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Estudos Estratégicos

vol.3

Mobilidade urbana e cidadania


Percepções dos usuários
de transporte público
no Brasil

renda e serviços
públicos:
“de casa para dentro“
e “de casa para fora”

mobilidade
como vetor
estruturante da cidadania
ISBN 978-85-68823-04-0
ESTUDOS ESTRATÉGICOS

VOL. 3

MOBILIDADE URBANA E CIDADANIA


Percepções dos usuários
de transporte público
no Brasil
FGV DAPP
editorial

Diretor Projeto Gráfico


Marco Aurélio Ruediger Café.art.br

DAPP Equipe
DAPP Contato: (21) 3799-4300 | www.dapp.fgv.br | dapp@fgv.br Alexandra Ramos
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EQUIPE DE EXECUÇÃO Maria Eduarda Rodrigues

Coordenação Revisão
Marco Aurélio Ruediger Lucas Calil
Yasmin Thayná
Pesquisadores
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Amaro Silveira Grassi DRQ GRAFICA E EDITORA LTDA
Margareth da Luz

Instituição de caráter técnico-científico, educativo e filantrópico, criada em 20 de dezembro de 1944 como pessoa jurídica de direito
privado, tem por finalidade atuar, de forma ampla, em todas as matérias de caráter científico, com ênfase no campo das ciências sociais:
administração, direito e economia, contribuindo para o desenvolvimento econômico-social do país.

Sede
Praia de Botafogo, 190, Rio de Janeiro | RJ, CEP 22250-900 ou Caixa Postal 62.591 CEP 22257-970 | Tel: (21) 3799-5498 | www.fgv.br

Primeiro Presidente Fundador


Luiz Simões Lopes

Presidente
Carlos Ivan Simonsen Leal

Vice-Presidentes
Sergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornelles e Marcos Cintra Cavalcante de Albuquerque

CONSELHO DIRETOR

Presidente
Carlos Ivan Simonsen Leal

Vice-Presidentes
Sergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornelles e Marcos Cintra Cavalcante de Albuquerque

Vogais
Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalho e Albuquerque, Cristiano Buarque Franco Neto; Ernane Galvêas, José Luiz Miranda, Lindolpho de Carvalho
Dias, Marcílio Marques Moreira e Roberto Paulo Cezar de Andrade

Suplentes
Aldo Floris, Antonio Monteiro de Castro Filho, Ary Oswaldo Matttos Filho, Gilberto Duarte Prado, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto Duarte Prado, Jacob Palis
Júnior, José Ermírio de Moraes Neto, Maurício Matos Peixoto e Marcelo José Basílio de Souza Marinho

CONSELHO CURADOR

Presidente
Carlos Alberto Lenz César Protásio

Vice-Presidente
João Alfredo Dias Lins (Klabin Irmãos e Cia)

Vogais
Alexandre Koch Torres de Assis; Angélica Moreira da Silva (Federação Brasileira de Bancos); Eduardo M. Krieger; Fernando Pinheiro e Fernando Bomfiglio
(Souza Cruz S.A.); Heitor Chagas de Oliveira; Jaques Wagner (Estado da Bahia); Leonardo André Paixão (IRB - Brasil Resseguros S.A.); Luiz Chor; Marcelo Serfaty;
Márcio João de Andrade Fortes; Orlando dos Santos Marques (Publicis Brasil Comunicação Ltda.); Pedro Henrique Mariani Bittencourt e Tomas Brisola (Banco
BBM S.A.); Raul Calfat (Votorantim Participações S.A.); Ronaldo Mendonça Vilela (Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Capitalização e de Resseguros
no Estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo); e Tarso Genro (Estado do Rio Grande do Sul).

Suplentes
Cesar Camacho; Emerson Furtado Lima e Luiz Ildefonso Simões Lopes (Brookfield Brasil Ltda.); José Carlos Schmidt Murta Ribeiro; Luiz Roberto Nascimento Silva;
Manoel Fernando Thompson Motta Filho; Nilson Teixeira (Banco de Investimentos Crédit Suisse S.A.); Olavo Monteiro de Carvalho (Monteiro Aranha Participações
S.A.); Patrick de Larragoiti Lucas (Sul América Companhia Nacional de Seguros); Clóvis Torres (Vale S.A.); Rui Barreto; Sérgio Andrade; e Victório Carlos de Marchi.
ESTUDOS ESTRATÉGICOS

VOL. 3

MOBILIDADE URBANA E CIDADANIA


Percepções dos usuários
de transporte público
no Brasil

Rio de Janeiro, 2014


03.
sumário
01 introdução /06

02 Metodologia
da pesquisa de campo /10

03 perfil
dos entrevistados /14

04 Resultados /20
4.1. Renda e serviços públicos:
“de casa para dentro“ e “de casa para fora”
4.2. Mobilidade como vetor
estruturante da cidadania
4.3. Sistema político e ação coletiva

05 CONCLUSÃO /62
01.

6
introdução

A mobilidade é hoje um dos principais desafios da do descontentamento com o conjunto dos serviços
gestão urbana brasileira, concentrando uma série de públicos e com as condições de vida nas principais
pontos críticos das grandes cidades do país. A preca- regiões metropolitanas. Mas não apenas isso: as cha-
riedade dos sistemas de transporte público nas regiões madas “Jornadas de junho” trouxeram à tona também
metropolitanas, a ausência de planejamento, a falta de a percepção do distanciamento do sistema político
transparência e o baixo nível de investimentos público em relação à população, sobretudo no que se refe-
e privado no setor foram alguns dos fatores que, nos re à capacidade de representação de seus interesses
últimos anos, concorreram para gerar um grande sen- e ao aumento da corrupção.
timento de frustração e de indignação.

Por outro lado, melhorias ocorridas na última dé- (...) A mobilidade é hoje um
cada em termos de aumento da renda e do consumo, dos principais desafios da
bem como do acesso à internet e às novas tecnologias
de informação e comunicação (TICs), elevaram a pres-
gestão urbana brasileira,
são sobre a qualidade dos serviços públicos, intervindo concentrando uma série
na capacidade dos governos de atender às demandas de pontos críticos das
da sociedade. A insatisfação acumulada foi direcio-
grandes cidades do país. (...)
nada para o transporte público e culminou com
os protestos de junho de 2013, que levaram milha-
res de pessoas às ruas e colocaram definitivamente a
questão da mobilidade na agenda pública brasileira.

As manifestações tiveram como estopim o reajus-


te das tarifas das passagens de ônibus em São Paulo,
mas logo cederam protagonismo a uma longa pauta
de demandas, canalizando uma onda de indignação
popular e jogando luz sobre a extensão e a dimensão

7
A questão da mobilidade urbana reúne, portan-
to, desafios centrais para a sociedade brasileira nos
próximos anos, tais como a qualidade do transpor-
te público e das condições de vida nas metrópoles, a
relação entre Estado e sociedade civil, a mobilização
social e a participação política.

Nesse contexto, não há como exagerar a impor-


tância de se identificar as percepções e sentimentos
dos usuários do sistema de transporte público, sobre-
tudo daqueles que o utilizam em seus deslocamentos
pendulares, com o objetivo de dimensionar o grau de
insatisfação dos cidadãos em relação aos serviços pú-
blicos e ao poder público, bem como à qualidade de
vida nas maiores cidades do Brasil, locus privilegia-
dos de observação das transformações – positivas e
negativas – ocorridas após uma década de inclusão
social e de aumento da renda e do consumo.

Com esse propósito, a Diretoria de Análise de Polí-


ticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP)
realizou a pesquisa “Mobilidade urbana e cidadania:
percepções do usuário de transporte público no Brasil”,
em que foram entrevistados 3.600 usuários nas maio-
res regiões metropolitanas (RMs) do Brasil e no Distrito
Federal entre o fim de março e o início de abril de 2014.

PONTE juscelino-kubitschek
BRASÍLIA

8
02.
Metodologia da
pesquisa de campo

A pesquisa de campo foi desenvolvida através de região metropolitana individualmente. Para tanto,
um levantamento por amostragem semiprobabilística procedeu-se inicialmente a uma estratificação geo-
das populações constituídas por pessoas de 15 ou mais gráfica de cada região, dividindo-a em dois estratos:
anos de idade, residentes no Distrito Federal e em cin- (1) o estrato constituído pela capital; (2) o estrato
co regiões metropolitanas (RM) brasileiras, a saber: constituído pelos demais municípios que compõem
a região metropolitana.
/Rio de Janeiro;

/São Paulo; A partir dessa estratificação, na primeira etapa da


/Belo Horizonte; amostragem foi efetuada a seleção certa do município
da capital, enquanto no outro estrato houve seleção
/Porto Alegre;
aleatória, com probabilidade proporcional ao tama-
/Recife; nho da população, de certo número de municípios do
estrato (número variável conforme a região metropoli-
Foram realizadas 3.600 (três mil e seiscentas) en- tana). Dessa forma, foram obtidas as unidades primá-
trevistas face a face entre 25 de março e 07 de abril de rias de amostragem. A única exceção é o Distrito Fede-
2014, por meio de um questionário estruturado. ral, por se constituir de um único município.

Em cada região, a população pesquisada consis- Após essa primeira etapa, em cada um dos municí-
tiu no conjunto de residentes pertencentes à faixa pios que integram a amostra foi realizada nova estra-
etária de interesse e que fossem usuários de trans- tificação da população pesquisada, agora de natureza
porte público. Ou seja, a unidade de pesquisa é a socioeconômica, obedecendo a critérios de divisão
pessoa com tais características. A análise foi con- por cotas definidas pelo emprego de três variáveis:
cebida de modo a fornecer resultados para cada (1) sexo (com duas categorias); (2) idade (com cinco

11
categorias); (3) escolaridade (quatro categorias). Portanto, foram empregados ao todo 40 (quarenta) estratos esta-
belecidos por cotas. Em cada uma dessas cotas, foi selecionada uma amostra aleatória de pessoas da população
pesquisada. Assim, o plano de amostragem empregado é estratificado e conglomerado, com dois estágios de
seleção.

A Tabela 1 apresenta a lista de regiões metropolitanas pesquisadas, os municípios selecionados em cada uma
delas, o tamanho da amostra em cada município e em cada região metropolitana, além de no Distrito Federal, e
a margem de erro. O Gráfico 1 explica a distribuição percentual.

tabela 1

Municípios selecionados e tamanho da amostra em cada uma das RMs pesquisadas

Região Tamanho da Amostra total Margem de erro


Municípios
metropolitana amostra na RM (em percentual)

São Paulo 978

Guarulhos 101

santo André 60
São Paulo 1.200 5,0
Diadema 32

Barueri 20

Jandira 9

Rio de Janeiro 561

São Gonçalo 87

Rio de Janeiro Duque de Caxias 71 800 4,5

Nova Iguaçu 67

Nilópolis 14

Belo Horizonte 306

Belo Horizonte Contagem 75 400 3,7

Ibirité 19

Recife 264

Jaboatão dos
106
Recife Guararapes 400 2,4

Cabo de Santo
30
Agostinho

Porto Alegre 338

Viamão 53
Porto Alegre 400 3,0
Santo Antônio da
9
Patrulha

Distrito Federal - - 400 2,5

Total - 3.600 3.600 3,5

Fonte: FGV/DAPP

12
gráfico 1

Em qual cidade você mora?


(em percentual)

8 12 25 41 9 5

Recife Belo Horizonte Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre Distrito Federal

Fonte: FGV/DAPP

A pesquisa de campo foi


desenvolvida através
de um levantamento
por amostragem
semiprobabilística das
populações constituídas
por pessoas de 15 ou mais
anos de idade, (...)

13
03.

14
perfil
dos entrevistados

Um pouco mais da metade dos entrevistados, con-


siderando os resultados nacionais ou por região, é do
sexo feminino (Gráfico 2), predominantemente se en-
contra na faixa etária dos 25 aos 40 anos (Gráfico 3) e
não possui grau de instrução ou tem o ensino funda-
mental incompleto (Gráfico 4). Em relação à renda fa-
miliar nacional, 34% dos respondentes estão na faixa
de até dois salários mínimos; outros 33%, entre dois
e quatro salários. A maior parte dos entrevistados da
região metropolitana de Recife, ou seja, 54%, está na
primeira faixa. Encontramos os maiores percentuais
para a segunda faixa nas RMs de São Paulo, Porto Ale-
gre, Belo Horizonte e no Distrito Federal, represen-
tando em cada região 35% das pessoas pesquisadas.

(...) Encontramos os maiores percentuais


para a segunda faixa nas RMs de São
Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte
e no Distrito Federal, (...)

15
gráfico 2

Qual o seu sexo?


(em percentual)

RMS 53 47

BELO HORIZONTE 52 48

DISTRITO FEDERAL 53 47

PORTO ALEGRE 53 47

RECIFE 54 46

RIO DE JANEIRO 53 47

SÃO PAULO 53 47

Feminino Masculino

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 3

Qual a sua idade?


(em percentual)

RMS 22 34 23 11 10

BELO HORIZONTE 22 34 23 10 10

DISTRITO FEDERAL 25 38 22 8 7

PORTO ALEGRE 21 32 24 12 11

RECIFE 23 35 23 10 9

RIO DE JANEIRO 21 35 23 12 12

SÃO PAULO 22 35 23 11 10

15 a 24 anos 25 a 40 anos 41 a 54 anos 55 a 64 anos 65 ou mais

Fonte: FGV/DAPP

16
gráfico 4

Qual o seu grau de escolaridade?


(em percentual)

RMS 39 21 30 9

BELO HORIZONTE 43 20 29 29

DISTRITO FEDERAL 33 20 34 13

PORTO ALEGRE 41 22 29 8

RECIFE 44 19 30 7

RIO DE JANEIRO 44 19 30 9

SÃO PAULO 38 22 31 10

Sem instrução e fundamental incompleto Fundamental completo e médio incompleto


Médio completo e superior incompleto Superior completo

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 5

Qual a sua renda familiar?


(em percentual)

RMS 34 33 26 3
BELO HORIZONTE 30 35 26 4

DISTRITO FEDERAL 26 35 26 6

PORTO ALEGRE 36 35 24 3

RECIFE 54 29 13 1

RIO DE JANEIRO 38 29 26 4

SÃO PAULO 29 35 27 3

Até 2 SM 2 a 4 SM 4 a 10 SM 10 a 20 SM Acima de 20 SM Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

17
A maioria dos entrevistados – em escala nacional – usa o transporte público para trabalhar, perfazendo
68% do total. No Distrito Federal, esse percentual chega a 77% (Gráfico 6). Mais da metade dos entrevistados
(54%), uma vez consideradas todas as RMs – à exceção de São Paulo –, utiliza até duas conduções em seus
deslocamentos pendulares. Na RM de São Paulo, os maiores percentuais estão divididos entre as respostas
que indicam “até 2 conduções” e “3 ou 4 conduções”, com cada opção correspondendo a 42% das pessoas
pesquisadas (Gráfico 7).

gráfico 6

Durante a semana, você normalmente utiliza o transporte público para:


(em percentual)

RMS 68 6 25

BELO HORIZONTE 63 7 30

DISTRITO FEDERAL 77 8 14

PORTO ALEGRE 64 8 27

RECIFE 67 8 25

RIO DE JANEIRO 69 5 25

SÃO PAULO 69 5 25

Trabalhar Estudar Praticar esportes Outras atividades Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

Por fim, 33% dos respondentes em todo o Brasil utilizam o transporte público cinco dias por semana,
encontrados os maiores percentuais para essa resposta no Distrito Federal, com 40% (Gráfico 8).

18
gráfico 7

Nesses deslocamentos, quantas conduções você normalmente utiliza?


(em percentual)

RMS 54 36 10

BELO HORIZONTE 58 35 7

DISTRITO FEDERAL 68 29 3

PORTO ALEGRE 72 24 4

RECIFE 68 25 7

RIO DE JANEIRO 57 36 6

SÃO PAULO 42 42 16

Até 2 conduções 3 ou 4 conduções 5 ou mais

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 8

Em quantos dias da semana você utiliza regularmente o transporte público?


(em percentual)

RMS 6 9 11 6 33 23 12

BELO HORIZONTE 7 13 11 6 33 21 8

DISTRITO FEDERAL 3 7 8 6 40 26 10

PORTO ALEGRE 8 8 11 7 39 16 12

RECIFE 5 7 11 7 27 27 16

RIO DE JANEIRO 5 8 11 7 36 22 11

SÃO PAULO 5 8 12 5 30 25 13

1 dia 2 dias 3 dias 4 dias 5 dias 6 dias 7 dias Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

19
04.

20
resultados

4.1
Renda e serviços
públicos:
“de casa para dentro”
e “de casa para fora”

A primeira seção da pesquisa explorou o nível de


satisfação com os serviços públicos básicos em todo
o Brasil – Transporte, Educação, Saúde e Segurança.
Segundo o survey, 73% dos usuários de transporte
público se dizem insatisfeitos ou muito insatisfeitos
com o serviço. Além disso, o percentual de “insa-
tisfeitos” e “muito insatisfeitos” chega a 80% em
relação a Segurança e a 79% quando se trata de
Saúde. Finalmente, no que se refere a Educação,
67% dos entrevistados se posicionam de forma ne-
gativa em relação à questão (Gráfico 9).

21
gráfico 9

Ranking Brasil de Percepção


Resultado de todas as RMs (do pior para o melhor, em percentual)

SEGURANÇA 80 20

SAÚDE 79 21

TRANSPORTE 73 27

EDUCAÇÃO 67 33

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

A segurança pública tem o maior nível de insatisfação em cinco das seis regiões pesquisadas, com exceção
de Belo Horizonte, onde Saúde tem a maior proporção de insatisfeitos (Gráfico 10). Na RM do Rio de Janeiro,
Saúde e Segurança empatam na avaliação das pessoas ouvidas, chegando a 84% de insatisfação (Gráfico 11).

Em todos os casos, a educação pública apresenta o menor nível de descontentamento, especialmente na


RM de Recife, o que indica a ocorrência de alguma melhora no sistema público nos últimos anos, embora a
avaliação geral ainda seja muito negativa (Gráfico 12). Merece destaque também o transporte público em São
Paulo, única RM em que menos de 70% dos entrevistados demonstram insatisfação com o setor (Gráfico 13).

22
gráfico 10

Ranking Brasil de Percepção


Resultados para a RM de Belo Horizonte (do pior para o melhor, em percentual)

SAÚDE 75 25

SEGURANÇA 72 28

TRANSPORTE 71 29

EDUCAÇÃO 59 41

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 11

Ranking Brasil de Percepção


Resultados para a RM do Rio de Janeiro (do pior para o melhor, em percentual)

SAÚDE 84 16

SEGURANÇA 84 16

TRANSPORTE 77 23

EDUCAÇÃO 71 29

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

23
gráfico 12

Ranking Brasil de Percepção


Resultados para a RM de Recife (do pior para o melhor, em percentual)

SEGURANÇA 80 20

TRANSPORTE 77 23

SAÚDE 75 25

EDUCAÇÃO 57 43

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 13

Ranking Brasil de Percepção


Resultados para a RM de São Paulo (da pior para a melhor, em percentual)

SEGURANÇA 80 20

SAÚDE 78 22

TRANSPORTE 69 31

EDUCAÇÃO 68 32

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

24
gráfico 14

Ranking Brasil de Percepção


Resultados para o Distrito Federal (do pior para o melhor, em percentual)

SEGURANÇA 85 15

TRANSPORTE 82 18

SAÚDE 80 20

EDUCAÇÃO 64 36

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 15

Ranking Brasil de Percepção


Resultados para a RM de Porto Alegre (do pior para o melhor, em percentual)

SEGURANÇA 80 20

SAÚDE 76 24

TRANSPORTE 72 28

EDUCAÇÃO 67 33

Muito insatisfeito ou Insatisfeito Outros (Muito satisfeito, Satisfeito, Indiferente, Ns/Nr)

Fonte: FGV/DAPP

25
4.1.1. Segurança Pública

Conforme mencionado anteriormente, a segurança


pública é o setor com o nível de insatisfação mais alto.
Considerando os resultados em todo o Brasil, 41%
estão “insatisfeitos”, e 39%, “muito insatisfeitos” – so-
mando 80% das respostas. Apenas 10% das pessoas
entrevistadas se dizem satisfeitas, e 9% afirmam-se
“indiferentes”. O Distrito Federal e a região metro-
politana do Rio de Janeiro apresentam os piores
índices, com 47% de “muito insatisfeitos”. Já na RM de
Belo Horizonte está o maior percentual de “satisfeitos”
e “muito satisfeitos”, perfazendo aproximadamente
16% dos entrevistados (Gráfico 16).

(...) a segurança pública


é o setor com o nível
de insatisfação mais
alto. Considerando os
resultados em todo
o Brasil, 41% estão
“insatisfeitos”, e 39%,
“muito insatisfeitos” (...)

26
estação da luz
são paulo

27
gráfico 16

Qual é o seu nível de satisfação com a segurança pública?


(em percentual)

RMS 10 9 41 39

BELO HORIZONTE 15 12 37 35

DISTRITO FEDERAL 6 9 38 47

PORTO ALEGRE 12 8 42 38

RECIFE 12 9 44 33

RIO DE JANEIRO 7 9 37 47

SÃO PAULO 11 9 45 35

Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

28
4.1.2. Saúde Pública

A área de Saúde apresenta, no geral, a segun-


da pior avaliação entre as pessoas ouvidas na pes-
quisa. Considerando os resultados nacionais, com 42%
de “insatisfeitos” e 37% de “muito insatisfeitos”, obte-
mos um total de 79% de insatisfação. Os “satisfeitos” A área de Saúde apresenta,
e “muito satisfeitos” somam aproximadamente 13%, e
no geral, a segunda pior
8% se manifestam indiferentes. Ainda são no Distrito
Federal e na RM do Rio de Janeiro que se encontram os avaliação entre as pessoas
maiores percentuais de entrevistados “muito insatis- ouvidas na pesquisa. (...)
feitos”: 41% e 46%, respectivamente. As RMs que con-
centram mais respostas positivas para o setor são as
de Belo Horizonte, São Paulo e Recife, somando, res-
pectivamente, cerca de 17%, 15% e 14% das avaliações
“muito satisfeito” e “satisfeito” (Gráfico 17).

gráfico 17

Qual é o seu nível de satisfação com a saúde pública?


(em percentual)

RMS 12 8 42 37

BELO HORIZONTE 16 7 41 34

DISTRITO FEDERAL 8 9 39 41

PORTO ALEGRE 11 12 42 34

RECIFE 13 10 42 33

RIO DE JANEIRO 9 6 38 46

SÃO PAULO 14 8 45 34

Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

29
4.1.3. Educação Pública

Considerando o Brasil, na área de Educação, “insatisfeitos” e “muito insatisfeitos” representam qua-


se 70% dos respondentes, enquanto os “satisfeitos” e “muito satisfeitos” representam aproximadamente
19%. Os “indiferentes” totalizam 13%. As RMs de São Paulo e de Porto Alegre concentram as avaliações
mais negativas, com 68% e 67% de “muito insatisfeitos” e insatisfeitos”. Os maiores percentuais de respos-
tas “muito satisfeito” e “satisfeito”, cerca de 24%, estão entre os entrevistados das RMs de Belo Horizonte
e de Recife (Gráfico 18).

gráfico 18

Qual é o seu nível de satisfação com a educação pública?


(em percentual)

RMS 18 13 38 28

BELO HORIZONTE 23 15 34 26

DISTRITO FEDERAL 15 18 36 28

PORTO ALEGRE 17 15 42 25

RECIFE 23 17 37 20

RIO DE JANEIRO 15 11 36 35

SÃO PAULO 18 11 41 27

Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

30
4.1.4. Transporte público

Considerando o Brasil, na área de Transporte, “insatisfeitos” e “muito insatisfeitos” somam 73%, um pouco
abaixo dos resultados em Segurança e Saúde. Os “muito satisfeitos” e “satisfeitos” correspondem aproximada-
mente a 17%, e 10% são “indiferentes”. Mais uma vez, encontramos no Distrito Federal (82%) e na RM do Rio de
Janeiro (77%) os maiores percentuais das avaliações “insatisfeito” e “muito insatisfeito”. As respostas mais po-
sitivas (“muito satisfeito” e “satisfeito”) estão entre os entrevistados das RMs de São Paulo e de Porto
Alegre, com aproximadamente 20% e 18%, respectivamente (Gráfico 19).

gráfico 19

Qual é o seu nível de satisfação com o transporte público?


(em percentual)

RMS 16 10 33 40

BELO HORIZONTE 16 12 33 38

DISTRITO FEDERAL 10 8 27 55

PORTO ALEGRE 17 11 35 37

RECIFE 15 7 37 40

RIO DE JANEIRO 13 9 31 46

SÃO PAULO 19 11 33 37

Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

31
4.1.5. Situação econômica

Ao lado da insatisfação generalizada com os serviços públicos, observa-se um otimismo, por parte
dos entrevistados, a respeito de sua situação econômica pessoal. Em relação aos últimos cinco anos,
45% avaliam que essa condição “melhorou” ou “melhorou muito”, e 32% julgam que “ficou igual”, contra
22% que optaram por “piorado” ou “piorado muito” (Gráfico 20). Da mesma forma, 66% dos pesquisados
manifestam a expectativa de que, nos próximos cinco anos, a situação “vai melhorar” ou “vai melhorar
muito”, e 19% deles acreditam que a situação econômica “vai ficar igual”, enquanto somente 11% esperam
uma realidade “pior” ou “muito pior” (Gráfico 21).

gráfico 20

Em relação aos últimos cinco anos, você acha que sua situação econômica pessoal:
(em percentual)

RMS 4 41 32 19 3

BELO HORIZONTE 3 44 33 17 3

DISTRITO FEDERAL 4 53 32 9 1

PORTO ALEGRE 7 36 39 16 1

RECIFE 4 44 29 17 4 4

RIO DE JANEIRO 6 40 33 17 4

SÃO PAULO 4 40 31 22 2

Melhorou muito Melhorou Ficou igual Piorou Piorou muito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

32
gráfico 21

Em relação aos próximos cinco anos, você acha que sua situação econômica vai:
(em percentual)

RMS 14 52 19 10 1

BELO HORIZONTE 9 56 18 11 1

DISTRITO FEDERAL 25 53 53 13 7 0

PORTO ALEGRE 11 54 22 11 1

RECIFE 8 56 15 10 3

RIO DE JANEIRO 16 50 19 9 2

SÃO PAULO 15 50 50 19 11 1

Melhorar muito Melhorar Ficar igual Piorar Piorar muito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

A pesquisa indica, portanto, que o brasileiro não apenas reconhece que sua situação econômica pessoal
melhorou, como também nutre a expectativa de que essa situação continue melhorando. Entretanto, se mos-
tra muito insatisfeito com os serviços públicos oferecidos pelo Estado.

Tal quadro perceptivo sugere que os ganhos das políticas de redistribuição de renda são entendidos
como conquistas consolidadas e, portanto, as demandas tendem, a partir de agora, a recair sobre a
qualidade dos serviços públicos. Pode-se dizer, nesse sentido, que a vida das pessoas melhorou “da por-
ta de casa para dentro”, mas não “da porta para fora”.

33
3.
4.2.
Mobilidade
como vetor
estruturante
da cidadania

4.2.1. Transporte Público: evolução


e expectativas

A despeito da insatisfação geral com a qualidade do


transporte público, observa-se uma visão mais positi-
va quanto às mudanças verificadas no setor, uma vez
que 34% dos respondentes avaliam que houve avanços
(“melhorou” e “melhorou muito”), contra 35% que jul-
gam que o serviço regrediu (“piorou” e “piorou muito”)
e 30% que acham que “ficou igual” (Gráfico 22). Esse re-
sultado se reproduz no Distrito Federal, onde, ao lado
de um alto grau de descontentamento com o serviço,
conforme verificado no Gráfico 19, observamos um
maior percentual de percepção de melhoria, totalizan-
do 39% das respostas “melhorou muito” e “melhorou”.
Tal fato sugere ações localizadas, mas de alto impacto A despeito da insatisfação
na população e que, se não atingem o serviço como um
geral com a qualidade
todo, a ponto de ocasionar maior grau de satisfação,
resultam em uma significativa percepção de mudança. do transporte público,
Já em relação à RM do Rio de Janeiro, que apresentou observa-se uma visão
77% de avaliação negativa (Gráfico 19), encontramos
mais positiva quanto às
também os maiores percentuais de percepção de de-
gradação do transporte público, com 42% de respostas
mudanças verificadas
“piorou” e “piorou muito” (Gráfico 22). no setor, (...)

34
gráfico 22

Sobre as mudanças do transporte público nos últimos anos, você avalia que:
(em percentual)

RMS 2 32 30 27 8

BELO HORIZONTE 1 31 35 25 6

DISTRITO FEDERAL 2 37 35 20 6

PORTO ALEGRE 2 32 35 27 3

RECIFE 2 30 26 32 8

RIO DE JANEIRO 2 25 30 30 12

SÃO PAULO 3 35 29 25 7

Melhorou muito Melhorou Ficou igual Piorou Piorou muito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

Quando se trata do futuro do transporte público, os que apostam na evolução positiva do setor nos próxi-
mos cinco anos chegam a 43%, contra 29% que esperam um retrocesso e 25% que consideram que a situação
ficará igual. Em acordo com os resultados apresentados no Gráfico 14, encontramos no Distrito Federal os
maiores percentuais de expectativa otimista, com 50% de respostas “vai melhorar muito” e “vai melhorar”, en-
quanto na RM de Belo Horizonte estão as projeções mais pessimistas, com um total de 32% das respostas ”vai
piorar” e “vai piorar muito”. É interessante observar que, na RM do Rio de Janeiro, verificamos o segundo maior
percentual de expectativas positivas (46%) e negativas (29%) (Gráfico 23).

35
gráfico 23

Em relação ao transporte público, nos próximos anos você acha que:


(em percentual)

RMS 3 40 25 24 5 4

BELO HORIZONTE 2 39 23 27 5 3

DISTRITO FEDERAL 4 45 29 16 15

PORTO ALEGRE 71 39 28 26 2 3

RECIFE 2 42 22 24 4 6

RIO DE JANEIRO 3 43 23 22 7 3

SÃO PAULO 3 38 25 24 6 4

Vai melhorar muito Vai melhorar Vai ficar igual Vai piorar Vai piorar muito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

4.2.2. Avaliação das condições do transporte público

Observa-se uma relação entre a percepção geral do custo-benefício do transporte público e a satisfa-
ção com o tempo de viagem despendido nos deslocamentos pendulares no Brasil. Dois terços dos entre-
vistados (67%) consideram o valor da tarifa “caro” ou “muito caro”, contra 29% que o avaliam como “adequado”
e apenas 3% que o veem como “barato” (Gráfico 24). Os mesmos dois terços se dizem insatisfeitos com o tempo
que levam até o destino (Gráfico 25). Quando se observam os resultados por região, a relação se mantém para o
Rio de Janeiro, ou seja, 78% de percepção negativa quanto ao custo-benefício e 71% de insatisfação com o tempo
de viagem. Os resultados, contudo, não se reproduzem quando se trata de Recife: 56% dos entrevistados, o me-
nor percentual regional, consideram o valor “caro” ou “muito caro”, (Gráfico 24) e 75%, o maior resultado, estão
“insatisfeitos” ou “muito insatisfeitos” com o tempo gasto em seus trajetos diários (Gráfico 25).

36
gráfico 24

Considerando as atuais condições de transporte público, você diria que o preço é:


(em percentual)

RMS 23 44 29 3

BELO HORIZONTE 22 44 30 2

DISTRITO FEDERAL 24 38 36 2

PORTO ALEGRE 21 48 25 3

RECIFE 18 38 35 7

RIO DE JANEIRO 31 47 19 1

SÃO PAULO 19 43 34 3

Muito caro Caro Adequado Barato Muito barato Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 25

Você se sente satisfeito em relação ao tempo que leva até seus destinos?
(em percentual)

RMS 32 67

BELO HORIZONTE 27 73

DISTRITO FEDERAL 29 71

PORTO ALEGRE 36 63

RECIFE 24 75

RIO DE JANEIRO 28 71

SÃO PAULO 36 37 63 62

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

37
Considerando os resultados nacionais, 56% das pessoas ouvidas acreditam que os gastos pessoais com o
transporte público, nos últimos cinco anos, pesaram “muito mais” ou “mais” na renda. Os maiores percentuais de
impacto financeiro negativo são encontrados na RM de Porto Alegre, alcançando 58% das respostas (Gráfico 26).

gráfico 26

Em relação aos últimos cinco anos, você acha que o transporte público pesa na sua renda:
(em percentual)

RMS 23 33 29 8 5

BELO HORIZONTE 22 36 32 5 5

DISTRITO FEDERAL 18 33 35 6 4

PORTO ALEGRE 21 37 33 6 1

RECIFE 20 32 33 10 2

RIO DE JANEIRO 29 32 26 8 5

SÃO PAULO 21 33 28 9 6

Muito mais Mais A mesma coisa Menos Muito menos Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

Soma-se a esse quadro negativo a predominância da sensação de insegurança nas viagens cotidianas: 72%
dos entrevistados afirmam sentir medo de sofrer alguma ação criminosa, contra 28% que negam esse senti-
mento. Tal fato aponta para a necessidade de políticas públicas integradas em relação a Transporte e
Segurança Pública. Os maiores percentuais regionais para a questão da encontram-se nas RMs de Belo Hori-
zonte (79%) e do Rio de Janeiro (76%) (Gráfico 27).

38
gráfico 27

Em relação à criminalidade, você se sente inseguro ao utilizar o transporte público?


(em percentual)

RMS 72 28

BELO HORIZONTE 79 20

DISTRITO FEDERAL 73 26

PORTO ALEGRE 63 37

RECIFE 73 26

RIO DE JANEIRO 76 23

SÃO PAULO 68 31

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

Os resultados sugerem também uma relação entre o número de conduções utilizadas nos percursos
diários e o nível de contentamento com o setor, revelando a persistência de ineficiências geradoras de
insatisfação, conforme a Tabela 2.

tabela 2

Nível de insatisfação e número de conduções utilizadas normalmente.


(em percentual)

nível de satisfação até 2 3 ou 4 5 ou mais

MUITO SATISFEITO 0,92% 0,53% 0,61%

SATISFEITO 18,65% 13,19% 11,80%

INDIFERENTE 11,83% 8,55% 8,54%

INSATISFEITO 32,99% 32,99% 29,74%


Quanto maior o número
de conduções usado,
MUITO INSATISFEITO 35,46% 44,74% 49,30%
maior o percentual de
“muito insatisfeitos”.
NÃO SABE/ NÃO RESPONDE 0,16% 0,00% 0,00%

Fonte: FGV/DAPP

39
metrÔ
rio de janeiro
Soma-se a esse quadro
negativo a predominância
da sensação de
insegurança nas viagens
cotidianas: (...)

41
3.
4.3.
sistema político
e ação coletiva

4.3.1. Gestão pública

Os problemas na gestão pública de Transporte


transparecem também na avaliação dos usuários.
Cerca de metade das pessoas ouvidas (54%) afirmou
considerar “ruim” ou “péssima” a atuação do governo
municipal da sua cidade no setor, contra aproxima-
damente 14% que a consideram “boa” ou “muito boa”
e 32% que a veem como regular (Gráfico 19). Resulta-
dos semelhantes são encontrados quando se desloca
a pergunta para a instância estadual: 54% dos en-
trevistados avaliam de forma negativa a atuação do
governo do estado, enquanto aproximadamente 14%
a consideram “muito boa” ou “boa”, e 31% acham-na
“regular” (Gráfico 28).

As piores avaliações para a gestão do governo


municipal no setor de transporte público são en-
contradas nas RMs do Rio de Janeiro e de Recife, to-
talizando 58% e 57% das respostas “ruim” e “péssima”,
respectivamente (Gráfico 29). A RM do Rio de Janeiro
também lidera os percentuais de respostas negativas (...) Cerca de metade das
em relação ao governo estadual, com 60% de rejeição.
pessoas ouvidas (54%)
Em seguida, vem a RM de São Paulo, com 52% dos en-
trevistados enxergando a gestão estadual do transpor-
afirmou considerar “ruim”
te público como “ruim” ou “péssima” (Gráfico 29). ou “péssima” a atuação do
governo municipal da sua
cidade no setor (...)

42
gráfico 28

Como você avalia a atuação do governo municipal no transporte público?


(exceto o Distrito Federal, em percentual)

RMS 13 32 20 34

BELO HORIZONTE 13 37 20 29

PORTO ALEGRE 10 36 24 28

RECIFE 12 30 24 33

RIO DE JANEIRO 10 30 17 41

SÃO PAULO 15 32 19 32

Muito boa Boa Regular Ruim Péssima Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 29

como você avalia a atuação do governo estadual no transporte público?


(em percentual)

RMS 13 31 19 34

BELO HORIZONTE 9 42 19 28

DISTRITO FEDERAL 12 34 18 33

PORTO ALEGRE 11 33 21 29

RECIFE 13 30 19 31

RIO DE JANEIRO 10 28 17 43

SÃO PAULO 16 29 20 32

Muito boa Boa Regular Ruim Péssima Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

43
O quadro perceptivo de avaliação negativa dos governos municipais, estaduais e distrital em relação ao
transporte público explica os altos percentuais de apoio a uma maior intervenção federal no setor: 84% dos
respondentes acreditam que essa atuação teria efeitos positivos sobre a qualidade do serviço prestado, com
números semelhantes nas RMs (Gráfico 30). Esses resultados indicam a existência de espaço para um
órgão formulador, organizador e regulador de políticas de mobilidade urbana nas principais regiões es-
tudadas. Entre suas funções estaria a transferência de recursos – condicionada ao cumprimento de padrões
de qualidade, eficácia e transparência.

gráfico 30

Você entende que uma atuação maior do governo federal poderia melhorar o transporte público?
(em percentual)

RMS 84 14 3

BELO HORIZONTE 84 13 3

DISTRITO FEDERAL 77 20 3

PORTO ALEGRE 85 11 4

RECIFE 88 8 4

RIO DE JANEIRO 82 16 2

SÃO PAULO 85 13 2

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

4.3.2. Crise de representação

A crise de representação é um dos temas mais frequentes de reflexão nas ciências sociais nas últimas três
décadas. Sintomas desse fenômeno são encontrados no aumento dos índices de descontentamento político dos
cidadãos com as instituições representativas, no enfraquecimento dos partidos políticos e da participação em mo-
vimentos sociais, na diminuição dos índices de participação eleitoral e na volatilidade das preferências políticas.

Predomina entre os entrevistados a opinião de que os políticos e governantes não estão preocupa-
dos em melhorar a situação do povo. A grande maioria das respostas positivas, alcançando mais de 90%, seja
quando se considera o cenário nacional ou quando se regionalizam os resultados, atesta que estamos vivencian-
do uma crise de representação (Gráfico 31). Ainda para a maior parte dos respondentes, 55% do total, os políticos
e governantes não sabem quais são os reais problemas da população. Essa percepção está mais acentuada entre
as pessoas ouvidas na RM de Belo Horizonte, com 66% das respostas (Gráfico 32).

44
Tal quadro perceptivo é reforçado pelos resultados observados no Gráfico 33: 64% dos entrevistados estão
“insatisfeitos” ou “muito insatisfeitos” com o funcionamento da democracia no Brasil. Na RM de São Paulo, en-
contram-se os maiores percentuais de insatisfação, somando 66% das respostas negativas – enquanto os me-
nores estão no Distrito Federal (55%). Em todas as regiões, a insatisfação (“muito insatisfeito” e “insatisfeito”)
com o funcionamento da democracia no Brasil ultrapassa 50% dos respondentes.

gráfico 31

Você acha que os políticos e governantes estão preocupados em melhorar a situação do povo?
(em percentual)

RMS 7 92

BELO HORIZONTE 7 90

DISTRITO FEDERAL 7 90

PORTO ALEGRE 8 90

RECIFE 7 90

RIO DE JANEIRO 7 91

SÃO PAULO 6 93

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

45
gráfico 32

Você acha que os políticos e governantes sabem quais são os reais problemas do povo?
(em percentual)

RMS 43 55

BELO HORIZONTE 33 66

DISTRITO FEDERAL 43 55

PORTO ALEGRE 44 55

RECIFE 47 50

RIO DE JANEIRO 42 56

SÃO PAULO 46 53

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 33

Em relação ao funcionamento da democracia no Brasil, você se considera:


(em percentual)

RMS 15 18 47 17

BELO HORIZONTE 11 18 47 18

DISTRITO FEDERAL 13 27 42 13

PORTO ALEGRE 15 24 48 9

RECIFE 15 19 45 13

RIO DE JANEIRO 14 18 42 22

SÃO PAULO 16 15 51 15

Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

46
Apesar de não se sentirem representados politicamente e de demostrarem insatisfação quanto ao funcio-
namento da democracia no Brasil, 54% dos entrevistados acreditam que seja possível, por meio do voto, fazer
com que os políticos melhorem a situação do transporte público, proporção que se assemelha à dos resulta-
dos regionais (Gráfico 34). Tal fato revela que, apesar das deficiências conjunturais do sistema político
brasileiro, prevalece a confiança em sua capacidade de responder a certas demandas populares.

gráfico 34

Você acha que pelo voto é possível levar políticos a lutar para melhorar o transporte público?
(em percentual)

RMS 54 43

BELO HORIZONTE 56 41

DISTRITO FEDERAL 53 43

PORTO ALEGRE 50 49

RECIFE 54 41

RIO DE JANEIRO 52 46

SÃO PAULO 57 41

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

47
4.3.3. As Jornadas de junho

Considerando o total de entrevistados, 62% apoiam as manifestações de rua (Gráfico 35), muito embora
em sua grande maioria não tenham participado dos protestos ocorridos em 2013 (Gráfico 36). Na RM de Porto
Alegre, estão os maiores percentuais regionais para a primeira questão, chegando a 73% dos respondentes,
contra apenas 45% na RM de Recife. Esses resultados, em comparação com os apresentados na seção anterior,
que aborda as percepções e avaliações sobre o sistema político, sugerem que os brasileiros reconhecem a
legitimidade desse tipo de movimento como forma alternativa de pressão e de encaminhamento de
demandas públicas aos governantes e políticos.

gráfico 35

Você apoia as manifestações de rua?


(em percentual)

RMS 62 37

BELO HORIZONTE 67 31

DISTRITO FEDERAL 62 33

PORTO ALEGRE 73 26

RECIFE 45 52

RIO DE JANEIRO 60 39

SÃO PAULO 62 36

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

A grande maioria das


pessoas ouvidas na
pesquisa não participou
das manifestações de rua
de 2013 (...)

48
A grande maioria das pessoas ouvidas na pesquisa não participou das manifestações de rua de 2013, ou
seja, 83% do total em escala nacional. Esse percentual se mostra semelhante ao dos resultados regionalizados
(Gráfico 36). Para aqueles que disseram ter participado, foram perguntadas as motivações – em uma questão
que permitia múltiplas opções. A opção mais selecionada foi “insatisfação com o transporte público”, atestan-
do o protagonismo da questão na indignação que alcançou as ruas (Gráfico 37). Considerando os resultados
nacionais, 70% dos entrevistados afirmam que esse é o motivo, e na RM de Porto Alegre encontram-se os
maiores percentuais para a opção, com 71% das respostas (Gráfico 38).

A segunda opção mais escolhida pelo total dos respondentes foi “insatisfação com a saúde pública”, alcan-
çando 61% das respostas no escopo do Brasil (Gráfico 37). Essa opção foi a mais selecionada na RM do Rio de
Janeiro, com 78% das respostas (Gráfico 39). Na RM de Belo Horizonte, foi a corrupção a principal razão para
as manifestações, opção escolhida por 80% dos pesquisados.

gráfico 36

Você participou de alguma manifestação de rua de 2013?


(em percentual)

RMS 16 83

BELO HORIZONTE 19 80

DISTRITO FEDERAL 14 84

PORTO ALEGRE 17 83

RECIFE 13 85

RIO DE JANEIRO 15 85

SÃO PAULO 17 83

Sim Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

49
gráfico 37

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(todas as regiões, em percentual)

INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 70

INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 61

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 57

INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 57

CORRUPÇÃO 54

INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 51

AUMENTO DAS PASSAGENS 50

VIOLÊNCIA POLICIAL 38

OUTROS 11
NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 38

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(RM de Porto Alegre, em percentual)

INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 71

AUMENTO DAS PASSAGENS 61

INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 52

CORRUPÇÃO 47

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 46

INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 40

INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 39

VIOLÊNCIA POLICIAL 26

OUTROS 13
NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

50
gráfico 39

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(RM do Rio de Janeiro, em percentual)

INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 78

INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 77

INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 76

CORRUPÇÃO 70

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 67

INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 67


AUMENTO DAS PASSAGENS 67

VIOLÊNCIA POLICIAL 60
OUTROS
5
NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 40

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(RM de Belo Horizonte, em percentual)

CORRUPÇÃO 80
INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 77
INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 76

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 73


INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 70
INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 69
AUMENTO DAS PASSAGENS 67
VIOLÊNCIA POLICIAL 44
OUTROS
5
NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

51
gráfico 41

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(Distrito Federal, em percentual)

INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 61

INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 60

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 53

INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 51

CORRUPÇÃO 51

INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 47

AUMENTO DAS PASSAGENS 38

VIOLÊNCIA POLICIAL 29

OUTROS 4
NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 42

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(RM de São Paulo, em percentual)

INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 67

INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 50

CORRUPÇÃO 49

INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 47

AUMENTO DAS PASSAGENS 46

INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 41

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 38

VIOLÊNCIA POLICIAL 30

OUTROS 13

NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

52
gráfico 43

O que motivou você a participar das manifestações de rua de 2013?


(RM de Recife, em percentual)

INSATISFAÇÃO COM O TRANSPORTE PÚBLICO 54

INSATISFAÇÃO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA 48

INSATISFAÇÃO COM A SAÚDE PÚBLICA 45

AUMENTO DAS PASSAGENS 41

INSATISFAÇÃO COM A SEGURANÇA PÚBLICA 40

GASTOS COM A COPA DO MUNDO 37

CORRUPÇÃO 32

OUTROS 31

VIOLÊNCIA POLICIAL 26

NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

Fonte: FGV/DAPP

Entre aqueles que participaram das manifestações, 56% ficaram sabendo do evento através das redes
sociais, como descrito no Gráfico 44.

gráfico 44

Como você ficou sabendo das manifestações?


(em percentual)

PELAS REDES SOCIAIS 56

POR AMIGOS 30

PELA TV E/OU JORNAIS 26


ESTAVA LÁ POR OUTROS MOTIVOS
9
E ACABEI PARTICIPANDO
OUTROS 6

Fonte: FGV/DAPP

53
BRT
RIO DE JANEIRO

54
Um dos aspectos mais marcantes das Jornadas de
Junho foi a radicalização dos protestos – e a conse-
quente repressão policial. Os entrevistados, consi-
derados em sua totalidade ou por sua segmenta-
ção regional, se revelam massivamente contrários
ao uso da violência por parte dos manifestantes e
não apoiam esse tipo de ação “em nenhum caso”
(Gráfico 45). Os resultados totais chegam a 93% das
respostas, e os regionais variam entre 91%, no Distrito
Federal e na RM de Recife, e 95% na RM de Porto Alegre.
Na visão de 46% do total de respondentes, a respon-
sabilidade pelo início da violência nas manifestações
cabe a “pessoas infiltradas” no movimento popular,
enquanto 32% atribuem a uma minoria de manifes-
tantes – os Black Blocs – essa radicalização. Os maiores
percentuais para a primeira resposta foram encon-
trados no Distrito Federal, perfazendo 53% dos res-
pondentes, e para a segunda na RM de Porto Alegre,
alcançando 41% dos entrevistados. (Gráfico 46). Ou
seja, em todos os casos, apenas uma pequena mi-
noria considera que a radicalização dos protestos foi
causada pelas ações da polícia e dos “manifestantes
em geral”, revelando, junto aos resultados apresenta-
dos no Gráfico 45, a tendência de se creditar o início
da violência a pessoas que não faziam parte dos mo-
vimentos populares legítimos.

55
gráfico 45

Você apoia o uso de violência por parte de manifestantes?


(em percentual)

RMS 2 93

BELO HORIZONTE 5 93

DISTRITO FEDERAL 3 91

PORTO ALEGRE 1 95

RECIFE 3 91

RIO DE JANEIRO 2 93

SÃO PAULO 1 93

Totalmente Apenas contra propriedades Apenas contra a polícia


Indiferente Não, em nenhum caso Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

(...) A maior parte das


pessoas pesquisadas,
52% do total, acredita
que a proibição do
uso de máscaras em
manifestações não irá
funcionar (...)

56
gráfico 46

Quem FOI responsável pelo início da violência nas manifestações de 2013?


(em percentual)

RMS 7 32 7 46 3

BELO HORIZONTE 6 34 7 49 2

DISTRITO FEDERAL 7 26 4 53 4

PORTO ALEGRE 4 41 5 45 2

RECIFE 10 27 8 42 7

RIO DE JANEIRO 4 34 6 48 3

SÃO PAULO 9 31 8 45 2

Os manifestantes em geral Uma minoria de manifestantes/black blocks A polícia


Pessoas infiltradas Outros Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

Apesar de a grande maioria dos entrevistados – analisados conjuntamente ou por região metropolitana –
não responsabilizar os agentes de segurança pública pelo início da violência nas manifestações (Gráfico 46),
cerca de um terço (33%) considera que esses agentes demonstraram despreparo para lidar com a situação.
Esse percentual aumenta para 41% quando se analisa a RM do Rio de Janeiro, mas perde a relevância para a
avaliação de que a polícia “fez o possível diante da situação” que enfrentou, no caso da RM de Belo Horizonte
(31%) (Gráfico 47). Em acordo com a opinião expressa no Gráfico 48, mais da metade do total de respon-
dentes defende a aprovação de uma lei mais dura para conter as manifestações, contanto que seja
apenas para os atos violentos.

Na região metropolitana de Belo Horizonte, estão os maiores percentuais de respostas para essa opção,
com 67% dos pesquisados. Já no Distrito Federal, 45% dos entrevistados se dizem contra essa lei, enquanto
40% a apoiam (Gráfico 48). A maior parte das pessoas pesquisadas, 52% do total, acredita que a proibição do
uso de máscaras em manifestações não irá funcionar (Gráfico 49).

57
gráfico 47

a respeito da reação às manifestações de 2013, você avalia que a polícia:

RMS 20 25 33 19

BELO HORIZONTE 25 31 25 16

DISTRITO FEDERAL 19 19 39 17

PORTO ALEGRE 14 32 32 17

RECIFE 25 22 25 21

RIO DE JANEIRO 14 22 41 20

SÃO PAULO 22 24 30 19

Agiu corretamente Fez o possível diante da situação Demonstrou despreparo


Agiu muito mal Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 48

Você defende a aprovação de uma lei mais dura para conter manifestações?
(em percentual)

RMS 13 55 3 27

BELO HORIZONTE 12 67 4 17

DISTRITO FEDERAL 9 40 2 45

PORTO ALEGRE 8 56 3 32

RECIFE 19 49 3 24

RIO DE JANEIRO 11 58 3 27

SÃO PAULO 16 53 4 26

Sim para todas as manifestações Sim, mas para apenas os atos violentos Indiferente
Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

58
gráfico 49

Você acha que a proposta de proibição do uso de máscaras em manifestações irá funcionar?
(em percentual)

RMS 40 5 52 3

BELO HORIZONTE 39 5 52 4

DISTRITO FEDERAL 38 9 47 5

PORTO ALEGRE 33 8 55 3

RECIFE 39 9 48 4

RIO DE JANEIRO 43 4 52 1

SÃO PAULO 40 3 53 3

Sim Em parte Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

Por fim, 88% dos usuários pesquisados dizem acreditar na emergência de novos protestos, caso a situação
do transporte público não se modifique. Nas RMs de Belo Horizonte e de Porto Alegre, esses percentuais
chegam a 92% dos entrevistados (Gráfico 50). A comparação entre o Gráfico 36 e o Gráfico 51 sugere que a
disposição de sair às ruas para encaminhar demandas e expressar descontentamento aumentou entre
os brasileiros. Enquanto apenas 16% dos entrevistados afirmam que estiveram nas manifestações de 2013,
30% dos respondentes revelam que participariam, e 6% admitem a possibilidade. Respostas proporcionais
semelhantes são encontradas nos resultados regionais (Gráfico 51).

59
gráfico 50

Você acha que haverá manifestações se a questão do transporte não se resolver?


(em percentual)

RMS 88 3 7

BELO HORIZONTE 92 3 3

DISTRITO FEDERAL 81 8 9

PORTO ALEGRE 92 5 3

RECIFE 88 3 7

RIO DE JANEIRO 88 3 8

SÃO PAULO 88 3 7

Sim Em parte Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

gráfico 51

Você participaria de novas manifestações de rua, caso estas ocorram?


(em percentual)

RMS 30 6 63

BELO HORIZONTE 34 6 59

DISTRITO FEDERAL 29 7 61

PORTO ALEGRE 30 9 60

RECIFE 24 7 67

RIO DE JANEIRO 27 5 67

SÃO PAULO 31 6 62

Sim Talvez Não Ns/Nr

Fonte: FGV/DAPP

60
transito recife
Brasil

61
05.
conclusão

Os resultados da pesquisa “Mobilidade urbana A agenda brasileira deveria, nesse sentido, assu-
e cidadania” permitem concluir que os usuários de mir novos contornos a partir de agora, consolidando
transporte público reconhecem uma melhoria na si- questões antes centrais, como o controle da inflação
tuação econômica pessoal e têm grande expectativa – prioridade nos anos 1990 – e o combate à pobreza
de que tal melhoria continue nos próximos anos, mas e às desigualdades – prioridade nos anos 2000 –, mas
demonstram alta insatisfação com a qualidade dos se concentrando progressivamente em torno da qua-
serviços públicos. Segurança é em geral, atualmente, lidade dos serviços prestados pelo Estado. Tal agen-
o setor com a pior avaliação, seguida de Saúde e de da revela-se ainda mais urgente nas grandes regiões
Transporte. Já Educação, embora ainda seja motivo metropolitanas brasileiras e no Distrito Federal, so-
de alto descontentamento, tem o menor grau de in- bre as quais recai com maior intensidade o peso das
satisfação, o que denota a identificação de melhorias ineficiências do governo.
importantes em período mais recente.
Outro aspecto que merece ser ressaltado é que,
O contraste entre a percepção da situação ao menos em parte, os problemas do transporte pú-
econômica e a insatisfação com serviços públi- blico podem ser creditados a deficiências de gestão
cos reafirma a constatação de que a vida dos bra- pública no setor, como é possível verificar pela má
sileiros, nos últimos anos, melhorou “da porta de avaliação dos governos municipais e estaduais/dis-
casa para dentro”, mas não teve a mesma evolu- trital e, ainda, pelo cruzamento entre o nível de satis-
ção “da porta para fora”. Esse cenário indica que fação e o número de conduções utilizadas (Tabela 2).
o processo de aumento da renda e de redução das Não se trata, portanto, somente de uma questão
desigualdades verificado na última década é toma- orçamentária, mas também – e principalmente –
do como consolidado pela população, e, em termos de gestão e de orquestração de políticas públicas
políticos, as ações redistributivas tendem a gerar ga- entre as três esferas federativas.
nhos eleitorais decrescentes. Consequentemente,
as demandas sociais tendem a se voltar aos serviços
públicos basilares do Estado, sobretudo Transporte,
Educação, Saúde e Segurança.

63
O elevado apoio a uma maior participação do
governo federal na área de transporte público
indica que há espaço para a criação de uma agên-
cia nacional encarregada de articular as ações
de mobilidade urbana, estabelecendo padrões de
qualidade e eficiência como condicionantes para as
transferências realizadas nos últimos anos. A criação
de um órgão desse tipo requer uma rediscussão –
mesmo que pontual – do pacto federativo brasileiro,
para reequilibrar as responsabilidades no setor.

Por fim, percebe-se uma divisão no que diz res-


peito à confiança nas instituições democráticas, so-
bretudo no voto como meio para melhorar a situa-
ção do transporte. Todavia, mais de 80% das pessoas
ouvidas na pesquisa, em todas as regiões, acreditam
na emergência de novos protestos se não houver me-
lhorias na qualidade desse serviço. Esses dois resul-
tados denotam a disposição, de parte dos usuários,
para exigir melhorias por meio das eleições. No en-
tanto, se esse canal se revelar ineficiente, a grande
maioria dos entrevistados acredita que as pessoas re-
correrão a outros meios, sobretudo protestos de rua,
para exigir mudanças mais profundas.

A pesquisa revela, em suma, o avanço da cida-


dania brasileira – refletido na crescente demanda
social por uma nova agenda de país que viabilize
o próximo ciclo histórico de desenvolvimento do
Brasil. Consolidadas as grandes conquistas da rede-
mocratização – estabilização econômica e as reduções
da pobreza e da desigualdade –, bem como a virtual
universalização de alguns serviços básicos, sobretudo
na área de educação, coloca-se para os próximos anos
o desafio do aprimoramento dos serviços públicos ba-
silares do Estado brasileiro. E, nesse sentido, questões
como a qualidade da gestão pública, o pacto federativo, a
transparência e a participação serão centrais. A socieda-
de brasileira incorporou – resta claro e evidente, a par-
tir dos resultados da presente pesquisa – as conquistas
obtidas nas últimas décadas, mas demanda agora um
novo patamar de civilidade. Essa sociedade demonstra
ainda confiança nos canais instituídos da democracia,
como o voto, mas se revela também disposta a se mo-
bilizar, caso não seja atendida nesse propósito.

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