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Curso: Pós-Graduação em Direito Administrativo

Disciplina: Direito Administrativo e Garantias Constitucionais


Aluno: Augusto Teixeira Modesto
Tarefa 2. Unidades 2 e 3. Dissertação mínimo 2 laudas.
Tema: Há limite para atuação do Estado na vida íntima das pessoas? Reflita sobre
conceito, finalidade e funções do Estado e considere o Estado Democrático de
Direito.

Inicialmente, sobre o surgimento de Estado, Dallari traz 03 possíveis posições de origem:


(i) o Estado sempre existiu, pois o homem encontra-se “integrado numa organização
social”, dotada de poder e com autoridade para determinar o “comportamento de todo
grupo”; (ii) o Estado foi formado a posteriori pela sociedade para “atender às
necessidades ou às conveniências dos grupos sociais” e (iii) o Estado surge ao se
constatar uma “sociedade política dotada de certas características muito bem definidas”,
dotada de soberania.

Nessa seara, a terceira corrente mostra-se mais sólida, sustentada inclusive por Dallari
quanto à consolidação do Estado Moderno com os tratados de paz de Westfália, que tem
como característica básica a unidade territorial dotada de um poder soberano.

Reforça tal linha posições como de Kelsen, que define o Estado como uma sociedade
politicamente organizada, BURDEAU, para quem o Estado é uma institucionalização do
poder, e o próprio Dallari ao conceituar o Estado como a ordem jurídica soberana que tem
por fim o bem comum de um povo situado em determinado território.

Pois bem. referido Estado é composto de 03 elementos originários e indissociáveis: Povo,


Território e Governo soberano. A soberania, segundo Novelino, pode ser definida como
um poder político supremo e independente, que enseja força e poder, resultando em
independência do Estado quanto à sua existência e sua própria vontade. É da soberania
do Estado que decorre as funções do Estado: o seu poder de fazer as leis (legislar), de
dizer o direito (julgar) e de desempenhar suas funções administrativas (executar).

Destaque-se que no Brasil, cada função que compõe a lógica tripartite, Legislativa,
Executiva e Judiciária, consolidada por Montesquieu, é de caráter preponderante, mas
não exclusiva, pois cada um dos Poderes exerce as 03 funções, sendo uma delas de
maneira típica e as outras duas de maneira atípica.

No que compete à finalidade do Estado, lembra Dallari, entende-se como um ente


organizador das relações humanas, sem o qual não haveria um relacionamento normativo
ordenador dessas relações. o Estado, como sociedade política, tem um fim geral,
constituindo-se em meio para que os indivíduos e as demais sociedades possam atingir
seus respectivos fins particulares. Assim, pois, pode-se concluir que o fim do estado é o
bem comum.

Nessa linha, vale ressaltar que a Constituição Brasileira prevê no seu art. 3 os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, quais sejam: (i) construir uma sociedade
livre, justa e solidária; (ii) garantir o desenvolvimento nacional; (iii) erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e (iv) promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

Passo seguinte, cumpre-nos tratar do Estado Democrático de Direito. Desmembrando a


expressão, primeiramente tratemos o que é Estado de Direito (destacado no art. 1 da
nossa Constituição Federal). O “Estado de Direito” pode ser assim traduzido: O Estado
cria as leis para que a todos sejam impostas, inclusive a si mesmo. A ideia de Estado de
Direito baseia-se na imposição de “freios” à atividade do próprio Estado.

O Estado de Direito é aplicado ao garantir o respeito pelos direitos de primeira dimensão,


ou seja, a valoração da liberdade graças à salvaguarda dos direitos civis e políticos, o
respeito às garantias fundamentais, por meio de um arcabouço jurídico protetivo. Reforce-
se, segundo Alexandre Meirelles, Estado de Direito é o estado juridicamente organizado e
obediente às suas próprias leis.

Historicamente, Cyonil destaca que o Estado de Direito surgiu, essencialmente, para fazer
frente ao Estado Absolutista, centrado na figura do soberano. No Estado de Direito a
contenção do poder é feita pela lei, consagrando-se a fórmula ocidental do “rule of law” (o
Estado é que cria as regras, mas a estas deve se sujeitar). 
Esse “primado da lei” no Estado de Direito promove a presunção de legitimidade “relativa”
(admite-se prova em contrário) dos atos estatais. De fato, se o Estado é de Direito e,
assim, pressupõe-se que cumpra a lei, todo e qualquer ato proveniente do Estado é
produzido, presumidamente, de acordo com a ordem jurídica, portanto legítimo.

Vale destacar a importância do Estado de Direito para o Direito Administrativo. Como


sinaliza Dirley Cunha, é o Direito, ao qual o Estado passou a se submeter, que regula as
relações entre a Administração Pública e os administrados, assegurando a correta e
legítima gestão do interesse público e garantindo os direitos dos administrados.
 
Por fim, reflitamos sobre o conceito de Estado Democrático. Os termos Democrático e
Direito têm alcances diferenciados, sendo a democracia mais abrangente do que o direito.
Democrático significa que o poder emana do povo, diretamente, ou indiretamente, por
meio de representantes. Isso posto, o Estado Democrático de Direito interfere na vida das
pessoas tendo como lastro a Accountability, Governabilidade e Governança.

Relativamente à Accountability, esta consiste na capacidade e obrigação (legal) do


sistema político de prestar contas à sociedade, a utilização de boas práticas de gestão e a
responsabilização (responsividade) dos gestores pelos atos e resultados decorrentes da
utilização de recursos públicos, garantindo-se assim maior transparência e exposição das
políticas públicas.

A Governabilidade, ensina Augustinho Paludo, refere-se ao poder político em si, que deve
ser legítimo, traduzido no apoio social e político. Segundo Bresser-Pereira, é a
capacidade política de governar, derivada da relação de legitimidade do Estado e do seu
governo com a sociedade (obediência sem uso da força).

A Governança tem caráter instrumental, o braço operacional da governabilidade. Consiste


na capacidade técnica, financeira e gerencial de um governo implementar políticas
públicas. Em sentido mais operacional, inclui a participação do mercado e da sociedade
civil nas decisões políticas. O TCU a define como um conjunto de mecanismos de
liderança, estratégia e controle postos em práticas para avaliar, direcionar e monitorar a
atuação da gestão pública, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de
serviços à sociedade.
Na linha da governança, a Administração Pública (concernente ao Estado), no sentido
material e estrito, atua na vida das pessoas desempenhando a função administrativa, que
compreende 04 atividades: fomento, polícia administrativa, serviço público e intervenção.

Evidentemente que a Administração Pública tem limites para atuar na vida das pessoas,
sendo freada pelos direitos e garantias fundamentais, doutrinariamente previstos na 1
dimensão do Direito Constitucional. O princípio da legalidade faz um importante papel
neste sentido, o qual prescreve que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei.

Tratando-se de Brasil, os Direitos Individuais constantes no art. 5 o são cláusulas pétreas,


portanto, não sujeitos à alteração legal (restrição, pois segundo STF é possível ampliá-
los) e servem para proteger o indivíduo do Estado. Vejamos, por exemplo, a Súmula
Vinculante no 11, que restringiu o poder do Estado de algemar um cidadão:

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio


de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo
da responsabilidade civil do Estado.

Não obstante o que foi descrito anteriormente, há claro possibilidade jurídica de restrições
do Estado à propriedade privada, mas são casos específicos. O Estado detém
ferramentas neste sentido, dentre as quais podemos citar a ocupação temporária e
requisição de imóveis, tombamento, servidão administrativa, desapropriação etc.

Inclusive, cumpre-se salientar que há dois cenários (exceções) previstos na Carta Magna
tupiniquim, nos quais o poder do Estado aumenta consideravelmente e há o risco
inclusive de termos sobrestados os direitos individuais: o estado de defesa e o estado de
sítio.

No estado de defesa, em virtude da gravidade das situações, o Estado fica autorizado a


adotar medidas coercitivas que, em situações de normalidade, violariam os direitos do
cidadão, como restrições aos Direitos de Reunião, ao Sigilo de Correspondência etc.
No que compete ao Estado de Sítio, são possíveis a obrigação de permanência em
localidade determinada; a suspensão da liberdade de reunião; a busca e apreensão em
domicílio; a intervenção nas empresas de serviços públicos dentre outras.
Bibliografia

Acemoglu, Daron; Robinson, James. Why Nations Fail: The Origins of Power,
Prosperity and Poverty. 1 ed. Estados Unidos: Crown Business, 2012.

Borges, Cyonil; Sá, Adriel. Manual de Direito Administrativo Facilitado. 4a edição:


Bahia: Editora Juspodivm, 2020.

_____________________. Direito Administrativo. Disponível no site TecConcursos:


https://www.tecconcursos.com.br/assinar/avancado

Castro, Humberto; Rabay, Gustavo; Seigner, Georges. Ebook Direito Administrativo e


Garantias Contitucionais. Faculdade Unyleya, 2020.

Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral de Estado. 30 ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2011.

Di Pietro, Maria S. Zanella. Direito Administrativo. 32 ed. Rio de Janeiro: Editora


Forense, 2019.

D’almeida, Alan Hirt. Ebook Administração Pública. Faculdade Unyleya, 2019.

Novelinho, Marcelo; Júnior, Dirley da Cunha. Constituição Federal. 9 ed. Bahia: Editora
Juspodivm, 2018.

Paludo, Augustinho Vicente. Administração Pública. 7 ed. São Paulo: Editora Método,
2017.

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