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Vestígios/rastros memoriais
[Em termos das novelas e de seus personagens e bandeiras de luta, fica a lembrança, o
carinho, a identificação com a luta, os estereótipos, as frases, as atitudes. P. ex. Félix de Amor à
Vida que mesmo após o fim da novela ficou marcado na vida do ator, ficou na lembrança do
telespectador da novela que ficou parte “órfão” pela história subsequente.]
[Parábola de Odete Roitmann – a atriz Beatriz Segall mesmo após 30 anos da novela ainda era
lembrada pelo personagem e chamada nas ruas assim]
O esquecimento pode significar não só o apagamento dos rastros, mas também sua
permanência uma vez que as marcas deixadas pelos afetos tendem a ser duradouras e
podem aflorar ao consciente através de associações de ideias e da memória involuntária que
se organiza no nível do subconsciente.
A torcida do público pelo personagem de Mateus Solano e Thiago Fragoso, a expectativa pelo
beijo gay diante de mais de 3 milhões de espectadores ligados no último capítulo. A lembrança
posterior, o marco que isso representou. A sensibilidade do público diante do drama de Ivana
e a identificação com o público LGBTQI.
Velhas fotografias estabelecem conexão entre passado e presente e nos permitem rememorar
o contexto de cada época.
[a construção de papeis LGBTQI nas novelas é uma forma de levantar a bandeira de luta e de
alguns autores deixar um legado sobre uma discussão que não encerra com o fim da novela,
mas que ela deu uma sustentação artística e social a mais.]
Glissant (1995, p. 15) a partir dos vestígios da cultura original (africana) que lhe
restaram puderam (re)compor, de um lado, línguas crioulas com base em
vestígios das línguas africanas e, de outro, formas de arte como o jazz,
reconstituído nas Américas a partir de traces de ritmos africanos, sendo hoje
considerado música de todos e não apenas da comunidade afro-americana
Entre memória e esquecimento, o que sobram são os vestígios, os fragmentos do vivido o qual
jamais pode ser recuperado na sua integralidade. De onde a preocupação dos regimes
totalitários em “apagar os rastros” para que seus atos arbitrários não possam ser lembrados.
Mas sempre sobra algum rastro que a sensibilidade dos escritores consegue retraçar e
incorporar à matéria poética. Desse modo, se nossa memória é um receptáculo de
resíduos, a literatura também o é, constituindo-se de intrincadas redes intertextuais que
contêm vestígios, fragmentos de leituras feitas ao longo da vida e que emergem em textos da
contemporaneidade.
BENJAMIN, Walter. A imagem de Proust. In: Magia e técnica, arte e política. Obras
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BERND, Zilá. Vestígios memoriais. In: BERND, Z.; KAYSER, P.V. M (orgs.)
E-Dicionário de expressões da Memória social, dos Bens culturais e da Cibercultura.
Canoas: Unilasalle, 2011. http://edicionario.unilasalle.edu.br/
BERND, Z. Por uma poética dos vestígios memoriais; releitura das literaturas das Américas a
partir dos rastros. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Apagar os rastros, recolher os restos. In: SELDMAYER, Sabrina;
GINZBURG, Jaime (orgs.). Walter Benjamin: rastro, aura e história. Belo Horizonte: editora da
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GINZBURG, Carlo. Raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas,
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reimpressão. Trad. Frederico Carotti.
_________ . La mémoire saisie par l´histoire. Revista de Letras, Universidade Estadual Paulista,
v. 43, n. 2, jul.-dez. 2003. p. 15-28.