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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC

PRICILA PEREIRA DOS SANTOS

O PAPEL DE ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL(CRAS) DE UBATÃ-BAHIA E A POPULAÇÃO ATENDIDA
ENTRE 2016 E 2017

ILHÉUS-BAHIA
2019
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PRICILA PEREIRA DOS SANTOS

O PAPEL DE ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) DE UBATÃ-BAHIA E A POPULAÇÃO ATENDIDA
ENTRE 2016 E 2017

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Ciências
Econômicas, como parte das exigências,
para a obtenção do título de bacharela em
Ciências Econômicas.

Área de Concentração: Políticas Públicas

Orientador: Prof. MSc. Carlos Eduardo


Ribeiro Santos

ILHÉUS-BAHIA
2019
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2019
O PAPEL DE ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) DE UBATÃ-BAHIA E A POPULAÇÃO ATENDIDA
ENTRE 2016 E 2017
RESUMO
O presente estudo é uma pesquisa na área de Políticas Públicas, referente à
atuação e intervenção do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de
Ubatã-Bahia e a população atendida nos anos de 2016 e 2017. As políticas sociais
se consagraram, no Brasil, depois do processo de redemocratização (1988), e nesse
acompanhamento assim, faz-se necessário entender a política de assistência social
no Brasil, compreender a relação entre o direito à assistência social no país,
compreender à relação entre o direito a assistência social e a condição de bem estar
social, como também discutir os desafios e o processo de intervenção desenvolvido
pelo CRAS de Ubatã-Bahia. Partiu-se da indagação: qual o perfil de atuação e
intervenção do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Ubatã-Bahia
em 2016 e 2017? Esse estudo disponibiliza ao CRAS de Ubatã-Bahia, a análise das
ações e intervenções desenvolvidas, como também uma reflexão sobre intervenções
futuras. A metodologia desenvolvida foi a da pesquisa bibliográfica, partindo de
discussões significativas de diversos autores sobre o problema social e o bem estar
dos indivíduos, do direito do indivíduo e da construção da Assistência Social no
Brasil, do Centro de Referência de Assistência Social e tem ainda, o método
documental, quanto o papel de atuação do CRAS – Ubatã e cadastros do Centro,
quanto a população atendida. Assim, após o estudo teórico-analítico, concluiu-se
que as Políticas Públicas Sociais são imprescindíveis no município de Ubatã-Bahia
dada a sua demanda social. O CRAS desenvolveu atividades significativas no ano
de 2016 e 2017 levando a população ao conhecimento e acesso a serviços sociais
que reduzem a condição de vulnerabilidade e resgata a dignidade, oportunizando
aos indivíduos a condição de agentes ativos no meio inserido, agentes que fazem
parte de uma comunidade e precisam ser reconhecidos como cidadãos atuantes.

Palavras chave: Políticas Públicas. Vulnerabilidade. CRAS. Ubatã-Bahia.


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DEDICATÓRIA

À minha querida mãe e irmãos, que


sempre me incentivou e contribuiu para a
realização desse estudo.
5

AGRADECIMENTOS

À Deus razão da minha existência.


À Universidade Estadual de Santa Cruz por conceder a infraestrutura para o
desenvolvimento da pesquisa.
Ao Departamento de Ciências Econômicas pela oportunidade de cursar
Ciências Econômicas .
Ao professor Orientador MSc. Carlos Eduardo Ribeiro Santos pela orientação,
pela amizade e apoio.
Á minha família pela incentivo e compreensão da minha ausência, durante o
período de estudo.
Aos meus colegas de trabalho pela paciência e compreensão durante essa
jornada.
Enfim, a todos os professores que dedicaram um pouco do seu
conhecimento, aos colegas pelo carinho, aos funcionários da Instituição e todos
aqueles que se fizerem presente direta e indiretamente para a realização desse
estudo em uma Instituição pública reconhecida e valorizada pelo compromisso e
responsabilidade social de produzir conhecimento tanto para a vida pessoal quanto
para o mundo.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características socioeconômica de Ubatã-Bahia.................................27
Quadro 2 – Dados da vulnerabilidade social em Ubatã-Bahia, 2010......................29
Quadro 3 - Ações do CRAS de Ubatã-bahia.............................................................31
Quadro 4 – Eventos e Campanhas do Cras em 2016 e 2017................................32
Quadro 5 – Doações realizadas pelo CRAS, em 2016 e 2017...............................32
Quadro 6 – Receita orçamentária e previsão de atendimento do CRAS – Ubatã-
Bahia/ Piso básico fixo – CRAS/PAIF – Referência: janeiro de
2019.....................................................................................................33
Quadro 7 – Serviços de convivência e fortalecimento de vínculos........................34
Quadro 8 – Atendimentos individualizados no CRAS 2016 e 2017..........................35
Quadro 9 – Atendimentos individualizados no CRAS 2016 e 2017...........................36
Quadro 10– Renda das pessoas atendidas em 2016 e 2017....................................37
Quadro 11 – Escolarização das pessoas atendidas no CRAS em 2016 e
2017..........................................................................................................38
Quadro 12 – Sexo das pessoas atendidas no CRAS em 2016 e 2017.....................38
Quadro 13 – Profissões das pessoas atendidas em 2016 e 2017.............................39
Quadro 14 – Bairros atendidos em 2016 e 2017.......................................................39
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CadCRAS Caderno do CRAS


CadÚnico Cadastro Único para Programas Sociais
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social
FMAS Fundo Municipal de Assistência Social
FNAS Fundo Nacional de Assistência Social
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social
MDS Ministério de Desenvolvimento Social de Combate a Fome
NOB Norma Operacional Básica
PAIF Programa de Atenção Integral à Família
SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
SUAS Sistema Único de Assistência Social
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................9
2 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL.................................13
2.1 O problema social e a condição do bem estar dos indivíduos................13
2.2 O Direito do indivíduo e a construção da assistência social no
Brasil.............................................................................................................17
2.3 Política de Assistência Social no Brasil recente......................................19
3 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)
(CRAS)..........................................................................................................24
4 O CRAS EM UBATÃ-BA: PERFIL DE ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO........27
4.1 Ubatã-Bahia e o quadro de vulnerabilidade social..................................27
4.2 As ações e intervenções desenvolvidas pelo CRAS de Ubatã-Ba.........30
4.3 O CRAS de Ubatã-Bahia e sua respectiva demanda................................31
4.4 O usuário do CRAS em Ubatã-Bahia.........................................................35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................39
REFERÊNCIAS.............................................................................................42
ANEXOS
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1 INTRODUÇÃO
A história do Brasil é marcada por práticas assistencialistas de cunho privado
desde o processo de colonização, quando os jesuítas buscavam orientar os
habitantes do Brasil, até o incentivo da prática de caridade, não era por amor ao
próximo, mas como forma de reconhecimento social de expressão da bondade e do
desapego associado a quem pratica. O papel da ação social nesse sentido não seria
algo que rompe barreiras e possibilitaria aos indivíduos assistidos grandes
oportunidades no meio social.
Assim as discussões sobre a lógica e necessidade de uma política de
assistência social surge no Brasil na época conhecida como era Vargas 1, quando
havia um movimento da sociedade em aspectos associados à filantropia e a
benemerência, em uma época quando havia também, conflitos sociais e
econômicos oriundos da decadência da produção cafeeira da emigração rural e
ampliação da população urbana por conta da chegada da industrialização.
Nesse contexto, a questão social estava voltada para a inserção do indivíduo
ao mercado de trabalho e a questão da pobreza ainda não era o foco central das
políticas, já que as ações praticadas eram de papel da Igreja Católica, da burguesia
social e o do governo era o de facilitar, ao indivíduo, o emprego (CUNHA, 2009). A
ideia dessa ação conjunta era a caridade.
Também por esses motivos a ação social surge timidamente e ainda
desorganizada no sentido de direcionar suas ações, porque não havia a intenção de
retirar o indivíduo do estado de miséria, mas promover o encontro de um emprego, e
assim passar a proporcionar uma mudança significativa na vida do ser humano.
Porém havia indivíduos que devido às suas limitações físicas e biológicas não
poderiam exercer atividade laboral.
Segundo Godinho (2012), o fortalecimento das políticas públicas de cunho
social surgiu após a redemocratização do país, quando a principal demanda passou

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Período de 1930-1945, cujo poder e administração do Brasil era exercido pelo presidente Getúlio
Vargas, de postura populista, porém com perfil parecido com uma ditadura.
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a ser o combate à pobreza e à desigualdade social. Reforçados pela Constituição


Federal de 1988, tais políticas públicas provocam a reversão da realidade em que a
sociedade vivenciava até então, oriundas das mazelas sociais historicamente
criadas no país.
Nesse contexto a relação entre a assistência social e a filantropia impactou os
atores passivos desse campo, porque tais pessoas (consideradas como excluídas)
não se reconheciam, dentro do sistema, sendo impossibilitados de agir como seres
participativos e provido de direitos. Espaço que exigiu a responsabilidade do Estado
em promover a cidadania e ‘devolver a dignidade’ àqueles que se
sentissem/estivessem fragilizados socialmente. A partir de tal concepção surge o
CRAS, fruto dessa perspectiva e integrante da política de assistência social do país.
O atendimento das necessidades básicas do indivíduo se torna essencial para
a sua qualidade de vida e para a sua inserção na sociedade. Uma pessoa que
possui alimentação, moradia, vestimentas, por exemplo, possui o mínimo para
sobreviver e o mínimo para cuidar daquilo que seria o mínimo para um sentimento
de bem estar.
O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma segmentação da
política de assistência social brasileira, fragmentada em nível municipal que atua no
reconhecimento da desigualdade social e por meio de políticas e projetos que
possam prevenir e dirimir algumas situações, disponibilizando assistência como
alimentos, agasalhos, atividades físicas de acordo com a idade da população,
atividades esportivas para jovens em situação de risco e promoção de palestras e
orientações conscientizando a população do seu papel de cidadão. Contexto no qual
as instituições sociais principalmente públicas devem promover a democracia e o
reconhecimento de ser humano como ser atuante, que possui deveres e direitos no
espaço onde reside, fazendo prevalecer os direitos humanos.
O CRAS foi implantado no município de Ubatã-Bahia, no II semestre de 2010.
Para sua implantação, o município baseou-se na Resolução Federal nº 109/2009,
emitida pelo Conselho Nacional de Assistência Social na qual legaliza a tipificação
dos serviços socioassistenciais, em âmbito nacional, isso baseado por níveis de
complexidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), são eles: proteção
social básica, proteção social especial e de alta complexidade.
O CRAS atende prioritariamente pessoas e/ou famílias em vulnerabilidade e
risco social, que estejam, também, inseridas no Cadastro Único (é um programa de
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cadastramento do governo federal, de famílias com renda mensal de meio salário


mínimo por pessoa). Entretanto, esse equipamento social (CRAS) está aberto a
quaisquer atendimento que a comunidade lhe demandar (CRAS, 2018).
Assim a assistência social representa a atuação do Estado em buscar
enfrentar a desigualdade social, problema que foge do controle no Brasil e que
golpeia o ser humano no mais profundo do seu íntimo, quando o leva à perda da
dignidade e, em algumas situações mais drásticas, do caráter. Por esse motivo e
tendo como principal justificativa o entendimento da importância do instrumento
CRAS no atendimento de pessoas em condição econômica vulnerável e com risco
social em Ubatã-Bahia, essa pesquisa busca responder: qual o perfil de atuação do
CRAS de Ubatã-Ba no ano de 2016 e 2017 e qual foi a sua intervenção junto a essa
população?
Tal estudo se justifica por ser necessário conhecer a atuação e intervenção
do CRAS, identificando seus desafios, suas ações e seus desdobramentos para
desenvolver suas atividades. O resultado da pesquisa pode inclusive ser uma
oportunidade que o próprio CRAS de Ubatã-Ba terá para fins de organização,
equiparação e solicitação de atendimentos. Como o CRAS possui menos de dez
anos de atuação, escolheu-se os dois anos 2016 e 2017 como base para executar a
pesquisa.
Para que se alcançasse o resultado, a pesquisa buscou, enquanto objetivo
geral de pesquisa analisar o perfil de atuação e intervenção do CRAS no município
de Ubatã-Bahia nos anos entre 2016 e 2017. Enquanto objetivos específicos
buscou-se: i) entender a política de assistência social no Brasil; ii) entender a
relação entre o direito à assistência social e a condição de bem estar social; iii)
contextualizar o CRAS enquanto instrumento de política de assistência social e iv)
discutir os desafios e o processo de intervenção enfrentado pelo Centro de
Referência de Assistência Social de Ubatã-Bahia;
A pesquisa foi desenvolvida com o uso do método dedutivo e através de uma
abordagem qualitativa e descritiva. O procedimento metodológico foi o da pesquisa
bibliográfica e da pesquisa documental conforme propõe Munhoz (1989) e Lakatos
e Marconi (1991). A pesquisa bibliográfica foi utilizada para se entender a concepção
sobre o tema, permitindo entender e, consequentemente, levar a reflexão proposta
(LAKATOS; MARCONI, 2013), sobre o Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS).
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A pesquisa documental se deu por meio da análise de fichas de cadastro,


como também informações encontradas no site do Ministério de Desenvolvimento
Social de Combate a Fome dos atendimentos realizados no CRAS em questão,
após autorização institucional para tanto. Compondo, então o arcabouço de dados
primários da pesquisa. Enquanto análise dos dados, o processo se deu através da
seleção, codificação e da tabulação dos mesmos, como proposto por Lakatos e
Marconi (2013). A etapa de seleção foi feita por uma verificação crítica das
informações que serviriam para a pesquisa. A codificação foi dada por categorização
das informações e a tabulação dos dados pautados na análise da estatística
descritiva.
A pesquisa foi realizada no município de Ubatã, que fica na região sul da
Bahia e que possui três instituições que atendem às pessoas de baixa renda e de
vulnerabilidade social: a Secretaria de Assistência Social, o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializada de Assistência
Social (CREAS).
A estrutura de construção da discussão da pesquisa pautou-se na seguinte
distribuição: inicialmente falou-se sobre a política assistencial no Brasil, associada à
discussão sobre o direito individual à assistência social e, em seguida, a discussão
sobre o problema social e a condição de bem estar dos indivíduos. Em seguida
passou-se a discutir a lógica da existência do CRAS em sua característica de
política de intervenção para, por fim, associar essa lógica a realidade do CRAS de
Ubatã-Bahia.
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2 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

2.1 O problema social e a condição do bem estar dos indivíduos


De acordo com a economia do bem estar, o sistema econômico criou o
homem capitalista, um ser repleto de desejos, cuja realização se baseia no
consumismo, já que quanto mais o homem possuir mais ele irá querer ter (HUNT,
1981). Isso refletiu no surgimento de um individualismo material, condicionando, aos
que não possuem renda para obter os seus bens de seu interesse a condição de
incompletude e de fracasso social.
O bem estar de todo o indivíduo é afetado de inúmeras maneiras pelos
padrões sociais e pelas instituições que determinam quem, o que e de que
forma consome. Os seres humanos são predominantemente criaturas sociais
e não átomos isolados e sem relação uns com os outros (HUNT, 1981,
p.420).

Faleiros(1995) também comenta sobre o bem estar social e diz que:


[...] o bem-estar da sociedade depende do bem-estar dos indivíduos que a
compõem, e cada indivíduo é o melhor juiz de seu bem-estar. Se um
indivíduo tiver um bem-estar superior aos demais, sem que o bem-estar
desses diminua o bem-estar da sociedade cresceu. Assim é preciso
considerar todas as relações na economia e sua modificação. Se essa
modificação for vantajosa para alguns, sem ser desvantajosa para outros,
temos um aumento do bem-estar. Mas se a modificação diminuir o bem-
estar de alguns poucos, mesmo aumentando o bem-estar da maioria, já não
há bem-estar (FALEIROS, 1991, p.12).

O bem estar só é pleno quando não se prejudica nenhuma das partes sociais.
Quando todos os membros de uma sociedade são satisfeitos igualitariamente. Essa
teoria abordada pelo autor está levando em consideração o welfare economics e a
visão do Ótimo de Pareto, cujo o bem-estar só pode ser válido se nenhum dos lados
for prejudicado. Mas caso haja desigualdade entre os que estão na sociedade, esse
desequilíbrio indica que não há bem-estar.
O Estado deve atuar preventivamente, mas em alguns casos é necessário
que seja proativo e corretivo, entretanto espera-se que essas duas atuações resgate
ao indivíduo a sua cidadania via seus direitos de conquista e manutenção do bem
estar, para que ele não se inferiorize (ou seja inferiorizado pela própria sociedade e
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pelo Estado), podendo, por si, buscar alcançar suas obrigações enquanto cidadão
e, sujeito ativo (social e economicamente).
Telles (1990), ainda nos anos 1990, criticava a sociedade brasileira e a
política de assistência social associada à lógica contributiva do trabalho, nesse
contexto, pois, para ele as ações sociais tem destituído, do indivíduo, o direito de
cidadão:
Vale dizer que é nisso que se explicita o aspecto mais desconcertante da
sociedade brasileira, uma sociedade que carrega uma peculiar experiência
histórica na qual a lei, ao invés de garantir e universalizar direitos, destitui
indivíduos de suas prerrogativas de cidadania e, produz a fratura entre a
figura do trabalhador e a do pobre incivil. Chama sobretudo a atenção uma lei
que, ao proclamar e garantir direitos sociais, sacramenta as desigualdades,
repõe hierarquias pelo viés corporativo e introduz segmentações que
transformam em pré-cidadãos todos os que não tem a posse da carteira de
trabalho (TELLES, 1999, p.92).

De acordo com Dahrendorf (1992) a desigualdade social é o resultado de


estruturas de poder que condicionam o indivíduo quanto a chance de viver ou
sobreviver a depender de quem possui o poder. Ou seja para os que possuem
estruturas adequadas como família, trabalho e não passam por necessidades como
fome e mazelas sociais podem ser considerados detentores do poder (ao menos do
poder sobre suas vidas e cidadania), já aqueles que vivem à margem da sociedade
não possuem o necessário e muito menos o poder sobre os seus destinos.
Segundo Costa e Bronzo (2012) a pobreza, enquanto cerceamento de direitos
e bem estar, inclui várias formalizações e algumas delas se baseia na não satisfação
das necessidades básicas: a exclusão social, limitações no campo socioeconômico,
como também vulnerabilidade e risco - modalidades de privações sofridas pelo
indivíduo.
É fácil diagnosticar quem vive em extrema pobreza (e esse quadro vem se
ampliando em 2019), basta olhar nas ruas, nos médios e grandes centros urbanos, é
notória a vulnerabilidade que indivíduos sofrem ao não possuir condições mínimas
de sobrevivência. Até aqueles que não estão nas ruas, mas passam por situações
de extrema pobreza, necessitando do básico para viver, é fácil de identificar pelo
físico, pela vestimenta, pela falta de escolarização e por outras referências sociais e
econômicas impostas por um padrão social. Essas pessoas estão na sociedade mas
vivem à margem dela. Ou seja, não são cidadãos de direito.
Já Kaztman (1999; 2001) considera a vulnerabilidade social, como a carência
de recursos de origem, tanto de capital físico (terra, moradia, máquinas, animais,
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bens duráveis para a reprodução social) e capital financeiro (poupança, crédito,


formas de seguro e proteção). E ainda para Telles (1990) o problema da
vulnerabilidade não se limita ao básico, mas também ao necessário já citado pelo
autor, possuir algum bem não significa que o indivíduo não está em falta de algo, as
vezes o cidadão possui a moradia, entretanto, falta o cobertor, o alimento, a roupa e
etc.
É, portanto, no horizonte de uma sociedade que se fez moderna e promete
a modernidade, que a pobreza inquieta. Nas suas múltiplas evidências,
evoca o enigma de uma sociedade que não consegue traduzir direitos
proclamados em parâmetros mais igualitários de ação. Sinal de uma
população na prática destituída de seus direitos, a pobreza brasileira não
deixa, de fato, de ser enigmática numa sociedade que passou por
mudanças de regime, fez a experiência de conflitos diversos, de
mobilizações e reivindicações populares, que mal ou bem fez sua entrada
na modernidade que proclama, por isso mesmo, a universalidade da lei e
dos direitos nela sacramentados (TELLES, 1999, p.82).

Moraes (1989) chama a atenção para a importância da família na garantia da


estrutura social. Pois a família é o alicerce do indivíduo desde o seu nascimento,
entretanto quantas crianças são abandonadas no dia do nascimento, ou até mesmo
tem seu desenvolvimento negligenciado, pois os pais não se importam ou não
podem oferecer uma qualidade tanto educativa como protetiva e assim aquela
criança se torna mais um indivíduo com falta de recurso (socioeconômico e afetivo).
De acordo com Goldani (2002), o mercado da globalização tem investido cada
vez mais no processo de vulnerabilidade, e apesar da atuação do governo, se as
famílias tivessem condições de se estruturar e conseguissem resolver seus
principais problemas sociais, o número de indivíduos em situação de risco diminuiria.
Por exemplo, uma família estruturada pode oferecer educação, além dos outros
benefícios, pode acompanhar a escolarização desse indivíduo e estimular sua
formação de caráter, como também profissional.
[...] o aumento do exército de desempregados pode gerar violência, pois a
fome e a miséria se generalizam. O trabalhador passa rapidamente à
categoria de pobre, tornando-se desmonetarizado, sem dinheiro para
ascender o mercado de bens e serviços. Neste contexto, os pobres, vendo a
família passar fome, são submetidos a fortes tensões psicológicas, as
doenças físicas e mentais causadas pela desnutrição se intensificam
(FALEIROS, 1991, p.75).

O problema social que o Brasil enfrenta, por conta da pobreza é uma mazela
complexa de se resolver. Muitas pessoas buscam por emprego, porém não há
emprego para todos, esse grande número de desempregados vai contribuir para o
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aumento de indivíduos que praticam atos contra a própria sociedade, assim tanto a
economia é atingida como também o próprio bem estar social individual e coletivo.
Demo (1996) comenta sobre dois horizontes referentes à pobreza que são: a
pobreza socioeconômica e pobreza política. A pobreza socioeconômica implica no
bem estar social, como o desemprego, a fome, a mortalidade infantil, o
analfabetismo dentre outras situações de exclusão individual. Já a pobreza política
compreende o estado de inércia diante dos fatos que impõe a condição de massa de
manobra de sujeito inconsciente do seu estado.
Por esse viés, a pobreza tem uma versão consciente e inconsciente, já que
na pobreza socioeconômica o indivíduo reconhece a sua condição de
vulnerabilidade e na pobreza política o indivíduo não reconhece a condição que lhe
é imposta, por conta da sua condição socioeconômica, que faz com que ele não
percebe que é usado e vitimizado por um sistema econômico preponderante.
Sen (1993), nesse sentido, fala sobre as efetivações que estão condicionadas
às liberdade individuais, principalmente de escolhas que o indivíduo possui (ou não)
em escolher o tipo de vida que pode ter. Pois para alguns, isso é uma escolha já
para outros, é a única situação possível de permanecer em um sistema social
existente.
Na verdade, nem a perspectiva instrumental nem a intrínseca são
plenamente adequadas. Certamente a liberdade é um meio para a
realização pessoal, seja ou não também instrinsecamente importante, de tal
maneira que a perspectiva instrumental tem de estar presente, inter alia, em
qualquer uso do enfoque da capacidade. Da mesma forma, mesmo que, de
modo geral, se considere a perspectiva instrumental bastante adequada,
haverá casos em que ela é extremamente limitada. Por exemplo, a pessoa
que jejua, isto é, passa fome por sua própria vontade, não pode ser
considerada carente como uma pessoa cuja única opção é passar fome
devido à pobreza extrema. Ainda que as efetivações observadas sejam as
mesmas, pelo menos em representações grosseiras delas, as dificuldades
em que se encontram não são as mesmas (SEN, 1993, p.5).

Para Fitoussi e Rosanvallon (1996), a origem da situação muitas vezes está


na condição familiar, pois a família é responsabilizada pela problemática social, por
não conseguir oferecer (e o pior de acordo com alguns pontos de vista) fornecer a
proteção necessária que o indivíduo necessita para solucionar seus conflitos. Uma
delas é a questão econômica, já que se vive em uma sociedade com um índice alto
de trabalhadores sem trabalho. Visão que coaduna com a de Sem (1993) quando da
análise do ciclo intergeracional da pobreza, onde, sem a ruptura da situação,
indivíduos pobres terão filhos pobres que terão outros filhos pobres. E evidencia a
necessidade de políticas de assistência social que mudem (rompa) esse quadro.
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E se não há trabalho e nem condições condizentes com a aquisição do


mesmo (como qualificação e especialização da mão de obra) os indivíduos buscam
maneiras de sobreviver às vezes se tornando pedinte, realizando serviços informais
e precários, buscando apoio nos centros sociais ou indo pelo caminho mais difícil
que é o da criminalidade. O PNA2 chama a atenção para essas complexidades:
famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade,
pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas
em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de
deficiências; exclusão pela pobreza e ou no acesso às demais políticas
públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência
advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não
inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas
diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e
social (BRASIL, 2004, p.33).

Essas complexidades fortalecem ainda mais a desigualdade e diminui as


chances do ser humano mudar sua realidade, como sair da linha da pobreza,
conseguir um emprego, oferecer qualidade de vida para os seus entes, alcançar
seus desejos e realizações. Tais complexidades se fortalecem no meio social dada a
condição da marginalização. E romper essa barreira é algo difícil e as vezes parece
utópico.
Nesse contexto, é fundamental chamar atenção para a visão geralmente
muito restrita de bem-estar social, reduzido à quantidade de vida, por mais
que se aduza frequentemente a noção de qualidade de vida. De certa
maneira, isso reflete postura tecnocrata economicista, que continua
acreditando que o desenvolvimento social aparece em decorrência do
crescimento econômico (DEMO,1996, p.60).

O que chama a atenção é que certas políticas tem o caráter extremo de


proteção e não dá oportunidade para o sujeito romper as barreiras da desigualdade
e alcançar a sua autonomia. O que as políticas sociais objetivam é justamente tornar
o indivíduo atuante na sua sociedade e não apenas um dependente, para viver.
Depende porque, ao receber a assistência alguns permanecem dependendo desse
apoio e não muda a sua situação. Com base nessa ótica as políticas de Assistência
Social é que os Centros de Referência de Assistência Social podem atuar.

2.2 O Direito do indivíduo e a construção da assistência social no Brasil

De acordo com Araújo (2009) a proteção social é um dever do Estado e


compete a cada nação escolher, qual o modelo é mais adequado a sua população,
ou que seja mais viável a depender das carências existentes. Ou seja as nações

2
Política Nacional de Assistência
18

não seguem um padrão de políticas públicas, porém desenvolvem atividades que


respeite a integridade, os costumes e particularidades de cada indivíduo.
O Estado se apresenta como protetor dos fracos, como meio de satisfazer
as necessidades sociais, pelas medidas legais que compensem as
fraquezas dos indivíduos, pela introdução dos direitos sociais. Esta
compensação se justifica em nome de uma justiça distributiva, da equidade
ou da igualdade de oportunidades. Em suas leis, o Estado liberal, “o protetor
dos cidadãos”, estabelece sua norma de intervenção (FALEIROS, 1991,
p.43).

Porém com tanta demanda social e pelo enfrentamento de crises políticas e


econômicas o Estado acaba deixando de lado algumas das necessidades
apresentadas pela comunidade. Entretanto isso não quer dizer que o sistema social
é ineficaz, ele busca adequar seu serviço às principais demandas.
Ao buscar na conjuntura histórica da implantação de ações de assistência
social a Igreja Católica desempenhou papel de caridade e supressão de situações
consideradas atípicas às sociedades, como o auxílio a indivíduos órfãos,
delinquentes e inválidos. Bem como o provimento de alimentação. Até então, o
Estado não era responsável por essa questão (MESTRINER, 2005).
Segundo Carvalho (2002) a época da escravidão e do coronelismo político
também deixou marcas profundas na sociedade, dividindo as classes entre
dominantes (aqueles que detêm o poder de decisão sobre a vida alheia) e aqueles
que são obrigados a serem obedientes a esse poder, não dispondo, muitas vezes,
da liberdade de prover a contento, o seu direito de possuir controle sobre suas
necessidades básicas no mínimo.
Segundo Boschetti (2006), antes da Constituição Federal de 1988 o que
girava em torno da proteção social não era um apoio sistêmico, organizado e de
qualidade para o cidadão, mas ações diversas aliadas a saúde pública e a
previdência, que não eram vistas como direito fundamental, mas como
consequência de suas capacidades produtivas e de conquistas econômicas - então
para se ter esse direito suprido havia uma prévia contribuição ao sistema
mantenedor, o que excluía desse “privilegio” os não contribuintes, que não tinham
direito sobre os serviços ofertados.
Nessa situação até então o direito não era garantido para todos (direito de
proteção social). Aqueles que se encontravam marginalizados, desempregados e
em situação de risco, além de estar à margem da sociedade, também estavam à
margem do sistema de proteção social. Por esse motivo, Bobbio (1992) argumenta
19

que os direitos que pertencem ao homem, foram conquistados ao longo do tempo,


por meio de lutas e de forma gradual, não foi algo espontâneo e tão fácil.
O que não é diferente da atualidade, já que as lutas desenvolvidas por
associações, sindicatos, ONGs e outras organizações tem se mobilizado por conta
do direito de uma parte da sociedade que não é respeitado e que, as vezes, é
negligenciado ficando à ou espera da vontade do Estado em prover uma intervenção
maior do Estado para garanti-las enquanto a proteção social.
O que leva às necessidades de mudança de entendimento sobre o que viria a
ser direito universal e que culmina nas mudanças propostas a partir dos anos 1990.
Principalmente porque, apesar da Constituição Federal ter distribuído as receitas
entre os entes federados, por não ter havido uma distribuição relativa das ações
sociais, acabou que o sistema não evoluiu (CASTRO; CARDOSO JUNIOR, 2009).
Na década de 1990, o então presidente Fernando Collor tomou algumas
medidas que diminuiu os gastos sociais (SILVA, 2012) e tais medidas tinham como
foco o desenvolvimento do país e a intenção de estabilizar a moeda mas sem a
garantia dos direitos sociais mínimos.
A saída do presidente, em 1992, com o processo de impeachment trouxe o
início do novo governo de Itamar Franco, que implementou uma nova legislação
para a previdência rural, por exemplo, que contava com a concessão de auxílio sem,
necessariamente, a necessidade de completa contribuição prévia, dada a
característica do trabalho dessa população. E se dava o início do processo de
inserção de uma população não contribuinte no processo de assistência social.

2.3 Política de Assistência Social no Brasil recente


 O processo de política pública de cunho social no Brasil foi alicerçado
definitivamente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que diz em
seu Art. 194 que “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações
de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988). Foi
daí que nasceu a garantia ao cidadão em ser atendido nas suas necessidades
básicas pelo poder público. Porém, para esse alcance, houve todo um processo de
questionamentos e lutas, além de organização social para que, realmente, esse
direito fosse respeitado, o que envolveu politicamente todas as esferas da sociedade
(principalmente de organizações civis) e institucionalmente, as três esferas de poder
20

municipal, estadual e federal. O que demandou uma série de processos políticos-


institucionais.
Segundo Sposati (2009) a política pública de proteção social é um ato de
solidariedade e manutenção da dignidade do cidadão. Entendendo que aquele cuja
dignidade é ferida por conta da condição sub-humana e encontra dentro da sua
comunidade um apoio social principalmente da questão da pobreza, consegue
resgatar a sua cidadania.
Falar de condição sub-humana é dizer que em pleno Século XXI, ainda
existem pessoas que vivem a baixo da linha da pobreza, que não possuem nem o
alimento para saciar a sua necessidade biológica, pessoas enfermas que não
conseguem comprar o remédio, e ainda, aquelas pessoas que necessitam do
mínimo para sobreviver.
A melhoria de vida dos membros da sociedade ocasiona oportunidades
singulares de inserção social, para tanto foram discutidas, estudadas e criadas
políticas públicas para atender as principais demandas sociais, dentro dessas
criações surgiram ao longo do tempo centros de caráter público à disposição da
população que estão em condição de vulnerabilidade.
As políticas de saúde, educação, habitação, trabalho, assistência,
previdência, recreação e nutrição são objeto de luta entre diferentes forças
sociais, em cada conjuntura, não constituindo, pois, o resultado mecânico
da acumulação nem a manifestação exclusiva do poder das classes
dominantes ou do Estado (FALEIROS, 1991, p. 62).

De acordo com Godinho (2012) a década de 1980 foi marcada por um estudo
sistémico de política pública. Tal conquista, surgiu por meio da luta de cidadãos
engajados na perspectiva dos direitos humanos e na assistência social. Assim a
Constituição Federal/1988 em seu Art.3º traz um dos objetivos fundamentais da
República que é a redução das desigualdades, como também a diminuição do índice
de marginalização e de pobreza existente. Então, a luta para solucionar o complexo
social é recente, e ainda há muito a ser feito.
Vale lembrar também que a década de 1980 foi marcada pelo processo de
redemocratização, então foi o momento de se discutir sobre direitos. O que ganhou
bastante destaque, porque o país começa a dar ênfase em modelos que podiam
diminuir a desigualdade que até hoje é um problema complexo de se resolver.
.Senna et al (2007) discutem sobre as políticas sociais brasileiras, surgida
durante o processo de redemocratização do país, cujos os desafios enfrentados
21

foram a persistência da desigualdade social e a falta de interação entre os diferentes


setores do governo. E naquele contexto, mesmo com toda a ênfase dada a essa
temática, os governos ainda não alcançavam o entendimento necessário de suas
bases, sendo notório que havia uma dinâmica que almejava chegar a uma
conclusão para implantar políticas voltadas para a sociedade mais carente.
Cada contexto brasileiro foi importante para abraçar essa luta, apesar dela
não surgir de forma uniforme e sim com perspectiva diferentes, toda a conjuntura
contribui para a proporção que as políticas sociais alcançariam posteriormente a
termo de suporte, acompanhamento, melhoria de vida e construção social.
As políticas sociais do Estado não são instrumentos de realização de um
bem-estar abstrato, não são medidas boas em si mesmas, como soem
apresenta-las os representantes das classes dominantes e os tecnocratas
estatais. Não são, também medidas mas em si mesmas, como alguns
apologetas de esquerda soem dizer, afirmando que as políticas sociais são
instrumentos de manipulação e de pura escamoteação da realidade da
exploração da classe operária (FALEIROS, 1991, p.55).

Por assim ser, Demo (1996) apresenta três horizontes da política social que
são: políticas assistenciais, políticas socioeconômicas e políticas participativas. As
políticas assistenciais viabilizam o direito de sobrevivência condigna enquanto, as
políticas socioeconômicas implicam na relação entre a sociedade e a economia.
Assim, sendo necessário apoio ao emprego, a profissionalização, a saúde e a
previdência. E enfim as políticas participativas são aquelas que possibilitam ao
indivíduo reconhecer a injustiça social e participar de programas educacionais,
culturais, de comunicação, de defesa da cidadania, de organizações sindicais,
partidárias e de justiça.
Para Araújo (2009) as políticas sociais são fruto do sistema capitalista e de
seu processo excludente. Portanto surge como uma das consequências, a
acumulação de capital, onde poucos possuem em abundância e muitos possuem o
suficiente necessário (ou nem isso) para sobreviver. É sabido que o capitalismo
possui esse desequilíbrio, até por conta do dado processo de acumulação de
riqueza.
Nessa lógica o conceito de política social se apresenta de forma diferente,
porém com a mesma perspectiva, como:
-uma dimensão valorativa fundada em um consenso social que responde
pelas orientações e normas que permitem escalonar prioridades e tomar
decisões;
22

- uma dimensão estrutural que recorta a realidade de acordo com os


setores, baseados na lógica disciplinar e nas práticas e estruturas
governamentais;
- o cumprimento de funções vinculadas tanto aos processos de legitimação
como aos de acúmulo na reprodução de estrutura social;
- processos políticos-institucionais e organizativos relativos a tomada de
decisões sobre a identificação dos problemas, escalonamento de
prioridades e desenho de estratégias, assim como a atribuição de recursos
e meios necessários ao cumprimento das metas;
- um processo histórico de formação de atores políticos e sua dinâmica
relacional nas disputas pelo poder; e
- a geração de normas, muitas vezes legais, que definem os critérios de
redistribuição e inclusão em uma determinada sociedade (FLEURY, 1994,
p. 50).

Assim a política social surge após diversas discussões, depois de priorizar


algumas demandas existentes no convívio social. Nesse contexto, o Estado buscou
soluções para as principais demandas.
[...] diferentemente de outras áreas, como a saúde, em que a mobilização
social incluiu setores populares, os protagonistas principais da mobilização
em torno da garantia do direito à proteção social pública que
responsabilizasse o Estado pela prestação de serviços regulares de
assistência social foram os representantes corporativos ou acadêmicos dos
profissionais do Serviço Social, associados a alguns outros profissionais e
setores dos segmentos. Pleiteava-se a evolução de formas assistenciais
privadas apoiadas na sociedade civil para formas institucionais e públicas
de proteção social para aquelas pessoas que se encontrassem em
situações de vulnerabilidade e risco social. Esse foi um momento que
resultou de um longo processo de discussões e de amadurecimento da
própria compreensão dessa política por esses protagonistas (CUNHA, 2009,
p. 151).

A luta para alcançar esse benefício não partiu dos principais interessados,
mas de terceiros que tinham a preocupação com as pessoas que se encontravam
em situação de risco e vulnerabilidade social. Partiu de pessoas que tinham o
conhecimento daquilo que estava sendo reivindicado, profissionais que de forma
direta ou indireta possuía ligação com a problemática social.
O movimento em defesa da assistência social partiu da luta de grupos e
associações de caráter político (DIANI, 1992). Por meio dessa luta e pós
Constituição Federal é que é criada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),
essa tarefa também partiu de pesquisadores de universidades e setores de
filantropia.
Em 1993 a LOAS3 foi aprovada e, com ela houve a instituição do SUAS 4 e a
assistência formou-se como dever do Estado. Surge pela Lei 8.742/93 beneficiando
pessoas com até um salário mínimo que não possui meios de subsistir e ou de
3
Lei Orgânica de Assistência Social.
4
Sistema Único de Assistência Social.
23

prover a família (pessoas a cima de 65 anos ou que sejam deficientes). Para ter o
direito garantido, o indivíduo tem que estar em condição de pobreza,- e isso pode
ser averiguado por meio da visita da Instituição no endereço da moradia e por meio
de investigação social.
Além deste benefício a LOAS ainda garante o respeito à dignidade do
cidadão, a universalização dos direitos sociais e igualdade de direitos no acesso ao
atendimento. Assim cabe aos municípios executar os projetos de enfrentamento a
pobreza, atender as ações assistenciais, prestar os serviços sociais, efetuar o
pagamento de auxílio natalidade e funeral (BRASIL, 2019).
O governo seguinte de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002) continuou
com o andamento da assistência social e promoveu a transferência de renda para
indivíduos que se encontrassem em condição de pobreza ou de extrema pobreza.
Durante o governo foi criado o Programa Comunidade Solidária, Programa
Comunidade Ativa, o Projeto Alvorada o BPC e o CadÚnico, com verbas adquiridas
pelo fundo de combate à pobreza, pela rede Social de Proteção Social e de
empréstimos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (LIMA, 2012).
Entre os anos de 2003-2010 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve
uma reforma da seguridade social, o empenho para melhorar os programas criados
deu uma maior participação da sociedade, além da implantação do SUAS
(FREITAS, 2007).
Para a concretização da assistência social, todo o processo histórico descrito
foi válido para que enfim o Estado em parceria com os municípios pudessem se
organizar para oferecer um serviço de qualidade, serviço esse que não beneficia
somente o indivíduo, mas a sociedade também, que faz parte desse cenário que por
tantos anos beneficiou uma parcela dos que se encontravam em condição de
vulnerabilidade.
De acordo com Silva, Yazbek e Giovanni (2008) os sistemas além de
favorecer uma clientela que possui menos recurso de subsistência, também é um
acordo social que perpassou por processo histórico, e nesse longo processo,
criaram-se estratégias para atender as demandas existentes.
Para Goldani (2002) são as transformações globais e os desafios econômicos
criados pelo mercado, que estão levando os indivíduos a condição de
vulnerabilidade e que mesmo com a atuação do governo para mudar tal situação, a
presença dos membros da família nessa tarefa é indispensável, porque é a família
24

que mantém os primeiros contatos com o indivíduo após o nascimento. É ela


responsável pela educação e proteção nos primeiros anos de vida.

3 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)


O CRAS é uma instituição de caráter protetivo, preventivo e proativo que
pertence aos municípios para garantir a proteção social básica (BRASIL, 2009a).
Assumem dois eixos do SUAS que são: a matricialidade sociofamiliar e a
territorialização social. O atendimento é oferecido ao território de abrangência por
conta do entrosamento com a sociedade (ou seja, o conhecimento in loco e o
sentimento de pertencimento da comunidade). E nesse contexto, a família exerce
papel crucial na relação com o indivíduo, além do fator sanguíneo e afetivo que
existe, culturalmente na obrigação de cuidar dos seus entes.
O Centro de Referência de Assistência Social é um espaço de serviço
público, associado a política de assistência social para atender a indivíduos em
condição de vulnerabilidade e risco social (BRASIL, 2009b).
De acordo com Gomes e Pereira (2005) o termo família atinge aos diversos
modelos de família, rompendo com aquele paradigma de apenas pai, mãe e filho,
reconhecendo seu poder de proteção e cuidado que é insubstituível pelo Estado,
porém a atuação do Estado em casos de necessidade é imprescindível.
A família possui uma relevância imensurável, pois por meio das relações que
são criadas a formação do indivíduo tanto física como psicológica vai sendo
construída. E a questão afetiva é tão necessária que segundo Loreto (2009) os
profissionais que trabalham com a questão social, devem possuir no mínimo empatia
com os indivíduos que procuram esses serviços. É necessário ter o princípio da
solidariedade, promover no outro a inclusão e o sentimento de ator social.
25

De acordo com o BRASIL (2009a) o funcionamento do CRAS é composto por


atividades internas e externas. O número de atendimentos se dá, de acordo com o
índice populacional e a quantidade de famílias referenciadas. O coordenador deve
possuir nível superior e ter conhecimento em ações sociais, como a do PAIF
contribui com o trabalho com as famílias.
Fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus
vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na
melhoria de sua qualidade de vida. Prever o desenvolvimento de
potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos
famílias e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e
proativo (BRASIL, 2009b, p.6)

A equipe do CRAS deve procurar identificar a vulnerabilidade do território


para efetivar a proteção social (BRASIL, 2009b). E para isso que é necessário criar o
monitoramento das ações que são necessárias de serem realizadas pelas equipes
de trabalho, para ter noção da demanda local, dos sujeitos que procuram esses
serviços e criar a possibilidade de melhor atendê-los.
O Estado em uma parceria entre os municípios e o governo federal cria as
instituições para atender a demanda da população. Alguns municípios possuem a
parceria entre a Assistência Social, o CRAS e o CREAS para desenvolver as
políticas públicas de caráter social. O CRAS exerce a seguinte função:
A equipe do CRAS deve prestar informação e orientação para a população
de sua área de abrangência, bem como se articular com a rede de proteção
social local no que se refere aos direitos de cidadania, mantendo ativo um
serviço de vigilância da exclusão social na produção, sistematização e
divulgação de indicadores de abrangência do CRAS, em conexão com
outros territórios (BRASIL, 2004, p. 35).

Dessa forma é de fundamental importância que o CRAS saia da zona de


conforto e vá de encontro aos indivíduos que se encontram em situações de risco,
por isso que as visitas realizadas oferecem ao indivíduo o contato com os
profissionais atuantes, essa prática também viabiliza o diagnóstico de demandas e
criação de ações para solucioná-las. Essa dimensão que o CRAS busca alcançar,
só é possível com a atenção do governo, para a qual é necessário a alocação de
recursos das três esferas governamentais para que a instituição social permaneça
de fato funcionando.
Os usuários que podem buscar os serviços do CRAS são:
[...] famílias em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, do
precário ou nulo acesso aos serviços públicos, da fragilização de vínculos
de pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situação de
vulnerabilidade e risco social residentes nos territórios de abrangência dos
26

CRAS, em especial:
- Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e
benefícios assistenciais;
- Famílias que atendem os critérios de elegibilidade a tais programas ou
benefícios, mas que ainda não foram contempladas;
- Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades
vivenciadas por algum de seus membros;
- Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de
vulnerabilidade e risco social (BRASIL, 2009b, p. 7).

Vale lembrar que, para que a sociedade possa ser atendida pelo CRAS é
necessário que elas possuam o CadÚnico, que é um programa do Governo Federal
em parceria com os municípios (CUNHA, 2007), sendo este um cadastro de
indivíduos de baixa renda. Porém esse banco de dados é preenchido pelo município
onde a família reside, precisamente na localidade da Assistência Social. Para se
realizar o CadÚnico é necessário ser um indivíduo de baixa renda, (indivíduos que
possuem mais de 1 salário mínimo por pessoa na mesma residência não se
enquadram nesse perfil).
Assim os indivíduos que podem buscar serviço no CRAS são as pessoas que
estão em estado de pobreza, extrema pobreza, em situação de vulnerabilidade e
risco social, como também indivíduos que buscam apoio psicológico.
O CRAS por ser uma instituição social de grande utilidade para a sociedade
recebe toda a situação de vulnerabilidade social independente da classe, cor,
religião e outras características individuais/familiares dos indivíduos que além da
ajuda, buscam por acompanhamento social, participando de palestras motivacionais
e atividades esportivas.
É valido destacar que geralmente a zona de ação do CRAS são as
localidades propícias para a assistência social que, além da baixa renda e da
recepção do auxílio do Programa Bolsa Família evidencie-se que as pessoas
estejam em situação de fragilidade social, por não ter encontrado oportunidades ao
nível de formação, emprego e até mesmo apoio social e psicológico (quadro comum
em quase todos os municípios do Brasil).
Além de serviços, dessas referencias, os indivíduos buscam ajuda para
conseguir os documentos pessoais, porque precisam se deslocar para outras
localidades para fazer esse tipo de serviço (gerando certo custo com transporte,
alimentação e pagamento da taxa do documento).
27

4 O CRAS EM UBATÃ-BA: PERFIL DE ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO

4.1 Ubatã-Bahia e o quadro de vulnerabilidade social

Os serviços de proteção social são disponibilizados para indivíduos que


possuem, ou não renda. Todavia, apesar de possuir renda não é o suficiente para se
manter, há regiões em que a demanda por Políticas Públicas é maior, devido as
circunstâncias sociais e econômicas locais. Ou seja, para se entender a
necessidade de dada região a ser beneficiada por Políticas Públicas faz-se
necessário conhecer o panorama local. Assim, de maneira geral o perfil
socioeconômico do município de Ubatã-Bahia pode ser resumido no quadro abaixo:

Quadro 1 – Características socioeconômica de Ubatã-Bahia


UBATÃ-BA
Área 335,19km²
IDHM 2010 0,593
Renda per capita 306,52
IDHM longevidade 0,788
IDHM educação 0,452
Taxa de
Mortalidade 20,9%
Índice de GINI 0,53
5
% de pobres 40,02%
% de
extremamente6
pobres 14,63%
Fonte: Atlas Brasil, 2018.

Como se pode observar, com base nos dados do último Censo de 2010, a
extensão territorial de Ubatã-Bahia é de 335,19Km². Um município com uma
pequena área espacial. O Índice de Desenvolvimento Humano está abaixo do IDHM
do Brasil (0,725), embora seja considerado médio padrão no indicador ( o maior

5
Pessoas com renda familiar de meio salário mínimo (IBGE).
6
Pessoas com renda até R$ 144,00 (IBGE/ 2017) ou sem renda.
28

IDHM do Brasil é de 0,862 e pertence ao município São Caetano do Sul-SP). O


IDHM da Bahia é de 0,660, e Ubatã também está abaixo do IDHM do Estado .
A renda per capita é a renda média de cada indivíduo para o município e,
Ubatã possui uma renda per capita baixa, de 306,52, e isso evidencia que a região
perpassa por dificuldades econômicas e sociais.
O IDHM de longevidade está relacionado com a esperança de vida ao nascer,
a saúde e à qualidade de vida. O quadro 1 apresenta um índice de 0,788 que é um
número aceitável, pois indica que os indivíduos têm chegado até a velhice. Já o
IDHM educação de 0,452 é de se preocupar, pois é um percentual baixo, o que
indica que o município está deficitário com quesito educação e deve averiguar os
motivos, para alcançar índices mais elevados, no futuro.
A taxa de mortalidade infantil conforme apresentada, está moderada, ainda
assim, deve se atentar para os números e averiguar se as mortes estão
relacionadas a violência, a causas naturais ou à condição de vulnerabilidade.
O Índice de Gini de 0,53, indica que o município se encontra em desigualdade
social, e que políticas públicas devem ser desenvolvidas, para reverter esse quadro.
Apesar de estar quase na média (nem próximo de 0, nem próximo de 1), a
desigualdade social presente acaba afetando vários setores na sociedade,
principalmente a economia.
A taxa de indivíduos pobres também é alta, chegando a 40,02% da população
municipal. Juntamente com uma taxa de extrema pobreza que é 14,63%, tem-se um
percentual de 54,65% da população, com dificuldades em suprir alguma
necessidade básica. Dado preocupante, pois metade da população sofre com algum
tipo de carência socioeconômica.
Com o percentual alto de pobreza, logo, outros problemas surgem, como a
falta de qualificação para o mercado de trabalho, a evasão escolar, o problema de
saúde do indivíduo, a falta de expectativa de vida melhor, a dificuldade de exercer a
cidadania e atuar como um sujeito ativo no meio em que vive.
Assim, como a pobreza do Brasil é decorrente da desigualdade social, apesar
do país ser rico em recursos naturais, em Ubatã não é diferente. A má distribuição
da renda tem elevado os índices de vulnerabilidade no país (FARIA, 2000), assim
como no município em questão. Essa distribuição desconexa ocorre desde os
primórdios, no país, assim uma quantidade grande da população possui pouca
renda e uma quantidade mínima possui uma concentração maior de renda.
29

A pobreza é uma condição de privação, cujo os indivíduos carecem de


alimento, saúde, vestimenta, de acesso a serviços simples como educação,
saneamento, habitação e etc. Tal problemática leva a população a vulnerabilidade
social e suas mazelas, como falta de escolaridade, saúde de qualidade, condição
boa de moradia e etc. O quadro 2 traz as condições de vulnerabilidade social em
Ubatã:
Quadro 2 – Dados da vulnerabilidade social em Ubatã-Bahia, 2010
Vunerabilidade social
Mortalidade infantil 20,9%
Crianças de 0 a 5 anos fora da escola 57,00%
Crianças de 6 a 14 anos fora da escola 5,53%
Pessoas de 15 a 24 anos que não estudam, não trabalham e estão em
condição de vulnerabilidade 29,89%
Mulheres de 10 a 17 anos que tiveram filhos 4,69%
Taxa de atividade - 10 a 14 anos 7,29%
Mãe chefe de família sem fundamental e com filho menor 22,73%
Vulneráveis e dependentes de idoso 7,78%
Crianças extremamente pobres 22,42%
Vulneráveis a pobreza 65,25%
Pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental completo e em
ocupação informal 59,47%
População com banheiro e água encanada 71,96%
Fonte: Atlas Brasil, 2019.

A mortalidade infantil, de 20,9%, é moderada, porém devem-se diagnosticar


as causas de morte dessas crianças, se é uma questão de saúde pública, de
negligência dos responsáveis ou ineficácia de políticas públicas voltadas para a área
infantil. De acordo com o Censo 2010 mais da metade das crianças de até cinco
anos de idade estão fora da escola, um número alarmante, pois a educação infantil
é a etapa primordial na formação do indivíduo. Além dos valores que se aprende no
espaço escolar, também é garantido o cuidado e a refeição diária das crianças.
Inclusive se tornando uma das ações que deveriam ser foco de atuação do CRAS,
5,5% das crianças maiores (6 a 14 anos) estão fora da escola, nessa faixa etária o
ensino é obrigatório, e a porcentagem deveria ser 0, porém percebe-se que as
crianças ubatenses estão em situação de risco e precisam de um melhor
acompanhamento do Estado.
Outro número que também chama a atenção é a quantidade de pessoas que
estão em risco social (29,89%), sem nenhuma ocupação, gerando indivíduos sem
30

expectativas de projeção e perspectivas futuras de evolução de sua situação


socioeconômica.
Mulheres de 10 a 17 anos deveriam está na escola, porém segundo o Censo
2010, 4,69% já estão cuidando de criança (filho), essa questão social eleva a
condição de vulnerabilidade e risco social da mulher, afastando-a da escola e do
mercado de trabalho. A taxa de atividade de 10 a 14 anos (7,29%) também chama a
atenção, por que essas crianças deveriam está na escola buscando conhecimento e
formação sendo protegidas pelo município. O número de mãe chefe de família, sem
estrutura escolar com filhos possui índice alto de 22,73%, essas mulheres não
conseguem se inserir no mercado de trabalho, porque não tem com quem deixar
o(s) filho(s), assim, terminam aceitando o benefício social como única fonte de renda
e desistem de exercer atividade fora do lar.
Crianças extremamente pobres 22,42%, número alarmante dada a
necessidade de acolhimento dessas crianças e a sobrevidas que elas levam à
margem da sociedade.
Outro índice alto é o da porcentagem de vulneráveis a pobreza (65,25%). Ou
seja mais da metade da população está em situação de pobreza. Dado preocupante
pois, fortalecem a importância de políticas públicas locais em prol da redução
desses números citados.
A população com banheiro e água encanada 71,96%, está razoável,
ultrapassa a metade das residências, porém mais políticas de saneamento devem
ser desenvolvidas para que alcance os 100%.

4.2 As ações e intervenções desenvolvidas pelo CRAS de Ubatã-Ba

O Centro de Referência de Assistência Social de Ubatã-Bahia tem


desenvolvido ações para combater esse quadro de Vulnerabilidade Social. Suas
ações beneficiam pessoas de todas as idades, no decorrer de cada ano, conforme a
necessidade, novas ações podem surgir conforme a demanda. Nos anos de 2016 e
2017 foram desenvolvidas as seguintes ações de acordo com o quadro 3:
As aulas de Karatê e capoeira ocorrem a tarde as 17hs, três vezes por
semana, com modalidade infantil, juvenil e adultos, é uma prática que visa o
desenvolvimento tanto físico como psicológico. As palavras e oficinas são para todos
os indivíduos cadastrados com temáticas relevantes, como a violência doméstica, a
31

exploração sexual, o emprego informal, o fortalecimento da família e outros temas


que surgem no decorrer do ano.
O curso de culinária é voltado para mulheres, que a partir do conhecimento
pode desenvolver atividade de culinária como fonte de renda. Os festejos ocorrem
nas datas comemorativas que faz parte do calendário oficial e todas os indivíduos
podem participar. O grupo da Primeira Infância e para as crianças que precisam de
acompanhamento, como regate da auto estima e valorização da infância. As
atividades para os idosos como CRAS Fitness, ocorre no período da manhã, três
vezes por semana, com realização de atividade física.
O acompanhamento psicológico é realizado pelo psicólogo do CRAS e todas
os indivíduos podem participar, as visitas domiciliares ocorrem todos os dias da
semana e qualquer pessoa pode solicitar . O acompanhamento social é voltado para
os indivíduos que necessitam de apoio, por conta da vulnerabilidade, assim os
técnicos estão sempre em contato com esses indivíduos conscientizando e
auxiliando, para que consigam sair dessa condição.
Quadro 3 – Ações do CRAS de Ubatã-Bahia

AÇÃO PÚBLICO
Aula de Karatê
Aula de Capoeira Crianças e jovens de todas as idades
Palestras
Oficinas Todas os indivíduos
Culinária Mulheres
Festejos (datas
comemorativas: Natal, São
João, aniversário da
cidade) Todos os indivíduos
Grupo da Primeira Infância
Dia das Crianças Crianças
Grupo de Gestante Mulheres
Festejo da melhor idade
CRAS Fitness
Grupo de Idosos Idosos
Acompanhamento
psicológico Todos os indivíduos
Visita Domiciliares Todos os indivíduos
Acompanhamento Social Todos os indivíduos
Fonte: CRAS, 2018.
32

Enfim, todas essas ações possuem o objetivo de resgatar o indivíduo de uma


situação de desconforto social, promovendo o resgate a sua autoestima e sua
evolução para se sentir atuante no meio em que está inserido.
Além dessas ações, alguns eventos e campanhas foram e continuam sendo
realizados pelo CRAS e faz parte do calendário oficial, conforme o quadro 3:
Quadro 4 – Eventos e Campanhas do CRAS em 2016 e 2017

Eventos e campanhas
Mostra dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos
“Cras Folia”
Projeto do mês da mulher
Oficina de chocolate
Projeto das Festas Juninas
Conferência Municipal de Assistência Social
Outubro Rosa
Mostra do CRAS com apresentação musical
Homenagem ao Dia do Idoso
Fonte: CRAS, 2018.

Essas atividades são planejadas pelos técnicos juntamente com os


educadores sociais, fortalecendo os vínculos familiares e comunitários. Estimulando
a reconstrução da história individual e coletiva, atitudes protetivas e de mobilização
para a participação social.

Quadro 5 – Doações realizadas pelo CRAS de Ubatã-bahia, em 2016 e 2017.


SERVIÇOS 2016 2017
Cestas básicas 910 1600
Urnas Funerárias 47 40
Colchões 0 60
Cobertores 0 30
Ofícios de solicitação de 2º via de
certidão de nascimento 200 300
Fonte: CRAS, 2018.

Em 2017 ocorreu uma situação climática atípica no município, muita chuva


em dias seguidos, o que ocasionou vários transtornos à população, principalmente
àqueles que moravam próximo a rios, que teve as moradias invadidas pela água, por
isso que houve um número maior de doação de cesta básica, como também a
doação de colchão e cobertores

4.3 O CRAS de Ubatã-Bahia e sua respectiva demanda social


33

O CRAS de Ubatã-Bahia realiza reuniões periódicas, para executar


prioritariamente o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) e
também o atendimento às famílias por demanda espontânea, busca ativa e
referenciada de outros setores e da rede socioassistencial, bem como a gestão
territorial no processo de articulação entre os serviços do território.
A estrutura do CRAS de Ubatã-Ba é composta por 01 coordenador (Nível
superior), 01 recepcionista, 01 vigilante, 03 serviços gerais, 01 cozinheira, 02
psicólogos, 01 assistente social, 04 orientadores sociais, 01 educador social e 02
colaboradores sociais (técnicos).
É uma instituição mantida com os recursos federal Fundo Nacional de
assistência Social - FNAS e estadual Fundo Estadual de Assistência Social (FEAS),
os quais são alocados no Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS).
Entretanto, o município também aloca, com recursos próprios, quase R$
1.000.000,00 anuais, pois muitos serviços socioassistenciais só podem ser
efetivados com recursos ordinários.
Esse dispositivo legal – resolução – passou pelos Conselhos Estadual e
Municipal os quais regulamentaram esses serviços. Na cidade de Ubatã-Bahia o
CRAS possui previsão de atendimento anualmente, das famílias, entre Serviço de
Proteção e Atendimento a Família - PAIF e Serviço de Convivência e Fortalecimento
de Vínculos - SCFV, com a faixa etária que varia de 0 a maiores de 60 anos (CRAS,
2018).7
As atividades e ações do CRAS, de maneira geral são previstas anualmente.
Por conta disso, os municípios se organizam e também controlam a receita
orçamentária para o determinado fim. Para a realização prevista no programa anual,
o município de Ubatã-Bahia possui uma previsão financeira para o atendimento de
700 famílias anuais, como se observa no quadro abaixo:

Quadro 6 – Receita orçamentária e previsão de atendimento do CRAS – Ubatã-


Bahia/ Piso básico fixo – CRAS/PAIF – Referência: janeiro de 2019
Orçamento
Quantidade de CRAS confinados 1
Capacidade de atendimento de referência (famílias
ano/NOB8-SUAS) 700
Famílias Referenciadas 3.500
Previsão de repasse anual R$ 100.800,00
7
Informações institucionais (verbal) do CRAS de Ubatã/Bahia. .
8
Norma Operacional Básica que regulamenta as ações de Assistência social.
34

Liberação
Situação atual de pagamento Contínua
Valor de Referência R$ 8.400,00

Fonte: BRASIL , 2019.

O orçamento anual corresponde a uma associação de investimento


constituído entre verbas federais, estaduais e municipais com o principal objetivo de
alcançar as metas e benefícios planejados, que além de trazer melhorias para as
famílias atendidas, também visa contribuir para o desenvolvimento do município de
Ubatã-Bahia.
Esse orçamento de R$ 8.400,00 corresponde ao mês, porém há casos que
são encaminhados para a Assistência Social, porque o CRAS, não tem como auxiliar
o indivíduo financeiramente, esses recursos é para desenvolver ações e manter os
serviços funcionando.
O CRAS é parceiro da estrutura de Proteção e Atendimento Integral a Família
(PAIF), que busca promover o fortalecimento do vínculo familiar e o amparo das
famílias. A família é a instituição fundamental do ser humano, por isso a sua
valorização, para que esse vínculo permaneça forte e que as pessoas em condição
vulnerável não perca o vínculo familiar que é responsável pela educação e proteção
na sociedade do ser em formação.
Quadro 7 – Serviços de convivência e fortalecimento de vínculos, Ubatã-Bahia
(CRAS)
Piso Básico Variável - Serviços de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos quantidade
Capacidade de atendimento de referência 300
Meta de inclusão do público prioritário 150
Valor de referência do trimestre R$ 45.000,00
Valor de referência do ano R$ 180.000,00
Apurado em
Usuários registrados no SISC em situações prioritárias
20/12/2018
Situação atual de pagamento (trimestre) Liberado
Valor real de repasse (trimestre) R$ 24.750,00
Fonte: BRASIL, 2019.

Os serviços de convivência e de fortalecimento de vínculos são realizados


pelo PAIF e correspondem à realização de atividades artísticas, culturais, de lazer e
esportivas de acordo com a idade do usuário. Portanto, podem participar crianças,
jovens, adultos e idosos; pessoas com deficiência, vítimas de violência, pessoas
35

sem amparo social. Possui um caráter preventivo promovendo ações que


inviabilizem a condição de vulnerabilidade.
Os profissionais do CRAS necessitam conhecer as demandas do território de
abrangência, para que possam realizar as ações de intervenção de maneira a
beneficiar seu público alvo, no intuito de diminuir as desigualdades sociais.
Quadro 8 – Atendimentos individualizados no CRAS de Ubatã-Bahia, em 2016 e
2017
Atendimentos individualizados Média Média
realizados (2016) /mês (2017) /mês
Total de atendimentos
individualizados realizados 1.062 118 3.612 301
Total de Famílias encaminhadas
para inclusão no Cadastro Único 37 4,11 155 12,92
Total de Famílias encaminhadas
para atualização cadastral no
Cadastro Único 53 5,89 226 18,33
Total de Famílias encaminhadas
para o CREAS9 2 0,22 3 0,25
Total de Visitas domiciliares
realizadas 84 9,33 446 37,17
Fonte: BRASIL, 2018.

No quadro comparativo entre os anos de 2016 e 2017, observa-se que o


município apresentou um aumento significativo no número de atendimentos
individualizados, (1062 para 3612) em mais de 100%. O total de famílias que foram
incluídas no CadÚnico evoluiu, passando de 37 para 155.
As famílias são orientadas para fazerem a atualização do Cadastro Único,
pois sem a atualização pode ter o benefício social bloqueado.
Quanto as atividades especializadas de acompanhamento o total de visitas
domiciliares também aumentou, (430,9 % evolução bastante significativa) essa
demanda de crescimento dos serviços do CRAS ocorre por conta da divulgação da
instituição, por meio das ações e visitas em bairros com alta proporção de
marginalização, levando assim à população as informações necessárias para busca
pelos serviços ofertados.
Outro fato que também provocou o aumento de indivíduos na Instituição foi a
localização, atualmente o CRAS está próximo ao centro da cidade, um local de fácil
acesso, como também a divulgação das atividades em praça pública, e as visitas.
Isso proporcionou a população o conhecimento do CRAS.
9
Centro de Referência Especializado de Assistência Social – atende indivíduos com risco social ou
tiveram seu direitos violados.
36

Quadro 9 – Atendimentos Coletivos no CRAS, 2016 e 2017

Atendimentos quantidad Média quantidad Média-


Coletivos Realizados e (2016) -mês e (2017) mês
Famílias participando regularmente de
grupos no âmbito do PAIF 1.150 127,78 618 51,5
Crianças de 0 a 6 anos em Serviços de
Convivência e Fortalecimentos de
Vínculos 270 30 290 24,17
Crianças/ adolescentes de 7 a 14 anos
em Serv. de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos 474 52,67 497 41,42
Adolescentes de 15 a 17 anos em
Serviços de Convivência e
Fortalecimentos de Vínculos 572 63,56 345 28,75
.Idosos em Serviços de Convivência e
Fortalecimentos de Vínculos para
idosos 503 55,89 401 33,42
Pessoas que participaram de palestras,
oficinas e outras atividades coletivas de
caráter não continuado 1.199 133,22 1258 104,83
Pessoas com deficiência, participando
dos Serviços de Convivência ou dos
grupos do PAIF 64 7,11 47 3,92
Fonte: BRASIL, 2019.

Os serviços coletivos realizados, em alguns aspectos houve redução, já em


outros ocorreu um leve aumento como verificado no quadro a cima. Esse serviço
deve levar em consideração os diversos grupos reconhecendo suas demandas, as
crianças e jovens são atendidos por meio do esporte, de ações conjuntas como
palestras e celebração de datas relevantes, os idosos recebem a mesma atenção
são disponibilizados para esses grupos palestras, oficinas de dança, dentre outras
atividades como curso de culinária, Festa da melhor idade (viva bem com a idade
que tem), uma comemoração que ocorre no mês de setembro, com os festejos da
festa de emancipação política de Ubatã-Ba.
A redução das famílias (PAIF) é por conta da atuação do CRAS, ao deixar a
zona de risco esses indivíduos diminuem a procura pelo serviço, mas o CRAS
continua fazendo as visitas. Já o número de crianças aumentou, por conta das
visitas e da parceria com o Conselho Tutelar, denuncia de maus tratos, como
também medidas socioeducativas determinadas pelo Ministério Público são
acompanhadas pelo CREAS e CRAS.
37

4.4 O usuário do CRAS em Ubatã-Ba

A renda das pessoas cadastradas predomina o valor de R$ 200,00 e sem


renda no ano de 2016, já em 2017 é o valor de R$ 75,00 e sem renda. A renda
maior de 2016 (R$ 678,00) e 2017 (R$ 937,00) correspondem a aposentadoria e ao
salário (gari, domésticas e serviços gerais), já as rendas seguintes correspondem ao
valor do benefício Bolsa Família (que é correspondente ao número de filhos). Há
destaque também para indivíduos com renda referente ao pagamento dos serviços
informais como diarista e serviços gerais. Os que não possuem renda são pessoas
que não possuem o benefício e também não estão inseridos no mercado de
trabalho.
Quadro 10 – Renda das pessoas atendidas em 2016 e 2017, no CRAS de Ubatã-
Bahia

Renda 2016 Renda 2017


R$ 678,00 123 R$ 937,00 218
R$ 478,00 116 R$ 724,00 187
R$ 326,00 115 R$ 600,00 234
R$ 200,00 213 R$ 426,00 312
R$ 180,00 120 R$ 380,00 238
R$ 120,00 80 R$ 250,00 67
R$ 70,00 78 R$ 124,00 123
R$ 0,00 217 R$ 75,00 345
- R$ 0,00 1948
Total 1062 3672
Fonte: CRAS, 2018.

Entre os que não possuem renda estão as crianças e adolescentes que fazem
parte do programa de acompanhamento psicológico e da prática de esporte, como
também adultos que se encontram desempregados, apesar de desenvolver
atividades informais ‘bico’, não possuem renda certa e tem período que não
consegue atividade remunerada.
As análises seguintes correspondem aos dados apresentados na ficha de
cadastro do CRAS em Ubatã-Bahia. Essas fichas, analisadas após autorização da
Coordenação do Centro, incluem informações relevantes sobre o perfil dos usuários
da instituição. Nota-se que, a respeito da escolaridade, nenhum usuário possui nível
superior, e um número mínimo possui nível médio completo. Já o nível médio
apresentou um número significativo de um ano para outro. Em 2016 (835) e 2017
38

(3.124) inscritos no CRAS. Situação semelhante em comportamento evolutivo, mas


muito mais complicado em termos de vulnerabilidade social, quanto as pessoas sem
escolarização que em 2016 contava com (224) cadastro e em 2017 um total de
(546).

Quadro 11 – Escolarização das pessoas atendidas no CRAS em 2016 e 2017

Escolarização 2016 2017


Fundamental 835 3124
Médio 3 2
Superior 0 0
Sem
Escolarização 224 546
Total 1062 3672
Fonte: CRAS, 2018.

Esse número expressivo dos sem escolarização inclui crianças e pessoas


que não tiveram a oportunidade de estudar. O que estão no nível fundamental,
inclui-se pessoas com idade escolar e pessoas que não concluíram o ensino como a
maioria dos idosos cadastrados.
As pessoas do sexo feminino foram as que mais procuraram atendimento nos
anos citados, isso é explicado pelo aumento da procura pelos grupos de idosas,
gestantes e mulheres.
Quadro 12 – Sexo das pessoas atendidas no CRAS de Ubatã-Bahia em 2016 e
2017

Sexo 2016 2017


Feminino 873 3340
Masculin
o 189 332
Total 1062 3672
Fonte: CRAS, 2018.

Esse comportamento inclusive, tem beneficiado muitas mulheres tanto com


apoio moral, como também apoio psicológico. Mulheres que por não ter uma
ocupação se sentem à margem da sociedade, principalmente quando sabem que
essas mulheres são o alicerce das suas famílias, (dado o acompanhamento de
visitas realizados pelo CRAS).
No que se refere a profissão das pessoas atendidas, verifica-se que a maior
parte são de estudantes, (por conta das ações de esporte) e de donas de casa,
principalmente quanto às mulheres que são chefe de família. Essas mulheres são
responsáveis pela criação dos filhos, que por serem menores de idade precisam da
39

presença do responsável. Isso contribui para que muitas mulheres abandonem os


estudos e não consigam desenvolver atividade remuneradas.
Quadro 13 – Profissões das pessoas atendidas em 2016 e 2017, no CRAS de
Ubatã-Bahia

Profissões 2016 2017


Manicure 6 2
Domésticas 150 214
Estudante 233 543
Serviços Gerais 217 354
Dona de casa 345 2132
Diarista 108 426
Técnica em
enfermagem 0 1
Gari 3 0
Total 1062 3672
Fonte: CRAS, 2018 .

Assim, afastadas do mercado de trabalho, essas mulheres se tornam mão de


obra ociosa. Algumas delas possuem quadro de auto baixa estima pessoal, por não
ter como se manter e manter os próprios filhos. Por isso as visitas do CRAS são tão
importantes, pois é possível identificar como vivem seus usuários, como é o dia-a-
dia dos indivíduos. E essa visita pode ser solicitada pela própria pessoa que está na
condição de risco ou qualquer outro morador que identificar a situação de abandono
e vulnerabilidade.
Com relação ao bairro das famílias cadastradas e atendidas, fica evidente que
a maioria reside na Bica e da Várzea, bairros periféricos, e com proximidade da
localização onde o CRAS está localizado.
Quadro 14 – Bairros atendidos em 2016 e 2017 pelo CRAS, em Ubatã-Bahia

Bairros 2016 2017


Glória 124 289
Júlio
Aderne 76 123
Centro 112 157
Relíquia 213 289
São
Raimundo 57 123
Dois de
Julho 123 345
Marinalva 145 267
Várzea 112 1345
Bica 100 734
40

Total 1062 3672


Fonte: CRAS, 2018.

O fator locacional da moradia, e a quantidade evolutiva dos atendimentos é


justificada pelo aumento do número de cadastros e isso se dá graças a divulgação
de ações voltadas para o esporte (capoeira e karatê), que têm atraído jovens e
crianças para a sua prática. Outro motivo para o aumento de pessoas de outros
bairros é a divulgação dos grupos de idosos, gestantes e mulheres, que têm
contribuído, cada vez mais para a população participar.
Outras informações que seriam relevantes na análise, como o número de
filhos por residência, a raça predominante, o tipo de moradia, não foi possível de se
analisar pois a maioria das fichas não apresentavam essas informações. E a análise
de apenas algumas delas, poderia levar uma distorção das informações por serem
parciais.
Informações quanto os atendimentos coletivos também não tiveram as
características informadas, por motivo de privacidade, pelo qual também não foi
possível um levantamento das especificidades desses usuários.
De maneira geral, os dados apresentados trazem um quadro geral dos
indivíduos que buscaram atendimento no CRAS em 2016 e 2017 e que evidenciam
a parcela população em situação de vulnerabilidade e que demandam, pelos mais
diversos motivos, sua inserção no rol de atividades promovidas pelo Centro.
41

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A política de assistência social tem melhorado com o passar do tempo e isso
é bem vantajoso para parte da população que vive à margem da sociedade. A
Constituição Federal de 1988 consagrou o direito do indivíduo de ser acolhido pelas
instituições, porém ainda há muito a ser feito e conquistado, principalmente, quanto
à diminuição do número de famílias em condição de extrema pobreza.
O propósito dessa pesquisa foi apresentar uma sucinta trajetória das políticas
assistencialistas que resultaram na implantação do Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS), como também a sua prestação de serviço no município
de Ubatã-Ba entre os anos de 2016 e 2017.
Concluiu-se que as Políticas Públicas ganharam atenção especial depois do
processo de redemocratização do país. Antes desse período os indivíduos que
necessitavam de assistência, eram direcionados às igrejas e profissionais ligados à
saúde, que na maioria praticavam a caridade. As Políticas Assistencialistas, nesse
contexto, tem resgatado a população que está em situação de risco e a direcionado
para uma situação de atividade, a qual o sujeito se sinta inserido na sociedade,
como ator do seu dinamismo e desenvolvimento. O CRAS de Ubatã-Bahia foi
implantado no município no segundo semestre de 2010 e sua atuação foi iniciada no
ano de 2011.
O município de Ubatã-Ba é um local com dificuldades em oportunidades de
trabalho, tendo sua principal fonte de geração de renda a Prefeitura Municipal e o
comércio local. A produção agrícola, ainda mantém o forte laço com a monocultura
do cacau e o cultivo de outras frutas para a produção de polpas. Os empregos
informais em sua maioria, se tornam a principal opção para quem está em busca da
inserção no mercado de trabalho. Porém dados apontam que mais da metade da
população necessita de assistência das instituições pública, principalmente aquelas
42

que se associam com o número de pobreza e extrema pobreza. O que eleva


também os gastos municipais.
O CRAS cumpre seu papel proativo, preventivo e protetivo por meio de ações
que fazem parte do calendário fixo da Instituição e de novas ações que podem surgir
no decorrer do ano. O número de atendimentos individuais entre 2016 e 2017,
aponta para um aumento, do número de atendimentos e cadastros, demonstrando
que a sociedade tem reconhecido o empenho do CRAS e, por isso, a procura tem
aumentado, pelos resultados positivos, que incluem toda a população ubatense.
As doações realizadas pelo Centro também aumentaram. Já os atendimentos
coletivos apresentou uma redução, que segundo a Instituição, derivou do
comportamento de algumas famílias que desistem do acompanhamento social e de
que outras saem da zona de risco social.
Os usuários possuem renda em torno de um salário mínimo, e benefícios do
Bolsa Família. Aqueles que desempenham atividade laboral recebem menos de um
salário e ainda tem àqueles que não tem renda, e precisam de um cuidado maior da
Instituição, esses indivíduos são encaminhados para a Assistência Social após uma
investigação social, pois o indivíduo precisa do mínimo para sobreviver.
As crianças e adolescentes também são atendidos com atividades
esportivas, principalmente, além do acompanhamento psicológico e de programação
especial, muitas vezes esporádicas, como a comemoração do Dia da Criança,
promovida pelo Grupo da Primeira Infância. Entretanto o município deve atentar para
a educação desses indivíduos, de maneira mais ampla, já que o quadro educacional
se encontra deficitário e o número de crianças fora da escola tem se elevado,
principalmente, quando associado com reduções ou cancelamentos de
recebimentos de benefícios sociais como a do Programa Bolsa Família.
Os bairros com maior número de cadastros e atendimentos foram a Bica e a
Várzea, bairros periféricos próximos a Instituição. Porém os outros bairros também
da periferia são atendidos, embora distantes do Centro. Bairros que precisam de um
cuidado maior por conta da violência, da falta de saneamento e de infraestrutura.
O público feminino ganha, cada vez mais destaque na participação, junto ao
Centro por conta de muitas dessas mulheres serem mães solteiras, chefes de
famílias, gestantes e idosas, que por meio das ações do CRAS tem resgatado sua
autoestima, graças a participação tanto em palestras como em oficinas e dado o
apoio psicológico, que é essencial.
43

De um ano para o outro, o CRAS conseguiu ampliar seu atendimento, fazer


mais visitas domiciliares e desenvolver atividades com maior entrosamento para os
que procuram apoio, como às práticas de esporte, o acompanhamento psicológico,
oficinas de artesanato para idosos e a celebração de datas importantes, como o dia
das mães, os festejos juninos, o dia dos avós, o dia da mulher, o aniversário da
cidade e os festejos natalino.
Apesar dos pontos positivos, do empenho da Instituição em cumprir seu
papel, ainda há muito a se fazer, como a busca pelo aumento das visitas em bairros
periféricos, o fortalecimento da participação da família, em conjunto com todos os
seus membros, nas atividades coletivas, o resgate da população em extrema
pobreza. Outro fator é à necessidade de ações voltadas para o público masculino.
Por outro lado, vem sendo construído o fortalecimento da parceria com o
Conselho Tutelar para intensificar à proteção à criança e ao adolescente já que, de
acordo com o Censo 2010 65,25% da população ubatense está vulnerável à
pobreza, e o número de crianças está cada vez maior. Espera-se que no próximo
Censo de 2020 esse número tenha sido reduzido.
Enfim, quanto maior for a eficácia do CRAS, maior será o amparo dado à
população ubatense, que deverá ser beneficiada e também beneficiar o município ao
se constituir um quadro ampliado de cidadãos com sentimento de pertencimento ano
município e atuante no espaço onde reside.
44

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