de maio – 1981


Para os ouvidos, o som Montreaux Jazz Festival – 1982
Para os corações, o fogo do amor
E para os puros, o que é bom Rebento, substantivo abstrato
O ato, a criação e o seu momento
Só me resta agradecer Como uma estrela nova e o seu barato
E aguardar a ocasião Que só Deus sabe lá no firmamento
De tão somente andar ao léu
No céu da vibração Rebento, tudo que nasce é rebento
Tudo que brota, tudo que vinga, tudo que medra
Rebento raro, como flor na pedra
Rebento farto, como trigo ao vento

Outras vezes rebento simplesmente


No presente do indicativo
Como a corrente de uma cão furioso
Com as mãos de um lavrador ativo

Ás vezes mesmo perigosamente


Como acidente em forno radioativo
Ás vezes só porque fico nervosa
Eu Rebento
Ou necessariamente só por que estou vivo

Rebento, a reação imediata


A cada sensação de abatimento
Eu Rebento, o coração dizendo bata
A cada bofetão do sofrimento
Eu Rebento, como um trovão dentro da mata
E a imensidão do som desse momento
O medo de amar é o medo de ser livre
Beto Guedes/Fernando Brant
Elis – 1980
Vento de maio – 1981

Sai dessa
Trem azul – 1982

Nova estação
O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Natan Marques/Ana Terra Livre para sempre estar onde o justo estiver
Elis – 1980
Vento de maio – 1981 Luiz Guedes/Thomas Roth
O medo de amar é o medo de ter Elis – 1980
Trem azul – 1982
De a todo momento escolher Vento de maio – 1981
Com acerto e precisão a melhor direção
Sonhei que existia uma avenida Nova esperança
Sem entrada e sem saída pra gente comemorar Bate coração
O sol levantou mais cedo e quis
Toda hora, todo dia, toda vida Renascer cada dia com a luz da manhã
Em nossa casa fechada entrar
Na tristeza e na alegria, sem platéia e sem patrão Despertar sem medo
Prá ficar
Enganar a dor
Hoje eu sonhei que cerveja sai da bica Disfarçar essa mágoa que anda solta no ar
O medo de amar é não arriscar
No banheiro não tem fila nem existe contramão
Esperando que façam por nós
Que o trabalho é ali na nossa esquina Ter que acreditar no regresso da estação
O que é nosso dever: recusar o poder
E depois do meio dia, nem polícia e nem ladrão Como o sol volta a brilhar, como as chuvas de verão
O sol levantou mais cedo e cegou Ter que acreditar só pra ter razão
Sonhei, como faço todo dia De sonhar mais uma vez
O medo nos olhos de quem foi ver
Como você não sabia, meu senhor não levo a mal
Tanta luz
A beleza, o amor, a fantasia Nova esperança
O que tece e o que desfia não se aprende no jornal Bate coração
Renascer cada dia com a luz da manhã
Hoje eu sonhei, mas não vou pedir desculpas Semear a terra
E nem vou levar a culpa de ser povo e ser artista Certo de colher da semente o fruto
Sem essa, moço, por favor não crie clima Depois descansar
Seu buraco é mais embaixo, nosso astral é mais em cima

73
Aprendendo a jogar
Guilherme Arantes
Elis – 1980

Só Deus é quem sabe O trem azul


Vento de maio – 1981
Trem azul – 1982

Vivendo e aprendendo a jogar


Vivendo e aprendendo a jogar
Guilherme Arantes Nem sempre ganhando Lô Borges/Ronaldo Bastos
Elis – 1980 Elis – 1980
Nem sempre perdendo Vento de maio – 1981
Vento de maio – 1981
Mas, aprendendo a jogar Trem azul – 1982
Não, não sei guardar ressentimeto
Água mole em pedra dura Coisas que a gente se esquece de dizer
Eu hoje lembro com ternura cada momento
Mas vale que dois voando Frases que o vento tem as vezes me lembrar
Promessas de nós dois naqueles dias
Se eu nascesse assim pra lua Coisas que ficaram muito tempo por dizer
O tempo transformou-as em palavras vazias
Não estaria trabalhando Na canção do vento não se cansam de voar
Ás vezes a paixão nos traiu
Mas em casa de ferreiro Você pega o trem azul
Ás vezes foi a voz que mentiu
Quem com ferro se fere é bobo O sol na cabeça
Mas nada disso importa
Cria a fama, deita na cama Você pega o trem azul
O que vale é o que sorte escreveu
Quero ver o berreiro na hora do lobo Você na cabeça
Só Deus é quem sabe do amor
Eu não sei nada O sol na cabeça
Quem tem amigo cachorro
Só sei que a vida nos prepara cada cilada
Quer sarna para se coçar
E é inútil se tentar fugir da longa estrada
Boca fechada não entra besouro
Macaco que muito pular quer dançar
Vento de maio
Telo Borges/Márcio Borges
Elis – 1980 (Com Lô Borges)
Vento de maio – 1981 (Com Lô Borges)
Trem azul – 1982

Vento de raio
Rainha de maio
Estrela cadente
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio, valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Rainha de maio valeu a viagem
Agora já não dá mais
Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção
(Vento solar e estrela do mar…)
Sol, girassol, e meus olhos ardendo de tanto cigarro
E quase que eu me esqueci
Que o tempo não pára, nem vai esperar
Vento de maio
Rainha dos raios de sol
Vá no teu pique estrela cadente até nunca mais
Não te maltrates nem tentes voltar o que não tem mais vez
Nem lembro teu nome nem sei
74

Estrela qualquer lá no fundo do mar


Vento de maio
Rainha dos raios de sol
Rainha de maio, valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Pra que que eu fui lembrar dos óio dele
Jabuticaba madura
Coração cabeça-dura
Teima, bate até que fura
Desconjura e negaceia
Feito lobo em lua cheia
Na cadeia desse olhar

Que arrepia, esfria e me dá


Taquicardia, falta de ar
É o coração que desde pro calcanhar de aquiles
Doce suplício do amor
Faquires tiram partido da dor

Que bate, come e repinica Maria, Maria


Feito fome de lumbriga É um dom, uma certa magia
Na barriga da miséria Uma força que nos alerta
Coração cabeça velha Uma mulher que merece viver e amar
Me virando do avesso
Inventei qualquer pretexto
Calcanhar Como outra qualquer do planeta

Fui pedir para voltar de Aquiles Maria, Maria


É o som, é a cor, é o suor
Cheguei no prédio, errei de andar Jean Garfunkel/Paulo Garfunkel
É a dose mais forte e lenta
Elis – 1980
No elevador um gordo me dá Vento de maio – 1981 De uma gente que ri quando deve chorar
Um pisão no calo que me enxotou de lá E não vive, apenas agüenta
Mancando
Sei que esse amor vai ficar sangrando Mas é preciso ter força
No peito e no calcanhar de aquiles É preciso ter raça
Doce suplício do amor É preciso ter gana sempre
Faquires tiram partido da dor Quem traz no corpo a marca
Que dá lembrar dos olhos dele Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Maria
Mas é preciso ter manha
Maria É preciso ter graça

75
Milton Nascimento
É preciso ter sonho sempre
Saudade do Brasil – 1980 Quem traz na pele essa marca
Alô, alô marciano Trem azul – 1982 Possui a estranha mania
Aqui quem fala é da Terra Montreaux Jazz Festival – 1982 De ter fé na vida
Pra variar, estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down no high society!
Alô alô
Alô, alô marciano
A crise tá virando zona marciano
Cada um por si, todo mundo na lona Rita Lee/Roberto de Carvalho
Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de 7 chaves
E lá se foi a mordomia Dentro do coração
Tem muito rei aí pedindo alforria porque
Tá cada vez mais down no high society!
Saudade do Brasil – 1980
Trem azul – 1982 Canção da Assim falava a canção
Que na América ouvi

Alô, alô marciano


América
Milton Nascimento/Fernando Brant
Mas quem cantava chorou
Ao ver seu amigo partir
A coisa tá ficando ruça Saudade do Brasil – 1980
Muita patrulha, muita bagunça Trem azul – 1982 Mas quem
ficou, no pensamento voou
O muro começou a pichar Com seu canto que o outro lembrou
Tem sempre um aiatolá prá atolá, Aláh! E quem voou, no pensamento ficou
Tá cada vez mais down no high society! Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa pra se guardar


No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam não
Mesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvir


A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo eu volto a te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar
O primeiro jornal
Sueli Costa/Abel Silva
Saudade do Brasil – 1980

Quero cantar pra você


Segunda-feira de manhã

Agora tá
Pelo seu rádio de pilha tão docemente
E te ajudar a encarar esse dia mais facilmente

Quero juntar minha voz matinal


Aos restos dos sons noturnos
E aos cheiros domingueiros que ainda boiam
Tunai/Sérgio Natureza
Saudade do Brasil – 1980
Montreaux Jazz Festival – 1982
Na casa e em você
Já que tá aí
Para que junto com o café e o pão se dê Pela metade, mas tá
Melhor cuidar pra peteca não cair
O milagre de ouvir latir o coração
Ou quem sabe algum projeto, uma lembrança
Uma saudade à toa
Venha nascendo com o dia numa boa

E estar com você na primeira brasa do cigarro


No primeiro jorro da torneira
Pra não deixar escapulir
Como água no ralo

Aquilo que já fez calo


Doeu feito joanete
Castigou nosso cavalo
Onze fitas
Fátima Guedes
Saudade do Brasil – 1980
Montreaux Jazz Festival – 1982
Nos primeiros aprontos de um guerreiro de manhã Cortou como canivete
Feriu, mexeu, mixou
Para que saias com alguma alegria bem normal Por engano, vingança ou cortesia
Que dure pelo menos até você comprar e ler Nunca comeu melado Tava lá morto e posto, um desgarrado
O primeiro jornal Vai lambuzar Onze tiros fizeram a avaria
Se vacilar pode cantar pra subir E o morto já tava conformado
Porque não dá pra começar
Todo rolo de novo Onze tiros e não sei porque tantos
Esses tempos não tão pra ninharia
76

Se o bolo fica sem ovo Não fosse a vez daquele um outro ia


Se a massa não tem fermento
Deus o livre morrer assassinado

Presi dente
bossa nova
Se não cozinhar por dentro
Vai tudo por água abaixo
Eu acho, acho, acho que agora tá
Quase no ponto tá
No ponto de provar
Eu acho que agora tá
No ponto de solar
Pro seu santo não era um qualquer um
Três dias num terreno abandonado
Ostentando onze fitas de Ogum

Quantas vezes se leu só nesta semana


Essa história contada assim por cima
Juca Chaves A verdade não rima
Saudade do Brasil – 1980
Acho que agora tá A verdade não rima
pra lá de pronto tá A verdade não rima
Bossa Nova mesmo é ser Presidente
acho que agora tá
Desta terra descoberta por Cabral,
acho que agora tá
Para tanto basta ser tão simplesmente
já que tá aí
Simpático, risonho, original.
Depois desfrutar da maravilha
De ser o Presidente do Brasil,
Voar da velha capta Brasília
Ser alvorada e voar de volta ao rei.

Voar, voar, voar,


Voar, voar pra bem distante
A que versales onde duas mineirinhas valsinhas
Dançam como duas debutantes, interessante...
Mandar parente a jato pro dentista,
Almoçar com o tenista campeão,
Também poder ser um grande artista exclusivista
Tomando com Dilermando umas aulinhas de violão.
Isto é viver como se aprova,
É ser um Presidente Bossa Nova,
Bossa Nova, muito nova, nova mesmo, ultranova.
Moda de sangue Jerônimo Jardim/Ivaldo Roque
Saudade do Brasil – 1980

Quando te prendo na cadeia dos abraços


E te torturo, e te sufoco em meus braços
E te fuzilo com os olhos do desejo
Te mordendo no gosto do meu beijo

Marambaia
Quando te arranho, te lanho de ternura
Vertendo sangue do teu corpo de malícia

Menino
Quando te xingo com palavras obcenas
Como jurasse as juras mais serenas
Henricão/Rubens Campos
Saudade do Brasil – 1980
Quando me vingo dos males que me fazes
Eu tenho uma casinha lá na Marambaia Com frazes de maldade e veneno Milton Nascimento/Fernando Brant
Saudade do Brasil – 1980
Fica na beira da praia só vendo que beleza Sinto, meu amor, que o amor é isso
Tem uma trepadeira que na primavera Essas coisas muito fora de juízo Quem cala sobre teu corpo
Fica toda florescida de brincos de princesa Consente na tua morte
Talhada a ferro e fogo
Quando chega o verão eu sento na varanda Nas profundezas do corte
Pego o meu violão e começo a cantar Que a bala riscou no peito
E o meu moreno fica sempre bem disposto
Senta ao meu lado e começa a cantar Quem cala morre contigo
Mais morto que estás agora
Quando chega a tarde um bando de andorinhas Relógio no chão da praça
Voa em revoada fazendo verão Batendo, avisando a hora
E lá na mata o sabiá gorjeia

77
Que a raiva traçou no tempo
Linda melodia pra alegrar meu coração
Às seis horas o sino da capela No incêndio repetido
Toca as badaladas da Ave-Maria O brilho do teu cabelo
A lua nasce por detrás da serra Quem grita vive contigo
Anunciando que acabou o dia

Luiz Gonzaga Jr.


Saudade do Brasil – 1980

Vou buscar um mundo novo, vida nova


E ver se dessa vez faço um final feliz
Deixar de lado aquela velha história
O verso usado, o canto antigo

Mundo novo Vida nova


Vou dizer adeus
Fazer de tudo e todos mera lembrança
Deixar de ser só esperança
E por minhas mãos lutando
Me superar

Vou rasgar no tempo


O meu próprio caminho
E, assim, abrir meu peito ao vento
Me libertar
De ser somente aquilo que se espera
Em forma, jeito, luz e cor
E vou...

Vou pegar um mundo novo, vida nova


Vou buscar um mundo novo, vida nova
O pequeno exilado
Raul Ellwanger
Raul Ellwanger – 1980

Navegas, navegas, navegas


Lá do outro lado do oceano
Na palma da mão já carrega
Vinte m il léguas de sonhos

Aos nossos filhos Sabiá


Seguingo teu pai que te leva
A bordo dos teus nove anos
Pequeno exilado sem pátria Ivan Lins/Vítor Martins Tom Jobim/Chico Buarque
Saudade do Brasil – 1980 Saudade do Brasil – 1980

Perdoem a cara amarrada Vou voltar


Navegas teu barco de enganos
Perdoem a falta de abraço Sei que ainda vou voltar
Perdoem a falta de espaço Para o meu lugar
Navegas teus olhos molhados Os dias eram assim Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Na capital dos franceses Perdoem por tantos perigos Uma sabiá
Perdoem a falta de abrigo Cantar uma sabiá
Perdoem a falta de amigos
Carregas teus olhos chorados
Os dias eram assim Vou voltar,
78

Contando dias e meses Sei que ainda vou voltar


Perdoem a falta de folhas Vou deitar à sombra de uma palmeira
Perdoem a falta de ar Que já não há
Menino crescido sem terra Perdoem a falta de escolha Colher a flor que já não dá
Os dias eram assim E algum amor, talvez possa espantar
Teu único plano primeiro As noites que eu não queria
E quando passarem a limpo E anunciar o dia
E quando cortarem os laços
É ver terminar tanta espera
É ser cidadão brasileiro E quando soltarem os cintos Vou voltar
Façam a festa por mim Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Quando lavarem a mágoa Que fiz tantos planos de me enganar
Guerreiro do bairro da Glória Quando lavarem a alma Como fiz enganos de me encontrar
Quando lavarem a água Como fiz estradas de me perder
Lavem os olhos por mim Fiz de tudo e nada de te esquecer
Doende do bairro Floresta
Vem cá conhecer nossa história Quando brotarem as flores
Malandros, calçadas e festas Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim
Só quero te ver na cidade
Cantando em bom Português
Canções de gritar liberdade
Daquela que usa o Francês

Vou me embora vou me embora…


Redescobrir
Luiz Gonzaga Jr.
Saudade do Brasil – 1980

Como se fora brincadeira de roda memória


Jogo do trabalho na dança das mãos macias
O suor dos corpos na canção da vida história

O suor da vida no calor de irmãos magia

Como um animal que sabe da floresta memória

Redescobrir o sal que está na própria pele, macia

Redescobrir o doce no lamber das línguas macias

Redescobrir o gosto e o sabor da festa magia

79
Vai o bicho homem fruto da semente memória

Renascer da própria força, própria luz e fé memória

Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós história

Somos a semente, ato, mente e voz magia

Não tenha medo, meu menino bobo, memória

Tudo principia na própria pessoa beleza


Vai como a criança que não teme o tempo mistério

Amor se fazer é tão prazer que é como se fosse dor magia

Como se fora brincadeira de roda memória

Jogo do trabalho na dança das mãos macias

O suor dos corpos na canção da vida história

O suor da vida no calor de irmãos magia


O que foi feito devera (de Vera)
Milton Nascimento/Fernando Brant
Clube da Esquina 2 – 1978 (Com Milton Nascimento)
Saudade do Brasil – 1980
Vento de maio – 1981 (Com Milton Nascimento)
Trem azul – 1982

O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou?


O que foi feito da vida, o que foi feito do amor? Na baixa do sapateiro
Quisera encontrar Ary Barroso
Aaquele verso menino que escrevi Montreaux Jazz Festival – 1982

Há tantos anos atrás Na Baixa do Sapateiro eu encontrei um dia


O moreno mais folgado da Bahia
Pedi-lhe um beijo, não deu
Falo assim com saudade, falo assim por saber Um abraço, sorriu
Pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu
Se muito vale o já feito, mas vale o que será
Mas vale o que será Bahia, terra da felicidade
Moreno, eu ando louca de saudade
E o que foi feito é preciso conhecer Meu Senhor do Bonfim
Para melhor prosseguir Arranje outro moreno igualzinho pra mim

Outro cais
Oh! amor, ai
Falo assim sem tristeza, falo por acreditar Amor bobagem que a gente não explica, ai ai
Prova um bocadinho, ô
Que é cobrando o que fomos que nós iremos crescer Marilton Borges/Duca Leal Fica envenenado, ô
Os Borges – 1980 E pro resto da vida é um tal de sofrer
80

Ôlará, ôlerê
Nós iremos crescer Vento de maio – 1981
Outros outubros virão, outras manhãs
Me atraiu o teu canto Ô Bahia
Plenas de sol e de luz Respirei o teu ar Bahia que não me sai do pensamento
Te arranquei do teu cais Faço o meu lamento, ô
Me lancei no teu mar Na desesperança, ô
Alertem todos alarmas que o homem que eu era voltou De encontrar nesse mundo
Te cobri com meu manto Um amor que eu perdi na Bahia, vou contar
A tribo toda reunida, ração dividida ao sol Descansei nessas ondas
De nossa Vera Cruz Misturamos nosso sangue Ô Bahia
Juntos fomos dançar Bahia que não me sai do pensamento
Quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem parar

Tiro ao álvaro
Quando o cansaço era rio e rio qualquer dava pé
E a cabeça rodava num gira-girar de amor
E até mesmo a fé Adoniran Barbosa/Oswaldo Moles
Adoniran e convidados – 1980
Não era cega nem nada Vento de maio – 1981
Era só núvem no céu e raiz De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece, sabe o que?
Táubua de tiro ao álvaro, não tem mais onde furar
Hoje essa vida só cabe na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe, abelha fazendo o seu mel Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
No pranto que criei Que peixeira de baiano
Nem vá dormir como pedra Teu olhar mata mais
Que atropelamento de automóver
E esquecer o que foi feito de nós Mata mais que bala de revórver
Se eu quiser falar com Deus Gilberto Gil
Vento de maio – 1981
Trem azul – 1982

Se eu quiser falar com Deus


Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós dos sapatos
Da gravata
Dos desejos
Dos receios
A corujinha Tenho que esquecer a data
Cobra criada
Toquinho/Vinícius de Morais Tenho que perder a conta João Bosco/Paulo Emílio
Montreaux Jazz Festival – 1982
A arca de noé – 1980
Tenho que ter mãos vazias
Corujinha, corujinha Ter a alma e o corpo nus Suco de sururucu
Diga lá jacu
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha Se eu quiser falar com Deus Cutia comadre
Sempre olhando não sei que Tenho que aceitar a dor Posta de pirarucu
Tenho que comer o pão

81
Diga lá caju
O teu canto de repente
Que o diabo amassou
Barata cascuda
Faz a gente estremecer
Tenho que virar um cão
Gruta de veiúva negra
Tenho que lamber o chão dos palácios
Caranguejeira
Corujinha, pobrezinha
Dos castelos suntuosos dos meus sonhos
Saúva coruja
Todo mundo que te vê
Tenho que me ver tristonho
Rastro de jararucu
Diz assim, ah! coitadinha
Tenho que me achar medonho
Jararacoral
Que feinha que é você
E apesar de um mal tamanho
Piranha calunga
Alegrar meu coração
Diaba de banda retrai
Quando a noite vem chegando
De carataí
Chega o teu amanhecer
Se eu quiser falar com Deus
Traíra de dente de dá
E se o sol vem despontando
Tenho que me aventurar
E cada dentada que dá
Vais voando te esconder
Tenho que subir aos céus
Cascudo cará
Hoje em dia andas vaidosa
Sem cordas pra segurar
Purús juruá
Orgulhosa com quê
Tenho que dizer adeus
Mordida no maracujá

Dar as costas
De cobra criada no mar
Toda noite tua carinha
Caminhar decidido
Chocalha no cadê você
Aparece na TV
Sussurra no bote que dá
Corujinha, corujinha Pela estrada que ao findar vai dar em nada Curare de cobra suga e sai
Nada, nada, nada, nada
Que feinha que é você!
Picada de cobra amor não dói
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
Garota de Ipanema Asa branca
Tom Jobim/Vinícius de Morais/Vs. Ing. Norman Gimbel Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira
Montreaux Jazz Festival – 1982 Montreaux Jazz Festival – 1982

Olha, que coisa mais linda Quando olhei a terra ardendo


Mais cheia de graça Qual fogueira de São João
É ela, menina, que vem e que passa Eu perguntei a meu Deus do Céu
Num doce balanço, a caminho do mar Porque tamanha judiação
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema Quando olhei a terra ardendo
O seu balançado Qual fogueira de São João
É mais que um poema Entonce eu disse: “Adeus Rosinha,
É a coisa mais linda Guarda contigo meu coração”
Que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?


Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Fé cega, faca amolada


Ah, se ela soubesse que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor
82

Girl from Ipanema Milton Nascimento/Ronaldo Bastos


Montreaux Jazz Festival – 1982

Tall and tan and young and lovely Agora eu não pergunto mais aonde vai a estrada
The girl from ipanema goes walking Agora eu não espero mais aquela madrugada
And when she passes, each one she passes goes – ah Vai ser, vai ser, vai ter que ser, vai ser, faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada
When she walks, she’s like a samba
That swings so cool and sways so gentle Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranqüilo
That when she passes, each one she passes goes – ooh Deixar o seu amor crescer e ser muito tranqüilo
Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada
(ooh) but I watch her so sadly Um brilho cego de paixão e fé, faca amolada
How can I tell her I love her
Yes I would give my heart gladly Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia
Beber o vinho e renascer na luz de cada dia
But each day, when she walks to the sea A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada
She looks straight ahead, not at me O chão, o chão, o sal da terra o chão, faca amolada

Tall, (and) tan, (and) young, (and) lovely Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
The girl from ipanema goes walking Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia
And when she passes, I smile – but she doesn’t see (doesn’t see) Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser muito tranqÄilo
(she just doesn’t see, she never sees me,...) Um brilho cego de paixão e fé, faca amolada
Mancada Samba dobrado
Gilberto Gil Djavan
Montreaux Jazz Festival – 1982 Montreaux Jazz Festival – 1982

O dinheiro que eu lhe dei Vai ser pior ainda quando amanhecer
Pro tamborim Tudo que se tem pra cantar
Não vá gastar Não pra embalar nem pra devolver
Depois jogar a culpa em mim O direito de escolher
A música melhor para se dançar
O dinheiro que eu lhe dei
Não é meu, não Quem faz parte dessa cena pode rodar
É da escola Pra cumprir a mesma pena
Por favor, não mete a mão Não é preciso ensaiar
Tá combinado
Você lembra muito bem Basta aprender a sambar dobrado
No outro carnaval
Você chorou porque não pôde desfilar
A fantasia que eu mandei você comprar
Não ficou pronta
Porque o dinheiro que eu lhe dei pra costurar
Você (hum, hum)...
Eu nem vou dizer pra não lhe envergonhar

Me deixas louca Lança perfume Valsa de Eurídice

83
Armando Manzanero/Vs. Paulo Coelho Rita Lee/Roberto de Carvalho Vinícius de Morais
Trem azul – 1982 Trem azul – 1982 Trem azul – 1982

Quando caminho pela rua lado a lado com você Lança, lança perfume Tantas vezes já partiste
Me deixas louca Lança, lança perfume Que chego a desesperar
E quando escuto o som alegre do teu riso Chorei tanto, estou tão triste
Que me dá tanta alegria, me deixas louca Lança menina Que já nem sei mais chorar
Lança todo este perfume Oh, meu amado, não parta
Me deixas louca quando vejo mais um dia Desbaratina Não parta de mim
Pouco a pouco entardecer Não dá pra ficar imune Oh, uma partida que não tem fim
E chega a hora de ir pro quarto escutar Ao seu amor Não há nada que conforte
As coisas lindas que começas a dizer Que tem cheiro de coisa maluca A falta dos olhos teus
Me deixas louca Pensa que a saudade
Vem cá meu bem Pode matar-me
Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apague Me descola uma carinho Adeus
Me deixas louca Eu sou néném
Quando transmites o calor de tuas mãos Só sossego com beijinho
Pro meu corpo que te espera E ve se me dá
Me deixas louca O prazer de ter prazer comigo

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas Me aqueça


Desaparecem as palavras, outros sons enchem o espaço Me vira de ponta cabeça
Você me abraça, a noite passa Me faz de gato e sapato e
E me deixas louca Me deixa de quatro no ato
Me enche de amor , de amor
Sinto os teus braços se cruzando em minhas costas
Desaparecem as palavras, outros sons enchem o espaço Lança, lança pefume
Você me abraça, a noite passa oh oh oh oh lança, lança perfume
E me deixas louca Lança perfume
Imagino-te já idosa,
Frondosa toda a folhagem,
Multiplicada a ramagem
De agora.

Tendo tudo transcorrido,


Flores e frutos da imagem
Com que faço essa viagem
Pelo reino do teu nome,

Oh, Flora!

Imagino-te jaqueira
Prostrada à beira da estrada
Velha, forte, farta, bela
Senhora.

Pelo chão, muitos caroços, Flora


84

Como que restos dos nossos Gilberto Gil


Trem azul – 1982
Próprios sonhos devorados
Pelo pássaro da aurora,

Oh, Flora!

Imagino-te futura,
Ainda mais linda, madura,
Pura no sabor de amor e
De amora.

Toda aquela luz acesa


Na doçura e na beleza,
Terei sono, com certeza,
Debaixo da tua sombra,

Oh, Flora!
Amante à moda antiga

Aqui é o país do futebol


(trecho)
Roberto Carlos/Erasmo Carlos
Trem azul – 1982

Eu sou aquele amante à moda antiga


Milton Nascimento/Fernando Brant
Trem azul – 1982
Dio tipo que ainda manda flores
Apesar do velho tienis e da calça desbotada
Brasil está vazio na tarde de domingo, né? Ainda chamo de querida a namorada
olha o sambão aqui é o país do futebol A minha namorada…

No fundo desse país


Ao longo das avenidas
Nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol

Começar de novo (trecho)


Nestes noventa minutos
De emoção e alegria
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora Ivan Lins/Vítor Martins
A fome fica lá fora Trem azul – 1982
Dinheiro fica lá fora
A cama fica lá fora Começar de novo
Família fica lá fora E contar comigo
A vida fica lá fora Vai valer a pena

85
E tudo fica lá fora... Ter amanhecido
Ter me rebelado
Ter me consumido
Ter me machucado
Ter sobrevivido
(Texto de Fernando Faro)
“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.

Menino do Rio (trecho)


Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim...
Desenhos de luz, agrupamentos de pontos de partículas.
Um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
Caetano Veloso
E assim – dizem – recontam a vida. Trem azul – 1982

Menino do Rio
Agora retiram de mim a cobertura da carne.
Escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos. Calor que provoca arrepio
E aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo. Dragão tatuado no espaço
Calção, corpo aberto no estpaço
Coração
Um rascunho...
Um forma nebulosa, feita de luz e sombra. De eterno flerte
Como uma estrela... Adoro ver-te
Menino vadio
Agora eu sou uma estrela!” Tesão flutuante do Rio
Eu peço pra Deus proteger-te
Para Lennon No dia em que eu Velho arvoredo
& McCartney
vim-me embora
Caetano Veloso/Gilberto Gil
Hélio Delmiro/Paulo César Pinheiro
Luz das estrelas – 1984
Luz das estrelas – 1984
Lô Borges/Márcio Borges/Fernando Brant
Luz das estrelas – 1984 Eu te esqueci muito cedo
No dia em que eu vim-me embora Pelo tempo que passou
Por que vocês não sabem do lixo ocidental? Minha mãe chorava em ai Tal como um velho arvoredo
Não precisam mais temer Minha irmã chorava em ui Que o vento não derrubou
Não precisam da solidão E eu nem olhava pra trás
Todo dia é dia de viver Tronco mudado em rochedo
No dia que eu vim-me embora Pedra transformada em flor
Por que você não verá meu lado ocidental? Não teve nada de mais E eu fui ficando sozinho no pó do caminho
Não precisa medo não Me desenganando, sofrendo e chorando
Não precisa da timidez Mala de couro forrada
Todo dia é dia de viver Com pano forte, brim cáqui E mantendo em segredo
Minha vó já quase morta
86

Essa minha ilusão


Eu sou da América do Sul Minha mãe até a porta Que me escapou de entre os dedos
Eu sei, vocês não vão saber Minha irmã até a rua Pra não sei que outras mãos
Mas agora sou cowboy E até o porto meu pai
Sou do ouro, eu sou vocês E eu me tornei o arremedo
Sou do mundo, sou Minas Gerais O qual não disse palavra De tudo aquilo que eu não sou
Durante todo o caminho Mas eu jamais retrocedo
Por que vocês não sabem do lixo ocidental? E quando eu me vi sozinho O que passou passou
Não precisam mais temer Vi que não entendia nada
Não precisam da solidão Nem de pro que eu ia indo Já superei, mas só eu sei
Todo dia é dia de viver Nem dos sonhos que eu sonhava O mesmo jamais eu serei
Feito a madeira o machado inclinando
Eu sou da América do Sul Senti apenas que a mala Eu por fora estou cicatrizando
Eu sei, vocês não vão saber De couro que eu carregava
Mas agora sou cowboy Embora estando forrada E por dentro sangrando, afastado do medo
Sou do ouro, eu sou vocês Fedia, cheirava mal Mas sozinho, tal como o velho arvoredo
Sou do mundo, sou Minas Gerais Que não serve ao tempo nem ao lenhador
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo E o vento abandonou
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo

Sozinho pra Capital


Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
banca do Gol anulado Corsário
distinto
A
João Bosco/Aldir Blanc João Bosco/Aldir Blanc
Luz das estrelas – 1984 Luz das estrelas – 1984
Billy Blanco
Luz das estrelas – 1984
Quando você gritou: Mengo! Meu coração tropical está coberto de neve
Não fala com pobre, No segundo gol do Zico Mas ferve em seu cofre gelado, a voz vibra e a mão escreve: Mar
Não dá mão a preto, Tirei sem pensar o cinto Bendita a lâmina grave que fere a parede
Não carrega embrulho. E bati até cansar E traz as febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais
Para quê tanta posse doutor?
Para que esse orgulho? Três anos vivendo juntos Roseirais
A bruxa que é cega esbarra na gente, E eu sempre disse contente: Nova Granada de Espanha
A vida estanca. Minha preta é uma rainha Por você, eu, teu corsário preso
O enfarte te pega Doutor ! Porque não teme o batente Vou partir a geleira azul da solidão
Acaba essa banca ! Se garante na cozinha E buscar a mão do mar
E ainda é Vasco doente Me arrastar até o mar

87
A vaidade é assim, Procurar o mar
Põe o tonto no alto, retira a escada. Daquele gol até hoje o meu radio está desligado
Fica por perto, esperando sentada, Como se radiasse o silencio de um amor terminado Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão. Eu aprendi que a alegria de quem está apaixonado Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
É como a falsa euforia de um gol anulado Com as garrafas de náufragos e as rosas partindo o ar
Mais alto o coqueiro maior é o tombo do coco Nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar
Afinal todo o mundo é igual
Quando o tombo termina,
Com terra por cima e na horizontal.
Lembre-se
Sergio Natureza/Tunai

Longe

Sombras desenhadas no horizonte


Cavalos cobertos de ouro e bronze
Vassalos de um rei de não sei onde
Cavaleiros estrangeiros
A bandeira do invasor

Noite

E um tropel atravessa a fumaça


Porto dos casais
Tropas
Jaime Lewgoy Lubianca

É sempre bom lembrar coisas passadas


Tropeçando num céu de fogo e prata Rever os lampiões, os ancestrais
Singrando o Guaíba, apareceram
Os velhos fundadores coloniais
O mundo acabou de repente
Quando a manhã começava Chegaram tão alegres, alegres por demais
A dor começou com o chicote Fundaram este Porto dos Casais
Com as esporas com as espadas É porto, Porto Alegre, antigo Dos Casais
Saudades dos tempos que não vêm mais
Terror
88

Das legiões das ambições e praças

Chagas General
No seio de uma terra abençoada

O céu desabou de repente


da banda
José Alcides/Satiro de Melo/Tancredo Silva

Quando a gente levantava Chegou general da banda ê ê


O pó levantou sufocando Chegou general da banda ê a
Quem vivia respirava Chegou general da banda ê ê
Chegou general da banda ê a
Mourão, mourão
Passou Vara madura que não cai
Mourão, mourão, mourão
O tempo mas não apagou a marca Catuca por baixo que ele vai
Mourão, mourão
Marcou Vara madura que não cai
Mourão, mourão, mourão
Catuca por baixo que ele vai
Nos corações nas mentes e nas praças Chegou general da banda ê ê
Chegou general da banda ê a
Hoje Chegou general da banda ê ê
Chegou general da banda ê a
Na memória viva de uma raça
Um pavor latente e uma ameaça
E um canto maior que todo medo
Espalhando amor por onde passa
Ye s t e r d a y
Dindi
John Lennon/Paul McCartney

My Funny Yesterday
All my troubles seemed so far away

Va l e n t i n e Rodgers/Hart
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe
In yesterday
Tom Jobim/Aloysio de Oliveira/Ray Gilbert

Céu, tão grande é o céu My funny valentine Suddenly


E bandos de nuvens que passam ligeiras Sweet comic valentine I'm not half the man I used to be
Prá onde elas vão You make me smile with my heart There's a shadow hanging over me
Ah! eu não sei, não sei Your looks are laughable Oh, yesterday
E o vento que fala nas folhas Unphotographable Came suddenly
Contando as histórias Yet you’re my favourite work of art
Que são de ninguém
Why she
Mas que são minhas Is your figure less than greek Had to go I don't know
E de você também Is your mouth a little weak She wouldn't say
Ah! Dindi When you open it to speak I said
Se soubesses do bem que eu te quero
Something wrong now I long

89
Are you smart?
O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi
For yesterday
Lindo Dindi But don’t change a hair for me
Ah! Dindi Not if you care for me Yesterday
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi Stay little valentine stay Love was such an easy game to play
Fica, Dindi, olha Dindi Each day is valentine’s day Now I need a place to hide away
E as águas deste rio aonde vão eu não sei
Oh, I believe
A minha vida inteira esperei, esperei Is your figure less than greek In yesterday
Por você, Dindi Is your mouth a little weak
Que é a coisa mais linda que existe When you open it to speak Why she
Você não existe, Dindi Are you smart? Had to go I don't know
Olha, Dindi
She wouldn't say
Adivinha, Dindi But don’t you change one hair for me I said
Deixa, Dindi Not if you care for me Something wrong now I long
Que eu te adore, Dindi... Dindi Stay little valentine stay For yesterday
Each day is valentine’s day
Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe
In yesterday
Mulheres
de Atenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando andas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Chico Buarque

Mais duras penas


Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
90

Quando eles se entopem de vinho


Costumam buscar o carinho
De outras felenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Jesus Cristo
Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Jesus Cristo, Jesus Cristo, Jesus Cristo eu estou aqui... (bis)

Olho pro céu e vejo uma nuvem branca que vai passando
Olho pra terra e vejo uma multidão que vai caminhando
Como essa nuvem branca essa gente não sabe aonde vai
Quem poderá dizer o caminho certo é você meu pai

Toda essa multidão tem no peito amor e procura a paz


E apesar de tudo a esperança não se desfaz
Olhando a flor que nasce no chão daquele que tem amor
Olho pro céu e sinto crescer a fé no meu Salvador

Em cada esquina eu vejo o olhar perdido de um irmão


Em busca do mesmo bem nessa direção caminhando vem
É meu desejo ver aumentando sempre essa procissão
Para que todos cantem com a mesma voz essa oração

Sá Marina San Vicente

91
Antonio Adolfo/Tiberio Gaspar Milton Nascimento/Fernando Brant

Descendo a rua da ladeira Coração americano


Só quem viu que pode contar Acordei de um sonho estranho
Cheirando a flor de laranjeira Um gosto vidro e corte
Sá Marina vem pra cantar Um sabor de chocolate
De saia branca costumeira No corpo e na cidade
Gira o sol que parou pra olhar Um sabor de vida e morte
Com seu jeitinho tão faceira Coração americano
Fez o povo inteiro cantar Um sabor de vidro e corte

Roda pela vida afora A espera da fila imensa


E põe pra fora, essa alegria E o corpo negro se esqueceu
Dança que amanhece o dia pra se cantar Estava em San Vicente
Dança que essa gente aflita A cidade, suas luzes
Se agita e segue, no seu passo Estava em San Vicente
Mostra toda essa poesia no olhar As mulheres e os homens
Coração americano
Deixando os versos na partida Um sabor de vidro e corte
E só cantigas pra se cantar
Naquela tarde de domingo As horas não se contavam
Fez o povo inteiro cantar E o que era negro anoiteceu
Enquanto se esperava
E fez o povo inteiro cantar Eu estava em San Vicente
E fez o povo inteiro cantar Enquanto acontecia
E fez o povo inteiro cantar Eu estava em San Vicente
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
Índices
1, 2, 3, balançou
20 anos blue
A banca do distinto
A corujinha
A dama do apocalipse
8
46
87
81
63
Índice
geral
A fia de Chico Brito 43 Cartomante 61
À noite 8 Caso no campo 43
A noite do meu bem (La nuit de mon amour) 35 Caxangá 62
A time for love 37 Chegança 20
A Virgem de Macareña (La Virgen de la Macareña) 7 Chovendo na roseira 56
A volta 37 Cinema Olympia 44
Aviso aos navegantes 44
Adeus amor 8 Cobra criada 81
Baby Face 3
Agnus sei 50 Colagem 61
Bala com bala 46
Agora ninguém chora mais 16 Comadre 51
Basta de clamares inocência 70
Agora tá 76 Começar de novo 85
Beguine dodói 70
Águas de março 48 Como nossos pais 58
Bicho do mato 41
Aleluia 21 Comunicação 42
Black is beautiful 44
Alô alô marciano 75 Confissão 6
Boa noite, amor 49
Alô saudade 9 Consolação/Berimbau/Tem dó 21
Boa palavra 27
Alô, alô, taí Carmen Miranda 46 Construção 64
Bocochê 16
Alto da Bronze 57 Conversando no bar 52
Bodas de prata 68
Altos e baixos 71 Copacabana velha de guerra 42
Boi barroso 57
Amante à moda antiga 85 Corcovado 54
Bolero de satã 71
Amor até o fim 25 Corpos 66
Bom tempo 32
Amor demais 20 Corrida de jangada 33
Bonita 68
Amor em paz 16 Corsário 87

93
Boto 65
Amor, amor (Love, love) 3 Credo 67
Brigas nunca mais 55
Andança 36 Cruz de cinza, cruz de sal 30
Cabaré 50
Aos nossos filhos 78 Da cor do pecado 32
Caça à raposa 53
Aprendendo a jogar 73 Dá sorte 2
Cadeira vazia 56
Aquarela do Brasil 35 Dá-me um beijo (Kiss me, kiss me) 5
Cai dentro 69
Aquele abraço 39 De onde vens 32
Cais 47
Aqui é o país do futebol 85 Deixa 35
Calcanhar de Aquiles 75
Arrastão 13 Deixa o mundo e o sol entrar 69
Can't take my eyes off you 39
As aparências enganam 71 Dengosa 7
Canção da América 75
As coisas que eu gosto (My favorite things) 3 Deus lhe pague 64
Canção de enganar despedida 6
As curvas da estrada de Santos 40 Devagar com a louça 15
Canção de não cantar 29
Asa branca 82 Dindi 89
Canção do amanhecer 19
Até aí morreu Neves 41 Dinorah, Dinorah 67
Canção do sal 28
Atrás da porta 47 Discussão 15
Cantador 29
Canto de Ossanha 23
Canto triste 22
Cão sem dono 65
Carinhoso 28
Carta ao mar 33
Imagem 29
Influência do jazz 15
Inútil paisagem 55
Irene 38
Jardins da infância 60
Jesus Cristo 91
Joana francesa 68
Doente morena 49 João valentão 20 Meu pequeno mundo de ilusão
(My little corner of the world) 5
Dois prá lá, dois prá cá 53 Jogo de roda 22
Domingo em Copacabana 10 Ladeira da preguiça 51 Meus olhos 10

Dor de Covelo 3 Lança perfume 83 Minha 38

É com esse que eu vou 51 Lapinha 31 Moda de sangue 77

Ela 45 Las secretárias 6 Modinha 54

Ensaio geral 22 Lembre-se 88 Morro velho 62

Entrudo 68 Los hermanos 59 Mucuripe 46

Essa mulher 70 Louvação 24 Mulata assanhada 16

Esse mundo é meu 19 Lunik 9 26 Mulheres de Atenas 90

Estatuinha 27 Madalena 44 Mundo de paz 11

Estrada do sol 45 Mancada 83 Mundo deserto 45

Eternidade 21 Manhã de amor 9 Mundo novo vida nova 77

Eu só queria saber 17 Mania de gostar 9 Murmúrio 2

Eu, heim, Rosa! 71 Manifesto 30 My funny valentine 89


Na baixa do sapateiro 80
94

Fala-me de amor (Take me in your arms) 2 Marambaia 77


Falei e disse 44 Marcha de quarta-feira de cinzas 30 Na batucada da vida 52

Falsa Bahiana 17 Maria do Maranhão 20 Nada será como antes 42

Fascinação 59 Maria Maria 75 Não tenha medo 42

Fé cega, faca amolada 82 Maria Rosa 53 Nêga do cabelo duro 35

Fechado pra balanço 41 Mas que nada 16 No céu da vibração 72

Flertei 8 Me deixa em paz 49 No dia em que eu vim-me embora 86

Flora 84 Me deixas louca 83 Noite dos Mascarados 34

Folhas secas 51 Meio de campo 50 Noite dos Mascarados (La nuit des masques) 34

Formiguinha triste 7 Meio-termo 66 Nos teus lábios 5

Formosa 15 Memórias de Marta Saré 37 Nova estação 73

Fotografia 56 Menino 77 Noves fora 67

Frevo 41 Menino das laranjas 14 O barquinho 36

Garota de Ipanema (Girl from Ipanema) 82 Menino do Rio 85 O bêbado e a equilibrista 70

Garoto último tipo (Puppy Love) 3 Mesmo de mentira 3 O bem do amor 11

General da banda 88 O caçador de esmeralda 50

Giro 36 O cavaleiro e os moinhos 60

Glden slumbers 43 O compositor me disse 53

Gol anulado 87 O medo de amar é o medo de ser livre 73

Gracias a la vida 60 O mestre-sala dos mares 52

Há uma história triste 10 O pequeno exilado 78

Homens de preto 57 O primeiro jornal 76

How insensitive (Insensatez) 38 O que foi feito devera (de Vera) 80

Ih! Meu Deus do céu! 43 O que tinha de ser 55


O rancho da goiabada 64
Telefone 17
Tem mais samba 28
Tereza sabe sambar 28
Terra de ninguém 13
O sonho 36 These are the songs 42
O trem azul 73 Tiradentes 46
Olhos abertos 47 Tiro ao álvaro 80
Onze fitas 76 Transversal do tempo 63
Oriente 49 Travessia 52
Os argonautas 45 Tributo à Mangueira 33
Osanah 42 Tributo a Tom Jobim 32
Ou bola ou búlica 67 Retorno 10 Tristeza 35
Outra vez (Again) 7 Retrato em branco e preto 55 Tristeza 54
Outro cais 80 Reza 14 Tristeza de carnaval 7
Para Lennon & McCartney 86 Roda 26 Tristeza que se foi 25
Pé sem cabeça 72 Romaria 63 Tu serás 2
Perdão não tem 38 Rosa morena 22 Último canto 21
Pizzicati pizzicato 6 Sá Marina 91 Um novo rumo 35
Podes voltar 6 Sabiá 78 Um por todos 59
Poema 4 Sai dessa 73 Upa, neguinho 25
Pois é 54 Samba da benção (Samba saravah) 31 Valsa de Eurídice 83
Ponta de areia 52 Samba da pergunta 37 Valsa rancho 69
Por toda minha vida 55 Samba do avião 15 Vecchio novo 61
Por um amor maior 20 Samba do perdão 31 Veleiro 27
Pororó-Popó 5 Samba dobrado 83 Velha roupa colorida 58
Porto dos casais 88 Samba em paz 25 Velho arvoredo 86
Samba feito para mim 2

95
Pout Pourri (2 na bossa) 12 Vem balançar 15
Pout Pourri de introcução (2 na Bossa 2) 24 San Vicente 91 Vento de maio 74
Pout Pourri de Mangueira 29 Saudade e carinho 9 Vera Cruz 36
Pout Pourri Romântico 30 Saudade é recordar 5 Vexamão 38
Prá dizer adeus 25 Saudosa maloca 65 Vida de bailarina 47
Preciso aprender a ser só 13 Saveiros 21 Violeta de Belford Roxo 67
Presidente bossa nova 76 Se acaso você chegasse 17 Viramundo 33
Qualquer dia 61 Se eu quiser falar com Deus 81 Vou comprar um coração 5
Querelas do Brasil 65 Se você pensa 38 Vou deitar e rolar 41
Quero 59 Se você quiser 9 Watch what happens 38
Rebento 72 Sem Deus com a família 14 Wave 37
Récit de Cassard 36 Sem teu amor 9 Yê-melê 31
Redescobrir 79 Sentimental eu fico 63 Yesterday 89
Resolução 19 Silêncio 8 Zambi 18
Ressurreição 8 Sinal fechado 64 Zazueira 39
Só Deus é quem sabe 73
Só tinha de ser com você 54
Somewhere 17
Soneto de separação 56
Sonhando (Dream) 2
Sonho de Maria 27
Sou sem paz 20
Tango italiano 7
Tatuagem 60
Té o sol raiar 19
Principais compositores
Caetano Veloso
Adoniran Barbosa Boa palavra 27
Cinema Olympia 44
Saudosa maloca 65 Ary Barroso Irene 38
Tiro ao álvaro 80 Menino do Rio 85
Aquarela do Brasil 35 Não tenha medo 42
Na baixa do sapateiro 80 No dia em que eu vim-me embora 86
Na batucada da vida 52 Os argonautas 45
Samba em paz 25

Aldir Blanc

Agnus sei 50
Altos e baixos 71 Baden Powell
Bala com bala 46 Carlos Lyra
Beguine dodói 70 Aviso aos navegantes 44
96

Bodas de prata 68 Bocochê 16 Entrudo 68


Cabaré 50 Cai dentro 69 Influência do jazz 15
Caça à raposa 53 Canto de Ossanha 23 Marcha de quarta-feira de cinzas 30
Comadre 51 Consolação/Berimbau/Tem dó 21 Maria do Maranhão 20
Corsário 87 Deixa 35
Dois prá lá, dois prá cá 53 Falei e disse 44
Ela 45 Formosa 15
Gol anulado 87 Lapinha 31
Jardins da infância 60 Samba da benção (Samba saravah) 31
O bêbado e a equilibrista 70 Samba do perdão 31
O caçador de esmeralda 50 Se você quiser 9
O cavaleiro e os moinhos 60 Té o sol raiar 19
O mestre-sala dos mares 52 Vou deitar e rolar
Ou bola ou búlica 67 41
Querelas do Brasil 65 Chico Buarque
Transversal do tempo 63
Um por todos 59 Atrás da porta 47
Violeta de Belford Roxo 67 Bom tempo 32
Construção 64
Deus lhe pague 64
Joana francesa 68
Ana Terra Mulheres de Atenas 90
Noite dos Mascarados 34
Essa mulher 70 Belchior Noite dos Mascarados (La nuit des masques)34
Pé sem cabeça 72 Pois é 54
Sai dessa 73 Como nossos pais 58 Retrato em branco e preto 55
Mucuripe 46 Sabiá 78
Noves fora 67 Só tinha de ser com você 54
Velha roupa colorida 58 Tatuagem 60
Tem mais samba 28
Valsa rancho 69
Claudio Lucci

Colagem 61
Vecchio novo 61 Guilherme Arantes

Aprendendo a jogar 73
Só Deus é quem sabe 73
Francis Hime

Atrás da porta 47
Minha 38
Por um amor maior 20
Tereza sabe sambar 28
Último canto 21
Dory Caymmi & Nelson Motta Valsa rancho 69

Cantador 29
De onde vens 32
Fred Jorge Ivan Lins
Saveiros 21
Aos nossos filhos 78
Baby Face 3
Cartomante 61
Garoto último tipo (Puppy Love) 3
Começar de novo 85
Pizzicati pizzicato 6
Corpos 66
Dinorah, Dinorah 67
Ih! Meu Deus do céu! 43
Madalena 44
Me deixa em paz 49
Qualquer dia 61

Dorival Caymmi

97
João valentão 20
Rosa morena 22
Gilberto Gil

Amor até o fim 25


Aquele abraço 39
Doente morena 49
Ensaio geral 22
Fechado pra balanço 41
João Bosco
Flora 84
Agnus sei 50
Ladeira da preguiça 51
Bala com bala 46
Louvação 24
Beguine dodói 70
Lunik 9 26
Edu Lobo Mancada 83
Bodas de prata 68
Cabaré 50
Meio de campo 50
Aleluia 21 Caça à raposa 53
No dia em que eu vim-me embora 86
Arrastão 13 Cobra criada 81
No céu da vibração 72
Canção do amanhecer 19 Comadre 51
O compositor me disse 53
Canto triste 22 Corsário 87
Oriente 49
Chegança 20 Dois prá lá, dois prá cá 53
Rebento 72
Corrida de jangada 33 Gol anulado 87
Roda 26
Estatuinha 27 Jardins da infância 60
Se eu quiser falar com Deus 81
Jogo de roda 22 O bêbado e a equilibrista 70
Viramundo 33
Memórias de Marta Saré 37 O caçador de esmeralda 50
Prá dizer adeus 25 O cavaleiro e os moinhos 60
Resolução 19 O mestre-sala dos mares 52
Reza 14 O rancho da goiabada 64
Upa, neguinho 25 Ou bola ou búlica 67
Veleiro 27 Transversal do tempo 63
Zambi 18 Um por todos 59
Violeta de Belford Roxo 67
Milton Nascimento Rita Lee

Aqui é o país do futebol 85 Alô alô marciano 75


Cais 47 Lança perfume 83
Canção da América 75
Canção do sal 28
Caxangá 62
Jorge Ben Conversando no bar 52
Credo 67
Agora ninguém chora mais 16 Fé cega, faca amolada 82
Bicho do mato 41 Maria Maria 75
Mas que nada 16 Menino 77
Zazueira 39 Morro velho 62
Nada será como antes 42
O que foi feito devera (de Vera) 80 Roberto & Erasmo Carlos
Ponta de areia 52
San Vicente 91 Amante à moda antiga 85
Travessia 52 As curvas da estrada de Santos 40
Vera Cruz 36 Jesus Cristo 91
Mundo deserto 45
Se você pensa 38

Lupicínio Rodrigues
98

Cadeira vazia 56
Maria Rosa 53

Paulo César Pinheiro

Aviso aos navegantes 44 Roberto Menescal


Bolero de satã 71 & Ronaldo Bôscoli
Cai dentro 69
Cão sem dono 65 A volta 37
Eu, heim, Rosa! 71 Carta ao mar 33
Falei e disse 44 O barquinho 36
Marcos & Paulo Sérgio Valle Lapinha 31 Telefone 17
Samba do perdão 31
Black is beautiful 44 Velho arvoredo 86
Deixa o mundo e o sol entrar 69 Vou deitar e rolar 41
Preciso aprender a ser só 13
Sonho de Maria 27
Terra de ninguém 13

Ruy Guerra

Aleluia 21
Renato Teixeira Esse mundo é meu 19
Jogo de roda 22
Romaria 63 Minha 38
Sentimental eu fico 63 Por um amor maior 20
Reza 14
Último canto 21
Torquato Neto

Louvação 24
Prá dizer adeus 25
Veleiro 27

Sueli Costa

20 anos blue 46
Altos e baixos 71
Cão sem dono 65
O primeiro jornal 76

Tunai

Agora tá 76
As aparências enganam 71

Tom Jobim

99
Águas de março 48
Amor em paz 16
Bonita 68
Boto 65 Walter Santos & Tereza Souza
Brigas nunca mais 55 Vinícius de Moraes Cruz de cinza, cruz de sal 30
Chovendo na roseira 56
Corcovado 54 Vem balançar 15
A corujinha 81
Dindi 89 Amor em paz 16
Discussão 15 Arrastão 13
Estrada do sol 45 Bocochê 16
Fotografia 56 Brigas nunca mais 55
Frevo 41 Canção do amanhecer 19
Garota de Ipanema (Girl from Ipanema) 82 Canto de Ossanha 23
How insensitive (Insensatez) 38 Canto triste 22
Inútil paisagem 55 Consolação/Berimbau/Tem dó 21
Modinha 54 Deixa 35
O que tinha de ser 55 Formosa 15
Pois é 54 Zé Rodrix
Frevo 41
Por toda minha vida 55 Garota de Ipanema (Girl from Ipanema) 82
Retrato em branco e preto 55 Caso no campo 43
How insensitive (Insensatez) 38
Sabiá 78 Olhos abertos 47
Marcha de quarta-feira de cinzas 30
Samba do avião 15 Modinha 54
Só tinha de ser com você 54 O que tinha de ser 55
Soneto de separação 56 Por toda minha vida 55
Tributo a Tom Jobim 32 Samba da benção (Samba saravah) 31
Tristeza 54 Soneto de separação 56
Wave 37 Té o sol raiar 19
Tereza sabe sambar 28
Valsa de Eurídice 83
Zambi 18
“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim...
Desenhos de luz, agrupamentos de pontos de partículas.
Um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim – dizem – recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura da carne.
Escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos.
E aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.
Um rascunho...
Um forma nebulosa, feita de luz e sombra.
Como uma estrela...
Agora eu sou uma estrela!”

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