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RESUMO ABSTRACT
As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) Indaiazinho e Indaiá The Indaiazinho and Indaiá Grande Small Power Plants were built
Grande foram implantadas no rio Indaiá Grande, perto da borda in the Indaiá Grande river, near the northwest border of the Paraná
noroeste da Bacia Sedimentar do Paraná, no estado de Mato Grosso. Sedimentary Basin, in the Ma-to Grosso state. Their foundations are
Suas fundações estão no derrame basáltico inferior da formação Serra in the lowest basaltic layer of the Serra Geral Formation, immediately
Geral, imediatamente acima do arenito Botucatu, principal compo- above the Botucatu sandstone, the main component of the Guarani
nente do Aquífero Guarani, que se estende ao Paraguai, Uruguai e Aquiferous, that reaches Paraguay, Uruguay and Argentina lands.
Argentina. As desfavoráveis características hidrogeomecânicas deste The unfavorable hydrogeomechanical characteristics of this contact
contato exigiram forte interação entre Geologia e Engenharia para demanded a strong interaction of Geology and Engineering to define
definir a posição espacial das casas de força, cuja escavação mais the power house’s spatial location, which deepest excavation could
profunda poderia criar risco de prazo e custo de construção. Este be a risk to the construction schedule and cost. This geological
condicionamento geológico prevaleceu na concepção final das conditioning prevailed on the overall conception of the plants,
usinas, inclusive em seus equipamentos de geração. including the generation equipments.
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 41
GEOLOGIA DE ENGENHARIA :: PCHs INDAIAZINHO E INDAIÁ GRANDE: UM CASO DE INTERAÇÃO GEOLOGIA - ENGENHARIA NA CONCEPÇÃO DAS OBRAS
A
s Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) Indaiazinho
e Indaiá Grande pertencem à Omega Energia Renovável
2.1 RESUMO DOS ESTUDOS E PROJETOS
e possuem potência instalada de 12,5 e 20,0 MW, res-
pectivamente. Elas foram implantadas no rio Indaiá Grande,
O trecho do rio Indaiá Grande onde estão implantadas as PCHs
no município de Cassilândia, no Mato Grosso do Sul, 70 km
foi primeiramente estudado em 2000, quando a Empresa Energética
a oeste de sua sede, distando 10 km uma da outra (Figura 1).
do Mato Grosso do Sul (Enersul) emitiu os estudos de inventário
hidrelétrico do rio Sucuriú, identificando cinco aproveitamentos
no rio Indaiá Grande, seu afluente esquerdo. A primeira versão
do projeto básico foi apresentada à Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) em 2004.
Após algumas trocas de concessões entre 2005 e 2008,
foram elaborados e apresentados ao órgão os correspondentes
projetos básicos consolidados. Seguiu-se a contratação dos
projetos executivos e das obras, que consumiram 20 meses até
o início da operação comercial, em setembro de 2012.
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– onde houve problemas impostos
pelo nível piezométrico do arenito −
permitiu trazer à escala local os dados
regionais do mesmo mapa.
As cotas piezométricas foram
confrontadas com as do terreno natural:
460 a 430 m na PCH Indaiazinho e
430 a 400 m na PCH Indaiá Grande.
Confirmou-se o risco de as escavações
das casas de força − mais profundas
e originalmente previstas nas Els.
425 e 393 m − atingirem o topo do
arenito, podendo comprometer o
ritmo e o custo das obras. Era preciso
que as fundações resultassem acima
do contato arenito-basalto para que
a espessura preservada deste último
compensasse, sem controle artificial, a
subpressão do artesianismo. Impunha-
FIGURA 3 - PCH Indaiá Grande: evolução do arranjo geral se detalhar a posição e as características da faixa de contato. Ao final das
à direita − e sempre num mesmo enquadramento topográfico. Sua numerosas sondagens rotativas, o cenário geológico ficou caracterizado
parte superior evidencia que os eixos de barramento não sofreram conforme a Figura 4 e o texto que a segue.
mudança muito expressiva e a inferior destaca que as estruturas de
concreto tiveram sua posição significativamente modificada. A razão
disso está nas casas de força, pois elas foram as primeiras estruturas a
ter sua posição redefinida para onde o topo do arenito Botucatu fosse
mais profundo. Daí decorreu a posição dos vertedouros − ditada
também por aspectos hidráulicos – e das barragens de terra, que
respeitaram uma distância segura da cabeceira da cachoeira presente
nas duas PCHs.
3. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS
DO MACIÇO ROCHOSO
FIGURA 4 - Seção geológica pelo circuito hidráulico de geração das PCHs
3.1 RESUMO DAS INVESTIGAÇÕES REALIZADAS
3.2 BASALTO
Como as usinas estão junto à borda noroeste da Bacia Sedimentar
do Paraná, o primeiro passo no desenvolvimento dos projetos básicos O mesmo derrame basáltico está presente nas duas obras, mas
consolidados foi analisar detidamente o mapa hidrogeológico do somente a sua porção densa cinza-escura, de textura fina, livre das
Aquífero Guarani [1]. Ele contém, à escala 1:2.500.000, um detalhado típicas juntas-falhas, geralmente situadas sob o pacote vesicular-
estudo desta unidade geológica, com valiosos dados sobre a posição do amigdalóide superior. A espessura que remanesceu da erosão e do
topo do arenito Botucatu e de suas linhas isopiezométricas, com curvas intemperismo varia de 35 a 40 m, conforme o relevo natural, por
de nível a cada 400 e 100 m, respectivamente – as que o mapa permite. cima, e o topo do arenito Botucatu, por baixo. A faixa superficial do
Essa primeira atividade evidenciou que ambas as PCHs se situam maciço, com até 4,5 m de espessura, é relaxada, semidecomposta,
numa região em que o topo do arenito está ao redor da El. 400 m, muito fraturada e certamente muito permeável, pois os ensaios de
com cota piezométrica abaixo da El. 450 m e no limite provável de seu perda d’água foram frequentemente impedidos justamente pelo
artesianismo surgente. A análise de outras obras implantadas na área intenso fraturamento. Essa faixa relaxada ainda abriga o lençol
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torno da El. 360 m sob o leito do rio, segundo uma sondagem a 4.3 BARRAGENS DE TERRA
montante da cachoeira. Como a base dela está ao redor da El. 400
m, esta diferença de 40 m indica ausência de relação com o arenito. Como já comentado, as alterações do eixo das barragens de terra
em ambas as margens dos dois aproveitamentos decorreram de
Na região da casa de força, o topo do arenito vai ganhando cotas
simples geometria, buscando alcançar os pontos topograficamente
progressivamente mais altas, alcançando a El. 410 m no trecho mais elevados a partir dos componentes em concreto.
final da barragem de terra à direita. Ele desenha em planta uma
superfície convexa bastante evidente. Sua geratriz, por assim dizer,
mostra uma inclinação de 8° com a horizontal para leste, coerente 5. IMPLICAÇÕES NOS PROJETOS
com o que se dá em escala regional da bacia sedimentar como um MECÂNICOS
todo, mas não necessariamente o reflexo local disso.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CAMPOS, H. (2000) – “Mapa Hidrogeológico do Aquífero Guarani”,
publica-do pelo Convênio CNPq − Universidade do Vale dos Sinos (Centro de
Ciências Exatas e Tecnológicas).
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