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CAMPUS DO SERTÃO
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
DELMIRO GOUVEIA - AL
2019
VANESSA MONTENEGRO DA SILVA
DELMIRO GOUVEIA – AL
2019
Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca do Campus Sertão
Sede Delmiro Gouveia
Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza CRB-4/2209
CDU: 981:39(=214.58)
Dedico a todo povo cigano pela sua brilhante história de luta e
sobrevivência, em especial a minha mãe Gildobene Montenegro da
Silva, que apesar de nunca ter tido a oportunidade de estudar não
mediu esforços para me manter na luta por uma formação digna. Todo
amor e confiança depositados na minha pessoa serviram como
incentivo para me manter firme na caminhada e nunca deixar de
acreditar no meu potencial. A minha tia Ana Lúcia Montenegro da
Silva, que sempre contribuiu de forma muito importante desde o início
da minha graduação.
AGRADECIMENTOS
Provérbio cigano
RESUMO
Neste trabalho, temos como foco principal mostrar a realidade das mulheres ciganas da casta
Calon das comunidades de Sátiro Dias-BA e Delmiro Gouveia-AL. A pesquisa, dessa forma,
apresenta o processo cultural de uma comunidade esquecida, incompreendida e tão pouco
estudada. Utilizamos como metodologia da pesquisa um estudo de caso de cunho qualitativo.
Escolhemos esse tema porque os costumes das comunidades ciganas são muito discriminados
e difíceis de serem compreendidos pela sociedade, devido às tantas regras, as quais as ciganas
devem seguir a risca por causa de toda uma tradição. A estruturação deste trabalho partiu das
seguintes especificidades: compreender a maneira como são repassadas os costumes e os
mandamentos tradicionais milenares das comunidades ciganas, considerar as fases dos
ensinamentos desde o nascimento à fase adulta nas comunidades, passando pelo casamento e
revelar a maneira como as jovens ciganas recebem as informações de limitações de
comportamento definidas pelas leis ciganas. Essa pesquisa é apenas uma amostra de duas das
muitas comunidades ciganas existentes no Brasil. A comunidade que estudamos pertence à
casta Calon, as famílias residem nas cidades de Sátiro Dias-BA e Delmiro Gouveia-AL, com
um número aproximadamente de mais ou menos umas 12 famílias cada comunidade.
In this paper, our main focus is to show the reality of gypsie women from the Calon caste of
the communities of Sátiro Dias-BA and Delmiro Gouveia-AL. The research thus presents the
cultural process of a forgotten community, misunderstood and so little studied. We used as a
research methodology a case study of qualitative nature. We chose this theme because the
customs of gypsy communities are very discriminated and difficult to understand by society,
due to so many rules, which gypsies must follow strictly because of a whole tradition. The
structure of this work was based on the following specificities: understanding the way the
ancient millenary customs and commandments of roma communities are passed on,
considering the stages of teaching from birth to adulthood in the communities, through
marriage and revealing the way young women Roma receive information on behavioral
limitations defined by gypsie laws. This research is just a sample of two of the many gypsy
communities in Brazil. The community we study belongs to the Calon caste the families live
in the cities of Sátiro Dias-BA and Delmiro Gouveia-AL, with a number of about 12 families
each community.
1 INTRODUÇÃO
A motivação para escrever sobre a presente comunidade e seus costumes foi por
presenciarmos os diversos tipos de preconceitos e escutarmos os mais diversos tipos de
comentários ofensivos sobre os povos ciganos e sua cultura. Tantas histórias e indagações
sem sentido sobre esses povos que nos despertou uma tamanha inquietação. As pessoas falam
sem modéstia sobre seus conceitos perante a cultura cigana e acabam por expor seus olhares
preconceituosos sobre as comunidades ciganas, apenas por terem escutado algo sobre um fato
ocorrido, e então criam uma forma de julgamento generalizando uma comunidade inteira sem
conhecimento de causa.
A consciência de que a sociedade está cruzada por oposições de classes, étnicas, de
gêneros e outras, com interesses muitas vezes contrapostos são o que indica a necessidade de
se desenvolverem pesquisas que mostrem como a escola atuou e atua na realidade diante do
desafio da diversidade de culturas. Isso tem uma importância especial neste momento
histórico, porque entendemos que a escola não é apenas um lugar a mais em que se repetem
os prejuízos e as tensões étnicas, mas também é um lugar onde se desenvolvem muitos
saberes, e diante disso, as comunidades estudadas demonstram uma grande esperança que um
dia a cultura cigana também será uma disciplina nas universidades, assim como a Cultura
Indígena e a Cultura Afro são, de acordo com a lei 11.645. Nesse sentido, a escola é o lugar–
chave para desmistificar essa imagem de ―vagabundos‖, ―preguiçosos‖, ―ladrões‖ e de
―pedinte‖ – entre tantos outros adjetivos que costumamos ouvir – que a sociedade criou do
povo cigano, bem como, ela é essencial na produção e reprodução das culturas, então o cigano
merece aparecer no livro como o negro e o índio aparece.
Por outro lado, quando pensamos em cultura cigana, qual é a primeira imagem que
vem a nossa mente? A figura feminina? A mulher com seu vestido cumprido e coberta por
jóias? A imagem das mulheres lendo mãos e/ou jogando cartas?
Por este motivo, iremos falar da condição feminina. Por que toda a cultura cigana se
esconde por trás da imagem da mulher, essa mulher que é o pilar da família e tem que estar ali
firme e forte para conduzir e orientar tudo que acontece em sua volta. No entanto, é tão
menosprezada e muito pouco valorizada pelos homens das comunidades ciganas. A Calin1
para a comunidade cigana tem apenas a serventia de servir a seu esposo, a função de procriar
1
De acordo com as comunidades estudadas Calin significa Cigana no dialeto das comunidades Calon.
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para garantir a continuidade da casta e de educar suas crianças – do sexo feminino – para não
cometer erros futuros.
É esta crítica que queremos trazer neste trabalho, o papel da mulher na comunidade
cigana da casta Calon, que é sempre inferiorizada em relação ao homem, este que é visto
sempre como ―o senhor mor‖ da família. O homem pode tudo, enquanto a mulher, quando
tenta o mínimo de empoderamento que seja, é sempre humilhada, ofendida e amedrontada,
pois a família inteira começa a cair em cima da mulher com uma educação mais rígida que a
de costume para fazer aquela cigana, rebelde, voltar a si.
De acordo com a análise, por questões culturais, a mulher vive presa ás suas tradições,
a mulher vive refém da sua própria cultura. O que não diferencia de outras culturas, pois a
mulher sempre teve que apresentar certa postura diante dos olhos machistas da sociedade,
porém na cultura cigana essa postura é cobrada de forma ainda mais rígida que o normal para
a sociedade.
Na presente pesquisa, tivemos o cuidado de trazer a abrangência das práticas
tradicionais culturais de uma etnia marcada pelo preconceito e por uma história de muita luta
pela sobrevivência, mediante a uma reflexão sobre o comportamento regrado de seu povo,
especificamente das mulheres ciganas, este comportamento é o que explica os desafios diários
que esses povos vêm enfrentando desde muitos séculos para manterem vivos seus costumes
tradicionais uma vez que são as mulheres quem têm que zelar pelo o bom nome da família.
Diante disso, segundo a análise, o desafio maior é o de auxiliar seu grupo da melhor forma
possível para não se deixar influenciar pelos métodos e costumes modernos que surgem em
sua volta, buscando a compreensão dos leitores para as regras que regem a cultura cigana.
Para atingir os objetivos propostos, realizamos uma pesquisa do tipo qualitativa,
caracterizada como estudo de caso junto a duas comunidades ciganas da casta Calon. Uma das
comunidades fica localizada na cidade de Sátiro Dias-BA e a segunda comunidade fica
localizada na cidade de Delmiro Gouveia-AL. A pesquisa foi realizada no período de
dezembro de 2018 a setembro de 2019. Deste trabalho participaram 2 ciganas, de gerações
diferentes, da comunidade de Sátiro Dias-BA e 3 ciganas, de gerações diferentes, da
comunidade de Delmiro Gouveia-AL, que nos cederam as entrevistas. Estas representaram as
demais mulheres da comunidade.
Este trabalho está dividido em 4 capítulos, sendo que, no primeiro capítulo o trabalho
trás uma breve introdução e apresentação dos principais pontos discutidos na presente
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pesquisa. Finalizando o trabalho com as considerações finais. Onde relatamos como foi a
experiência nas comunidades e as dificuldades enfrentadas para conclusão do trabalho.
No segundo capítulo, realizamos uma análise sobre a origem do povo cigano e como
se dividem em castas. Em seguida apresentamos alguns relatos, baseados em dados históricos
da imigração do povo cigano para o Brasil e ainda segue com o tópico minhas memórias,
onde trazemos algumas respostas de perguntas curiosas feitas sobre determinados costumes da
cultura cigana.
No terceiro capítulo, trazemos uma análise sobre a cultura cigana, uma discussão a
respeito de todos os seus costumes milenares, suas normas, seus valores, e os desafios
enfrentados na luta por aceitação e sobrevivência pelos lugares onde fixam moradia e o
desafio de manter viva a sua tradição. Todos dados apresentado neste trabalho são baseados
em relatos históricos de um estudo teórico relacionados com os relatos vivenciados na prática
pelas entrevistadas. A seguir, trazemos o destaque principal desta pesquisa, onde
apresentamos o papel da mulher cigana nas comunidades da casta Calon. Fizemos uma
análise da maneira de como elas lhe dão com a vida regrada que lhes são impostas por seu
povo e ressalto seus comportamentos desde a sua infância a fase adulta. Ressaltamos ainda a
forma de como elas reagem ao casamento arranjado por seus pais.
O quarto capítulo, abordamos o casamento cigano, segundo as tradições das
comunidades, trazendo uma discussão sobre o processo de como é feito a escolha dos
pretendentes, o acordo de casamento e o ritual do noivado, a festa de casamento, a preparação
dos noivos para o casamento, o ritual após a noite de núpcias e ainda o ritual do divórcio
segundo as tradições ciganas das comunidades estudadas.
A pesquisa, do ponto de vista teórico, foi baseada nos principais estudos de: CASTRO (2011),
DELUMEAU (1923), HEFFEL (2016), LIECHOCKI (1999), MOONEN (1944), PERROT
(1994), SCHEPIS (1996), TEIXEIRA (2008), TILLY (1994).
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De acordo com uma intensa pesquisa teórica sobre os povos ciganos, todos os relatos
apontam que os ciganos são originários da Índia, pois de acordo com os investigadores
alemães – conhecedores da cultura hindu – que analisaram inúmeras características do povo
cigano, tais como: a pele morena, o tipo e as cores dos tecidos utilizados para fazerem suas
vestes, seu comportamento dentro e fora da comunidade, suas crenças e superstições e
principalmente seu dialeto, concluíram que todas as características eram semelhantes ao do
povo hindu.
De acordo com Liechocki (1999), os ciganos são originários da Índia e nos séculos X e
XII, andaram pelo Egito e pela Síria espalhando seu dialeto e seus costumes. No ano de 1417
um grupo de trezentos ciganos andarilhos, nômades, finalizou a etapa de uma peregrinação,
que duraram cinquenta anos, imposta pelo rei da Hungria. Estes ciganos contavam sobre suas
andanças pelo Egito, Síria e Islã, onde foram renegados. Estes povos eram hindus das castas
Doms e Nats e nas suas andanças informavam que eram ciganos, os quais eram andarilhos,
cantores, acrobatas etc., os então, Ciganos Latachos ou os artistas de circo.
Schepis (1996) confirma a versão de Liechocki (1999), quando informa que o povo
cigano teve seu berço na civilização da Índia Antiga, talvez uns dois ou três milênios antes de
cristo. Porém, pelo fato do povo cigano não ter, até hoje, uma linguagem escrita e não terem
hábitos de deixar vestígios por onde passam para, assim, garantir a segurança do seu povo, se
torna quase impossível definir sua origem. No entanto, os pesquisadores alemães estudaram e
comparou o sânscrito, que é a linguagem escrita e falada na Índia – um dos idiomas mais
antigos do mundo – como o idioma falado pelos ciganos e encontraram uma imensidão de
palavras com o mesmo significado. Os pesquisadores concluíram, então, que o povo cigano
de fato tem origem na Índia, pois todas as características observadas do povo cigano eram
semelhantes ao povo hindu. Até então, tudo que existia sobre o povo cigano desde seus
primórdios, para a garantia de sua origem, era baseados em conjunturas ou narrativas dos
moradores, os quais tiveram contato com o grupo.
Castro (2011) aponta várias teorias sobre a origem do povo cigano e uma delas aprova
a versão de Schelpis (1996), sobre a pesquisa do idioma falado pelos ciganos. ―Os dialetos
falados pelos ciganos da Europa se assemelham com a língua neo-hindu, da mesma base do
sânscrito‖ (p. 32). Castro menciona que, chegou a essa conclusão devido ás particularidades
fonéticas arcaicas que os aproximam da língua do noroeste da Índia e acrescenta que esse
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dialeto europeu foi conservado a base índica primitiva do vocabulário e da gramática, por isso
o sânscrito é o idioma mais antigo do mundo.
Santos e Silva (2016), em seu artigo – A invisibilidade cigana no Brasil: que ações
podem ser desenvolvidas pelo profissional de serviço social? Usa a afirmação do autor Fraser
(1998), para justificar a origem do povo Cigano, afirmação essa, que confirma as versões
anteriores ditas, pois o autor defende a ideia que os Ciganos vieram da Índia e ainda aponta os
diversos estudos por investigadores alemães para poder chegar a essa descoberta. Estudos
esses que foram reforçados pela declaração de Indira Ghandi durante o II Congresso da União
Romani Internacional: ―A Índia é a pátria mãe de todos os Ciganos‖ (p. 209).
No entanto, nas comunidades estudadas, quando perguntamos a um Cigano sobre a sua
origem, eles próprios respondem que é de todo lugar, pois os Ciganos são nômades por
excelência e são universais. Viajam sempre em grupos de famílias que possuem um profundo
desejo de união e vivem em harmonia com seu conjunto de normas que são fundamentais para
definir o comportamento de seu grupo. É a vida regrada do Cigano que garante sua
privacidade, proteção e defesa na luta diária por aceitação perante a sociedade preconceituosa
que vivemos. Eles respondem com muita certeza e muito orgulho quando falam de andarem
em grupos.
compreendida tem que ser estudada em termos de seus próprios significados e valores, no
entanto, a sociedade só faz julgar as outras culturas, o que não é de se surpreender, pois é
difícil simpatizar com idéias e com comportamentos de uma cultura tão diferenciada, já que
em toda sociedade haverá sempre uma classe dominante, que direta ou indiretamente
influencia o controle e cria padrões modernos e tudo que foge a essa regra é considerado, no
mínimo, diferente, que é o caso dos costumes e tradições milenares do povo cigano e suas
normas de comportamento.
Porém como a classe dominante tem um maior livre-arbítrio e, ao mesmo tempo,
maior facilidade de se relacionar com os demais povos, seria de grande ajuda que
procurassem socializar com as comunidades ciganas e estudar essa cultura com mais cuidado
e compreensão, pois o comportamento humano é moldado pelas interações sociais, e como
vivemos em uma sociedade onde existem inúmeras culturas, porque até hoje o povo cigano é
incompreendido e sofre tanto preconceito?
Discorreremos a seguir de onde surgiu o termo cigano, a luta desse povo pela
aceitação na sociedade como indivíduos normais que são. Veremos também, os relatos de
vários autores sobre as tantas perseguições sofridas pelos povos ciganos, devido os
preconceitos da sociedade, que vem de centenas de anos desde a sua existência. ―Foram
expulsos do Egito pelos turcos‖ (MOONEN. 2013. p. 21). ―Foram expulsos de Portugal,
mandados de navio para o Brasil com a opção de nunca mais voltar a Portugal somente pelo
fato de ser cigano‖ (TEIXEIRA. 2008. p. 15).
E dessa forma, sua luta pela aceitação ainda continua nos dias atuais. De acordo com
as comunidades estudadas para este trabalho elas relatam que alguns grupos ciganos mudaram
seus costumes de moradia, abdicaram de viver em suas tendas, adotaram novos
comportamentos e maneiras de trabalho, inclusive modificaram sua vestimenta, negavam sua
verdadeira origem, adotaram a documentação civil e começaram a registrar suas crianças na
tentativa de serem mais bem aceitos pela sociedade dominante.
Segundo Teixeira (2008), toda essa luta por aceitação começou no século XV por
volta do ano de 1417, para fugir da perseguição e muitas vezes da morte, pois na Dinamarca
existia uma lei que daria uma recompensa para quem matasse um cigano. A sociedade atribuía
tudo que era ruim à origem cigana, houve até quem acreditava que a epidemia de varíola
(1737), em Minas Gerais tinha sido trazida pelo povo cigano.
Ainda para Moonem (2013), estes grupos além de terem denominações diferentes
também falam dialetos diferentes, porém todos comum a língua romani, apenas cada
comunidade adaptou seu dialeto criando códigos para dificultar o entendimento dos outros
grupos e assim poder preservar a vida privada do seu grupo. Esses códigos são adaptações
com outras palavras de origens persas, turcas, gregas, romenas entre outras de países por onde
passaram. ―Não existe um romani padronizado e único e somente na Europa os ciganos falam
cerca de 60 ou mais dialetos‖ (p. 14).
Ao estudar sobre a cultura cigana muitas dificuldades foram vivenciadas, pois sobre a
origem de tal cultura existem poucos relatos. Uma vez, que por ser um povo nômade e por
sempre estarem fugindo de perseguições, não deixavam rastros de sua passagem pelos lugares
onde se arranchavam2, nem vestígios para onde iriam quando migravam. Essa era sua
estratégia de sobrevivência devido às tantas perseguições sofridas durante os séculos de suas
andanças. É esta questão que abordaremos mais adiante.
2
Arranchavam: de acordo com as comunidades entrevistadas, é quando acampam em um determinado lugar.
Usam aquele lugar para fazer suas cabanas somente por um tempo determinado.
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cigano imigraram para o Brasil. Não se sabe ao certo como e porque os povos ciganos vieram
para o Brasil, porém o que se sabe é que existem duas documentações, no qual identifica que
os primeiros ciganos a chegarem ao Brasil vieram de Portugal.
De acordo com Santos e Silva (2016), a ausência de dados históricos que expressam a
cultura cigana, tal ausência justifica-se pelos processos migratórios pelos quais os grupos
ciganos passaram ao longo dos séculos, o que caracteriza o nomadismo, causado pelas tantas
perseguições sofridas por indivíduos em diversos países por onde passaram, pois o fato dos
ciganos serem considerados uma minoria étnica3 e ter um modo de viver diferenciado e
distante dos demais habitantes da cidade, onde firmam moradia, causa uma incompreensão da
cultura pelas sociedades dominantes colocando o grupo numa posição de invisibilidade e lhes
atribuindo uma identidade negativa.
Segundo Moonen (2013), não se sabem ao certo o motivo pelo qual os ciganos
migraram para a Europa Ocidental, acreditam-se, que por causa das guerras contra os turcos,
devido ao grupo de ciganos que andaram por Zurich, Suíça, que carregavam um documento
chamado Zaginer ou Zingre, que diziam ser originários do Pequeno Egito e Igrity e que foram
expulsos pelos turcos. ―Só se sabe que no comum todos eles têm apenas uma coisa: uma
longa história de ódio, de perseguição, de discriminação pelos não-ciganos, em todos os
países por onde passaram desde o seu aparecimento na Europa Ocidental, no inicio do século
XV‖ (p. 21).
Não sabemos, por exemplo, por quais motivos esses bandos de ciganos,
provavelmente em épocas diferentes, resolveram migrar da índia para os
Balcãs e depois para a Europa Ocidental. Alguns autores afirmam que das
guerras contra os turcos, outros dizem que foi por causa disso ou daquilo,
mas na realidade ninguém sabe com certeza. O único caso devidamente
comprovado é que, a partir do inicio do século XV, bandos ―ciganos‖
migraram para a Europa Ocidental. (MOONEN. 2013. p.19).
3
Minoria-étnica: ―é um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das relações sociais se encontra
numa situação de dependência ou desvantagem em relação a outro grupo, ―maioritário‖, ambos integrando uma
sociedade mais ampla. As minorias recebem quase sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria.‖
(CHAVES, Mendes L. G. 1970. p.149). A palavra ―minoria‖, nesse caso, não se refere a um número menor de
pessoas, não se refere à sua quantidade, mas sim a uma situação de desvantagem social. Ou seja, apesar de
muitas vezes coincidir de um grupo minoritário ser realmente a menor parte da população, não é o fator
numérico o essencial para que uma população possa ser considerada uma minoria. São as relações de dominação
entre os diferentes subgrupos na sociedade e o que os grupos dominantes determinam como padrão que
delineiam o que se entende por minoria em cada lugar. Comportamentos discriminatórios e preconceituosos
também costumam afetar os grupos minoritários.
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Teixeira (2008) no século XV por volta do ano de 1417, os ciganos migraram para a
Europa Ocidental onde foram registradas várias passagens de famílias ciganas pela Alemanha,
França, Holanda, Bélgica, Suíça e Savóia, na França, onde se hospedavam por apenas poucos
dias, de 3 dias a duas semanas . Em alguns lugares eram aceitos e recebidos com festas e
presentes como é o exemplo das cidades de Munchem e de Basel, na Suíça, onde o prefeito os
recepcionou com pão, carne, vinho, ovelhas e até certa quantia em dinheiro. Tinham também
alguns ciganos, por exemplo, os que chegaram a Zurich, que devido a doações caridosas da
população conseguiam se vestir melhor, comprar cavalos e até usar ouro, estes tinham como
pagar por sua comida e bebida – estes que possuíam a documentação Zingrem afirmando sua
origem.
Ainda de acordo com Teixeira (2008), em outros lugares da Alemanha os ciganos
eram vistos de forma preconceituosa e tidos como feios, pretos e com tártaros, que até ficaram
conhecidos como os ciganos tártaros, nestes lugares, eles trabalhavam nas feiras como
acrobatas, saltimbancos e praticavam a leitura da sorte na palma das mãos, para garantir seu
sustento. Estes quando chegaram à Alemanha abdicaram a fé cristã e não aceitaram a
inquisição da igreja que os impuseram ao batismo, e ao recusar a condição do batismo, foram
condenados a peregrinar durante 7 anos como penitência.
Sobre a perseguição na Dinamarca Moonen (2013) relata que foi onde os ciganos
sofreram maior perseguição, a população era proibida de dar hospedagem a um cigano. Lá
existia uma lei, que quem matasse um cigano poderia ficar com seus bens. Essa perseguição
na Dinamarca começou quando foi descoberto na Europa que as histórias que os ciganos
contavam não passavam de fábula, pois eles se apresentavam como peregrinos ou penitentes e
com carta de apresentação e salvo-condutos de reis príncipes e nobres, e até do papa, nas
quais estes pediam que se fornecesse aos ciganos a melhor acolhida possível, hospedagem,
alimentação e dinheiro. Por aonde chegasse nunca diziam de onde vinham, nem para onde
iriam. Os ciganos somente explicavam que:
Dessa forma, podemos perceber que sua verdadeira origem foi preservada e escondida
pelo medo de não serem aceitos como verdadeiramente são. Isso explica a vida de nomadismo
e o pouco tempo de hospedagem pelos lugares por onde passaram, explica também, o costume
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de não documentarem nada e o motivo pelo qual nunca deixam vestígios por onde
acampavam ou para onde partiriam, são estratégias de sobrevivência.
Segundo Teixeira (2008), os primeiros relatos de imigração de ciganos para o Brasil
foi no ano de 1686, devido a dois documentos portugueses que informam a deportação de
ciganos para o Maranhão. O autor informa que os primeiros ciganos que desembarcaram no
Brasil eram oriundos de Portugal, e não vieram para o Brasil por vontade própria, mas porque
foram expulsos do país como única condição de garantir sua sobrevivência, e uma vez que
migrassem para o Brasil seria para sempre, para nunca mais voltar ―as informações sobre os
ciganos nos séculos XVI e XVII são muito limitadas, embora sejam conhecidos documentos
relativos ás políticas anti-ciganas portuguesas. Essa documentação refere-se ao Brasil‖ (p.
15).
Teixeira (2008) cita a existência de um segundo documento que trata sobre a
existência de um casal que no ano de 1574, foi preso simplesmente por serem ciganos e o
esposo teve que assinar uma documentação confirmando sua ida para o Brasil. Este foi o
único cigano que ganhou a condição de poder voltar a Portugal depois de cinco anos em nosso
país, e ―devido a esse documento esse homem foi tido como o primeiro cigano a entrar em
território brasileiro, pois não existem relatos documentados de outros anteriores a ele‖ (p. 16).
Teixeira (2008) relata que durante o reinado de Dom João V, nos anos 1706 á 1750 a
perseguição dos portugueses ao povo cigano ficou ainda mais esclarecida o que resultou em
dezenas de famílias a serem degradadas para as colônias ultramarinas, e parte desses ciganos
vieram para o Brasil no ano de 1822. Continua desconhecida à causa de suas deportações o
que se conhece sobre a questão é que os ciganos foram expulsos de Portugal.
O autor ainda relata que os ciganos eram acorrentados e expostos ao público até o
navio. Esse era um ritual de cerimônia praticado no Período Moderno, determinado pelo Rei
D. João V, com a justificativa de que era para garantir o controle social da nação.
Teixeira (2008), ainda afirma que os oficiais do governo ficavam responsáveis pela
divulgação da exposição da cerimônia, garantindo assim, que todos pudessem ver que o rei
estava trabalhando para manter e garantir a ordem para o seu povo. Contudo o autor deixa a
perceber, também, que a vida de nomadismo não é por vontade própria dos povos ciganos, é
21
necessidade, pela não aceitação da população e das autoridades locais, estas que podemos
afirmar serem consideradas as razões principais para o nomadismo.
Segundo a entrevistada Luana, 22 – Sátiro Dias-BA, é por causa dessa perseguição
que os ciganos ainda continuam na estrada e muitos ainda negam suas origens, quando
preciso, para evitar perseguições e possíveis conflitos, dessa forma garantindo sua
sobrevivência e permanência aonde chegam. Como é o exemplo mencionado por Teixeira
(2008), aonde os ciganos chegavam, eles não se apresentavam como ciganos, eles negavam
sua verdadeira origem em certos lugares por onde passavam, por temerem perseguições,
algumas vezes apresentavam documentos e até mesmo subornavam pessoas para se passar por
outras, para assim, garantirem seus negócios, algumas vezes apresentavam documentos que
diziam serem mandadas por alguém influente da época para poderem transitar sem
perseguições nos ambientes.
Neste sentido, segundo Batuli (2007), a resiliência cigana fez surgir em 1960 uma militância
em diversos países, com ativistas que lutam em prol do anti-ciganismo, como ressalta o
antropólogo Ramanush, fundador da Embaixada Cigana no Brasil, cujo propósito é confrontar
estereótipos, preservar a identidade, resgatar a língua, a música e a tradição do seu povo,
como uma forma de acabar com os preconceitos criados no imaginário popular, por meio de
esclarecimento cultural e a preservação da tradição, já que o povo cigano vive a mais de 5
séculos ocultando sua identidade. Diante de tanta incompreensão para com o povo cigano
Batuli (2007) criou a cartilha do cigano, a qual foi publicada no ano de 2007 com o objetivo
de contribuir para que ciganos e não ciganos, que lutam e acreditam no fim de todas as formas
de preconceitos e discriminações, prossigam na luta pela a igualdade para todos. A cartilha do
cigano trás a lei assinada pelo presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva dando os
plenos direitos de cidadão ao povo cigano.
E assim se tornou-se oficial o dia 24 de maio – dia de Santa Sara Kali – a Padroeira
Universal do Povo Cigano – como o Dia Nacional do Cigano. Vide decreto de 25 de maio de
2006. Essa lei foi considerada pelo o povo cigano de fundamental importância para resguardar
o cigano do seu direito de ir e vir sem que seja alvo de preconceitos de origem étnica e
quaisquer outras formas de discriminação. Diante disso, todo cigano que for alvo de
discriminação e preconceito poderá recorrer aos órgãos de defesa tais como:
Porém de acordo com as entrevistadas, elas alegam que as leis por não serem
divulgadas e pouco conhecidas elas ainda não conseguiram usufruir de seus direitos como a
lei determina e suas comunidades ainda é alvo de muito preconceito. Contudo, a lei existe e o
que se sabe é que no ano de 2006 foi instituído o dia 24 de maio como o Dia Nacional do
Cigano, mesma data da padroeira Santa Sara Kali4. No entanto, a cartilha é real, em 2008 a
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República criou a cartilha do povo
cigano que defende a inviolabilidade dos acampamentos ciganos, o direito ao uso de trajes
típicos pelas mulheres em qualquer estabelecimento. O que está faltando, na verdade, é o
4
De acordo com Schepis (1996, p. 67), Santa Sara Kali ou Cali foi uma cigana que peregrinou ao lado
de Maria, mãe de Jesus Cristo e foi a primeira mulher convertida ao cristianismo no ano 50 d.C., tinha pele negra
e era virgem e teria morrido a serviço de suas companheiras de peregrinação. Existem muitas lendas da
verdadeira origem de Sara, porém nunca chegaram a uma conclusão e Sara nunca passou pelos processos de
canonização. O que se sabe é que ela é: ―considerada pela a Igreja Católica como uma santa de culto local na
verdadeira origem de Sara, porém nunca chegaram a uma conclusão e Sara nunca passou pelos processos de
canonização. O que se sabe é que ela é: ―considerada pela a Igreja Católica como uma santa de culto local na
região da Provença, Sul da França‖. Sara, está ligada as histórias das tradições cristã da Idade Média e o assim
chamado culto das virgens negras, santidades femininas de pele negra venerada pelos fiéis católicos em igrejas
que posteriormente se transforma em locais de peregrinação (Notre Dame de Montserrat; de la Negrette; de
Liesse; des Mures; de Merseille; e outras) principalmente na Espanha e na França‖. (Schepis, 1996. p. 67).
25
governo criar programas direcionados ao povo cigano para assim promover a cultura cigana e
quebrar os estereótipos criados sobre sua etnia e para assim fazer-se valer a lei.
De acordo com os estudos dos grupos ciganos para esta pesquisa, descobri que existe
uma bandeira cigana, assim como toda cultura possui uma bandeira como símbolo de uma
identidade o povo cigano também tem sua bandeira. Nela contem significados que retrata toda
história de vida cigana.
A bandeira cigana foi fundada no ano de 1933 pela a Associação Geral dos Ciganos da
Romênia, nela sobrepuseram uma roda vermelha de dezesseis aros – uma clara homenagem à
Índia, que já se sabia, naquela época, era a pátria original dos ciganos. Porém segundo Silva
(2014), somente no primeiro Congresso Mundial Romani, realizado em Londres, Inglaterra no
ano de 1971 é que a bandeira cigana foi oficialmente apresentada como símbolo da etnia
cigana. ―Esse congresso tinha como intuito discutir os direitos dos povos ciganos que já havia
iniciado anteriormente suas discussões em movimentos pró-ciganos e que aos poucos foi
ganhando força‖ (p. 12), no mesmo Congresso, também oficializaram o hino cigano com letra
oficial romani de autoria dos ciganos da casta Rom.
De acordo com Silva (2014), para suas cores foram escolhidas o verde, o azul e o
vermelho: o azul representa o céu, a sua liberdade, a maneira livre de ser e de viver do povo
cigano; o verde representa a terra, a natureza, o solo sagrado de onde vem a força da cura e o
alimento; a roda simboliza o movimento imprescindível à vida, onde a estagnação é a morte;
a roda posta na bandeira lembra a roda de uma carroça para aludir ao nomadismo cigano e sua
cor vermelha é tradicionalmente um símbolo da vida e da boa sorte, na crença dos povos
ciganos. (Imagem 1). Há ainda grupos ciganos que não reconhecem esta bandeira como
símbolo de sua etnia.
26
Não existe nada escrito sobre as regras a seguirem, porém quem é cigano sabem bem
quais são, pois os ensinamentos e as tradições da comunidade são passadas de forma oral de
geração para geração. Os filhos aprendem com os pais tudo o que tem que ser feito e o que
não deve ser feito também. É responsabilidade da mãe a educação das crianças do sexo
feminino e posta sobre ela toda e qualquer culpa, caso a filha quebre uma das regras.
universalmente falado por eles, o chibe5, que é uma linguagem própria e exclusiva das
comunidades ciganas, porém pelas comunidades adaptadas a seu modo.
Desde os tempos já bastantes antigos era comum nas famílias muito amigas
a celebração de um compromisso matrimonial quando os filhos eram bem
pequenos, crianças na verdade, tanto que este acordo chegava a ser firmado
quando as mulheres estavam grávidas. (SCHEPIS, 1996. p.79).
arte de negociar que é como vivem os Ciganos. As meninas acompanham a mãe para aprender
desde cedo todos os afazeres do lar e as regras de comportamento.
2.3.7 A criança cigana só tem o interesse em estudar até aprender a ler e escrever;
Geralmente quando criança se perde os interesses em estudar devido as suas andanças
e como dificilmente pegam declaração da escola, tem sempre que repetir o mesmo ano letivo,
e quando pegam declaração tem sempre que se adaptar as novas escolas e ter que fazer novos
amigos, o que é consecutivamente difícil devido à discriminação e o preconceito.
Na comunidade estudada, as ciganas saem da escola quando passam a serem
mocinhas, pois não podem conviver com os rapazes. As crianças só ficam na escola até
aprender a ler e escrever o rapazinho é por opção, mas a mocinha é por obediência aos pais.
Quando a menina vai ficando mocinha os pais tiram-na da escola para passar a aprender os
costumes e tradições da família e também por precaução para que não se desgarrem de seu
povo passando a querer viver como jurins6. Essa regra serve para ambos os sexos, porém se o
rapazinho se desvirtuar não sofrerá as mesmas consequências que sofrerá a mocinha.
2.3.8 Os ciganos tem mania de dobrar e guardar os lençóis todos os dias, devido os
muitos anos de nomadismo;
Segundo as entrevistadas, devido a tantas andanças os lençóis e roupas costumam ficar
sempre bem dobradas e arrumadas, pois nunca se sabem quando irão ter que se mudar daquele
lugar. Mesmo já tendo suas casas próprias não perderam o costume de ter sempre seus lençóis
e roupas bem dobradas e guardadas em baús. (Imagem 2).
os mais velhos os responsáveis por toda palavra de conscientização geral do seu povo, pois é a
palavra dos idosos que falam mais alto quando algum problema atinge a família.
2.3.14 Os ciganos gostam muito de ouro e é uma tradição usar dentes de ouro;
Os ciganos temiam serem roubados ou furtados, o que era muito raro, pois
uma das maneiras mais seguras de carregarem suas fortunas, ao menos uma
pequena parte dela, capaz de socorrê-los numa emergência era mandar
incrustar o ouro nos dentes. (SCHEPIS. 1996. p. 49).
2.3.15 Quando um casal é prometido, estes não podem conversar sozinhos, nem tão
pouco namorar;
As comunidades estudadas relata que, geralmente são prometidos ainda crianças e
desde então é ensinado aos noivos todo o ritual de comportamentos e preparação para o
casamento e como se casam muito precocemente, por volta dos 14 anos, eles não têm a
intenção de estarem juntos trocando intimidades, até mesmo por que, eles crescem juntos.
Porém ―se um morar longe do outro quando se encontrarem só poderá conversar sob a
supervisão de um adulto, de preferencia dos pais‖ (SILVANE, 52 – Delmiro Gouveia-AL,
2019).
32
2.3.16 A mulher Cigana não pode casar-se com um rapaz não cigano, mas o cigano
pode casar-se com uma mulher não Cigana;
Segundo as comunidades estudas, é de extrema importância os casamentos
acontecerem entre famílias, para assim, poderem garantir a continuação de sua linhagem e
para que com o passar do tempo à cultura não seja esquecida. Porém, já são aceitáveis os
homens da comunidade casar com uma mulher de outra cultura, no entanto existe uma grande
resistência e a jurin³, terá que adaptar-se às regras da comunidade e cultuar toda a tradição da
cultura cigana. Entretanto as regras para a mulher cigana é bem mais rígida e no caso de uma
paixão por um juron7 não será aceita em hipótese alguma, ela será deserdada da família caso
queira viver esse amor.
7
Juron: forma masculina de se referir a uma pessoa não cigano.
33
3 A CULTURA CALON
Para falarmos de cultura cigana, temos que nos dá conta de todos os aspectos que
envolvem esta cultura, como por exemplo, a arte, a música, a dança, as vestes, a comida, a
linguagem, a religião, os costumes matrimoniais e a vida familiar, a maneira como vivem e
como se relacionam socialmente. No entanto, na sociedade existem centenas de culturas
diferentes, por isso, a necessidade de utilizar o termo cultura. E cada uma delas incluem
milhões de pessoas que se conectam umas as outras pelo seu conjunto de normas e tradições
de cada comunidade.
De acordo com o antropólogo Geertz (1926), a cultura é formada por uma teia de
significados tecido pelo homem, significados estes que os homens dão as suas ações e a si
mesmo e que para se entender a cultura em sua totalidade é necessário ir a busca de seus
significados contidos nos atos, nos ritos, nas performances humanas e não apenas descrevê-
los, para que assim, possamos interpretar os fenômenos dessa teia de significados na tentativa
de atingir um entendimento sobre o que estes sinais significam para a comunidade em
questão. O conceito de cultura decorre de uma descrição compreensível de um conjunto de
fatores como a arte, a religião, a ideologia, a moralidade, as leis, o comportamento ensinado e
os acontecimentos sociais. ―Além de tudo, consiste no que quer que seja que alguém tem que
saber ou acreditar a fim de agir de uma forma aceita pelos seus membros‖ (p.8).
Neste sentido, o sociólogo Giddens (2005), afirma que:
ideia de um conjunto de normas que definem o que é válido, desejável e importante para sua
comunidade‖ (p. 40), e a adaptação às novas tecnologias é fundamental para definir o
comportamento desse grupo, bem como, os indivíduos lidam com a modernidade que cresce a
cada dia a seu redor.
Com as comunidades ciganas das cidades de Sátiro Dias-BA e Delmiro Gouveia-AL,
não é diferente, uma vez que, a casta Calon possui um conjunto de normas, que são
incontestáveis. Essas normas são fundamentais para definir o comportamento que refletem os
valores de seu grupo. São elas que moldam como os membros de seu grupo devem se
comportar dentro de seus limites.
É exatamente sobre os costumes e tradições da cultura cigana da casta Calon que
habitam as cidades de Sátiro Dias-BA e Delmiro Gouveia- AL, que iremos analisar ao longo
desse capítulo. As regras que regem a cultura Calon, as principais normas que moldam o
comportamento dos indivíduos de suas comunidades, como estes indivíduos lidam com a
modernidade que cresce diariamente ao seu redor podendo causar-lhes, ou não, fortes
impactos na mudança de comportamento de algumas pessoas de seu grupo, e quando isso
acontece, essas normas de comportamentos são alteradas de forma deliberada ou há
repressão? Finalmente traremos neste capítulo uma análise sobre as tradições e costumes das
comunidades estudadas de uma forma geral.
Segundo Guiddens (2005), as normas culturais são o que orientam os indivíduos de
uma comunidade perante as expectativas quanto à maneira de agir dentro e fora de seu grupo.
Os valores e normas variam muito conforme a cultura e a comunidade, por exemplo, na
cultura cigana da casta Calon das comunidades estudadas, não existe um estatuto escrito ou
documentado sobre essas normas de comportamento e valores centrais, no entanto, cada
indivíduo do seu grupo sabe quais são essas normas, pois todos os costumes tradicionais são
repassados de maneira oral e quando alguém as desobedece há sempre todo um ritual para
repreender e punir aquele que desobedeceu a regra em questão.
Com toda essa tecnologia moderna que cresce em nossa volta, vivemos uma
época de mudanças e desenvolvimento das ideias, a partir dos meios de
informação e isso reflete nos valores tradicionais fazendo com que os valores
culturais entrem em conflito. (GIDDENS. 2005. p. 38).
comunidade cigana e o povo cigano sabe lidar muito bem com essas
transformações da modernidade, por isso algumas vezes é indispensável
abrir exceções em algumas dessas normas e adaptá-las, porém sem perder
seus valores, pois o povo cigano ainda zela muito pelo nome e honra de sua
família. (DENISE, 41 – Sátiro Dias-BA, 2019).
comportam de maneira afrontosa sim diante as muitas imposições dos mandamentos ciganos,
no entanto, procuram a melhor forma para contestá-las sem que venham sofrer punições.
3.1.1 O dialeto
O dialeto utilizado como código nas comunidades estudadas se chama chibe. Esses
ciganos possuem uma linguagem própria e no que envolve a questão do ensino bilíngue para
seus filhos, as entrevistadas relatam que o cigano transmite seu dialeto de maneira oral
repassando sua linguagem de geração para geração. Ainda de acordo com a entrevistada, ―não
existe uma regra de quando e como ensinar nosso dialeto ás crianças, pois elas aprendem de
maneira natural na convivência do dia a dia com os mais velhos e quando há dúvidas elas
perguntam‖. (DENISE, 41 – Sátiro Dias-BA, 2019).
A entrevistada ainda relata que:
Segundo Schepis (1996), O dialeto é o que garante a proteção e união dos grupos
ciganos, por ter preservado a tradição de usar seu dialeto como códigos de uma linguagem
própria são o que garante o reconhecimento entre eles, quando um indivíduo encontra outro
somente terão certeza que ambos são ciganos e pertencentes da mesma linhagem de casta se
falar o mesmo dialeto. Se não falarem o mesmo dialeto o cigano saberá que está diante de um
trapaceiro, assim sendo um possível inimigo, pois é permanentemente proibido ensinar o
dialeto cigano para um não cigano porque estará colocando em risco a segurança de toda a
comunidade.
Moonen (1993) relata que, do ponto de vista antropológico, os ciganos constituem um
grupo étnico diferenciado, com valores culturais próprios e que fala, inclusive, uma língua
própria cuja origem remonta ao sânscrito falado na Índia há cerca de mil anos.
De acordo com Schepis (1996), se os ciganos tivessem se originado e permanecido na
Índia teríamos no dialeto somente os caracteres do sânscrito, mas como existem ciganos em
toda parte do mundo os idiomas foram se misturando e adotando caracteres da escrita russa,
38
egípcia, grega, árabe entre outras. A língua cigana é uma língua ágrafa, sem documentação e
sem forma escrita, no entanto não possui uma apresentação gráfica definida para que se possa
garantir sua perpetuação e somente com a transmissão oral é que se pode garantir a
conservação do dialeto dentro das comunidades. Dessa forma, assim como os costumes e
valores de sua comunidade, o dialeto também é repassado de uma geração para outra.
Diferentemente dos índios, que garantiram o direito ao ensino bilíngue nas escolas de
primeiro grau contratando professores indígenas e oficializando sua linguagem no mundo
todo, os grupos ciganos da casta Calon das comunidades estudadas não podem e não querem
oficializar seu dialeto, pois são códigos próprios de cada comunidade e adaptados da sua
maneira para poder fugir de perseguições de outros indivíduos não ciganos e até mesmo das
autoridades locais onde residem.
3.1.2 A dança
A música é a de seus instrumentos, pelo bater das palmas das mãos, eles
cantam e dançam sem obedecer a uma coreografia ou regra rígida ou regras
exatas e a alma suplanta toda e qualquer norma ou regra. Portanto, não
podemos falar que existe uma dança cigana, mas uma forma de dançar do
povo cigano, que é leve, livre, criativa, insinuante e cheia de ardor e calor
humano. (SCHEPIS. 1996. p. 58).
Segundo Shepis (1996), na verdade, não poderiam chamar de dança cigana, mas sim o
jeito cigano de dançar, pois o povo cigano trás na dança uma das maneiras mais bela e
simples de expressar seu amor pela vida, com seus passos fortes no chão, o rodar de suas
saias, do mexer suas cabeças e mãos, um jeito contagiante e único de dançar. As mulheres
ciganas quando dançam nas cerimônias é de forma recatada e não mostram muito o corpo,
não volteiam muito o corpo e quando fazem os movimentos circulares protegem bem as
pernas numa execução bastante inteligente.
Schepis (1996), ainda afirma que a dança feminina cigana tem muita semelhança com
a dança indiana e a árabe, a mulher conquista na dança pelo olhar e pelo movimento de seu
corpo, nos movimentos da inclinação da cabeça para trás é o que chama a atenção para os
cabelos geralmente soltos e longos, pois as mulheres não cortam os seus cabelos. A dança
representa a hora da conquista, pois a habilidade da sedução reside no girar insinuante e
caprichoso dos punhos, mãos e dedos, do brilho de seu olhar marcante e fixo que tudo se junta
numa mistura de um verdadeiro prazer pela dança. Se a mulher souber dançar, o seu
pretendente conclui que ela saberá cozinhar, cuidar da casa e dos futuros filhos. ―A cigana não
39
deve dançar por obrigação, mas pelo prazer da dança e esta condição é exigida para que ela
possa ser considerada completa e de valor, inclusive para ser escolhida para um bom
casamento‖ (p. 59).
Porém, esse costume foi se perdendo com o tempo devido à moça, por timidez ou
rebeldia, se recusar a dançar para o pretendente, sendo assim, a dança não conseguiu
sobreviver às transformações do tempo na comunidade estudada, pois essa recusa foi se
tornando cada vez mais comum. Essas danças geralmente aconteciam nas festas de casamento
quando acontece o primeiro contato entre o rapaz e moça, e depois o acordo acontece entre os
pais dos pretendentes. Contudo, ―isso só acontece se os pretendentes não forem prometidos
ainda crianças, pois é o mais comum nas comunidades‖. (DENISE, 41 – Sátiro Dias-BA,
2019). Assim como muitas outras coisas da cultura cigana foram esquecidas ou adaptadas aos
costumes e preceitos ciganos, a dança também sofreu suas consequências, dessa forma, a
dança típica não conseguiu sobreviver às transformações do tempo na comunidade.
As entrevistadas relatam que por terem abolido totalmente a dança de seus costumes e
por adotarem o noivado entre as famílias desde a infância – quando nascem – não se recordam
dos passos de danças e aderiram à dança da sociedade atual como dança oficial da
comunidade.
3.1.3 A música
O nomadismo trouxe muitos conhecimentos para os povos ciganos o que fez conhecer
diversas formas de atividades, podendo assim, desenvolver suas inúmeras habilidades para o
trabalho e dessa forma adotaram diferentes fontes de conhecimento para poder garantir seu
sustento diariamente. Uma dessas habilidades foi descobrir o dom de cantar e usar a música
como fonte de renda.
Segundo Shepis (1996) e Liechocki (1999), o cigano adquire o gosto pela música
sozinho e aprende a cantar e tocar somente por ouvir a nota musical e como passaram a fixar
moradia nos lugares onde acampavam foram limitando suas andanças tornando-se aos poucos
sedentários e quem gostava de ouvir suas cantigas passaram a pagar por elas e logo estavam
se apresentando em eventos pelas cidades. Como a música levou o conhecimento das
comunidades para toda a sociedade local o cigano começou a introduzirem-se socialmente e
logo as mulheres foram conseguindo vender seus artesanatos, apresentar sua dança em
eventos pela cidade e a ganhar dinheiro pela leitura das cartas e da palma das mãos, que é um
ato devocional à fé cigana.
40
De acordo com Schepis (1996), a música como forma de trabalho foi o pontapé inicial
e crucial para que pudesse diminuir as inúmeras perseguições pelas quais os povos ciganos
sofreram, por centenas de anos, pelas autoridades locais, a música foi também o principal
responsável pela a aceitação do povo cigano na sociedade, pois levou a conhecimento de
todos o jeito simples e honesto de se viver desse povo procurando manter sua dignidade e
honradez, pois antes, sua fama eram de ladrões de cavalos, de galinhas e de crianças pelos má
informados. ―É claro que existem aqueles que fogem a lei, mas estes são julgados e punidos
pelos Tribunais de Justiça Ciganos‖ (p. 34).
Os ciganos sofreram mais do que possamos imaginar para poder levar suas crenças e
seus costumes ao conhecimento da sociedade, e podemos dizer que, ainda lutam por aceitação
nos dias atuais. No entanto, não podemos deixar de citar que, todos os povos e etnias nas
diversas esferas da sociedade tropeçam isso não é característica de seu povo, mas do ser
humano que é falho e imperfeito. É claro que dentro da população cigana não é diferente e
pode existir aquele que necessita da justiça dos homens para aprender suas lições e corrigi-las,
porém isso não os faz inferior a ponto de merecer ser tão discriminado como foram e ainda
são.
3.1.4 As vestes;
De acordo com Shepis (1996), a vestimenta de uma cigana representa o aspecto mais
importante de sua cultura, já que são as vetes ciganas a marca registrada desse povo quando se
fala da imagem da cultura cigana. Uma vez que, sempre vem à mente a figura da mulher com
seu vestido longo cheio de enfeites. (Imagem 4 e 7).
Além de todo o seu significado próprio das vestes dentro dos costumes ciganos, as
vestes traduzem toda a obediência às tradições do passado e uma das formas de mantê-las
vivas ao longo do tempo.
mulheres é o forte colorido presente nas diversas peças. As jóias são usadas
por ambos os sexos, cordões de ouro, colares, pulseiras, anéis fazem parte da
indumentária cigana como sinal de poderio econômico, como adorno e como
elementos de proteção. A vestimenta do homem também é bem cuidada,
compondo um visual elegante e aparatoso. Camisas bordadas e de mangas
largas, calças confortáveis e botas são complementadas por largos cinturões
ou longas faixas de tecido coloridos presos à cintura. Alguns usam chapelões
de aba larga e lenços no pescoço a moda cowboy. As peças de ouro
finalizam a figura masculina. (SHEPIS, 1996. p. 55).
Ainda sobre a ótica de Schepis (1996), os ciganos são muito supersticiosos e acreditam
que os metais nobres trazem consigo o poder de atrair riqueza e prosperidade e de livrar dos
males que os rodeiam e por isso, grifam talismãs em suas joias para sua proteção e para atrair
a boa sorte. Ela ainda sobrepõe que as cores também trazem seu significado simbólico e são
aplicados tanto nas vestes femininas como na masculina.
De acordo com Denise, 41 – Sátiro Dias-BA, entrevistada para este trabalho, ela
afirma que:
As vestes ciganas são o que as tornam de fato diferente das demais mulheres
da sociedade atual, pois é através de sua vestimenta que possibilitam serem
identificadas como ciganas nos ambientes frequentados o que as constrange
diante do grande preconceito da sociedade fazendo com que a maioria delas,
por temerem agressões físicas e verbais, optar por abrir mão de sua maneira
42
Shepis (1996) pontua, que o povo cigano presa muito por sua história e lutam para
manter viva suas tradições e seus costumes, inclusive no que diz respeito ás vestimentas das
mulheres da comunidade, pois a desobediência da parte da mulher é considerada muito grave
e a questão da negação de sua identidade é mais séria do que se imagina e pode trazer
consequências e castigos severos.
A entrevistada Denise, 42 – Sátiro Dias-BA, relata que ela usa as vestes ciganas
somente quando vai às festas nas casas dos parentes ou visita-los, pois foi preciso se adaptar
as vestes da comunidade local para interagir socialmente, podendo assim fugir do preconceito
dos não ciganos e dessa forma viver em harmonia com os demais membros da comunidade
fugindo dos olhares curiosos que causam grande desconforto.
Denise, 41 – Sátiro Dias-BA, acrescenta que não se recorda de nenhum tipo de
agressão verbal no tempo que usavam as vestes, porém sempre notou os olhares curiosos por
onde passava.
Neste caso não houve repressão nem julgamento diante do seu comportamento e
negação de sua identidade, pois a família de seu esposo, com a qual vive atualmente, também
adotaram essas adaptações para serem mais bem aceitos na sociedade e foi uma decisão de
senso comum, porém ela somente abdicou de suas vestes por causa do esposo, foi um pedido
dele, pois ela relata ainda que:
A discriminação existe, porém não é pela roupa que usamos que somos
discriminados é pelo fato de sermos ciganos, pois a família do meu esposo
não usam as vestes ciganas e também sofrem discriminação quando os
membros da comunidade descobrem de sua verdadeira etnia, a forma de
tratamento muda como da água para o vinho. (DENISE, 41 – Sátiro Dias-
BA, 2019).
Procuramos trazer neste trabalho uma discussão sobre papel da mulher na sociedade,
bem como, ela se consagrou dentro da história cultural com o objetivo de explanar e
compreender os debates ligados aos discursos, subjetividades e relações de poder no campo
das questões de gênero, identificando as modificações teóricas pelas quais a história passou
nos últimos tempos no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade.
Desde a antiguidade as mulheres aparecem na história em diferentes tempos e lugares
sempre como submissa ao homem, sofrendo pelos mesmos tipos de preconceitos de diversas
maneiras, porém sempre inferior ao homem. Assim como conta Belo (2014), em sua obra –
Boudica e as Facetas Femininas ao Longo do Tempo: nacionalismo, feminismo, memória e
poder, ―em todas as histórias, as mulheres de diferentes locais e tempos, sofreram com o
preconceito de diversos modos, suas figuras foram prejudicadas e, na maioria das vezes,
colocadas de forma submissa aos homens‖ (p. 4).
Com base nos estudos teóricos para a presente pesquisa, nota-se uma grande
inferiorização da mulher por diversos autores, até mesmos em algumas obras bem atuais, em
textos contemporâneos também conseguimos perceber essa inferiorização até mesmo pelo
adjetivo que é dada a uma mulher sempre que ela enfrenta alguma situação em defesa de seus
direitos, geralmente ela é chamada de mulher masculinizada, afrontosa ou quer ser homem.
Porém as mulheres vêm se destacando desde o inicio do Império Romano, ganhando mais
independência. Belo (2014), cita os casos de Boudica, viúva de Prasutago, e de Lívia, mulher
de Augusto. Esta última difundiu uma tendência de que as mulheres de família imperial
poderiam desfrutar de considerável influência por meio de um representante. Boudica foi
muito respeitada na referida época, pois liderou um exército contra o Império Romano, no
século I d.C., sua força veio surgir de um episódio após a morte de seu marido, ela foi
açoitada e suas filhas violentadas por se recusar a entregar suas terras aos romanos. Essa
afronta foi ganhando repercussão e significou um movimento muito comum nos reinos na
época do Império Romano e cada vez mais a mulher foi se destacando e ganhando seu espaço,
assim passou a ter interferência nas decisões políticas. E desde então, a mulher veio
conquistando cada vez mais o seu espaço.
44
As mulheres tinham poucas chances de herança, visto que esse direito era
privilégio ou vontade deixados expressamente pelo pai, não tendo as
mulheres nenhum direito a posses sucessórias. O Direito antigo seguiu
considerando a mulher como um ser inferior/menor/sem importância para a
cidade, sem direito a posses, sem liberdades, sem lar, sem religião. Nessa
situação, para tudo precisava de um chefe ou tutor, sendo sempre
subordinada e oprimida. Assim, também o direito grego, o romano e o hindu,
por exemplo, concordam em considerar a mulher como ser menor, sem
importância, o que se estendia, também, aos filhos, uma vez que todo o
patrimônio pertencia ao marido ou ao pai, incluindo, ainda, o dote da mulher
que, do mesmo modo, pertencia, sem reservas, ao marido. Este exercia poder
sobre os bens dotais, não somente direitos de administrador, mas de
proprietário. (HEFFEL. 2016. p. 3).
Segundo disserta Heffel (2016), notamos que as primeiras leis da moral doméstica
faziam a mulher ter seu homem como referência ao respeito seguindo a deveres rigorosos e
acreditavam que o não cumprimento trazia consequências mais rigorosas nessa vida e na
outra, pois esta crença era construída com base na religião constituída com caráter de igreja,
pois o Estado foi fundado com base nessa crença, contudo, a igreja ganhou sua onipotência e
absolutismo imperial impondo a seus membros uma subordinação e dependência não
suportando liberdades individuais, e assim, os cidadãos ficavam submetidos aos cuidados da
cidade, uma vez que a religião deu origem ao Estado o Estado, por sua vez, teria que sustentar
a religião por respeito, obediência e gratidão.
Essa doutrinação aos cidadãos do Estado se dava por acreditarem que a mulher é o
fruto do pecado e era considerada bruxa devido a seu poder de sedução, contudo poderia
45
induzir o homem ao erro, isso explica a atitude da Igreja na Idade Média, no século XV, que
instituiu a Santa Inquisição efetivando milhares de execuções de mulheres, no evento que
ficou conhecido como Caça às Bruxas.
Heffel (2016) usa uma referência de Astelarra (2009), para explicar essa teoria e logo
acrescenta:
Ainda de acordo com Heffel (2016), com a chegada do Renascimento ocorreu uma
mudança do pensamento feminino em relação a sua visão de mundo trazendo uma
ressignificação do feminino e da beleza da mulher, sendo que ela alcançou proporções de
perfeição, beleza e sabedoria. ―Essa época, então, foi o terreno fértil para o surgimento de
mulheres notáveis, de personalidade forte, que lutavam com as armas que tinham contra a
exclusão social das mulheres, e por sua inserção no espaço público‖ (p.4). E a partir desse
momento grupos de mulheres, empoderadas de sabedoria, saíram ás ruas a lutar por seus
direitos. Olympe de Gouges redigiu em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã, que é inclusiva, igualitária e que prevê a presença de homens e mulheres na sociedade
e na política de forma equilibrada e justa. Logo foi surgindo diversos movimentos feministas
na luta por igualdade e libertação feminina.
Na percepção de Perrot (1994), escrever a história das mulheres é uma grande
transformação que trouxe um amplo significado para o mundo moderno, pois a história das
mulheres trás um vínculo difícil à sua percepção e assim, foi criada a teoria de que:
As mulheres têm uma história e não são apenas destinadas à reprodução, que
elas são agentes históricos e possuem uma historicidade relativa às ações do
seu cotidiano, uma historicidade das relações entre os sexos, e escrever uma
história das mulheres é um empreendimento relativamente novo e uma
profunda transformação. (PERROT. 1994. p.9).
oportunidades as quais, talvez, elas mesmas, não tenham conhecimento de sua importância na
sociedade e fazê-las superar seu passado de submissão.
Escrever a história dessas mulheres é também, dá-lhes a oportunidade de descobrir,
criar e construir uma nova realidade de sua história, além de tudo significa criticar a própria
estrutura de um relato apresentado como universal, nas próprias palavras que o constituem,
não somente para deixar claro os vazios e as conexões ausentes, mas para sugerir outra leitura
possível, a fim de trazer questionamentos sobre o sentido, as dificuldades, os efeitos causados
pelas mulheres e sua importância na história em diversos espaços e tempos.
No conceito da autora Tilly (1994), em seu artigo – Gênero, História das Mulheres e
História Social, ela concorda com a ideia de Perrot (1994), quando destaca a importância do
movimento feminista, pois foram o ponto de partida que fez surgir um novo conceito no
campo do conhecimento historiográfico tendo como objeto de estudo as mulheres, tornando-
as sujeitos da história, afirmando que, ―a história das mulheres certamente contribuiu para
identificar e expandir nossa compreensão sobre novos fatos do passado, para incrementar
nossos conhecimentos históricos‖ (p. 34).
Ao mesmo tempo, segundo Tilly (1994), a história das mulheres trás uma distinção
que a difere particularmente das outras, escrever uma história de luta e sobrevivência para
conquistar seu lugar nos diferentes lugares e espaço. A história das mulheres foi escrita a
partir de convicções de mulheres feministas que veio a formar um movimento social na luta
pela igualdade de gêneros.
Segundo Tilly (1994), toda história é herdeira de um contexto político, mas
relativamente poucas histórias têm uma ligação tão forte com um programa de transformação
e de ação como a história das mulheres e o movimento dos anos de 1970 e 1980. Partindo
desse conceito, a autora transformou a definição do que é história de Block (2001), e ajustou a
frase para definir a história das mulheres como ―a ciência das mulheres no tempo‖. (p. 30).
Tilly (1994), entende que:
Ainda que definidas pelo sexo, as mulheres são algo mais do que uma
categoria biológica; elas existem socialmente e compreendem pessoas do
sexo feminino de diferentes idades, de diferentes situações familiares,
pertencentes a diferentes classes sociais, nações e comunidades; suas vidas
são modeladas por diferentes regras sociais e costumes, em um meio no qual
se configuram crenças e opiniões decorrentes de estruturas de poder. Mas,
sobretudo porque, para o historiador, em função do processo permanente de
estruturação social, assim denominado por Philip Abrams, as mulheres
vivem e atuam no tempo. (TILLY. 1994. p. 31).
47
A luta pela causa das mulheres começou com três objetivos, são eles:
Nesse sentido, ainda sobre o olhar histórico de Tilly (1994), ―o feminismo como
ideologia é acessível tanto ao homem como as mulheres, mesmo que muitos ainda não
aceitem‖ (p. 32). É difícil determinar quem é ou não feminista mesmo concordando com a
ideologia do movimento, mas com o efeito que esse movimento alcançou, tendo seus critérios
bem definidos, essa negação a aceitação do movimento serviu de obstáculo potencial à
legitimação da história das mulheres como um campo da história, mas foi com muita força e
determinação que a união dos movimentos feministas não deixou que nada impedisse sua luta
em busca de institucionalização e reconhecimento, ocasionando uma transformação estrutural
de grande escala na história social para poder abranger diversos campos, como: a demografia
histórica para estudar os dados do estado civil; as ocupações e as migrações; a história
econômica; a história política para os conceitos relativos ao poder, e a mais importante, a
história social para os processos de transformação estrutural em grande escala, como a
profissionalização, a burocratização e a urbanização. Dessa forma a institucionalização dos
direitos civis dessas mulheres fez nascer uma nova maneira de se fazer e de se interpretar
história, bem como, trouxe uma grande consciência em massa sobre a história das idéias para
os métodos de crítica dos textos.
3.3 O Papel da Mulher nas Comunidades Ciganas Calon e Sua Breve Passagem Pela
Escola
como escolhiam seus parceiros sexuais, fixados por uma tradição baseada em relações
heterossexuais. As discussões foram levadas para o campo teórico, com análises das
variedades e comportamentos pessoais adquiridos ao longo da História.
Dessa forma, este estudo leva em consideração o fato de que as representações dessas
mulheres no passado podem influenciar a maneira como as mulheres da atualidade vivem
como são vistas e a maneira de como são tratadas, pois as transformações que estão sendo
vivenciadas nos dias atuais, em relação aos estudos das mulheres e sobre os estudos de
gênero, podem tomar novos padrões de compreensão delas e da sexualidade de uma forma
geral, levando-se em conta as problemáticas atuais, as quais arrebatam para diferentes olhares
culturais sobre o mundo em seu passado.
A questão de gênero a qual procuramos abordar neste estudo foi mais para o lado de
uma construção sócio histórica, fruto das relações que os indivíduos estabelecem no seu
contexto de grupos sociais de inclusão, dessa forma, trabalhemos para trazer a discussão e
para a compreensão a maneira regrada e limitada dessas mulheres que é indispensável à
discussão para a conclusão desse trabalho e, sendo assim, procuramos nessa pesquisa discutir
os valores e significados da cultura cigana para essas mulheres, pois a identidade cigana não
deve ser entendida como algo imutável, individual e interiorizado, mas como um processo em
constante mudança e relacional, fruto de relações intergrupais e dependente das boas relações
que estão sempre a procura para poder interagir em sociedade como cidadãos.
Buscamos investigar e trazer as principais limitações do processo de construção da
identidade feminina na comunidade cigana nas diferentes etapas da vida, na tentativa de
compreender como lidam com as mudanças ao seu redor, bem como, conhecer as práticas
produzidas nas relações estabelecidas entre os homens e mulheres de seu grupo. No entanto,
as discussões sobre as relações de gênero da cultura cigana são de fundamental importância,
uma vez que, esse aspecto molda as divisões sociais dentro do seu grupo e são organizados a
partir desse critério. A mulher é digna de toda admiração e respeito, mas desprovida de
autoridade diante do homem com exceção da matriarca por quem os ciganos exercem um
profundo respeito, pois são os mais velhos que trazem consigo toda a sabedoria e são
considerados por todos da comunidade como representantes da sabedoria.
Schepis (1996), trás em sua obra a questão da maternidade na comunidade cigana
Calon, a maternidade é estimulada e incentivada pelos mais velhos, pois somente a mulher é
responsável pela garantia da continuação e a perpetuação da etnia cigana. A cada nascimento
eles sentem que estará garantida a continuidade dos costumes e da comunidade cigana.
49
8
Chris Romani: tribunal de justiça cigano. Formado por ciganos idosos ou pelos mais velhos do grupo,
quem julga os infratores. (SCHEPIS, 1996. p. 35). Tribunal de justiça cigano, onde o erro do jovem infrator é
posto sobre toda a comunidade onde as pessoas mais velhas do grupo, o patriarca e a matriarca, quem julgarão e
decidirão sua penitência. (Liechocki, 1999. p. 44). O Chris Romani foi reconhecido pela ONU no ano de 1979.
Como o Tribunal de Justiça Cigano.
50
costumes da sociedade dominante onde firmam moradia, pelo contrário, lutam contra isso,
para que seus costumes não fiquem esquecidos, por receio de que suas tradições se percam
com essa mistura de etnias, uma vez que sua identidade não está no indivíduo, mas no grupo,
e se um se desviar do bando este poderá ser uma má influência para os demais e poderá causar
grandes conflitos entre famílias. Entretanto, o povo cigano tenta sempre fazer-se lembrar de
levar consecutivamente em consideração suas organizações internacionais e colocar sempre
em primeiro lugar seus valores, pois o valor de sua cultura vem de suas origens ancestrais e
uma vez que se misturam entre os demais cidadãos correm o risco de esses valores serem
abandonados e até mesmo esquecidos nessa busca por uma aceitação, e esta procura por
realização pessoal e profissional é sem dúvida o que os povos ciganos mais temem. Até
mesmo porque, uma vez querendo passar despercebido na sociedade dominante onde reside, é
uma forma de negação da sua verdadeira etnia, o que faz agir automaticamente com
desobediência.
Estes que buscam sua realização pessoal e/ou profissional ao invés de serem vistos
como exemplos, geralmente, são considerados rebeldes e desviados dentro dos costumes
ciganos, a maioria são deserdados pela própria família, uma vez que, a desobediência é
considerada, pelos grupos ciganos, a regra mais grave a ser quebrada e esta não tem perdão, já
que os ciganos têm seus destinos escolhidos pelos seus pais, e decididos logo na sua infância.
Como podemos perceber, por mais que os povos ciganos se esforcem para quebrar
essas barreiras, que os separam eles sempre serão rotulados inferiores pelos demais povos.
Diante disso, eles procuram não se preocupar com essa incompreensão e tentam resistir e
sobreviver como podem na maneira que o ambiente consentir, procurando sempre se adaptar
as normas que lhes são impostas pelo meio em que estão inseridos.
De acordo com Silvane, 52 – Delmiro Gouveia-AL, os ciganos não se prendem ao que
os outros povos pensam deles. Eles não procuram justificar nem explicar seu modo de vida
para os demais membros da sociedade, pois os povos ciganos não dá confiança a qualquer
pessoa e as poucas vezes que deram confiança a algum jurom foram roubados e traídos. É por
este motivo que os ciganos não procuram se misturar com os demais povos do meio em que
estão inseridos, eles não confiam por medo de que aconteça novamente e que sua andança
nunca tenha fim, porém eles deixaram bem claro que se alguém quiser tentar compreender a
sua forma simples de viver podem chegar a sua casa que serão bem recebidos.
A entrevistada Silvane, 52 – Delmiro Gouveia, ainda relata que um dos motivos pelo
qual os grupos ciganos casam entre famílias – desde muitos séculos – é a falta de confiança no
não cigano, pois precisam de que a pessoa seja 100% confiável para assim trazer para dentro
de sua comunidade, e por terem sido, muitas vezes roubados pelo o não cigano, procuram
evitar a todo custo essa miscigenação. Por isso buscam fazer a celebração de um compromisso
55
matrimonial quando seus filhos ainda são bem pequenos, ou seja, na infância, tanto que este
acordo chega a ser firmado até mesmo quando as mulheres estavam grávidas. Dessa forma, no
futuro, as famílias estariam unidas e os netos e netas seriam comuns às duas famílias, um puro
sangue cigano. Eles sabem que uma vez que abrir esses limites para se misturarem com os não
ciganos a miscigenação será inevitável, fazendo com que percam a pureza de seus costumes e
tradições por adotarem novos hábitos diferenciados, consequência da união das etnias e
correndo sérios riscos de deixarem para trás seus princípios e valores tradicionais que
acabarão por destruir e matar a cultura cigana.
9
Jurens: não cigano. No dialeto cigano das comunidades estudadas.
56
Segundo Schepis (1996), como manda a tradição, o casal depois de sua união em
matrimônio tem que passar a viver, por alguns anos, com os familiares do noivo, isso para que
a jovem esposa possa se adaptar à sua nova família, aprendendo todos os gostos e hábitos de
seu marido. Ela deverá tratar os sogros como sua verdadeira família, na verdade como pai e
mãe, em troca serão tratados como uma legítima filha. Deverá responder obedientemente sua
sogra e seu sogro, além de seu esposo, e não se fazer ausente em nenhum momento
principalmente nos casos de doença ou por ocasião de velhice ―findo o prazo para a adaptação
da nova esposa e compreendendo os familiares do novo marido, que eles estão aptos para
serem independentes, ou seja, viver por conta própria. São liberados para habituar-se a novos
rumos os quais desejarem‖ (p. 80).
Contudo, o pai da noiva tem que garantir que sua filha é virgem, esta é a condição
principal para que um casamento aconteça e seja bem sucedido. Nessa hora a mãe da moça é
convidada a fazer-se presente no ambiente para dar a sua palavra, que a sua filha é virgem.
Após o acordo é feito uma reunião entre todos os homens da comunidade será feita para
relatar qual foi o acordo feito entre as famílias. E a partir deste momento haverá uma data
marcada para os noivos se conhecerem, então ele irá presenteá-la com o anel de casamento,
entre outros presentes, caso tenha ficado acordado. Após o ritual do noivado, como de
costume, as duas comunidades fazem uma grande festa para comemorar a união entre as
famílias.
As entrevistadas ainda relatam que as maiorias dos casamentos em sua comunidade
são realizadas sem a exigência desse ritual do acordo de casamento, pois os pretendentes são
parentes muito próximos, são prometidos ainda na infância, moram na mesma comunidade,
eles crescem juntos, e o acordo de casamento formal não é exigido da mesma forma, bem
como acontece, quando os noivos são de comunidades diferentes, pois a confiança é mútua
entre famílias e o acordo do dote também é diferente, pois os pais dos pretendentes dividem
tudo já que os mesmos cresceram financeiramente juntos. O acordo é feito ainda na infância e
os noivos se preparam e aprendem a convivência com os sogros naturalmente, sem todo
aquele ritual de ensinamentos e reuniões para discussão sobre entrega de anel de compromisso
e cerimônia de noivado.
57
Luana, 22 – Sátiro Dias-BA, recordando o seu casamento aos 14 anos de idade, nos
conta que após um mês descobriu que estava grávida. Sua filha hoje tem 9 anos de idade.
Ainda segundo a entrevistada, na cultura cigana da casta Calon da comunidade de
Sátiro Dias-BA, a chegada do casamento é a fase adulta da mulher, não importa que idade ela
tenha. Após o casamento, a mulher tem, como por obrigação, ter um filho o mais rápido
possível, pois para o povo cigano, o filho é a continuidade da sua família e quando seus pais
morrem cabe a ele dá continuidade a sua história. Esse processo, assim se repete durante as
próximas gerações, feito um círculo que nunca para de girar.
A entrevistada Denise, 41 – Sátiro Dias-BA, relatou a história de seu
empoderamento10 e como foi todo o processo até chegar a seus pais e dizer que se recusava a
se casar com aquele pretendente.
Desde os meus sete anos de idade já era malcriada com quem viesse falar do
nosso casamento, e deixava bem claro que eu não iria me casar com ele
quando eu crescesse. Meus pais, por sua vez, não rebatiam as minhas
resistências ao noivado e recebia de forma muito tranquila as minhas
pretensões quando eu falava sobre o fim do meu noivado, sempre aceitou a
não me forçar a um casamento contra a minha vontade. Porém para os pais
do meu pretendente, essa minha recusa era um ato de rebeldia o que os
10
Empoderamento: neste sentido, implica na conquista da liberdade de livre escolha, avanço e superação do
estado de subordinação. (Valoura, L. D. (2005/2006). Paulo Freire, o educador brasileiro autor do termo
empoderamento, em seu sentido transformado. Recuperado em 26 janeiro, 2011, de Instituto Paulo Freire:
http://www.paulofreire.org/pub/Crpf/CrpfAcervo000120/Paulo Freire e o conceito de empoderamento.pdf).
58
Casei-me aos 20 anos de idade com o meu escolhido, com a permissão dos
meus pais, eles concordaram com a minha escolha. No entanto, se meus pais
não aceitassem o rapaz que eu escolhi para me casar, o nosso casamento não
teria como ter acontecido. De toda forma, mesmo com todo empoderamento,
só nos casamos com quem os nossos pais querem. E aos 20 anos na cultura
cigana a moça já está ficando pra titia. Eles tinham que me casar logo e do
noivado ao casamento foi um período de apenas seis meses. (DENISE, 41 –
Sátiro Dias-BA, 2019).
Foi amor à primeira vista. Houve uma confusão entre os ciganos da minha
família com os da comunidade vizinha na cidade de Lagoa do Ouro – PE, e
minha família teve que sair às pressas da cidade para fugir da perseguição
dos policiais e procuramos refúgio na cidade do Inhapi–AL, na comunidade
de alguns primos do meu pai Moacir Ferraz. Quando chegamos à cidade a
primeira pessoa que percebo em minha vista foi ele e o coração bateu forte.
Porém ele estava prometido a outra cigana de outra comunidade, mas a irmã
do mesmo se negou a casar-se com o irmão dessa moça a qual ele estava
prometido e com raiva os pais da noiva desfizeram o contrato de casamento,
pois alegaram que só casaria a filha se Silvana, a irmã do meu amado
Aeronildo, casasse com o filho dele para realizar dois casamentos na mesma
família, e Silvana se recusou e as famílias cancelaram o acordo. Ao desfazer
o noivado, Aeronildo então, demonstrou interesse por mim e fez um
comentário com meu primo Ivanez, o qual fez a ponte para que pudéssemos
conversar debaixo de uma árvore e então ele me pediu em casamento.
Combinamos então, que eu iria esperar ele falar com meu pai. Alguns dias
depois meu tio tentou fazer o acordo com meu pai em nome do pai dele e
meu pai recusou dizendo que eu era muito nova pra casar. Nesse momento a
tristeza tomou conta de nós dois. Alguns dias se passaram e falei a minha
mãe do meu interesse por aquele rapaz e ela enfrentou meu pai dizendo que
íamos se unir em matrimônio sim, mesmo contra a vontade dele. E então
meus pais procuraram os pais de Aeronildo para fazermos o acordo de
casamento e todo o ritual de noivado. Após 6 meses nos casamos na cidade
do Inhapi, no ano de 1989 (Imagem 10), com a benção do padre Eraldo, o
atual prefeito de Delmiro Gouveia. Hoje temos 30 anos de casados, quatro
filhos e uma netinha. (SILVANE, 52 – Delmiro Gouveia-AL, 2019).
Eu tinha 14 anos quando meu pai escolheu meu noivo, este já gostava de
mim e falou de seu interesse em casar comigo para meu pai. Porém, não
pensava em casar, tinha vontade de estudar, fazer faculdade e trabalhar. Mas
meus pais queriam muito o nosso casamento, até mesmo porque ele é
sobrinho de meu pai. Porém o pai dele sempre se negou a aceitar os
sentimentos dele por mim e foi por causa disso, que ele procurou
primeiramente meu pai para falar dos seus sentimentos e pediu para tentar
convencer o pai dele a aceitar o casamento. Então meu pai e minha mãe
foram até a casa dos pais dele e fizeram a proposta, tudo isso sem que eu
soubesse de nada, não quiseram saber minha opinião sobre o assunto. O pai
dele rejeitou a proposta e disse que o filho dele iria se casar com uma jurim,
60
pois ele tinha uma namorada, já há algum tempo e para evitar briga na
família, meu tio, o pai dele, foi embora para o Inhapi. Mas ele não desistiu e
ligava todos os dias para minha mãe, dizendo o quanto que estava
inconformado e não mais falava com o pai. Até que um dia ele resolveu vir
embora para Delmiro e largou os pais em Inhapi, minha mãe combinou com
ele para ficar na casa de minha vó. Tudo sem o meu conhecimento. Neste
momento ele começou a andar muito em minha casa foi falando aos poucos
dos seus sentimentos por mim, até que um dia me pediu em casamento. Eu
recusei. Quando ele foi embora, meus pais começaram a discutir comigo por
causa da minha recusa, e ainda me deram uns tapas. Eu nunca tinha
apanhado de meu pai e foi então que eu percebi que eu seria obrigada a
aceitar a minha sina e cumprir com a tradição da família. No entanto, depois
dessa surra, resolvi aceitar o casamento, porém deixei bem claro que não
gostava dele e que casaria somente para fazer a vontade de meus pais. Ele
não se importou e neste dia foi para casa feliz. Meus pais marcaram o dia do
noivado, que foi no dia 19 de janeiro de 2014 e não teve dote. Pois o pai dele
ainda se recusava a aceitar o nosso casamento. Sendo assim, não ofereceu
nada como dote. Meus pais arcaram com todas as despesas da festa de
noivado e do casamento e assumiu toda a responsabilidade com os gastos
para o início da nossa sobrevivência em uma vida a dois. Deu-me uma casa,
móveis e uma ajuda de custo para que pudéssemos sobreviver. Passamos 11
meses noivos e nos víamos diariamente, porém só conversávamos na
presença de um adulto e nunca demos se quer um beijo na boca. No dia do
casamento eu já estava acostumada com ele e até já sentia algum sentimento
poe meu noivo, alguma coisa eu sentia, não sei dizer o que, mas não era
amor e nem chegava perto de paixão, acho que era mais o costume mesmo, a
forma de tratamento e de cuidado que ele tinha comigo, sempre respeitando
minhas vontades e nunca me disse não. Casamo-nos no dia 28 de dezembro
do ano de 2014, na Igreja da Vila em Delmiro Gouveia (Imagem 5 e 6).
Temos uma filha de 5 meses e o amor é construído diariamente. (SUZANA,
24 – Delmiro Gouveia-AL, 2019).
Durante a entrevista inteira, além do convívio que tivemos durante os dias que
passamos na comunidade Suzana, 24 – Delmiro Gouveia-AL, não soube nos dizer o que sente
61
por seu esposo. Ainda hoje ela não sabe dizer o que sente, só fala que se acostumou, é um tipo
de aceitação e conformismo pelas tradições da família. A insistência da família é tanta que as
mulheres chegam a temer se impor, ao mesmo tempo, os pais sabem que não haverá
resistência nem malcriação do lado das filhas e tiram proveito do seu poder de autoridade
fazendo valer sua vontade, sempre. Por outro lado, mesmo as mais ―rebeldes‖ aquelas que se
recusam ao casamento com quem não gostam, sabem bem das consequências que sofrerão
diante a malcriação e desobediência e por temerem uma vida mais regrada do que a de
costume, diante da recusa, muitas se submetem a aceitar um casamento imposto na tentativa
de fugir de tanta hierarquia dos pais.
De acordo com Liechocki (1999), normalmente os noivos eram escolhidos pelos
próprios pais, como forma de se manter as tradições e preservar a sua cultura milenar, porém
nos dias atuais, os ciganos já podem, eles mesmos, escolherem seus pares. Seus pais os dão
autonomia para que possam se sentir a vontade de fazer sua opção, se aceita ou não o seu
pretendente e/ou fazer sua escolha quando a hora chegar. Porém a recusa ao pretendente
escolhido pelos pais não é comum nas comunidades ciganas.
embora para sempre, pois não seria mais aceita de volta ao berço da família.
(DENISE, 41 – Sátiro Dias-BA, 2019).
Perguntei ainda, sobre a questão das fugas. O que acontece se a cigana fugir? Se há
algum tipo de punição?
Sim. Eles irão ser deserdados da família e da comunidade. Eles não podem
mais retornar para o nosso grupo, pois não serão aceitos na comunidade
novamente. Uma vez que estes envergonharam a família, sujaram o nome e a
honra da casa dos pais da moça e ela não será novamente aceita por seus
ascendentes e ficará com o seu nome sujo entre todas as comunidades
ciganas. (DENISE, 41 – Sátiro Dias-BA, 2019).
De acordo com as regras das comunidades ciganas da casta Calon estudadas, estas
punições são lei e deve ser cumprida para se fazer valer e manter a ordem dentro da
comunidade. Os ciganos consideram essa rebeldia e oposição aos costumes milenares um ato
de prostituição.
A baixo segue alguns temas abordados pelas entrevistadas:
4.1.1 O dote
Segundo as entrevistadas, o dote é uma ajuda financeira, que fica acertado no
momento do acordo de casamento, para garantir a sustentabilidade dos filhos que se uniram
em matrimônio. Por exemplo, a casa onde irão morar, os gastos com a festa de casamento,
como irão dividir as despesas da casa até que o casal se adaptar com uma vida a dois, pois é
tradição na comunidade, a princípio, os pais darem um suporte financeiro e garantir a
estabilidade financeira do casal até quando aqueles jovens começarem a se manterem
financeiramente sozinhos.
De acordo com Schepis (1996), no dia do noivado os pais da noiva fixam um valor a
ser pago como dote no dia do casamento pelos pais dos noivos. A quantia é baseada nas
qualidades da moça, em sua beleza e em seus conhecimentos e habilidades para bem
administrar o futuro lar. Quanto mais prendada e bonita for a jovem maior o valor do dote.
4.1.2 A cerimônia
O matrimônio é uma cerimônia feita por uma benção dada pelo padre, da mesma
maneira que um casamento organizado pela cultura da sociedade dominante, pois há muitos
anos os ciganos aceitaram o batismo adotando o catolicismo como religião oficial da
comunidade cigana. Assim é marcada uma data para o casamento na igreja católica, a qual foi
63
na comunidade dos pais da noiva na véspera do dia de casamento, onde o pai da noiva tem
que já ter preparado um espaço confortável para acomodar os convidados, pois fica sobre ele
a responsabilidade de arcar com todos os gastos e despesas dos convidados, em alguns casos
os pais do noivo dividem a responsabilidade, vai depender do tipo de acordo que firmaram.
A festa acontece em um espaço reservado próximo a casa dos pais da noiva, onde é
construída uma espécie de palhoção, coberto por lona e cercado por tábuas de madeira, os
quais os ciganos chamam de ―carramanchão11‖. Ali são postas as mesas e é feita toda
decoração da festa, e há um lugar específico onde os noivos ficarão para receberem os
cumprimentos e para tirarem fotos. Este é o primeiro e único momento em que os noivos
podem ficar próximos um do outro, durante o tempo do matrimônio à noite de núpcias, pois é
tradição na cultura cigana a moça só ir para a casa de seu esposo três dias após o casamento.
A festa de casamento é o momento de o cigano mostrar todo o poderio econômico
financeiro do seu grupo, por motivo de vaidade familiar e também pessoal. Quanto mais rica,
luxuosa e mais bonita for à festa, maior o orgulho do pai cigano que faz tudo o que estiver a
seu alcance para que tudo saia a contento de todos os convidados para que saiam falando bem
de sua comunidade. Os comes e bebes do casamento são feitos pelas mulheres da comunidade
11
De acordo com as entrevistada, carramanchão é uma estrutura em forma de palhoção, onde suas laterais são
feitos por madeira e o teto é coberto por palhas de coqueiro ou lona. Onde acontecem as festas de casamento.
65
e são postas às mesas para que todos os convidados possam se servir. É feito um verdadeiro
banquete com muita fartura durante todos os dias das festividades. Os povos ciganos não
costumam alugar local para a festa nem contratar garçons para servirem os convidados, assim
como a comida, a bebida também fica à disposição para que todos possam se servir à vontade.
A festa começa na véspera do dia do casamento com a matança dos animais para garantir a
alimentação de todos os convidados. Da mesma forma, segue os próximos dias até o momento
do ritual após a noite de núpcias.
4.3 O Divórcio
Segundo as entrevistadas, nas comunidades ciganas Calon, das cidades de Sátiro Dias-
BA e Delmiro Gouveia-AL, o divórcio não é uma opção, pois não é aceito separação nas
famílias ciganas, somente em casos excepcionalmente especiais. Os ciganos formam casais
legítimos e unidos, pelos laços do matrimônio e não faz parte de seus costumes viverem
amasiados e/ou não aceitarem a união livre e estável de um homem e uma mulher, uma vez
que, nas comunidades ciganas, todas as mulheres se casam.
O casamento cigano é para todo o sempre, vivem juntos geralmente até a morte e
raramente ocorrem entre eles separações ou divórcios. A separação somente acontece se
existir uma razão muitíssimo grave e, mesmo assim, depois de ocorrer uma reunião para uma
decisão através do tribunal Cris Romani, para julgar a questão e analisar todos os lados. Se o
motivo for apenas ambos não se gostarem o tribunal não aprova a separação. Os cônjuges
67
terão que manter a paciência e tolerância para sustentar a vida comum a dois. Porém a
separação só será aprovada se houver casos de violência extrema por parte do esposo, abusos
sexuais, traições comprovadas e se ela for espancada ou violentamente mal tratada por seus
sogros. Neste caso a mulher poderá retornar ao lar paterno e sua família não será obrigada a
devolver o dote, recebido pelo casamento no dia do acordo de noivado.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fizemos um percurso primeiramente pelos estudos das tradições da cultura cigana para
compreendermos o papel da mulher em duas comunidades ciganas da casta Calon e apresentar
a forma que os ciganos usam para repassar seus costumes e seus mandamentos para as futuras
gerações, bem como, a maneira que estes sujeitos reagem ao receberem essas informações.
Nesta pesquisa procuramos compreender os desafios que os povos ciganos tiveram de
enfrentar para serem aceitos como cidadãos na busca de um lugar para deitar suas raízes e
como as comunidades lidam com o olhar preconceituoso do não cigano, bem como, esses
povos interagem dentro e fora da sua comunidade, que de certo é um desafio diário, o qual os
povos ciganos aprenderam a contornar essas barreiras.
Quando iniciou-se o trabalho de pesquisa, constatou-se que os povos ciganos, tem
costumes extremamente tradicionais e não abrem mão de suas tradições. Conforme o
andamento do estudo, conseguimos descobrir, perante toda uma vida regrada que levam essas
mulheres da comunidade, os limites que lhes são impostos e entendemos que a mulher tem
um papel dentro das comunidades ciganas.
Diante disso, a pesquisa teve como objetivo geral analisar a condição feminina, o
Papel da Mulher nas Comunidades Ciganas da Casta Calon, bem como, lidam com as regras
as quais têm que seguir. Porém compreendemos que apesar de haver muita resistência elas
acabam por aceitar as limitações impostas pelas leis ciganas, pois já estão habituadas com as
tradições de suas comunidades e todas apresentam consciência que precisam aceitar e praticar
seus costumes para preservar as tradições culturais de seu povo.
Entendendo todas as regras da cultura cigana, partimos para a próxima inquietação que
foi responder a pergunta, por que o cigano anda em grupos, geralmente numeroso? E a
pergunta foi respondida, pois da mesma forma que todo sujeito sente falta do berço familiar,
da proteção que a família lhes transmite, os ciganos também sentem falta da referencia
familiar, e entendem que, morar em uma cidade onde não tenha referência alguma não é fácil,
e o cigano por temerem que seus costumes fiquem esquecidos, se desapegar, se desligar e se
desmembrar de uma parte da família não é uma tarefa simples, pois a comunidade cigana é
um povo muito unido, um protege o outro e todos se protegem juntos da incompreensão dos
outros povos, e unidos se sentem mais fortes, por isso, sempre andam em grupos.
69
as comunidades estudadas sonham com um dia em que a cigana possa sair na rua, com suas
vestes, sem que sofram preconceito. E ainda relataram suas pretensões quando nos revelaram
que a maneira mais eficaz de tratamento para o povo cigano seria incluí-los dentro das
políticas públicas do Estado. Pois este ato mostraria um devido respeito e reconhecimento as
suas tradições e costumes milenares, bem como, facilitaria seu melhor entrosamento no meio
em que estão inseridos. Entretanto, uma vez que o poder local criar programas sociais para
conservação e proteção da cultura cigana, esse povo será melhor compreendido e bem mais
respeitado pela sociedade como um todo. Isso significaria também, que nenhum cigano teria
mais motivos de negar sua etnia para serem aceitos, pelo contrário, teria mais orgulho de
revelar sua verdadeira origem.
71
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74
ANEXOS
75
2. A importância deste estudo é mostrar a realidade das mulheres ciganas da etnia Calon das
comunidades de Sátiro Dias-BA e Delmiro Gouveia-AL. Para fazer-se compreender o papel da
mulher cigana dentro e fora da comunidade mostrando toda tradição e costumes que rege as leis de
seu grupo.
3. Os resultados que se desejam alcançar são os seguintes: estudar mais a fundo as comunidades
ciganas e apresentar perante a sociedade toda a riqueza de suas tradições. Encontrar uma forma de
amenizar o preconceito movido pela a ignorância da sociedade onde acampam. Trazer novos olhares
para a presente cultura cigana e suas tradições, promover a existência social. Mostrar a história de
existência cultural.
4. A sua participação será fornecer uma entrevista sobre os temas propostos pela pesquisadora e
disponibilizar imagens e vídeos que possam comprovar e incrementar a pesquisa.
5. Os incômodos e possíveis riscos à sua saúde física e/ou mental são: desconhecidos, mas se caso se
sinta violada em algum momento podemos encerrar.
6. Os benefícios esperados com a sua participação no projeto de pesquisa, mesmo que não
diretamente são: uma boa experiência em comunicação e uma troca de aprendizado para ambas as
partes.
7. Você será informado(a) do resultado final do projeto e sempre que desejar, serão fornecidos
esclarecimentos sobre cada uma das etapas do estudo.
8. A qualquer momento, você poderá recusar a continuar participando do estudo e, também, que
poderá retirar seu consentimento, sem que isso lhe traga qualquer penalidade ou prejuízo.
10. Você não será ressarcido(a) de forma financeira pelas informações que veio trazer com a sua
participação nesse estudo, sendo assim não garantimos a existência de recursos. No entanto o estudo
não acarretará nenhuma despesa para você.
11. Você receberá uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por sua pessoa.
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ATENÇÃO: O Comitê de Ética da UFAL analisou e aprovou este projeto de pesquisa. Para
obter mais informações a respeito deste projeto de pesquisa, informar ocorrências irregulares ou
danosas durante a sua participação no estudo, dirija-se ao:
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas
Prédio do Centro de Interesse Comunitário (CIC), Térreo, Campus A. C. Simões,
Cidade Universitária
Telefone: 3214-1041 – Horário de Atendimento: das 8:00 as 12:00hs.
E-mail: comitedeeticaufal@gmail.com