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A despeito dos discursos manufaturados e aos seus professores, sou contra qualquer tipo de
censura ou controles de conteúdo de discursos - só aquele leve pedido de desculpas, tão
necessários para evitar o súbito apedrejamento virtual do tribunal do FB em tempos de
acirramento de irracionalidades. Peço perdão para ressaltar, no entanto, a inegável
monopolização das comunicações no País. Podemos fazer longa lista de outros atores sociais
desprovidos de voz - que não as poucas famílias detentoras da posse simbólica e efetiva das
principais concessões públicas de rádio e televisão.
Querem inclusive definir o presente de todos seus ditos ouvidos - Nós. Entre as muitas
soluções instantâneas para vazio existencial, temos a solução milagrosa mainstream media
para executar a alteridade. Incluímos doses diárias de pílulas instantâneas de Banalidade de
vários Males. A Banalidade do Mal autóctone (a Malignidade do Bem da família tradicional
brasileira) é complexa e alimentada por estímulos visuais e verbais constantes recheados de
sequestros, assassinatos, corpos mortos, misoginia, racismo, entre outros. Das formas e
doses mais sutis, embrutecimento sem dor e com sensação de detenção da verdade!
Slash!
[A despeito da curiosa ligação dos Connected Revoltados – aquele cujo criador hostilizou o
imigrante haitiano Auguste Lubain lhe dizendo “sociopata haitiano contratado por Lula para
espancar brasileiros que querem o fim dos roubos” - à figuras da justiça curitibana, a política
nacional vem curiosamente se judicializando,]
Apesar da bem paga infraestrutura, e de todos efeitos estimulantes da parafernália; o que unia
os presentes era visualmente exposto: a camiseta da CBF e símbolos nacionalistas. Acreditar
que o sonho da unidade nacional – o prometido pelas narrativas míticas e manufaturadas
após a revolução francesa, semi-consagradas aqui com a transformação do carnaval em
política pública e com o Futebol – estimularia alguém a protestar domingo passado, no atual
contexto político, só me faz pensar na Fé-Cega. Desfilar emitindo discursos breves odiosos
anticorrupção, enquanto porta emblemas da CBF no peito resulta em problema cognitivo
grave. Induzido ou não, só me faz pensar em esquizofrenia e perigo de Faca Amolada.
Mesmo não distribuído uniformemente na população em marcha (não incluímos alguns
indivíduos desprovidos de associação com tais qualidades/atos), reunir violência, arrogância,
analfabetismo político, classismo, racismo, militarismo e sensacionalismo televisivo com ódio
no mesmo espaço não respeita nenhum preceito de lógica fatual.
Ainda assim, não conseguimos descobrir como a marcha poderia se conformar pela Fé-Cega.
Preciso será ressaltar algumas epidemias contemporâneas. Diante da distribuição epidêmica -
não da Zika, já exausta - da ausência da capacidade de visionar-se, de individuação, vemos
emergir um exercício coletivo de apolítica. Pessoas estão desprovidas de capacidade de ver-
se a si mesmo na política. A redução da política à identificação com uma manufatura
ideológica fez surgir esperanças de milagres na morte do semi-deus-pai traidor, o partido-
corrupção-único e sua grande jararaca paterna. Meio Deus, porque a maioria ali presente até
então só participou politicamente pelo voto. A identificação estética da pulsão de paixão-morte
dobre Lula o dignifica - Lucifer é um anjo caído - no inconsciente de quem mais o despreza.
Crença, crionça, criança, crença, crionça, criança...
Alteridade morta...
A hostilização de Aécio e Alckmin foi festejada por muitos. Sinceramente, apesar de uma
breve e primitiva sensação de justiçamento por vê-los enfim julgados por alguém, fiquei triste.
Quero justiça, não justiçamento. ‘A justiça não os julgou, então o próprio povo que linche’ –
isso é errado. A Justiça existe para seguir preceitos e normas que devem ser respeitadas.
A escalada da violência política e fundamentalismo ideológico já é fato. Quem vai ser o novo
Pai dessa multidão ressentida? Tenho nenhuma esperança numa hipnose coletiva induzindo
autocríticas. Domingo passado amolaram a Faca. Resta observar se o inferno irá de encontro
finalmente à vida desses indivíduos que o negam – e que possam colocar o óculos que lhes
permita ver as ideologias por traz dos discursos e atos. Ou se ele transbordará em Facas
desembainhadas sobre a vida de todos nós...