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Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

CONSTRUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS COLABORATIVOS EM


REDE: A CIBERCULTURA E O CONECTIVISMO NA FORMAÇÃO
DOCENTE
Eduardo S. Junqueira
Jaiza Helena Moisés Fernandes
Grupo de Pesquisas LER - UFC

RESUMO
Este artigo apresenta estudo qualitativo desenvolvido junto a um grupo de licenciandos
de diversos cursos de uma universidade da região nordeste participante da disciplina
Cibercultura e Educação 2013.2, voltada à formação docente a partir dos princípios
da Cibercultura e do Conectivismo. A sociedade contemporânea vivencia um novo
movimento cultural, a cibercultura. Destarte, a educação formal deve se apropriar de
elementos conceituais e práticas paradigmáticas da cibercultura. A pesquisa investigou
os percursos online vivenciados e as aprendizagens para a docência construídas
pelos licenciandos, organizados de forma multidisciplinar, no processo de criação e
aplicação de material didático colaborativo em rede (MDCR). O trabalho colaborativo
e cooperativo desenvolvido pelos licenciandos incluiu diversas interações com uma
turma de alunos de ensino médio de uma escola pública. Adotou-se a perspectiva
etnográfica de pesquisa, com documentação e análise dos percursos dos licenciandos
em atividades online (em um grupo do Facebook e em duas comunidades criadas na
rede social virtual Aprender em Rede), na construção do MDCR e na escola parceira.
Foram realizadas entrevistas em profundidade com um grupo de participantes. Os
resultados indicam que os licenciandos conferiram, no MDCR, grande importância
aos diversos gêneros discursivos (textos dissertativos, poesias, paródias) bem como a
outros elementos hipermodais (imagens, vídeos, músicas). Observou-se nos conteúdos
e nas atividades propostas com fins de aprendizagem no MDCR, uma adequação aos
princípios das duas abordagens teóricas mencionadas. Os relatos dos licenciandos e os
percursos documentados e analisados caracterizam a experiência de formação docente
baseada na criação, compartilhamento e aplicação de material didático aberto, em
rede. A formação lhes permitiu constituir ação docente ancorada na reflexão sobre a
prática, na qual conectaram e selecionaram fontes de informação e realizaram a troca e
articulação de saberes com fins didático-pedagógicos, inseridos da dinâmica de fluxos e
compartilhamentos na internet, de modo mais amplo.

PALAVRAS-CHAVE: Formação Docente. Cibercultura. Conectivismo.

INTRODUÇÃO
O abrangente fenômeno da Cibercultura e da comunicação colaborativa em rede
aponta para a necessidade de se estabelecer processos de design participativo, em que
usuários-alunos possam cooperar, abrindo-se a possibilidade de disponibilização de
conteúdos abertos articulados para fins de aprendizagem cada vez mais interativos e
democráticos (LEMOS, 2004). Esses princípios têm balizado o desenvolvimento de
iniciativas no campo dos materiais didáticos colaborativos em rede (MDCR) em uma

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universidade na região nordeste, voltadas aos diversos cursos de licenciatura, integrando


atividades do Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores (LIFE),
financiado pela CAPES. A natureza e a produção desses materiais fundamentaram-
se no paradigma da Cibercultura e suas relações com o processo de aprendizagem e
formação docente. Segundo Lévy (1999), no campo da cibercultura, o computador se
distancia da condição instrumental, aproximando-se e alimentando um terreno cultural e
comunicacional no ciberespaço.
O presente estudo constitui-se com base no arcabouço multidisciplinar e na
perspectiva do Conectivismo (SIEMENS, 2004), buscando a compreensão do caráter
complexo, dinâmico, diverso e convergente de experiências educacionais relacionadas à
rede na formação docente contemporânea.
REFERENCIAL TEÓRICO
Siemens aponta limitações de teorias da aprendizagem frente aos novos modos
de viver da sociedade a partir das tecnologias digitais e redes de comunicação e
estabelece as bases conceituais do Conectivismo (SIEMENS 2004):
• A aprendizagem é um processo de conectar nós ou fontes de informação
especializadas. Dessa forma, a criação de materiais educativos em rede se dá
pela junção de saberes em áreas diversificadas.
• A capacidade de saber mais se torna mais importante do que aquilo que se sabe
em um momento dado. Considera-se que o saber mais diz respeito à dinâmica
das trocas, ao fluxo contínuo das informações compartilhadas.
• A alimentação e manutenção das conexões são necessárias para facilitar a
aprendizagem contínua
• A habilidade chave de ver conexões entre áreas, ideias e conceitos não está
restrita aos professores.
• A atualização é a intenção das atividades conectivistas de aprendizagem. A
internet permite aos usuários vasta fonte de pesquisa, cabendo a eles a triagem
do que é relevante ou não.
O ESTUDO SOBRE OS MDCR
Trata do desenvolvimento de material didático colaborativo em rede (MDCR)
voltado à formação de alunos das diversas licenciaturas, matriculados na disciplina
Cibercultura e Educação no semestre 2013.2 da referida universidade. Essas atividades

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incluíam:
• Pesquisas na internet de conteúdos hipermidiáticos (vídeos, artigos, sites).
• Avaliação dos materiais pesquisados pelos licenciandos quanto à̀ sua qualidade
acadêmica e adequação aos objetivos da formação.
• Utilização dos materiais selecionados na criação de um blog com fins de
aprendizagem a partir de interações com os alunos de ensino médio de uma
escola pública.
Essa proposta de formação de professores foi ancorada na prática, pois
estabeleceu um diálogo entre Universidade e escola. A pergunta norteadora do estudo
foi: Como gerar melhorias de aprendizagem do aluno em seu processo de formação
docente ao se instituir uma prática pedagógica orientada por formulações teóricas no
marco da cibercultura e baseada na proposição dos materiais didáticos colaborativos em
rede? À medida que os licenciandos aplicavam o MDCR em construção (um blog)
junto aos alunos da escola, obtinham feedback sobre os conteúdos e atividades
propostas, configurando-se num processo de construção, aplicação, avaliação e
reconstrução do MCDR, cujo endereço é: http://cibercultura20132.wix.com/
sustentabilidade
Desenvolveu-se um estudo qualitativo de perspectiva etnográfica (BOGDAN;
BIKLEN, 2003), buscando-se documentar e dar sentido às ações complexas dos sujeitos
envolvidos a partir da visão deles sobre as ações desenvolvidas. A coleta de dados
contemplou a documentação e mapeamento dos weblinks estabelecidos. Essa
documentação permitiu verificar a qualidade dos recursos, a diversidade de perspectivas
teóricas e a diversidade de modos de linguagens (escrita, sonora, etc.). Realizou-se a
verificação dos percursos de aprendizagem online do grupo de licenciandos e
verificação dos dados de navegação registrados nos espaços web (comunidades em
redes sociais virtuais), os materiais incorporados ao MDCR e atividades com alunos da
escola parceira. Essa verificação resultou em um mapeamento por frequência, tipologia,
qualidade e temática do MDCR.
RESULTADOS E ANÁLISE
A busca, compartilhamento, análise e apropriação de conteúdos da internet para
fins didáticos ocorreram também à distância durante a construção do MDCR, um blog
sobre o tema da Sustentabilidade, como destacou uma participante: “a gente teve que

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discutir muito para criar o site [blog], então teve que interagir a distância mesmo, fora
das aulas para poder criar” (Licencianda 2, entrevista).
No processo de construção do blog, os materiais eram linkados e compartilhados
a partir de três espaços na internet: o grupo do Facebook, do qual participavam os
licenciandos, alunos da escola e monitores da disciplina; uma comunidade de
aprendizagem da disciplina e outra específica do grupo responsável pela criação do
MDCR. As práticas dialógicas e de compartilhamento ocuparam espaço significativo.
O grupo criado no Facebook propiciou a interação e compartilhamento de materiais
entre os licenciandos e os alunos da escola, com vistas à construção do MDCR. Os
licenciandos compartilhavam materiais pesquisados e/ou elaborados por eles nas
comunidades virtuais.
As pesquisas dos licenciandos tinham rigor teórico e informacional do
conteúdo e abrangiam conteúdos em múltiplas linguagens (imagens, textos, elementos
audiovisuais), com fins à melhoria da aprendizagem e à adequação do blog aos alunos
da escola. Conteúdos textuais formais (textos dissertativos e de opinião) ganharam
status semelhante a outros gêneros textuais (paródias, quadrinhos, poesias, esquetes).
Segundo os licenciandos, a diversidade de recursos e linguagens facilitou a interação
dos alunos com os conteúdos. A mesma tessitura de linguagens se aplicava às atividades
propostas aos alunos durante atividades na escola.
A temática do blog, atual e transversal, centrou-se na Sustentabilidade, a partir
de interesse manifesto dos alunos da escola e contribuiu para a criação de um MDCR
interdisciplinar. A análise dos conteúdos do blog revelou boa distribuição dos recursos
entre as diversas linguagens: visuais, audiovisuais, textuais e hipertextuais. Nas
atividades, há solicitações aos alunos de produção e publicação de materiais na rede. Os
conteúdos e atividades disponibilizados remeteram os alunos a outros espaços
interativos da internet (websites como YouTube, Picture Collage, Piccollage, Facebook,
Instagram, Twitter). Os espaços de comentários, abertos aos alunos e aos usuários da
rede, facilitaram as interações e potencializaram diálogos ampliados.
Em relação à tipologia, foram utilizados vídeos não muito longos e textos com
fotos e diferentes abordagens da temática. Os hipertextos remetiam os alunos aos sites
de pesquisa, publicação de vídeos, eventos, espaços de comentários e editores de textos
e imagens online. Vídeos produzidos pelos alunos da escola integraram o blog.

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A presença e as trocas dos licenciandos na internet permitiram-lhes vivenciar


novas experiências pedagógicas no processo de formação docente: “Fizemos um
verdadeiro laboratório, né, foi algo assim inovador de trabalhar com Facebook na
sala de aula. Já nos ofereceu uma panorâmica de como explorar as redes sociais
dentro de uma sala de aula, por exemplo, trabalhar com vídeos, YouTube, Facebook”
(Licenciando 1, entrevista). Outro aluno afirmou que: “a questão da internet, o uso dela,
eu acho que aproxima muito o aluno do professor, principalmente, no caso, nós criamos
um grupo no Facebook. Então, os alunos postavam alguma coisa, a gente postava
também e encurtava essa distância professor-aluno” (Licenciando 4, entrevista).
Ao navegarem pelos “labirintos” da internet para construírem sua prática
docente, os licenciandos aprimoraram habilidades de busca e compreensão sobre
fontes de informação e linguagens. O MDCR fomentou a reflexão, induziu a criação e
compartilhamento de materiais em rede pelos licenciandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da perspectiva pedagógica do Conectivismo, os licenciandos puderam
conectar fontes de informação e agregar saberes com fins didático-pedagógicos,
inseridos da dinâmica de fluxos e trocas da internet, de modo mais amplo, mas também
entre eles e os alunos da escola. O blog constitui-se como espaço de atualização de
saberes, criação e manutenção de novas conexões entre áreas de saberes, ideias e
linguagens. Os licenciandos vivenciarem diversos princípios da Cibercultura e do
Conectivismo em sua formação docente. A rede, para eles, constituiu-se como espaço
de reflexão e de exploração de novas possibilidades no exercício da docência com
junção e troca de saberes, produção e compartilhamento de MDCR com fins didáticos.
REFERÊNCIAS
BOGDAN, R.; BIKLEN, S. K. Qualitative research for education. New York: Allyn
and Bacon, 2003.
LEMOS, A. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 2ªed.
Porto Alegre: Sulina, 2004.
LÉVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
SIEMENS, G. Connectivism: A learning theory for the digital age, 2004. Disponível
em: <http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm>. Acesso em: 04 fev.
2012.

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