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OLIVEIRA MARTINS
A VIDA
DE
NUN'ALVARES
Historia do estabelecilnento da dynastia de Avit
LISDOA
LIVRARIA DE A~TO~IO ~IARL\ PEREIRA- EDITOR
5o, 52- Rua Augusta- 52, S4
.\llJI :u_:~, III
Advertencia
lllr
is de um critico ten1 notado que a obra
por mim publicada com o titulo de His-
toria de Portugal deveria chamar-se antes
=- Considerações, ou Ideas, sobre a historia
portugueza. Sem discutir a questão, e registando o
~~uinho com que o publico recebeu esse livro, direi
Hpenas, de passagen1, que a pintura synthetica e dra-
matica da vida de um dos seres collectivos chamados
nações suggere ao espírito uma idéa muito mais ní-
tida, real c duradoura, do que a narrativa sun1n1aria
da successão dos acontecimentos. Tal é decerto a.
razão do exito da Historia de Portugal.
Quanto a n1im, não ha n1eio tern1o entre esta
forma de conceber a historia, e os estudos ou n1ono-
~raphias criticas das suas varias epochas, dos seus
~aracteres mais conspícuos, e dos seus episodios n1ais
salientes. E se, portanto, na Historia de Portugal pre-
tendi, conforme o programn1a traçado a essa obra,
6
J.
__ __,..... ~~~(-~_;;~_J
R.:trato d '!\un•alvares; da Chro11ic.1 .J, Cr>n.icst.1h·e. ed. de t5:!ó
A VIDA DE NUN'AL V ARES
nos dezesete.
As filhas de que ha noticia são :
12. lzabel, c. com Gil Vaz da Cunha, senhor de Basto;
13. Joanna, c. com o Almirante Pessanha ;
q. Maria ou Ignez, c. com Pedro, ou Rodrigo, Atfonso do Cazal.
I 5. Violante, c. com Martim Gonsalves de Lacerda ;
• Chron. do Condcst.1bre, 1.
2 Yobil. do conde D. Pedro, nos. Portug. mon. hist.; Script., 284-6.
O prior do Hospital 7
ambos a e~pulsáo do bispo; 1nas quen1 partiu cmn un1
conego para Avinhão, a pedir a Clemente v a e~autoração
de fr. Estevam., foi o proprio deão D. Gonçalo: d'onde
se n~ quanto allian1 a arte para vencer lances difficeis, ao
amor entranhado pelas grandezas da terra .
.-\ndanl então o mundo transtornado. Con1 a 11101·te do
imperador Henrique Yll ~I 3o8- q.) viera o schis1na dos elei-
tores, e dois imperadores a disputarem a terra: o duque
de Austria., Frederico m., e o da Baviera., Ludovico Pio. A
Italia ardia em guerra. Ern França morrera Philippe-o-bello
( t·..!XS-3 q.J., ao que se dizia victima da sua guerra aos Tem·
plarios. ~Ô céo tinham-se visto tres luas., e mn grande co-
meta durante tres mezes. En1 I 3 I 5 choveu o anno inteiro,
sem cessar. A Austria e a Bohemia andavam assoladas por
heresias; a Allemanha., o Brabante, a Polonia e a Inglaterra,
por fomes e pestes. Clen1ente v (I 3o5-t G) mudára o papado
de Roma para A vinhão (I 3o~l) e e-xtinguira a ordem dos
Templarios (I 312 J, ré de tantos crin1es. ~las quando o deão
do Porto chegou a A Yinhão, jú o papa tinha morrido, fi-
cando mais d'un1 anno vago o solio pontificio. O bispo do
Porto teve de sair; conseguindo, porém, ser transferido pelo
papa João~~~~ ( t31 1<Lt-J para Lisboa, onde continuou a admi-
nistrar os bens do Templo em Portugal, até que., em 1 3zo.,
D. Diniz fundou com elles a ordem de Christo. O deão estava
vingado, mas o odio de D. Gonçalo não estava satisfeito.
Embora o papa lhe tivesse dado a mitra de Leão •, antes
1
Gab. Pereira de Castro, no seu tratado De 11Willl regia (n. 76, .
fol. :.?.3_p affirma que o direito de apresentação dos bispos pela corôa,
só começou em Portugal no tempo de D. Atfonso v. Na Edade-média,
diz Cunha (C1tal. dos Bispos do Porto, part. n, I5, p. ~-l) pertenceu
sempre aos papas eleger os bispos ; porém com o consentimento do
papado, tacito e por vezes expresso, o clero juntamente com o povo
nomeava os bispos ; outras vezes pedia-os o povo, o clero elegia-os,
depois o papa confirmava-os. Posteriormente, a faculdade de eleição
passou aos cabidos.
Tal era a doutrina. De facto, porém, os r~is intervinham nas no-
8
de lhe dar o arcebispado de Braga, D. Gonçalo, que du-
rante dois annos ficou en1 A vinhão, perseguiu o bispo fr.
Estevan1, até que o expulsou de Lisboa para Cucnca •. Foi
sen1pre assitn o adio ecclesiastico. E D. Gonçalo, o prelado
quasi on1nipotcntc, era tamben1 un1 politico audaz e habil.
Esteve na batalha de Loures, entre D. Diniz e o infante D.
Affonso; intcrvciu para a reconciliação do pae com o filho;
e foi quem, sendo este já rei, celebrou as pazes com
Affonso-o-bom de Castella ( t3I 2-So l, o que ton1ou Algezira
aos mouros, cm 1 3-+-+ 2 •
Tal era o sangue que girava nas veias do pac de Nun"al-
vares. E esse sangue ardente vinha en1 ebulição desde
Rodrigo Gonsalves, de Pereira, por YÍa do avô do arce-
bispo, Pera Rodrigues, o que casou con1 Estevaninha Er-
migia da Teixeira, e n1atou na lide seu priino Pera Poiares.
Rodrigo Gonsalves e seus irmãos, Gonçalo, fundador de
Nandim, e Elvira, da Palmeira, descendiam da casa de
Cella-nova, transn1ontanos cruzados de sangue leoncz. A
historia d'estc avô contava-se na fan1ilia, con1o exen1plar
do genio cruelmente justiceiro. Casára com Ignez San-
chez, e, deixando-a no castello de Lanhoso, soube como
ella ahi fazia 111aldade com um frade de Bouro. Rodrigo
Gonsalves foi lá em armas, cercou o castello, e pondo-lhe
fogo, fez arder na mesma fogueira a mulher e o frade, e a
mais gente, com as bestas, os cães, e tudo quanto havia
7!'-
* *
IV, -19-.50.
3 Ayala, Chron. etc., an. vw, 2; e 1\"obi/., ttc., xx1.
4 Cf. Romey, Hist. d'Esp., I3; vm, pag. 2Jo .1d fin.
5 Nob. do Conde D. Pe.tro; ibzd.
c/:1 m"da de 1.\'wz' alvares
Outubro de I 3í I.
3o
e D. Fernando~ sem resistir. fecha-se en1 Santarem 1 • Tal era
a situaçáo quando ~Un "ah·ares entraYa na COrte pela I11ÚO do
prior seu pae. Os troços do exercito castelhano desciam o
valle do Tejo, a caminho de Lisboa; o rei, inclinado amo-
rosamente para a esposa, sorria de amor, desdenhoso da
honra. da guerra. da coroa, c de tudo, na embriaguez absor-
vente da paixáo. Tamanho desvairamento fazia ferYer o san-
gue aos mais tlcugmaticos; e o prior, acceso en1 od10 contra
o fratricida de 'lontiel, cheio de esperança no futuro certo
d"essa creança, para quem sentia ir-se-lhe escoando a Yida,
mandou Nun 'ah·ares fóra, em companhia de seu irmão
Diog"alnlrcs~ a reconhecer as forças dos castelhanos.
Era a primeira Yez que o rapaz n1ontava a Gn•allo en1
frente do inimigo. O medo de si proprio ~ o receio de náo
corresponder ao ideal creado pela imaginaçáo; o desdobra-
n1ento nitido de duas personalidades. uma que tinha por
natureza. outra in,·entada por deliberação: eis o que rc-
vohia o espírito vibrante de Nun 'aln1res. Teria h01nbros
para as armas que o pensamento lhe foqúra? Poderia o seu
animo con1 a n1issáo, de que se achan1 investido? ... :\lon-
tou, sahiu, desceu, galopando, a encosta ingrcme de Santa-
ren1. Correu, observando o inimigo; e nenhun1 resfriamento
lhe enrugaya a pelle, nenhuma comn1oção forte lhe incen-
diaYa o sangue. Tudo lhe parecia natural. Estranhanl até
a sua in1passibilidade. Não podia crer que fosse a primeira
vez. Quem sabe se, no cerebro, provocando reminiscen-
cias inconscientes, se lhe expandia n 'esse instante algwna
cellula do sangue de seus ayós, costumados a n~r de face
os pengos ~
Quando os irmáos voltarmn da sortida. estavam os reis
jantando 1 placidan1cntc; c quizcran1 saber o resultado da
aYcntura. Que havia? que tinhan1 visto? i'iun "alvares con1
de Hespanha.
2 Sumario de los reyes de Esp.1iía. etc.
O Fn·m· do Hospital 33
3
Ci vid..1 de ]\/wz'afv~.-1.1"CS
por rnorador en1 sua casa. Ficou pois no paço con1 seu tio
e aio, o escudeiro ~lartin1 Gonsalves do Carvalhal 1 , irn1ão
de D. Iria, sua rnãe, que tan1.bem no paço andava como
cuvilheira da infanta D. Beatriz, creancinha de un1 anno
apenas.
O rei de Castclla, entretanto, chegára sobre Lisboa 2 •
A maioria dos habitantes tinhan1-se acolhido ao castello,
porque a cidade estava aberta, desmantelados os seus ,~e
lhos n1uros tnouriscos. Não tinha ainda chegado a armada
castelhana; por isso o castello de Lisboa não podia cer-
car-se de todo, e, reforçados, os portuguezes molestavam
o arraial. Henrique u, acampando nos altos de S. Fran-
cisco, fronteiros pelo poente ao Castello, mandou quein1ar
as taracenas. ou arsenaes, da praia, com os navios n 'ella
varados; e quando afinal 3 chegava a Lisboa a esperada
esquadra do ahnirante Boccanegra e apresava as quatro
naus portuguezas fundeadas no Tejo, entnna pelo .Minho
outro exercito inn1sor.
Portugal estava perdido : valeu-nos a intervenção do
cardeal Guido, nuncio do papa. Elle negociou as condições
das pazes com o rei Henrique u, que não provocára a
guerra, nen1 tinha em n1ente a conquista. O rei de Portu-
gal prestaria a Castella cinco galés, quando o de França,
alliado do castelhano, carecesse d'ellas; expulsaria D. Fer-
nando de Castro e os rnais restos dos parciaes do rei D.
Pedro; casaria a infanta sua irn1ã con1 o conde D. Sancho,
irn1ão de Henrique 11; casaria a filha, D. Beatriz, con1 o
duque de Benavente, bastardo do rei castelhano; e a outra
filha, D. Isabel, nascida fóra do casamento, con1 D. Atlonso,
outro bastardo do rei Henrique, levando etn dote Yizeu,
Celorico e Linhares. Era este o grande espinho. por dei-
- -)
-~ . - : ;
~:;:-L~:·!"~.-
* *
• 29 de maio de 1 J78.
2 Cf. Sandoval, Aljubarrot.l; Romey, Hist. d'Esp. ,· ibid
homem capaz de destrinçar as n1cadas mais cmmaranha-
das, prestidigitador politico para os lances difficeis. cré-
dor da confiança inteira da rainha. Un1a das condições,
porém, do tratado de V aliada, tinha sido a expulsão de to-
dos os gallcgos (erarn vinte c oito, J parciacs do assas·
sinado de l\lonticl. que andavam cm Portugal. Teve por-
tanto o Andciro de se exilar, embarcando para a Corunha
que saqueou; e cheia a bolsa, fõra para Inglaterra viver na
casa dos duques de Cambridge e de Lencastre. Conhecia
os inglczes dos tratos de t3j2. quando o rei de Portugal
se alliara ao Lencastre. pela primeira vez, para diYidirem
entre si a Castclla.
Celebradas as bodas da infanta de Portugal com o her-
deiro castelhano, Leonor Telles viu ameaçado o futuro da
sua vida. O rei, franzino c debil, não podia durar muito,
de rnais a mais sugeito ao regímen torturante da esposa,
que se desesperava por não ter filhos, além d'essa infanta
destinada a ser o instrumento da sua perdição. Em taes
apuros. era indispensavel romper os ajustes feitos pelo rei,
repetir t3j2. desencadear outra vez a guerra, recorrer de
novo ü ambição dos inglczcs sobre a coroa de Castella.
Ningucm melhor do que o Andeiro servia para taes lances.
Escrc,·cu-lhc •. Assim, a an1arg:1 ironia do mundo queria
que a dcfeza da indepcndencia estivesse solidaria com o
capricho de uma tnulher hysterica, e nas n1ãos de um troca·
tintas! E' que as situações deprimidas lcnun a consequcn·
cias incohcrcntcs. Deus escreve direito por linhas tortas.
1\las, se, na acção d'csta tragcdia, os motivos determinantes
para Leonor Tcllcs eram apenas as paixões humanas~ para
o Andeiro não era só a obcdicncia ao instincto individual.
4 17 de julho.
5 Lopes, C!zron. de D. Fern. 1 :q.-ti. O valor Ja esquadra póde com-
putar-se em dois mil contos, contando a dobra pe-de-terr.1 a 2793 rs.
(Aragão, Descr. geral, etc. 11, 23j) e decuplicando, para obter o valor
relativo.
5n ~ 1 J'Zd~.-1 dr Nwz' alvarrs
.-,1<
•• I • ~
dajoz, esperando as forças do in-
--~
fante D. João, para entrar en1 Por-
,j tugal 2 •
O desastre de Saltes fôra a 17
de julho ( t3~ I 1 e a esquadra caste-
lhana que bloqueava o Tejo, dei-
xou-o aberto para ir comboyar a
SeYilha as galés portuguezas to-
tnadas. Foi a sorte dos inglezes
do duque de c~unbridge que v inhan1
no n1ar. .A 1 ~~ aproaram á barra,
entrando-a pacificamente, e as for-
ças inglezas desembarcaran1 a sal-
I
vamento em Lisboa. O rei descera
•'' de Santaren1, a recebei-as. Ermn
.__
r- quarenta e oito naus, trazendo a
bordo ·o duque e a duqueza de
Capacete e espada do mestre Cambridge : o primeiro, filho de
· d'.\viz
Eduardo 11 de Inglaterra; a segun-
da, D. Isabel, filha do castelhano
Pedro-o-cru. Vinha con1 os paes o rilhinho de seis annos,
Eduardo; vinha o condestavel da armada, \Yillimn Beocap.,
mais un1 bastardo do rei de Inglaterra, ri1ais tres mil
hon1ens d'annas e frecheiros. Vinhatn tan1ben1 os gallegos
banidos de t3j3, João Atfonso de Beça, Fernão Rodrigues
d'Aça, ~lartim Paulo, e os outros, con1 o seu chefe, o
Andeiro, ü frente. Era tudo gala e festas. Acto continuo,
• Julho, r382.
2 Lopes, Chron. de D. Fernando, t39-
o mestre de Aviz que effectivamente fallava por toda a
parte da cunhada em termos desabridos, e que mais se
voltava ainda contra o Andeiro, e muito mais depois que
o tinham feito conde de Ourem.
O mestre de A viz era então um rapaz de vinte e qua-
tro annos. Nascera etn I358 1 , em Lisboa, dos amores do
rei D. Pedro com Thereza Lourenço. Armado cavalleiro
de Aviz en1 creança, fõra aos treze annos, com a mesma
edade com que Nun'alvares entrára na côrte, feito mestre
d' essa Ordem, em 1371, dois annos antes de Nun' alvares
ser escudeiro. Conservavam assim a paridade de distancia,
no nascimento c nos começos da vida. Era o vigessimo
primeiro mestre da Ordem de S. Bento, instituída por D.
Affonso Henriques, á imitação das ordens hyerosalemita-
nas; e o primeiro n1estre fõra D. Pedro Affonso, irmão do
fundador da monarchia. Succedia a D. fr. :Martinho de
Avellar, que morrera em I363; e tres annos depois d'essa
n1orte, dos oito para os nove, entrára e professára no con-
vento de Aviz o bastardo de D. Pedro, que havia onze
annos governava a Ordem corno seu mestre 2 • A Ordem
cio! Ao fim de Ymtc dias, que tanto durou esta intriga, os.
presos, já preparados para a fuga de cumplicidade com O·
carcereiro, forarn soltos por ordem do rei, e partiram para
o Yimieiro a agradecer-lhe '·
.\loYiarn-se já para a frontetra as tropas anglo-portu-
gueza~; e, no firn de julho, D. João 1, conhecedor do
plano dos alhados, que era invadirem Castclla pela Estre-
madura, concentrüra as suas forças em Badajoz. Tinha alli
cinco mil lanças, milhar e meto de cavallos c peonagem
basta. Em Eln1s, os alliados dispunham de quatro mil lan-
ças, mil besteiros e a gente de pé correspondente.
A Lisboa, depois da aventura de Santos que não dera
a Nun'alYares a morte como premio desejado da affronta
que o torturava, chegavan1 as noticias do movimento da
hoste de E vora para Elvas, da incursão feita por Ouguella 2 ,
da concentração dos castelhanos em Badajoz, da imminen-
cia de uma batalha real: e tudo isto enchia de desespero·
o cavalleiro encerrado dentro dos muros de Lisboa, como-
nas paredes de uma prisão. Queria ir, queria bater-se,.
queria morrer !
-Senhor irmão, deixa e-me ir, para ser com e l-rei na
batalha ... deixae-me ir, senhor irmão ...
A sua voz tinha intonações doces de prece, a que
Pedr'alvares retorquia rindo, com um carinho ao mesmo
tempo desdenhoso e paternal.
-Nuno, bem Yês que não posso fazer mais, senão
cumprir o que el-rei manda. Se fizesse o contrario, faltaria.
JVlas dcscança. l\lercê de Deus, sairá vencedor da batalha ...
E nós, havendo-nos aqui cmn a frota, servil-o-hemos tão-
bern como lá. Portanto, nada de tristezas, nern affiicções.
-Senhor irmão, voltava gravernente Nun'alvares, creio-
que tudo se de\·e esquecer e deixar pela batalha em que se
acha o nosso rei. )las se, cmno alguns querem, a obedien-
O Assumar
{do Livro de Vuarte d'Armas, no Arch. nac.J
.'
•
~
-
.
~ .
III
I <~Le roy Ferrand chey (tomha) en langueur qui dura plus d'un
~·
foi, portanto, o que pre-
• j:.. _· cipitou a revolução, que
·:.~~ -~\i~ talvez, porém, se não ti-
vesse declarado, se o rei
de Castella procedesse
com menos franqueza, en-
cobrindo melhor o seu
jogo. Cuidou que Portu-
gal era um fructo maduro,
trazido no regaço p e I a
creança de onze annos a
--. que chmnava sua esposa;
_,. )j:-
1 5 de dezembro, 1383.
2 Lopes, Chron., JX.
I02 ·cA vida de Nzm' alvm·es
2 Jbid.
3 1S de d~.:zcmbro.
4 I .opcs, Chron., X\"11, xYm.
O Jlessias de Lisboa JJ:J
del pendon era pintado el infante Don Juan, como estaba preso, cn
cadenas,.- Ayala, Clzron.
3 Lopes, Clzron. x xvm.
J<>•-.
• Lopes, X..JI'.
2Jbid., XliV.
3 I I de janeiro. Ibid., XL\'.
4 lbid., XLVII; fins de dezembro. Cf. Santos, ~\Jon. lusit., vm; 23, 11.
O Afessias de Lisboa J.3I
.~ - ·- ~
--~- -- t!
Torre de Beja
·\
o
1V
no Tejo, que ainda estaYa livre, sete nau~, treze galés e uma
galcota, para o defender contra a esquadra castelhana, para
manter por mar communicaçóes com o Porto, para as
manter com o Alcmtcjo, atr<lYez do rio. Lisboa c o seu
porto tornaYam-sc, por tal fórma, a chaYe do plano da cam-
panha c o proprio coração de Portugal, d'ondc as Yibra-
ções se communicantm para o norte, para o sul. Resol-
veu-se mais reforçar -\lmada, que a arraya-mcuda defendera
contra os grados da terra, quando queriam apoderar-se
do castello para a rainha. 1 Resolveu-se, finalmente, no-
mear ~un'ah-arcs fronteiro do Alemtejo, todo insurreccio-
nado j<i.. O facto de a rainha, em Santarem, se ter intei-
ramente entregue aos castelhanos supprimia o argumento
da legalidade e os escrupulos dos hesitantes.
A ultima resolução do ~lestre satisfazia a todos, e pri-
meiro que ninguem a Nun 'alvares, que ia livremente dar
largas á exubcrancia forte do seu genio, revelando a sua
capacidade de guerreiro, até ahi não demonstrada; satisfazia
tambcm João das Regras, embora se lhe tivesse opposto, 2
pois se via liYre d'cllc no conselho; satisfazia os interesses da
causa que ia recrutar no Alemtejo um exercito, impossivel
de organisar em Lisboa. Tudo isto percebera a lucidez po-
litica do ~lestre. Só não satisfazia a vaidade senil do conde
irmão de lgnez de Castro, que se via já governando o
. .-\.lenuejo por conta de seu sobrinho preso em Toledo, e,
quem sabe ? collocando-se-lhe no throno durante o impe-
dimento.
Diariamente chegavam a Lisboa noticias dos logares
noYos que no Alemtcjo tomavam a voz do ~lestre, e com
isto chegava a certeza de que os castelhanos preparavam
por essa fronteira uma invasão. Ao Crato, onde o prior Pe-
dr'alvares estava por Castella, tinham chegado forças; e o
almirante inimigo, Fernão Sanches de Tovar, depois de em
JbiJ., LXVIII.
2
3 ccEt cette opinion mit bien avant le comte de Foix à ses gens,
quand illes ot (eut) mandé á Orthez et illeur donna à diner et ils prin-
drent (prirent) congé à lui, car de toutes ces besognes de Portugal et
de Castille il était suffisammant informé. Et leur avait dit : ((Scigneurs,
c!J guerra
Yia -se Jesus Christo crucificado e aos pés da Cruz sua n1ãe,
a Virgem 1\laria, de um lado, e do outro S. João, o dis-
cipulo amado. No segundo quarto, superior, estava a Vir-
gem, com o :\lenino ao collo. No terceiro, inferior, S. Jorge
de joelhos resando a Deus, de n1ãos postas. ~o quarto,
finalmente, o apostolo das H espanhas, S. Thiago, na mesma
attitude. ' A' sombra d ·esta bandeira, Nun ·alvares fali ou á
sua pequena hoste, expondo-lhe os trabalhos que os espe-
ravam. Tinham de ser como uma familia; considerar-se
con1o um rebanho unido para atravessar por uma região
de feras. Indicasse cada qual, por ordem de terras d'onde
provinham, Lisboa, Evora, Beja e outras, um deputad0
que deliberasse com elle em conselho. 2 Nomeado o con-
selho, instituiu os cargos: o alferes, o meirinho, o thesou-
reiro, o prégador. 3 A hoste era uma pequena cidade
ambulante.
Essa noite, alta noite, Lourenço Fernandes, com grande
alarido, acordou todo o arrayal. Eram os castelhanos de
Santarem! Vira-lhes os fogos proximos! Era Pero Sar-
miento com trezentas lanças! As trombetas acordavam os
éccos dos montes com os seu.;; rugidos longos. Toda a hoste,
n 'um pulo, estava a pé, em armas; e assim ficaram até
que amanheceu. Viu-se então que eram almocreves, fazendo
ao lume a mcijoada... Nun'alvares sorria contente da
prova armada com o ardil. 4
Largaram d'alli para :Montemor-o-novo que se deu ao
1\lestre, e no dia seguinte foram dormir a Evora. ~ un 'alva-
res deitou pregão para alistar soldados, n1as não vieram
mais que trinta. Com duzentos que levava e a peonagem,
compunham um milhar de homens. 5 A populaça de Evora,
espessa para a desordem, mostrava-se rara para o sacrificio
z Cf. L'art de t•erifter les dates, etc. taboa de p. 28 (eJ. Paris, 1770)
a paschoa é a 10 de abril em 1 38-t.
3 Lopes, Chron. de ef.rei I>. Pedro, (nos Incd. da Academia) xtv.
4 Santarem, Jlem. d.1s Côrtcs, n, 17~ e segg.; capitulas d'Elvas.
c/J 1Jida de Nwz'alvares
1 • • • <ca quem el-rei pagava conti. 1s que eram certas rendas com
1 nOnde aqui notae que Nuno Aluarez foí o primeiro que, de me-
moria dos homf.es até este tempo, poz batalha em Portugal por terra
& a v(:ceo~>. --Lopes, Chron., ex v·.
!58
1 6 de maio.
2 14 de maio.
3 Lopes, Chron. cxu, 111.
11
C 1 vzd~I de f\.~wz' alv~..I1·cs
* .:f
:"·:~="
estos Ingresses muitos tempos com sigo, pagando lhes grande soldo
cada mez em que gastarão muito., - lbid.
1 ((E outrosy acorrerão a El-Rey com as suas mercadorias que
tinham carregadas que lhe derão em Inglaterra dez mil francos com
que mandou vir muitos Ingresses archeiros e homens d'armas pera
defensão do Reyno.u- nE além destas e doutras infindas despezas
que fizerão por ter sua vox lhe emprestaram mil e quinhentos marcos
de prata de que ainda a muitos he devido gram contia., - lbid.
2 ((Estas livras anumcradas, contheudas com este privilegio, que
são 3g:2oo a rezão de 2.0 libras por marco de prata, montam r :g6o
marcos. E nos 1 o mil francos a razão de seis franqos por marco,
monta r :G6f> marcos de prata. E os que se emprestarão são 1 :6oo
marcos de prata, somão todas estas despezas anumeradas 5:126 (alias
S:22h} marcos de prata, sem as que não tem numero. E monta toda
esta prata, a G cruzados por marco de prata, 3o:tP756 (alias 3r:356)
cruzados, e muito sangue derramado c mortes de muito bons e leaes,
por serviço de seu Rey e Senhor e por sua.liberdade., - Ibid. - Os
S:226 marcos a 7 ."'fP5oo réis representam 3g: •gS:jpooo réis. Se os decu-
plicarmos, temos 400 contos de réis, como valor effectivo das contri-
buições do Porto.
3 Lopes, Chron. cxxm
4 Jbid., CXXIY.
12
cA vid~.1 de Nzm'alva,·es
bra ao Conde Dom Gonçalo que tivesse a vox d'El-Rey com quantos
podesse aver e fizerão ·no vir á Cidade bonde lhe davão quanto havia
mister; e por que se hum dia fingi o que queria partir por que lhe não
davão poos pera a cozinha deram-lhe mil libras d'Afoqsys.,, - Carta
de D. Duarte ; ibid. ·
2 Lopes, Chron., cxxv.
cc\·i azinha e bem presto e travando me com el por ser tão bem avido,
piCftle de lombo o Sarmento e quedaron jazidos hua boa quarentena
sem papear, y los que pudieron irse no lo figcron bem em no lo tàge-
rem que a beem seoo pezar qucdaró mal concertados, que ao tempo
da -lide vindo de recolhença o Sarmento lhe f€z com que leixaróo de
seo todo, por mais milhor livrarem as vidas y servio de alio que qucdó
que ben mengo haviamos dello. Beem devíeis agradecer a mim ser eoo
o que volo figera saber sim ser por escribido, mas o logo não hc de
feiçóo para ello. Da munta da vossa saude saber bee quero, c que la
logrcdes boa haberei bem folgança. 1'\ôo ha ca otro mal que de Ü1lta
de comida, que nó son homces avindos a pcsquizala, se nóo a fam de
lide. Com mü peligro vai esta, e no logo que ajades le dai mui presta
responça sem demorança, que bem rczcloso quedo de ni)o. Y para
firmaçon dello respondedc aqui de feiçon, que boa certeza aja dcllo y
o Senhor Deos vos dee muy de sua mercê y ,-itoira escontra os ini-
migos. dantc em Almada vinte andados de setembro. . . Ao vosso
servir. J.Ytma!J·es Pereir.1.
Honrado e prezado capitaóo e de grandes forças. Vosso bóo amigo
o ::\lcstre haa graóo folgança y invia muy do seu amor, avcndo por
mercede do Senhor Deos noosso a boa jazença y andança voosa que
he cm defençóo dos naturais y da patria de que sondes hüo bêe hon-
rado fijo. De no\·amcnte desque vos escrevi a postrera nove dias an-
dal.tos com este nóo uvo mas que por escrevimento do ... Dalba tà-
zerme saber que a teimação que havia era em graóo pczar meo e
perdison que el bem poderia avençarme con el-Rey de guisason que
quedasse bcê c see mcngca a minha prol y que de todo volo figesse
saber. O trompeta que veoo voh·co com a responça beê e avante soube
ouve grão pesar dcllo. Non hey mor marteyro que as pregarias das
femeas aun que o Bispo lc daa bóo consolo com o seu bóo sizo. A
doença hc mü grande y por t:11ta de mantcnça e de agua que temos
vedados os canos dela, mas sõo de certo sabedor, naoo hc menor a
que jaz no arrabalde inimigo que ha Jia cm que vaoó quarenta e tal
mais ao seminteiro. Como lo pcdides vai a rcsponça y hem presto pelo
c/1 guerra
seus nos feitos de Nuno Alvares, com aquelle doce arrezoar, & lou-
uores taes, que este leal seridor merecia de se lhe dizer; deshi se
recolheo pera sua camera.,- Lopes, Chron., <XL\'•'-
2 Chron. do (.onJestJbre, xxxv; Lopes, Chron. 1 Xl.\"11.
3 27 de agosto.
I88
• 1 ou 2 de setembro.
2 3 de setembro.
3 Lopes, Chron. CL; Chron. do Condestabre, -x:xxvr.
4 Lopes, ibid. CL; Chron. do Condestabre, ibid. xxxv1.
cA guerra
1 O relego (relt tum' era o Llireito pelo qual o soberano, nos seus
~.
L_- -----
c.:_
II
SSii\l
de Lisboa c saiu a barra, 1 a cidade respirou,
afinal, libertada. Tinham sido quasi dois rne-
zes 2 de indecisão angustiosa, depois do levan-
tamento do cerco por terra c da partida do
exercito: dois mezes, porém, dos quacs se não perdera un1
só dia nos preparativos da lucta a que o cerco, milagro-
samente acabado, fora apenas uma introducção.
Ardia o arrayal crn chammas, incendiando to~lo o hori-
sonte do poente, e as torres das cgrcjas cantavam n1arcando
o compasso á procissão de penitencia e graças que da Sé
caminhava na direcção d'essc brazeiro rncdonho, descalços
todos, o bispo nos seus trajos pontificacs, c o .Mestre nos
seus habitas militares, seguidos pela cleresia, pela tropa,
pelo povo: Lisboa inteira, penitente c agradecida a Deus
que a salvara. Afilie,.icon:iiam fecit uobiscum! exclamara no
1 28 de outubro.
2 55 dias; de 3 de setembro a 28 de outubro.
202
• Lop\:'s, Chron., c1 1.
qual p~rcissam cr.1 triste & doriJa de vc::r.»- Lopt:s, Chron.,
:.! ,,_.\
c;_n.
3 lbi.i.
4 Lopes, Chron., CLY.
5 q dt: outuhro.
O !lzrono de cAvi'{ 203
• H) Jl: novembro.
2 Y. a carta (22 ou 25 outubro) ~:m SanJO\·c.d, .1/jub.Trrot.T, 6o.
3 35oo lanças, 1700 hestciros, 3~lOO peões=~; Ico homens. lbi.i.
4 J;.m~:iro, 1:185.
5 Entre Tejo c Guadiana uhcd~ciam a Castella: Portd, Villa-Yiço-
za, Olivença, Campo-l\laicr, 1\lonfort~:, Crato, 1\larvão, !\lora, Almada,
Ouguella, Alter-do-Chão, P~dmsa (?), 13elver, ~odar ( ?) com 700 lan-
ças, -too h esteiros c 1000 peões.- C.11·ta, cit. ; ibi.i.
204 cA vid.1 de Nwz'alvares
bolia uma folha, náo luzia uma luz, não soava um nlur-
murio. Era uma calada mortal. Apenas, lá para os lados
de Castella, o ceo começava a ganhar um tom de aço ... Pé
ante pé, Fernand'alvares c Aln1ro Coitado, foram contré.l
a porta que os esperava aberta, como uma goela negra de
sombra. Por cima da quadra abobadada havia uma torre,
e na abobada uma grande boca aberta para o alto ... l\Ias
etn cima nada bolia. Ninguem os esperava para os esma-
gar, lançando-lhes pedras ou lume. . . Pé ante pé, olhando
para a abobada e para a sua boca negra, é.l\'ança\·am os
dois. De repente ouviu-se un1 ranger aspero, e despenhou-se
mna lagc que tombou cm cheio sobre Fcrnand'alv:1res,
escachando-lhe con1 o bacinete a cabeça e estendendo-o
morto, a clle c a um escudeiro que o seguia.
- Castilla! Castilla! gritaram logo dentro; c com a luz
do dia que começava, apparecia a mó do povo em tun1ulto,
cercando e prendendo o Coitado, ferido por um estilhaço
da lage.
~un 'ah·ares correu a pé para investir, mas a sua gente
agarrou-o á força. Succumbtdo, retirou para Borba, con1
as viboras do remorso a morder-lhe o peito. Fora o roubo
das armas de Portel! Deus punia logo os peccados. A
virtude e a candidez d'alma eram condições indispensaveis
ao exito. Pobre desgraçado! .. De Borba, mandou pedir o
cadaver do irn1ão, e, chorando, enterrou-o em S. Francisco
de Estremoz. 1 Ainda voltou contra Villa-Yiçosa, c poz-lhe
cerco, mas nada conseguiu; 2 apenas obteve libertar o
Coitado, roubando-o, n 'uma cm buscada, á escolta que o
levava a Olivença, caminho de Castella. 3
D'ahi veiu a Elvas, de Elvas a Lisboa, com uma guer-
rilha de sessenta mulas, gente armada de cotas c braçaes.
Em Lisboa soube como se aprompté.n-am para cair sobre
1 1 ~ fevereiro, I385.
2 Chron. do Condestabre, xu; Lopes, Chron., c:Lxxm.
212
• 3 de março, 1385.
O t lwouo de c/lvi'{ 21.3
maient les autrcs batarde, car ellc fut filie d'une dame de Portugalla-
qucllc avait cncorc son ma ri vivant (João Lourenço da Cunha) ... Ba-
tarde et plus que batardc. ladulterina)» - Froissard 1 Clzron., lll, :!E'.
2 Lopes, Chron.~ C:LXX\"1'.
3 ]brd., Cl XXVIII.
-4 Jbi.J., CLXXIX.
222
* *
jubarrota.
2 Lopes, Chron., x1x.
3 ((E tambem mandarão muitos dinheiros a Gonçalo Vaas Couti-
nho e a Martim Vaas da Cunha por terem a batalha de Trancoso .•,
-Carta de D. Duarte; em Ribeiro, Diss. Chrou., r, 32o.
4 Lopes, Chron. xx, xx1. Cf. Sandoval, Aljubarrota.
boio de Vasco Gil de Carvalho, entre Evora e Arronches,.
pelos capitães de Badajoz, desbaratando a força que o lc-
YaYa c semeando o terror na comarca. Estes dois cpisodios
fa.voravcis na fronteira do Alcmtejo não compensavam por
forma alguma, porém, o desastre soffrido na Beira. Torna-
va-se urgente transpor a fronteira e resolver o pleito.
Jü então era entrado o mez de junho e corriam as trc-
goas de trinta dias que os do castcllo de Guimarães tinhan1
proposto a D. João I, e elle acceitc, para pediren1 auxilio-
a Castclla, obrigando-se a renderem-se, se en1 tal prazo
não viesse o soccorro. 1 Foi n'este intcrvallo que D. João I
mandou ao ~linho chamar Nun 'alvares para vir sobre Braga,
onde o deixámos senhor da cidade, cercando o castello.
Levava quatro engenhos de bater, e, depois de um assalto-
que durou duas noites e um dia, o castello rendeu-se-lhe. 2
No seu giro pelo ~linho, até á fronteira, subindo pelo lit-
toral, voltando pelo interior, Nun 'alvares submettera-o, com.
aquella audacia e rapidez fulminante que caracterisam todas
as suas campanhas. O seu genio tnilitar dizia-lhe que, nas
condições politicas da guerra, cumprindo aproveitar a dis-
posição impressionavel tnas inconsistente das populações,.
o meio de fazer servir esse elemento quasi unico de exito,
era proceder arrojadamente, tcmcrarimncnte ; porque a infe-
rioridade de forças organisadas e o receio, natural na gente
pacifica, tornavam perigosas e quasi inevitavelmente per-
didas as operações regulares em batalhas campaes, e so-
bretudo em cercos de cidades fortificadas: tivera a prova
d 'isso no mallogrado cerco de Vi lia-Viçosa. Tivera o rei
tnaior prova, c muito tnais cruel, no mallogro do cerco de
Torres, felizmente esquecido pelos actos decisivos itnme-
diaros: a acclamação cm Coimbra, e agora a conquista do.
?\linho.
Entretanto, chegava a resposta natural do rei de Castclla
1 q de junho.
liLopes, Chron., xxu.
3 Jbid.
4 Lopes, Chron. xxm.
~ lbid. ; Clzron. do Condcst.1bre, xLVlll.
O tlzrouo de e---lt'Íí.
3 11 de julho.
4 Lopes, C/ll"on. :x xv; Chron. do Condes:abre, x:.1x.
tragica. As baixas da cidade, deitadas sobre o .l\londego, ani-
nhado en1 salgueiraes, referYianl agora no immenso tumul-
to da marcha do exercito inYasor. Era verão : passara a epo-
cha do derreter das neves, quando as torrentes da serra se
precipitam, e de repente a cheia gallopa, inundando de lado
a lado o amplo alvéo do rio. Entre estirados bancos de areia
cor de ouro espreguiçavain-se os filetes de agoa, deslizando
mansamente, ladeados pelas duas alas cerradas de folhage1n
verde, onde cantam os rouxinoes nos ninhos. Levantam-se
ambas as margens com uma inclinação 1nedia: nen1 tama-
nha que aterre o animo, nen1 tão branda que alargue a aln1a:
o bastante para a cnlangucscer, na embriaguez de uma tris-
teza suave. Os choupos e os salgueiros, beijados pelo ven-
to, vão cantando con1 os rouxínoes; beijados pela agua, vão
chorando, pendentes, com o rio que passa fugindo es-
quivo. Por cima veste as terras o lançol pardo das olivei--
ras; como soluços e interrogações crucis, erguem-se os vul-
tos negros dos cyprcstcs, esculcas n1ysteriosamente cnyg-
maticos, de pé, sobre a crista das ribas do sul, cravados no
ceu. Confrange-se o coração cotn ternura: a Yida vê-se tris-
temente doce; arrazam-se os olhos de lagrimas; invade a
alma un1a saudade vaga, scn1 angustias dilacerantes, con1
mn entorpecimento dolorido ...
l\las, do lado opposto, agora, ferve a guerra : torrentes de
homens arn1ados descenun dos montes e invadiram os cam-
pos, á maneira da cheia quando rola en1 ondas as neves der-
retidas. A cidade, fechada como um crustacco no seu cinto
de muralhas, erguendo no alto o seu castcllo, assiste ao ro-
lar da onda guerreira que passa triumphante e estrepitosa,
dominando por um dia a placidez triste do valle. Os gritos
de guerra, as acclamaçócs enganadoras de uma victoria se-
gura, o fragor das arn1as, o tropcar dos cavallos, açoitan1 o
ar dolente; c o contraste da natureza e do homem é tragi-
co, porque essa gente, suppondo marchar alegre para a vi-
ctoria, vae a caminho da morte: morte flincbre e scn1 glo-
na.
A sorte estava jogada; e assin1 que a cheia passou, os
240
••
···.•t
~ct.
. - ..1:-
..
con ellos este Rcgno, asi en tierras, como en oficias grandes, é hon-
radas mercedL'S; en guisa que ellos sean pagados. E si esta non qui-
sierL"n, sah·o perseverar en su rebeldia é desobediencia, é lo quicren
librar por batalla, yo tengo que Dias me ajudará con cl buen derecho
que yo hc: é que yo los iré buscar.»
1 «Certamente eram mui poucos, ca pela maior parte quantos no
2 Jbid.
3 Ayala conta I2:2oo, sendo 2:2oo h. d"armas c w:ooo besteiros e
peões; Froissart conta 10:ooo; Lopes (Chron., xxv.I) conta 7:ooo, a
saber: I :700 lanças, Soo besteiros, 4:Soo peóes. Ayala, como é sabido,
assistiu á batalha no exercito castelhano ; Lopes é quasi contempora-
neo; Froissart conta o que ouviu a uma testemunha ocular. Estudando
meudamente este ponto, Sandoval (Aljub.1rrot.1, 177) dá a seguinte
composição ao exercito portuguez: 4:c:oo h. do rei; 2:ooo h. reuni-
dos no Porto, Coimbra, etc. até Alemquer; 12 I h. ahi vindos de Lis-
boa; 2:900 h. trazidos por Nun"ah·ares do Alemtejo; 1 :ooo h. reunidos,
depois da revista de Thomar, em Alcobaça c de Porto-de-1\loz ; : (i2 h.
jd. da Beira. Total, w:ooo h. dos quaes 3:ooo não combatentes. São-
pois 7:ooo combatentes, o que confirma Lopes.
c1{jubcwrola
r I Ide agosto.
2 Lopes, ibid.; Clzron. do Condest.1hre, u.
3 Ayala, Clzron., etc., descreve-o assim: ((Era no grande de cuerpo
é blanco, é rubio, é manso, é socegado, é franco, é de buena con-
sciencia, é home que se pagava mucho de estar en consejo é avia
muchas dolencias.))- •• Era nuestro Rey D. Juan hombre de pocas pa-
pbras, nada zalamero, manso si y afable, pero poco activo.» -Lo-
zano, Los reyes nuevos, etc., m, 7·
4 A 8.
cJllju b,:z rrot a
1 7-8 agosto.
2 10 e 1 1 de agosto.
3 Aujubarrota feriu-se proximamente no Chão-da-Feira, ahi onde
em 1837 (junho 12) os marechaes Terceira e Saldanha se encontra-
ram com as tropas do governo, não chegando a haver batalha por se
recusarem a isso os soldaJos.- Cf. Portugal cm:twzp., do A., n, ~q-8.
4 Lopes, Chron., :xx•x.
emplurnados, pcndóes c bandeiras, <i frente das quacs se
erguiam os balsócs reacs com as arn1as de Castclla e Por-
tugal, lcóes c quinas unidas, c barras de ouro e barras de
prata symbolicas dos dois reinos; pcndóes de campo verde
com um falcão de azas abertas no meio, segurando con1 a
garra adunca o n1otto Ell bem poiut. 1 O segundo corpo
era o das lanças c pcócs das ordens mil itares de Santiago,
Calatrava c Alcantara, sob cujo mestre estava o esquadrão
de jiuetes da Andaluzia, mouros ou guerreando á mourisca: 2
milicia ligeira de corredores que no campo executavam
a ph~wh1sia, crnquanto os cavallciros chapeados de ferro
avançavan1 como rocha, crn columna cerrada. O segundo
corpo contava dois mil hon1cns. O terceiro incluia, no seu
ctfectivo de doze n1il homens, as mcsnadas, lanças e pcóes,
(na razão de quatro dos segundos para uma das· primeiras)
dos senhores c cavallciros, dos prelados c mostctros, con1
seus balsões c insignias. No quarto, forte de quatorze n1il
homens, entravam os contingentes das cidades, villas e
concelhos: tropas de toda a cspccic, desde os homens de
arn1as c os jiuctes andaluzes, até aos peócs besteiros c lan-
ceiros, armados de fundas, chuços, dardos, virotcs, ou sinl-
ples paos tostados. Depois, no quinto, vinham as compa-
nhias auxiliares, frankos do Béarn e da Gascunha, cm nu-
n1cro de dois n1il, e finalmente os portuguczes que scguian1
as partes de Castclla, cm nun1ero de um n1ilhar. Com es-
tes elen1entos se compunha o cficctivo total de trinta c dois
'7
:J58 cA vida de Nwz·alvares
*
* *
entre dos arroyos de fondo cada uno diez o doce brazas, y cuando
nuestra gente aí llcgó y vieron que no les pol.iian acometer por alli,
hubimos todos de rodear para venir á ellos por otra parte que nos
pareció ser más llano; e cuando llegámos á aquel Lugar era ya hora
de visperas y nucstra gente cstaba muy cansada.')- Carta do rei de
Castclla a .\lurcia; (29 agosto, I385, de Sevilha) em Cascales, Disc.
hist.; transcr. em Santos, Alon. port. vm; e em Sandoval, Aljubarrota.
- Ayala (Chron. de D. João I, ann. vu, I3} diz do local que ••de las
dos partes era llano e de las otras dos partes avia dos valles.))
2 Lopes, Chron., xxxm ; Chron. do Condestabre, u.
3 Lopes, ibid.
e1z•zda de Nmz'alva1·es
t Lopes, Clwon. XL
Alcobaç.1 illustr., 218.- Cf. a m0nog r. do sr. Natividade, cit.
::! \'.
cA vida de Nzm'alvares
*
* *
1 1000 a 1Soo m.
2 Lopes, Chron., xur.
cAljubarrota 2ji
• (( •.. en las batallas que los Reyes de Francia mis seiíores, el Rey
Don Phelipe é el Rey Don Juan ovieron con el Rey Eduarte de Ingla-
terra é con el Principe de Gales su fijo, perdieron las batallas los Reys
de Francia é fué todo por non tener buena ordenanza cn su haralla ... ,,
- Ayala, ibid.
:! "Entonces los mas de los cavalleros que con nosotros estahan,
tros, assi:n das azes como das alas de guisa que a sua vanguarda que
era muito mais cumprida. e as ala~ tão grandes que bem podiam abra-
·Çar a oatalha dos portuguezes, ficou tão curra d'aquella guisa que a
de Porrugal tinha já vantagem d'ella; e ficou assim grossa e ancha cm
espessura de gentes que havia um lanço de pedra dos primeiros aos
dianteiros. Isto foi especialmente em direito da estrada por hü cos-
tumavam caminhar em tanto que a vanguarda e retaguarda se fez
toda uma .•, - Lopes, Chron., XIII.
2 ((Despues que los nuestros se vieron fronte a fronte con ellos, hal-
laron tres cosas : la una un monte cortado que les daba hasta la cinta;
y la segunda, en la frente de su batalla una cava tan alta como un
hombre hasta la garganta ~ y la tercera, que la frente de su esquadrou
estaba tan cercada por los arroyos que la tenian al rededor que no
habia de frente de J4o a 400 lanças. Pero aunquc esto estaba assi y
los nuestros vicron tollas estas diti.cultades no dexaron de acometer
los y por nuestros pecados fuimos vencidos.•, - Carta a Mm·cia, cit.
3 Lopes (xu1,) mencionando o movimento, diz que as alas «hcarom
entonces entre a vanguarda c a retaguarda.,,- uE asi fué ... que las
dos alas de la batalla dd Rey no pudieron pelear que cada una de e !las
falló un valle que no pudo pasar. . . e cn las dos alas de los cnemigos
estaban muchos ornes de pie é tenian muchas piedras e gran hallcstc-
ria los quales ficieron grand daiío en los de la avanguarda del Rey .....
Aya!a, Chron, 14.
Foi então o grande alarido da batalha. Apertados n·um
estreito logar, a cavallo c a pé, homens-d·,lrmas c peões,
cruzm·am os golpes. Os portuguczcs de Castella, Yindo
no centro da yanguarda e ficando por isso á frente do
magote, cstaYam no coração da peleja, que, dos lados. os
ginetes castelhanos, destacados, acirravam. ~la-, o enorme
bulcáo de homens, cavallos, armas, coberto por uma nu-
,·en1 de dardos c settas, revoh·ia-se impcnetravel na sua
furia. Os inin1igos, achando uma lth:ta corpo a corp0 ti-
nharn deitado fóra as longas lanças de combatc 7 ou tinhan1-
... ~:
desde o instante em que, rom-
..
~
..
- -:..
pendo com o conselho e con1 o
r~· ·'"· ·:~
' ... ((mas cu lhes disse que não iam elles de d cm:otados de geito
que esperassem rexoxrj_, - Carta d0 arcebispo, cit. Não acreditava
na volta dos castelhanos.
:! Lopes, C/,·o,z., xt.\"1.
accesos. em torno do rei Yen(eJor, Yogavam sombras de
gente correndo. Como pios Jc aves, Oll\'Íam-se lugubre-
mente gemidos de agonisantcs. Cm vulto que passava re-
conheceu-o o rei: era Diog"alvares, que Egas Coelho trazia
preso:
- <Y Diog"ah·ares aqui sois n)s?
.\braçaram-se. O r..:i, no seu contentamento. promettia
ser-lhe melhor amigo do que clle fora servidor, quando
chegaram damorcs de que assalta,·am o (Ondcstavcl. D.
João I partiu açodado, c, na confusão, a gente, vendo ar-
mas castelhanas a Diog'ah·ares. alli o m<.ltou. 1
O rebate era falso: nmguem at<.lcara ~un'ah·ares. O
rei ,·oltou, c, rodeado pelos seus C<lpitãe-s, recolhia as pren-
das que lhe traziam do saque das tendas. 'rasco ~lartins
de .\lello pcrgunta,·a pelo filho que, fiel ü pahnTa Lbda,
largara a galope no encalço do rei fugitivo. Computavam
as perdas. entre mortos e feridos, sem aind<.l (onheccrein
ao certo o numero das ,·ictimas. 2 .-\penas registavam os
nomes dos principaes. _\ lc\·a dos prisioneiros era enor-
me. . . Trouxeram ao rei os balsóes c bandeiras de Cas-
tella; trouxeram-lhe o oratorio de prata da capella real,
uma Bíblia e um relicario prc(ioso, e o proprio sceptro
castelhano de cristal cngastado cm ouro com lavores deli-
C<ldissimo~; 3 trouxeram-lhe um fakáo perdido da falcoa-
lhe o seu cavallo pan que fugisse, e entrou na batalha a pé, mor-
rendo. Hurtado de Velarde celebra o feito n'estes versos :
El caballo vos han muerto:
Sobid, Rey, en mi caballo;
Y si no podeis sobir,
Llegad, sobiros he en brazos.
Poned un pie en el estribo,
Y el otro sobre mis manos:
Mirad que carga el gentio:
Aunque yo muera, libradvos,
Un poco es blando de boca
Bien como à tal sofrenadlo:
Afirmadvos en la silla:
Dadle rienda, picad largo.
No os adeudo com tal fecho
A que me quedeis I'lirando,
Que tal escatima debe
A su Rev un buen vasalo.
Y si es deuda que os la debo
Non diran que non la pago.
Ni las dueiías de mi tierra,
Que á sus maridos fidalgos
Los dexé en el campo muertos,
Y vivo dei campo salgo.
E a Diagote os encomiendo
Mirad por el, que es mochacho:
~ed padre y amparo suyo:
cll/jubm-rota
2 Lopes, Clzron., u.
l ~I
lhe, dadas jü, cu promcttidas, no Porto a D. Leonor de Alvim;
foi confirmado no condado de Barccllos, com Portel, Saca-
vem c os seus rcgucngos c o serviço real dos judeus de
Lisboa c seu termo. Era a mais opipara das doações, cuja
renda os invejosos calculavam acima de dczcscis mil do-
bras. ' Havia, porém, muitas outras: a todos; c tantas que a
corõa ficava sem nada, c o rei sem reino, como observava
desoladamente João das Regras. Havia repetidos confiscos
aos parciacs de Castclla; c cm San tarem, onde o estrangeiro
tanto tempo imperara, essas transferencias de bens eram
numcrosissimas. Certo escudeiro vinha pedir para si os
haveres d'aqucllc alfagcmc que preparara, nas vespcras
• ..
' .
;
;; .
;..-_.~ I. ,-.
I
-:
--~.ii;~.
.. ~ .....
·.l
•._/
-··,. -.·
... ......
":
h_, ··.
·'
Caldeirão de Alcobaça
Diam. max. m. I,3o
1 Dezembro.
z Lopes, Chron., um e m.
Estandarte do Conde5-tíwei
Ylllurrbr
~iiãijij~ü1 SSIM
que o rei e o condestavel se separaram enT
Santaren1, ambos decididos a aproveitar a
impressão fulminante de Aljubarrota : 1 em-
quanto D. João I proseguia para o norte a
rematar a conquista do reino; Nun 'alvares
passava ao sul do Tejo, para entrar em Castella com.
uma álgara ou correria devastadora, segundo a moda de
guerrear herdada dos n1ouros, e conservada sempre na Hes-
panha. Eram principias de setembro, quando Nun 'alvares
foi de Evora a Extremoz, onde mandara concentrar as
suas tropas: um milhar de lanças, com dois mil peões e
bésteiros. 2 Os preparativos da campanha levaram até ao
fim do mez. Largaram·de Extremoz por Villa-Viçosa, con-
tra o Guadiana que transpuzcram 3 junto a Badajoz, acam-
pando já em Cas tella. Na vanguarda da hoste ia Nun'al-
• 5 de outubro.
2 Lopes, Chron., LV; Clzron. do Condcst:tbre, r.·n.
3 Jbid., LIV.
safiar o condcstavel : cada vara era o symbolo de uma es-
pada.
-Senhor condestavel: o mestre de Santiago, D. Pedro
1\lufioz, meu amo, ou\·indo dizer como sois em sua terra e
lhe fazeis estrago n 'e lia, vos n1anda desafiar, e vos envia
esta vara ...
E apresentava-a ao condcstavel que, tomando a, res-
pondia:
-Sede bem vindo com taes no\'as ...
-Senhor condcstavel: o conde de Niebla, D. João Af-
fonso de Guzman) ouvindo dizer como andaes na terra d'el-
rei, seu senhor, rvubando e destruindo, como nao deveis:
vos envia esta vara ...
Repetiu-se a scena. Gra\·emente, o condestavel passava
á mão esquerda as varas que recebia com a direita.
-Senhor condcstavel: o mestre de Calatrava, D. Gon-
çalo Nufiez de Guzman, sabendo como entrastes pela terra
d 'elrei seu senhor, pela damnar e destruir, vos manda de-
safiar, e vos envia esta vara ...
E assim por diante, o arauto foi entregando as varas
todas, symbolos das espadas que se estavam desem-
bainhando para virem colher o invasor em meio da sua
correria, abafando-o por uma vez, e concluindo com esse
terror que fazia gelar nas ~veias o sangue castelhano.
Em quanto fosse vivo, invencível como era, a guerra não
poderia terminar. Duas campanhas reaes, dois annos suc-
cessi vos, tinham consummado a rui na das forças castelha-
nas. Agora, porém, que Nun 'alvares comettera a temeridade
de se internar tão longe cm Castella, era o momento unico
de o matar. De toda a parte vinham contingentes: o mó-
Jho das varas do arauto era basto. Vinham as Janças do
mestre de Alcantara, que desde a Parra tinha acompanhado
a hoste como os Jobos quando seguem os rebanhos; vinham
os mestres de Santiago e Calatrava; vinha o conde de 1\le-
dina C~li, D. Gas_tão de la Cerda ~ vmha o senhor de 1\lar-
chena, e o de Aguilar, com seus irmãos D. Diogo e D. Gon-
ça]o; vinham até os Yintc-c-Quatro de Sevilha que traziam
o pendão da ciJade. . . Quando foi entregue a ultima
vara, ' e concluída a longa enumeração dos desafios, Nun'al-
vares, placidamente, empunhando o feixe e fitando a sor-
rir o arauto ajoelhado, disse-lhe:
-Amigo meu, sede bem vindo com as novas que tra-
zeis. Nenhuma.;; me podiam alegrar mais do que essas do
desafio ... Dizei-o ao mestre de Alcantara, meu senhor e
amigo .. .
Voltando-se para os seus, Nun 'alvares continuou:
-Vedes, amigos, como é certo o que cu vos dizia estes.
dias? que o mestre, meu senhor e meu amigo, não me
havia de deixar passar por esta terra, sem nos põr batalha.
Ora é mister que nos façamos prestes para clia. Quem tão
boas novas nos trouxe, razão é que tenha boas alviçaras ...
.Mandou dar cem dobras ao arauto, c, cn1quanto elle as
recebia, disse-lhe:
-Dizei ao mestre, meu senhor e meu amigo, e aos se-
nhores que com cllc são, quanto lhes agradeço os seus
desafios ... e mais ainda as varas que me rnandaram ...
e com que cm breve os zurzirei!
De pé, com o feixe das varas apertado na mão, fusti-
gava o ar alegremente. A ironia involvia-o n 'uma aureola.
Attingia essa culminação suprema da victoria sobre o
mundo c sobre a idéa. Ria triumphante ! Os symbolos ar-
chaicos tinham perdido já o seu valor n1y.5tico. As varas
não eram espadas; as palavras não eram sacramentos. O
vento agreste da guerra varrera por completo o nevoeiro·
dos mythos em que, segundo os velhos usos encanecidos,
a cxistencia fidalga se estribava. As varas eram apenas va-
ras, com que se fustigavan1 os inimigos por n1ofa, antes de
os trucidar a valer com os rijos montantes de ferro. Con1o
ficava longe o tempo infantil em que mandara desafiar
3 15 ou 16 de outuhro.
3o.3
sem dó, uns por se defender, outros por tomar.» - Clzron. do Condcs-
tat,·e, uv.- nEram em tanto servidos avondo de lanças e dardos e
muitos virotões.))- Lopes, Chron, LYIJ.
hoste, não estava. Sairam para fóra, laterahnente, a pro-
curai-o na charneca, por entre os dentes empinados da
rocha que affiorava. Entretanto o combate feria-se cada
vez mais rijo. Ruy Gonsalves, de subito, deparou con1 elle.
Ao lado estan.1 a mula e o pagen1 que a tinha á mão,
segurando a lança e o braçal do condestavel. ~un'alvares,
de joelhos, entre dois penedos, con1 as mãos postas e os
olhos no ceu, resava. Pendia-lhe ao peito o relicario do rei
de Castella, tomado em Aljubarrota, e que D. João I lhe
dera. Pertencera a Burgos, d'onde o castelhano o trouxera
como talisman. Continha um espinho da coroa do Redenl-
ptor, uns ossos de martyrcs, e um dos trinta dmheiros de
ouro por que Judas vendera o seu _l\lestre. Era uma joia
preciosa de prata cinLelada a buril, suspensa por cadeias,
para se deitar ao pescoço: 1 era o talisman de Nun 'alvares
que entrara com elle na batalha. Agora, na angustia de a
ver arriscada, transportava-se en~ extase para Deus, orando.
O seu rosto, banhado por uma illuminação intima, con1 os
olhos cravados no céo e os labias entreabertos, dizta a Ruy
Gonsalves, parado a contemplai-o, que n'aquelle instante
o condestavel fallava com Deus, transportado em alma ao
céo. O extase, c este silencio do escudeiro, contrastavam
con1 o fragor rnedonho da batalha que se feria ao lado ...
Erguido nas azas da poesia, Nun'alvares transforn1ára as
phantasias cavalheirescas da sua educação n'um realisn1o
piedoso e pratico, d'onde provinha, ao mesmo tempo, a sua
arte de guerreiro c a sua allucinaçao de santo ... Deus as-
segurava-lhe n 'esse instante que venceria a batalha, rema-
tando por um verdadeiro milagre a sua doida aventura;
elle em paga promettia ú Virgem levantar-lhe cm Lisboa
un1 templo magnifico. 2 O realismo mystico transportava,
assim, para a piedade trans:cndcntc, as normas da vida
mundana, transfigurada. Entre o céo e a terra, negocia-
vam-se ajustes.
1 V. Sant'Anna, Chrou. Carm., 11, 9/.~l-
2 O Carmo, de Lisboa. procede d'este voto, e não de Aljubarrota·
Cf. Sant'Anna, CJ.rou. Cann., m, 28-1, 5, 6.
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3 A 20 J.e outubro.
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1 " \ 'oici maintcnant qu "on nous annonce que les Anglais viennent
1 u .•• mas parece que Ocos, por seus occultos mysterios, não quiz
Chaves
(do Livro de Duarte d·.-trmas. no Arch. nac.)
I Cf. Sylva, 1'\tlem., ele., 11, 142; Lopes, Clzrou., LXX : uporquanto
os de sua companhia traziam todos mancebas, tambem os que eram
casados como os que o não eram, ordenou que nenhum d"ahi em
diante nom trouxesse mulber comsigo e se alguma fosse mais
achada no arrayal que fosse logo açoutada publicamente por ello.»
2 Lopes, Clzron., LXXI. 4:Soo lanças e pconagem; talvez 20 ou
25 :ooo homens
3 Lopes, Clzron., Lxxu.
4 Jbid., LXXIII.
tavel, na frente; deu outro aos rivaes de Nun 'alvares, os
Vasques, Nlartim e Gonçalo, que dispunham da Beira e
era mistér congraçar; 1 guardou para si o terceiro, a reta-
guarda; marcando, como ponto de juncção, Coria, sobre o
Alagon, abaixo de Plasencia. 2 Os Vasques adiantaram-se
ú vanguarda do condestavel, para lhe preJudicar a campa-
nha, tomando os pontos avançados da estrada: Fiollosa e
San-Felice. Era uma rivalidade que vinha desde o contlicto
do anno anterior, nas côrtes de Coimbra, e que, exacer-
bada, querem alguns que fosse até ao ponto de conspira-
rem contra a vida de Nun 'alvares. Elle fingia não ver, si-
mulava ignorar, e proseguia. 1\'las n 'estas campanhas em
que não tinha o commando supremo, o seu genio imperial
sentia-se acanhado sob a direcção do rei, adstricto a con-
temporisar com todas as forças, por vezes hostis, que lhe
consolidavam o throno, ainda sem raizes.
As duas aldeias, porém, recusaram-se a receber os \ras-
ques: só se entregariam a Nun'alvares. Força foi, portanto,
esperai-o. 3 De San-Fclice, o condestavcl continuou para
Fuenteguinaldo, onde se demorou tres dias, a castigar
um escudeiro, Gonçalo Gil de Veiros, que roubara sa-
crilegamente o calix de uma egreja. Preso, tinha-o man-
dado queimar; mas livrou-o da morte, já perto da fogueira,
banindo-o. 4 Quanto n1ais incerta era a harn1onia no com-
n1ando, maior tinha de ser a disciplina na obediencia. A
longa marcha de cerca de quarenta legoas na região da
raia, descendo para o sul, fôra até ahi cortada apenas por
incidentes mesquinhos; e o objectivo que levavam náo en-
2.1
3•)')
\I unção
Loys, etc. Coll. Petitot, m., 101.-Cf. Villa Franca, D . .João I e a ali. iugr
2 Lopes, C/iron. xc11 ". • naquella tenda /w {vrom os cousellws.))
:> «Avoit on sur les champs fait feuillées ct logis grands et plantu-
reux de la partie du roi de Portugal et lü alla diner le duc avecques
le roi.)) - Froissart, Chron. m, 38.
·1 n:"\uno Alvares Pereira, conJestabrc de Portugal era alli \'eedor.n
-Lopes, Chron. xt.Ylll.
5 .. Lequc:l diner fut tres hel et bien ordonné de toutes choses. ·•-
Froissart m, 38.
6 Lopes, Chrou. "XCIV.- 1 o de novembro.
í Froissart. C'h,·ou., w, 3K
8 !3}.)7·
Os iugle1.es 333
• 2S de março,
Lopes, Chron. xc1x e r.
:.!
~ 3 r de março.
Os ingle;l!s .3.3]
Clzron., c.
3 .!\loururent de la morille douze barons d'Angleterre et bien quatre
vingt chevaliers et plus de deux cents écuyers tous gentils hommcs ...
d'archers et telles gens plus de cinqccnts.•>- Froissart, Clzron. m, 70.
4 «D'elles matauam (os castelhanos) por esses boscoens & deuezas
os que achauom andar huscando mantimento pela terra."- Lopes,
Chron., c.
:- ,, Ceux de Portugal portoient assez bicn cette pcine c ar ils sont
durs et secs et faits à l'air de Castille.» - Froissart, Clnon. m, 79·
6 ccll n 'y avoit si prem., si riche, ni si joli qu 'il ne fut en grand ef-
froi de lui-mêmc et qui attcndit autre chose que la mort.a- Jbid.
-; Le duc chcy en langueur ct cn maladie ... tres pcrilleuse.n -
jbid .. ~1.
Os inglep!S 33g
lbiJ.
2
-"#
de Gaya, fundado por sua avó. João Pires d'Alvim e sua mulher D.
Branca, paes de D. Leonor, tinham beneficiado muito o mosteiro de
Corpus. O viuvo, em cumprimento do testamento de sua mulher, deu
ás freiras a quinta de Reboredo, no Barroso, junto a um sitio onde el-
las já tinham outra. -Fr. Luis de Sousa, Hist. de S. Domingos, I, liv.
1v, 5 ; Jlon. lusit. vm, 23,3 ; Sant'Anna, Chron. Carm. m, § 2, G8G.
2 Clzron. do Condest.1bre, LVIII.
3 Sant'Anna, Chron. Carm. m, 938.
4 Clzron. do Condest.1bre, LYIII.
5 lbid., ux; Lopes, Chron., cxxxm.-Feverdro (?) de I388.
corro contra o conde de Nícbla. Largou do Redondo, entrou
em .Monsaraz, onde soube da 1·a:;;ia feita por castelhanos
e gascões na Vidigueira: 1 tinham saqueado a terra, levando
a gente captin1 para Villa-nucva-dcl-Fresno, além da fron-
teira. Estm'am impando de alegria, alli, a quatro lcgoas.
Largou. De n1adrugada, achava-se em frente da torre da
villa, onde o gaudio originava o descuido Deixaram a dis-
tancia os cavallos; avançar~un a pé, escondidamente, e de
repente com um bradar tremendo:
- Portugal ~ Portugal !
entrararn ás estocadas pelas ruas, assaltando a torre. Ahi
foi Nun'alvares ferido n'uma coxa: o virote esfarrapou-lhe
a sella da mula. 1\Ias todos os captivos da Vidigueira re-
gressararn a casa libertos. 2
Emquanto Nunalvarcs assim defendia o sul do reino,
n_ João T, ao norte., ia, de Braga, cercar ~leigaço. 3 Rcpcl-
lido o assalto, passou o .l\linho, tomou Salvatierra, na Gal-
liza, em frente de :l\lonção, c voltou contra ~leigaço que se
rendeu depois de um ataque terrível. 4,. Consolidada a fron-
teira do ~linho, o rei desceu a Lisboa, e passou ao Alcrn-
tcjo, a unir-se ao condestavel para a ton1ada de Campo-
n1aior. Era agosto. Aos tres n1ezes, depois de varias cor-
rerias, Campo-maior capitulava. 5 No sul acontecia con1o
no norte: os castelhanos eram varridos para além da fron-
teira; mas, não bastando estes ultimas ep1sodios da guerra
defensiva para convencer o inimigo a pactuar, D. João 1,
que toda a primeira n1ctadc do anno seguinte se conservou
quieto, foi no verão pôr cerco a Tuy. 6 Tomava a ofiensiva.
Não era uma correria franca; era o assalto e a conquista de
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a trcgoa por onze annos, estaYa segura
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~~ paz: ao mcnos 1 emquanto não crc!9ccsse o rei
de Castclh1, Henrique lll, que tinha on~c annos
tambcm. D<1 longa tormenta da ultima de-
cclda~ Portugal saia remoçado c retemperado.
A guerra, assolando c J.c-;truindo tLh..io, victimara de pri-
mazia o que encontrara mais caduco c mais minado.
Só lhe resistira quem provi.lra energia superior. A crise
fora tambem uma revolução: novas idéas, no,·as clas-
ses, subiam ás eminencias do poder com o rei lcYantado
sobre as ruínas do principio~vetusto da hereditariedade, pelo
direito aristocratico do ...sangue. D. João r era como um Cc-
sar, acclamado pelo povo; era como um dos innumcros
príncipes que brotavam das agitações dcmocraticas da
ltalia, preparando o advcnro do imperialismo classico. de
que 1\lachiaYel foi o doutor, c, entre nós, o segundo João
foi o prototypo. l\las esta definição pura c completa da
idéa monarchica anJ.~1va ainda cnfeixa'-ta nas indetermi-
nações do começ·). O throno de D. João r, erguido militar-
mente por urna democracia, busca,·a a sua forca e assen-
taYa os seus alicerces, sobre a antiga institui~ão das côrtes
nacionaes que, tendo acclamado o rei, eram reconhecidas
como origem da soberania. Os legistas, procurando, porém,
esse ponto de appoio, para Ycncercm a Yclha sociedade aris-
tocranca, procediam com astucia consciente, pois guarda-
Yam para si, sem a propor, nem defender, a conclusão
absolutista das doutrin~~s quasi religiosamente aprendidas
nas escolas da ltalia, onde tinham professado o direito an-
tigo.
Depois de uma guerra de dez annos, coisa singular! o
throno implantado á força de batalhas, regado con1 san-
gue, erguido sobre lanças c escudos, não era uma monar-
chia aristocratica c militar: d'onde se vê que força tem a.
tcndcncia natural dos tempos ; vendo-se tambcm a pcrspi-
cacia politica do príncipe que lhes sabia descortinar a di-
recção. A rcYolução lançaYa, de vez c Yiolentamente, para
o passado historico o naturahsmo medieval, c o seu di-
reito baseado na consanguinidade. Portugal rcsurgia inspi-
rado por uma alma nova, cm que, á luz da philosophia
renascente, o Estado se desenhava como un1 cdificio ideal,
crcado pela arte do homem. Era a idéa classica, Yoltando
sobre a noite medieval, como o sol volta na successão cons-
tmue dos dias.
Da Yclha sociedade aristocratica, alluida nas suas raizes
que penetravam no tempo, até as edades remotas da con-
quista ,yjsigoda: d'essa côrte de barões e caYallciros arma-
dos, para quc1n a nobreza violenta dos instinctos espon-
tancos era a suprema auréola: nad1, pode dizer-se, rcs-
taYa, desde que a monarchia antiga se dissolvera no es-
tonteamento que tinha assignalado o governo d'el-rei D.
Fernando, Contra a soltura dos costumes fidalgos, ultimo
termo da decomposição do naturalismo espontanco de ou-
tras cdadcs, reagia a severidade dos costumes novos; c
contra o dcsbragamento c violcncia do mando dos senho-
res quasi fcodacs do passado, levantaYa-sc agora a aucto-
ridadc monarchica 1 reclamando para si, con1 os textos do
direito classico, o impcrio cm toda a cxtensao do reino.
As armas h;wiam de ceder ús togas; e o rei que fura,
n 'outros tempos, o general, ou chefe, dos barões, apparecia
agora de samarra, corno um legista, ::i frente da sua cohortc
de juristas. Imperar não era sómente combater, ncn1 admi-
nistrar mais ou menos habilmente um senhorio: o imperio
consistia na affirmação terminante c absoluta do poder
eminente da Corõa sobre todas as terras, e sobre todos os
Yassallos.
Nos dez annos de guerra, sob a pressão de condições
criticas, o :i\lestre d'Ayiz fl)ra forçado a repartir o reino ern
pedaços, para ter quem o seguisse; fõra forçado a abdicar
dos seus direitos en1 fa,·or das cidades e villas que se pro-
nuncia,·am por clle. Agora, feita a paz, começava outra
lucta; porque esse throno, engrandecido pela doutrina nova,
apparccia, afinal, como a sombra de uma realidade, sem di-
reitos a exercer~ sen1 beneficias a fruir, sen1 força etfectiYa
sobre que appoiar o exercício do governo. O sccptro es-
tava partido em hastilhas, o manto despedaçado em reta-
lhos: exactamente quando, na mente que animava o poder,
esse sceptro havia de ser uma vara de juiz, não uma es-
pada de cavallciro; e esse manto havia de cobrir todo
o paiz para estabelecer ú sombra d'ellc o reinado da for-
tuna c da ordem. A nova monarchia, embora nascida da
guerra, era essencialmente paCifica.
Que restava, pois? que logar deixavam à sociedade an-
tiga dos guerreiros?. . Nenhum? Não; porque revoluções
tão profundas, nos habitos e na constituição organica das
sociedades, não se rematam radicalmente. O papel da milí-
cia era enorme, como força indispcnsavel n 'um reino sempre
ameaçado; mas a milícia baixava <is condições de um ser-
viço publico, em vez de ser a expressão gloriosa da socie-
dade. O lagar da nobreza era cmmente, pela extensão das
suas riquezas; mas a nobreza havia de entrar no regímen
commum da vassallagem, cm vez de ser, como fôra, nos
seus senhorios, uma imagem reduzida do throno. E a
guerra, a stirpc, a aventura, a conquista: o conjunto de ca-
racteres da sociedade antiga c sua corôa de ideal, ficavam
coroando ainda a socie&.1de no\·a, mais pro3aica, ou antes
philosophica : mas com'J uma coroa acri~1, esbatida, fugit;-
va: uma corõa de poesia apenas, saudade inconsciente do
passado, sem alcance maior no presente, c jú sem signi-
ficado para o futuro do povo portuguez. O idealismo
classico tom:..ira posse de nós, vencendo com a mo-
narchia nova; e o destino maritimo, que dormitara nos
seettlos da claboraçáo historica, ia dentro de poucos annos
imprimir o cunho original proprio á naçáo rcmoçada, re-
constituida, c jü vcrdadcir~lmcnte autonoma, que saía da
paz de 1 3~l~t
Agente principal, apostolo fervente, braço dcnodada-
n1ente forte, espírito quasi prophctico da revoluçáo, Nun'al-
varcs, porem, era a sua victima gloriosa. N' este momento
da paz, começa para clle uma outra vida. Symbolo supe-
rior de toda a realidade, principia a morrer no imtante
em que vc rcalisado o plano heroico da sua existencia.
A victoria é para cllc o fim. Y cndo de pé, real e
verdadeiro, em fórma c cm csscncia, o seu ideal da inde-
pendcncia alcançado, sente a sua n1issáo terminada, a sua
existencia vasia, o céo a chamal o: outras ambições, outras
esperanças. outros ideaes. . . A antiga sociedade aristo-
cratica, d'onde procedia, jú desde a infancia lhe apparccia
transformada n'uma nuvem poetica, embalsamada pelos
aromas inebriantes do nardo mystico da Cavallaria. Náo
tinha já realidade verdadeira para cllc que, na santidade
ingenita da sua alma, repcllia a desordem dos costumes c
das idéas fidalgas, cuja decomposiçáo vira em crcança na
corte d'el-rci D. Fernando . .\las a sociedade nova dos le-
gistas: esse culto, muitas vezes pharisaico dado a uns tex-
tos desenterrados do passado; essa quasi cndeusaçáo de
um homem elevado üs proporções de symbolo ; esse pro-
cesso de comprehcnsáo racional das cousas, alicerce pro-
fundo, raiz primaria da sociedade nova, que abandona va a
vidi.l espontanca, natural ou mystica, pela YiLb pratica da
observação e do estudo, desentranhando de si as leis, sem
recorrer ao milagre : tudo isso, e mais a cohortc dos legis-
cA sociedade nova .J5I
dos donatarios :
I. Gon.;alo Anncs de .\br~u: .-\lrer-do·Chão com o castello e as
rendas;
~- Lopo Gonsalves : a alcaidaria de Estremoz;
:. Martim Gonsalves do Can·;.llhal, seu tio: Evora-!\lonte e suas
rendas;
..t· João Gonsalves da Ramada: as rendas de Borba;
5. Rodrig'alvares Pimcntel: ~Ionsaraz;
ti. Fernão Domingues, seu thcsoureiro: as rendas de \'illa-de-Fra-
des e parte das de Portel;
7. Atlonso Esteves Perdigão : parte das rendas da \"idigueira;
R. Loure:nço Annes Azeiteiro : as rci1llc.s de ~Iontemor-o-novo;
~l- Rodrigo Alfonso de Coimbra: \"ill'ah·a e Yilla-ruiva;
10. Pedro Annes Lobato: Almada (Lopes, ibi.i., diz Almeida);
1 I. João Atlonso, seu contador : a barca de Saca vem;
1 Villa Nova Portug,tl ( D.1 i11trod. do dir. rom. em Port.; nas Afem.
I i_Ji_J.
:! Figueiredo, ibid., não menciona o sc~unJo, que talvez só <:ntrasse
no conselho pm· morte do pae, em 13~7- Os Occns tinham capella
propria no com·ento de S. Domingos de Santarcm. O tumulo do dr·
Gil, que com os mais da t~1milia estão hoje em S. João do Alporao,
cgrcja conv~rtida cm museu districtal, achava-se logo á direita da porta
lateral da egreja. Tem a fórma de cofre apainclado, assente sobre Ic6cs,
ornado apenas com os escudos e uma Ü1cha onde se le a seguinte ins-
cripçao cm gothico maiusculo: << -~- .\qui : jaz : o doutor : dom
: gil 11 dosem : caualciro : que : foe : da fala : c : do : conselho
: do mui nobre : rei 11 dom joham : de portuga 11 1 : q. pasou : na
era : de : mil : e : cc.:c: e xx : Y: 1 LJ25=I3X7) anos : do mez :
de : novembro. - •
O filho, 1\lartim d'Ocem, foi, como Lançarote PessaniM, um Jos le-
gistas diplomatas de D. João I. Já o pac fora a Castdla na ~mhaixada
de r 37 r para as pazes. l\lartim, em qoo, vac com D. Jo~o Esteves
d'Azambuja (arcebispo de Lisboa e depois cardeal) e com João Yas-
ques da Cunha, a Segovia, a negociar a tregoa d..: dez annos com Cas-
tella; depois vae, cm qo-J, por morte de Ricardo II de Inglakrra, a
Londres, ratificar a alliança anglo-portugueza com H~..:nriquc 1v; de-
pois, cm q')5, volta a In~latcrra com Joao Vaz lL\lmada para tratar
o casamento da infanta bastarda n. Bcatri7 com o conde de Arundcl;
depois ainda, cm Ll''• em q18 e em f-l'9' é um dos nL'gociadores do
tratado final de paz com Castclla.
A inscripção do tumulo de 1\lartim d'Ocem diz assim: "Aqui :azo
muy honrado üm1oso doutor l\lty dose do cóselho do mui alto e po-
deroso prlcipc rey dó .Johã c do ifãtc eduartc seu filho primogcnito e
seu chãcarclmoor o qual pelo seu mãdatio foy pó vescs em êbai'\ada
aos reinos de inglatcrra c de castclla os quaes t"uxe a boa fy foi com
elle na filhada de cepta óde fo\ pó Sor. lfãnte armado caualeiro e asy
36o
ell como todo seu linhage foró sêpre mui priuados ebuidores dos rex
destes reinos e finou aos vinte e tres dias de fev. 0 e de mil 1 ~ 1 xxx1
anos.» (q3I=I?93)
Gil d'Ocem tinha outro filho por nome João, cuja campa se acha
com estas; e d"outro ainda ha noticia : Pedro Gil, a quem D. João I
deu os direitos das quintas das Chantas, de Santarem.
I l-t39.
-;, *
1 Os fillws ..ie D. Ju;io I, J.o .\., p. 182.- Cf. Ro(:ha, Ensaio sobre o
gtJl'. c leg., etc. ~ '-1--1-·
~ Portugal, .Ucm. cit.
365
ouro) a rasão de :::.:793 reis (Aragão, Dcgr. geral, n, 237) as 7000 dobras
valeriam réis 19-~.S 1:ooo, ou, decuplicando, 2oo contos de réis, em moe-
da, porém, depreciada.
1 Cf. Sylva, Afem., etc., 11, LH·
:! cc ••• lhe fazemos livre e pura doação d'este dia para todo o sem-
pre para clle e para todos os seus successores que depois d'elle vie-
rem em nosso senhorio, assi moveis ·como raizes, porquanto se foram
para nossos inimigos e o dito Martim Vasque veo á nossa terra des-
servindo nos com elles ... , Carta, em Sousa, Hisl. geneal.; ProJ,as,
:XIII, 6.
3 (~!won. dn r:on.iest.1brc, I. XIII; Lopes, Chnm., Cll\".
cA socie.iade llOJ'~t
li-
-~-
.• *
r Lopes, Chron., Cl xy
3S::
1 24, :!5 julho; l.opes, Clzron. Ct xxv. A ~apitulação fui a 26; ibid.,
CI.XXII.
:! -JO naus e 1S galés~ Lopes, ibid., CI.XXtL
:~ Jbid., CI.XXIV.
4 fbid., CI.XXII.
.38.;.
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I. 13;3-J~-83.
O sa1llo coudes".1Jiel .3g3
I 1383-f ~00.
3g.;.
22 annos.
:.~ Chron. do Conicst.:brc, LXXVI; Lopes., Chron., c:ov.
3 V. a carta de legitimação de D. Alfonso, 20 de outubro de 1439
=•401 {arch. da casa de Bragança) em Sousa, Hist. Gen:!al.; Prov.:~s,
H, n. 1 ; e Sylva, .\/em, etc., 1 n. 12.
O saulo coudcslaJ'cl
do condado. 1 Nun 'alvares, por seu lal.io, deu <:O genro Cha-
ves e j\lontenegro, ::\lontalcgre c Barroso, Baltar, Paços-
de-Ferreira e Rustello, com todos os coutos c honras. com
sa. ibi.i. n. 0 3.
3 De 1 de novembro de q39=J..tol, em Friellas. Sousa, ibi.i. n. 2.
4 Chmn. do Condcst.1bre, Lxxn.
5 V. Os Ft!lws de D. JoZio I, do A., 3o-J. Os fructos do casamento
Ja filha de Nun'alvares foram: 1 D. lsahel, que ,·eiu a casar com o in-
fante ll. João, filho de D. João 1; :!. D. Alfonso, conde de Ourem e
marquez de Valença, o que foi a .Jerusalem, ao Cairo e a Dam~sco; 3.
D. Fernando, conde de Arrayolos, segundo duque de Bragança.-
Chron. do r:ondcstabrc LXXVI.
O saulo coudeslaJ•el
I 1381.
2 Agosto, 13~z.
3o de dezembro, J3XJ.
do bispo perdido; cujas torres, cortando o ceu e o rio,
se banhavam ao mesmo tempo, no azul do ar, no azul
da agua, no azul distante dos n1ontes esfumados da Arra-
bida, lü para além ... Detraz das torres aponta a agulha do
paço d'apar S. l\lartinho, onde morreu o Andciro. Ao fun-
do, estü Palmella: que dias crueis foram os do cerco! 1 E a
corrida a Almada, as fogueiras que accendia no castello pa-
ra que o l\lestre soubesse como pairava de fora, correndo~
voando, em sua defeza ! .. O horisonte fecha-se n'uma cur-
va doce, perdido em agua.
N'outro plano, inferior c n1ais proximo, erguendo-se
a nascente do Rocio, vae seguindo a lombada de Sant'An-
na, a encobrir o valle da l\louraria, Santo Antão e a Cor-
redoura, que se insinumn para leste: a lombada mosqueada
de olivacs, onde, para fóra das muralhas, a casaria da ci-
dade, amontoada a poente, como em pinha, branqueia dis-
persa, perdendo-se pouco a pouco no pardo amarellento dos
campos. Foi lá cm bmxo que acabaram de matar o bispo
scismatico arrastado da Sé, deixando-o mutilado apodrecer
como os cács ... Aqui mesmo, na raiz do monte, de cujo
cimo Nun'alvarcs domina os socalcos pedregosos: aqui
mesmo, passa a rua de l\lestrc-Gonçalo 2 que yae ao
Rocio, a ValverJ.e. No angulo em que a Baixa bifurca,
abrindo-se, fica o convento de S. Don1ingos; para além
Santa Justa; ao lado, a Senhora-da-Escada, tão beni-
gna para Lisboa. Val\'er'-ie yae seguindo c subindo, ferra-
geaes c hortas, cortadas de lado a lado pela linha negra das
novas muralhas, armadas de torres, coroadas de ameias,
cujos dentes mordem o ceu, trepando empinadamente
pela encosta do tnonte de S. Roque, sobranceiro da es-
querda ao do Almirante. Entre ambos. afunda-se uma
• Agosto, r38+
2 Hoje a rua nova do Carmo.-V. para a Lisboa do tempo, Hercula-
no, Alonge de C1ster, x \'III e x1x.
U s..wto coudestavel -f.05
(doe. VIl•, § 8ü9; 9 de setembro de 14-1-4 = 14oti; ibid.) Por outro lado
a doaçao dos bens de Corroias e Amora levantou questões com a
corôa; chegando-se á composiçiio da escriptura de 29 de setembro 1441
= 1403 : doe. x1, § 858; 1bi.i.
• 328 palmos compr. X wo de largo X 112 de altura; ou m. T',:iõ
X~~ X 2-J-/'-t· A maxima largura no cruzeiro é de 33 m.
O sall/O condes"71Jel 4II
)f
ra-se (Sousa, Hist. Genea/. V., 94) mas, pela coordenação dos aconte-
cimentos na chronica, precede a conquista de Ceuta, 14 I5.
~ " •.. - da qual cousa elle foy tam anojado que se ouuera de per-
der có nojo se Ocos nó guardara .. , Chron., ibid.
~ A sepultura está no coro baixo da egrcja. Convento e egrcja as-
sentam n'uma collina a leste da villa, á beira mar. Cf. Sant'Anna,
Chron. Carm., m, §V, 792.
414
«.est.7bre, LXXVIII,
2 Nascera em 1400.
27"
ao sul da abside, l:ontra o logar onde tinham sido as ruínas
do paço do .\!mirante. E do lado opposto da egreja, n\un
eirado sobranceiro ao Rocio, espaço franco onde os tran-
seuntes descançavam ao trepar as escadas íngremes da
Piedade, o condestc.n·el ficava tambem horas esquecidas
contemplando Lisboa, memorando os tempos passados,
digerindo no cerebro as idéas luminosamente funebres que
a tentação do anniquilamento lhe excitava. Velho, mas
rijo; branco~ mas rosado: a sua pequena estatura dobra-
va-se, a cabeça pendia-lhe para o chão, c a longa barba
branca, descendo até á cinta, onduJaya con1 o vento, n "esse
eirado exposto ao nortt:. Debaixo, quem passava no Rocio
e via a vcneranda imagem, descobria-se murmurando:
-·E o santo condesta,·el!
Já se tinha despojado do restante dos seus bens, ern
favor dos netos a quem morrera a mãe. ~0 a saudade
d'ella lhe fazia ainda marejar de lagrimas a vista... O
neto n1ais ,·elho. D. Affonso, herdava o condado de Ou-
rem que déra ao genro: não carecia mais. O segundo,
porém, nada tinha: deu, pois, ao neto D. Fernando o con-
dado de Arrayolos; 1 e a D. Isabel, que era a menina dos
seus olhos, já casada ao tempo com o infante D. João, e
por isso menos necessitada, deu-lhe o castello de Loulé 2
n1ais as terras de Lousada, de Paiva, de Tcndães, c o que
182,3.
2 Clzr-;n. do ( .'ondestabre ; ibtd.
' "Ao conde de Barcdlos mt:u senhor. ~enhor, antes qu~.: to~..lo bejo
as vossas mãos e me recommendo na vossa merci.? como aquelle que
sempre muito presei. Magoado dias ha me tem o não ver letra vossa,
ca certo sou Senhor tendes saude de bondo. Nâo era assim antes que
vos aleixedes a Vimarães e lo que de sobra enronces era de mingua
ora hei, e lamento muito daquelles ante que tomasse este viver que
tarde foi leixei com reparos para bem passarem os que mais vivessem.
E bem vos acordaes, Senhor, que ante todo olhei bem por vós e pela
vossa casa e logo por meus netos, e do que meu era bem parti, não
deixando de a todos contentar. En las doaçoens que o Carmo é não
são de vinculo, não, porque o doutor Pedro Esteves bem lo vido e de
feição foi tudo a vosso aprazimento. E ante delRey meu senhor me
fazer condestabre dos seus regnos bem havia eu jà senhor dos bens
do Senhor e a meu carrego estava acordar-me daquelles que muitas
vezes tiveram as vidas em grãos peligos por mi e pelo serviço delRei
meu senhor. Agora que son ja los pes no enterro me marteira mu
ver que vos Senhor os não deixades em paz a ver o que le dei de bom
grado que meu era, pesquizandole o que vosso não é, mas seu, porque
se le dé é para bem porque se lo devia. E donde que finauos forem
não a vos nem a meus netos hade ir, senão ao mosteiro do Carmo
donde heide viver mais que vos pensades. Olhae bem senhor o que
fazedes que é um grande desserviço a Deos e quem na terra não cum-
pre, não entra no ceo. Eu non hei pés ja para ir ver vos que a ha-
vei-os, so por isto o fizera e sabei que no yue posso vos sirvo que é
pedir ao Senhor Deos e a sua Santa Madre olhe pela vossa casa e
augmento. Amem. Carmo VI de janeiro do anno de Senhor de 14Jo.
Beijo vos las mãos, Senhor. .'\hmo de S.mt.T i\l.lrh1.u- Em Sant'Anna~
ibid, 932; e Sylva, íG3.
cl1 vzda de Nwz' a/zJares
1
Sant'Ann<~, Chron. ( ."ann. nr, 104h.
2 lbd., 92R.
-Só se el-rei de Castella outra Yez movesse guerra a
Portugal ...
Ergueu-se como impellido bruscamente, as longas bar-
bas tremeram, e passou-lhe na Yista uma illumina~ão de
batalhas:
-Em tal caso, emquanto não estiver sepultado. servi-
rei ao mesmo tempo a religião que professo e a terra que
me deu o ser.
O interlocutor olhava para elle com assombro. Era o
capitão invencível ; era o terror dos inimigos. E fi·. Nuno~
socegadamentc, levou as mãos ao peito c apartou o csca-
pulario: por baixo tinha o arnez vestido. 1 O· castelhano.
curvando a cabe~a. saiu.
De outra vez, aos dois annos de estar no convento, o
bey de Tunis e o rei de Granada, alliados ao ~1arroquino,
queriam de novo atacar Ceuta. Em Lisboa faziam-se gran-
des preparativos para a expedi~áo de soccorro á pra~a de
Portugal em Africa, sempre ameaçada. D João 1, apesar
dos annos, ia; iam os infantes : dissera-lh 'o o proprio D.
Duarte. 2 Iam todos, c não iria elle? Inconsequente, revol-
tava-o similhantc idea. Não se lembrava de que se demit-
tira. O orgulho invadia-o. O homem antigo resuscitava.
No eirado sobranceiro ao H.ocio, exaltado, aos companhei-
ros que lhe observavam a cdade e a fraqueza, respondeu
tomando uma lança, alçando-se nos joelhos, erecto, com o
braco direito a prumo:
-Em Africa a poderei metter, se necessario for!
Sibillando, o venabulo foi cravar-se em baixo, n'uma
porta, do outro lado do Rocio. 3 Ellc sorria contente e or-
gulhoso, nas suas fartas barbas brancas. Ao outro dia a
D. Duarte que veiu vel-o, disse:
-Não posso eleger morte mais gloriosa, nem sepultura
Se comer quereis
Não vades além
Que mingua não tem :
Ahi lo comereis
Como lo vereis. . . 1
Se comer queredes
Num ,·artes alem
Don menga non tem
Ahi lo comcredes
Como lo ved.:s
A benção 1 de Deus
Caiu na caldeira
De Nun'alvares P"reira,
Que tanto 2 cresceo
E todo lo deo. 3
Outro acudia :
O mal d'aqudla altayata,
A grão dor d~ Lopo Afonso,
Não 5 lhes chega aos corações :
Que o conde santo los guarda
E tudo 6 por fazer bem ...
E bem! e bem~
3 le prouge.
4-S nom.
0 todo.
c1z·ic_ia de ;Ywz'ab•a.,·es
1 pendone.
2 No me lo digades, noth:.
·.; Tomou Badajoz.
441
Entrou sua torre
E poz seu pendon ·. o o
Santo Condcstahre
Bom Portuguez !
Em camranha sois :~
Além d'uma vez,
E mais outra vez,
E mais outra vez ...
Santo Condcstabre
Bom Portuguez!
Não me lo digaes G
(,!ue demais o 7 sei :
Livra as ovelhinhas
Du Leão de Castel. g
E mais outra vez
E mais outra vez ! lJ
1 Bone.
z Dt: Bar~ellos, d'Orem.
:~ Na campanha somdes.
4 Por faison, i. e. faccion.~ ou facção.
s Todo esto lo fez.
6 No me lo digades.
7 abondo lo.
b Librou as obdinhas -Do Leo de Castel.
<> Sant'Ann<l, Chron. Carm., IoJg a :22.
os de Rcstcllo; depois, pelo São João, no dia cm que
Nun ·alvares nascera, os de Saca vem, de Camaratc, da Po-
voa, de Cnhos, trazendo, piedosamente, otfertas de azeite
para a lampada do tumulo; depois, pela Assumpção, no
dia sagrado de Aljubarrota e de Ceuta, no dia cm que
Nun"aln1res professara, vinha de Almada a procissão do·
povo com velas accesas, 1 recordando a hora cm que o
condest<.wcl lá surgira, inopinadamente, como um archanjo;
c~ batendo os castelhanos, f<'lra desfraldar o seu pend;,l.o com
grande musica de trombetas no alto da villa, mesmo cm.
frente do arn1yal de Santos~ fustigado pelo açoute da peste.
~·
Cl WO:\OLOGL\
( r3 .58- LJ.-P)
tJ5~-(abril, t)) Nascimento do filho de O. l'edro 1 e Thcresa Lourenço, O. João, que de-
pois fui mestre d' A viz e rei.
1Joo- (junho, :q).- Xascimento de Xzm'<1lvares Pereir,1, 110 Bomjar,iim.
r:lGr- (julho, 2Jl.- Leptwza~,io de Swz',1b·,u·es por el-rei D. Pedro, em Portalegre.
dGG- Profissão de D. João na orJem de Aviz.
d67- :\\orte de ú. Pedro 1, successão de O. f ernando no throno de Portugal.
r368 -Casamento de Leo1nr Telles com João Lourenço da Cunha.
t3Gg- Liga de Portugal ao Aragão, ~a varra e Granada contra o novo rei de Castella Hen-
nque 11. Invasão da Galliza, tomada da Corunha, d'onde D. Fernando retira, trazendo
comsigo, entre outros fidalgos gallegos, a João Fernandes Andeiro. Entrada dos caste-
lhanos em Traz os·:\lontes e no :\linho: tomada de Bragança e de Braga, cerco de Gui-
madíes.
d;o - Continuação da primeira guerra castelhana: cerco de Ciudad-Rodrigo pelos caste-
lhanos, bloqueio do Guadalquivir pelos portuguezes : ambos frustrados.
tJ:;-1- (março, 31) Pues. (')Contracto de cMamento de O. Fernando com a infanta de Cas·
tella, 1üo cumprido pela paixão do rei por Leonor T.olles. Rapto d'csta a seu marido.
Revolução de Lisbca: fuga do ~·ei (outubro).
Eleiç;!o de D. João ao mestrado de A viz.
1:;72- Declaração da segunda guerra castelhana, com a alliança do duque de Lencastre,
pretendente da· corõa de Castella. Captura de cinco naus biscainhas no Tejo. Invasão
castelhana ~ela Beira: tomada de Pinhel, Celorico, Linhares e Vizcu (dezembro). !\as-
cimento da infanta [J. Beatriz.
d7J- (fevereiro). 1\larcha dos castelhanos. de Coimbra, sobre Torres-~ovas. Encerra-se
· D. Fernando cm ::-anta rem, abandonando Lisboa ao invasor.
Entl'<l.:i.z de .\'un'a/v,u·es na corte. tra'ji,to ror seu rae. S,w a recmzlz<?cer o exer.:ilo
c,IStellzano, 11•1 su.1 marcha sobre Lzsboa. E' arm.1.:io cav.1lleiro e.fic,1na corte com Sllo.l
mãe e 6eu tio.
!fevereiro, 23). Acampamento) de H.:nri,lne 11 no alto de S. Francis..::o em Lisboa ;
queima dos navios e arsenaes; as.:;olaçáo dos arredores. (março, 7) Chegada da esqul-
dra castelhana ao Tejo. Fntraja de outro exercito inimigo pelo Minho.
Pazes de V.tllada, por mediação do l'ap.1. l'rom~ss:t de casamento de D. Beatriz, in-
fanta herdeira de Portugal. com o conde de Bwavente, t>astardo de Henrique u. Expul-
são dos immigrados castelhanos ou gallegos de 1:;6•1; sabida do .'\ndciro para Inglaterra.
Appcndices
(junho)- Tratado de alliança com Duarte 111 de Inglaterra, celebrado a 15 por media-
ção do _\ndeiro. (').
1375- Conclusão das novas muralhas de List.oa.
1376- (agosto, 15). Casamerzto de .Vzm'al.,ares cvm Leonor d'Alvim; bodas em Vi/la
Sova da Rainha; lua-de-mel no B011~iardim.
1'377- (janeiro, 8) Contrato de casamento da infanta D. Beatriz com o conde de Benaven-
te ('J.
1377-79- Residencia de Nzm'a!J•ares no .\linho: nascimento da sua filha D. Beatri'{, fu-
tura condessa de /Jarcel/os.
1J78- .\forte do prior D. AlMro, pae de :vwz'alvm·es. (")(maio) Morte de Henrique n de
( ) Figaniere, no seu Cat,1/. dos mss.portug. exist. 110 .lluseu britannico (1853) a p. 55,6
1
refere a existencia de um yuarto artigo, alem dos tres yue se en.:ontram no texto de Rymer
(m, 2.a p. 202; ed de Haya) e de Dumont rCorcs U1ziv. Diplom., n. 1. 8 , p. 8.t) como consti-
tuindo o tratado de 16 de junho de 1373 negociado pelo Andciro. Não se encontrando o art.
4. 0 nos dois textos citados, talvez fosse apenas projecto yue não vciu a ter etfectividade.
o texto ms. e este :
•Item in speciali, dic:us Dominus noster Rex .\ngliae et Franciac dictos Rcgem Por-
tugalliae et .\lgarvii et Dominam Alianorum Rcginam et coujugem suam, dktum regnum
Portugalliae et .\lgarvii cumplexibus amplexando agris siticntibus pmpriis et pwpria ne-
cessitare non obstante in prcsenti provideri mandavit in rcgno suo .\ngliae et preparavit
certum numcrum bellatorum ad partes si,·e ad n:gnum Portugalliac mittendorum ct man-
dandorum ndclicet sexccntos homines ad arma et yuadringentos sagittarios in subsidium
et defcnsionem di.:torum Rcgis et l~eginae Portugalliae, ad bellanJum et totis viribus resis-
tendum et impugnanJum advcrsos hostilcs impugnationes et inmsiones tyrannicas tlenrici
Bastard se ipsum f'astellae et Legionis Rcgem n1lgariter licct mi nus\ craciter praetenden
tis et di.:tum Regnum ct Regem Portugalliac invadentis a I lamino eodem nostro l<ege per
primum yuarterium unius anni complctnm quod mcipit currcre a tempore, yno gentes prae-
dktae versus praedictas partes Portugalliae itcr arripicnt cxpensis stipendiis sumptibus
prae manibus integre pcrsolutis yno tempore transacto et completo praedi..:tus Dominus
Rex Portngalliae et successor suus yuaedam gentes armorum et saggitarii praedicti stete-
rint in servitio suo, v ice et no mine ... •
.\ppareceu traduzido em portuguez e junto ao texto do tratado, no Quadro elementar,
etc., XIV, p. S4 a 8.
(') V. o contracto em Santarem, Cor pu diplom. port., p. 35j,
1"1 A ordem pela ynal os acontecimentos veem relatados na clzron. do Lmziest.1bre e
em Fernão Lopes, faz crer que a morte de D. tr. Alvaro tivesse tido lagar na data indi-
cada no texto. Já depois d'elle impresso, porem, obtive a prova de que o prior do Hospital
viveu pelo menos quatro armos mais, pois em J38z ainda existia. Talvez morresse n'esse
anno; em todo o caso deve ter tallecido antes de D. Fernando. O facto e que, na era de
1 po, apparece uma doação de fr. Alvaro aos ermniíes da .\goa-das-lnfantas de uma cova na
egreja de Santa 1\laria de Portel: é o theor do alvará existente na bibhotheca publica de
Evora, cuja copi:1 devo ao illu~tre conservador d'esse estabel~c.mento, o sr. Antonio Fran-
cisco Barata, e que diz assim:
·Como eu fr alu 0 peira comendador de santa uera cruz e de I sam bras de ljxboa dou
;?' esmollil aos pot>rcs jrmjtáaes 1 ;} ora moram e depois morarem na agua das Irantes pa
sep 1 1iU~ coua; q sse eutcrrcm pa senpre na jgreia de sãta Mana de 1 portcl ante oaltar
de sam p. n s. ; dereyto da esqua aamaiío 1 dereita contra ocroçutixo. e esta Ih<' faca por
q
amor de d-; e ror 1 boas ol>ras aordem e eu reçebemos ddles e (j rog; a JS pala my I nha
alma c pollas almas dos com-;;-JaJores q d<'pojs uyhef";; 1 e dos fyres da ordem e em teste-
munho desto lhe m:idcy dar este alu" 1 a'<ynaJ jo p minha m:íao e asell.lado do meu seello.
i'ía naagua 1 das Ifantes. xxx dias de mlf-z, Era de mjl e iiy" e lbiij armas. (1 ~201
fl'y alu 0
pcrcyra•
t ~ ••
A.- Chronologi.t ...,.J:J
Janeiro -1\larcham sobre Evora. /d,J á côrte de Pedr'alvares com o irm,io, a quem o p·ei
prohibe o duel/o com o filho do mestre de S ..mtiago. Rcsidencia do Andeiro em \' illa
Viçosa.
F evcreiro- D. Fernando e a corte em E\·ora.
l\larço, 7- Regresso ao rej >da armada castelhana. Desembarques .•\ssolação dos subur-
bios. Incursões e ralzias ate Palmella e Villa-Nova-da-Rainha.
_\"~JIIze.:zç.fo de 'P<'dr',1/vares frollleiro de Lisbo.?: v.1e com el/e .\' ull·atv.li"CS. li.sc.u·.l·
mucam logo a che;ad.l com os c.lstel/z,mos que volt.1vam de uma ra;-;ia a Ci11tra.
Julho__: ::'\omea.;ão do .\n.:!eiro para o .:onda.:!o de Ourem. Escandalo e murmurios na cor·
te em Evora. \'m:la da esposa, da Corunha. para fazer calar a male.:!icencia. Prisão do
mestre de .\viz e de Gonçalo Vasques, accusa.:!os por cartas falsas da rainha e alvar:is
tambem falsos, mandando-os decapitar. I >esman.:hado o ardil, são li\Tcs.
Concentração de forças castelhanas em Badajoz para impedir a inva:;ão dos anglo-lu·
sos na Estremadura, desde Elvas o:1de estavam.
Agosto- Sortida de Nwz all'ares rel.:z port.1 de Smzf,l Catharin.1 em Li boa, a Alcmztara .
. lcçáo de Salltos em que se VIII perdido. Pede a l'edr'allh?res que o deixr? ir a EIJ•as. a
l>.1tal/za immine11te, e, z·ecus:mio-1/z'o o zrmâo.foge de Lisboa para o exerczto. se11.fo
recebi.io bellevolamellte r<'lo rei.
:'1/asce um filho a I eonor Telles e corre que o rei o estrangulara ;i nascença.
::'\omeia o rei o primeiro con.:!estavel da sua hoste e o primeiro marechal, Alvaro l'i-
res de Castro e Gonçalo Vasques de Azevedo.
Aproximam-se os dois exercitos sobre o Caya e rctir.1m SPm combater, cada qu.1l
rara o seu arrayal.
1 1 - :\legociaçóes da paz. (lua no casamento .:!1 infanta O. Beatriz, cem o filho do rei
de Castella, Fernando. Salvo-conducto aos inglezes para regressarem a suas terras.
Restituição da armada e dos prisioneiros de Saltes. Partida dos inglezes. por mar, de
Lisboa. Vinda do rei e da côrte, de Elvas, para Hio-:\laior.
~etemho. 13- :\lorte da rainha O. Leonor de Castella. Ida do rei de Castella para Tole·
do. onde sal:>e que enviuvara.
~~- D. Fernando e a cône (m Santarem.
Outul:>ro-dezembro- Negociações para o quonto casamento da infanta O. Reatriz com o
rei vim·o de Castella.
rem desiste. Formula o p/,mo d,1 ,-evoluçâo: o priltcip,z.:io do mestre d'.lvi\, sobre oca-
daver do Andeiro. Convidado, o .\lestre lzesita e 1·ecus,1. Des.mim.uio, ,\'wz'a/v.:n·es par-
te para Santarem ao encontro do imzâo que regressav,z. Proczll"a convencei-o a que
se pronuncie.
Episodio do Alfageme em Smztarem: pro;;noslico do futuro.
De7cmbro- Em Lisboa, o mestre d' \viz adhere ao plano de Alvaro l'aes e decide-se a ma-
tar o Andeiro.
5- ::'\omeado pela rainha viuva regente fronteiro do .\lemtejo, o mestre de Av1z par-
te de Lisboa e segue até ao Tojal onde pára.
6- Regressa a Lisboa, vae ao paço, e assassina o .\ndeiro. Tumulto na cidade. Mor-
te elo bispo, e outros na Sé. Tentativa de alliança entre os revoltados e a rainha.
r3-Fnga da rainha e da côrte para .\lemquer ..\batimento dos animos em Lisl_-loa, cujo
castello se não pronunciou. Idea do :\lestre fugir para Inglaterra; intervenção de \!va-
ro Paes. Visna ao oraculo do emparedado da Barroca. Ida de Alvaro Pacs a Alemqner
propor ã rainha o casamento com o ;\\cstre: recusa.
rS - .lleeting de S. Domingos, no Rocio, onde o i\lestre é acclamado regedor e defen-
sor do reino, titul<.s da rainha vinva.
rG- Proclamação do l\lestre pelo senado da cidade.
Constituição do governo; creação da casa dos Vinte-c-quatro.
Vinda de i\iwz'all•m·es a Lisboa, ao saber d.1 re1•o/ucâo. Abandono dos irmãos. Clze-
ga.:i.z. Sua entrada immediata no consellzo do govern~.
l'inda de !ri.z Gonsall•es, mãe de Sun'ah•m·es, a Lisboa com•encel-o a abandmz,zr o
ftlestre: parte convertzda a buscar o outro {ilfzo, Fenzando.
Partida de Lourenço i\lartins e Thomaz Daniel, enviados a Inglaterra, para alistar
gente.
Pronunciamento do Porto pela revol•.Jçáo.
3o- Occzq:a~âo do c.zslello de Lisboa ror Xwz'alvares.
13:)-t-CAl\lPA:'\1-L\S DO ALEl\ITEJO
O CERCO DE LISBOA
IJ8j
Junho
1?1 - Cerco de ~lertola pelPs portngue-
/es, lór.;ado a le\"all!ar por auxílios
vindos de Sevilha .
. \pnsionamcnto de um comboyo portu·
guez entre E v ora e •\rronchcs.
t?) :- C.Ipitula~·iío do .:astello d-= Guima- Concentra.:áo das lur~·as .:ast.-llwnas em
raes. Ciudad-Hodneo. pa.ra a ill\"asáo pelo
(·J- Exp-=di.;ão d-= ii. JtJãn 1 e ~un'al vali.: do ~londego.
vares a Pome-d,·Lnna: tomada -= 111-
.:endJO do .:ast.:lio.
A l~VA~ÁO j OPEinÇÓES ;
PORITGL'Et:AS CASTELII~XAS
Romana a G111rnaráe~.
-t6o Appcndiccs
OPEfi.AÇÓES OFFEI"S!YAS
AO NORTE AO SUL
I38G
Janeiro,(?)- Partida da esquadra de Alfon-
so Furtado, do l'orto, a buscar a ex-
pedição do duque de Lencastre.
Fevereil:o, (?) - Chegada dos reforços de
Lisboa .
. \bril, 20 ou 3o- Capitulação de Chaves.
:\laia, 9 Com enção anglo-ronugucz~, assignada em Londres.
1\larcha dos exerntos do ret e do condesta\"el para a
fronteira. Re,·ista ou a/ar.io de \'allariça. Capitula-
~·ão de Bragança.
Im·asão cm Castelia, por Ciudad-Rodrigo. que se en-
trega.
Junho Ce1-co de Caria, mallogrado.
Junho 1 a 1S- Retirada do exercito portuguez que entra em Penamacor.
Nun'ah·ares parte em romaria a Santa-:\laria-do-:\leio (Certan) d'ahi a Ourem, e de
lã para o Alemtejo.
D. João I ,-ae em romaria a Guimarães e regressa a Lamego.
1\lorre na excursão o marechal .\h·aro Pereira, irmão de l\un'ah·ares.
2~- Chegada do duque de Lencastre ã Corunha que se lhe entrega. Sabe-o D. Joáo1
em Lamego. Manda chamm· Nun'ah·ares.
l\ovcmbro 1-2- Vistas de ll. João I e Nun'ah·ares com o duque de Lencastre em Ponte·
do 1\luro, entre :\leigaço c :\lonção. Alliança e negociações do casamento de D. Phi-
lippa com o rei.
1 0 - Volta do duque a Galliza; de Il. João I ao Porto.
Dezembro, i? J - Principio de negociações entre o duque de Lencastre c o rei de Castella
para o casamento do he1·deiro da corõa com D. Cathanna.
I38j
1·\:vcreiro 2 - Casamento de I>. João I com D. Philippa de Lencastre no Porto.
l\larço '6- Juncçáo do~ alliados anglo-lusos em Babe, junto a Bragança. Termo de cessão
dos direitos sobre Portugal pelo duque de Lencastre, pretendente a coroa de Castella .
•\bril 2 - Passagem da fronteira pelos alliados.
Cerco e tomada de Benavente.
1•_-rupção dos castelhanos do mestre de Calatra\·a, no .\lemtejo: tomada de Campo-
Matar.
1\laio, (?)- 1\larcha dos anglo lusos por \'illalpando a Castro-Yerde.
1S - Pas~agem do I lmiro cm Cm-rales acima de Zamora. Retirada, pela dissolução das
tropas wglcnts. Fom.:. l locnças.
Acção na ponte do Agueda cm .\Ideia-do-Bispo. Entrada em Portugal por Almeida.
Arraval em Trancoso.
Junho,(?)_.::.. Restabelecimento das negociações para o casamento d.: ll. Catharina de Len-
castre com o herdeiro de Castella. Separação dos alliados. As tropas ingl.:zas rc-
A.- Clzrouologia • .;.Gr
gressam atravez de Castella com sah·o-conducto. Lencastre \ae a Coimbra ver arai-
nha D. Philippa sua filha e de lá para o Porto, onde embarca para Bayona. D. João l
fixa-se em Loimbra. Nun'alvares regressa ao Alemtejo .
. \gosto,(?)- Doença gra,·e de D. Joáo I, em Coimbra. Vinda de Nun'ah·ares a vel-o. l"e-
gresso a E,·ora por Ourem.
llezembro, I - Tratado de alliança com Ricardo II de In~laterra, celebrado em Londres.
(?) -Cortes de Hraga onde ,·áo o rei e o condesta,·eJ.
9 - Carta do rei de Inglaterra authorisando o seu alliado portuguez a tratar pazes
com Castella.
I388
Janeiro (?)-Enterro de D. Leonor d'.\h·im, no Porto, peloviuvo que ,·ae a Lisboa entre-
gar a filha á guarda de Iria Gonsalves. Volta de Nun'ah·ares a Braga, ás cõrtes; e
depois de encerradas, regresso ao Alemtejo
Vinda de D. João I para Li~boa com ~un'ah·ares, que vae a .-\ljubarrota inaugurar a
construcção da egreja de ~- Jorge.
Tregoas de seis mezes com Castella.
I38g
Março, 3o - Carta de confirmação de todas as doações regias anteriores ao Condestavel.
Cortes de Lisboa.
Julho (?)-Inauguração da construcção do Convento do Carmo, em Lisboa, por l'\un'ah·a-
res.
13~)1
Abril I3-Sentença de ll. João J, em carta a Lisboa, na ~ncstão da Camara com o condes-
tavel sobre os reguen::os de ~acavem, Camarare, I· riellas e Chame.: a.
Dezembro I5 - Cõrtcs cm Vizeu.
:\lan:ha immcdiata de :'\un'ah at·es :ml:>re Castcllo Franco contra o infante ]). I li.
ni/ que rdtra. Vac ao Porto en.:omrar-se com o rei.
Seteml:>ro, 1 - lloaciio d.1 ... terras de Pah a, To:nJ;íes c Lmuada, a :\un'ah·arcs.
Oun1bro, 31- ll~ct:cto de li\ re impmta~·üo de arma.-.
J tet:t;ml:>ro (?)_- '\q:!o,·ia.;iio de tr~goas d~ trez mezo:s, preliminares da pa.l, no Porto, por
mtermed10 do gd!O\ C/ .\mbro,.io.
Fo:v~t:dro ~- Enclmtro dos negociadores em Olivença. '\nn"ah·arcs pknipotenciarin.
I rep-oa-. por li<J\ .. me/es.
C:·J Cortes de Flvas.
1?} l<cnova~·;ío J,, alliança com o nO\·o rei de In;::latcrra, Henri.]IIC 1\' 11~')()·141::!
.-1. - Clzrmzologi.:r.
qoo
Julho - Côrt.:s de Santarcm.
!\!aio, 1S- EntraJa do! ll. João I c :\un'ah·,u·cs cm Castdla. C..:r.:o de .\kantara, mal\o-
grado. Corre• ia até Cac..:rcs. !<.:tirada.
Entrada simultanea dos castelhanos em l'ortugal: tomada de Miranda-Jo-l.Jouro e
Penamacor.
Junho 1 - :\egocia.;óes de paz cm S.:go\"Í,I. rr.:goas por da annos. Fim J,t gui!ITa da in-
Jepcnd.:ncia.
qo1
Outubro(?) Ajuste .to c.a,zmmlo d,z filha de Xun',lfv.zres, IJ<?atri>., com o ba:st.zr.io dr! V.
João 1, • !lf'onso, em Leina.
:!0- Le;;tltm.z~·âo do b<~st.zr.io pL'lo rei.
r-.ov.:mb1 • 1 - Escrzrtur,zs do cas.zmcnto cm Fricl!.IS.
,;.) Côrt.:s J.: Guimarães.
qo3 - Cõrtcs de Santar.:m.
q 4 - U. de Li~t-oa.
(3 J.: maio) ;\lurt.:: J.: João das i{egras.
qo5 - ~lort.: J.: Leonor Tclks, cm Tord.:sillas.
qo6 - Côrt.:s de Santar.:m.
I.JO/- (:!5 J.:zembro) :\lurtc d.: H..:-nri,1uc Ill J.: Cast.:lla:
Successáo de ll. João 11 (:!:! me-tes) com a regcncia da rainha' iuva, irman da de Por-
tugal. :\".:go~·ia.;õcs da pu .:m Escarigo.
q,.g - Cõrtes J.: E\·ora.
qto- IJ. J.: Lisboa.
1~ 11 - (31 de outubl'O) I' ratado ..i.: pa.t c allian~·a p.:rpdua com Castell.t.
l ..p:! - Córtes de Lisboa.
LJI3- U. IJ.
q q - U. IJ.
(:-. - J/orte .iLZ tillz.z de Xwz',zlv,zres, D. Be,ztri,, cun.i.:s:s,z .ie B.zrcellus, .i<? p.. zrlo em
I ·Jz.w<?s. O r.ze 1•,-ze .tu .1/eml<'jo lá e acomr,mh,z o sawzento r.u-,z S,znla Cl,zr,z .ii? \'tl-
l.z-do-Con.i<? un.ie ficaj,z=cn.io a mort,z (anno incerto, mas anteriormente proll.imo •~)
LJI ~ - :\lort.: da rainha Ll. l'hilippa. Tomada de C.:uta. Xmz'a/v,zres 1z.z e.\J'e,izc.i".
I-P'.J- Côrt.:s J.: Extremoz. '
LP 7 - ld. Lisboa.
q I ::i- U. Santar.:m.
I jlll- IJ. \'ili.!U.
I ..p:.! - (-l abril) LJo,zcÚI?s .ii? /Jorb.z por .\'zm',z/v,zrt?s; p.zrlil/z,z .ius seus h<!IIS com os IZt?l os;
.iistnbui~âo .ii? io.tos os seus lz.zwrc:s pelos seusfizmilz,zres. Est,zbclece resi.icn.:i,z no
co1Wc1zlo do (.".zrmo cm Lisbo,z (julho).
q:!3- (3o de abril) l~atifkação dfJ tr.ttado de paz por Ll~ João ll ..i.: Cast.:lkt, t.:mpora.-i.t-
mcnte, até 1434-
(:!8 de julho) LJn.Z<·áo do COIZV<!IZlV, pur .\'wz',z[v,zres, a Or.fem .fo C.zrmo.
lt5 de agosto) p,:,.fissâu di? .\'wz'.1/v.zrcs lz,z ordem .to C.zrmo.
1.pS - Proj.:cto J.: cxp.:Ji.;ão J.: so.:corro a C.:uta: .i~?cisân de .\'wz',zh·.zrl?s ,z ir.
1..!:!7 - Córt.:s de Lisboa.
14:io- IJ. de Santar.:m.
1 1:~1- (3ooutubro) .\ssignatura do <ratado de paz p.:rp.:tua .:ntr.: Portugal.: Ca:-tdla, r..:-
<onhecimento da Jynasti.t de .\ vi.t, por I l. João ll cm :\l.:Jina dei Campo.
1 non:mbro) -"l•lrl<? .te .\'wz',zfv,zre:s.
11:~:!- (17 jan.:iro) .\ssignatura do tratado por ll. João I .:m .\hn.:irim.
I !33 - !\lorte de )). Jo.ío I.
14.11 - .1/orte .f,· /ri.z r;ons,zh·cs .. IJ.·otlz,·nst• .te .\'wz',z!J•,zres.
.J-64 Appendices
BIBLI OG RAPHIA
c
C.-\~ONI~.\Ç.\0 DO CO~DEST.-\YEL
Ventilou-se esta questão nas côrtes de JÓj'4. as ultimas que se reuniram antes da re-
volução de 18:m. Privado el-rei D. .Alfonso VI do governo em 1hbj', o regente seu irmão
convocou côrtes que se reuniram em 20 de janeiro de Jf:q.J. na sala dos Tudescos do paço
da Rit>eira_ o t>raço da not>reza reuniu separadamente, no dia 22, no mosteiro de Santo
Eloy para eleger os trinta na forma costumada; e eleitos os trinta, passaram a ter as
suas sessões ás segundas, quartas e sextas feiras em S. Roque, na capella de ::.'ll. S. do
Populo. Foi na 12." sessão, segunda feira 22 de março, que se discutiu a questão da
canonisaçiio de "un'alvares.
Por decreto de 17 de julho foram as côrtes dissoh·idas e o t>raço da not>reza en-
cerrou as suas sessões no dia 20, conforme consta do livro original ms. das actas res-
pectivas, lavradas por n. João ~lascarenhas, foi. de 153 folhas (')(numeradas, porem, só
até 6o) do qual extractamos em seguida o que se refere ao assumpto d'este appendice.
Continuando o mesmo Congresso se leo hum papel do R.mo P. ~1. Fr. Joseph de
Alancastro, vigario geral da ordem de N. S. do 1\lonte do Carmo, sot>re a canonisação
do Condestavel D. ='!uno Alvarez Pereira que he o que se segue.
Logo que esteve por minha conta o go,·erno d"esta provinda de ::.'ll. Snra do Car-
mo que a este reino trouxe o Condesta,·el Dom Nuno Avarez Pereira,(') me persuady que
pela mesma corria procurar a sua mayor exaltassão: p~rque deixando duas famílias este
insigne varão, h~a real ("l que illustrou o mundo, foi outra religiosa que triumphando do
mesmo mundo, se fez gloriosa no ceo, elegendo a sy o ínfimo e ultimo lugar em estames-
ma provinda de que foi fundador, em este mesmo convento, que com tanta sumptuosida-
de fabricou com que nos poz aos descendentes de sua eleição, e a estes filhos, e irmaons,
que com tanta liberalidade t>eneficiou, e honrrou, em vida com sua companhia, e enrique-
ceu em morto com o thesouro de seu sancto corpo, em o mayor empenho de lhe procurar
aquellas glorias a que só suas se encaminharão.
Declarou Deus quam aceitas lhe forão e nas muitas e admira veis maravilhas que obrou
por este seu servo, a cuja sepultura concorrerão muitos annos os fieis com grande frequen-
cia vallendose da sua intercessão para com Deos em os seus mayores trat>alhos e mais
apertadas necessidades, e Nosso Senhor mostrou quam eficax era a de tão grande media-
neiro em os prodígios com que (o) honrrou. Consta das chronicas antigas, e manuscriptos
authenticos haver resuscitado onze mortos, e que conseguirão sande innumeraveis infermos
de differentes infermidades sem esperança alguma de a poderem ad,1uirir por meyos hu-
manos, e de muytas appariçoens, com que exhortou a melhorarem de vida e apartarem-se
dos precipícios a que caminhavão muitos com roina de suas almas.
Muito mayor e muito mais efficax argumento da santidade d'este esclarecido varão te-
mos nas virtudes com que se exercitou, e que nelle resplandecerão; por,1ue a dos sanctos
{') Na livraria do A.
{'I Não é exacto: a ordem extstia já e fJi da casa de Moura que Nun'alvares trouxe o
pessoal para o seu convento.
t") A canoHisação era tamt>em um acto de cortezania.
3o
:;ao l't'US mayor.:s :nila;::res a dnutrina.: muito s.:rta -iii<' n.tl) j<!v~mo,; aJemirarnos t.tntt) d..:
suas orras nnlagro:-as •llle das virtuol>as; porque muito mayor cousa h e que resus..:i:ar hum
morto e vh·er hum morto ao mundo: muito mais -1u~ dar vista a cegos o conheserse a sy
mesmo: e mais •111C pizar út-oras c mandar aos demonios omilharce a todos e solft·er com
ra..:iencia as injurias.
Em o exercício das ,·irtud~s h~ -1ue o cond~ sancto se mostrou muito mais miiagroso,
he na omildade •1lle era ,.~,·dad~iro discipnlo da es..:olla de Clu·isto. He ..:sta \"Írtude funJa-
mento das demais e tão supprcma •lliC com parti.:-ularidad..: se chama ,·inude de Chris·
to Senhor :'\osso. assy por,1ue os philosophos ~ sab.os do mundo a ignorarão. c foi n.:ces·
sario que o m~smo Senhor com o seu ~x~mplo nola ,·iess..: ensinar do ceo á t.:rra, como
t;ío t-em p<>rquc ..:omo Mestr.: •1n.: h.: nns..-;o nos cxhot ta a ,1ne aprendamos ddl..:; Com tanta
pedeição segnio esta doutrina o cond~ san..:to, que au~udo renunciado a l'ompa e grande-
zas que lo~rou no mundo, não foráo 1:-astaut~s as instan.:ias do Proum.:ial qu..: então era
d.:sta pro,·incia para que rcccbessc o abitto para o Estado dc l>acerdotc; c ath~ para o de
frdde 1.:-igo se achou indigno, nem ti1rão dli.-a.r.cs muitas e mu y apertadas p.:rsua.;oens
para o desuadir a qu~ deixa.:c re.:~bet· o de donatt•) no •wal t.'stado vi1 co entre nos nnutos
amh1S neste co111·cnto. e th:llc a~·abou sua e:o...:mplar e admin11·cl 1·ida .
. \o r<ll>SO de l-Ha humildade c i~pilito loriiu a,; dcmats \'ii tudes, filha da humildade é a
rot-raa, e amt-as tão rar.:ctd.ts que mal~"' pojem di-;tinguir; e o mesmo enleyo nos fica;
em •1ltal,1ucr d,·stas VIl tuJ.:s resplande..:eo cs,;e cn,igne 'ar.io mais; ,1ue de sy mesmo tmha
tão buixo conseito ,1ue se p.:-rsuaJta não merecer h uma pol,re prisão, cm a mesma pro,·inô.t
I.JIIe tiuha fundado c em hum .:ou\cnto •l"e fat-ri..:ou tiio genL"ros.nnentc e com tão lar~J.
máu dottou, rezolueu-se a llh:ndigar pelos tcrs•ciro, digo fieis o s.:u su . . tento, e ra• a dts·
suajir desta rezolu.;ão Elr.:~ ilomiJu,trtc e os I.Jfaut.::; seus lrm•ws lhe asstna:ar.í.o esmolla
com •lue s~ su,;tentas~e.
:\d o1·b.:dt.:n.:-ta toi admiravcl. e não mL·no" na cm·idad.:- ~·om os pro:o..imos, que exerci-
tou ainda com os r.:-ndidos, ,1uando governava as armas, d.:t:o..andu "" pat·a sua pe,soa a.
crueldade e com esta uatou a seu .:nrpo como •llll.!'lll o r.:conhecia ror s.:u mayor inimigu;
em hum oratorio •lue aiuda se ..:ons.:r1 a ne,..ta nossa s.:r~·a dci:o..ou os siuais dos rios de l>J.n·
;.:uc que detTam~;u .:om as continuas e asp.:ras dis~·iplinas.
A pureza foi tal •lllt.' par.:.:c cx..:úiia a natur.:La humaua, obriga,io dus reis se casou e
etniU\·a11do de ~2 para ~:~ annos (') fi..:ando-lhe só hunw h lha para sn~·~·eder em seus gran-
d.:s estado,. e propondo· lhe de nm o as p.:s..-oas ~.:ae:, nu1it11 altos .:azametllul> não furão
bastantes as mais apertadas instan.:ias para •1"" mudasse d.: estado; nun..:;• d.:lle se soube
n.:m antc,.; n.:m de)'ois de caLado qnc ..:onhe..:e,..,...: outr<J moli,er, era ta" rara sua holl.:sti-
dadc •lUe so o v.:llo emrunha, e cauzaua mod.:stia, Iili nwy zelloso de euitar tn,ias a" oc-
cazioens em qut.' I kos pn.i.:sse s,·r otl~ndido ne,t.t matena; :\as prassas quc ganhaua,
mayor cuidado punha na guarda da hnnr r a .: hon~·~t1daje das donzella,; ,1ue na s.:guransl>a
..ias m.:smas prassas. 1tl
Te,·e muy sobrenatural dcuu.;ão ao ~."' 0 Sa.:-ramcnto c á Virgem nossa S.:nhora c ain-
da na campauha lhe cclcbraua com ;;randc sokmnidadc as suas fc..-tas; .\ ,1ucm tanto se
exercitou todas as úrtudcs. uão hc muito ,1ne o ~enhor o ho~ia regallado c enrriqueddo
com dminos doeus; Entre os fJilitis toi muy priu~·iral, e como fonte manan~·ial dos d.:mais
a deuoção c ora.;ão. e .:om o contumo uso dc,.ta Yeyo a faur hum hal,itto de achar a l kos
em todas as cou,.as, dc ntaneira que par~..:e lhe s.:ruiam de oraturio todus os luf:ar.:s, e as
mayores Oú'llra.;óes d.: r~colhim~nto, em matena rara a mesma ora~·áo; em campanha c
entre o estrondo das armas como em o Jogar mais retirado; em a occ<J,.tão da batalha d.:
Aljubarrota q11anJo os nossos cst .. uão no mayor .:-uiJado. l' l<•ram ach;u· de ~ioihos com as
(') 11. I eonor de .\h·im morreu em d.:zcmbro je .:~87: :Sun'ah·are5 tinha pots '!./ au-
uos e m.:-io. O pru,·incial enganava-se em cinco annos.
('I O prO\ indal exagera .;;a..:ritkanJ·, o capitá•J ao frad.:. l\áo c n.xe,.,.ario tal excc,so.
fjlle diminue a fi~ura do h.:roe.
C.- C.morlis.1ç.1o do Con.iest.wt•l
mãos alenantadas e lhes asi~nrou que ainda não t ra tt:mpo, (') e os animou a por em Deos
tc.da a confian(a com -1ue parece que nego.::iana e con~ultaua as enprez:ts que o bem acre-
diwu o serem ellas tão adminlll.:is. e tão ~loriosos us triumtos que alc11msou para e'te
reino.
E em re.:-onhedmento da minha obriga.;:io todas estas razões tenho representado em a
Curia de Roma donJe me ;mizão yue ;t primeira e mais dlicax diligencia para se conseguir
o fim ,1ue se pretende h e a de cartas dos tres esmdos do Reino yne acompanhem a de S. A.
que Lleos Guarde em -1ue se pessa a Sua San•i.:lade conceda as letr:ts t·emensoriaes por que
se cometem as informa\·óes jurídicas :t tres Hispos, e que este h e o primeiro rasso dos muy
lentos que a Igreja cosmma dar em as beatifka.;óes.
Da pied;de e zello da Nobreza Jeste Reino confio que e~timará a occasião de poJer .:lar·
muitos em a do Conde S:mto pela vantagem •lUC re~ultarà ao n.esmo Neino de recorrer, co-
mo a gloriozo enterse!'sor em o ceo ao que foi seu tdicissimo ddfensor em a terra; e com
muita razão deue esperm· o estado da "".:larecida Nobreza ter por este obse,wio o premio
de muitos auxillios, para •l'•e do •111e seguio o exemplo em o zello da ddfcn.;áo da patria, e
do vallor com .we otfere.:eo pm· ella a nida, e derramou o s:mgue, co111;iga a immitaçáo nas
victorias das proprias p:uxí..~s •1uc são os mais importantes e mais gloriosos triumphos.
Pello que por meyo .:!e V. Ex. 8 recorro ao es.:l:~reddo Congresso da Nobreza pedin-
dolhe o seu amparo e protecção em hmna cauza tão pia e que yueirão a tavor della d:~rme
carta para S. SantidaJc e passa a minh'l .:onfian.;a a pedirlhe outra t:.tml:>em a fa,·or .:!e si-
milhante pertencão do nosso \'eneravel Padre Fr. Esteuáo da purificação knjos prosessos
ha annos que estão em Roma) e ainda \'Í\ irão nas ~lemorias de muitos as mer.:-:\s que rece-
l>erão de Deos su:~s cazas por meyo d'este sancto variío, e não he peyueno credito o que
rezulta a este Reino em haver nelle muitos que estejáo em predicamento da See ayuella os
declara•· e esaeuer em o .:-atalogo dns sanctos.
E ror ultimo digo a V. Ex a que estas cartas não são occaziiio de despeza proxima
mas muy precizas e neces-.arias para em algum tempo se tratar das cauzas destes seruos
de lleos, todas se goardáo em o archivo da sagrada congregaç'io de riltbus; e ,·etn a im-
portar muito a continua~·ão e efficacia dellas, a pessoa .:!e V. Ex. 8 guarde neos como de-
sejo.
C:trmo de Li~ttoa, 6 Je março de J67t-
('J Reftrenc·a errada. E~~e epis<•dio rd"ere-k-e a t-a~:~.lha dt: Vo~htrde e não .i Je Aljll'-
harrota.
.J.68 AppenJ1ces
mande que nestas Cortes se tratte por assento que o Reino hade concorrer par:l a despeza
deste negocio, e que pellas rendas da Caza de Bragança se nos faça exemplo aplicando al-
guma concinaçáo que renda para este etleito e que ajustado por este modo o encarregue
S. A. ao Padre !\le. Fr. Joseph de Alencastro para que com o titulo de seu ministro e em
nome de to.:to o Reino va a Roma com esta deligencia d'onde pela grande authoridade que
tem com o Pontifice, pelas grandes virtudes e cal idades por que h e venerado naquella corte
náo (só) conseguirá feli.~:mente esta pretençáo, mas ainda poderá ser util para S. A. para
<:~utros negocios de seu serviço.
E sendo assim votada, se venceo por maioria de votos que se representasse a S. A. a
proposta referida do Padre i\le. Fr. Joseph de Alencastro e se lhe pedisse fosse servido tà-
zer neste negocio todo o empenho para que se conseguisse, e que se dece licensa a este
Brasso para que em nome da l"obreza do Reino possa escrever ao Papa na forma que se
apontta na dita Pmposta de que fiz este assento ,1ue todos assignaráo. S. Ro,1ue em 12 de
:Março de 167-1· -Dom João Mascarenhas.
O marquez Camareiro l\1or; Ruy de !\loura; o conde de Vai de Reis; o Monteiro l\lor;
o conde do Vimiozo; o conde da Castanheira; o marquez das Minas; o visçonde, general
da Armada; o conde de Villa Verde; o conde de Vi lia Flor; Francisco Barreto; Alexandre
J.e Sousa ; o conde de Monsanto ; o conde de .\.talaya.
INDICE
I'AG.
_\dverten~ia
Caritulo I - O prior do Hospital. •........•...•...•.....••
I I - O fim da dn1astia .•.........•.•.•........... 3~l
III- O 1\lessias de Lisboa ........................ .
)) 'd]
, I\'-.\ guerra ......••.......•..........•......•.. I35
V - O throno d~ A viz ....•..............•......•.
,, \ri -Aljubarrota ..............• · . · · · · · · · · • • · · · · · ·
\'II - \'alverd~ .................•......•.........•.
,, \'III - Os inglczcs .........•.......•......••.......
IS - A so~ied.ad.e nova .•................••.......
X- O Santo Condestavcl. •....•.................
, XI- Fr. Nuno de Santa-1\laria ................•....
Append.ices : A. - Chronologia ...........•..•...........•.... 4S1
,, B. - Bibliographia ...•.......•..........•.. •. · · 4';4
C. - A canonisaçao Llo Cond~stavel.. . . . . . . . . . . . • -tti5
<iRA\TRAS