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Determinação do Coeficiente Linear de Atenuação de Fotões

Francisco Lelewell 47917, Rui Ribeiro 15841


Caracterização do coeficiente linear de atenuação de fotões para alguns materiais elementares,
como função da Energia e do número atómico. Caracterização desse coeficiente e suas dependências.

I. INTRODUÇÃO TEÓRICA

A radiação, sob o ponto de vista da Física, consiste na


propagação de energia entre dois pontos, seja no vácuo
ou em qualquer meio material sendo comumente descrita
como energia em trânsito e podendo ocorrer através de
uma onda electromagnética ou de uma partícula. In- Figura 1. Diagrama esquemático do Efeito Fotoeléctrico.
dependentemente do tipo, ela age sobre o meio onde se
propaga depositando energia.
A interação da radiação com a matéria depende da ener- • Dispersão de Compton
gia e do meio onde se dá a propagação, sendo habitual
a sua classificação como Radiação Ionizante e Radiação este fenómeno, designada em homenagem ao Físico
não Ionizante. Americano que o enunciou, consiste na interação do fo-
tão com um electrão das camadas mais exteriores (menos
A radiação X e γ interagem com a matéria através de ligado). Ao absorver a energia da radiação incidente este
diversos processos físicos: electrão (vulgo electrão de Compton), é ejectado da sua
orbita animado de uma determinada energia cinética, e
• Efeito Fotoeléctrico
de um fotão secundário com características que verificam
A interação ocorre quando o fotão é totalmente ab- o cumprimento das Leis da Conservação de Energia e do
sorvido, transferindo a totalidade da sua energia para o Momento Linear.
electrão mais fortemente ligado, que se "ejecta"da sua
órbita. O espaço libertado por este foto-electrão pode
ser ocupado por electrões das camadas superiores, o que
origina e emissão de fotões.

A maior probabilidade para a ocorrência deste efeito


acontece quando a energia do fotão primário é ligeira-
mente mais elevada que a energia de ligação dos electrões Figura 2. Diagrama esquemático do Efeito de Compton.
da camada mais interna do átomo em questão.

O Efeito Fotoeléctrico é inversamente proporcional ao


• Criação de Pares
cubo da energia do feixe incidente, o que evidencia o seu
rápido decaimento para energias mais elevadas. A Criação de Pares é uma forma de interação da radia-
ção com a matéria com elevada probabilidade a partir do
É directamente proporcional ao cubo do número ató-
momento em que a radiação incidente tenha uma energia
mico do alvo, sendo mais provável interagir com materi-
mínima equivalente à massa em repouso do par a criar.
ais de Z mais elevado por comparação com os de Z mais
No caso em questão a criação de pares electrão [e- ] po-
baixo.
sitrão [e+ ] implica uma energia mínima de pelo menos
1,022 MeV, o correspondente a duas vezes a massa das
partículas em repouso. Para além da restrição em ener-
gia, este efeito, a ocorrer, deverá respeitar a Lei de con-
2

servação do Momento Linear, bem como a conservação • Amplificador e Pré-amplificador


dos Números Quânticos.
• Sistema de Aquisição
A maior probabilidade para a ocorrência deste efeito Sistema de aquisição de dados Multicanal
acontece quando a energia do fotão primário é ligeira-
mente mais elevada que a energia de ligação dos electrões
da camada mais interna do átomo em questão. O efeito
de criação de pares passa a ser dominante para radiações III. METODOLOGIA
incidentes com Σ > 1, 022M eV

Foi efectuada uma montagem experimental com re-


curso a um detector cintilador de NaI com 2"x 2", ligado
a um sistema de aquisição de 1024 canais.

Figura 3. Diagrama esquemático da Criação de Pares e- / e+ .

A. Coeficiente de Atenuação Linear

Devido a todas estas interações, o número de detecções,


i.e., a intensidade do feixe emitido, após o feixe de fotões
atravessar um alvo de espessura x será menor do que a
intensidade do feixe originalmente emitido, sendo que a
relação entre ambas é dada por:

Figura 4. Montagem experimental.


I = Io e−µx

Sendo µ o coeficiente linear de atenuação total. Cada Foi efectuada a medição das fontes usadas "em vazio",
um dos processos físicos de interação da radiação com a gerando assim o conjunto de dados para o 60 Co, e 137 Cs.
matéria tem um coeficiente de atenuação parcial associ-
ado, sendo o coeficiente total equivalente à soma de todos Foi efectuada uma medição do Fundo do Labortató-
estes coeficientes parciais. rio, usada como forma de retirar aos dados adquiridos o
"ruido de fundo".

II. MATERIAL

Para esta montagem experimental foram utilizados:

• Fontes Radioactivas

60 137
• Co, Cs.

• Amostras de Material Figura 5. Aquisição do espectro das Fontes.


13
Al, 82 Pb, 26 Fe, Sulfato de Bário BaSo 4 misturado
com cimento em concentração desconhecida.
A calibracão em energia foi efectuada com recurso
aos espectros de 137 Cs e60 Co , com os seus carac-
• Detector Cintilador tristicos picos de energia de 283.53 keV (p=0,058%) e
Detector cintilador de NaI, acoplado a um fotomul- 661,66 keV (p=85,1%), e 1173,2 keV (p=99,85%), 1332,5
tiplicador. keV(p=99,88%).
3

1 A
µ = − ln( )
x Ao

Onde x é a espessura das placas usadas, A é a área


do pico quando os fotões atravessam o material e Ao é a
área do pico "em vazio". (2)

Figura 6. Calibração em energia.

Da calibração Canal/Energia obteve-se

E(x) = (1, 742 ± 0, 173)x + 206, 920 ± 76, 970 [keV ] (1)

De seguida foram efectuadas aquisições do espectro,


para cada fonte, com diversas espessuras do material da
amostra.

60
Figura 8. Comparação dos picos de energia do Co antes e
depois de atravessar o alvo de alumínio

A razão entre as áreas antes de atravessar o alvo


e depois de atravessar o alvo é o argumento para o
cálculo do Coeficiente de atenuação.
60
Figura 7. Aquisição do espectro de Co atenuado com 3
placas da amostra.
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados recolhidos foram analisados e foram geradas


simulações de Monte-Carlo[1]. O software escolhido para
o efeito foi o PENELOPE. (Penetration and ENErgy
LOss of Positrons and Electrons).

IV. ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados permitiu apurar o Coeficiente Li-


near de Atenuação de Fotões [µ ] para cada material en-
saiado em função da energia do feixe incidente, e para
uma mesma energia a sua dependência com o numero
atómico [Z] do elemento atravessado.

Para esse efeito considerou-se a intensidade de fotões, Figura 9. Coeficiente de atenuação para diferentes No atómi-
numa dada energia, como proporcional à área dos picos cos (13 Al,26 Fe e82 Pb) com energia (≈ 1165 keV ) e distâncias
seleccionados. Daí se obteve que: fixas (3 cm)
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Analisando os dados experimentais e os simulados, es- VI. CONCLUSÃO


tes últimos congruentes com os dados tabelados do NIST
(NIST Standard Reference Database 126 ), a atenuação
em função de Z, mostra um aumento de µ em função do A determinação do Coeficiente de Atenuação Linear de
aumento do número atómico. Fotões é um processo que sendo de alguma forma intui-
Analisando os dados tabelados do NIST a atenuação em tivo tem parametrizações diferentes para diferentes de-
função de Z mostra uma tendência ondulatória, que não pendências.
poderia ser imediatamente descrita em absoluto com a
variação do número de protões do elemento em análise,
tornando-se visivelmente evidente a dependência com ou-
tras características do elemento em questão, nomeada- I = I0 .e µx (3)
mente o Grupo da Tabela Periódica a que pertence. São
também visíveis os mínimos respeitantes às posições dos onde µ é a soma dos coeficientes de todos os efeitos de
Gases Nobres. Analisando elementos com as mesmas ca- atenuação,
racterísticas, i.e, pertencentes à mesma Família Perió-
dica, torna-se evidente o aumento de µ com o aumento µT otal = µF otoelctrico +µRayleigh +µCompton +µP ares (4)
do número atómico.
µF otoelctrico :

No efeito Fotoeléctrico um fotão de baixa energia é


§
completamente absorvido pelo átomo, sendo ejectado um
foto-electrão. A energia dessa partícula é dada por Ee− =
hν − Eb , sendo b a energia de ligação do fotoeléctrão.
A dependência de µ com a Energia, para um mesmo A probabilidade da ocorrência deste efeito decai com a
Z3
número atómico é visível no gráfico seguinte: Energia ao cubo, de acordo com P (x) ∝ (hν) 3.

µCompton :

Na dispersão de Compton o fotão incidente interage


com um electrão do alvo, transferindo para o mesmo uma
parte da sua energia, sendo deflectido um angulo θ face à
direcção inicial. Todos os ângulos de dispersão são permi-
tidos e a energia transferida pode variar de zero a valores
próximos da energia do feixe incidente. A dispersão de
Compton é o efeito mais significativo para energias en-
tre os 100 keV e 10 MeV. É quase independente de Z e
decresce com o aumento da Energia do Fotão incidente.

µP ares :

Quando um fotão de energia superior a 1,022 MeV in-


terage com a matéria, pode ocorrer o efeito de criação
Figura 10. Coeficiente de atenuação para diferentes energia de pares Electrão [e- ], Positrão [e+ ]. Este efeito acontece
com no atómico fixo (Al 13) e espessura fixas(3 cm) por conversão de Energia/Massa do fotão incidente. A
energia cinética destas partículas será a diferença entre a
energia do fotão incidente e a energia equivalente a duas
vezes a massa do electrão em repouso, de acordo com :
A variação de µ é inversamente proporcional ao au- Ee− + Ee+ = hν − 1.022(M ev) (5)
mento de energia do feixe. Essa variação é visível nos re-
sultados da simulação, e nos dados tabelados pelo NIST. A probabilidade de ocorrência deste efeito, κ é directa-
Os dados experimentais não refletem essa tendência. A mente proporcional à variação de energia do fotão inci-
discrepância encontrada deve-se, em nosso entender, fac- dente, e aumenta também com Z2 .
tores como a distância fonte-detector e a elementos co-
limadores, o que justifica o facto do valor experimental A análise dos resultados experimentais, e das simu-
ser superior ao esperado. Tratando-se de valores experi- lações geradas permitiu verificar a existência duma de-
mentais de picos energéticos muito próximos não será de pendência com o número atómico. O aumento de Z, em
descartar a possibilidade desses picos se sobreporem, não elementos com as mesmas características é acompanhado
nos permitindo encontrar a relação esperada entre eles. de um aumento do Coeficiente de Atenuação Linear. O
5

aumento do Número Atómico implica um aumento do derante da atenuação do feixe.


tamanho dos "alvos", aumentando também a probabili-
dade de a interação com os mesmos. A repetição desta experiência para uma gama de ener-
gias mais extensa ajudaria a uma maior aproximação en-
Verificou-se, no entanto, existirem outras característi- tre os resultados experimentais e os dados das simulações.
cas dos elementos que afetam µ, uma vez que como se vê
na figura 9 o comportamento não é linear, apresentado
um tendência "ondulatória". Teoricamente a densidade
dos avos parece ser um elemento fulcral para a análise. VII. ÂMBITO
O aumento da densidade do elemento implica o aumento
do número de "alvos"por volume, aumentando também
a probabilidade de interação. Ensaio realizado no âmbito da disciplina de Física e
Tecnologia das Radiações (34749).
Para futuras experiências julgamos que seria interes-
sante analisar o Coeficiente de Atenuação Linear (µ) con- Docentes: Prof. Daniel Galaviz, Prof. Jorge Sampaio,
juntamente com o coeficiente de atenuação mássico ( µρ ), Prof. Luís Peralta e Prof. Pedro Amorim
para uma maior variedade de elementos, permitindo as-
sim, a nosso ver, uma melhor análise destas relações. Mestrado Integrado em Engenharia Física, 2018-2019
Tornou-se evidente uma dependência inversa com a ener-
gia, tal como se pode observar na figura 10. Pensamos
que em primeira aproximação esta dependência é evi- VIII. BIBLIOGRAFIA
dente, no sentido em que, um fotão sendo uma "partí-
cula"desprovida de carga eléctrica, de massa nula, e de
velocidade constante, não sofrem interação Colombiana, • https://www.wikipedia.org
pelo que para energias muito elevadas, o efeito Fotoeléc-
trico tem probabilidade muito baixa, sendo a sua contri- • https://www.nist.gov/data
buição quase nula. O efeito de Compton não tem depen- • Guia:"7.Atenuação Gama"
dência em energia, mantendo a mesma contribuição. O
efeito de criação de pares, torna-se então o efeito prepon- • Material de suporte em Moodle: Física e Tecnolo-
gia das Radiações

[1] Designa-se por método de Monte Carlo (MMC) qualquer simulações estocásticas com diversas aplicações em áreas
método de uma classe de métodos estatísticos que se ba- como a física, matemática e biologia. O método de Monte
seiam em amostragens aleatórias massivas para obter re- Carlo tem sido utilizado há bastante tempo como forma
sultados numéricos, isto é, repetindo sucessivas simulações de obter aproximações numéricas de funções complexas em
um elevado número de vezes, para calcular probabilidades que não é viável, ou é mesmo impossível, obter uma solu-
heuristicamente.(...). Este tipo de método é utilizado em ção analítica ou, pelo menos, determinística. in Wikipédia,
consultada a 13.12.2018.

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