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Responsabilidade Civil

De acordo com Costa( 2009. Pag.517) estabelece que A responsabilidade civil constitui
uma figura jurídica com manifesta relevância prática e teoria. Ocorre quando uma
pessoa deve reparar um dano sofrido por outra. A lei faz surgir uma obrigação em que o
responsável é devedor e o lesado credor. Trata-se, portanto, de uma obrigação que nasce
directamente da lei e não da vontade das partes, ainda que o responsável tenha querido
causar o prejuízo. Averiguaremos, adiante, em que medida a matéria pode ser
disciplinada convencionalmente.

Responsabilidade civil e as figuras afins (responsabilidade moral, penal ou


criminal)

a) Responsabilidade civil da responsabilidade moral

A responsabilidade civil distingue-se bem da simples responsabilidade moral, que


pertence ao domínio da consciência, a responsabilidade moral como uma
responsabilidade não jurídica, a destrinça reporta-nos às relações entre o direito e a
moral. Não parece exacto, no entanto, dizer que a responsabilidade moral, considerada
em si mesma, se apresenta juridicamente irrelevante: recordemos que constitui fonte de
obrigações naturais.

b) Responsabilidade civil da responsabilidade penal ou criminal

A responsabilidade civil autonomiza-se da responsabilidade penal ou criminal, tendo e


consideração de que a responsabilidade civil, pertence à esfera do direito civil, que é do
direito privado, ao passo que a segunda se reconduz ao direito penal, ramo do direito
público. Entre o ilícito civil e o ilícito criminal há diferenças substanciais e também
diferenças de pura índole formal, atendendo à natureza das sanções que a um e a outro
correspondem.

Está subjacente à responsabilidade civil a ideia de reparação patrimonial de um dano


privado, pois o devedor jurídico infringido foi estabelecido directamente no interesse da
pessoa lesada. O que verdadeiramente importa nas sanções civis é a restituição dos
interesses lesados. Daí que sejam privadas e disponíveis.

Diversos são os caracteres da responsabilidade penal. Esta aparece como uma defesa
contra os autores dos facto que atinge a ordem social. No ilícito penal, portanto ofendem
se o dever jurídico estabelecido imediatamente no interesse da colectividade. As
sancoes criminais visam defender a sociedade: propõem-se fins de prevenção geral e
especial, através da intimidação e da educação do delinquente (penas e medida de
seguranças) e fins éticos-retributivos, através da expiação pelo delinquente da sua culpa
(penas). Compreende-se, assim, que as sanções criminais tenham carácter publico e
indisponível.1

A destrinça entre responsabilidade civil vs do enriquecimento sem causa

Ambos os institutos envolvem uma indemnizacao ou restituicao. Mas o primeiro derige-


se apenas a eliminar o dano ou prejuízo do lesado, enquanto o segundo intenta suprimir
um locupletamento injusto de alguém à custa alheia, embora releve a situacao do que
suporta. Distinguem-nos, pois, a funcao típica e a perspectiva de cada um deles, o
enriquecimento sem causa, por definicao, presupoe um acréscimo de património da
pessoa obrigada a restituir que pode não se verificar no caso de responsabilidade civil.

Lembre-se alem disso, que a obrigacao de restituicao tem como limite o


locupletamento2 do enriquecimento, pelo que pode não ser coberta toda diminuicao
patrimonial do empobrecido. Ora, a responsabilidade civil, impera a regra de
indemnizacao integral.3

Noutros termos: o enriquecimento sem causa, refere-se as vantagens resultantes de uma


simples deslocacao patrimonial injustificada em face do direito, ao passo que a
responsabilidade civil visa os prejuízos derivados de um acto ilícito ou equivalente
(responsabilidade pelo risco ou por certas intervencoes licitas danosas).

Responsabilidade Civil Contratual


Responsabilidade civil contratual é uma consequência do inadimplemento 4 de uma
obrigação pelo devedor, não estando a favor do credor, ou ainda de um cumprimento
inadequado onde existe algum defeito, em uma obrigação. É que na contratual a

1
Sobre esta distinção entre o ilícito civil e o ilícito criminal consultamos no manual de EDUARDO
CORREIA, Direito Criminal .
2
É um acréscimo de bens que se verifica no património de um sujeito, em detrimento de outrem, sem
que para isso tenham um fundamento jurídico
3
Melhor de salientar que só muito excepcionalmente a indemnização pode ser fixada em quantitativo
inferior aos danos, como sucede no âmbito do artigo 494 c.c.
4
É o discumprimento da obrigacao assumida voluntaria ou involuntária, do estrito dever juridico criado
entre os que se compremeteram a dar, a fazer ou a se omitir de fazer algo ou o seu cumprimento parcial
de forma incompleta ou mal feita.
responsabilidade civil decorre de um descomprimindo de obrigação estabelecida
contratualmente com um agente capaz, que é um objecto lícito, possível, determinando,
ou indeterminado, em que um dos contraentes causa um dano ao outro, dano este
originário do incumprimento de uma obrigação previamente estabelecida no contrato. A
responsabilidade contratual se origina da inexecução contratual. Pode ser de um negócio
jurídico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja de falta de
adimplimento ou de mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma infracção a
um dever especial estabelecido pela vontade dos contratantes, por isso decorre da
relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar. A
responsabilidade contratual é o resultado da violação de uma obrigação anterior, logo,
para que exista é imprescindível a preexistência de uma obrigação.

Responsabilidade Civil Extra-Contratual ou Extra-Obrigacional


Esta decorre de uma lesão ao direito de alguém, sem que haja qualquer liame
obrigacional anterior entre o agente causador do prejuízo e a vítima.. Aqui ha pratica de
um acto ilícito, que causa prejuízo a outrem mediante acção ou omissão, sem que exista
entre o ofensor e a vítima qualquer relação anterior. A responsabilidade extracontratual,
também chamada de aquiliana, se resulta do inadimplemento normativo, ou seja, da
pratica de um acto ilícito por pessoa capaz ou incapaz, da violação de um dever fundado
em algum principio geral de direito, visto que há vinculo anterior entre as partes, por
não estarem ligadas por uma relação obrigacional. A fonte desta inobservância é a lei. É
a lesão a um direito sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação
jurídica. Aqui, ao da contratual, caberá a vítima provar a culpa do agente, esta é uma das
diferenças entre ambos.

Problema de concurso de responsabilidade contratual e da extra-contratual


Pode acontecer que o dano se mostre em consequência de um facto que
simultaneamente vigore uma relação de crédito e um dos chamados direitos absolutos,
como o direito a vida ou a integridade física. Melhor dizendo, que exista uma situação
susceptível de preencher os requisitos de aplicação dos regimes da responsabilidade
contratual e extra-contratual. Tem sido muito discutido o problema da equação, em tais
casos, do concurso de ambas as espécies de ilícito civil. As diversas orientações
dividem-se em dois grupos: os dominados (sistemas cumulo e sistema de não cumulo)
dentro do primeiro cabem 3 perspectivas: a de o lesado se socorrer, numa única acção,
das normas da responsabilidade contratual e extracontratual, amparando-se nas que
entenda mais favoráveis; a de concederes-lhe opção entre os procedimentos fundados
apenas numa ou noutra dessas responsabilidades; e de admitir em acções autónomas ao
lado da responsabilidade contratual, a responsabilidade extracontratual. Pelo contrario o
sistema que exclui o cumulo consiste na aplicação do regime da responsabilidade
contratual em virtude de um principio de consunção.5

Responsabilidade civil e esquemas de segurança social

Já houve a oportunidade de destinguir a responsabilidade civil extracontractual de


esquemas de segurança social, se dirigem a reparacao de danos. Todavia, enquanto na
responsabilidade civil tem subjacente a ideia de equilibri entre a liberdade de cada um e
o respeito devido aos direitos alheios, a segurança social consiste num mecanismo de
protecao dos indivíduos mediante a reparticao colectiva dos riscos ou encargos de
reparacao dos danos. Existe na responsabilidade civil um problema de justiça
individual, de ponderacao de interesses do autor do facto danoso e da vitima, ao passo
que a segurança social se baseia em considerações de justiça colectiva.

Os factos ilícitos intencionais e ilícitos meramente culposos

Os factos ilícitos classificam-se em intencionais e meramente culposos: os primeiros são


praticados com o intuito directo ou indirecto de causar dano ( dolo); ao passo que, nos
de mera culpa, há apenas imprudência ou negligencia do seu autor (culpa em sentido
restrito). Os factos factos ilícitos intencionais dizem-se delitos e os factos ilícitos
culposos quase delitos.

Responsabilidade por factos ilícitos

O principio geral da matéria encontra-se consagrado no artigo 483 do odigo Civil «


Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposicao legal destinada a proteger interesses alheios foica obrigado a indemnizar o
lezado pelos danos resultantes da violacao» (n.o 1). Acrescentando-se que só existe
obrigacao de indemnizar independentemente de culpa no casos específicos na lei (n.o2).

5
Este principio e o principio segundo o qual um facto mais amplo e mais grave consome, isto e, absorve,
outros factos menos amplos e graves, que funcionam como fase normal de preparacaoou execucao ou
com um mero exaurimento. Custuma se dizer:”o peixão (facto mais abragete) engole os peixinhos
(factos que integram aquele como sua parte isso e de FERNANDA CAPEZ.
Os Pressupostos da Responsabilidade civil por factos ilícitos

Da responsabilidade civil por factos ilicitos depende de vários pressupostos. São os


seguintes:

 A existência de um facto voluntario do agente e não de um mero facto natural


causador de danos;
 A ilicitude desse facto;
 Que se verifique um nexo de imputacao de facto ao lesante;
 Que da violacao do direito subjectivo ou da lei derive um dão, pois sem isso não
se põe qualquer problema de responsabilidade civil e também que haja um nexo
de casualidade entre o facto praticado pelo agente e dano sofrido pela vitima de
modo a poder concluir-se que esse resulta daquele.

Elementos constitutivos da responsabilidade extracontratual

 O facto;
 A ilicitude;
 A impugnacao do facto ao lesante, o dano e nexo de causalidade
entre o facto e o dano.
a) Facto: Accoes e Omissoes

Na raiz da responsabilidade por factos ilícitos esta necessariamente uma conduta da


pessoa obrigada a indemnizar. Dizendo de outro modo, um facto voluntario.

Tal qualificacao da conduta do agente tem o único sentido de excluir os factos naturais
produtores de danos, ou seja, os que não dependem da vontade humana e se apresentam
por ela objectivamente incontroláveis, como sucede quando os danos procedem de
causa de forca maior ou de circunstancias fortuitas invencives(um ciclone, inundacoes,
uma faísca). Portanto em contrapartida não se exige que se trate de factos humanos,
intencionais, quer dizer, de comportamentos cujo o resultados se hajam de antemão
desejados ou considerados possíveis. Assim como não se mostra necessário que o
agente possuía capacidade de exercício de direitos em certos termos, se admita ate a
responsabilizacao de pessoas sem capacidade natural de entendimento ou de
vontade(arts.448 e 449 CC)
Via de regra, a conduta do agente constitui um facto positivo ou accao, que viola um
dever jurídico de não intromissão na esfera de outra pessoa, titular do correspondente
direito absoluto (Ex: injuria, ofensa corporais, apropriacao ou danificacao de uma coisa
alheia). Mas também um facto negativo ou omissão pode ocasionar danos.

Na responsabilidade contratual e mesmo uma conduta negativa do devedor-a não


realizacao da prestacao que as mais das vezes fundamenta a obrigacao de indemnizacao.
Quanto ao ilícito civil extracontractual, todavia, o problema de responsabilidade por
omissões ou abstensoes tem maiores melindres.

A nossa lei toma posicao no artigo 486 CC. Nele se declara que as simples omissões
dão lugar à obrigacao de reparar os danos, quando, independentimente dos outros
requisitos legais, havia, por forca da lei ou de negocio jurídico, o dever de praticar o
acto comitido.

b) Ilicitude

O facto voluntario que lesa intersses alheios so obriga a reparacao havendo ilicitude;
que consite na infraccao de um dever jurídico. Mas conduzirá a esse resultado a
violacao de todo e qualquer dever jurídico?

Apuremos portanto, antes de mais, os termos em que a lei concretiza o referido modo de
intijuricidade ou contrariedade ao direito. Antecipa-se que alem de se estabelecer linhas
genéricas, são conteplados casos especiais de ilicitude. Todavia pode verificar-se a
inexistência de ilicitude não obstnte a pratica de um facto que normalmente a
envolveria. Entra-se então no domínio das causas de exclusão da ilicitude ou das causas
justificadas do facto danoso.

 Formas de ilicitude

O art 436 no 1 do cc. Fixa o principio geral da matéria. Ai se indicam as duas formas
essenciais de ilicitude:

a) Violacao de um direito de outrem;


b) Violacao de preceito de lei pretendente à protecao de interesses alheios.
 Violação de um direito de outrem ou subjectivos

Incluem-se tipicamente as ofensas de direitos absolutos, de que constituem exemplos os


direitos reais (arts 1251 e seguintes) e os direitos de personalidade ( arts 70 e seguintes).
6
Quanto aos direitos familiares pessoais, cujo os traços peculiares indicamos na outra
altura, tem sido doutrina maioritária que a sua infraccao não origina um dever de
indemnizar, que , numa palavra, não se lhes aplica os princípios comuns da
responsabilidade civil.

 Violação de preceito de lei pretendente à protecção de interesses


alheios

Tem se agora em conta a ofensa de deves impostos por lei que visem a defesa de
intersses particulares, sem que confira corespectivamente, quaisquer direitos
subjectivos. Ex: a infraccao de uma lei que imponha determinada providencias
sanitárias ou proíba o estacionamento de veículos em certos locais, ou a infraccao de
uma lei aduaneira destinada a proteger a industria do pais.

Exclusao da ilicitude : causas justificativas do facto danoso

Trata-se como se referiu, daquelas circunstncias que, por tirarem ao facto que ocasionou
o dano a sua ilicitude, excluem a responsabilidade civil. o próprio no 1 do art 483 cc,
pressupõe a possibilidade de violacao licita de direitos de outrem ou de normas dirigidas
a proteger interesses alheios, o que corresponde à intervensao de uma causa
justificativa. Existem certas causas especiais justificativas do facto que se consagram a
propósito do exercício e tutela dos direitos (arts 334 e segs); acção directa, legitima
defesa, estado de necessidade e o consentimento do lesado.

a) Acção directa

Consiste a acção directa no rescurso a forca com fim de realizar ou assegurar o próprio
direito. Encontra-se regulada no art 336 do cc. O numero 2 deste preceito indica a titulo
exemplificativo que “ a accao directa pode consistir na apropriacao distruicao ou

6
Em relação a estes, afasta quaisquer duvidas no n o 2 do artg 70 cc estabele que “independentimente
da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa ameaçada ou ofendida pode requerer as
providencias adequadas as circunstancias do caso, com o fim de evitar a consumacao de ameca ou
atenuar os efeitos da ofensa já cometida.”
detorioracao de uma coisa, na eliminacao de restencia irregularmente oposta ao serviço
do direito, ou noutro acto análogo.7

b) Legitima defesa

De um modo geral pode definir-se a legitima defesa como sendo a realizada pelo
próprio titular de um direito, ou por terceiro contra uma agressão actual e ilícita a esse
direito, quando não for possível em tempo útil o recurso a autoridade publica (art 337 no
1)8

c) Estado de necessidade

Determina-se o art. 339. No 1 cc, que “é lícito a acção daquele que destruir ou danificar
coisa alheia com fim de remover o perigo actual de um dano manifestamente superior,
quer do agente, quer do terceiro”. Nisto consiste o chamado estado de necessidade.
Atendendo a letra da lei e aos correspondentes trabalhos preparatórios, parece que o
referido preceito apenas admite o sacrifico de coisas ou direitos patrimoniais alheios,
inclusive através do acto menos prejudicial do seu simples uso.9

d) Consentimento do lesado

Considera-se também causa justificativa o consentimento do ofendido. Nos termos do


art. 340., nos , o acto lesivo dos direitos de outrem é licito, deste que o ofendido consista
na lesão; mas o consentimento do lesado não exclui a ilicitude do acto, quando este se
mostre contrario a uma proibição legal ou aos bons costumes.

Facilmente se justifica a primeira das normas referidas. Na verdade, o direito protege a


esfera jurídica dos particulares através da ilicitude, que resulta da interferência em bens
ou interesses alheios. Todavia, se há autorizacao do respectivo titular, essa lesão torna-
se licita. Desaparece, portanto, o motivo da indemnizacao ou reparacao em que se
traduz a responsabilidade civil.

7
Em matéria de exercício de direitos como sabemos o principio fundamental consiste na proibição de
autodefesa. Estabelece o art 1o do CPC. Que “a ninguém e licito o recurso a forca com o fim de realizar
ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei”.

8
O acto considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de legitima defesa, se o excesso for
devido a perturbação ou medo não culposo ao agente
9
No sentido de que a enumeracao do numero 1 do art 339. É taxativa (destruicao ou danificacao de
coisa alheio), embora considere-se implícito o simples uso.
Imputação do facto ao agente
Não basta que haja uma violação ilícita de um direito ou interesse juridicamente
protegido de outrem. Impõe-se ainda, que se tenha procedido com dolo ou mera culpa,
lembremos que isto mesmo patenteia o artigo 483.º que já mencionamos no presente
trabalho, no seu no 1, para logo acrescentar no n o 2, que só existe responsabilidade
independente de culpa quando a lei o especifique.

Diz-se imputável a pessoa com capacidade natural para prever os efeitos e medir o valor
dos actos que pratica para determinar de harmonia com juízo que faca acerca deles.
Artigo 488˚ cc, “não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento
em que o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou
querer, salvo se o agente se colocou culposamente nesse estado, sendo transitório.”

Caracteriza-se a imputação do facto ao agente:


 Pela capacidade de entendimento mínimo que permite ao sujeito prever
as consequências dos actos.
 E pela mínima liberdade, que permita determinar-se.

É imputável o sujeito que tem o mínimo de inteligência para perceber o alcance do acto
que pratica e que tem liberdade e determinação, isto é, que é livre de decidir ou não, de
praticar o acto, isto que se chama de imputabilidade.

Pode dizer-se que para haver responsabilidade da pessoa imputável é necessária a


verificação dos seguintes requisitos:

 Que haja um facto ilícito;


 Que esse facto tenha causado danos a alguém;
 Que o facto tenha sido praticado em condições de ser considerado culposo,
reprovável, se nas mesmas condições tivesse sido praticado por pessoa
imputável;
 Que haja entre o facto e o dano o necessário nexo de causalidade;
 Que a reparação do dano não possa ser obtida dos vigilantes do inimputável;
 Que a equidade justifique a responsabilidade total ou parcial do autor, em face
das circunstancias concretas do caso.
Dano

Requisito da existência da responsabilidade civil, conforme se observou, e a verificação


de um dano ou prejuízo a ressarcir. Apenas em função do dano o instituto realiza a sua
finalidade essencialmente reparadora ou reintegraria. Mesmo quando lhe caiba algum
papel repressivo e preventivo, sempre que se encontra submetido, como regra, aos
limites da eliminação dos danos.

Portanto, o facto ilícito culposo só determina a responsabilidade desde que cause um


dano ao terceiro. Também este elemento se acha referido no n o 1 do art. 483 CC, que
proclama o responsável “ obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação”.

Noção e Espécies de Danos

Para haver obrigação de indemnizar, é condição essencial que haja dano, que o facto
ilícito culposo tenha causado um prejuízo a alguém.

O dano é, o prejuízo que um sujeito jurídico sofre. Ou na sua pessoa, ou nos seus bens,
ou na sua pessoa e nos seus bens.

Classificação de danos

 Danos pessoais: aqueles que se repercutem nos direitos da pessoa;


 Danos matérias: aqueles que respeitam a coisa;
 Danos patrimoniais: são aqueles danos materiais ou pessoais que
consubstanciam a lesão de interesses avaliáveis em dinheiro, dentro deste à que
distinguir:

Danos emergentes: é a diminuição verificada no património de alguém em


consequência de um acto ilícito e culposo de outrem, ou de um acto ilícito e culposo
mas constitutivo de responsabilidade civil para outrem;

Lucros cessantes: quando em consequência do acto gerador de responsabilidade civil,


deixa de auferir qualquer coisa que normalmente teria obtido se não fosse o acto que
constitui o agente em responsabilidade.
Danos patrimoniais ou morais: são os danos que se traduzem na lesão de direitos ou
interesses insusceptíveis de avaliação pecuniária. O princípio da reversibilidade dos
danos não patrimoniais é limitado à responsabilidade civil extra-contratual. E não deve
ser ampliado à responsabilidade contratual, por não haver analogia entre os dois tipos de
situações.

Dano é presente ou futuro, consoante já se verificou ou ainda não se verificou no


momento da apreciação pelo tribunal do direito à indemnização; isto é, futuros, são
todos os danos que ainda não ocorreram no momento em que o tribunal aprecia o
pedido indemnizatório ,mas cuja ocorrência é previsível e provável.

Dano real: é o prejuízo efectivamente verificado; é o dano avaliado em si mesmo;

Dano de cálculo: é a transposição pecuniária deste dano, é a avaliação deste dano em


dinheiro.

Ressarcibilidade dos Danos não Patrimoniais

Entende-se que os danos não patrimoniais embora insusceptíveis de uma verdadeira e


própria reparação ou indemnização, invariáveis pecuniariamente, podem ser em todo
caso de algum modo compensado e mais vale proporcionar a vitima essa satisfação do
que deixa-la sem qualquer amparo, o CC admite a indemnização dos “danos não
patrimoniais que, pela sua gravidade mereçam a tutela dos direitos” (art.496 n1 ).
Observa-se que a lei não os enumera, antes confia ao tribunal o encargo de apreciar, no
quadro das várias situações concretas socorrendo-se dos vários factores objectivos, se o
dano não patrimonial se mostra digno de protecção jurídica, serão irrelevantes,
designadamente os pequenos incómodos ou contrariedades assim como sofrimentos ou
desgostos que resultem de uma sensibilidade anómala.

No domínio da legislação anterior já se aceitava a reversibilidade dos danos não


patrimoniais. Discutia-se porem, se o princípio abrangia toda a área da responsabilidade
civil ou apenas certos aspectos, veio o actual código civil consagrar esta doutrina no
sentido amplo, mas não foi inteiramente feliz na formação e localização da sua
disciplina, visto que deixa margem para dúvidas.

As circunstancias de se incluir o principio na sequencia de um conjunto de preceitos


relativos a indemnização por lesão corporal sobretudo quando ocasiona a morte da
vitima (art.495), e de se contemplar o calculo da indemnização a respeito dessa hipótese
expressa (art. 496 n2 e 3), não constitui obstáculos a que se reconheça genericamente
admitida a reversibilidade dos danos não patrimoniais. Estes devem atender-se em
quaisquer outros casos, sempre que, dada a sua gravidade e relevância jurídica, caiba
qualifica-los como indemnizáveis.

Culpa

A culpa (art. 487) exprime um juízo de reprovabilidade pessoal da conduta do agente: o


lesante, em face das circunstâncias específicas do caso, devia e podia ter agido de outro
modo. É um juízo que assenta no nexo existente entre o facto e a vontade do autor, e
pode revestir duas formas distintas: o dolo e a negligência ou mera culpa.

 Há dolo, quando o agente actuou de forma a aceitar, a admitir, as consequências


ilícitas da sua conduta. Diz-se dolosa a conduta quando o agente, não tendo
previsto as consequências danosas e ilícitas que do seu acto iriam resultar, não
fez nada para as afastar, porque as admitiu.
 Há mera culpa, quando o agente actuou levianamente, imponderadamente,
negligentemente, sem cuidado ou sem atenção, quando o agente, numa palavra,
não empregou a diligência que o bom pai de família, colocado naquela situação,
teria empregado.
Modalidade de culpa
A distinção entre dolo e a negligência, como modalidade de culpa, aparece logo
referida na disposição que constitui a trave-mestra de toda a construção
legislativa da responsabilidade civil (art. 483 no 1 cc). O dolo aparece como
modalidade mais grave da culpa, aquela em que a conduta do agente, pela mais
estreita identificação estabelecida entre a vontade deste e o facto, se torna mais
fortemente censurável.

As modalidades de dolo são:

Dolo direito: quando o agente actuou para obter a consequência ilícita danosa e a
obteve; o agente actuou intencionalmente para o resultado ilícito.
Dolo necessário: quando o agente não tinha como objectivo do seu comportamento o
resultado ilícito, mas sabia que o seu comportamento ia ter como resultado necessário,
inevitável, o ilícito;

Dolo eventual: quando o agente prefigura a consequência ilícita e danosa como uma
consequência possível do seu comportamento e não faz nada para evitar.

Além do nexo, entre o facto ilícito e a vontade do lesante, nexo que constitui o elemento
volitivo ou emocional do dolo, este compreende ainda um outro elemento, de natureza
intelectual. Para que haja dolo essencial o conhecimento das circunstancias de facto que
integram a violação do direito ou da norma tuteladora de interesses alheios e a
consciência da ilicitude do facto.

Mera culpa ou negligencia

Consiste na omissão da diligência exigível do agente.

Há culpa consciente, quando o agente representou a possibilidade da consequência


ilícita danosa e só actuou porque se convenceu de infundada que conseguiria evitar a
produção dessa consequência.

Há culpa consciente, o agente não previu o resultado, não pensou nisso e ele correu.

A mera culpa (consciente ou inconsciente ) exprime, uma ligação da pessoa com o facto
menos incisiva do que o dolo, mas ainda assim reprovável ou censurável. O grau de
reprovação ou de censura será tanto maior quanto mais ampla for a possibilidade de a
pessoa ter agido de outro modo, e mais forte ou intenso o dever de o ter feito.

Causas da escusa, causas da exclusão da culpabilidade

Há circunstancias que em concreto afastam a culpa do agente, isto e, fazem com que o
agente não seja objecto do juízo de culpabilidade quando seria normalmente se essas
circunstancias não tivessem ocorrido.

A nossa lei faz referência as duas causas de escusa, de uma forma técnica nos
arts.337˚no 2 e 338˚ código civil. Faz-se referência a uma causa de exclusão de
culpabilidade que e o medo, desde que revista certas características:
Essencial: tenha sido ela a causa determinante do comportamento do agente, ou dito de
outro modo, o agente só tenta actuado por causa do medo;

Desculpável: isto e, seja um medo, uma situação psicológica de intimidação, em que o


bom pai de família também teria incorrido se estivesses naquela situação.

Prova da culpa, presunção da culpa

Incumbe ao lesado a prova de culpa do autor da lesão, excepto se houver presunção


legal da culpabilidade (art.487 no 1 CC) efectivamente, a lei consagra presunções de
culpa do responsável, que implicam uma inversão do ónus da prova em contrario ao
(art.350 no 2 CC). Não se trata, consequentemente de casos de responsabilidade
objectiva. As duas situações distinguem-se com perfeita nitidez.

Consideramos em seguida, essas presunções de culpa.

 Um primeiro exemplo verifica-se quanto aos danos causados por


incapazes, presumindo-se a existência de culpa da parte das pessoas que,
em virtude da lei ou do negocio jurídico estavam obrigadas a sua
vigilância. Estas respondem, portanto, “salvo se mostrarem que
cumpriram seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzidos
ainda que o tivessem cumprido” art.491 código civil.
Obviamente inclui-se a menoridade no quadro da “incapacidade natural” a que
alude o preceito referido.
 Doutrina idêntica se consagra, para o proprietário ou possuidor, a
respeito dos danos derivados de edifícios ou outras obras que ruírem, no
todo ou em parte, como consequências de vício de construção ou defeito
de conservação. Mais uma vez, somente deixara de haver
responsabilidade põe esses danos, se o proprietário ou possuidor provar
uma de duas coisas: que não existiu culpa sua; “ou que, mesmo com a
diligencia devida, se não teriam evitado os danos” art.492 n1 código
civil.
Solução que se repete, quanto ao estrito aspecto da conservação, para as pessoas
a esta obrigadas, legal ou convencionalmente.
Tais pessoas respondem “em lugar do proprietário ou possuidor” art.492 n2.
 Outra hipótese refere-se a danos causados por coisas ou animais.
Também existe presunção de culpa em relação a responsabilidade de
quem detenha a coisa móvel ou imóvel com dever de vigila, ou haja
assumido o encargo de vigilância de quaisquer animais, pelos danos
causados por essas coisas ou esses animais. Pense-se nos casos do
depositário, mandatário, tratador, pessoa interessada na aquisição do
animal. De novo afasta a responsabilidade através da prova da falta de
culpa ou de que os danos se teriam igualmente verificado (art. 493 no 1).
Cumpre salientar que a lei prevê, no referido preceito os danos produzidos pelas
coisas ou pelos animais, então vigora o regime geral da responsabilidade civil.
A estatuição alarga-se aos danos decorrentes do exercício de uma actividade
perigosa “por sua própria natureza ou pela natureza dos meios utilizados”.

Nexo de casualidade entre o facto e o dano


Alem do facto e do dano, exige-se que entre os dois elementos exista uma
ligacao: que o facto constituía causa do dano. Este e ultimo presuposto da
responsabilidade é ainda enuciado no no 1 do art. 483 cc, que proclama o agente
adistrito a indemnizar “ pelos danos resultantes da violacao”.
Não há que ressarcir todos e quaisquer danos que sobrevenham ao facto ilícito,
mas tão-so os que ele tenha na realidade ocasionado, os que possam considerar-
se pelo mesmo produzidos (art.563 cc). O nexo de causalidade entre o facto e
dano desempenham, consequentimente, a dupla funcao de presuposto da
responsabilidade civil e de medida da obrigacao de indemnizar.
Este domínio levante consideráveis dificuldades, que se progetam em aspectos
objectivos e subjectvos. Exemplifiquemos: Quando o dano se apresenta como
resultado directo e actual do facto ilícito, o problema não oferece margem para
grandes duvidas:
A injuria B; C atinge D com um tiro ocasionando a morte; E destrói o objecto X
de F
[ CITATION Mar09 \l 2070 ]

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