FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
FORTALEZA
2017
CAMILA ROCHA BEZERRA
FORTALEZA
2017
CAMILA ROCHA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Prof. Msc. Fernanda Cláudia Araújo da Silva
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Lara Dourado Mapurunga Pereira
Universidade Federal do Ceará (UFC)
A minha mãe, Cláudia Rocha, por todo o amor
e dedicação.
AGRADECIMENTOS
(Giles Slade)
RESUMO
This work aims to discuss the practice of planned obsolescence by suppliers in the
contemporary consumer market, analyzing how abusive it is regarding to the consumer
protection system established in Brazil. The study was based on bibliographical research, including
books, articles, Master of Arts dissertations and Ph.D thesis, in addition to the legislation pertinent to
the theme. Initially, this paper analyzes the constitutional protection ensured to the consumers
in Brazil, the emergence of the Consumer Defense Code - CDC and it also studies the main
guiding principles of this Code. Next, it studies the consumer relation essential concepts
besides analyzing abusive practices in the CDC ambit. Finally, this work conceptualizes
planned obsolescence, exploring examples of how it is practiced and demonstrating that it
constitutes an abusive practice prohibited by the CDC because it violates several precepts of
this Code.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12
2 A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO CONSUMIDOR E O
SURGIMENTO DO MICROSSISTEMA DO CDC NO BRASIL ............... 14
2.1 Princípios norteadores do Código de Defesa do Consumidor ....................... 16
2.1.1 Princípio da vulnerabilidade do consumidor .................................................... 17
2.1.2 Princípio da transparência ou da confiança ..................................................... 19
2.1.3 Princípio da informação .................................................................................... 20
2.1.4 Princípio da boa-fé objetiva ............................................................................... 22
2.1.5 Princípio da equidade ......................................................................................... 24
3 OS ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA RELAÇÃO DE
CONSUMO E AS PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS ......................... 26
3.1 Elementos estruturais da relação jurídica ...................................................... 26
3.2 Elementos subjetivos da relação de consumo: o consumidor e o
fornecedor .......................................................................................................... 27
3.3 Elementos objetivos da relação de consumo: o produto e o serviço ............. 32
3.4 Práticas comerciais abusivas no âmbito das relações de consumo ............... 34
4 A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA COMO PRÁTICA
COMERCIAL ABUSIVA NO ÂMBITO DO DIREITO CONSUMIDOR
NO BRASIL ....................................................................................................... 39
4.1 Obsolescência programada: construto histórico e delimitação conceitual .. 39
4.2 Técnicas utilizadas na prática da obsolescência programada ....................... 42
4.3 O caráter abusivo da prática da obsolescência programada ante o sistema
de proteção ao consumidor no Brasil .............................................................. 47
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 57
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 59
12
1 INTRODUÇÃO
ordinárias, motivo pelo qual as outras normas que a ele sejam contrárias, são consideradas
revogadas, como destacado acima. No entanto, como qualquer outro diploma legal no Brasil,
o CDC está diretamente subordinado à Constituição Federal de 1988, de modo que deve
respeitar todas as suas regras. Conclui-se, portanto, que o Código de Defesa do Consumidor
possui eficácia supralegal.
Além disso, dizer que as normas do CDC são de ordem pública e interesse social,
significa que elas incidem sobre todas as relações caracterizadas como relações de consumo,
não podendo ser afastadas ou renunciadas. Nesse sentido, como averba José Roberto de
Castro Neves (2006, p. 198), os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor não podem
ser afastados por vontade das partes por serem de aplicação obrigatória nos casos envolvendo
uma relação consumerista.
No entanto, é necessário ressaltar que:
[...] a natureza cogente das normas do CDC não afastam a aplicação do princípio da
liberdade de contratar e da autonomia privada. Esta base principiológica continua
irradiando efeitos, mesmo nas relações de consumo, desde que mantenham harmonia
com os demais princípios específicos do direito do consumidor. (GIANCOLI;
ARAUJO JUNIOR, 2013, p. 31).
Nesse sentido, Rizzato Nunes (2015, p. 202) afirma que o CDC, ao reconhecer a
vulnerabilidade do consumidor, admite que este integra a parte mais debilitada da relação de
consumo em razão, basicamente, do fato de que é o fornecedor quem possui os
conhecimentos acerca dos meios de produção, aos quais os consumidores muitas vezes não
têm acesso, e de que, geralmente, é o fornecedor quem possui maior poder econômico, em
relação ao consumidor.
Para Cláudia Lima Marques (2013, p. 98), ainda, existem quatro tipos de
vulnerabilidade, a técnica, a científica, a fática e a informacional, demonstrando que o
consumidor pode ser considerado vulnerável por mais de uma perspectiva, como sob o ponto
de vista da superioridade econômica e dos conhecimentos específicos acerca dos produtos e
serviços, que é o caso da vulnerabilidade fática e técnica respectivamente. Além disso, o
consumidor, muitas vezes não possui conhecimentos jurídicos ou econômicos, que podem
prejudica-lo em relação a identificar uma possível violação de seus direitos, caracterizando a
vulnerabilidade científica, bem como é comum que os fornecedores manipulem as
19
De fato, observa-se que esse princípio veda, tanto na fase pré-contratual, quanto
no momento da efetiva realização da relação de consumo, a utilização de condutas ardilosas,
20
exigindo transparência entre os sujeitos da relação consumerista, que devem pautar suas
condutas na lealdade recíproca, na cooperação e na boa-fé.
Cabe destacar ainda, sua incidência na fase pós-contratual. Realmente, esses
deveres de cooperação e boa-fé entre as partes também devem estar presentes mesmo após
findo o contrato, conforme salienta Aldemiro Rezende (2006, p. 170) é possível, por exemplo,
que seja necessária a prestação de informações corretas pelo fornecedor sobre a utilização do
bem de consumo ou sobre os procedimentos de assistência técnica mesmo após à resolução
contratual, motivo pelo qual é indispensável a incidência do princípio da transparência
também nessa fase.
Desse modo, como consequência do princípio da transparência tem-se o dever de
informar o consumidor por meio de uma oferta clara, transparente e precisa, sobre as
características do produto ou serviço e sobre as condições do contrato. Deve-se criar,
portanto, uma relação consumerista de lealdade, confiança e transparência, evitando que o
consumidor possa vir a ser enganado e ter suas expectativas sobre o produto ou serviço
frustradas, sendo levado a adquirir algo que pensa ser de uma forma, em razão das
informações erroneamente prestadas pelo fornecedor, mas na verdade não é o que pretendia
adquirir.
Além disso, o próprio contrato deve estar redigido de modo que não existam
cláusulas obscuras, dúbias ou contraditórias para enganar o consumidor no momento da
contratação, principalmente no caso dos contratos de adesão, onde o consumidor não tem
participação no momento da elaboração, mas deve ter o direito de ficar ciente de todo o seu
conteúdo de maneira induvidosa (MARQUES, 2006, p. 719-720).
Cabe destacar ainda, incidência do princípio da transparência na fase pós-
contratual. Realmente, os deveres de cooperação e boa-fé entre as partes também devem estar
presentes mesmo após findo o contrato, conforme salienta Aldemiro Rezende (2006, p. 170) é
possível, por exemplo, que seja necessária a prestação de informações corretas pelo
fornecedor sobre a utilização do bem de consumo ou sobre os procedimentos de assistência
técnica mesmo após à resolução contratual, motivo pelo qual é indispensável a incidência do
princípio da transparência também nessa fase.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...] III - a informação adequada e clara
sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem; [...] (BRASIL, Lei nº 8.078, 1990).
E prossegue:
A informação será clara quando for facilmente percebida, compreendida, entendida
e assimilada pelo consumidor. A clareza serve como instrumento de adequação da
informação. O consumidor não pode ter dúvida de que está diante de uma mensagem
do fornecedor. Além disso o consumidor deve ser capaz de decodificar a mensagem
– informação – enviada pelo fornecedor. (MALFATTI, 2003, p.253).
exemplo, a parte de danos causados pelo mau uso do bem; na fase pós-contratual, afim de
continuar garantindo informações sobre o bem e sobre assistência técnica.
Desse modo, a razão de ser do princípio da informação é permitir ao consumidor
o acesso à informação clara, precisa e congruente, assegurando a possibilidade de fazer
escolhas conforme sua necessidade e vontade, além de permitir a correta utilização do produto
ou serviço adquirido, mesmo após o fim do contrato.
Ademais, ressalta-se que a boa-fé objetiva possui três funções básicas: servir,
conforme já citado acima, como fonte de novos deveres anexos (função criadora); limitar o
exercício dos direitos subjetivos, definindo certas condutas como abusivas (função
limitadora); ser utilizada como interpretação dos contratos, proibindo intepretações maliciosas
dos dispositivos contratuais de modo a permitir vantagens indevidas (função interpretadora)
(MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM, 2010, p. 125).
Destaca-se que, no Código Civil de 2002, o artigo 113 também traz expressa a
incidência da boa-fé nos negócios jurídicos, de modo que se trata claramente da boa-fé
objetiva explicitada ao longo deste tópico, ou seja, regra de conduta humana, caracterizando a
função interpretadora desse princípio ora citada, nos seguintes termos “Os negócios jurídicos
devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.” (BRASIL,
Lei nº 10.406, Código Civil, 2002).
De forma prática, o princípio da boa-fé objetiva encontra-se traduzido em diversos
dispositivos do CDC, sendo o princípio máximo desse Código. Destacam-se, conforme
salienta Flávio Tartuce (2013, p. 38), adiante alguns dos dispositivos em que é possível
observar a incidência da boa-fé objetiva:
No art. 9º do CDC, que estabelece o dever do fornecedor de informar o perigo e
nocividades dos produtos ou serviços colocados no mercado, a boa-fé objetiva é essencial
para determinar a responsabilidade decorrente de falha na informação ou publicidade
enganosa.
No art. 31 do CDC, que estabelece a necessidade de o fornecedor prestar
informações claras e precisas ao consumidor, mais uma vez observa-se a incidência da boa-fé
objetiva em relação à oferta do produto, evitando a publicidade abusiva ou enganosa.
Por fim, o art. 48 do Código de Defesa do Consumidor determina que as
manifestações de vontade, pré-contratuais ou não, vinculam o fornecedor. Assim, observa-se a
necessidade de uma conduta leal e honesta em todas as fases contratuais, visto que as
manifestações de vontade vinculam o fornecedor, de modo que o princípio da boa-fé objetiva
incide nas fases pré-contratual, contratual e pós-contratual.
consumo, já mencionado neste trabalho, ele acaba por se tornar um princípio com grande
relevância no sistema de proteção ao consumidor.
O princípio da equidade, nas palavras de Marielza Brandão Franco (2012, p.
6040):
[...] significa dizer que, quanto ao conteúdo dos contratos e seus consequentes
efeitos, é preciso que haja equilíbrio de direitos e deveres, podendo o juiz dispor da
relação contratual para torná-la mais equânime, sobrepondo a vontade das partes
para restabelecer o equilíbrio e promovendo um controle concreto e efetivo do
conteúdo contratual na existência de cláusulas abusivas.
objeto e os fatos jurídicos, de modo que a relação jurídica seria, realmente, um vínculo entre
duas (ou mais) partes envolvendo direitos e deveres em relação a um determinado objeto.
Ressalta-se que outros elementos são citados pela doutrina como pertencentes à estrutura da
relação jurídica, no entanto, em razão de ainda haver grande divergência sobre o assunto,
destacar-se-ão os elementos mais comumente referidos pelos juristas.
Os sujeitos da relação jurídica são as pessoas ou entes despersonalizados, entre os
quais há uma ligação, sendo um o titular de um direito e outro o titular de um dever.
O objeto, sobre o qual recai o interesse das partes da relação jurídica, segundo
Maria Helena Diniz (2010, p. 516 - 517), pode ser dividido em objeto mediato e imediato. O
objeto mediato é justamente a prestação devida pelo sujeito passivo, que pode ser um dever
positivo ou negativo, e o objeto imediato é o bem jurídico tutelado.
Por fim, os fatos jurídicos são, nas palavras de Silvio de Salvo Venosa (2003, p.
365):
[...] todos os acontecimentos que, de forma direta ou indireta, ocasionam efeito
jurídico. Nesse contexto, admitimos a existência de fatos jurídicos em geral, em
sentido amplo, que compreendem tanto os fatos naturais, sem a interferência do
homem, como os fatos humanos, relacionados com a vontade humana.
Nesse sentido, Maria Helena Diniz (2010, p. 517) ressalta que é o fato jurídico
que tem a capacidade de vincular os sujeitos e de subordinar o objeto ao poder dos mesmos e,
portanto, concretizar a relação jurídica. Dessa forma, o fato jurídico é um acontecimento, que
pode ser natural ou proveniente da vontade humana, previsto em uma norma jurídica, que
pode gerar consequências no plano jurídico.
Apresentada e estrutura de uma relação jurídica, portanto, é possível que passar à
análise dos elementos específicos que caracterizam uma relação de consumo.
[...] assim entendida a relação jurídica existente entre fornecedor e consumidor tendo
como objeto a aquisição de produto ou a utilização de serviços pelo consumidor [...].
O CDC não fala de “contrato de consumo”, ato de consumo”, “negócio jurídico de
consumo”, mas de relação de consumo, termo que tem sentido mais amplo do que
aquelas expressões. [...] São sujeitos da relação de consumo o fornecedor e o
consumidor; são objeto da relação de consumo os produtos e serviços. O elemento
teleológico da relação de consumo é a finalidade com que o consumidor adquire os
produtos ou utiliza do serviço, isto é, como destinatário final.
profissional para adquiri-lo. Nesse caso, não haveria exigida ‘destinação final’ do
produto ou do serviço, ou, como afirma o STJ, haveria consumo intermediário, ainda
dentro das cadeias de produção e de distribuição. Essa interpretação restringe a
figura do consumidor àquele que adquire (utiliza) um produto para uso próprio e de
sua família, consumidor seria o não profissional, pois o fim do CDC é tutelar de
maneira especial um grupo da sociedade que é mais vulnerável.
Foi seguindo o raciocínio dessa corrente, que o STJ decidiu, em 2014, no âmbito
do Agravo Regimental no Recurso Especial 1.321.083/PR, pela existência de relação de
consumo no caso da aquisição de uma aeronave por uma empresa administradora de imóveis,
considerando que a empresa teria adquirido o produto como destinatária final:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DO
CONSUMIDOR. COMPRA DE AERONAVE POR EMPRESA
ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS. AQUISIÇÃO COMO DESTINATÁRIA
FINAL. EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO.
2. Produto adquirido para atender a uma necessidade própria da pessoa jurídica, não
se incorporando ao serviço prestado aos clientes.
caracterizar uma efetiva relação de consumo, é imprescindível que se esteja diante de uma
atividade típica realizada pelo fornecedor.
De fato, esclarece Flávio Tartuce (2013, p. 68-69) que quem atua de forma isolada
não pode ser considerado fornecedor para os parâmetros do Código de Defesa do
Consumidor, em razão do próprio conceito de atividade, que pressupõe a existência de uma
pluralidade de atos, de uma finalidade comum e de um espaço temporal. Além disso, a
atividade deve ter caráter econômico, ou seja, deve haver o intuito de lucro ou vantagens
indiretas.
Cabe esclarecer, contudo, que não somente a intenção de obter lucro
(lucratividade) caracteriza o fornecedor nos termos do Código de Defesa do Consumidor. De
fato, conforme citado, é necessário que se considere o desenvolvimento da atividade de forma
tipicamente profissional, ou seja, de forma contínua, organizada e frequente.
Dessa forma, ainda que a pessoa (natural ou jurídica) tenha a intenção de obter
lucro, se atua de forma esporádica, eventual, isolada, não será reconhecida como fornecedora,
nos termos do CDC, e, consequentemente, não restará configurada uma relação de consumo.
Para exemplificar, José Fernando Simão (2003, p. 38) demonstra que se um indivíduo possui
um carro de uso pessoal e posteriormente decide vendê-lo, ele não seria considerado como
fornecedor para o CDC. No entanto, a situação seria completamente diferente se esse
indivíduo possuísse diversos automóveis de sua propriedade e usualmente os vendesse ao
público em geral, pois nesse caso ele seria caracterizado como fornecedor nos termos do CDC
e essa seria claramente uma relação de consumo.
Diversos outros exemplos podem ser dados nesse contexto. Seguindo o mesmo
raciocínio, uma empresa têxtil que isoladamente vende um computador da recepção para
angariar dinheiro para comprar um novo não se caracteriza como fornecedora e essa relação
não será de consumo, da mesma forma que uma jovem estudante que decide se desfazer
esporadicamente de algumas roupas que não usa mais, na intenção de obter verba para
comprar livros escolares, não integra o conceito de fornecedor previsto no Código de Defesa
do Consumidor.
Dessa forma, demonstrados os elementos subjetivos da relação de consumo, pode-
se concluir que, caso não reste configurada a existência de um consumidor – levando em
consideração o caráter de destinatário final adotado pelo CDC –, bem como inexistindo a
figura do fornecedor – considerando-se o conceito de atividade típica, característica também
adotada pelo Código de Defesa do Consumidor – não se pode falar em relação de consumo,
visto que ambos os elementos são imprescindíveis para caracterizá-la.
32
E prossegue com distinção se referindo a produto não durável como “ [...] aquele
que se acaba com o uso. Como o próprio nome também diz, não tem qualquer durabilidade.
Usando-o, ele se extingue ou, pelo menos, vai-se extinguindo.” (NUNES, 2015, p. 189-190).
Assim, apresentado o conceito e as classificações de produto, passa-se ao segundo
elemento objetivo da relação jurídica de consumo, o serviço. O art. art. 3º, § 2° do Código de
Defesa do Consumidor (BRASIL, Lei nº 8.078, 1990) traz o seguinte conceito “Serviço é
qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista.”.
Nesse contexto, observa-se que o CDC traz a necessidade de que o serviço seja
realizado mediante remuneração. No entanto, é possível que o caráter oneroso da relação se
evidencie por meio de vantagens indiretas:
De início, cumpre esclarecer que, apesar de a lei mencionar expressamente a
remuneração, dando um caráter oneroso ao negócio, admite-se que o prestador tenha
vantagens indiretas, sem que isso prejudique a qualificação da relação consumerista.
Como primeiro exemplo, invoca-se o caso do estacionamento gratuito em lojas,
shopping centers, supermercados e afins, respondendo a empresa que é beneficiada
pelo serviço, que serve como atrativo aos consumidores. (TARTUCE; NEVES,
2013, p. 96).
Nesse contexto, ressalta-se que, no que diz respeito aos profissionais liberais, eles
são considerados fornecedores de serviços e, portanto, sujeitam-se às normas do CDC
(BRAGA NETTO, 2014, p. 121).
Assim, para efeitos de conceituação, profissional liberal “[...] se caracteriza pela
inexistência, em geral, de qualquer vinculação hierárquica e pelo exercício
predominantemente técnico e intelectual de conhecimentos especializados, concernentes bens
fundamentais do homem, como a vida, a saúde, a honra, a liberdade” (VASCONCELOS,
2003, p. 187). Ou seja, profissionais liberais são aqueles que exercem atividade de forma
autônoma, sem subordinação e de maneira personalizada (de modo que os serviços são
contratados em razão das características peculiares e personalíssimas do profissional).
Nesses casos, porém, o Código de Defesa do Consumidor optou por dar um
tratamento diferenciado, dispondo, em seu artigo 14, §4º (BRASIL, Lei 8.078, 1990), que a
responsabilidade desses profissionais liberais seria subjetiva, ou seja, dependente da
verificação de culpa.
Por fim, salienta-se que os serviços on-line, oferecidos por meio da utilização da
internet, também são abrangidos pela legislação consumerista, uma vez que, apesar de não
estarem expressamente mencionados no Código de Defesa do Consumidor, também se
enquadram no conceito de serviço trazido pelo CDC.
Aliás, todo o comércio eletrônico (abrangendo a compra e venda de produtos e a
prestação de serviços) está sujeito às normas de proteção ao consumidor, como, inclusive, está
disposto no artigo 7º, inciso XIII da Lei n° 12.695 (BRASIL, 2014), nos seguintes termos:
“Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são
assegurados os seguintes direitos: [...] XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do
consumidor nas relações de consumo realizadas na internet.”.
Dessa forma, finaliza-se, no presente trabalho, o estudo dos elementos
caracterizadores das relações consumeristas, elementos estes que, reitera-se, precisam estar
imprescindivelmente presentes na relação jurídica para que a mesma possa ser considerada de
consumo e, consequentemente, para que o CDC possa incidir sobre ela.
conceito que está presente na seara do direito privado e consta expressamente descrito no
Código Civil de 2002.
Ressalta-se que, para muitos juristas, o abuso do direito encontra suas raízes no
Direito Romano. Apesar de essa teoria não ter sido propriamente desenvolvida pelos romanos,
sustenta-se que eles já possuíam certas máximas e institutos que serviram como precursores
para a criação do que se entende na atualidade como teoria do abuso do direito. Esses
primeiros traços do reconhecimento do abuso do direito, segundo Keila Pacheco Ferreira
(2006, p. 16), eram percebidos por meio soluções casuísticas, sem preocupação com uma
sistematização ou generalização.
Renan Lotufo (2003, p. 499) salienta que essa teoria seria decorrente da teoria da
aemulatio do Direito Romano, que seria a utilização de um direito com o intuito de causar
dano a outrem.
Nesse sentido, prossegue Keila Pacheco Ferreira (2006, p. 16-17) lecionando que,
durante o período medieval, essa teoria da aemulatio, com origem no Direito Romano, teria
tido maior desenvolvimento, podendo ser considerada como teoria precedente à do abuso do
direito.
No entanto, o verdadeiro surgimento da teoria do abuso do direito, da forma como
se entende hoje, sendo uma doutrina autônoma e científica, teria acontecido no somente na
segunda metade do século XIX, na França (RODRIGUES, 2003, p. 318), a partir da
jurisprudência francesa.
No Brasil, o Código Civil de 1916 já trazia, ainda que de forma indireta, aspectos
ligados à teoria do abuso do direito, contudo, foi o Código Civil de 2002 que acolheu
expressamente essa teoria (MARCACINI, 2006, p. 25-26). Assim, o artigo 187 explicita que
“Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”
(BRASIL, Lei nº 10.406, 2002).
Nesse sentido, ensina Sergio Cavalieri (2012, p. 174)
Em suma, há uma linha divisória entre o exercício regular do direito e o abuso do
direito. O primeiro se transforma em ato ilícito quando ultrapassa os limites
estabelecidos pela lei. O que efetivamente caracteriza o abuso do direito, como já
ressaltado, é o seu anonnal exercício, assim entendido aquele que se afasta da ética,
da boa-fé, da finalidade social ou econômica do direito, enfim, exercido sem motivo
legítimo. O ato será normal ou abusivo seguindo ou não um motivo legítimo; se tiver
ou não por finalidade a satisfação de um interesse sério e legítimo; se servir ou não
para causar dano a outrem, e sem proveito próprio.
36
Código não é exaustivo, mas apenas exemplifica algumas situações, o que não impede que
outras condutas também possam ser configuradas como abusivas.
Isso é possível depreender, inclusive, da própria redação do caput do artigo 39: “É
vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:” (BRASIL,
Lei nº 8.078, 1990, grifou-se). De fato, o próprio texto indica que as condutas elencadas não
são as únicas consideradas abusivas.
Ora, e assim nem poderiam ser, sob pena de comprometer a proteção ao
consumidor. Com efeito, o mercado de consumo na atual sociedade muda constantemente e
em grande velocidade, de modo que todos os dias surgem novas técnicas dos fornecedores
para aumento da produção e principalmente do lucro e muitas dessas práticas podem ser
contrárias aos fundamentos do sistema brasileiro de proteção ao consumidor.
Esse é, inclusive, o entendimento adotado pelo STJ, conforme é possível observar
no exemplo da seguinte decisão do Recurso Especial nº 1.539.165/MG:
CONSUMIDOR. PRÁTICA ABUSIVA. CLÁUSULAS ABUSIVAS EM
CONTRATO DE ADESÃO A CARTÃO DE CRÉDITO. MULTA
ADMINISTRATIVA APLICADA PELO PROCON AO FORNECEDOR.
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS PARA FINS DE REDUÇÃO DA
SANÇÃO. INVIABILIDADE. SÚMULA 5/STJ. REEXAME DE PROVAS.
DESCABIMENTO. SÚMULA 7/STJ. CONTRATO DE DURAÇÃO.
INCIDÊNCIA DO CDC E DE SUAS ALTERAÇÕES.
1. O Procon-MG instaurou processo administrativo contra fornecedora de serviços
de cartão de crédito, resultando na aplicação de multa por: cobrança de tarifa de
administração; cobrança de taxa de emissão de boleto bancário para emissão
mensal de fatura, independentemente de o pagamento ser realizado por meio de
débito em conta, dinheiro ou cheque pós-datado; cobrança de tarifa de débito em
conta corrente; contratação adesiva de cláusula de débito em conta corrente do
cliente; cobrança de seguro por perda ou roubo do cartão; e envio de produtos
e/ou serviços sem solicitação do consumidor.
2. Prática abusiva (lato sensu) é aquela que contraria as regras mercadológicas de
boa e leal conduta com os consumidores, sendo, de rigor, sua prevenção, reparação e
repressão. O Código de Defesa do Consumidor traz rol meramente
exemplificativo de práticas abusivas (art. 39), cabendo ao juiz identificar, no
caso concreto, hipóteses de violação dos princípios que orientam o
microssistema. [...] (BRASIL. STJ. 2016. Resp nº 1.539.165/MG. Relator Ministro
Humberto Martins. Data do julgamento 23/08/2016. DJe 16/11/2016. Grifou-se).
convencer mais fortemente a aquisição de novos bens. Assim, são desenvolvidas “[...]
poderosas campanhas publicitárias, que levam os consumidores a descartar rapidamente um
produto, impulsionando-os à aquisição de novidades oferecidas, obedecendo um padrão de
consumismo cada vez mais acelerado.” (CABRAL; RODRIGUES, p. 49).
Dessa forma, uma boa estratégia de marketing pode proporcionar aos fabricantes a
fidelidade dos consumidores, além de incentivar a rápida sucessão de produtos, garantindo
que os fornecedores, portanto, se beneficiem da diminuição da vida útil dos bens, por meio do
aumento considerável das vendas. Observa-se, assim, o importante papel da publicidade, da
mídia e, atualmente, das redes sociais, diante da prática da obsolescência programada.
Por fim, cabe ressaltar que a obsolescência programada difere da obsolescência
tecnológica comum, na medida em que esta representa o avanço da tecnologia que torna a
versão anterior realmente obsoleta do ponto de vista prático, de modo que a nova versão se
mostra muito mais pertinente ao uso, como é o caso do telégrafo e do telefone (LEONARD,
2011, p. 174). De fato, atualmente se torna totalmente inviável utilizar um telégrafo, visto que
ele não é mais eficiente ao que se propõe, em razão do surgimento do telefone.
Já no caso da obsolescência programada, trata-se de os próprios produtores se
utilizarem de artifícios para diminuir a vida útil do bem, seja fazendo com que se desgastem
fisicamente de forma mais fácil, seja incrementando os novos produtos com tecnologias, no
intuito de gerar nos consumidores a sensação de que os que possuem já estão ultrapassados,
fazendo surgir uma vontade cada vez maior de substituição rápida dos bens. Dessa forma,
passa-se a uma melhor análise dessas diferentes estratégias para o encurtamento da vida útil
dos produtos.
transmitir aos consumidores essa ideia de desejo pelo novo e pelo mais moderno, em
detrimento do que é antigo, mesmo que ainda esteja em pleno funcionamento.
Dois exemplos da aplicação dessa técnica de obsolescência programada são os
smartphones e os automóveis. Os carros são bens de consumo que tendem a durar muitos
anos (apesar de também poderem ser objetos da obsolescência programada de qualidade, de
modo que o fabricante imponha um prazo para que alguns componentes apresentem mal
funcionamento), mas a indústria automobilística, a cada ano, modifica a aparência dos
automóveis e por vezes inserem algumas pequenas funcionalidades a mais, no intuito de fazer
com que pareçam mais modernos e, portanto, mais atrativos aos consumidores.
Em relação aos smartphones, salienta Daniel Keeble (2013, p. 16-17) que a
indústria da telefonia móvel, atualmente, é umas das que mais se utiliza da obsolescência
programada de estilo ou de desejabilidade, sendo a Apple a empresa líder no uso dessa prática
comercial. De fato, prossegue Keeble destacando que a empresa trabalha para desenvolver
smartphones que se tornem ícones fashion, desejados por todos aqueles que querem estar
integrados nas mais novas tendências e já conseguiu criar um grande mercado de
consumidores e verdadeiros fãs da marca que tendem a sempre adquirir os mais novos
lançamentos da Apple, por acreditarem que nada se compara a eles.
Assim, os smartphones desenvolvidos pela empresa, chamados de Iphones, a cada
ano são atualizados, muitas vezes com mudanças pouco relevantes, mas sempre acabam se
tornando grandes sucessos de vendas, pelo fato de terem sido transformados em verdadeiras
expressões de status social e de moda.
Nesse contexto, para melhor ilustrar a incidência da obsolescência programada no
Brasil e a utilização de diversas das técnicas ora mencionadas pelos fornecedores, destaca-se
uma pesquisa desenvolvida pelo PROTESTE – Associação Brasileira de Defesa do
Consumidor, que constatou que cerca de 45% de bens eletrônicos e eletrodomésticos
adquiridos no País apresentam algum tipo de defeito antes de completarem dois anos de
utilização. Além disso, o mesmo estudo verificou que 74% dos consumidores preferiam
comprar um novo aparelho em vez de acionar a assistência técnica em caso de defeito em seus
bens (PRÔA, et al, 2014, p. 26-28).
Ademais, dentre os consumidores entrevistados que efetivamente levaram seus
produtos nas assistências técnicas para reparos, observou-se que diversos foram os motivos
para não terem realizado o conserto, sendo os mais relevantes: os altos preços cobrados pelas
assistências técnicas (81% dos entrevistados), o tempo para conserto era muito longo (25%
47
dos entrevistados) ou faltavam peças para reposição (7% dos entrevistados) (PRÔA, et al,
2014, p. 26-28).
Dessa forma, a pesquisa ajuda a visualizar, de forma mais concreta, a presença da
prática da obsolescência programada no Brasil, de modo que os produtos, em especial
eletrônicos e eletrodomésticos, em grande parte duram por um curto período de tempo,
demonstrando a existência da obsolescência programada de qualidade. Além disso, são
utilizadas pelos fornecedores algumas das outras técnicas ora mencionadas no sentido de
incentivar a compra de novos bens, tais como os altos preços para conserto, e a falta de peças
de reposição no mercado.
vezes, estabelecem preços altíssimos para essas peças, inviabilizando a reparação do bem e
incentivando a compra de um novo.
Assim, conforme salienta Felipe Peixoto Braga Netto (2014, p. 294), da boa-fé
objetiva decorre a chamada eficácia pós-contratual e diversos deveres anexos (que também
foram mencionados anteriormente neste trabalho), dentre eles está o de garantir ao
consumidor, por certo período razoável de tempo, que ele poderá continuar utilizando
normalmente aquele produto, mesmo que apresente algum defeito, pois poderá ser consertado,
assegurando, portanto, suas legítimas expectativas que estavam presentes no momento em que
adquiriu o bem, o que não é respeitado pela prática da obsolescência programada utilizada
pelos fornecedores.
Dessa forma, muitos tribunais brasileiros têm entendido no sentido de que cabe
indenização pelo fornecedor no caso de ausência de peças no mercado que acarrete a
impossibilidade de continuação do uso do produto, conforme exemplifica o seguinte acórdão
do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Apelação Cível nº 3130234, julgada no ano de 2016,
em um caso muito comum de ausência de peças em relação a automóveis e grande demora no
conserto decorrente disso:
RELAÇÃO CONSUMERISTA. LEGITIMIDADE PASSIVA DE AMBAS AS
FORNECEDORAS DO SERVIÇO. LEGITIMIDADE ATIVA DO
PROPRIETÁRIO E DA TITULAR DO SEGURO CONTRATADO. CONSERTO
DE VEÍCULO. DEMORA EXCESSIVA. FALTA DE PEÇAS DE
REPOSIÇÃO. ABUSIVIDADE. DANOS MATERIAL E MORAL.
CONFIGURAÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA DA
CONCESSIONÁRIA E DA FABRICANTE. VALOR INDENIZATÓRIO.
MANUTENÇÃO. CABIMENTO. ERRO MATERIAL DECOTADO DA
CONDENAÇÃO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. PROPORCIONALIDADE.
RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS. [...] 3 - Inconteste a demora da
conclusão dos serviços de reparo do veículo pela oficina da concessionária
RIVOLI, ante a falta de peças de reposição no mercado fabricadas pela
PEUGEOT, tendo sido noticiado pelos recorridos, inclusive, que ao ser
resgatado o veículo do conserto, mais de 05 (cinco) meses após o ingresso na
oficina, este continuou a apresentar os mesmos defeitos anteriormente
diagnosticados. A obtenção de informações claras sobre os produtos e serviços
oferecidos no mercado de consumo é direito básico do consumidor (CDC,
Art. 6º, III), assim como a oferta de componentes e peças de reposição
enquanto não cessar fabricação ou importação dos produtos (CDC, Art. 32).
Na sistemática do Código de Defesa do Consumidor, a conduta do fornecedor
de disponibilizar o produto (peça a ser reposta) ao seu exclusivo critério é
considerada abusiva (CDC, Art. 39, XII), afigurando-se como tal no caso em
apreço, em que o consumidor permaneceu sob o alvedrio de meras evasivas
quanto ao efetivo cumprimento da obrigação. O simples fato da necessidade de
sucessivas vistorias e autorizações por parte da seguradora para a liberação dos
reparos não tem o condão de justificar o retardo na prestação do serviço, somente
vindo a reforçar a tese de prolongamento das diligências necessárias ao conserto
do veículo, consectário da dificuldade de obtenção das peças originais de
reposição fabricadas pela PEGEOUT e solicitadas pela RIVOLI. [...] (BRASIL.
Tribunal de Justiça de Pernambuco. Apelação Cível nº 3130234. 2ª Câmara Cível.
Relator Des. Alberto Nogueira Virgínio. Data de julgamento: 16/03/2016. DJe:
08/04/2016, grifou-se).
50
[...] é necessário que se entenda que a proteção do consumidor anda de mãos dadas
com fomento à atividade privada, tanto na indústria quanto no comércio.
Posicionamentos radicais na defesa dos direitos dos consumidores podem dar a
aparência de que cooperam em favor destes, quando na verdade os prejudicam de
forma indireta. O consumo só existe enquanto houve algo para ser consumido. Sem
produtos e sem comércio não há consumidor, mas é preciso haver equilíbrio e os
abusos precisam ser combatidos. (VASCONCELOS; LUNA, 2017, p. 173).
Destaca-se que, além de outras medidas que podem ser tomadas no sentido de
combater a obsolescência programada, a exigência do cumprimento do dever de fornecer
informações claras e precisas ao consumidor é uma das principais chaves para a problemática
apresentada neste trabalho.
Realmente, ao receber informações corretas, claras, específicas e precisas o
consumidor “[...] terá aumentada sua capacidade de defesa contra as más práticas no mercado,
podendo questionar a conduta dos fornecedores e exigir a adoção de práticas menos
enganosas” (CABRAL; RODRIGUES, 2011, p. 53), tendo ainda melhor consciência das
escolhas que fará em relação à aquisição de produtos.
De fato, tendo plena consciência das características daquilo que estão adquirindo,
os consumidores podem se proteger de forma mais efetiva contra eventuais práticas abusivas,
por exemplo, deixando de adquirir produtos de determinados fornecedores ou buscando
assistência de órgãos de proteção ao consumidor e até mesmo do próprio poder judiciário.
Nesse sentido, os órgãos técnicos possuem grande relevância na atuação em prol
do consumidor, visto que, conforme salienta José Reinaldo de Lima Lopes (1992, p. 49), os
consumidores não possuem, em geral, conhecimentos específicos sobre os produtos, não
podendo avaliar corretamente o que adquirem, daí a necessidade da atuação de laboratórios e
institutos de pesquisa, vez que possuem maior capacidade de conhecimento em relação aos
bens, em nível compatível ao dos fornecedores.
No Brasil, o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Sinmetro), composto pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (Inmetro) e pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Conmetro), são órgãos que podem ajudar nessa questão.
Destaca-se que esses órgãos já possuem atuação no sentido de melhor proteger os
consumidores em relação à qualidade dos produtos, tendo em vista o advento da Lei nº
9.933/99, que estabelece as competências do Inmetro e do Conmetro, prevendo a necessidade
de os fornecedores observarem critérios mínimos de qualidade, bem como a de combater as
práticas enganosas no comércio em seu artigo 1º (FRANCO, 2014, p. 57).
56
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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