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BIOMECÂNICA

INTERFACES COM
O ESPORTE, SAÚDE E EXERCÍCIO
FÍSICO
Ewertton Bezerra

Rodolfo Dellagrana

Mateus Rossato

BIOMECÂNICA
INTERFACES COM
O ESPORTE, SAÚDE E EXERCÍCIO
FÍSICO

Ewertton de Souza Bezerra


Manaus - 2019
Biomecânica: interfaces com o esporte, saúde e exercício físico Copyright © 2019 by Ewertton
Bezerra, Rodolfo Dellagrana & Mateus Rossato
E-mail: esbezerra@gmail.com

Revisão Ortográfica: Aline Moraes de Oliveira


Capa: Adenilson Mendes de Assis
Projeto Gráfico: Adenilson Mendes de Assis Contracapa: Adenilson
Mendes de Assis Editor: Ewertton de Souza Bezerra
Fotos: Arquivo pessoal dos autores de capítulo ou com citação de fonte consultada no rodapé da foto.

Todos os direitos reservados.


1.ª edição – 2019

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de nenhuma forma ou por quaisquer meios eletrônicos, mecânico, fotocopiado,
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência


Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971

B615 Biomecânica : interfaces com o esporte, saúde e exercício físico [recurso eletrônico] / Ewertton Bezerra, Rodolfo
Dellagrana e Mateus Rossato. —— Manaus : E. S. Bezerra, 2019. Dados eletrônico (pdf).

Inclui bibliografia. ISBN 978-65-900459-1-1

1. Educação física. 2. Biomecânica. 3. Exercícios físicos. 4. Promoção da saúde. I. Bezerra, Ewertton. II. Dellagrana, Rodolfo.
Rossato, Mateus. IV. Título.

CDD 613.7
Revisores Científicos

João Otacílio Libardoni dos Santos


• Doutor em Educação Física – Universidade do Estado de Santa
Catarina

• Professor da Universidade Federal do Amazonas

Fábio Juner Lanferdini


• Doutor em Ciências do Movimento Humano pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul

• Professor da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das


Missões

Wagner Jorge Ribeiro Domingues


• Doutor em Educação Física – Universidade Estadual de Londrina

• Professor da Universidade Federal do Amazonas


“Com amor a Enzo, Gabriel e Leiliane”
Ewertton Bezerra

“Para toda a minha familia”


Rodolfo Dellagrana

“A aquela que me acompanha, Caren”


Mateus Rossato
AGRADECIMENTOS
Este material foi organizado com o objetivo de servir como uma referência para estudantes e profissionais das
áreas da Educação Física, Fisioterapia e Medicina. Os temas abordados neste livro foram objeto de estudo de
mestres e doutores que realizaram suas capacitações junto ao Laboratório de Biomecânica da Universidade Federal
de Santa Catarina nos últimos cinco anos, aos quais gostaríamos de agradecer pelo empenho em dispor de um
tempo para transmitir a futuras gerações um conteúdo rico de informações. Uma base importante neste processo
de construção foi o encontro entre nós, organizadores desta obra, e todos os nossos colaboradores. Isto só pôde
acontecer devido ao programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Santa
Catarina, aos Grupos de Pesquisa em Biodinâmica (GPBIO) e ao Grupo de Estudo do Movimento Humano
(GEMH). Desta forma, nosso terno agradecimento, não só por proporcionar o encontro, mas também pelo
suporte na realização dos estudos. Também registramos o agradecimento ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino
Superior (CAPES) e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Santa Catarina (FAPESC) e do Amazonas
(FAPEAM) pelo suporte financeiro aos estudos desenvolvidos pelos autores e coautores em algum momento
deste processo.

Ewertton Bezerra Rodolfo


Dellagrana Mateus Rossato
PREFÁCIO
Façamos um exercício mental. Como era a biomecânica quando você começou a estudar os temas dessa área, e
como ela se apresenta hoje? Há diferença? Difícil prever o que cada um dos leitores respondeu para essa última
pergunta, mas posso compartilhar o que eu pensei. Sim, existem muitas diferenças. O passar dos anos e o
significativo desenvolvimento da atuação de cientistas e estudantes brasileiros na área da biomecânica
contribui, e muito, para essa impressão. Com o passar dos anos, o nosso conhecimento de conceitos
básicos da biomecânica avançou para a abordagem de questões de pesquisa em diferentes temas, projetos
de pesquisa com diversos objetivos, maior aplicabilidade prática, e o crescimento do interesse e do número de
cientistas atuando na área. A biomecânica ficou pequena para acomodar tantas perguntas de pesquisa. Mais do
que aumento em número, houve um aumento em qualidade do que se estuda e divulga. Houve aumento na
interdisciplinaridade. Costumo comentar com os estudantes que oriento que já não temos espaço para uma
investigação que considera exclusivamente a biomecânica, pois os fenômenos precisam de conhecimentos de
diversas áreas para uma melhor explicação e compreensão. Isso significa que não existem mais fronteiras entre
as área? Bem, na minha opinião, sim. As fronteiras estão totalmente abertas. “Biomecânica: interfaces com o
esporte, saúde e exercício físico” organizado por Ewertton Bezerra, Rodolfo Dellagrana e Mateus Rossato, com
a colaboração de muitos outros cientistas, apresenta uma nova forma de olhar o conhecimento em
biomecânica, promovendo a interface com outras técnicas de pesquisa e ampliando as aplicações dos
conhecimentos. Se queremos formar um profissional cada vez mais versátil e dinâmico, precisamos prover aos
nossos estudantes um ambiente com essas características. Este livro tem esse potencial por estimular o
leitor a compreender as relações entre diferentes conceitos e a forma como conceitos de outras áreas podem
ser empregados para o estudo da biomecânica, nesse caso, da biomecânica do movimento humano. A leitura
de “Biomecânica: interfaces com o esporte, saúde e exercício físico” convida o leitor a refletir sobre como as
áreas de estudo interagem e como isso é importante para a construção de novos caminhos.

Felipe P. Carpes
Universidade Federal do Pampa
APRESENTAÇÃO
Tradicionalmente as temáticas que envolviam a biomecânica se restrin- giam ao emprego da cinemática,
dinamometria, antropometria e eletro- miografia ao esporte, ergonomia e a reabilitação. No entanto, nos
últimos anos, observa-se uma expansão das áreas de atuação, podendo a biomecâ- nica ser encontrada no
desenvolvimento de tecnologias assistivas, próte- ses, exoesqueletos e também no modelamento de elementos
finitos. Esse crescente número de possibilidades do emprego da biomecânica tem atraí- do profissionais de
diferentes áreas do conhecimento como a Educação Fí- sica, Fisioterapia, Medicina e Engenharias. Nesse
sentido, a motivação dos autores deste livro foi aproveitar os conhecimentos em diversos temas da biomecânica
produzidos por ex-alunos, alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da
Universidade Federal de Santa Catarina, no sentido de abordar esses conteúdos de forma multidiscipli- nar, e
assim lançar o segundo livro envolvendo a biomecânica e seus ten- dências. Para alcançar esse objetivo, o livro
foi dividido em três partes, a primeira com temas envolvendo novos métodos e técnicas de pesquisa uti- lizadas
na biomecânica como a eletroestimulação neuromuscular, a ultras- sonografia, a dinamometria isocinética e a
terapia com fotobiomodulação. Na segunda parte, foram enfatizados aspectos da biomecânica voltados à saúde
e ao exercício físico, com foco principalmente em idosos, parkin- sonianos e usuários de cadeira de rodas. Por
fim, a terceira parte do livro procurou abordar temas que associam a biomecânica a aspectos inerentes a
produção de força, a esportes de combate, ciclismo, voleibol e ginástica. Por isso, convidamos você a fazer a
leitura desta obra que procurou unir conhecimentos da biomecânica aplicados às técnicas de avaliação, saúde,
exercício físico e, por fim, o esporte.

Boa Leitura
“Nothing can be loved or hated unless it is first understood.” (“Nada pode ser amado ou odiado a
menos que seja entendido pela primeira vez.”)
Leornardo Da Vinci (1452 – 1519)
Organizadores
Ewertton de Souza Bezerra
• Doutor em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina
• Professor da Universidade Federal do Amazonas

Rodolfo André Dellagrana


• Doutor em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina
• Professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Mateus Rossato
• Doutor em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina
• Professor da Universidade Federal do Amazonas

Colaboradores
Antônio Renato Pereira Moro
• Doutor em Ciências do Movimento Humano - Universidade Federal de
Santa Maria
• Professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Bruna Barboza Seron


• Doutora em Educação Física - Universidade Estadual de Londrina
• Professora da Universidade Federal de Santa Catarina

Bruno Monteiro de Moura


• Mestre em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Cassio Victora Ruas


• Mestre em Ciências do Movimento Humano - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul

Cíntia de la Rocha Freitas


• Doutora em Ciências do Movimento Humano - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
• Professora da Universidade Federal de Santa Catarina

Daiani de Campos
• Graduada de Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina
Daniele Detanico
• Doutora em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina
• Professora da Universidade Federal de Santa Catarina

Débora Aparecida Knihs


• Mestra em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Fernando Diefenthaeler
• Doutor em Ciências do Movimento Humano - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
• Professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Filipe Estácio Costa


• Bacharel em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Grazieli Maria Biduski


• Bacharel em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Haiko Bruno Zimmermann


• Bacharel em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Heiliane Fontana
• Doutora em Ciências do Movimento Humano - UDESC
• Professora do CCB- Universidade Federal de Santa Catarina

Ieda Parra Barbosa-Rinaldi


• Doutora em Educação Física - UNICAMP
• Professora DEF- Universidade Estadual de Maringá

Josefina Bertoli
• Mestra em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Juliana Pizani
• Doutora em Educação Física - Universidade Estadual de Londrina
• Professora da Universidade Federal de Santa Catarina

Juliano Dal Pupo


• Doutor em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina
• Professor da Universidade Federal de Santa Catarina
Kelly M. M. e Lima
• Doutora em Engenharia Biomédica - Universidade Federal do Rio de
Janeiro
• Professora Universidade Federal de Santa Catarina

Leandro Garcias
• Mestre em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Lucas Bet da Rosa Orssatto


• Mestre em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Lucas Machado de Oliveira


• Bacharel em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Lucas Sampaio
• Bacharel em Educação Física - Universidade Federal do Amazonas

Manoela Vieira Sousa


• Mestra em Educação Física- Universidade Federal de Santa Catarina

Marco Aurélio Cardoso


• Bacharel de Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Mariane Eichendorf da Silva


• Bacharel em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Morgana Lunardi
• Mestra na Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina

Rafael Lima Kons


• Mestre em Educação física - Universidade Federal de Santa Catarina

Raphael Luiz Sakugawa


• Mestre em Educação física - Universidade Federal de Santa Catarina

Silas Nery de Oliveira


• Mestre em Educação física - Universidade Federal de Santa Catarina
Sumário

Parte 1 - Métodos e Técnicas na Biomecânica

Capítulo I

Capitúlo II

Capítulo III Capítulo IV Capítulo V Capítulo VI

Terapia com fotobiomodulação aplicada ao exercício..............................................................................

Avaliação morfológica e das propriedades mecânicas da unidade miotendinea por meio da


ultrassonografia..................................................................

Dinamometria eletromecânica: aplicações práticas e científicas no esporte e na saúde........................................

Utilização da eletroestimulação neuromuscular como ferramenta para avaliação, treinamento e


recuperação....................................................................

Rigidez (stiffness) do membro inferior: conceitos, aplicações e métodos de medição.......................................

Aumento residual de força no músculo esquelético........

20

43

68

97

120

149
Parte 2 - Exercício Físico e Saúde

Capítulo VII

Monitoramento neuromuscular de idosos:


aplicações clínicas......................................................

180

Capítulo Adaptações neuromusculares decorrentes do


VIII treinamento resistido tradicional e de potência em
idosos........................................................................
203
.
Capítulo Treinamento concorrente: efeitos no desempenho
IX cardiorrespiratório, na força muscular e em tarefas
funcionais de idosos................................................... 235
.
Capítulo Comprometimento da produção de força decorrente
X da dor aguda: estratégias para o monitoramento
neuromuscular............................................................
260
Capítulo Doença de Parkinson e o paradigma da dupla
XI tarefa.......................................................................... 281
..
Capítulo Avaliação biomecânica em usuários de cadeira de
XII rodas: respostas à demanda mecânica dos membros
superiores................................................................... 308
.

Parte 3 - Esporte
Capítulo Potencialização pós-ativação no esporte:
XIII mecanismos e fatores 344
intervenientes.....................
Capítulo Especificidade da ação muscular para ganho
XIV de força máxima e 374
rápida............................................
Capítulo Avaliação biomecânica em esportes de 403
XV combate...
Equilíbrio muscular nos rotadores do ombro
Capítulo em atletas de esportes 427
XVI overhead..................................
Capítulo Parâmetros biomecânicos usados como
XVII feedback aumentado no aprendizado da técnica
da 455
pedalada................................................................
.
Capítulo Produção científica sobre as ginásticas artística
XVIII e rítmica associadas à 483
biomecânica.......................
Parte 1

Métodos e Técnicas
na Biomecânica
20
CAPÍTULO I
TERAPIA COM FOTOBIOMODULAÇÃO APLICADA AO EXERCÍCIO

Rodolfo André Dellagrana Mateus


Rossato Fernando Diefenthaeler

O que você irá encontrar:

• Como a energia luminosa atua em determinados tecidos biológi-


cos, especialmente no tecido muscular;
• Quais vias metabólicas são ativadas com o uso da fotobiomodu-
lação;
• Quais são os principais parâmetros que devem ser considerados na aplicação da
fotobiomodulação;
• A fotobiomodulação como um recurso ergogênico para atividades aeróbias e de força.

Introdução

Antes de entendermos as propriedades da luz, precisamos compreender que ela faz parte de um espectro
de ondas eletromagnéticas (Figura 1.1). As ondas eletromagnéticas por sua vez são definidas como
sendo pulsos energéticos que se propagam no espaço transportando energia com de- terminadas
características (período, frequência e fase). Além disso, existe uma relação inversa entre o comprimento
das ondas eletromagnéticas e a frequência de sua propagação19. Por exemplo, ondas de rádio apresen-
tam grandes comprimentos de onda (baixas frequência) e baixos níveis de energia, por outro lado os raios
gama apresentam pequenos comprimen- tos de onda (alta frequência) e elevados níveis de energia.
A luz visível é a porção do espectro eletromagnético cuja radiação é com- posta por fótons capazes de
sensibilizar o olho humano. Cada cor apre- senta um comprimento de onda (Figura 1.1). Nos extremos
do espectro da luz visível estão o violeta (~400 nm) que apresenta uma maior frequência (790 THz) e,
portanto, um menor comprimento de onda, e o vermelho (~700 nm) que apresenta um maior
comprimento de onda e, por conse- quência, uma menor frequência (400 THz). Além disso, o espectro
visível pode ser subdividido em faixas de acordo com a cor, sendo que a quantida- de de energia (J) é
proporcional a sua frequência8.
A luz segue alguns princípios ao ser emitida sobre qualquer objeto14. Es-
ses princípios dizem respeito: a) reflexão; b) absorção; c) transmissão; d) refração e; e) dispersão. A
reflexão dependerá da superfície com a qual a luz irá incidir. Caso a superfície seja irregular a
reflexão será difusa (em várias direções). Por outro lado, se a superfície for lisa a reflexão será espe-
cular, ou seja, o ângulo de incidência será igual ao ângulo de reflexão. Na absorção se o objeto for
preto, todos os comprimentos de onda serão ab- sorvidos e transformados em calor. Todos os objetos
opacos, translúcidos ou mesmo transparentes, absorvem e refletem alguma quantidade de luz. No
entanto, quanto mais ele absorve, mais escuro é o objeto, quanto mais reflete, mais claro este objeto
se apresenta. A transmissão diz respeito à quantidade de luz que ultrapassa um objeto. A transmissão
da luz por um meio translúcido ocorre de maneira difusa (diversas direções), em objetos transparentes
a transmissão ocorre de maneira direta. Por fim, se o objeto apresentar uma cor, todas as demais serão
absorvidas sendo transmitido seletivamente somente o comprimento de onda selecionado, no caso a
cor do objeto. A refração diz respeito ao ângulo de incidência da luz sobre um objeto. Quanto maior
for o ângulo de incidência, maior será o ângulo de reflexão. A dispersão, com exceção do LASER,
acontece com todos os tipos de luz. Isso ocorre porque a luz ao sair de uma fonte, tende sempre a se
dispersar em todas as direções.

Figura 1.1: Espectro eletromagnético

Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Espectro_vis%C3%ADvel
Fotobiomodulação – um pouco da história

Por volta de 1917, Albert Einstein utilizou conceitos da teoria quântica de Mark Plank da terceira
integração da matéria, que é conhecida como emis- são estimulada de radiação, e desenvolveu a teoria
de energia luminosa amplificada23. A partir disto, o estímulo celular fornecido por meio da ir-
radiação laser ganhou dimensão com o estudo publicado em 1923, pelo biologista russo Alexander
Gurwitsh, que demonstrou que as células vivas emitem radiação eletromagnética atérmica
(comprimento de ondas simi- lares à radiação ultravioleta), que por sua vez pode induzir a um
processo biológico semelhante à mitose14. Após esta descoberta, muitos pesquisado- res
desenvolveram estudos sobre a possibilidade da irradiação luminosa artificial induzir tais processos
biológicos14,68.
No início da década de 50 foram desenvolvidos os MASERS (acrômio para Microwave Amplifiers by
the Stimulated Emission of Radiation ou amplifi- cação de micro-ondas por emissão estimulada de
radiação). Vale ressaltar que a radiação de micro-ondas é formada por ondas eletromagnéticas com
propriedades ópticas que podem ser refratadas, difratadas e refletidas14. Assim, a extensão deste
princípio aplicado na radiação de micro-ondas foi sugerida na amplificação e geração na região da
radiação visível14. No en- tanto, somente no ano de 1960 que Theodore Maiman criou o primeiro
laser de rubi com comprimento de onda de 694,3 nm, no qual foi capaz de justificar o acrômio
LASER (light amplification by stimulated emission radiation, ou amplificação da luz por emissão
estimulada de radiação)14,66. Sendo que, a partir disto, várias fontes de luz foram desenvolvidas, como
por exemplo, apontadores de laser, leitura de códigos de preço e dispositi- vos militares para sistemas
de definição de alvos11.
Ainda na década de 60, foram desenvolvidos os lasers de Hélio-neônio (He-Ne) e Neodímio-Ítrio-
Alumínio-Granada (Nd-YAG)14. Atualmente é possível encontrar lasers com variedade de substâncias
empregadas como fonte primária de energia elétrica ou óptica estimulando o meio ativo do dispositivo
de laser, estas substâncias podem ser um gás (gás carbônico, argon e excimer), líquido (dye), sólido
(rubi, alexandrite e KTP) ou um se- micondutor (diodo)11. Além disso, os lasers podem ser
classificados como de alta (acima de 1 W) e baixa (abaixo de 1 W) potência. Sendo que, o laser de alta
potência geralmente é utilizado em cirurgias atuando em cortes e carbonização de proteínas por meio
de um efeito fototérmico3,11. Já para a terapia com fotobiomodulação (TFB), as substâncias
comumente utiliza- das para produzir a radiação incluem hélio-neônio (He-Ne), Arseneto de
gálio e alumínio (AsGaAl) e Arseneto de gálio (AsGa)8, e são comumente utilizados na reparação
tecidual, alívio de dor, e também na obtenção de efeitos anti-inflamatórios17.
Considerando os avanços no desenvolvimento de dispositivos de laser, a TFB teve representatividade
clínica no final da década de 60 e início da dé- cada de 70 com o estudo desenvolvido pelo professor
Endre Mester. Este estudo foi o pioneiro em demonstrar o conceito de efeito “bioestimulató- rio”56.
Em um de seus experimentos, Mester implantou células tumorais sob a pele de ratos e expôs o tecido
à irradiação de um laser de rubi (base- ado no modelo de Maiman). Como resultados, as células
tumorais não fo- ram eliminadas. Entretanto, foi observado em muitos casos que as incisões feitas na
pele (para implantar as células tumorais) tiveram regeneração mais rápida para os ratos que sofreram a
aplicação da irradiação laser. Em estudos subsequentes, Mester confirmou o efeito da irradiação laser
na cicatrização de feridas e regeneração tecidual30.
Ao longo dos anos, muitos estudos foram desenvolvidos sugerindo o uso da irradiação laser na
indução de cicatrização de feridas cutâneas14,57, re- generação de diversos tipos de tecido, como por
exemplo, tendinoso e muscular24, e também, ação anti-inflamatória50. Reddy62 comparou dois tipos de
dispositivo laser (He-Ne versus As-Ga) na cicatrização de feridas diabéticas. O autor observou que as
diferenças entre os lasers eram depen- dentes da resposta fotoquímica das células em cada
comprimento de onda. Desta forma, uma padronização dos parâmetros de tratamento tornou-se
necessária para diferentes patologias que podem ser tratadas com a irra- diação laser. Baseado em
pesquisas científicas, a Associação Mundial de Laserterapia (WALT - “World Association of Laser
Therapy”) elaborou tabelas normativas com os parâmetros recomendados para o tratamento de
condições inflamatórias75, porém, diversas condições, sejam profiláti- cas ou ergogênicas, ainda
necessitam da determinação de parâmetros de irradiação ideais.

Fotobiomodulação –parâmetros de irradiação

A aplicação da TFB apresenta parâmetros importantes a serem controla- dos, como potência, energia,
densidade de potência, densidade de energia, área de irradiação e comprimento de onda25. A potência
pode ser descrita como a quantidade de energia aportada por unidade de tempo (W ou J/s). Entretanto,
não depende da duração do tratamento para uma área. Reali- zando uma analogia, podemos
considerar que cada fóton é um pacote de
energia, e cada pacote é capaz de estimular uma ou mais células. Assim, por exemplo, um dispositivo
terapêutico de laser com potência de 1440 mW pode fornecer o mesmo número de pacotes de energia
em tempo mais curto comparado a um dispositivo com potência de 690 mW39. Em geral, os
dispositivos terapêuticos apresentam potência fixa. A equação 1.2 re- presenta o cálculo da
potência39:

Potência (W) = Energia (J) / Tempo (s), Eq.1.1

A energia (ou dose) irradiada é considerada um dos principais parâ- metros de controle
relacionado a efetividade da TFB36. A energia irradia- da corresponde à quantidade de energia
empregada durante o tratamento (J), e é calculada pela equação 2.1:

Energia (J) = Potência (W) × Tempo (s), Eq. 2.1

Densidade de potência (ou irradiância) está relacionada à potência de saída do equipamento pela
área de irradiação (W/cm2). Em outras pala- vras, é a potência (W) por unidade de área do dispositivo
laser (cm2). De acordo com Enwemeka25 a densidade de potência pode ser calculada pela equação 3.1:

Densidade de Potência (W/cm²) = Potência (W) / Área (cm2), Eq. 3.1

Já a densidade de energia (ou fluência) é definida como a quantidade total de energia entregue ao
tecido pela área de irradiação do equipamento (J/cm2). Portanto, equivale a energia transmitida por
unidade de área do dispositivo laser, sendo calculada pela equação 4.125,36.

Densidade de Energia (J/cm²) = Potência (W) × Tempo (s) /


Área (cm2), Eq. 4.1

A área de irradiação é descrita como a área de secção transversa do spot (aplicador de fibra
óptica), podendo ser chamado de área de irradia- ção efetiva25. Por fim, como se sabe, as partículas
de luz (fótons) se pro- pagam no espaço com forma de onda. Portanto, o comprimento de onda
equivale à distância entre dois picos ou vales do feixe luminoso. Além do mais, o comprimento de
onda e a frequência da vibração da partícula lumi-
nosa são inversamente proporcionais25. Vale ressaltar que o comprimento de onda é um parâmetro da
irradiação laser de fundamental importância, uma vez que os tipos de tecido que serão irradiados e a
profundidade de penetração depende deste parâmetro25,36.

Fotobiomodulação – efeitos ergogênicos

Recentemente diversas pesquisas têm demonstrado efeitos ergogê- nicos da TFB em modular
processos bioquímicos e fisiológicos associa- dos à melhora do desempenho muscular e recuperação
do exercício fí- sico16,18,40,43,44,49. O primeiro ensaio clínico randomizado que objetivou analisar os
efeitos ergogênicos da TFB foi publicado em 200843, a partir deste ano muitos estudos foram
realizados utilizando tratamento LASERs e/ou LEDs empregando luz visível (cor vermelha) e/ou não
visível (infra- vermelho)16,18,40,41,43–48,59.
Em primeiro lugar, quando os músculos ativos de determinado tipo de
exercício físico são utilizados intensamente, é possível observar um de- clínio progressivo no
desempenho desta musculatura, ou seja, redução da função contrátil. Este fenômeno é complexo e
pode ser entendido como fadiga muscular2. Em síntese, a contração muscular inicia no sistema ner-
voso central quando o motoneurônio alfa é ativado, cada motoneurônio ativa um determinado número
de fibras, e juntos eles representam a me- nor unidade do sistema motor, a unidade motora74. Neste
sentido, a fadiga pode ocorrer devido a um prejuízo na ativação do motoneurônio alfa, e assim
chamada de fadiga central29. Já a chamada fadiga periférica está re- lacionada aos fatores internos do
músculo que podem causar prejuízos na função contrátil durante exercícios extenuantes74. Estes
fatores envolvem desde o potencial de ação que chega à junção neuromuscular, mudanças de
configuração miofibrilar que permitem a actina se ligar à miosina (for- mação das pontes cruzadas)
para iniciar a contração muscular até o rela- xamento da musculatura74.
De acordo com evidências científicas, após exercícios físicos extenu- antes diversas alterações
fisiológicas podem ser observadas, incluindo a redução das quantidades de fosfocreatina, glicogênio
muscular e sensibili- dade de Cálcio (Ca2+) por parte das miobribrilas, e também, pode ser ob-
servado o aumento das quantidades de fosfato inorgânico (Pi), adenosina difosfato (ADP), Ca2+,
magnésio (Mg2+), íons de hidrogênio (H+), lactato, e por fim, maior produção e acúmulo de espécies
reativas de oxigênio (ERO) e espécies reativas de nitrogênio (ERN)2,74. No entanto, vale ressaltar que
as adaptações e alterações fisiológicas podem ocorrer diferentemente de- pendendo do tipo de
exercício. Em geral, exercícios de alta intensidade de- pendem em grande parte da energia advinda do
metabolismo anaeróbio, e adaptações como os aumentos na força e ativação muscular são comuns
após treinamento nestes tipos de atividades1. Em contrapartida, a ener- gia recrutada para
exercícios de longa duração e intensidade moderada é predominantemente entregue pelo sistema
aeróbio, com adaptações de treinamento relacionadas ao aumento na quantidade de mitocôndrias e
enzimas oxidativas13,70.
Os efeitos biológicos relacionados a TFB são mediados por cromóforos endógenos que são
capazes de absorver os fótons e transformar energia luminosa em energia química62. Portanto, a TFB
apresenta efeitos bioló- gicos tanto na membrana celular quanto na mitocôndria. No que se refere às
modulações na membrana celular, os cromóforos ligados à membrana agem como
fotossensibilizadores que induzem mudanças na permeabili- dade e mecanismos de transporte da
membrana celular, resultando em alterações intracelulares no pH, concentração de íons e
excitabilidade da membrana38. Na mitocôndria, os fótons penetram na membrana celular e são
absorvidos por citocromos dentro da mitocôndria, especialmente o citocromo C oxidase da cadeia
transportadora de elétrons (CTE)37. Este processo vai acarretar respostas fisiológicas para a produção
de ERO, au- mento da taxa de ATP e síntese proteica37,67.
Além do mais, a TFB parece ser capaz de prevenir efeitos relacionados a disfunção mitocondrial e de
dano muscular mediado pelos ERO e ERN9,49. Em geral, na célula muscular os efeitos da TFB estão
especialmente ligados à mitocôndria, uma vez que a mitocôndria apresenta grande sensibilida- de à
radiação laser53. Com a aplicação da TFB podem ocorrer alterações fotoquímicas e fotofísicas nas
mitocôndrias celulares, como o aumento do potencial de membrana mitocondrial e maior atividade
enzimática da CTE33,36. Com relação às mudanças estruturais, a radiação laser pode for- mar o que é
chamado por alguns pesquisadores de “mitocôndria gigante”, por meio de fusão com mitocôndrias
vizinhas e menores53.
Levando em consideração os possíveis mecanismos abordados anterior- mente, a aplicação prévia de
TFB pode ser vantajosa em atividades de curta e longa duração. Em eventos de curta duração e alta
intensidade o sistema anaeróbio de energia é predominante2,31, assim de acordo com Ferraresi et al.26
três mecanismos parecem estar envolvidos nos efeitos ergogênicos para este tipo de atividade:
• Ressíntese ATP mitocondrial: A TFB pode aumentar a ativi-
dade mitocondrial, fornecendo maiores níveis de respiração celular e ressíntese de ATP36,67.
• Ressíntese de fosfocreatina: Atividades de alta intensidade são dependentes da quantidade
de ATP hidrolisado pela fosfocreati- na, este mecanismo produz um excesso de creatina, ADP
e Pi no sar- coplasma das fibras musculares2,74, fato este que estimula a síntese de ATP
mitocondrial, acarretando na integração entre sistema aeró- bio e anaeróbio por meio do
sistema de “lançadeira” de fosfocreati- na pela mitocôndria70. Assim, o aumento da atividade
mitocondrial fornecido pela TFB poderia acarretar na ressíntese de fosfocreatina que ocorre
durante os intervalos do exercício, bem como durante o exercício de alta intensidade e de
curta duração26.
• Aumento na oxidação do lactato pela mitocôndria: Consi- derando a teoria de Brooks et
al.10 a TFB também poderia auxiliar na oxidação de lactato devido a maior atividade
mitocondrial, uma vez que o piruvato é reduzido em lactato no final da via glicolítica, e o
lactato transportado para a mitocôndria por meio de transportado- res monocarboxílicos, em
seguida o lactato será oxidado a piruvato por meio da ação do dinucleótido de nicotinamida e
adenina (NAD) e a enzima lactato desidrogenase mitocondrial. Por fim, o piruvato é
oxidado em acetil coenzima A no ciclo de Krebs para dar continui- dade na produção de ATP
pela CTE26.
Já para as atividades de média e longa duração o metabolismo aeróbio de energia é
predominante31. Portanto, sabe-se que as mitocôndrias são organelas celulares que podem oxidar
energia de substratos para a síntese de ATP durante contrações musculares, e que a capacidade
oxidativa das fibras musculares é proporcional a sua densidade mitocondrial70,74. Além do mais,
exercícios de média e longa duração são eficientes em aumentar a biogênese mitocondrial favorecendo
o metabolismo aeróbio e reduzindo a fadiga muscular13. Desta forma, a aplicação prévia da TFB pode
incremen- tar os efeitos do exercício aeróbio, uma vez que uma mitocôndria gigante (mudança
estrutural) e mais funcional (maior atividade enzimática) pode fornecer maior respiração celular e
ressíntese de ATP durante este tipo de atividade36,67.
Além do metabolismo enérgico, a contração muscular depende da ex- citação elétrica das fibras
musculares, este processo provoca então a des- polarização de fibras musculares, que por sua vez
resultam na liberação de Ca2+ para o citoplasma da célula muscular, gerando assim a contração
muscular. Entretanto, repetidas contrações musculares geram saturação
do sistema de recuperação deste processo e como consequência resultam na fadiga muscular, devido
ao desequilíbrio de Na+ e K+ intra e extracelu- lar no músculo, o qual prejudica a despolarização da
fibra muscular pelo acúmulo de K+ fora da célula2. Este desequilíbrio é evitado pela bomba de Na+ e
K+, que leva K+ para dentro e Na+ para fora da célula. Considerando que a bomba de Na+ e K+ é ATP
dependente, a TFB poderia modular indi- retamente a bomba de Na+ e K+ com o aumento da síntese de
ATP por meio das mitocôndrias que cercam os túbulos T26,60.
Embora os mecanismos que explicam os efeitos ergogênicos benéficos da fotobiomodulação não
estejam totalmente esclarecidos, a TFB aplicada como pré-condicionamento para exercícios de curta e
longa duração tem sido amplamente estudada nos últimos anos6,18,27,49. A TFB tem demonstra- do
efetividade para o aumento do desempenho muscular sendo aplicado com diferentes equipamentos e
parâmetros de aplicação (comprimento de onda e dose)6,16,18,44,45,47,48. Portanto, nos próximos tópicos
serão abordados os efeitos da TFB em exercícios de curta e longa duração.

Exercícios de curta duração

Na história recente de estudos com seres humanos que aplicaram TFB previamente a
exercícios físicos, a grande maioria dos estudos analisou os seus efeitos com aplicação em apenas um
grupo muscu- lar4,6,7,16,22,28,32,34,35,42,43–48,51,58,63,64,69,71,72.
O estudo desenvolvido por Leal Junior et al.43 em 2008 foi o primeiro a
demonstrar os efeitos da TFB em postergar a fadiga. Os autores avaliaram jogadores de voleibol que
realizaram um protocolo de fadiga isotônico de flexão e extensão do cotovelo em um banco Scott
com carga de 75% da contração isométrica voluntária máxima (CIVM) nas situações placebo e/ ou
com TFB no músculo bíceps brachii (sessões separadas por 7 dias). Os resultados demonstraram que
com a aplicação prévia da TFB o número de contrações e tempo total do exercício aumentou em
comparação a condi- ção placebo. Outros dois estudos apresentaram resultados similares, no entanto o
protocolo de fadiga de flexão e extensão do cotovelo foi realizado em um dinamômetro isocinético,
também com carga de 75% da CIVM45,46. Enquanto Leal Junior et al.45 realizou a aplicação da TFB
utilizando um equipamento com diodos de LEDs (λ = 660 e 850 nm), o outro estudo46 utilizou um
equipamento com lasers (λ = 830 nm).
Leal Junior et al.48 realizaram aplicação da TFB (λ = 810 nm) no bíceps brachii de jogadores
profissionais de voleibol, e também demonstraram
resultados positivos no número de repetições e tempo de exaustão de um protocolo isotônico de fadiga
de flexão e extensão de cotovelo. Além disso, os autores apresentaram resultados adicionais de
marcadores bioquími- cos relacionados à recuperação muscular. Os resultados sugerem que com a
aplicação da TFB os níveis de lactato sanguíneo, creatina cinase (CK) e proteína C reativa foram
significativamente menores após protocolo de fadiga quando comparado com a condição placebo48.
De Almeida et al.16 compararam os efeitos da aplicação prévia da TFB no espectro visível
(vermelho, λ = 660 nm) e não-visível (infravermelho, λ = 830 nm) da luz aplicados no biceps
brachii de homens saudáveis. Os avaliados realizaram um protocolo isométrico de fadiga (60% da
CIVM) de flexão do cotovelo em um banco Scott com utilização de uma célula de carga. Os
resultados indicaram que ambos os tratamentos (vermelho e infravermelho) foram efetivos em
retardar o desenvolvimento da fadiga. Em contrapartida, Higashi et al.35 avaliaram mulheres saudáveis
e obser- varam que a TFB aplicado no bíceps brachii apresenta efeitos limitados em postergar o
processo de fadiga (i.e., número de repetições e lactato san- guíneo) após protocolo de exercício de
flexão e extensão do cotovelo em um dinamômetro isocinético. No entanto, os autores observaram
maiores reduções no “slope” da atividade elétrica muscular para o grupo placebo, indicando efeito
positivo para o grupo que recebeu a TFB na atividade elé- trica muscular.
Os estudos citados anteriormente analisaram os efeitos da aplicação prévia da TFB nos membros
superiores, de maneira similar, outros estu- dos foram desenvolvidos buscando analisar os mesmos
efeitos em mem- bros inferiores4,6,7,22,34,51,58,63,69,71,72. Assim, comparando a TFB aplicada nos músculos
do quadríceps (rectus femoris, vastus lateralis e vastus medialis) com a condição placebo, foi
possível observar menor redução do torque após realização de um protocolo concêntrico de fadiga de
flexão e extensão do joelho (30 repetições a 180°·s-1) na condição com aplicação da TFB6.
O uso da TFB também foi avaliado durante protocolos envolvendo contrações excêntricas. Baroni
et al.7 observaram que o grupo que rece- beu a aplicação de TFB em seis pontos do quadríceps foi
capaz de reduzir os efeitos do dano muscular, ou seja, redução do incremento dos níveis séricos de CK
e lactato desidrogenase (LDH). Da mesma forma, Antonalli et al.4 demonstraram que a TFB com
doses de 10, 30 ou 50 J também re- duziram os efeitos deletérios do dano muscular, assim como a
atividade da enzima CK imediatamente, 1, 24, 48 e 72 horas após a realização do protocolo
excêntrico de fadiga. Além do mais, os autores concluíram que
a irradiação com dose de 30 J (por ponto de aplicação) de seis pontos do quadríceps apresentou
melhores resultados, quando comparado ao grupo placebo, 10 e 50 J4. E também, Hemmings et al.34
aplicou três diferentes doses de energia (41,7 J, 83,4 J e 166,8 J por ponto) em seis pontos do
quadríceps, demonstrando que a dose de 83,4 e 166,8 J por ponto foram as melhores para aumentar o
desempenho em teste de resistência muscular.
Recentemente Rossato et al.65 buscaram identificar qual o tempo res- posta da TFB, ou seja,
compararam e aplicação da TFB imediatamente an- tes do exercício (comumente utilizado nos estudos
com TFB) é realmente o melhor momento para aplicação deste tratamento. Portanto, os autores
realizaram aplicações imediatamente antes, 6 horas antes (baseado em estudo com modelo animal) e 6
horas antes + imediatamente antes do exercício físico. O resultado deste estudo demonstrou que as
aplicações 6 horas antes + imediatamente antes, e imediatamente antes foram capazes de reduzir a
fadiga (índice de fadiga) durante exercício de contração con- cêntrica de extensores do quadríceps.
Alguns estudos testaram os efeitos da TFB em populações espe- ciais58,63,69. Em pacientes com
DPOC, a TFB aplicada no quadríceps foi efetivo em minimizar em 72% o efeito da fadiga após
protocolo de contra- ção isométrica a 60% da CIVM58. Em pacientes hemiparéticos espásticos a TFB
aplicada no quadríceps aumentou o pico de torque do teste de con- tração isométrica63. De maneira
similar, Toma et al.69 demonstraram que a TFB aplicada no quadríceps de mulheres idosas foi capaz de
aumentar em
14% o número de repetições em protocolo de fadiga de extensão e flexão do joelho.
Nos estudos supracitados é possível observar os efeitos da TFB em postergar a fadiga e reduzir as
concentrações de alguns marcadores bio- químicos para exercícios força isométrica, concêntrica e
excêntrica de um grupamento muscular específico. Considerando aspectos práticos da atividade
esportiva, exercícios de alta intensidade são realizados com o envolvimento de vários grupamentos
musculares17. Desta forma, dois es- tudos analisaram os efeitos da TFB em exercício anaeróbio
realizado em cicloergomêtro (teste de Wingate). Os resultados sugerem que a TFB pode aumentar a
remoção de lactato44 e reduzir o dano muscular44,47, entretanto, sem melhoras no desempenho. De
maneira similar, Malta et al.52 obser- varam o efeito da TFB em protocolo de corrida supra máxima
(115 % da vVO2MAX) em esteira. Os autores demonstraram que a TFB não alterou o déficit máximo
acumulado de oxigênio (MAOD) e o tempo total até exaus- tão. Já Pinto et al.61 observaram que a
TFB aplicada em jogadores de Ru-
gby previamente a um teste de campo (Bangsbo sprint test), foi efetiva em aumentar o desempenho no
teste e reduzir as concentrações de lactato.
Considerando os efeitos benéficos da TFB sobre o atraso no surgimen- to da fadiga e aumento do
desempenho, especulou-se que sua ação modu- laria a condução e propagação dos sinais elétricos
oriundos dos centros superiores em direção ao músculo, podendo assim ser captado por meio da
técnica de eletromiografia. Ferraresi et al.26 afirma que após constan- tes contrações musculares
poderia ocorrer uma falha na bomba de Na+/ K+ responsável por manter a homeostasia, acarretando
acúmulos de Na+ extracelular e K+ intracelular. Tal desequilíbrio estaria na gênese da fadi- ga
neuromuscular. De acordo com os autores a TFB atuaria de maneira indireta, fornecendo maiores
quantidades de ATP necessárias para o fun- cionamento normal das bombas Na+/ K+ e Ca++. Este ATP
seria fornecido por mitocôndrias localizadas próximas aos túbulos T. Os autores também afirmaram
que a TFB teria condições de modular os canais de cloro (Cl-), evitando assim a hiperpolarização.
Nos últimos anos vários estudos têm sido realizados na tentativa de compreender os efeitos da
TFB sobre as respostas eletromiográficas com resultados ainda não conclusivos. Dentre os
parâmetros utilizados, a me- diana da frequência (MF), tem se destacado como um indicador de fadiga
neuromuscular. O processo de fadiga acarreta a redução nos seus valores, indicando uma fadiga
especialmente nas fibras do tipo II5,12,54,55. No entan- to, é recomendado a sua utilização em
protocolos que envolvem contra- ções isométricas, devido as características estacionárias do sinal de
EMG. Apesar disso, alguns autores têm utilizado a MF para avaliação dos efeitos da TFB sobre a
fadiga durante contrações isotônicas51,73. Estudos que in- vestigaram os efeitos da TFB sobre a MF
avaliada durante contrações iso- métricas são ainda contraditórios. Alguns autores35,64,69, não
conseguiram observar resultados positivos a favor da TFB. Por outro lado, Miranda et al.58
observaram uma menor inclinação na MF com a aplicação da TFB em comparação com placebo,
quando pacientes com DPOC foram submetidos a um protocolo de fadiga. Os autores sugeriram que
essa menor fadiga es- taria associada a aumentos no fluxo sanguíneo local promovido pela TFB.
Em síntese, os estudos que têm avaliado as respostas eletromiográ- ficas frente a aplicações
prévias de TFB têm encontrado dificuldades em confirmar os achados positivos observados em
parâmetros de desempe- nho musculares. Acreditamos que o desempenho positivo em atividades de
força provocado pela aplicação da TFB deva-se principalmente pela sua ação interna ao músculo, e
nem tanto pela sua ação na condução e propa-
gação dos impulsos elétricos. No entanto, análises mais robustas do sinal de EMG como a
transformada wavelet contínua poderá fornecer informa- ções mais úteis sobre os possíveis
mecanismos envolvendo a TFB e a fadiga neuromuscular.

Exercícios de longa duração

Poucos estudos foram desenvolvidos com exercícios aeróbios ou de longa duração, como corrida
e ciclismo que envolvem vários grupamentos musculares15,18,20,21,27,40,41,59.
De Marchi et al.18 analisaram o efeito da TFB aplicada no quadríceps,
isquiotibiales e gastrocnemius de ambas as pernas previamente a um teste incremental máximo de
corrida em esteira. Os autores observaram que a TFB foi capaz de aumentar o desempenho de corrida
(tempo de exaustão) e o VO2máx (~2%), além de reduzir o estresse oxidativo, no qual poster- gou o
desenvolvimento da fadiga.
Já Da Silva Alves et al.15 avaliaram homens e mulheres que realizaram um teste incremental máximo
no cicloergômetro e os resultados demonstra- ram que a aplicação prévia da TFB apresentou efeito
positivo no desempe- nho do teste incremental máximo (2%), uma vez que com a aplicação da TFB
os indivíduos atingiram valores significativamente maiores de VO-
2máx comparado com a aplicação do placebo.
Ferraresi et al.27 realizaram estudo de caso com um corredor profis- sional de longa distância e
aplicaram a TFB utilizando malhas de LEDs nos braços (bíceps brachii e tríceps brachii), pernas
(quadríceps, isquio- tibiales, tibialis anterior, gastrocnemius e soleus), e também na região do tronco
(oblíquo externus e latíssimo do dorso). Os resultados do estudo foram muito interessantes no que se
refere ao desempenho. Os autores observaram que com a aplicação de TFB o corredor apresentou
melhoras na cinética do VO2máx e tempo do teste incremental máximo em esteira (17%), redução do
dano e fadiga muscular também foram observados.
No ano de 2016, Miranda et al.59 realizaram um estudo com dois grupos de indivíduos (experimental
e controle), sendo que o grupo experimental realizou a TFB (aplicada previamente ao exercício físico
no quadríceps, isquiotibiales e gastrocnemius). Os avaliados desempenharam um teste incremental
máximo em esteira e o grupo experimental apresentou maio- res valores na distância percorrida, tempo
de exaustão e ventilação pulmo- nar durante o teste quando comparado ao grupo controle
Recentemente, Lanferdini et al.40,41 avaliaram ciclistas treinados, estes
que realizaram testes até a exaustão (no pico de potência) com aplicação prévia de TFB com
diferentes doses de energia (15, 30 e 45 J por ponto de aplicação). Os autores observaram que todas as
doses aumentaram o tem- po de exaustão e a cinética do VO2máx, entretanto, apenas TFB com dose
de 15 J por ponto de aplicação foi capaz de aumentar a ativação muscular das bandas de alta
frequência durante o teste de exaustão.
Dellagrana et al.21 demonstraram que a TFB com dose de energia de 15
J por ponto de aplicação foi capaz de aprimorar a economia neuromuscu- lar de corredores
recreacionais durante corrida em esteira com velocidade submáxima. Os mesmos autores também
demonstraram em outro estudo que a TFB com dose de energia de 30 J por ponto de aplicação
(quadríceps, isquitibiais e gastrocnêmio) foi capaz de aprimorar a economia de corrida e tempo de
exaustão durante teste incremental máximo em esteira de cor- redores recreacionais20. Vale ressaltar
que nestes estudos as aplicações de TFB foram sempre comparadas com uma condição placebo
(equipamento de TFB desligado).
Contudo, apesar dos estudos citados demonstrarem resultados pro- missores relacionados à
aplicação prévia da TFB em exercícios físicos de longa duração com predominância do metabolismo
aeróbio de energia, pouco se sabe sobre quais são as características ótimas de aplicação da TFB (por
exemplo, doses de energia), e também, pouco foi explorado sobre os efeitos da TFB em exercícios
realizados fora do ambiente laboratorial.

Aplicações práticas

Após a leitura desse capítulo o leitor terá a certeza que a TFB:


• É um método ergogênico interessante uma vez que não viola as re-
gras de espírito esportivo da WADA (World Anti-Doping Agency).
• Com o desenvolvimento tecnológico das malhas de LEDs, que co- brem grande área
muscular, poderão ser uma estratégia para buscar aumento no desempenho durante
competições e/ou treinamentos com um tempo reduzido de aplicação pré exercício.
• Para indivíduos que realizam exercícios com alta aplicação de força muscular e exercícios
com predominância do metabolismo aeróbio (corridas, ciclismo e natação, por exemplo)
poderão se beneficiar com este tipo de estratégia ergogênica.
• Necessita de mais pesquisas sobre os reais mecanismos envolvidos na aplicação TFB.
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CAPÍTULO II 43

AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA UNIDADE


MIOTENDINEA POR MEIO DA ULTRASSONOGRAFIA

Kelly M. M. e Lima

O que você irá encontrar:

• Definição de arquitetura muscular;


• Definição dos parâmetros da arquitetura muscular, como ângulo de penação, comprimento do
fascículo, espessura muscular, área de secção transversa anatômica, área de secção transversa
fisiológica;
• Descrição da importância funcional da avaliação dos parâmetros da arquitetura muscular pela
ultrassonografia de imagem;
• Descrição das técnicas de avaliação das propriedades mecânicas da unidade miotendínea por
meio da ultrassonografia de imagem, como a estimativa do deslocamento da unidade
miotendínea e elas- tografia;
• Aplicação da avaliação das propriedades mecânicas da unidade miotendínea por meio da
ultrassonografia de imagem.

Introdução

O tecido músculo-esquelético é formado por unidades contráteis de- nominadas de fibras


musculares. Estas são circundadas pelo tecido con- juntivo formando feixes, que são responsáveis pela
proteção do múscu- lo e propagação da contração muscular até o tendão e o osso. O epimísio envolve
milhares de fascículos musculares, e, cada um deles, possui um conjunto de fibras musculares envolvidas
pelo perimísio. O endomísio é a camada mais interna do tecido conjuntivo e recobre cada fibra
muscular, que é constituída de milhares de miofibrilas. Estas últimas, finalmente, possuem milhares de
sarcômeros dispostos em série, regiões importantes de contração muscular.
A arquitetura muscular pode ser definida como “o arranjo das fibras musculares relativo ao eixo de
geração de força do músculo”1. A organiza- ção dessas fibras ocorre a nível macroscópico e é um
importante fator na determinação das propriedades contráteis do músculo2. O conhecimento da
arquitetura muscular é imprescindível para o entendimento da função muscular.1
Didaticamente, o músculo pode ser classificado baseando-se na organiza-
ção de suas fibras musculares. Quando as mesmas estão dispostas ao longo do comprimento muscular,
ele é denominado fusiforme e se destaca por proporcionar velocidade de contração muscular e
amplitude de movimen- to (FIGURA 1.2). Caso haja a formação de um ângulo entre a linha de ação
de força das fibras e a aponeurose profunda (FIGURA 1.2), o músculo é dito penado.1 Esse ângulo
varia de 0 a 30º em humanos em repouso1 e pode determinar a quantidade de material contrátil do
músculo.2,3

Figura 1.2 - Ilustração de um músculo fusiforme e penado em repouso e contraído, onde d representa
o deslocamento, F, a força do músculo e (Fd) Fd, a componente efetiva da força.

No entanto, a organização das fibras musculares em humanos apre- senta uma variação inter e
intra-individual. Dessa forma, apenas adotar a classificação de fusiforme ou penado pode gerar
limitações, pois a maioria dos músculos apresentam medidas intermediárias dos parâmetros (por
exemplo, o músculo adutor magno apresenta um ângulo de penação apro- ximadamente de 15° e um
comprimento do fascículo de 15 cm).4 Sugere-se uma análise individual dos parâmetros da arquitetura
muscular, como de- talhada no trabalho de Ward et al.4, descrita a partir de cadáveres.
A arquitetura muscular pode ser determinada em músculos humanos
in vitro através da dissecação de cadáveres4, método que, por exigir téc-
nicas de fixação adequadas e ter sido aplicada em cadáveres idosos, di- ferencia os valores dos
parâmetros da arquitetura muscular do contexto fisiológico real (in vivo). Dentre as técnicas de
imagem que permitem uma avaliação in vivo, destacam-se a ressonância magnética (RM)5–7, a tomo-
grafia computadorizada (TC)8,9 e a ultrassonografia (US). A US ganhou im- portância por ser
considerada uma técnica de medida confiável e de baixo custo para aquisição de imagens do tecido
muscular, ósseo e adiposo.10–12
Além disso, é uma técnica não invasiva, permite a geração de imagens em tempo real com alta
resolução temporal e não emite radiação ionizante.13
Sabe-se que a arquitetura muscular possui características plásticas, podendo se modificar com a
aplicação de intervenções, como o treinamen- to de força14,15 e o alongamento16,17. Nesse sentido, a US
tem sido utilizada para quantificar essas adaptações. Os principais parâmetros da arquite- tura
muscular mensurados pela ultrassonografia são: ângulo de penação (AP), comprimento do fascículo
(CF), espessura muscular (EM) e área de secção transversa anatômica (ASTA). A área de secção
transversa fisiológi- ca (ASTF), apesar de não mensurada pela US, também será abordada de- vido à
sua importância funcional. Os parâmetros da arquitetura muscular serão abordados a seguir.

Ângulo de penação (AP)

O AP refere-se à angulação das fibras em relação à linha de ação da força de deslocamento do


músculo1, como mostra a Figura 2.2 B. O AP representa uma estratégia de economia de espaço em
detrimento da pe- quena redução da componente efetiva da força (13%). Comparando-se dois
músculos com a mesma área de secção transversa, o mais penado contém um maior número de fibras
e material contrátil2,3, fato que o torna mais apto a produzir força.3,18
Na imagem de ultrassonografia, o AP pode ser mensurado como o ân- gulo formado entre a
aponeurose interna (epimísio) e o fascículo melhor visualizado.6,17
O AP tem sido bem investigado em estudos de distintas amostras, como jovens e idosos. Os
resultados demonstram uma redução deste pa- râmetro em músculos dos membros inferiores de idosos
em relação aos jovens19–21, embora não corroborado com outro estudo semelhante.22 Ti- cinesi et al.23
afirmam que a ultrassonografia é promissora em identificar os parâmetros da arquitetura muscular
mas estudos de confiabilidade são necessários já que a técnica é operador dependente. Além disso,
o AP é
sensível às mudanças no ângulo articular e grau de contração muscular, devendo o indivíduo avaliado
permanecer em repouso e em um ângulo articular fixo.23

Figura 2.2 - Acoplamento da sonda de ultrassom (A) para aquisição da imagem do músculo Vasto
Lateral (B) a 50% do comprimento da coxa. Na imagem, podemos visualizar as medidas de alguns
parâmetros da arquite- tura muscular, como a Espessura Muscular (EM), Comprimento da Fibra (CF)
e Ângulo de Penação (AP). (Fonte: Labmusc UFRJ)

A B

Já em estudos envolvendo a aplicação de protocolos de treinamento de força, algumas


adaptações estruturais, como o aumento do AP, foram encontradas6,24–27, apesar de haver variações
nos protocolos e amostras utilizados. Parece que essa adaptação é dependente do tipo de contração,
sendo que a concêntrica promove um aumento do AP, e a excêntrica, do comprimento do
fascículo6,24,28, indicando acúmulo de sarcômeros em pa- ralelo e em série, respectivamente. No
entanto, mais estudos são necessá- rios para esclarecimento dessas adaptações morfológicas.

Comprimento do fascículo (CF)

O CF representa o agrupamento dos sarcômeros em série. Este parâ- metro parece estar
relacionado à capacidade de excursão e velocidade de encurtamento muscular.1–3 Músculos com fibras
mais longas, como o bí- ceps braquial, podem produzir maior amplitude de movimento e maior
capacidade de encurtamento, devido ao maior número de sarcômeros em série.1
O tamanho do CF aproxima-se do comprimento do músculo (CM) em músculos fusiformes, o
que não ocorre em músculos penados. Quanto
maior o valor da relação CF/CM, maior a capacidade de amplitude de mo- vimento e velocidade de
encurtamento muscular.1 De acordo com a relação comprimento-tensão, o músculo varia sua produção
de força (tensão) con- forme seu comprimento e existe um valor de CF adequado (CF ótimo) em cada
músculo capaz de produzir maior tensão.1
Numa imagem de ultrassonografia, o CF é definido como a distância entre a aponeurose
superficial e a profunda do músculo, na direção das fibras musculares, podendo ser mensurado em
uma imagem tradicional17, quando o CF é totalmente visualizado no campo de imagem (FIGURA 2
B), numa imagem panorâmica (extend field of view)29 ou pelas relações trigonométricas, que
permitem uma estimativa desse parâmetro quando o fascículo extrapola o campo de imagem.16
Infelizmente, a ultrassonografia não apresenta uma resolução espacial suficiente para afirmar se
grandes valores do CF representam um fascículo alongado ou um maior número de sarcômeros
dispostos em série.13
Alguns indivíduos apresentam maior aptidão a alguns tipos de esporte devido ao treinamento de
habilidades ou, muitas vezes, devido às caracte- rísticas da arquitetura muscular presentes desde o
nascimento. Estudos envolvendo amostras de corredores demostraram maiores valores do CF dos
músculos vasto lateral e gastrocnêmios em velocistas do que corre- dores de longas distâncias.30 No
entanto, esses achados não foram confir- mados em outro estudo envolvendo somente os
gastrocnêmios.31 Outras características como o tipo de fibra muscular (contração lenta ou rápida) e
recrutamento de unidades motoras devem ser consideradas para elucidar os diferentes níveis de
rendimento entre os indivíduos.
Diversos protocolos de alongamento crônico foram aplicados para in- vestigação das respostas
no CF17,32–34, já que estudos prévios em animais verificaram um aumento desse parâmetro
(possivelmente pelo acréscimo do número de sarcômeros em série ou aumento do comprimento dos
sar- cômeros).35–37 Os resultados dos estudos em humanos foram conflitantes, mostrando um aumento
do CF em indivíduos saudáveis após oito semanas de exercício33 e em pacientes neurológicos após um
ano de intervenção.34
No entanto, outros estudos não verificaram nenhuma alteração após qua- tro32 e oito semanas17 de
aplicação do alongamento. Esses achados suge- rem que outras estruturas, como os tendões e o tecido
conjuntivo, bem como fatores neurais e de tolerância também devem ser investigados em estudos de
alongamento.
Espessura muscular (EM)

A espessura muscular (EM) é considerada a distância perpendicular entre a interface gordura-


músculo e músculo-osso. A EM é uma variável de fácil medição em imagens de US, mostrando ser
útil na estimativa do volume muscular através de equações de regressão, sendo validadas por outras
técnicas de imagem como a RM.5,11
As medidas da espessura muscular em uma imagem de ultrassono- grafia podem ser obtidas em
aquisições com a sonda posicionada longi- tudinalmente (FIGURA 2.2 B) ou transversalmente ao
membro (FIGURA
3.2 A). Para aumentar a confiabilidade das medições, recomenda-se que mais de uma medida seja
feita em uma mesma imagem para o cálculo da média aritmética, já que as aponeuroses nem sempre
estão dispostas pa- ralelamente.38 A medição da EM é, geralmente, realizada no local de maior ASTA
do músculo.2
Assim como a área de secção transversa e AP, uma maior EM pode representar um aumento da
quantidade de material contrátil advinda do treinamento de força.14,25,26 Em contrapartida, menores
valores de EM po- dem significar uma redução de miofibrilas devido à sarcopenia provenien- te do
envelhecimento ou imobilização.22,39 A relação espessura muscular anterior / espessura posterior da
coxa poderia ser um biomarcador de sar- copenia23 em indivíduos idosos, indicando que o músculo
reto femoral é precocemente envolvido (se a relação é menor que um) na perda de massa muscular em
relação ao bíceps femoral.39

Figura 3.2: Acoplamento da sonda de ultrassom (A) para aquisição da ima- gem dos extensores do
joelho (B) mostrando a mensuração da espessura muscular (EM) do reto femoral, entre as
extremidades do tecido adiposo e músculo vasto intermédio numa profundidade de 85 mm. (Fonte:
Lab- musc UFRJ)

A B
Área de secção transversa anatômica (ASTA)

A ASTA é definida como a área de um corte transversal no músculo (FIGURA 4.2). Comparada
a outras variáveis, como a ASTF e volume mus- cular, esta possui relação com a massa muscular pela
relativa facilidade da medida.40 A ASTA pode ser medida pelo ultrassom, ressonância magnética e
tomografia computadorizada.
Observa-se que a ASTA é frequentemente analisada em estudos en- volvendo o treinamento de
força10,41,42, mostrando uma boa relação com a capacidade máxima de produção de força muscular. A
importância funcio- nal de modificações na ASTA de um músculo pode ser observada na sua
contribuição para produção da força total do mesmo.20 Dessa forma, pode-
-se justificar a importância da medida da ASTA de músculos esqueléticos.
Estudos envolvendo o treinamento de força em diferentes protocolos não mostram consenso em
relação à especificidade do treinamento, já que os treinos concêntrico e excêntrico parecem promover
semelhantes res- postas adaptativas de aumento da ASTA.43 A hipertrofia regional tem sido associada
ao tipo de treinamento6,26, mas ainda necessita-se de maior in- vestigação. De modo semelhante,
apesar de confirmada que a sarcopenia afeta mais os músculos dos membros inferiores que
superiores23, não se sabe se algumas regiões são mais comprometidas que outras.

Figura 4.2: Imagens de US com e sem a medição da Área de Secção Trans- versa Anatômica (ASTA)
do músculo Reto Femoral a 50% do comprimento da fibra, onde VI é o Vasto Intermédio. (Fonte:
Labmusc UFRJ)

A ASTF representa o somatório das ASTA de todas as fibras muscula- res dentro do músculo e é
diretamente proporcional à força máxima que pode ser gerada no músculo. Este parâmetro pode ser
estimado por técni- cas de imagem, como a RM e TC, já que não pode ser medida diretamente.
Segundo Lieber e Ward13, a magnitude da força isométrica é determinada pela quantidade de fibras e
sua organização dentro do músculo.13 No en- tanto, é complicado quantificar essas características no
músculo, já que as fibras não percorrem todo o seu comprimento e apresentam-se angula- das em
relação ao eixo de força. Em razão dessa dificuldade, alguns auto- res46,47, ao realizarem biópsias de
músculos animais, desenvolveram uma equação (1.2) que permite a estimativa da ASTF através da
aquisição de outras variáveis.1
Na equação acima, AP é o ângulo de penação (º), CF é o comprimento do fascículo (cm), m é a
massa muscular (g) e ρ é a densidade, assumida como 1,056g/cm3 (músculos de mamíferos).
A estimativa da ASTF tem sido amplamente utilizada em estudos aplica- dos envolvendo treinamento
de resistência48, análise da distribuição de força entre grupamentos como o tríceps sural49, avaliação
do drive neural e a capacidade de geração de força do quadríceps50 e correlação com mar- cadores
inflamatórios de obesos.51 No entanto, para tal estimativa, neces- sita-se de imagens da RM ou TC
para mensuração do volume muscular (m
/ ρ) já que a massa de cada músculo varia entre os indivíduos.

��??��?? =

��×??��?? ????
?? ��??

(Eq. 1.2)

Avaliação das propriedades mecânicas do tecido bio- lógico

A avaliação das propriedades mecânicas do tecido biológico in vivo é de suma importância para
diagnóstico e prognóstico de doenças52,53, aná- lise do efeito de intervenções sobre a unidade
miotendínea (UMT)54–56 e caracterização do ponto de vista biomecânico.57–59
Esta avaliação pode ser realizada pela palpação, que, apesar de subjetiva, ainda é bastante utilizada na
prática clínica para identificação de doen- ças, como tumores e fibroses. A mensuração da amplitude
de movimento articular, por meio da goniometria, auxilia a análise da rigidez tecidual, mas é
inespecífica para indicar se uma possível limitação é decorrente dos elementos contráteis ou passivos.
Outro método consiste na análise da relação torque passivo-ângulo articular, adquirida no
dinamômetro iso- cinético. No caso do tríceps sural, por exemplo, obtêm-se a relação torque passivo-
ângulo de dorsiflexão do tornozelo e o coeficiente angular da reta de regressão formada por esta
relação, nos últimos graus de dorsiflexão,
representa o índice de rigidez passiva da UMT.60
A ultrassonografia é uma técnica que, além de possibilitar a análise da arquitetura muscular,
promoveu avanços importantes na avaliação das propriedades mecânicas do tecido biológico. O
ultrassom modo-B permite estimar alguns parâmetros mecânicos como tensão, deformação e módu- lo
de Young da UMT, a partir de medições dos deslocamentos da junção miotendínea (FIGURA 5.2) ou
de uma fibra muscular, durante o repouso e contração ou mobilização passiva.60–64 Essas medições são
feitas adotan- do-se um ponto de referência e os valores do deslocamento são incluídos em equações
de regressão para as estimativas. Quanto maior o desloca- mento do tecido, maior a sua complacência.

Figura 5.2: Imagem ecográfica mostrando o deslocamento (linha amarela) da junção miotendínea do
tríceps sural (representada pela linha branca tracejada) durante a mobilização passiva do tornozelo. A
imagem A se re- fere à plantiflexão, B, posição articular próxima à neutra e C, dorsiflexão máxima
(fonte: Laboratório de Biomecânica, PEB/UFRJ).

A B C

No entanto, a imagem de ultrassom modo-B não disponibiliza infor- mações das propriedades
mecânicas da UMT em tempo-real65, uma vez que regiões de níveis distintos de rigidez ou
deformação apresentam se- melhante ecogenicidade.66 Isso ocorre porque a onda longitudinal, respon-
sável pela formação da imagem modo-B, não é sensível para diferenciar distintos graus de rigidez do
meio.
Uma técnica que tem despertado interesse em pesquisadores e clínicos é a elastografia, já que
possibilita a aquisição de valores da elasticidade do meio de forma não invasiva e em tempo real,
reduzindo os erros de esti- mativa do uso da imagem modo-B e possibilitando a aquisição de infor-
mações clinicamente relevantes. A elastografia foi desenvolvida há pouco mais de 20 anos e seu
princípio baseia-se na aplicação de uma força gerada
por uma fonte externa ao tecido examinado para induzir uma distribuição de tensão quase-estática ou
dinâmica (transitória).65
Alguns parâmetros como deformação ou módulo de cisalhamento podem ser obtidos pela elastografia
e são relacionados à rigidez, ou seja, quanto menor a deformação ou maior o valor do módulo de
cisalhamento, mais rígido é o tecido.
A elastografia do tipo quase-estática caracteriza-se pela produção de uma deformação relativa
(strain) longitudinal e transversal no tecido a partir da aplicação de compressões e descompressões
cíclicas e manuais no mesmo (FIGURA 6.2). Uma correlação cruzada dos sinais de radiofre- quência
é utilizada para diferenciação do sinal antes e após a compressão do meio analisado. O elastograma
aparece dentro de uma região de in- teresse e contém um mapeamento em cores representativo de
diferentes graus de complacência.66–70

Figura 6.2: Esquema da elastografia quase-estática mostrando o desloca- mento do tecido em


diferentes graus de elasticidade (mole e rígida), antes e após a compressão manual. A derivada do
deslocamento gera a imagem de deformação do meio. Na escala de cores (à direita) da imagem, a cor
azul relaciona ao tecido mole e a cor vermelha, ao meio rígido. (Prado-Costa et al.71, permissão obtida
pela Creative Commons Attribution 4.0 Internatio- nal License). Adaptado de
https://link.springer.com/article/10.1007%-
2Fs13244-018-0642-1.

A elastografia quase-estática pode ser analisada semi-quantitativa- mente, por meio da


determinação de índices de deformação entre os teci- dos, como no gorduroso e tendíneo, utilizado no
estudo de Drakonaki et al.67 Esse índice (Figura 7.2) é calculado a partir da razão entre a deforma- ção
de uma região de interesse e outra de referência.72 No entanto, a maio- ria dos estudos envolvendo a
elastografia quase-estática do tecido biológi- co o avalia de forma qualitativa, através da visualização
da distribuição de cores correspondentes a deformação em várias regiões dos tecidos.
O elastograma aparece dentro de uma região retangular de interesse e apresenta-se com as cores
sobrepostas à imagem modo-B, como mostra a Figura 7.2. A escala de cores é arbitrária, apesar de
descrita na literatu- ra variando do vermelho (tecidos de maior deformação) a azul (tecidos mais
rígidos), com o amarelo e verde representando uma deformação in- termediária.67,69,73 O mapeamento
da deformação tecidual pela elastografia quase-estática impõe vantagens sobre a ultrassonografia
tradicional, visto que são oferecidas maiores informação sobre as propriedades mecânicas do tecido,
importantes para o diagnóstico precoce de lesões, bem como análise do comportamento biomecânico,
tratando de tecidos músculo-ten- díneos.68,74
Estudos sobre a confiabiliade da elastografia quase-estática são des- critos na literatura. De
Zordo et al.70 relataram uma excelente correlação (r=1,00) entre a sonoelastografia estática e
ultrassonografia modo-B ao avaliarem a deformação de tendões calcaneares sadios e sintomáticos.
Drakonaki et al.67, ao analisarem a deformação de 50 tendões calcaneares sadios, relataram um
coeficiente de correlação intraclasse (CCI) inter-exa- minadores, no plano longitudinal, variando de
0,51 a 0,78 e um coeficiente de variação (CV) inter-examinadores, nas medidas do plano longitudinal,
variando de 29,60% a 30,50%.67 Os resultados de confiabilidade descritos para músculos apresentam
melhores resultados de confiabilidade (CCI=
0,88 a 0,99).75,76
Os métodos elastográficos dinâmicos baseiam-se na propagação de on-
das de cisalhamento para a caracterização de propriedades mecânicas.77,78
No início deste século, a chamada Supersonic Shear Imaging (SSI) foi de- senvolvida, gerando
avanços na área clínica (oncológica) e biomecânica. O sistema ultrassônico desta técnica opera em
dois modos, sendo eles o pushing e o imaging. Primeiramente, o sistema opera no modo pushing,
emitindo uma força de radiação acústica, por meio de um transdutor ul- trassônico focalizado
eletronicamente, em quatro profundidades sucessi- vas. Consequentemente, são criadas duas frentes
de onda de cisalhamento quase planas se propagando em sentidos opostos no tecido de interesse.
Posteriormente, o sistema opera no modo imaging, o qual detecta a vi- bração do meio devido à
propagação da onda de cisalhamento, a uma alta frequência de aquisição de imagens (3000 a 6000
imagens por segundo). Dessa forma, a rigidez (módulo de cisalhamento) pode ser estimada a par- tir
da velocidade de propagação da onda de cisalhamento, já que essa onda se propaga mais rapidamente
em meios rígidos.65
Figura 7.2: Elastograma (à esquerda da imagem) do músculo vasto lateral gerado no plano
longitudinal. Os gráficos à direita representam o índice de elasticidade (E) da região de interesse (ROI)
superficial (B, amarela) e pro- funda (A, verde). O gráfico intermediário mostra a curva da razão do
índice de elasticidade (ROI profunda / ROI superficial) e o último gráfico, a curva de diferença do
índice de elasticidade (ROI profunda – [ROI superficial]). (Fonte: Centro de Desportos, Laboratório
de Biomecânica, UFSC).

Como vantagens, a técnica necessita de menor dependência do exa- minador e possibilita a


aquisição de informações quantitativas, como o módulo de cisalhamento (µ), medido em kilopascal
(kPa) (FIGURA 8.2).59
Além disso, as ondas de cisalhamento podem ser utilizadas para originar elastogramas em regiões
onde a compressão manual não é possível ou ine- ficaz para produzir a deformação do tecido.79
Figura 8.2: Imagem elastográfica dos músculos bíceps braquial (BB) e bra- quial (BR) gerada pela
técnica Supersonic Shear Imaging. A escala de co- res fornece uma informação qualitativa e
quantitativa (0-180 kPa). (Fonte: Laboratório de Biomecânica da UFRJ).

Comparando os dois métodos elastográficos descritos acima, a elasto- grafia quase-estática


disponibiliza dados apenas qualitativos da deforma- ção relativa, já que o valor do stress manual
aplicado é desconhecido. Além disso, a compressão exercida é operador-dependente, o que pode gerar
li- mitações na confiabilidade da técnica67 e, finalmente, possibilita avaliações apenas de tecidos
superficiais.65 A vantagem da utilização da elastografia quase-estática consiste na facilidade de
implementação da técnica no equi- pamento de ultrassom e custo relativamente baixo, o que tem
impulsiona- do a aquisição da técnica por parte dos clínicos.65 A SSI, por prover dados quantitativos e
ser independente do examinador, tem sido cada vez mais utilizada em estudos envolvendo a análise do
comportamento biomecâ- nico da UMT.58,59,80–82 No entanto, tem o inconveniente do alto preço do
equipamento.
A aplicação da elastografia em tecidos musculoesqueléticos, especifi- camente músculos e
tendões, tem despertado interesse em pesquisadores e clínicos, visto que possibilita a caracterização
da unidade miotendínea (UMT)59, diagnóstico precoce e acompanhamento de estágios de lesão ou dor
muscular tardia.83,84 Além disso, a identificação de possíveis alterações
mecânicas da UMT traz contribuições importantes para a compreensão dos mecanismos envolvidos
nas adaptações do sistema músculoesqueléti- co à intervenções, como o alongamento.56,82,85
De acordo com os estudos, a técnica mostra-se eficaz na avaliação das propriedades mecânicas do
tecido em situações de repouso86, contração87, estiramento80; após a aplicação de intervenções como
alongamento81,82, fortalecimento88 e liberação miofascial55 ou condições como a fadiga89 e lesão
induzidas.90 Os resultados dos trabalhos envolvendo o estiramen- to e contrações estáticas
mostraram um aumento do módulo de cisalha- mento à medida que o músculo ou tendão tornavam-se
mais alongados ou quando o músculo era mais solicitado para produção de força. Os efeitos do
alongamento e liberação miofascial aplicados ao músculo reduziram o módulo de cisalhamento,
enquanto que a indução de lesão promoveu au- mento dessa variável, comparando-se ao grupo
controle. No entanto, mais trabalhos envolvendo distintas amostras e diferentes tipos e volumes de
intervenções são necessários para assegurar a confiabilidade e validade da elastografia.91
Espera-se que num futuro próximo, o ultrassom contendo a elasto- grafia quase-estática possibilite
ao examinador um maior controle de suas variáveis de aquisição e que a elastografia dinâmica seja
mais acessível aos profissionais da saúde. Dessa forma, espera-se um aprimoramento no diagnóstico,
prognóstico e monitoramento terapêutico de lesões no tecido músculo-tendíneo.
Em suma, a ultrassonografia é uma técnica utilizada há muitos anos na prática clínica e desde a
última década tem se mostrado promissora para aplicação em biomecânica. Essa técnica possibilita a
avaliação da es- trutura macroscópica da unidade miotendínea (fascículos), permitindo a identificação
da arquitetura muscular. Os parâmetros da arquitetura mus- cular relacionam-se com a sua função e
apresentam características plásti- cas, podendo se modificar com a aplicação de estímulos ou em
condições fisiológicas. O ângulo de penação parece reduzir-se com o envelhecimento e aumentar com
o treinamento de força concêntrico. Apesar do aumento do comprimento do fascículo estar bem
documentado em animais após o alongamento passivo, em músculos humanos ainda não foi bem
elucidado. A área de secção transversa anatômica e espessura muscular também se modificam após o
treinamento de força, aumentando seus valores devido ao maior acúmulo de material contrátil. Em
contrapartida, com o envelhe- cimento, esses parâmetros tendem a diminuir devido à sarcopenia.
A avaliação das propriedades mecânicas da unidade miotendínea por
meio da ultrassonografia também tem despertado o interesse dos pesqui- sadores, pois permite a
análise de estruturas isoladas e muitas vezes em tempo real (elastografia). Estudos envolvendo a
análise de respostas agu- das e crônicas à aplicação de intervenções e objetivando a caracterização do
tecido músculo-tendíneo em diferentes populações têm sido desenvol- vidos por meio da elastografia.
A rigidez muscular parece aumentar duran- te o estiramento e contração e reduzir após a aplicação do
alongamento e liberação miofascial. No entanto, mais estudos são necessários para confir- marem e
esclarecerem a magnitude dessas respostas.

Aplicações práticas

• A ultrassonografia aplicada à UMT pode permitir:


• O monitoramento de respostas agudas e crônicas após a execução de exercícios para
reabilitação e prevenção;
• Caracterização de diferentes arquiteturas e níveis de rigidez do te-
cido;
• Determinação de protocolos de exercícios mais eficientes;
• Identificação de alterações previamente à instalação de patologias;
• Acompanhamento da recuperação do tecido e prognóstico, em caso de lesões.

Nota do autor : Os descritores utilizados para busca dos estudos envol- vendo a temática foram:
muscle architecture, ultrasound, elastography, biomechanics, strength, fiber length, fiber thickness,
cross sectional area, pennation angle.
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CAPÍTULO III
DINAMOMETRIA ELETROMECÂNICA: APLICAÇÕES PRÁTICAS
E CIENTÍFICAS NO ESPORTE E NA SAÚDE

Josefina Bertoli
Cíntia de la Rocha Freitas

O que você irá encontrar:

• Aspectos históricos da dinamometria eletromecânica e sua utilida-


des na saúde e no esporte;
• Obtenção e cálculo dos parâmetros musculares obtidos a partir da dinamometria
eletromecânica;
• Escolha da velocidade angular, tipo e número de contrações mus- culares de acordo com o
objetivo do avaliador e recomendações para aplicações antes e durante um teste no dinamômetro
eletromecâni- co;
• Diferentes cálculos da normalização e correção pela gravidade do torque;
• Pesquisas científicas e treinamento de força aliados à Ciência com a dinamometria
eletromecânica.

Introdução

No presente capítulo, serão abordados os aspectos históricos e conceituais da dinamometria


eletromecânica, assim como também as va- riáveis ou parâmetros de utilidade na pesquisa científica e a
para a prática do profissional de Educação Física e Fisioterapia. Investigações científicas com diversos
grupos etários e características específicas, evidências sobre o uso do dinamômetro eletromecânico como
meio de treinamento de for- ça, também são abordadas. Este capítulo foi elaborado a partir da busca de
artigos científicos, na sua maioria de cunho internacional, os quais foram adquiridos na base de dados
PubMed.gov e ScienceDirect.com. Já os arti- gos nacionais, foram obtidos na base de dados Scielo.org.

Introdução à dinamometria eletromecânica

Com o avanço da Ciência na área da Biomecânica e, com o intuito de melhor entender o


funcionamento muscular, diversos instrumentos de avaliação foram desenvolvidos1–3. Dentre eles,
podem ser citados o dina-
mômetro eletromecânico, que é utilizado com diversos fins. Seja em pes- quisas transversais ou
longitudinais, como por exemplo, na avaliação do efeito de uma intervenção na produção de força de
diferentes grupos mus- culares em um ou mais grupos específicos, sejam em crianças4, jovens5,
idosos6, pessoas com deficiências7, atletas e paratletas de distintas moda- lidades⁸. Esse equipamento
também é utilizado na reabilitação de lesões músculo-tendíneas, assim como para o fortalecimento
muscular⁹.
Quanto à sua configuração eletromecânica mecânica, o dinamômetro possui um sistema
servomotor, o qual foi patenteado em setembro de 1969 por Perrine10 nos Estados Unidos (Figura 1.3).
Segundo Sapega11, na dé- cada de 80, o seu uso foi disseminado com o objetivo de avaliar a função
muscular e a partir daí, o mesmo tem sido aprimorado constantemente ao longo do tempo,existindo
hoje vários modelos como o Biodex System 3 e 4 (Figuras 2.3 e 3.3, respectivamente) e CSMI (Figura
4.3).

Figura 1.3.Patente do Dinamômetro Eletromecânico em 1969 nos Estados

Unidos, fonte Perrine10.

Atualmente, este dinamômetro é comumente chamado de dinamôme- tro isocinético, em que isso
significa igual e cinético significa movimen- to, devido à possibilidade de mensurar a força muscular
a partir de con- trações isocinéticas. As contrações isocinéticas ocorrem quando em uma contração
muscular a velocidade de movimento permanece constante, in- dependentemente da magnitude da
força gerada pelo sujeito avaliado. A velocidade de contração muscular é medida em velocidade
angular, graus por segundo (º/s)(12). Apesar do termo dinamômetro isocinético ser mui- to utilizado,
contrações isométricas e isotônicas também são possíveis de
serem mensuradas. Além disso, a amplitude de movimento é previamente estabelecida pelo avaliador
em quaisquer das contrações musculares aci- ma citadas13.

Figura 2.3 - Dinamômetro eletromecânico


Biodex System 3,
USA. Fonte Manual BIODEX

MULTI-JOINT SYSTEM - PRO

Figura 3.3 - Dinamômetro eletromecânico


Biodex System 4, USA.

Fonte: Manual BIODEX MULTI-JOINT SYSTEM - PRO


Figura 4.3 - Dinamômetro eletromecânico Human Norm, USA. Fonte: CSMI Medical
Solutions Manual.
Parâmetros musculares obtidos por meio da dinamo-
metria eletromecânica

O dinamômetro eletromecânico, seja qual for o modelo utilizado, per- mite mensurar diferentes
parâmetros ou variáveis em distintos grupos musculares como o torque, a potência, a fadiga e o
trabalho mecânico, des- critos a seguir14.

• Torque: representa a força ou momento que se dá em um pon- to de aplicação em uma


alavanca durante um movimento rotacio- nal, representado pelo produto da força aplicado em
um ponto pela distância do ponto de aplicação dessa força com respeito ao centro de rotação
do eixo de movimento, Eq 1.3. A unidade de medida é expressa Newtonmetro (N.m), cujo
resultado pode ser apresentado em valores absolutos ou em valores normalizados pela massa
corpo- ral, e o valor absoluto é dividido pela massa corporal do avaliado14,15. Mais detalhes
sobre a normalização serão desenvolvidos no tópico seguinte.

Torque (τ) = F. d, Eq. 1.3

onde: F= força d= distância do braço de alavanca.

Na dinamometria isocinética é utilizado o pico de torque, o qual re- presenta o ponto de maior
produção de força na amplitude de movimento previamente determinada pelo avaliador14. O torque
médio também é for- necido pelo equipamento, entretanto é menos utilizado. Por outra parte, em
contrações concêntricas e excêntricas, o torque e a velocidade angular são grandezas inversamente
proporcionais, de modo que quanto maior for a velocidade angular, menor será a produção de torque e,
quanto menor a velocidade angular, maior será o torque gerado15.

• Trabalho mecânico: este parâmetro refere-se à energia produ- zida em uma contração
muscular durante o movimento, ou seja, o resultado obtido a partir do trabalho mecânico está
estreitamente relacionado com a capacidade de um músculo ou grupo muscular de produzir
força ao longo da amplitude de movimento, na qual o movimento foi testado. Para que haja
trabalho mecânico, é necessá- rio que ocorra um deslocamento14,15. Portanto, o dinamômetro
ele-
tromecânico somente é capaz de fornecer este parâmetro em con- trações dinâmicas, sejam
elas concêntricas ou excêntricas. O valor do trabalho mecânico é obtido por meio da área
abaixo da curva de torque de acordo a posição angular, Eq. 2.3. A unidade de medida é dada
em Joules (J), podendo ser expresso em valores absolutos ou em valores relativos à massa
corporal, onde o trabalho mecânico se divide pela massa corporal do avaliado. Da mesma
forma que o tor- que, o trabalho é inversamente proporcional à velocidade angular15.

Trabalho (τ) = P.t , Eq. 2.3

onde P = potência vezes o t = tempo.

Diferente dos valores de torque, que se referem a um ponto específico da amplitude de


movimento, o valor do trabalho reflete a capacidade que a musculatura ou grupo muscular possuem de
gerar força ao longo de toda a amplitude de movimento. O valor do trabalho é dado pela área sob a
curva de torque por posição angular e é expresso em joules16.

• Potência: refere-se à velocidade com a qual um músculo ou gru- po muscular é capaz de


produzir trabalho mecânico. Portanto, a po- tência é obtida a partir da divisão do trabalho
pelo tempo expresso em Watt (W), Eq. 3.3. Como a velocidade angular é diretamente
proporcional à potência, diferentemente do torque e do trabalho mecânico, quanto maior a
velocidade angular, maior será a potência obtida e vice-versa. Assim como os parâmetros
acima descritos, a potência pode ser representada em valores absolutos e relativos à massa
corporal14,15.

Potência (P) = τ/t, Eq. 3.3

onde τ(tau) = trabalho em Joules dividido o t = tempo.

• Fadiga: o índice de fadiga é obtido no dinamômetro eletromecâ- nico, representa a


resistência dos grupos musculares e a redução da produção de torque após várias contrações
musculares. De forma prática, para obter o índice de fadiga, comparam-se as primeiras e
as últimas repetições de determinado movimento ou se avalia a inclinação descendente da
curva relacionada à perda de torque e/ou
trabalho mecânico(15,17,18). De acordo com Terreri14, por meio do índice de fadiga, pode
ser avaliado também o índice de resistência. Segundo estes autores para poder obter o índice
de fadiga o número de repetições avaliado deve ser iguais ou maior que seis.
Para o cálculo do índice de fadiga existem diversas fórmulas adotadas. Com isso, é realizado um
cálculo de proporção em porcentagem, se o resul- tado da segunda metade do teste teve um valor de
60% quando comparada à primeira metade, a diferença de 40% seria o índice de fadiga da metade
final(14). De acordo com esses autores, tal resultado representa a energia utilizada no metabolismo
anaeróbio. Outros autores19 descrevem o índice de fadiga obtido no dinamômetro como o trabalho
realizado no terço ini- cial dividido pelo trabalho realizado no terço final. Os dados são calculados pela
queda do percentual, utilizando o valor gerado no dinamômetro. Para Rossato et al.20 o cálculo é
realizado pela equação 4.3:

IF = ([média das últimas 15 contrações do torque / média das


primeiras 15
Fórmula para o cálculo do índice de fadiga (IF) por Rossato et al. (20).

• Razões de torque: muito utilizado como índice de lesões da musculatura antagonista, as


razões de torque fornecem informa- ção sobre o equilíbrio muscular agonista/antagonista,
identificando déficits musculares, podendo ser mensurado em grande parte das articulações
do corpo humano19,20. Quanto maiores forem os dese- quilíbrios musculares, maiores as
possibilidades de ocorrência de lesões musculares, principalmente durante a prática esportiva.
Para mensurar o equilíbrio agonista/antagonista, pode ser utilizado o pico de torque, o
trabalho ou a potência muscular, em que se di- videm os valores obtidos da musculatura
agonista pela antagonis- ta, cujo resultado é dado em porcentagem representando, assim, a
proporção desses parâmetros entre os grupos musculares avaliados. Mais especificamente,
divide-se o valor obtido dos músculos flexo- res pelo músculos extensores da musculatura
de interesse. Quando o equilíbrio muscular é mensurado a partir do trabalho ou do pico de
torque, velocidades angulares lentas são utilizadas, enquanto que velocidades angulares mais
altas são empregadas para a potência (Figura 5). Dentre os grupos musculares mais
avaliados, encon- tram-se os da articulação do joelho14,15.
Além disso, as razões de torque são comumente classificadas na prática
e na literatura convencional e funcional. A primeira trata-se da divisão do valor obtido em uma
contração concêntrica da musculatura agonista, pela contração concêntrica do músculo agonista. Já a
razão de torque funcional, é calculada a partir da divisão do pico de torque da musculatura flexora de
uma contração excêntrica, pelo pico de torque dos músculos extensores de uma contração concêntrica.
Além disso, existem valores normativos para as razões de torque convencionais nos diferentes grupos
musculares, de acordo com a idade, tipo de prática esportiva e lesões musculoesqueléticas. Estudos21,22
apontam que as razões de torque convencional dos flexores/ extensores do joelho encontram-se em
torno de 60%. Desse modo, a di- ferença entre os músculos extensores, mais fortes, com os
flexores, que são mais fracos, é de 40%. Quanto à razão de torque funcional do joelho, considera-se
1 ou 100% ou próximo a esse valor, como o ideal para evitar incidências de lesões14,15,23.
Quanto à articulação do quadril, a partir de um estudo de revisão24, ob- servou-se que na posição
em supino dorsal, as razões de torque dos mús- culos flexores-extensores apresentavam valores entre
37 a 74%, já na po- sição em pé os valores se encontravam entre 104 a 130%25,26. Estes últimos
valores são similares aos encontrados por Bertoli et al.27 que avaliaram idosas saudáveis antes e
após uma intervenção com Pilates de solo. Castro et al.24, no seu estudo de revisão, observaram que
para a abdução-adução do quadril, as razões de torque avaliadas na posição deitada, todos os es- tudos
mostravam valores entre 64 a 78%, exceto o de Morcelliet et al28 que foram de 141%. No entanto, na
posição em pé para os abdutores-adutores do quadril, Castro et al. 26 observaram que os estudos
divergiam, com valo- res de 57 a 172%(29). Estes autores também encontraram nos estudos, que, para
os rotadores internos-externos na posição sentado com ângulo de 90º da articulação do quadril entre
155 a 248% e na posição deitada em supino dorsal com o joelho flexionado a 90º, valores dos rotadores
internos-exter- nos entre 123 a 134%(26). Entretanto, Castro et al.24 salientam que, deve-se ter cautela
com esses achados e não se pode estabelecer valores norma- tivos para a articulação do quadril, já que
foram incluídos estudos com amostras a partir de 10 participantes, considerando um tamanho amostral
baixo, participantes a partir de 18 anos e sem acometimento de lesões.
Para as razões de torque convencional dos músculos dorsiflexores/ plantiflexores do tornozelo,
parece que os valores 64 e 63% são os que se encontram dentro da normalidade para as velocidades
angulares de 60 e
120 º/s30 em pessoas saudáveis. Para as razões de torque dos eversores/
inversores, os valores 93 e 91% nas velocidades angulares de 60 e 120 º/s
foram encontrados30 também em pessoas sem comprometimento nessa articulação. Quanto às razões
de torque dos músculos flexores-extensores do tronco, um estudo31 mostrou que homens e mulheres
jovens apresenta- ram uma média de 133%.
Além das razões de torque já citadas, o equilíbrio muscular agonista/ antagonista também pode
ser avaliado pela divisão do pico de torque da musculatura agonista de uma contração excêntrica pelo
pico de torque do antagonista, também de uma contração excêntrica32. Contudo, poucos são os estudos
utilizando este tipo de razão de torque. Impellizeri et al.32 acha- ram valores de equilíbrio muscular de
53% em velocidades angulares de
60º/s dos músculos flexores e extensores do joelho, próximos aos valores para a razão convencional.
A partir dos estudos acima descritos, percebe-se que grupos musculares que se encontram no tronco,
quadril e tornozelo, pesquisas precisam ser desenvolvidas em populações e faixas etárias específicas
com um tama- nho amostral representativo, para assim poder obter valores de razões de torque
normativos. Além disso, não todos os grupos musculares tem sido avaliados com respeito a este
parâmetro muscular.

• Tempo de aceleração: segundo Terreri15 é o tempo em segun- dos, décimos ou centésimos


de segundo necessário para que a velo- cidade angular desejada seja alcançada durante a
contração muscu- lar no início do movimento.

No caso de coleta de dados ou reabilitação utilizando o dinamômetro eletromecânico, Terreri et


al.15 fazem recomendações importantes. Entre elas, podem ser citadas as seguintes:
Utilizar velocidades angulares altas para tratamentos de recuperação e re- abilitação, sejam pós
cirúrgico ou não, já que exigem menor produção de força, por conseguinte são menos dolorosas;
Realizar diminuição gradativa da velocidade angular e do número de re- petições à medida que o
paciente progredir na recuperação e não houver processos inflamatórios;
Para reabilitação e testes, o paciente/participante deverá realizar aquecimento prévio na bicicleta
ergométrica ou esteira por pelo menos cinco minutos;
• Em ambos os casos, reabilitação ou teste, realizar aquecimento espe- cífico da articulação de
interesse com velocidades angulares em torno ou acima de 120º/s, entre 10 a 15 repetições com
esforço submáximo;
• Explicar com clareza o protocolo para o paciente/participante, as- sim como mencionar
sobre possíveis desconfortos que possa vir a sentir;

Para testes, é recomendada uma sessão prévia para familiarização com o dinamômetro com
esforço submáximo. Após não menos de 48 horas, realizar o teste propriamente dito. No caso de a
familiarização ser inviável em dia separado ao teste, podem ser feitas repetições com esforço submá-
ximo para familiarizar com o equipamento e com o teste, a fim de diminuir os erros de medida.
Levando em consideração a confiabilidade dos testes no dinamômetro eletromecânico, cujos
coeficientes de correlação se en- contram entre 0,93 e 0,9919.

Figura 5.3. Velocidades angulares e número de repetições de acordo com o parâmetro avaliado (pico
de torque, trabalho mecânico, potência e índice de fadiga).
Normalização pelo peso corporal e correção pela gra- vidade
A produção de força muscular, muito estudada em diferentes populações, é influenciada por diversos
fatores como o sexo, a idade, o nível de atividade física, entre outros. Contudo, a literatura aponta que a
massa corporal é um dos fatores principais que pode alterar o resultado do torque ou da força muscular
(FM)34.Vários estudos têm sido desenvolvidos para determinar qual seria o pro- cedimento mais adequado
para normalização pela massa corporal do torque e da força, e assim minimizar o efeito desta variável nas
variáveis de interesse34–38. De acordo com Jaricet al.34, diferentes expoentes devem ser utilizados depen-
dendo se for mensurado o torque ou a FM, já que esta última depende da área de secção transversa do
músculo e o torque depende da FM multiplicado pelo braço da alavanca, o qual varia de acordo com o
seu comprimento. Assim, o cálculo é realizado por meio de razões entre a FM e a massa corporal e o
torque também é dividido pela massa corporal, cada um com um expoente diferente de acordo com o grupo
muscular e teste utilizado34.
Dessa forma, autores sugerem a utilização de uma escala alométrica, onde a normalização é
baseada na teoria da similaridade geométrica que assume a diferença entre o tamanho corporal e
similaridade dos segmen- tos corporais34,38. A escala alométrica é uma técnica de normalização que
divide a FM ou torque pela massa corporal elevada a uma potência que remove o efeito do tamanho
corporal30. A equação utilizada para normali- zar a força é
Fn = Fm/mb, onde Fm é a força muscular não normalizada, m a massa corporal, b é o valor alométrico
e, Fn é a força dependente da massa cor- poral26.
Segundo Jaric et al.34, os valores alométricos (valores-b) para o tor- que(b = 0,41 – 1,01) são
maiores do que os obtidos para normalizar a Fm (b = 0,45 – 0,97). Em ambos os casos, a contração
avaliada foi isométrica, para o torque foi utilizado um dinamômetro isocinético e para a FM, uma
célula de carga. Portanto, o torque e a força muscular devem ser norma- lizados de forma diferente.
Além disso, parece haver uma variabilidade nos valores alométricos entre os diferentes testes de
força, por exemplo, para a normalização do torque dos diferentes grupos musculares, Jaric et
al.26encontram os seguintes coeficientes alométricos: para os flexores e extensores do cotovelo =
1,01 e 0,97, para os flexores e extensores do joe- lho = 1,01 e 1,39 e, para os flexores e extensores
do quadril = 1,28 e 0,41, respectivamente. De acordo com esses autores, devido à média para to-
dos os grupos musculares apresentarem proximidade entre eles, sugerem o uso do 0,67 para o valor b
no método alométrico para a FM e 1 para o valor b no método de razão standard. Portanto, para o
torque, de acordo com esses fatores, não precisaria da escala alométrica para normalização,
simplesmente utilizar a razão standard (T/massa corporal).
Por outro lado, Folland38 observou que em contrações musculares di- nâmicas não houve efeito da
velocidade angular no expoente alométrico, porém a massa corporal teve uma influência crescente nos
índices de força. Com isso, esses autores sugerem que a força seja normalizada pela massa corporal
em populações com percentual de gordura < 20% com expoentes de 0,66 para a FM e 1 para o
torque, já para populações com percentual de gordura > 20%, expoentes de 0,45 para a FM e 0,68
para o torque. No entanto, Folland38 afirmam que a massa livre de gordura deveria ser o ín- dice
utilizado para a normalização da Fm e do torque, utilizando expoentes alométricos 0,76 e 1,12 para a
FM e o torque respectivamente.
Embora estes estudos tentaram buscar a melhor forma de diminuir o efeito da massa corporal
sobre a produção de torque e FM para poder comparar resultados entre sujeitos, em grande parte dos
estudos, é obser- vada a utilização da razão standard de normalização, principalmente para a produção
força e torque, independentemente da contração muscular e grupo muscular avaliado.
Além da massa corporal, os testes realizados no plano vertical tam- bém são influenciados pela
força da gravidade. De acordo com Bazett et al.37, o torque mensurado em um dinamômetro é
influenciado pela torque muscular produzido durante uma determinada contração, mas também pela
força da gravidade e os componentes elásticos passivos de articulação avaliada27. Segundo estes
pesquisadores, a força gravitacional dá-se devido ao peso do segmento e da alavanca do dinamômetro.
Esses fatores podem ocasionar erros de medida. Portanto, a literatura aponta que devem ser
corrigidos. A força gerada pelos componentes elásticos passivos, ocor- re devido à deformação
dos tecidos que compõem a articulação, dentre eles, músculos, tendões e ligamentos35. Desta forma,
segundo Anderson35, é necessário determinar os componentes elásticos passivos intervenien- tes e
subtraídos dos resultados obtidos. Consequentemente, a produção de torque obtido no dinamômetro
não reflete 100% o torque muscular e sim, o torque gerado devido à resultante da força muscular e da
força da gravidade. Assim sendo, alguns estudos propuseram, a partir de modelos matemáticos
complexos, corrigir o torque muscular pela gravidade34,35,36,39.
Contudo, as várias pesquisas envolvendo Ciências do Esporte, Fisiote-
rapia, Educação Física, entre outras áreas, não realizam esta correção pela gravidade nos resultados
obtidos na produção de torque muscular40–42. Talvez, devido aos procedimentos matemáticos
complexos que implicam este método. Por outro lado, se quisermos comparar participantes de di-
ferentes características, ou mesmos participantes ao longo do tempo, se mantivermos sempre o mesmo
padrão de avaliação, é possível obter dados confiáveis e válidos para comparação intra e inter sujeito,
se a correção pela gravidade for inviável para o avaliador.

Evidências prático-científicas no esporte e na saúde

Na Ciências da Saúde e mais especificamente na Biomecânica, que por sua vez tem estreita
relação com a primeira, o dinamômetro eletromecâni- co é considerado um instrumento de avaliação
padrão ouro43,44. Portanto, pesquisadores têm desenvolvido investigações com os mais diversos fins
e populações diversas, desde crianças4, adolescentes, jovens45, adultos46, idosos47, atletas48, paratletas8,
entre outros, utilizando os parâmetros aci- ma citados.
Dentre os grupos estudados na área da dinamometria, crianças com paralisia cerebral (PC) têm
sido alvo de diversas investigações. Em uma pesquisa onde foi utilizado o dinamômetro
eletromecânico49, foi compa- rado o pico de torque e trabalho mecânico dos músculos flexores e
exten- sores do joelho, a relação entre essas duas variáveis com a área de secção transversa e volume
muscular da coxa entre crianças com desenvolvimen- to normal comparadas com crianças com PC.
Foram avaliados o pico de torque e o trabalho mecânico dos músculos flexores e extensores do joelho
na contração concêntrica a 60º/s e, o pico de torque isométrico a 90º de flexão do joelho.
Os resultados desta investigação apontaram que as crianças com PC fo- ram significativamente mais
fracas para todas as avaliações de força. Mais especificamente, crianças com PC apresentaram pico
de torque isomé- trico dos músculos flexores 29% inferior, pico de torque isocinético 29% inferior e
trabalho mecânico 53% menor, comparadas ao grupo com de- senvolvimento normal. O pico de
torque dos extensores do joelho na con- tração isométrica, o pico de torque isocinético e o trabalho
mecânico foi
26, 20 e 33%, respectivamente, inferior também comparado às crianças com desenvolvimento
normal. Além disso, observou-se que o grupo com desenvolvimento normal, apresentou uma
correlação significativa e forte entre todas as variáveis de força com o volume muscular e a área de
secção
transversa da coxa. No entanto, as crianças com PC tiveram correlação fraca para todas as variáveis de
força com respeito à área de secção trans- versa. Não sendo assim para a correlação do volume
muscular e todas as variáveis de força mensuradas nas crianças com PC, onde foi observada
correlação positiva e significante.
Apesar dos resultados de torque e trabalho mecânico terem sido os esperados em relação à menor
produção de força por parte das crianças com PC, os dados são interessantes, já que futuros estudos de
intervenção podem ser desenvolvidos para melhorar os fatores associados à produção de força neste
grupo, destacando o desafio que implica trabalhar com pes- soas com PC devido à complexidade da
patologia.
Dentre os grupos em destaque avaliados com dinamometria, encon- tram-se os idosos, seja em
pesquisas transversais ou longitudinais. Um dos estudos realizados pelo Grupo de Pesquisa em
Biodinâmica (GPBIO), do Laboratório de Biomecânica do Centro de Desportos da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), cujo grupo de interesse, idosos, foi de- senvolvido por Orssatto et
al.50 e foi comparado o efeito de uma sessão de treinamento de força em diferentes intensidades sobre
a falha concêntrica em 22 idosos (homens e mulheres), randomizados em dois grupos dife- rentes. O
grupo que treinou em intensidade moderada utilizou uma carga equivalente a 70% de 5RM, enquanto
que no grupo que treinou com alta intensidade, a carga utilizada foi 95% de 5RM. Todos os exercícios
foram executados em três séries com o maior número de repetições possíveis, cujas contrações
podiam ser de um 1 a 2 s nas ações concêntricas e/ou excêntricas. A contração voluntária máxima
isométrica foi avaliada no di- namômetro eletromecânico a 70º de flexão do joelho51 para os músculos
extensores desta articulação, cuja contração teve duração de 5 s, com três repetições. Os resultados
desse estudo mostraram que não houve diferen- ça significativa nos valores do pico de torque
isométrico no “baseline”. As avaliações pós intervenção foram mensuradas logo após 10 min da
sessão, após 24, 48 e 72 horas do mesmo. Observou-se queda significativa do pico de torque
isométrico imediatamente após o treinamento para ambas as intensidades de treinamento, com maior
queda neste parâmetro para o grupo de moderada intensidade comparado aos valores do “baseline”.
En- tretanto, o grupo de baixa intensidade teve recuperação significativamente maior após 24, 48 e 72
horas comparado ao grupo que treinou em alta intensidade. No entanto, o grupo alta intensidade não
conseguiu recuperar a produção de força após 24, 48 e 72 da sessão, ficando abaixo dos valores do
“baseline”. A partir desta investigação, pode-se inferir que de acordo
com a intensidade do treinamento de força, o idoso poderá levar maior ou menor tempo para sua
recuperação, fator importante na prescrição de treinamento para evitar lesões e melhorar o
desempenho nas suas ativida- des da vida diária.
No mesmo grupo de pesquisa e laboratório, outro grupo27 realizou uma investigação com
mulheres idosas, sendo utilizado o Método Pilates na modalidade de solo. Também foi investigada a
influência que esta mo- dalidade exerce sobre o pico de torque e o trabalho mecânico em diferentes
contrações musculares, nos flexores e extensores do joelho e do quadril, após seis e 12 semanas de
intervenção em mulheres idosas. As contrações musculares foram realizadas a 60º/s em contrações
concêntricas e excên- tricas, a contração isométrica foi realizada a 70º de flexão do joelho51 para os
extensores do mesmo, 15 e 100º de flexão do quadril para os flexores e extensores, respectivamente52.
Quanto à intervenção, diferentemente do treinamento de força, a progressão da carga do Pilates foi
realizada por meio do aumento da dificuldade dos exercícios. Neste estudo, além de uti- lizar a
dificuldade na execução dos exercícios para a progressão da carga, a mesma também foi incrementada
por meio do aumento das repetições ao longo da intervenção, mantendo três séries durante todo o
estudo.
Quanto ao pico de torque, para a articulação do joelho, os resultados mostraram aumento
significativo somente para os músculos flexores na contração concêntrica e excêntrica, após as 12
semanas de intervenção. O aumento significativo teve ênfase principalmente na articulação do quadril
para os extensores na contração isométrica, concêntrica e excêntrica, após seis e 12 semanas, bem
como para os flexores na contração concêntrica. Já para os flexores do quadril nas contrações
isométrica e excêntrica, obtive- ram-se melhoras significativas somente após 12 semanas de
intervenção27.
No que se refere ao trabalho mecânico, observaram-se aumentos sig- nificativos após 12 semanas
para os extensores do joelho na contração excêntrica. O quadril novamente teve ênfase nos resultados
positivos e significativos após 12 semanas na contração concêntrica para os flexores e extensores e
o trabalho mecânico excêntrico dos músculos flexores me- lhorou após seis e 12 semanas da
intervenção. Esses resultados podem ter ocorrido em função dos exercícios do Método Pilates
concentrar grande parte da produção de força nos músculos do CORE, composto pelo múscu- los
flexores e extensores da coluna, extensores e flexores do quadril e pelos músculos do períneo53.
As razões de torque ou também chamadas por alguns autores15 de
equilíbrio muscular agonista/antagonista, que avaliam a estabilidade da
articulação e tem relação com o índice de lesões14,15, têm sido estudadas em diversos grupos etários
com características específicas54,55,56. Seguindo esta linha, Hewett56 realizou uma revisão de literatura,
com o objetivo de determinar, a partir dos dados existentes na literatura, se havia diferenças nas
razões de torque da articulação do joelho (isquiotibiais/quadríceps) de acordo com o sexo e a
velocidade angular. As velocidades angulares dos estudos avaliados por estes pesquisadores foram
de 30 a 360º/s, com uma média de 52 e 60% nas razões de torque para as mulheres e homens,
respectivamente para todas as velocidades.
Os achados de Hewett56 mostraram que na velocidade angular mais baixa não se encontrou
diferença significativa nas razões de torque entre ambos os sexos. Porém, houve uma correlação
significativa entre as ra- zões de torque e a velocidade angular nos homens. Ademais, aumentos
significativos nas razões de torque com incremento na velocidade desde as mais baixas(47% a 30º/s)
comparadas às velocidades mais altas (81,4% a
360°/s) foram observados. Todavia, as mulheres não apresentaram corre- lação entre as razões de
torque e velocidade angular testada, além de não haver apresentado diferença significativa entre as
velocidades mais baixas e as mais altas, 49,5% a 30°/s e 51% a 360°/s. Por outro lado, a análise de
variância mostrou diferença significativa entre as razões de torque nas ve- locidades 30, 60, 180, 240,
300 e 360°/s, somente entre os homens.
De acordo com Hewett55, esses achados no grupo masculino podem ter acontecido devido aos
aumentos do torque dos isquiotibiais com relação ao quadríceps para estabilizar a articulação e
proteger assim o ligamento cruzado anterior. Os resultados obtidos no grupo feminino podem indicar
um aumento no risco de lesões do ligamento cruzado anterior. Entretan- to, considerando os aspectos
metodológicos de uma pesquisa e, de acor- do com estes resultados, é importante padronizar a
velocidade angular na qual se pretende avaliar o grupo de interesse, seja para comparações inter e
intra grupo.
As razões de torque muito estudadas no esporte também foram tema de pesquisa no mesmo
laboratório acima citado, onde Dal Pupo56 avaliou o efeito da fadiga sobre as razões de torque do
joelho em jogadores de futsal com média de 17 anos. A fadiga foi induzida por meio do protocolo reco-
mendado para atletas de 15 a 19 anos que replica uma partida de futsal. As razões de torque
convencional e funcional foram calculadas a partir do pico de torque concêntrico e excêntrico dos
músculos flexores e extensores do jo- elho a 120º/s, os quais foram mensurados antes, na metade do
protocolo de fadiga e no final do mesmo, entre o quarto e o sexto minuto de recuperação.
Os resultados mostraram uma queda significativa em ambas as razões de torque, convencional e
funcional, somente após o final do protocolo de fadiga, como consequência da diminuição do pico
de torque concêntrico e excêntrico. Esses achados parecem corroborar com a literatura, pois se-
gundo Dal Pupo56, no futebol o maior índice de lesão dos músculos isquio- tibiais ocorre nos últimos
estágios de uma partida, onde a capacidade de produzir força se encontra reduzida, tanto nas fases de
aceleração e desa- celeração que requerem contrações concêntricas e excêntricas.
Além de atletas, paratletas também têm sido alvo de pesquisas. No Brasil, Silva et al.57
monitoraram o pico de torque dos músculos extensores e flexores do joelho e as razões de torque
desta articulação de 14 atletas (10 homens e 4 mulheres) com uma média de 28 anos de idade, sendo
que seis deles eram deficientes visuais, três possuíam deficiência nos membros inferiores e superiores
e cinco eram atletas guias. Todos eles tinham ex- periência em competições nacionais e internacionais.
No que se refere ao tipo de contração muscular, todas foram feitas no modo concêntrico má- ximo,
com repetições de cinco a 10, com velocidades angulares de 60,180 e 300º/s com um minuto de
intervalo entre elas. Não foi especificado o número de séries executadas. As avaliações foram
realizadas em três mo- mentos distintos durante um ano (etapa preparatória, na metade do ano e prévio
à competição).
Os achados desse estudo mostraram aumentos significativos do pico de torque na metade do ano
e na pré competição para todas as velocida- des angulares mensuradas, quando comparados aos
valores do “baseline”. Embora os picos de torque obtidos a 300º/s tenham diminuído na pré
competição, não foram observadas diferenças significativas quando com- parados aos demais
momentos. Quanto aos valores das razões de torque, somente foi observada uma diminuição
significativa na velocidade angular de 300º/s do lado direito na segunda avaliação e manteve-se
próximo ao segundo valor na pré competição (80; 74,4 e 76,7% respectivamente).
A partir dos estudos acima citados, observa-se uma grande diversidade na aplicação prático-
científica do dinamômetro eletromecânico em diferen- tes populações. Com isso, este instrumento de
avaliação tem crescido ao longo das últimas décadas quanto a sua popularidade, podendo não somen- te
ser utilizado para avaliar os parâmetros que ele fornece, desde o torque até índice de fadiga, mas
também pode ser aliado a outras técnicas de ava- liação enquanto o participante realiza uma
determinada contração mus- cular. Técnicas como eletromiografia, oclusão vascular, ultrassonografia,
eletroestimulação, entre outras, podem ser utilizadas concomitantemente.
A dinamometria eletromecânica como meio para o
treinamento de força muscular aliada à pesquisa

O treinamento de força tem sido muito estudado por diversos pesqui- sadores ao longo de várias
décadas até os dias atuais como as mais dis- tintas finalidades (i.e, ganho de força, potência,
reabilitação), envolvendo diferentes grupos etários, sexo, modalidade esportiva, nível de atividade
física, entre outros58–60. Com o surgimento do dinamômetro eletromecâni- co, desde alguns anos até o
presente momento, pesquisadores têm buscado avaliar o efeito do treinamento de força muscular
utilizando este dinamô- metro, devido à possiblidade de efetuar contrações musculares de forma
isocinética, fato que não é possível de ser realizado em um treinamento convencional de força. Além
disso, estudos apontam a segurança que traz este equipamento quando se trata de reabilitação.
Portanto, na sequência deste capítulo, serão apontados diversos estudos na área do treinamento de
força em que o dinamômetro eletromecânico foi utilizado como instru- mento tanto para treinamento,
como para avaliação.
Uma das vantagens da utilização do dinamômetro, como mencionado anteriormente, é que a força
exercida é proporcionalmente “devolvida” em forma de resistência isocinética. Portanto, a força
máxima é aplicada du- rante toda a amplitude de movimento, não sendo para a tensão máxima, já que
esta somente ocorre em determinado ponto da amplitude movimen- to60. Tratando-se de reabilitação,
existem vários estudos que têm utilizado o treinamento com o dinamômetro eletromecânico. Gur et
al.61, por exem- plo, compararam o efeito de oito semanas de treinamento concêntrico e combinado
concêntrico-excêntrico de forma isocinética dos músculos fle- xores e extensores do joelho, sobre a
capacidade funcional, sobre diversos sintomas e na produção de força concêntrica e excêntrica (60,
120 e 180°/s in), em pacientes de 41 a 75 anos que padeciam de osteoartrite em ambos os joelhos.
As sessões eram realizadas três vezes na semana. Para isso, foram ran- domizados em três grupos
de treinamento diferentes. Um grupo treinou em contrações concêntricas, o segundo grupo realizou
contrações concên- tricas-excêntricas e o terceiro grupo não realizou nenhum tipo de treina- mento
(grupo controle). O grupo um realizou 12 contrações concêntricas de ambos os membros, o segundo
grupo realizou contrações concêntri- cas-excêntricas. As velocidades angulares utilizadas para o
treinamento foram 30, 60, 90, 120, 150 e 180°/seg, com dois minutos de intervalo entre as séries e
cinco minutos entre ambos os membros61.
Os resultados dessa investigação mostraram que ambos os grupos au- mentaram
significativamente a capacidade funcional, o pico de torque em todas as contrações avaliadas, a área
de secção transversa dos músculos flexores e extensores do joelho e diminuíram o escore na escala
de dor, sendo que o grupo controle não teve mudanças em nenhumas das variá- veis mensuradas.
Mais especificamente, o grupo que treinou somente nas contrações concêntricas teve melhores
resultados para a escala de dor que o grupo que treinou concêntrico-excêntrico. Entretanto, este último
teve melhores resultados para todos os testes de capacidade funcional, não ha- vendo diferenças no
resultado na área de secção transversa para nenhuma das modalidades de treinamento. Quanto ao pico
de torque, o grupo um aumentou significativamente na contração concêntrica, enquanto que o se-
gundo grupo teve incrementos significativos para a contração excêntrica, o que leva a conclusão que
houve uma adaptação específica ao treinamento.
Um outro estudo62 teve como objetivo investigar o efeito de três dias de treinamento isocinético
concêntrico dos extensores do joelho do lado não preferido, em velocidades específicas sobre o pico
de torque e o si- nal eletromiográfico em 30 mulheres (19 a 29 anos), separadas de forma randômica
em: treinamento em velocidade lenta (TVL), treinamento em velocidade rápida (TVR) e grupo
controle. O treinamento foi executado em quatro séries de 10 repetições máximas, onde o grupo
TVL treinou a
30º/s e o grupo TVR a 270º/s nas três visitas respectivamente, com inter- valo de 48 a 72 horas entre
as sessões. O teste no dinamômetro isocinético consistiu em avaliar as mesmas contrações do
treinamento e no membro que recebeu a intervenção em ambos os grupos. Observou-se que o grupo
controle não teve mudanças significativas, o grupo TVL aumentou signi- ficativamente em 24,4% e
11,5% o pico de torque, nas velocidades de 30 e
270º/s, respectivamente. Já o grupo TVR não teve aumentos significativos na velocidade angular de
30º/s, porém, aumentou em um 40,2% para a velocidade angular de 270º/s. Quanto ao sinal
eletromiográfico normali- zado (frequência de potência média), somente o vasto medial apresentou
aumentos significativos para o TVR na velocidade 270º/s, fato que pode estar relacionado à duração
do treinamento, que foi de apenas três dias durante uma semana. Contudo, ganhos na força foram
expressivos em um curto espaço de tempo, e esta informação pode ser de interesse para trei- nadores e
fisioterapeutas62.
Além de intervenções específicas somente com o dinamômetro iso- cinético, um outro estudo63
investigou o efeito do treinamento isocinético aliado à oclusão vascular em atletas universitários de
atletismo (19 a 21
anos), os quais eram corredores velocistas. Os mesmos foram separados em 4 grupos (não
randomizados) de acordo com a velocidade angular de treinamento e oclusão vascular. A intervenção
consistiu em três séries de
10 repetições, com 60 s de descanso entre as séries, duas vezes na sema- na durante quatro semanas.
O grupo A treinou a 300º/seg com oclusão vascular cuja pressão foi de 200 mmHg, o grupo B
treinou a 90º/s com a mesma oclusão que o grupo A, o grupo C e D treinaram a 300 e 90º/s, res-
pectivamente, sem oclusão vascular. Contudo, apesar dos autores terem mensurado contrações
concêntricas e excêntricas em velocidades angula- res variando de 60 a 300º/s respectivamente e,
isométricas, nos métodos, não se encontra descrito qual tipo de contração foi utilizada para o treina-
mento.
Os resultados deste estudo mostraram aumentos significativos no pico de torque para o grupo A
em todas as contrações excêntricas e concêntri- cas, exceto para a contração concêntrica a 180º/s e na
isométrica. O grupo B somente teve melhoras significativas nas contrações concêntricas nas
velocidades 60 e 180º/s respectivamente, o grupo C teve incrementos sig- nificativos apenas na
contração concêntrica na velocidade 180º/s. O grupo D incrementou significativamente o pico de
torque na contração concên- trica nas velocidades angulares de 180 e 300º/s. Além da avaliação da
pro- dução de força, Sakuraba et al.63 mensuraram a área de secção transversa do quadríceps, por
meio da ressonância magnética, somente nos grupos que receberam a oclusão vascular, contudo não
houve aumentos significa- tivos na hipertrofia após a intervenção, bem como entre os grupos antes e
após a mesma.
Um estudo mais recente64 comparou a força muscular, a massa magra de gordura e o desempenho
funcional como resposta a um treinamento isométrico, isotônico e isocinético no dinamômetro
eletromecânico dos músculos extensores do joelho do lado preferido. As sessões foram rea- lizadas
três vezes na semana, com duração de oito semanas, em homens universitários (21 a 22 anos de idade)
não treinados em força. Os mesmos foram alocados em três grupos distintos de acordo com o
resultado obtido no teste isométrico máximo no dinamômetro eletromecânico (75% 1RM), a 70º de
flexão do joelho para os extensores dessa articulação. Desta for- ma, os participantes foram
distribuídos nos grupos isométrico (IM), isotô- nico (IT) e isocinético (IS). O estudo caracterizou-se
por ser duplo cego, ou seja, os participantes não tinham conhecimento de qual grupo pertenciam. Os
valores obtidos no “baseline” não diferiram estatisticamente entre os grupos, para a contração
voluntária máxima isométrica.
No que se refere ao treinamento, para todas as contrações, foram rea- lizadas quatro séries de 10
repetições com um segundo de intervalo entre as contrações e um minuto de intervalo entre as séries
a 75% 1RM, obtido na contração isométrica no dinamômetro. O grupo IM treinou nos ângu- los 90,
70, 50 e 30º de flexão do joelho (randomizados), com duração de
1 s para cada repetição, o grupo IT treinou a uma velocidade de 1 s para extensão e para flexão, o
grupo IS treinou de forma concêntrica a 90º/s. De modo geral, este estudo mostrou que houve
aumento significativo no pico de torque em todos os grupos para todos os ângulos avaliados (30, 50,
70 e 90º/s de flexão do joelho), com ênfase no grupo IM. O grupo IS teve aumento significativo no
pico de torque obtido no teste de uma repetição máxima (1RM), bem como no pico de torque
isocinético em todas as velo- cidades angulares avaliadas 45, 90 e 180º/s. Neste último, diferentemente
do esperado, o grupo IT obteve melhores resultados para as velocidades
40 e 60º/s, quando comparado ao grupo IM e IS, e o grupo IS apresentou melhores resultados na
velocidade 180º/s comparado aos demais grupos. Quanto à massa magra do membro treinado, o grupo
IM e IT tiveram au- mentos significativos. Por fim, somente o grupo IS teve ganho significati- vos no
salto triplo em distância.
Apesar desse estudo ter encontrado resultados interessantes e ter ajus- tado a carga do treinamento
de acordo com o 1RM no dinamômetro, fato que não foi realizado nos estudos antes citados, ainda
podem ser aponta- das algumas falhas metodológicas. Dentre as mesmas, podem ser citadas: a) o
tempo de execução da contração isométrica, o qual foi curto, e neste quesito, alguns estudos6,21,61
apontam tempos de contrações de entre 3 a 5 segundos; b) a utilização do mesmo tempo de contração
para os grupos IT e IS, sendo que contrações dinâmicas geralmente podem ter uma duração superior a
1 s. Percebe-se que, além desse estudos, outros pesquisadores também buscaram avaliar o efeito do
treinamento no dinamômetro iso- cinético em diversos grupos com características específicas e com
resulta- dos positivos na produção de força, o que se traduz em melhoras na fun- cionalidade e
qualidade de vida.
Por fim, duas limitações podem ser apontadas na utilização do dina- mômetro. Uma delas é o
custo elevado do dinamômetro eletromecânico, o que faz que não seja acessível para a população em
geral a segunda, o fato de não possibilitar a utilização de vários participantes ao mesmo tem- po. Em
contrapartida, centros esportivos e grupos de pesquisa de diver- sas universidades contam com o
dinamômetro eletromecânico, podendo desta forma, criar parcerias entre eles, com equipes
esportivas, pacientes
e a população em geral que não possuam acesso a esta tecnologia para usufruir das avaliações e
treinamento, gerando dados para pesquisa e o avanço da ciência na área Biomecânica, Fisiologia e da
Saúde.
Em síntese, a partir do exposto neste capítulo, pode-se concluir que o dinamômetro
eletromecânico tem evoluído consideravelmente desde a sua criação no fim da década de 60 até a
atualidade. Várias são as áreas que usufruem do dinamômetro para mensurar parâmetros relacionados
com a produção de força (torque, pico de torque, trabalho mecânico, po- tência, índice de fadiga,
razões de torque e tempo de aceleração), desde a Educação Física, Fisioterapia, Ciências Médicas,
entre outras. Além disso, as avaliações realizadas precisam ser padronizadas quanto à ADM, escolha
adequada do protocolo de acordo com o objetivo da pesquisa, treinamento ou reabilitação. Também
recomenda-se realizar a normalização pela mas- sa corporal quando as variáveis de torque, trabalho
mecânico e potência são mensuradas.
Quanto às pesquisas realizadas na área da dinamometria eletrome- cânica, observa-se um amplo
espectro de estudos utilizando diversos protocolos, sejam em pesquisas transversais e/ou
longitudinais, aliados também a outras técnicas de avaliação. Os protocolos de treinamento e
reabilitação no dinamômetro eletromecânico também têm sido alvo de pesquisas. Entretanto, a forma
de controlar a carga difere de um estudo para outro, já que não há um consenso estabelecido na
literatura sobre o controle de carga e/ou periodização quanto ao treinamento da força no dinamômetro
eletromecânico.

Aplicações práticas

• Os parâmetros musculares torque, trabalho mecânico, potência, índice de fadiga e razões de


torque são relevantes para caracteriza- ção e comparação de diferentes faixas etárias, o qual
também pode ser utilizado para comparar grupos sedentários, treinados e, ainda comparação
entre diferentes modalidades esportivas. Além de mo- nitorar programas de intervenção.
• Em contrações musculares dinâmicas, recomenda-se utilizar velo- cidades angulares de
60º/seg de 3 a 5 repetições para mensurar a for- ça, 180º/seg de 20 a 30 repetições para o
cálculo do índice de fadiga e acima de 180º/seg até 300º/seg para obter a potência e o índice de
fadiga. Já para as contrações isométricas, deve-se adotar um ângulo específico de maior
produção de força já estipulado na literatura.
• Sugere-se a normalização do torque por meio a razão standard (torque/massa corporal),
para assim remover o efeito da massa cor- poral sobre a produção de força.
• Os testes realizados no plano vertical também são influenciados pela força da gravidade e
os componentes elásticos passivos de ar- ticulação avaliada. Contudo, os cálculos
matemáticos para retirar o efeito da gravidade são complexos, portanto, poucos são os
pesqui- sadores que têm adotado a correção do torque.
• Pesquisas realizadas com treinamento no dinamômetro eletro- mecânico, com o fim de
aumentar a força muscular têm apontado resultados positivos, contudo não há um consenso
na literatura de como periodizar, estipular e controlar a carga do mesmo.

Nota dos autores: As palavras chaves utilizadas foram, no Inglês:“Biome- chanics,electromechanical


dynamometer, isokinetic dynamometer, his- tory, children, young, adults, older adults, elderly,
deficiencies, athletes, Paralympic, torque, peak torque, mechanical work, power, fatigue, tor- que
ratios, muscular imbalance, muscle contractions, isometric, concen- tric, eccentric, isotonic, torque
normalization, gravitational correction.” No Português, as palavras chaves foram: Biomecânica,
dinamômetro ele- tromecânico, dinamômetro isocinético, crianças, jovens, adultos, idosos,
deficientes, atletas, paratletas, torque, pico de torque, fadiga, razão de torque, desequilíbrio muscular,
contrações musculares, isométrico, con- cêntrico, excêntrico, isotônico, normalização do torque,
correção gravita- cional.
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CAPÍTULO IV 97

UTILIZAÇÃO DA ELETROESTIMULAÇÃO NEUROMUSCULAR COMO FERRAMENTA PARA


AVALIAÇÃO, TREINAMENTO E RECUPERAÇÃO

Raphael Luiz Sakugawa Lucas


Sampaio Fernando Diefenthaeler

O que você irá encontrar:

• A utilização da eletroestimulação neuromuscular nas áreas de treinamento e recuperação;


• Serão descritos conceitos da eletrofisiologia da contração muscu-
lar;
• Também será descrito a eletrofisiologia com a eletroestimulação neuromuscular;
• Os diferentes métodos de eletroestimulação que podem ser utili-
zados e quais as respostas esperadas;
• Serão apresentadas as diferentes aplicações da eletroestimulação nas áreas de avaliação,
recuperação e treinamento.

Introdução

O movimento humano ocorre a partir da contração muscular e para que esta ocorra é necessário que
um estímulo elétrico chegue ao músculo. O estímulo elétrico é um evento biofísico-químico denominado
de poten- cial de ação, que inicia nos neurônios e se propaga até os músculos pelos axônios1,2. Para o
estudo dessas propriedades elétricas em tecidos biológi- cos existe uma área específica da ciência
denominada eletrofisiologia, na qual, dependendo do tipo de avaliação utilizada, existem diferentes técni-
cas e ferramentas3.
Dentre essas ferramentas, a eletroestimulação destaca-se por simular um potencial de ação de forma
artificial, fornecendo informações do siste- ma periférico (músculos) e central (medula espinal). Um dos
primeiros re- latos sobre sua utilização foi como ferramenta na reabilitação entre os sé- culos XVII a XIX
na Europa com o nome de eletroterapia, principalmente visando o tratamento de paralisia. Porém seu
efeito era apenas temporário, o que levou ao enfraquecimento do uso da eletroterapia até deixar de ser
usada para este tipo de tratamento4. No entanto, sua utilização continuou como ferramenta de avaliação
dos sistemas nervoso central e periférico
pelo pesquisador Luigi Galvani. Sua descoberta de que nervos de sapos ao serem estimulados por
eletricidade geravam fortes convulsões e ao tocar o mesmo nervo sem essa eletricidade apenas com
um metal não ocorria tal fenômeno¹. Esta descoberta de Galvani foi um marco para a área dos estu-
dos da contração muscular, pois demonstrava que era necessário um tipo de impulso (eletricidade),
para que ocorresse uma contração1,3.
Com o decorrer dos anos, Du Bois Reymond em 1849 conseguiu a pri- meira evidência de que os
músculos de seres humanos durante a contração muscular geravam potenciais elétricos5. E a primeira
utilização da eletro- estimulação em humanos ocorreu em 1879 pelo pesquisador Duchenne de
Boulogne. Do fim do século XIX ao início do XX esta técnica foi am- plamente estudada e em 1921
foi descoberta a corrente diadinâmica e em
1950 a corrente interferencial, ambas largamente utilizadas até hoje em reabilitação e fisioterapia5.
A utilização desta técnica continuou evoluindo ao longo dos anos e nos dias de hoje diversas
metodologias e formas de utilizar a eletroestimulação são conhecidas e utilizadas na reabilitação e no
treinamento3,6. Além disso, a eletroestimulação tem sido amplamente utilizada no campo da pesquisa.
Sendo assim, o presente capítulo trará explicações sobre a eletroestimula- ção, como ela se organiza e
quais são os cuidados metodológicos que de- vem ser tomados para a sua utilização.

Eletroestimulação neuromuscular e suas aplicações

Existem diferentes tipos de eletroestimulação e elas são utilizadas con- forme o objetivo
pretendido. As mais comuns são a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), a estimulação
elétrica funcional (FES) e a estimulação elétrica neuromuscular (NMES)3,7.
A TENS é uma técnica analgésica não invasiva usada para aliviar a dor e acelerar a recuperação.
Utiliza-se um gerador de pulsos elétricos e um eletrodo na superfície da pele. É considerado um
equipamento de baixo custo e baixo risco de malefício. Em alguns países, é possível realizar a compra
de um equipamento sem prescrição médica e realizar o tratamento em casa8.
Já a FES é uma aplicação da corrente elétrica para recuperar ou subs- tituir a função neurológica
acometida em indivíduos que sofreram algum tipo de lesão que resulta em perda de inervação em
um músculo devido a acidente vascular encefálico, lesão medular e/ou cerebral. Essa função pode ser
sensorial (auditiva ou visual) e/ou motora (membro não funcio-
nal)9,10. Esse tipo de técnica pode ser utilizada em neuropróteses, como por exemplo, implantes
cocleares que substituíram a função do tímpano, estri- bo e cóclea auxiliando a função auditiva11. Ela
também pode ser utilizada para estimular a contração muscular em determinadas atividades (sentar e
levantar de uma cadeira, caminhar, dentre outros)12 em indivíduos que sofreram uma necrose no
tecido muscular devido a um infarto. Em função disso, a FES possibilita a execução de tarefas que não
seriam possíveis a esses indivíduos ou que eles teriam muita dificuldade (ficar em pé, cami- nhar,
agarrar objetos dentre outros) e é considerada uma intervenção efe- tiva para recuperar a função
motora do membro afetado9.
Já a NMES normalmente é aplicada com intensidades altas que pro- duzem contrações
musculares visíveis3. Para realizar a estimulação são utilizados eletrodos na superfície da pele acima
de um nervo ou músculo8. Essa ferramenta vem sendo utilizada em quatro diferentes áreas: avalia- ção
da função neuromuscular, sessões de treinamento, reabilitação e na recuperação pós-exercício3.
Devido a grande popularidade e versatilidade da aplicação da NMES nessas áreas, esse capítulo de
livro irá focar princi- palmente na NMES. Para um melhor entendimento da importância dessa
ferramenta, iremos começar explicando um pouco sobre o que ocorre fi- siologicamente quando
utilizamos a NMES, e após, abordaremos os me- lhores métodos de aplicação da NMES, quais
respostas fisiológicas podem ser observadas. E por fim, abordaremos sobre as suas aplicações práticas.
Fisiologia da estimulação elétrica neuromuscular
(NMES)

Para abordamos sobre a fisiologia da NMES, primeiramente é neces- sário compreender como
ocorre a contração muscular desde a geração de um estímulo no cérebro até a sua chegada à fibra
muscular. Nesse tópi- co será apresentado, de forma resumida, como ocorre todo esse processo.
Inicialmente é necessário saber que nosso sistema nervoso é dividido em duas áreas: central (SNC) e
periférica (SNP)1,2. Esses dois sistemas são os responsáveis pelo controle do corpo.
O SNC é dividido em encéfalo e medula espinal, e o SNP é constituído de todos os nervos fora da
medula espinal1. Existem tipos diferentes de nervos e é possível classificá-los de acordo com sua
função: nervos sensi- tivos (via aferente) e nervos motores (via eferente). Os sensitivos possuem o
papel de transmissão e condução das mensagens dos órgãos receptores (órgãos do sentido como tato,
visão, audição, etc.) para o SNC, enquanto os
motores que conduzem o estímulo do SNC para o órgão efetor (músculos).
Em suma, utilizamos uma via eferente para que o potencial de ação saia do SNC e chegue ao SNP
(moto neurônio) para realização da contra- ção muscular. E, como em um sistema de feedback, temos
a via aferente, na qual um estímulo externo (i.e., pressão, dor, temperatura, etc.), que é captado por
sensores na pele, é transmitido para a medula espinal, reali- zando o caminho inverso ao da via
eferente. Também é possível que ocorra uma resposta motora previsível em decorrência de um
estímulo externo, fenômeno denominado como reflexo. Um exemplo disso é quando coloca- mos a
mão em uma superfície quente e rapidamente retiramos a mão de forma involuntária. Os reflexos
serão abordados no tópico das variáveis da eletroestimulação.
Quando o potencial de ação ocorre, ele se propaga por meio do moto neurônio até chegar à menor
unidade funcional do sistema nervoso, a uni- dade motora (UM). A UM consiste de um moto neurônio
e o grupo de fibras musculares que ele inerva. Caso o músculo necessite de um controle motor preciso
(e.g., músculos da região dos olhos), este terá mais UMs que um músculo que não necessite de
tanto controle motor (e.g., músculo glúteo máximo). O recrutamento voluntário das UM segue o
princípio do tamanho proposto por Henneman13 (Figura 1.4): as UMs são recrutadas de acordo com
o seu tamanho, sendo as menores recrutadas primeiro e as maiores por último. As UMs menores são
formadas por músculos lentos e resistentes a fadiga, enquanto as maiores por músculos mais rápidos e
mais suscetíveis a fadiga.

Figura 1.4 - Representação do princípio de Henneman. (fonte: Autor)

Existe uma diferença na ordem do recrutamento das UMs quando a contração é realizada de
forma voluntária e quando é realizada de forma artificial (i.e., por meio de um estímulo elétrico da
NMES). Outro fato que
pode influenciar a ordem do recrutamento das UMs é a dependência do posicionamento dos
eletrodos, que por sua vez pode gerar duas respostas distintas. Podemos posicioná-los em dois locais:
sobre o nervo motor ou no ventre muscular. Quando estimulamos o nervo, as UMs maiores são
ativadas primeiro fazendo com que aconteça uma inversão no princípio do tamanho, acelerando assim
o processo de fadiga nos músculos. Já quando estimulamos o ventre muscular, ocorre um recrutamento
desordenado das UMs, não importando o tamanho. Porém as mesmas UMs são recruta- das
repetidamente, acelerando também o processo de fadiga (Figura 2.4). Para uma melhor compreensão
do porque essa diferença de recrutamento ocorre, primeiro iremos abordar a metodologia da NMES e
quais variáveis podem ser obtidas com o auxílio de diferentes ferramentas.

Figura 2.4 - Representação gráfica do recrutamento das unidades motoras com diferentes
posicionamentos de eletrodos. (fonte: Autor)

● - Estimulo realizado no nervo; ● - Estimulo realizado no ventre do músculo.

Métodos de avaliação na estimulação elétrica neuro- muscular (NMES)


A NMES pode ser utilizada de diferentes formas: um pulso simples (twitch), dois pulsos (pulso de
200 μms separados por 10 ms - doublet) que podem ser sobrepostos durante a contração voluntária
isométrica máxima (CVIM) (superimposed doublet amplitude) ou realizados pós CVIM (po- tentiated
doublet amplitude), oito pulsos a 300 Hz, também conhecidos
como octetos ou train de estimulação, e uma tetania que pode ser de 30
Hz durante um período de tempo14. Cada uma dessas formas explica um processo fisiológico, mas
apenas a utilização isolada NMES não responde muita coisa, por isso é necessário a incorporação de
diferentes ferramentas de avaliação. Os principais estudos que utilizam a NMES para a avaliação
neuromuscular geralmente têm o objetivo de investigar a fadiga central ou periférica. Normalmente,
utiliza-se alguma medida de força e/ou torque e eletromiografia de superfície (sEMG). Quando a
NMES é utilizada em conjunto com a força e sEMG é possível extrair importantes informações.
Essas técnicas de forma sincronizada podem verificar se ocorreu o processo de fadiga, mas cada
uma delas também explica um fenômeno e possuem suas limitações. Por exemplo, quando utilizamos
uma medida de força pode-se verificar o processo de fadiga durante uma CVIM pré e pós um
protocolo de contrações voluntárias ou involuntárias. Caso ocorra uma redução do valor de força ou
torque máximo, pode-se supor que ocorreu fadiga muscular (periférica). Porém, uma limitação dessa
técnica de ava- liação é que esta é influenciada por fatores motivacionais do indivíduo3. No entanto,
uma forma de minimizar tal fato é comparar a sEMG durante a CVIM pré protocolo com a pós
protocolo de contrações. Caso tenha ocor- rido fadiga periférica, geralmente ocorre uma modificação
do sinal eletro- miográfico no domínio do tempo e no domínio da frequência. O aumento no domínio
do tempo, por exemplo, pode ser identificado pelo aumento do root mean square (RMS; o nome vem
da fórmula raiz quadrada da média dos quadrados dos valores), que é uma técnica matemática para
identificar valores de amplitude. No domínio da frequência, a variável relacionada ao processo de
fadiga é a mediana do espectro de frequência, denominada de mediana da frequência, pois divide o
espectro de frequência em duas partes iguais. Para determinar o espectro de frequência do sinal eletro-
miográfico se utiliza a transformada rápida de Fourier, que separa o sinal em frequências e
amplitudes. Quando ocorre uma redução da mediana da frequência, significa que as UMs com maior
frequência de disparo redu- zem sua contribuição ou as UMs com menor frequência aumentam sua
contribuição1.
Quando a NMES é utilizada em conjunto com a avaliação de força e sEMG é possível analisar
outros parâmetros neuromusculares. Quando se utiliza a força de forma sincronizada, por exemplo, é
possível calcular o nível de ativação voluntária máxima (voluntary activation level). Para tal é
utilizada a técnica twitch interpolation, que consiste de estímulos elétri- cos simples (superimposed
single amplitude) ou duplos (superimposed
doublet amplitude) sobrepostos durante a CVIM, e estímulos simples em repouso (rest single
amplitude) antes da CVIM e potencializados na mus- culatura relaxada após a CVIM (potentiated
doublet amplitude). Utiliza-se as seguintes equações para verificar o percentual de ativação
voluntária: (1) utilizando pulso simples – VAL(%) = [1 − (superimposed single ampli- tude/ rest single
amplitude)] x 100 e (2) utilizando pulso duplo – VAL(%)
= [1 − (superimposed doublet amplitude/ potentiated doublet amplitu- de)] x 100. A Figura 3.4 ilustra
como seria realizado um protocolo com a NMES (equação 2) sincronizada com o torque/força.

Figura 3.4 - Representação gráfica do cálculo da ativação voluntária


máxima (fonte: Autor).

a - Superimposed single/doublet amplitude, b – potentiated doublet amplitude.

Outros parâmetros neuromusculares que podem ser analisados du- rante a NMES são obtidos por
meio da sEMG, sendo estes uma resposta do sistema periférico e uma resposta do sistema central. A
resposta do siste- ma periférico vem da onda M (M significa músculo), também denominada como M-
wave, que é caracterizada pela resposta do músculo. A onda M é o potencial de ação que viaja através
do músculo que induz sua contração2 (Figura 4). Já a resposta do sistema central vem do reflexo H (H
é uma homenagem ao neurologista alemão Johann Hoffmann que descreveu pela primeira vez esse
reflexo). O estímulo evocado viaja pelos nervos senso-
riais (via aferente) até a medula espinal e retorna para o músculo2 (Figura
4.4). Cabe salientar que quanto maior a intensidade da NMES menor será a amplitude do reflexo H e
maior será a amplitude da onda M. Também existem outros fatores que influenciam no reflexo H, tais
como os recepto- res periféricos (órgão tendinoso de golgi e receptores mecânicos) e fatores externos
que podem alterar sua amplitude13, podendo não ser o mais reco- mendado para a verificação da
fadiga.

Figura 4.4 - Representação gráfica das respostas fisiológicas da eletroesti-


mulação. (fonte: Autor)

Entretanto, o reflexo H pode ser utilizado para verificar as adaptações da medula espinal em
resposta ao treinamento, como demonstrado por Aagaard et al.15 que realizou 14 semanas de
treinamento de força em 14 jovens sem treinamento prévio e avaliou o reflexo H no músculo sóleo.
Foi analisado o reflexo H em repouso utilizando 20% da máxima intensidade da onda M, e também
durante uma isometria em rampa (aumento gradual de torque de 0 a 100% de uma CVIM) e quando o
participante alcançasse
90% da CVIM era realizado um estímulo para verificar o reflexo H. Ao final do treinamento, foram
observados aumentos no reflexo H, que po- dem indicar um aumento da excitabilidade dos
motoneurônios alfa. Esse foi um dos primeiros estudos a avaliar as adaptações neurais provocadas
pelo treinamento de força utilizando o reflexo H. É possível ainda ava-
liar a eficácia de um tipo de tratamento, como demonstrado no estudo de Christiansen et al.16, no qual
foram investigadas as mudanças do reflexo H em um grupo de atletas de taekwondo. Após uma sessão
de manipulação espinal (terapia manual que pode alterar reflexos musculares) não foram encontradas
diferenças no reflexo H, o que indica que apenas uma sessão- dessa terapia não é suficiente para
realizar mudanças no sistema central.
Já quando falamos sobre estudos que investigam o processo de fadiga, os resultados apontam
mudanças de diversos parâmetros, tais como: pico de torque voluntário, valor RMS, pico de torque
involuntário, VAL e onda M. Um desses estudos é o de Lepers et al.17, que demonstrou que quando
atletas de resistência realizam 5 horas de exercício em cicloergômetro a
55% da potência máxima, ocorre uma queda de torque voluntário e torque involuntário na primeira
hora de exercício. Com relação a amplitude da onda M, os autores observaram mudanças apenas após
a quarta hora de exercício. Também houve uma redução de 8% da VAL após essas 5 horas de
exercício.
Ainda é possível utilizar o sinal da onda M para normalizar o sinal eletromiográfico. Essa
normalização é bem utilizada, pois a amplitude da sEMG pode variar por diferentes motivos como
mudança de posição do eletrodo, ruídos no sinal, impedância da pele, entre outros1. Já a NMES é
mais reprodutiva, pois existem menos fatores intervenientes que pode- riam alterar sua amplitude.
Estudos como o de Lanza et al.18 mostraram a importância de utilizar o valor RMS normalizado pela
onda M máxima em vez do valor RMS voluntário. O objetivo do estudo foi investigar a influên- cia do
ângulo do joelho no valor RMS absoluto voluntário e normalizado pela onda M máxima. Para isso, os
autores realizaram a determinação da intensidade máxima da onda M em todos os ângulos de joelho
avaliados (25, 50, 80 e 106º, considerando como 0º a extensão completa do joelho) e utilizaram tanto o
valor RMS normalizado pela onda M máxima no ângulo correspondente, como o valor RMS absoluto
do ângulo correspondente. Como resultado, os autores observaram que a produção de torque variou
entre os ângulos avaliados e que existe diferença no valor RMS normali- zado pela onda M máxima
no ângulo correspondente, mas não existe dife- rença no valor RMS absoluto no ângulo
correspondente. Os autores con- cluem que o posicionamento da articulação pode afetar o sinal de
sEMG, pois ao modificar a posição da articulação isso também iria mudar o posi- cionamento do
eletrodo, fazendo com que as unidades motoras diferentes sejam registradas.
É necessária certa precaução ao combinar diferentes técnicas com a
NMES, como demonstrado no estudo de Simoneau-Buessinger et al.19. Os autores utilizaram NMES
em conjunto com a ultrassonografia para inves- tigar se as propriedades estruturais do músculo sofrem
alterações quando são realizadas contrações de forma voluntária submáxima, voluntária má- xima e
involuntária submáxima. Oito adultos fizeram parte do estudo, no qual foram familiarizados com o
ergômetro de tornozelo e com a NMES em uma sessão prévia. Foi realizado um aquecimento com
contrações isomé- tricas submáximas e três contrações isométricas máximas de dorsiflexão e flexão
plantar. Em seguida foi realizada a determinação da intensidade de estimulação elétrica. Para tal foi
realizado um aumento da intensidade da estimulação elétrica até ocorrer um platô no sinal de torque.
Na sequ- ência, foi utilizada uma intensidade supramáxima de 120%. Imagens de ultrassom foram
obtidas do tibial anterior e gastrocnêmio lateral durante o repouso, na intensidade supramáxima de
120% de NMES, na contração voluntária máxima e na contração voluntária submáxima (mesmo
valor de torque a 120% da intensidade da NMES). O principal achado do estudo foi que quando se
utiliza a NMES, a arquitetura muscular (maior ângulo de penação e menor comprimento do fascículo)
foi diferente da contração voluntária com a mesma produção de torque. Isso ocorreu sem a alteração
do músculo antagonista, demonstrando que a contração do antagonista pode não ser um fator
determinante para o maior encurtamento dos fas- cículos do tibial anterior. Os autores sugerem que o
menor comprimento durante a contração com a NMES ocorreu porque a estimulação elétrica é
realizada em uma porção do músculo perto da área do eletrodo, provo- cando assim um maior
encurtamento local. Outro resultado interessante é a semelhança entre o comprimento do fascículo
durante a NMES e a con- tração voluntária máxima, mesmo ocorrendo diferenças entre os torques.
Isso demonstrou que a geração de torque não é limitada pelo encurtamen- to das fibras.
Como apresentado neste subtópico, a NMES pode ser utilizada como forma de avaliação
neuromuscular. Sendo assim, o quadro 1.4 apresenta um resumo dos equipamentos, variáveis e quais
seus significados.
Como explicado anteriormente, existem duas limitações para o uso da NMES: a aceleração do
processo de fadiga e o desconforto gerado pela aplicação do estímulo elétrico sobre a pele. Por isso,
alguns cuidados de- vem ser tomados na utilização dessa ferramenta. Diversos estudos foram
realizados para tentar minimizar esse processo e identificar os melhores métodos e precauções que
devem ser tomados para aperfeiçoar a sua uti- lização.
Quadro 1.4 - Resumo de todas as variáveis que podem ser mensuradas com o auxílio da NMES.

Equipament Variável Significado


o

Aumento da amplitude:
amplitude. inabilidade do
SNC de enviar sinais para o
músculo. pode indicar fadiga
periférica
Superimposed
doublet amplitude
Célula de carga Redução da amplitude:
ou dinamômetro inabilidade do músculo de
isocinético produzir força. Pode indicar
fadiga central

Decréscimo do VAL:
Voluntary activation inabilidade do SNC de enviar
level sinais ao músculo

Diminuição da amplitude:
Onda M
Pode indicar fadiga
periférica.
Eletromiografia Aumento da amplitude: Pode
indicar aumento da
Reflexo H excitabilidade dos
motoneurônios alfa

Pode alterar o ângulo de


Ângulo de penação penação;
interferindo na análise.
Ultrassom
Pode alterar o comprimento
Comprimento de do fascículo; interferindo na
fascículo análise.
Otimização da aplicação da estimulação elétrica neu- romuscular (NMES)

Um dos primeiros pontos a serem elucidados buscando essa otimiza- ção é o posicionamento dos
eletrodos. Quando posicionados sobre o ventre muscular, este pode ser colocado sobre o ponto motor
(local que o nervo se conecta ao músculo) e isso modifica as respostas físicas da eletroesti- mulação
(a distribuição do campo elétrico é relativa à densidade do tecido muscular e se este é sobre o nervo
motor). Assim, alguns guias comerciais da localização de pontos motores foram criados para facilitar
o posiciona- mento dos eletrodos.
Entretanto, estudos como de Botter et al.20 demonstraram que existe uma grande individualidade
na localização dos pontos motores nos mem- bros inferiores. Para isso, os autores identificaram o
ponto motor de 10 músculos do membro inferior preferido de 53 voluntários, de ambos os sexos (28
homens e 25 mulheres), com diferentes idades (18 – 50 anos). Para realizar a identificação da
localização dos pontos motores foi utiliza- do um eletrodo em forma de caneta que foi movido pela
pele para verificar o local que produziria o maior valor de torque com uma intensidade fixa. Em
seguida, os autores registraram a distância desse local em relação a di- ferentes pontos de referência
anatômicos para a comparação entre os indi- víduos. Foi observado que cada indivíduo possuía uma
distância diferente dos pontos de referência anatômicos, demonstrando que é necessária a re- alização
da identificação individual do ponto motor. As recomendações do estudo foram: realizar a palpação do
músculo, do tendão distal e proximal e determinação por inspeção visual da produção de torque
involuntária.
Complementando o estudo de Botter et al.20 sobre o posicionamento do eletrodo, Gobbo et al.21
investigaram se existe diferença na percepção de dor e na produção de torque quando o eletrodo é
colocado no ponto motor, localizado por meio dos métodos propostos por Botter et al.20, ou quando se
utiliza um guia comercial da localização do ponto motor. Para tal, 10 sujeitos de ambos os sexos
realizaram duas visitas distintas, com dois diferentes procedimentos. Em cada visita era avaliado um
músculo diferente (tibial anterior ou vasto lateral). No primeiro procedimento, era realizada a
localização do ponto motor de forma individual seguindo o pro- posto por Botter et al.20, e no segundo
o eletrodo era posicionado de acordo com um guia comercial. O procedimento de estimulação foi
igual entre as sessões, sendo um protocolo de rampa de frequência (2 a 50 Hz em 7,5 s),
possibilitando retirar informações de torque de pulsos simples e das con-
trações tetânicas (tetania são diversos estímulos sobrepostos ocorrendo uma somação de potenciais de
ação, isso faz com que o músculo contraia até permanecer constante). A cada protocolo o voluntário
tinha 3 min de recuperação. No final de cada estimulação foi solicitada a percepção subje- tiva de
desconforto (0 – 10).
Os resultados desse estudo demonstraram que o posicionamento do ponto motor localizado de
forma individualizada consegue gerar uma maior produção de torque e um menor desconforto em
comparação ao posicionamento dos guias comerciais. Tais resultados corroboram com o estudo de
Botter et al.20, e acrescenta a possibilidade de realizar uma rea- bilitação mais indolor (podendo
utilizar estímulos elétricos maiores sem desconforto para o voluntário) e mais efetiva (maior produção
de torque, maior estímulo mecânico gerando maior hipertrofia). Porém, é necessá- ria a criação de
técnicas padronizadas e melhorias nos métodos, para que profissionais que utilizam a
eletroestimulação como tratamento possam ter resultados mais consistentes e comparáveis entre
diferentes tentativas.
Além do menor desconforto gerado pelos diferentes métodos, é possí- vel posicionar o eletrodo
no nervo ou no ventre muscular. Estudos como o de Rodriguez-Falces22,23 e Bergquist24,25 investigaram
se existem diferenças nas respostas fisiológicas entre esses dois posicionamentos. Os objetivos
desses quatro estudos foram semelhantes, mas tiveram algumas diferen- ças. Os estudos de
Bergquist24,25 investigaram se o posicionamento afeta o recrutamento das UMS dos músculos tríceps
sural25 e quadríceps femu- ral24; e os estudos de Rodriguez-Falces investigaram se o posicionamento
afeta o recrutamento das UMS em diferentes músculos23 e a potencializa- ção22.
Os estudos de Bergquist24,25 foram os primeiros a investigar a con- tribuição do sistema
nervoso periférico e central quando a estimulação é realizada em diferentes locais (no nervo ou no
ventre dos músculos) e também foi realizado em diferentes músculos (tríceps sural25 e quadríceps
femoral24). Os autores relatam que ao realizar a NMES é possível ativar os dois tipos de neurônios
(sensoriais e motores) e ao aumentar a con- tribuição do sistema central (representada pelo reflexo
H), gerando uma maior sincronização das UMS que poderiam aumentar a resistência da fa- diga
provocada pela NMES. Cabe salientar que o motivo da escolha dos músculos foi devido a eles serem
os mais estimulados na reabilitação com a NMES24,25.
No primeiro estudo de Bergquist25 foi investigado os flexores planta-
res do tornozelo. Os autores relatam que quando a NMES é aplicada no
nervo tibial, o reflexo H é proeminente no sinal eletromiográfico do mús- culo sóleo. E quando a
NMES é realizada no ventre muscular do tríceps sural, apenas ondas M aparecem. Porém, isso foi
feito com apenas quatro sujeitos e não foi realizada nenhuma análise estatística. Por isso, o obje- tivo
do estudo foi investigar a contribuição do sistema central e periférico quando a NMES é realizada no
nervo tibial ou no ventre muscular dos flexores plantares do tornozelo. O principal resultado do
estudo foi que utilizando a mesma intensidade da NMES para os diferentes locais, existe uma maior
contribuição do sistema central (representado pelo aumento do reflexo H) quando o nervo é
estimulado, e quando a NMES é realizada no ventre muscular existe uma maior contribuição do
sistema periférico (representado pelo aumento onda M). Os resultados do segundo estudo de
Bergquist24, que analisou os extensores do joelho, foram similares ao primeiro estudo.
Corroborando os estudos de Bergquist24,25, o primeiro estudo de Rodri- guez-Falces23 procurou
verificar se existiriam diferenças no recrutamento das UMs caso o eletrodo fosse posicionado no
nervo ou no ventre mus- cular, nas diferentes cabeças do quadríceps e em diferentes intensidades. O
autor acreditava que a estimulação no nervo iria ativar de forma mais sincronizada as UMS e isso iria
refletir em diferenças na onda M. Para verificar se essa diferença iria ocorrer, foram recrutados 22
participantes saudáveis, que realizaram o protocolo experimental que consistiu de pul- sos simples em
diferentes intensidades (submáximas, máximas e supra- máximas) nas duas configurações (nervo
femoral ou ventre do quadríceps femoral). Para a verificação da onda M foi coletado a sEMG dos
músculos vasto lateral e vasto medial, e para o desconforto foi realizado uma escala visual de dor.
O autor verificou que em intensidades máximas e supramáximas não foram observadas
diferenças em nenhuma das configurações. No entanto, quando aplicadas intensidades submáximas
foram observadas diferenças na amplitude da onda M e no pico de força entre as configurações para
o vasto lateral, mas mínimas mudanças para o vasto medial. Outros resul- tados interessantes foram
que a estimulação no nervo femoral produziu respostas similares entre os dois músculos analisados e
quando realizado no ventre muscular a resposta dos músculos foi diferente. Porém para a sensação de
desconforto, os valores foram menores para a condição de es- timulação no ventre muscular.
Esses resultados são importantes para a aplicação prática, pois mos-
tram que estimulações submáximas no ventre do quadríceps femoral re-
sultam em diferentes respostas dependendo do músculo e resultam em um menor desconforto, podendo
ser utilizada para a reabilitação como uma forma mais tolerável do desconforto.
Já no segundo estudo de Rodriguez-Falces22 investigou se o local de estímulo (nervo ou ventre
muscular) poderia afetar a potencialização (o fenômeno de potencialização possui duas definições,
mas nesse artigo, a potencialização foi definida como o aumento da onda M). A magnitude da
potencialização é influenciada por diferentes fatores, como o número e tipo de UMS, tipo de
contração e a sincronização das UMS. Quando a esti- mulação é realizada no nervo femoral, o impulso
elétrico é propagado pelo axônio primário até a musculatura, e quando realizado no ventre muscular o
impulso elétrico ocorre nas ramificações finais dos axônios, que estariam muito mais próximas da
placa motora. Porém, a velocidade de condução dos axônios primários é mais rápida do que as
ramificações finais e a hipó- tese dos autores era de que essa diferença de velocidade de condução dos
axônios poderia resultar em uma sincronização de mais fibras, aumentan- do a amplitude da onda M.
Outro fator que os autores também considera- ram foi que, mesmo os músculos vasto lateral e vasto
medial serem pare- cidos em termos de composição de fibras e distribuição de UMS, existem
especificidades anatômicas e estruturais que podem variar nas respostas dos diferentes músculos do
quadríceps, por isso também foi investigado as respostas desses dois músculos.
Participaram do estudo 10 voluntários saudáveis e foi analisada a força dos extensores de joelho e
sEMG do vasto lateral e medial para analisar a onda M. O protocolo experimental consistiu de
avaliações pré e pós um protocolo de fadiga. Foram realizadas contrações involuntárias de exten-
sores de joelho com a intensidade máxima da eletroestimulação, pré e pós protocolo. Foram testados
três estímulos pré protocolo, alternando entre nervo e ventre muscular, e pós protocolo foi realizado
um estímulo para cada posicionamento nos tempos: imediatamente pós, 1, 3, 5, 7 e 9 min. O protocolo
de fadiga consistiu de 48 CVIM de 3 s com 5 s de intervalo, e a cada intervalo era realizado um
estímulo intercalando entre o nervo e no ventre muscular.
Como resultado mais interessante do estudo foi aceita a hipótese inicial de que a estimulação no
nervo iria resultar em uma maior potencialização (definida como um aumento da onda M neste
estudo) nos dois músculos em relação a estimulação no ventre muscular. E que durante e após o pro-
tocolo de fadiga, os dois posicionamentos (nervo e ventre) apresentaram valores de pico de força
idênticos. Essas respostas validam a ideia propos-
ta no estudo anterior de Rodriguez-Falces24, de que é possível utilizar a NMES no ventre muscular
para provocar uma fadiga muscular como uma forma alternativa que provocaria menor desconforto.
Com relação ao desconforto, o estudo de Cattagni et al.26 investigou possíveis formas para reduzir
o desconforto durante a aplicação da ele- troestimulação. De acordo com os autores, se o eletrodo
fosse posicionado mais próximo do nervo seria necessária uma menor intensidade de estimu- lação
elétrica para alcançar uma mesma produção de torque e acarretaria em um menor desconforto para o
sujeito. Para tal, os autores compararam se a aplicação de pressão no eletrodo durante a realização do
estímulo po- deria reduzir o desconforto sentido pelo voluntário e se afetaria a produção de torque.
Doze adultos de ambos os sexos foram selecionados para fazer parte desse estudo. Os sujeitos foram
posicionados em um dinamômetro isocinético e a articulação escolhida foi a do tornozelo, sendo
realizados os estímulos elétricos no nervo tibial. Foram realizadas três condições de forma
randomizada: a primeira condição foi a condição controle, na qual não era realizada nenhuma pressão.
Na segunda, era realizada uma pres- são manual constante sobre o eletrodo, e na última condição foi
utilizada uma fita para aplicar pressão no eletrodo. Os resultados indicam que a qualidade do sinal
não se altera em função da aplicação ou não de pressão sobre o eletrodo. No entanto, o nível de dor foi
menor na condição com pressão aplicada sobre o eletrodo. No quadro 2.4, é apresentado todas as
recomendações dos artigos citados neste subtópico.

Quadro 2.4 - Resumo de todas as recomendações dos artigos acima para o uso da eletroestimulação.

Procedimentos Resultado
↑ Produção de torque
↓ Intensidade
Identificação individual do ponto ↓ Desconforto
motor
= Onda M
Aplicação de pressão no eletrodo = Reflexo H
↓ Desconforto
↓ Desconforto
Posicionamento no ventre ↑ Contribuição do sistema periférico
muscular ↑ Onda M
↑ Contribuição do sistema central
Posicionamento no nervo ↑ Reflexo H
Como explicado nos subtópicos anteriores sobre a metodologia e a oti- mização da utilização, o
desconforto gerado por intensidades mais altas e a rápida fadiga provocada pela NMES restringiam
muito os benefícios da sua aplicação. Porém, alguns métodos já foram aprimorados e a utilização da
NMES para promover o treinamento, reabilitação e recuperação já são utilizados. A seguir iremos
abordar essas aplicações.

Utilização da eletroestimulação no treinamento, rea- bilitação e recuperação


O treinamento com a NMES pode auxiliar no ganho de força e massa muscular de indivíduos
saudáveis e atletas. Também é possível realizar um treinamento e reabilitação em populações especiais
como idosos e indiví- duos que não conseguem realizar uma contração voluntária (i.e., pessoas que
sofreram lesões medulares parciais ou completas e acamados). Nesse subtópico iremos abordar as
aplicabilidades da NMES em diferentes po- pulações.
A utilização da NMES para atletas e indivíduos saudáveis pode ser observada, por exemplo, no
estudo de Neyroud27 no qual foi utilizada a NMES em nove indivíduos fisicamente ativos. Nesse
estudo foi investigada a fadiga periférica após duas sessões diferentes de treinamento. Os indi- víduos
realizaram duas sessões de treinamento com 5 séries de 10 saltos sem contra movimento (um salto a
cada 6 s) com 18 s de intervalo entre as séries, sendo uma série com e outra sem NMES. Na condição
NMES era re- alizado um estímulo durante a realização da fase concêntrica do salto. Para comparar
qual era o tipo de fadiga provocada (central ou periférica), foi realizada uma CVIM de extensores de
joelho pré e pós protocolo de fadiga. Foi observado que ao realizar a NMES em conjunto com saltos,
ocorria uma maior queda de força, ou seja, maior fadiga da musculatura envolvi- da. Os autores
concluem que a NMES poderia ser utilizada como forma de aumento da intensidade de uma sessão de
treinamento, ou que poderia ser utilizada como uma sessão de treinamento em uma periodização.
Cabe salientar que esses efeitos da NMES ocorrem quando ela é uti- lizada em conjunto na sessão
de treinamento, quando realizada de forma isolada seus efeitos podem não ser tão expressivos devido
ao desconforto e/ou dor provocada por intensidades mais altas. A NMES pode ser utiliza- da como
uma sessão de treinamento isolada, pois ela auxilia no aumento de força e massa muscular como
demonstrado na revisão feita por Gondin et al. 28. Porém, necessários alguns cuidados, Fouré et al. 29 e
Nosaka et al.
30 demonstraram que a NMES provoca um grande dano muscular.
Também é possível realizar intervenções para reabilitar diferentes populações. Essas intervenções
proporcionam um aumento na saúde e qualidade de vida. Esses benefícios podem ser observados no
estudo de Bochkezanian et al. 14, no qual foi realizado 12 semanas de treinamento com NMES em
cinco pessoas com lesão medular. Ocorreu um aumento de força e área de secção transversa dos
músculos do quadríceps, porém os resultados mais interessantes foram o aumento da razão do
colesterol HDL/LDL e redução da espasticidade (aumento do tônus muscular). Essa melhora de
variáveis neuromusculares é importante nessa população, pois ocorre uma atrofia muscular devido ao
desuso dos músculos, e isso afeta outros sistemas como o sistema cardiovascular e metabólico.
Além da utilização isolada da NMES como processo de intervenção na reabilitação, ela pode ser
utilizada em conjunto com a fisioterapia conven- cional, assim como, nas metodologias de
treinamento do esporte que fa- zem a união do treinamento convencional com a NMES. A validade
desta metodologia foi indicada na revisão de Hauger et al.31, causando maiores aumentos da força
muscular do quadríceps femoral em indivíduos após ci- rurgia do ligamento cruzado anterior quando
comparada com a utilização apenas da fisioterapia convencional.
Já quando tratamos da recuperação pós a atividade física, a NMES apresenta efeitos positivos na
remoção de lactato e na atividade da creatina quinase32. Além de apresentar efeitos positivos para
redução da percepção subjetiva de dor muscular após o exercício. Podendo desta forma melhorar o
bem-estar durante os treinamentos e ajudar os atletas em relação a ati- tude como encaram seus
treinamentos33. No entanto, essas metodologias aplicadas para a recuperação não possuem uma
metodologia única e orga- nizada para a aplicação, além de que nos dias atuais nenhum dos métodos
tradicionais utilizados (gelo, massagem, etc.) têm apresentado influência sobre a recuperação do
desempenho de atletas. A partir disto, a utiliza- ção da NMES para a recuperação é válida quando
observamos os efeitos bioquímicos e a percepção da dor ao após o exercício, mas não apresenta
efeitos sobre o desempenho, o que seria o fator de principal importância quando falamos de
recuperação pós exercício dentro do esporte.
Apesar do corpo de evidências e dos resultados positivos envolvendo a utilização da
eletroestimulação neuromuscular nas áreas do esporte e da saúde, ainda existem algumas lacunas
com relação aos procedimentos [posicionamento do eletrodo (ventre muscular ou nervo), intensidade
do estímulo (submáximo, máximo ou supramáximo), nível de desconforto,
etc.] que precisam ser melhor esclarecidas antes da aplicação direta dessa técnica em programas de
treinamento, reabilitação e recuperação. Quando falamos do processo de avaliação neuromuscular,
fica evidente a necessi- dade da utilização da eletroestimulação neuromuscular em conjunto com
outros métodos de avaliação, tais como: eletromiografia, dinamometria (célula de carga ou
dinamômetro isocinético) e ultrassonografia. A asso- ciação da eletroestimulação neuromuscular com
estas técnicas de medida permitirá ampliar o conhecimento sobre diversos processos fisiológicos
[fadiga (periférica e central), inabilidade do SNC e alterações morfológicas (comprimento do fascículo
e ângulo de penação)] envolvidos no treina- mento, reabilitação e recuperação de diferentes
populações.

Aplicações práticas

• A eletroestimulação neuromuscular pode ser uma ferramenta para o treinamento de


indivíduos que possuem alguma limitação de movimento;
• O treinamento envolvendo eletroestimulação neuromuscular pro- porciona hipertrofia
muscular, e pode substituir uma sessão de trei- namento;
• Uma das formas de se avaliar o sistema nervoso periférico (mús-
culo) é por meio da eletroestimulação neuromuscular;
• A eletroestimulação neuromuscular pode auxiliar na identificação das contribuições
centrais e periféricas durante o processo de fadi- ga;
• A eletroestimulação neuromuscular pode ser utilizada como for-
ma de redução da percepção subjetiva de dor após atividade física.
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120
CAPÍTULO V
RIGIDEZ (STIFFNESS) DO MEMBRO INFERIOR: CONCEITOS,
APLICAÇÕES E MÉTODOS DE MEDIÇÃO

Débora Aparecida Knihs


Juliano Dal Pupo

O que você irá encontrar:

• Definições gerais sobre a rigidez do membro inferior (stiffness) e seus modelos de


representação;
• Informações e estudos acerca da associação entre o desempenho nos esportes que envolvam o
ciclo de alongamento-encurtamento e a rigidez, bem como o comportamento da mesma em
situações de fadiga;
• Informações e estudos sobre a associação das lesões de membros inferiores e os níveis de
rigidez;
• Os principais instrumentos necessários e as equações mais am- plamente utilizadas na
literatura para a mensuração da rigidez de membros inferiores;
• As tarefas motoras predominantes utilizadas para a mensuração da rigidez, bem como as
vantagens e desvantagens do uso de cada uma delas.

Introdução

A rigidez dos membros inferiores tem sido vastamente investigada, especialmente nas últimas duas
décadas. A mesma é definida, no corpo humano, como a capacidade do corpo, ou partes dele, de resistir
a uma deformação uma vez que uma força é aplicada1. A rigidez, quando apresen- tada em níveis
extremos, (i.e. muito altos ou muito baixos), parece possuir relação com lesões de membros inferiores; já
em um nível ideal (de acordo com as características antropométricas, nível de atividade física, ou mes-
mo, dependente da modalidade esportiva), é apontada como um atributo chave para a melhoria do
desempenho2. Ao que tudo indica, esta melho- ria do desempneho se dá através de uma utilização mais
eficiente do ciclo de alongamento-encurtamento (CAE)2, no qual os músculos armazenam energia
durante a fase excêntrica do movimento, e reutilizando-a na fase concêntrica do mesmo. Além disso, o
comportamento desta propriedade biomecânica apresenta diferenças dependendo da tarefa e da situação
em
que a mesma está sendo executada. Por fim, em se tratando de métodos de medição da rigidez,
diversas são as equações e tarefas motoras possíveis de utilização.
Embora literatura sobre este tema esteja disponível, ainda há contro- versas entre achados
relacionados ao mesmo. Em partes, estas divergências entre achados de diferentes autores podem se dar
pelo não esclarecimento aprofundado sobre a temática, pela utilização equivocada de nomencla- turas,
ou ainda pelo uso indiscriminado de métodos de medição não ade- quados. Assim, o presente capítulo
tem por objetivo elucidar a temática rigidez dos membros inferiores, apontando as principais
implicações da mesma no que se refere ao desempenho esportivo e ao risco de lesões, bem como
esclarecer o uso de diferentes métodos de medição da rigidez.
As referências utilizadas para a construção do presente capítulo foram consultadas nas bases de
dados online Pubmed, Scielo e Google Scholar, e foram pesquisadas através das seguintes palavras
chave: rigidez (stif- fness), membro inferior (lower limb), atletas (athletes), lesão (injury) e
desempenho (performance).

Conceitos gerais

Como elucidado, rigidez (stiffness) pode ser definida como a modifica- ção física de um objeto em
função de uma força que é aplicada3. O conceito de rigidez vem da Lei de Hooke, e se aplica a objetos
que armazenam ener- gia durante a deformação e a retornam em forma de energia elástica1, 2, ou seja,
objetos que se comportam como uma mola. A lei de Hooke é determi- nada pela equação F = kx, onde
F é a força necessária para deformar um material, k é uma constante proporcional e x representa o
quanto o objeto é momentaneamente deformado1,2,4. A constante proporcional k compete a uma mola
constante e, neste sentido, esta equação descreve a rigidez de um sistema de massa-mola linear
ideal1,2.
No contexto humano, a rigidez pode ser determinada como a capacida- de do corpo, ou dos
segmentos corporais, de resistir a uma flexão quando uma força externa é empregada4-6, como a força
de reação do solo durante a corrida, por exemplo. Em se tratando de um modelo que represente a
rigidez de maneira precisa, deve ser levado em consideração o somatório dos valores de rigidez dos
ossos, ligamentos, tendões e músculos1,7, além de todas estas estruturas anatômicas, viscosidade
muscular, o atraso no tempo de reflexo muscular e o controle do sistema nervoso central, entre
outros1,4. Este modelo também deveria ser capaz de contemplar a análise
de vários graus de liberdade de movimento articular1.
No entanto, um modelo desta complexidade dificulta sua viabilização e aplicação, pois muitas
suposições teriam que ser realizadas, uma vez que algumas expressões matemáticas necessárias ainda
não foram totalmente desenvolvidas1. Diante disto, um modelo mais simples, baseado no siste- ma
massa-mola, foi criado para estimar a rigidez. Neste modelo, de nome homônimo, a massa é
representada pela massa corporal e a mola é repre- sentada pelos membros inferiores4, sendo a rigidez
mensurada de forma linear na direção vertical4 (Figura 1.5 A). Ainda no modelo massa-mola, a
rigidez também pode ser mesurada em movimentos lineares ocorridos não totalmente na direção
vertical, através de um modelo adaptado que leva em consideração o ângulo de entrada do membro
inferior no solo4 (Figura
1.5 B). No modelo massa-mola, sem aplicação de força sobre a mola, não haverá armazenamento de
energia e, portanto, nenhuma força será gera- da; porém, se uma força for aplicada, causando uma
deformação temporá- ria na mola, esta armazenará energia durante sua deformação e parte desta
energia retornará de forma a retomar o formato original da mola2.

Figura 1.5 - Modelo massa-mola para movimentos ocorridos na direção vertical (a) e não totalmente
vertical (b). Legenda: FRS = força de reação do solo; ∆ = deslocamento; θ = ângulo de entrada do
membro inferior no solo.

Fonte: Autores (2018), adaptado de Butler, Crowell III e Davis1 e Maloney e Fletcher8.

Em se tratando de medidas não lineares da rigidez, um modelo bastan- te utilizado em pesquisas é


o modelo mola-torcional, proposto por Farley e colaboradores em8. Este modelo separa o membro
inferior em três molas
torcionais, sendo elas o quadril, o joelho e o tornozelo, e permite determi- nar a contribuição de cada
articulação na formação da rigidez total8. Uma ilustração deste modelo pode ser visualizada na Figura
2.5.
Ambos os modelos (massa-mola e mola-torcional) possuem como li- mitação possibilitar a
realização de medidas de rigidez somente em um plano de movimento; assim os modelos são
dependentes, em partes, da capacidade do indivíduo de estabilizar o movimento em apenas um plano8.
Importante ressaltar que os dois modelos têm sido amplamente utilizados na literatura para a avaliação
da rigidez nas mais diversas atividades que envolvam CAE5, tendo em vista que em atividades como
corrida, caminha- da e saltos os membros inferiores se comportam como uma mola9.

Figura 2.5 - Modelo mola-torcional. Legenda: θ = descolamento angular.

Fonte: Autores (2018), adaptado de Maloney e Fletcher8.

A rigidez pode ser determinada em diferentes níveis fisiológicos, desde o mais interno deles, que
é a determinação da rigidez de uma única fi- bra muscular, passando pela determinação da rigidez
do tecido, rigidez da unidade músculo-tendínea, rigidez da articulação, rigidez de um membro
(inferior) e por fim chegando ao nível mais global, rigidez do corpo huma- no inteiro1,8. Neste capítulo
daremos ênfase aos três últimos níveis, que são denominados/classificados na literatura como: rigidez
articular (KjOINt), rigidez dos membros inferiores (KLEG) e rigidez vertical (KVERt) 1,3.
A mais comumente calculada é a rigidez vertical (KVERt). Esta pode ser definida como a soma
da resistência do corpo humano ao deslocamen- to vertical após a aplicação de uma força de reação
do solo3, levando em
consideração para seu cálculo o deslocamento do centro de massa do cor- po. A KVERt é mensurada
em movimentos lineares que ocorrem predomi- nantemente na direção vertical, como os saltos
verticais2, 3 e representa a rigidez do corpo como um todo. KVERt é considerada a “referência” das
medidas de rigidez, assim, os modelos de medida de KLEG e KjOINt tive- ram seu desenvolvimento
derivado desta3,5. KVERt é um método rápido e simples, podendo ser calculada com o uso mínimo
de equipamentos8. Deve ser ressaltado, que esta classificação de rigidez não leva em consi- deração
movimentos horizontais, movimentos de tronco e dos membros superiores, e a contribuição isolada de
cada articulação para a rigidez total, e isto pode ser uma limitação8.
KLEG é definida por Brazier et al.3 como a resistência a mudança do comprimento do membro
inferior quando forças internas ou externas são aplicadas. Como a definição sugere, esta retrata a
rigidez do membro in- ferior, sendo possível realizar a mensuração da rigidez de cada membro
inferior separadamente1, permitindo a avaliação, por exemplo, de assime- trias de rigidez entre os
membros. Uma das diferenças entre KVERt e KLEG, é que a última retrata a rigidez do membro
inferior em atividades lineares não totalmente verticais (por exemplo, uma passada na corrida),
levando em consideração o ângulo de entrada do membro inferior no solo1-4. Além disso, o cálculo de
KLEG exige as medidas de comprimento do membro in- ferior, tempo de contato com o solo,
velocidade horizontal, força de reação do solo vertical e deslocamento do centro de massa3,8. Como
limitação, o cálculo de KLEG, assim como de KVERt, não leva em consideração movi- mentos do
tronco e dos membros superiores, e a contribuição isolada de cada articulação para a rigidez total8.
Por fim, KjOINt retrata a rigidez das articulações e é definida como a resistência à variação no
deslocamento angular para flexão de cada uma das articulações após a aplicação de momentos
articulares3. Assim como a KLEG, KjOINt também permite a avaliação da rigidez de forma separada
entre os membros, ou no caso, entre as articulações de cada membro. O KjOINt possui influência
direta em KVERt e KLEG1,3, sendo que, a KjOINt da articulação do tornozelo é apontada pela maioria
dos estudos como a prin- cipal determinante dos níveis de rigidez total10. KjOINt pode ser mensura- da
tanto em movimentos verticais, como em movimentos não totalmen- te verticais, assim, pode ser
mensurada tanto em movimentos de saltos e corridas, quanto em movimentos esportivos
específicos que envolvam o CAE. A literatura sugere que pode-se mensurar a rigidez articular do
tornozelo, do joelho e do quadril, apesar de a rigidez articular do quadril
ainda ser alvo de controversas na literatura quanto a sua aplicação8. Uma limitação no uso desta
classificação é a exigência de um maior número de equipamentos, e o maior dispêndio de tempo
para a análise nos sinais cinemáticos8.

Comportamento da rigidez em diferentes tarefas e sua relação com o desempenho


esportivo

A unidade músculo-tendínea (UMT) parece sofrer adaptações ou mo- dulações de acordo com a
tarefa e a situação em que a mesma está sendo executada. A intensidade do exercício e a condição de
fadiga apresentada costumam impactar em um maior ou menor nível de rigidez. Essas mo- dulações
são evidenciadas uma vez que normalmente o corpo busca es- tratégias para otimizar o desempenho
na tarefa executada. É fortemente sugerido na literatura, que a rigidez de membros inferiores possua
relação com o desempenho esportivo1-3,8, sendo considerada um atributo chave na melhoria do
desempenho de esportes e atividades que envolvam o CAE, como a corrida3,4,11,12, os sprints13, os
saltos9,14,15 e as mudanças de direção16.
Um nível adequado de rigidez em atividades que envolvam o CAE é importante, visto que
permite melhor absorver as forças de reação do solo na fase excêntrica do movimento e através disto
armazenar e reutilizar energia elástica na fase concêntrica com mais eficiência1,7,8,14,15. Esta me- lhor
utilização do CAE é possível, dentre outros fatores, através de me- nores tempos de contato com o
solo, o que por sua vez eleva os níveis de rigidez. Assim, apesar de não haver um valor ideal de
rigidez a ser tomado como padrão, parece que uma rigidez mais elevada é melhor para o de-
sempenho esportivo em comparação a um nível mais baixo da mesma1,17.
Brazier et al.17 aponta que um membro inferior mais rígido é mais ca- paz de resistir a
deformações provenientes da aplicação de forças de rea- ção de solo assim gerando maiores
quantidades de impulso, necessárias, por exemplo, para realizar mudanças de direção em menores
tempos. No entanto, vale ressaltar, que também é defendido, embora de forma dimi- nuta, que uma
UMT mais compliante (menos rígido) permite uma maior amplitude de movimento o que aumentaria
a velocidade de contração e assim a potência de membros inferiores2,18. Assim, parece que o nível
ideal de rigidez para maximizar o desempenho depende especificamente da ta- refa a ser executada2.
Como apontado anteriormente, o nível de rigidez do sistema músculo-
-tendíneo depende, em partes, da tarefa que está sendo executada. Parece
consenso entre os autores que o nível de rigidez aumenta concomitante a demanda da tarefa, ou seja,
conforme a intensidade e/ou a velocidade da tarefa se tornam maiores a tendência é que níveis
maiores de rigidez tam- bém sejam verificados2,9. Em se tratando de saltos, por exemplo, foi obser-
vado que um aumento na frequência (velocidade) de saltos, tanto bilate- rais quanto unilaterais,
acarretou em um aumento da rigidez.9,19-21. Neste tipo de atividade um nível alto de rigidez é associado
a menores tempos de contato com o solo, maiores frequências de contato com o solo e maiores forças
de reação do solo2. No que diz respeito a corrida, também há evidên- cias na literatura sobre o aumento
da rigidez simultaneamente ao aumento da velocidade da corrida4,12,15,22. Na corrida, parece que,
maiores níveis de rigidez são associados também a maiores frequências de passadas e meno- res
comprimentos de passada2, 11.
Um dos motivos apontados para explicar o aumento da rigidez con- comitante ao aumento da
intensidade da atividade, é a necessidade dos membros inferiores de resistirem a um colapso na fase
de aterrissagem/ impacto, e assim retornar maiores quantidades de energia elástica na fase
propulsiva1,14. Além disso, é sugerido que quanto maior a quantidade de força aplicada durante a
tarefa, maior é a resistência necessária (rigidez) para manter o controle dos movimentos1.
Corroborando, valores de rigidez relatados em sprints máximos são maiores do que os relatados
durante a corrida em intensidade menores22. Por fim, a diminuição do deslocamento do centro de
massa, ou da mudança no comprimento do membro inferior (em função de uma flexão de joelhos),
são normalmente verificadas quan- do há um aumento da intensidade/velocidade da tarefa20, e
como estas são variáveis ligadas diretamente a rigidez, isto pode ajudar a explicar o aumento da
rigidez concomitante ao aumento da demanda da atividade.
Diante do exposto, não é surpresa que tenha sido relatado que atletas possuem níveis de rigidez
maiores em comparação a sujeitos destreina- dos23, uma vez que os mesmos necessitam atingir um
melhor desempenho. Também foram observadas diferença nos níveis de rigidez entre atletas,
dependendo do tipo de prova/modalidade praticada18. Atletas de potência, por exemplo, possuem
maior rigidez dos membros inferiores em compa- ração a atletas de resistência24. Corredores com arco
plantar alto possuem maior rigidez em relação a corredores com arco plantar baixo; isto se deve, em
partes, a menores flexões de joelho durante a passada verificadas neste grupo25. Em um teste de
mudança de direção, foi verificado que os sujeitos mais velozes possuíam níveis de rigidez maiores
(verificados durante drop jumps unilaterais) em relação aos sujeitos mais lentos16 e por fim, durante
uma prova oficial de 100 metros rasos, atletas que possuíam maior rigidez produziam maior
aceleração entre a primeira e a segunda fase da prova26.
Vale ressaltar que, existem estudos que não encontraram aumento da rigidez concomitante a
demanda da atividade. Wang27, por exemplo, ve- rificou que quando as cargas de impacto aumentam
de 40cm para 60cm ocorre uma diminuição da rigidez dos membros inferiores. Na corrida, Morin et
al.12 não verificaram alteração da rigidez (KVERt e KLEG) durante a realização de um sprint de 100
metros. Parece que uma passada além da amplitude habitual na corrida permite uma grande
amplitude de mo- vimento, o que causaria uma diminuição nos valores de rigidez1. O uso de
estratégias de controle motor ou mesmo a existência de um drive neural são sugeridos para explicar a
manutenção dos níveis de rigidez ao longo da tarefa executada1,28.
Quando se trata de tarefas realizadas sob situação de fadiga a maioria dos estudos aponta para
uma diminuição da rigidez em decorrência da fadiga. No que tange a atividades envolvendo saltos,
foi verificada dimi- nuição de KVERt a partir de 60% de um teste de 30 segundos de saltos verticais
contínuos29, bem como foi verificada diminuição desta rigidez após a realização de 100 drop jumps
máximos em um instrumento de tre- nó, seguidos de saltos contínuos até a exaustão30. Um protocolo
de fadi- ga intenso envolvendo 10 séries de 10 saltos máximos também ocasionou diminuição de
KjOINt do joelho em adultos e meninos pré-púberes31. Em atividades de corrida, parece que, a fadiga
provoca diminuições significa- tivas de KVERt e KLEG, tanto em teste de sprints repetidos32, quanto
em corrida em esteira até exaustão11. Morin et al.12 verificaram que ao longo da realização de quatro
sprints de 100 metros, embora KLEG não tenha sofrido alterações significativas, KVERt sofreu uma
diminuição de aproxi- madamente 20,6%. Adicionalmente, um estudo buscou verificar os efeitos
agudos e prolongados de um protocolo de fadiga envolvendo o CAE, na rigidez das articulações do
tornozelo e do joelho durante saltos contínuos e drop jumps; os efeitos da fadiga foram mensurados
imediatamente, 2 ho- ras, 2 e 7 dias após a realização do protocolo. Houve uma diminuição sig-
nificativa de KjOINt em ambas as articulações, tanto nos saltos contínuos quanto nos drop jumps.
Além disso, exceto pelo valor de KjOINt do joelho nos saltos contínuos, nenhum dos outros valores
de rigidez retornaram aos valores basais até o 7º dia de testagem33.
Por outro lado, alguns estudos verificaram aumento da rigidez no de- correr de uma atividade
fatigante. Nos saltos verticais, por exemplo, ve- rificou-se que após a execução de saltos CMJ’s
máximos contínuos tanto
a KLEG, quanto KjOINt do joelho, sofreram um aumento de ~70%28. De- benham et al.34 verificaram
que após um protocolo de fadiga envolvendo exercícios de força para panturrilha, houve um aumento
nos valores de rigidez do membro inferior na tarefa de saltos contínuos realizados em um
instrumento de trenó adaptado. Da mesma forma, Radzak et al.35 que durante a corrida, após a
realização de um protocolo de fadiga, verificou um aumento pequeno mas significativo no valor de
KVERt em homens fi- sicamente ativos.
A modulação da rigidez diante da fadiga neuromuscular é apontada como uma estratégia para
manutenção da performance na tarefa, bem como um possível mecanismo protetor contra lesões36,37.
Além disso, ou- tra justificativa para a modulação da rigidez é o próprio estresse mecâni- co
muscular; por exemplo, foi observado um aumento no deslocamento do centro de massa ao decorrer
de sprints repetidos, provavelmente em decorrência da fadiga, como o deslocamento do centro de
massa é direta- mente ligado ao cálculo da rigidez, isto pode ajudar a explicar os menores valores de
rigidez relatados após a fadiga.
Também há estudos que não verificaram modulação da rigidez em função da fadiga. Conforme
observado por Fischer, Storniolo e Peyré-Tar- taruga38, a fadiga induzida por um protocolo de 60s de
saltos com contra movimento (Teste de Bosco) não provocou alterações em KVERt, quando esta foi
mensurada posteriormente durante corridas em diferentes veloci- dades (auto selecionada, > auto
selecionada, < auto selecionada). Mudie et al.39 tampouco observaram modificação nos níveis de
rigidez quando a performance de saltos unilaterais contínuos era mantida em situação de fadiga.
Também, após a realização de um protocolo indutor de fadiga com- posto por agachamentos
submáximos não foram verificadas alterações em KVERt40. Os estudos que não encontraram
modulação da rigidez em situ- ações de fadiga justificam seus achados com a sugestão de que
estratégias de controle motor ou mudanças na coordenação motora dos membros in- feriores foram
utilizadas para a manutenção da rigidez39,40, ou mesmo que o protocolo utilizado para a indução da
fadiga não tenha sido suficiente- mente fatigante.
Por fim, cabe salientar adicionalmente, que a rigidez pode ser mo- dulada conscientemente a fim
de modificar as forças de reação do solo e o tempo de contato com o solo experienciados na fase de
aterrissagem. Arampatzis, Brüggemann e Klapsing14 realizaram um estudo onde atletas do sexo
feminino realizavam uma série de drop jumps e eram instruídas verbalmente a modular sua
aterrissagem; as atletas recebiam instruções
para 1) saltar o mais alto possível e 2) saltar o mais rápido possível. Foi ve- rificado que com
instruções verbais as atletas foram capazes de modular a rigidez. Uma vez que consiga modular a
rigidez apropriadamente, um atle- ta pode realizar uma melhor utilização do CAE, armazenado mais
energia elástica na fase de aterrissagem e gerando mais força na fase de impulso, o que por sua vez
pode levar a um adiamento da fadiga em atividades como correr e saltar3,25. Além disso, a rigidez
também pode ser modulada a fim de prevenir lesões, através da diminuição das forças de impacto
experi- mentadas1.
Em suma, parece que há uma tendência de aumento da rigidez con- comitante a demanda da
tarefa, o que está interligado a um melhor de- sempenho, uma vez que maiores níveis de rigidez
permitem uma melhor utilização do CAE. No entanto, com a ocorrência da fadiga é verificada uma
diminuição dos níveis de rigidez, que pode ser ocasionada em função de um mecanismo protetor
contra lesões ou mesmo pelo próprio estresse mecânico.

Relação entre rigidez e lesões nos membros inferiores

Como elucidado no subcapítulo anterior, é consenso que determinado nível de rigidez é


necessário para alcançar um melhor desempenho espor- tivo, devido a uma utilização mais eficiente
do CAE1,3,14,15. Porém, tem sido demonstrado que níveis muito extremos de rigidez, isto é, níveis
muito altos ou muito baixos, parecem contribuir para a maior incidência de le- sões dos membros
inferiores1,13,27,40,41. Assim, parece haver um nível ideal de rigidez a ser atingido3, que, além de
propiciar eficiência do desempe- nho, tende a evitar a incidência de lesões. Segundo Watsford et al.42,
a rigi- dez é um dos determinantes primários das características de absorção de choque de uma
unidade musculo-tendão, de uma articulação ou mesmo de um segmento, portanto, destaca-se a
importância da mensuração da mesma.
Níveis muito elevados de rigidez provocam redução da amplitude mo- vimento das articulações,
acentuação dos picos de força experienciados, e, por consequência, altas taxas de impacto dos
membros inferiores1,3. Altos níveis de rigidez dos membros inferiores parecem estar relacionados com
maiores incidências de lesões no tecido ósseo, como fraturas por estresse e osteoartrite1,3, mas esta
também já foi relacionada a lesões de músculos posteriores de coxa42
A associação ou relação direta entre nível de rigidez e lesão é um tan-
to difícil de ser evidenciada. Contudo, alguns estudos procuraram mos- trar evidências que permitem
realizar alguma inferência. Níveis elevados de rigidez foram associados a lesões de membros
inferiores no estudo de Watsford et al.42, no qual os autores investigaram a relação entre a rigidez e
lesões musculares de isquiotibiais em jogadores de futebol profissional. Após uma temporada foi
constatado que 14 atletas, de 136, sofreram lesões de não-contato dos isquiotibiais, sendo que na pré
temporada os mesmos possuíam valores maiores de KLEG quando comparados aos não lesiona- dos,
bem como, para os atletas lesionados KLEG era maior no membro le- sionado em relação ao não
lesionado. Mais evidências sobre esta relação foi mostrada por Williams et al.25. Verificaram que
corredores com arco plantar alto apresentavam maiores níveis de rigidez do membro inferior em
comparação aos outros; deste modo, os autores sugeriram uma rela- ção entre este fato e a maior
incidência de lesões ósseas nesta população, relatada em um estudo anterior do mesmo grupo de
pesquisa43. Por fim, Rodriguez e colaboradores6 buscaram examinar a relação entre lesões dos
membros inferiores e rigidez dos mesmos em jogadoras de elite e sub-elite de netball. Embora KVERt
não tenha sido significantemente diferente en- tre o grupo de atletas lesionado e não lesionado, a
rigidez do músculo sóleo e do tendão calcâneo (mensurada por ultrassonografia), relatada durante a
temporada, foi maior no grupo de atletas lesionadas, assim sugerindo que níveis elevados de rigidez
destes locais são convergentes com maiores incidências de lesões de não-contato em jogadoras
profissionais de netball. Baseado em tais estudos, parece haver evidências que sugerem que altos
níveis de rigidez não são adequados para preservar a estrutura articular do membro inferior.
Por outro lado, as estruturas com menor nível de rigidez (i.e., mais complacentes) também podem
estar associadas a lesões nos tecidos moles. Baixos níveis rigidez permitem grande amplitude de
movimento, podendo causar, por exemplo, instabilidade articular e grande sobrecarga aos teci- dos
moles, como ligamentos, músculos e tendões1,3,13,19.
Esta associação entre complacência e lesões pode ser suportada por alguns estudos como o de
Maquirriain13, o qual analisou a rigidez do mem- bro inferior em atletas com tendinopatia do tendão de
calcâneo e verifi- cou que, dos 51 atletas lesionados testados, 84% apresentavam rigidez do membro
acometido diminuída, sendo atribuída esta redução da rigidez à complacência demasiada do tornozelo.
Complementarmente, o autor veri- ficou que estes atletas possuíam assimetrias de rigidez entre os
membros, sendo o membro acometido aquele que apresentava valores de rigidez
mais baixos. Ainda, Williams et al.25, com o objetivo de comparar a KLEG de corredores com arco
plantar alto e baixo, verificaram que corredores com arco plantar baixo apresentavam maior
complacência do membro in- ferior (menor rigidez) e sugeriram uma associação entre esta maior
com- placência e a maior incidência de lesões nos tecidos moles deste grupo, já relatada em estudo
prévio43. Sugere-se que os menores níveis de rigidez apresentados pelas mulheres em relação aos
homens podem explicar a maior incidência de lesões ligamentares relatada nesta população19,37. Ain-
da, um estudo também realizado com jogadores de futebol profissional na Liga Australiana procurou
examinar KLEG e assimetrias de KLEG ao longo de uma temporada e determinar se estes parâmetros
são relacionados com lesões de tecidos moles dos membros inferiores41. Os autores verificaram que,
embora o valor médio de KLEG não tenha sido diferente entre os gru- pos (lesionado e não lesionado)
ao longo da temporada, o grupo lesionado apresentou maiores assimetrias de KLEG entre os membros
em relação ao grupo não lesionado. Assim, os autores concluem que diferenças bilaterais de KLEG
entre os membros parecem estar relacionadas com a incidência de lesões nos tecidos moles de
membros inferiores nesta população.
Em virtude da relação entre rigidez e lesões de membros inferiores destaca-se a relevância da
mensuração desta variável em atletas e não-
-atletas10, pois avaliações regulares deste parâmetro poderiam ser bené- ficas tanto no sentido de
prevenir lesões, quanto de garantir um retorno seguro as atividades esportivas para atletas em
recuperação de lesão13.

Métodos de medição da rigidez

Existem na literatura diversas possibilidades metodológicas para a mensuração da rigidez, sendo


que, diferentes equações vem sendo utiliza- das para a modelagem de KVERt, KLEG e KjOINt5,8.
Além disso, há uma am- pla gama de tarefas motoras que podem ser empregadas para a avaliação
deste parâmetro5,8. As diversas possibilidades metodológicas para mensu- ração de rigidez já estão
bastante discutidas na literatura4,5,8, porém, mui- tas vezes resultados controversos ou incoerentes
podem surgir em função da utilização de métodos não adequados para a avaliação. A seguir, base- ado
nos estudos supracitados são elucidadas as equações mais utilizadas para a mensuração de cada uma
das classificações de rigidez (KVERt, KLEG, KjOINt), bem como as vantagens e limitações do uso de
cada método.
Principais equações para a mensuração da rigidez rigidez vertical (KVERt)

A rigidez mais comumente mensurada é a vertical (KVERt), Eq 1.5, uti- lizada para descrever ou
avaliar a resistência do corpo ao deslocamento vertical após a aplicação de uma força1. A equação
utilizada para o cálculo de KVERt é a Equação 1 a seguir, descrita por McMahon e Cheng44:

??��??��?? =

����Á?? ,��?? 1.5


∆??

Onde: KVERt = rigidez vertical, FMÁX = força máxima de reação do solo; e ∆y = deslocamento
vertical máximo do centro de massa do corpo. A unidade de medida de KVERt é expressa em
Newton/Metros (Nm).

Outras equações são propostas para o cálculo de KVERt mas, por não serem amplamente
utilizadas, as mesmas não serão discutidas neste capí- tulo.
Dentre as classificações de rigidez, a KVERt é a mais simples e rápida de ser mensurada8. O
único instrumento necessário para realizar a mensu- ração é uma plataforma de força, necessária para
fornecer a força vertical de reação do solo. A partir desta, a dupla integração é realizada para a
obtenção deslocamento do centro de massa do corpo. Segundo Maloney e Fletcher8 é importante
ressaltar que a rigidez não está sendo diretamente mensurada neste método, pois os membros
superiores e o tronco, que po- dem influenciar na rigidez, não são levados em consideração neste
método.
Um método alternativo para a plataforma de força, considerado um equipamento de médio/alto custo,
pode ser utilizado para a mensuração de KVERt, que é o uso de um tapete de contato. Para a utilização
deste ins- trumento foi criada uma equação (Equação 2.5) que leva em consideração a massa corporal
(M), o tempo de voo (TF) e o tempo de contato (TC)45. Foram verificadas fortes correlações entre os
métodos plataforma de força e tapete de contato para as tarefas motoras de saltos continuos submáxi-
mos (r=0,94) e saltos máximos (r=0,98), podendo ser considerado assim um método válido para
estimar a KVERt45, Eq 2.5.

??����??�� =

?? ∗ ?? (��?? + ����)

,��?? 2.5

����2 ��?? + ��??


??

− ��??
4
Vale ressaltar que, levando em consideração o tempo de contato e o tempo de voo, entre outras
variáveis, existem alternativas também para o cálculo do deslocamento do centro de massa do corpo
(Equações 3.5), e para o cálculo da força de reação do solo (Equação 4.5), que podem substi- tuir as
medidas diretas destas variáveis, solicitadas no uso da Equação 15.

∆?? =

����Á??����²
?? [��2 ]

+ ??

����²
8

, ��?? 3.5

Onde: ∆y = deslocamento do centro de massa, FMÁX

força de reação

do solo máxima, TC = tempo de contato, m = massa corporal, g = gravi-


dade.

??
����Á?? = ?? ∗ ?? ∗ 2 ∗

��??

+ 1 , ��?? 4.5

��??

Onde: FMÁX = força de reação do solo máxima, m = massa corporal, g = gravidade, TF =


tempo de voo, TC = tempo de contato.

Diante do exposto pode-se verificar que a mensuração de KVERt em relação às outras


classificações de rigidez (KLEG e KjOINt) possui como principais vantagens ser um método simples
e rápido e necessitar para mensuração a utilização de um único instrumento, além de contar com
possibilidades alternativas8. No entanto, algumas limitações devem ser destacadas, como a
mensuração indireta do deslocamento do centro de massa, não considera movimentos no plano
horizontal, não considera os movimentos realizados pelos membros superiores e/ou tronco, bem como
não considera a contribuição isolada da rigidez de cada uma das articula- ções na formação da rigidez
total8.
Rigidez do membro inferior (KLEG)

A rigidez do membro inferior (KLEG) calcula a capacidade do membro inferior de resistir a uma
força de reação do solo1,3 e não deve ser confun- dida com a rigidez vertical (KVERt). Enquanto
KVERt representa a com- pressão do centro de massa do corpo durante uma tarefa, KLEG retrata a
compressão do membro inferior5,8. A equação utilizada para o cálculo de KLEG é a Equação 5.5,
descrita por McMahon e Cheng44:
????��?? =

�� ??Á??
∆??

, Eq 5.5

Onde: KLEG = rigidez do membro inferior, FMÁX = força de reação do solo máxima, ∆L =
mudança máxima no comprimento do membro infe- rior. A unidade de medida de KLEG é o
quilonewton por metro (kNm).

Segundo Serpell et al.5 para realizar a mensuração direta da mudança máxima no comprimento do
membro inferior, o que permitiria avaliar a rigidez do membro inferior verdadeiramente, deve-se
utilizar técnicas ci- nemáticas (2D ou 3D), mensurando assim, a distância entre dois pontos pré-
definidos do membro inferior no momento em que o mesmo se en- contra estendido e no momento
de maior flexão durante a tarefa (fase de contato). Um destes dois pontos é o trocânter do fêmur,
enquanto ainda há controversas para definição do segundo ponto, sendo sugerido a ponta do pé, o
maléolo lateral, o ponto de aplicação de força ou mesmo o solo5.

Outra forma de mensurar a mudança máxima no comprimento do membro inferior é através de


predição por meio de equações5. Uma vez que KLEG normalmente é avaliada em tarefas em que o
membro inferior entra em contato não totalmente vertical com o solo, as equações propos- tas levam
algumas variáveis em consideração. A equação mais usual para predição da mudança no comprimento
do membro inferior é a equação a seguir, que possui um complementol, Eq. 6.5:

∆?? = ∆?? + ��?? (?? − ���������� ) e ?? = ��??��−?? (

??��??
����??

), Eq 6.5

Onde: ∆L = mudança máxima no comprimento do membro inferior,


∆y = deslocamento do centro de massa, L0 = comprimento do membro inferior na posição estendida,
θ = metade do ângulo de entrada do mem- bro inferior no solo, u = velocidade horizontal do centro de
massa e TC = tempo de contato com o solo.
No caso do uso desta equação vale ressaltar que, quando KLEG é men- surada em movimentos
onde a entrada do membro inferior no solo é to- talmente vertical, como saltos verticais, o ângulo de
entrada do membro inferior no solo pode ser estimado como sendo zero1. Segundo Maloney e
Fletcher8, nestes casos o resultado de KLEG e KVERt será idêntico, pois L0 (1 – cosθ0) será
substituído por zero, fazendo com que ∆L seja igual a ∆y. Muitos estudos têm calculado KLEG da
mesma forma de calcula-se KVERt (a razão entre a força de reação do solo e o deslocamento do
centro de
massa do corpo). Porém, como já foi ressaltado, esta não é a forma corre- ta de mensurar KLEG, e
assim, a nomenclatura por vezes é erroneamente empregada. Apesar de, em situações onde KLEG é
mensurada em tarefas totalmente verticais, o resultado da mesma ser idêntico ao resultado de KVERt,
deve-se ter cautela com o uso de nomenclaturas equivocadas, pois isto pode confundir o leitor e gerar
resultados conflitantes.
Adicionalmente, outras equações para estimativa da mudança do comprimento do membro
inferior são encontradas na literatura, conforme descritas a seguir (equações 7.5 e 8.5). Contudo, seu
uso é reduzido e não serão aprofundadas neste capítulo.

∆?? = ∆?? + ��?? − ��?? −

², Eq. 7.5
??

Onde: ∆L = mudança no comprimento do membro inferior, ∆y = des- locamento do centro de


massa, L0 = 0,53*altura, s = velocidade horizontal, TC = tempo de contato com o solo.

∆?? = ��?? − ��?? −

��????
??

??
+ ∆��, Eq. 8.5

Onde: ∆L = mudança no comprimento do membro inferior, L0 =


0,53*altura, s = velocidade horizontal, TC = tempo de contato com o solo,
∆y = deslocamento do centro de massa.

Em termos de instrumentação, para obtenção do KLEG é necessário o uso de uma plataforma


de força para a obtenção do deslocamento do centro de massa e da força de reação do solo vertical. Já
a mudança no comprimento do membro inferior pode ser obtida diretamente pelo uso cinemática (2D
ou 3D), ou indiretamente pelo uso de equações de estima- tiva. No entanto, assim como KVERt,
KLEG também possui uma alternativa em termos de uso de equipamentos. Morin et al.12 propôs um
método de “onda senoidal” que permite a mensuração de KLEG através do uso de me- didas
antropométricas, dados temporais (por exemplo, tempo de contato) e fotocélulas. Os autores
verificaram que este método possui validade para a mensuração de KVERt e KLEG em pesquisas
envolvendo corrida.
Por fim, destaca-se que as equações mais tradicionais para o cálculo de KLEG consideram
apenas o componente vertical da força de reação do solo; contudo, tem sido proposto um novo
modelo para o cálculo de KLEG
que leva em consideração também os componentes antero-posteriores e médio-laterais da força de
reação do solo, assim este modelo é multiplanar e permite uma mensuração mais completa da rigidez
de membros inferio- res8. Parece que com o uso do modelo multiplanar, a deformação relatada no
membro inferior é maior, o que ocasiona menores níveis de rigidez dos membros inferiores46.
Pode-se verificar, portanto, que a mensuração de KLEG possui como vantagens: ser mais
específica do que a rigidez vertical, possibilitar a men- suração da rigidez também em movimentos
não totalmente verticais, pos- sibilitar a análise de assimetrias entre os membros, e poder ser calculada
com um uso relativamente mínimo de equipamentos8. Já como limitações esta classificação de rigidez,
assim como KVERt, não leva em consideração a contribuição dos membros inferiores e tronco na
formação da rigidez total e também não permite saber a contribuição relativa de cada uma das
articulações na formação da rigidez total8.

Rigidez articular (KjOINt)

A rigidez articular (KjOINt) representa, como o nome indica, a rigidez de cada uma das
articulações individualmente1, assim, em se tratando do membro inferior, KjOINt pode ser mensurada
para a articulação do qua- dril, a articulação do joelho e a articulação do tornozelo1. A equação mais
utilizada para o cálculo de KjOINt é a proposta por Farley et al. em 1998, que envolve a razão entre a
mudança no momento articular e a mudança no ângulo articular, Eq 9.5:

??��������?? =

∆??
∆??

, Eq. 9.5

Onde: KjOINt = rigidez articular, ∆M = mudança no momento articu- lar, ∆θ = mudança no


ângulo articular. A unidade de medida é o Newton/ Metro/Grau (Nmº)

Outra equação disponível para o cálculo de KjOINt, proposta por Arampatzis et al.14, pode ser
visualizada abaixo (equação 10.5). Vale desta- car que esta equação mensura o momento articular
apenas durante a fase de frenagem da passada.
??��������?? =

��??
∆??

, Eq. 10.5

Onde: KjOINt = rigidez articular, W = trabalho mecânico negativo da articulação, ∆θ = mudança


no ângulo articular.

Vale destacar que o método de determinação do momento articular ainda não é consenso na
literatura, sendo vários os modelos utilizados5. Esta variação no uso de modelos para determinação de
momentos arti- culares vem ocasionando um grande desvio padrão no resultado entre os estudos.
Nesse sentido, Serpell et al.5 sugerem que a mensuração desta variável ainda deve ser aprimorada,
contando com o uso, por exemplo, de cinemática 3D, o que permite a análise do movimento além do
plano sagi- tal único obtido na análise 2D.
Para a determinação de KjOINt é necessário o uso de cinemática, re- alizando-se filmagens com
o uso de sistemas de captura de movimento bi ou tri dimensionais5,8. Uma alterativa que vem sendo
apontada é o uso de smartphones com capacidade de filmagem ≥ 200Hz, que estão agora disponíveis
no mercado, no entanto a reprodutibilidade desta alternativa ainda não foi testada8.
Por fim, destacam-se como as principais vantagens na mensuração de KjOINt em relação as
outras classificações de rigidez aqui expostas a mensuração direta da rigidez articular e a
possibilidade de verificação da contribuição relativa de cada articulação para a formação da rigidez
total8. Como limitação, em geral, este método exige para seu cálculo o uso de um maior número de
equipamentos, além de um dispêndio maior de tempo para análise de variáveis cinemáticas8.

Principais tarefas motoras para a mensuração da ri- gidez

Em se tratando de tarefas motoras empregadas para a mensuração da rigidez, são amplamente


utilizadas as que envolvem o CAE. Assim, tarefas como corrida e saltos são as mais usuais na
literatura para a mensuração deste parâmetro. No entanto, isto não quer dizer que outras tarefas não
possam ser utilizadas. A seguir são apresentadas e discutidas as princi- pais tarefas motoras
empregadas na mensuração da rigidez (KVERt, KLEG, KjOINt), com base no estudo de revisão de
Maloney e Fletcher8.
• Saltos
Saltos, em geral, são a tarefa motora mais utilizada para a deter- minação da rigidez8,17. Como
os saltos ocorrem principalmente na direção vertical, com poucas demandas nos planos frontal e
transversal, esta tarefa parece ser ideal para a mensuração de KVERt, que é de fato o tipo de rigidez
mais mensurada durante este tipo de exercício8. Embora durante os saltos a rigidez mais comumente
mensurada seja KVERt, cabe destacar que KLEG e KjOINt também podem ser mensuradas, como já
elucidado anteriormen- te neste subcapítulo. Diversos são os protocolos de saltos que podem ser
utilizados, dentre eles o hopping, o drop jump e o countermovement jump.
O hopping consiste em um salto executado sem a flexão dos joelhos, ou seja, realiza-se apenas a
flexão plantar. Os hoppings podem ser realizados de forma bilateral19,20,40 ou de forma unilateral9,21,
mas parece que a repro- dutibilidade das medidas de rigidez diferencia-se entre as situações, sendo
que, uma maior reprodutibilidade parece ser apresentada durante os ho- ppings bilaterais8.
Controversamente, Maloney, Fletcher e Richards47 veri- ficaram que durante hoppings bilaterais as
medidas de rigidez unilaterais são tão reprodutíveis quanto as medidas de rigidez bilaterais.
Adicional- mente, apesar de a reprodutibilidade de KVERt, KLEG e KjOINt do tornoze- lo ter sido
estabelecida durante os hoppings, é sugerido que KVERt possua uma reprodutibilidade maior em
comparação a KjOINt8. Ainda assim, Ma- loney e Fletcher8 sugerem que o mais correto é testar a
reprodutibilidade das medidas de rigidez para cada protocolo de avaliação especificamente. Uma
limitação ao utilizar o hopping como tarefa para a mensuração da rigidez é que este normalmente é
executado de forma contínua em uma determinada frequência, o que faz com que a rigidez fique
condicionada a esta frequência8. Apesar de o hopping, num geral, fornecer uma medida re- presentativa
da rigidez do modelo massa-mola, esta tarefa talvez não seja ideal para representar a rigidez em
exercícios acíclicos e máximos8.
Já o drop jump fornece uma medida representativa da rigidez em tare- fas acíclicas máximas8,
sendo que o mesmo consiste em um salto, com fle- xão dos joelhos, realizado após uma queda de uma
superfície (normalmen- te uma caixa). Entre os saltos que utilizam flexão dos joelhos, o drop jump é o
mais comumente utilizado para a mensuração da rigidez, e assim como o hopping, pode ser realizado
de forma bilateral ou unilateral. Maloney, Richards e Fletcher48 verificaram que, embora drop jumps
bilaterais e uni- laterais forneçam medidas semelhantes de rigidez, os drop jumps unilate- rais
apresentam maior reprodutibilidade. Vale destacar que a técnica de execução do drop jump possui
influência na mensuração da rigidez, assim,
o contato do calcanhar com o solo durante a fase de contato com o solo, por exemplo, deve ser evitado,
pois pode gerar um “pico duplo” na curva de força8. Um exemplo de estudo que utilizou o drop jump
para a mensuração da rigidez foi o estudo recente de Lazaridis et al.31, que realizou a mensu- ração da
rigidez durante drop jumps antes e a pós um protocolo de fadiga.
Por fim, o countermovement jump (CMJ) consiste em um salto má- ximo precedido de um
agachamento. Apesar de alguns autores desenco- rajarem o uso do CMJ para a mensuração da
rigidez, por sugerirem que a rigidez deve ser mensurada em tarefas onde uma fase inicial de impacto
esteja presente (hopping contínuo ou drop jump, por exemplo)8,17, é pos- sível realizar a mensuração
da rigidez em CMJ’s sem grandes limitações. O CMJ representa a ação esportiva do salto vertical
presente em diversos esportes, e neste sentido é uma tarefa com grande especificidade. Além disso, o
CMJ também pode ser realizado de forma bilateral e unilateral e adicionalmente, de forma contínua.
Rodacki et al.28 utilizaram para a men- suração da rigidez (KLEG, KjOINt) o CMJ. Adicionalmente,
Dal Pupo et al.29 realizaram a mensuração de KVERt durante um teste de 30s de CMJ’s contínuos.
Maloney, Fletcher e Richards49 realizaram um estudo para comparar três tarefas para a
determinação de assimetrias de rigidez. As tarefas eram: hopping bilateral, drop jump bilateral e drop
jump unilateral. Todas as três tarefas foram capazes de identificar assimetrias de rigidez entre os
membros, porém foram verificadas diferenças nos valores encontrados para cada uma das tarefas,
sendo que para o hopping bilateral do valor de assimetria verificado foi de 5,3%, enquanto para o
drop jump bilateral e para o drop jump unilateral os valores foram 21,8% e 15,1%, respectiva- mente.
Assim, os autores concluem que, embora todas as tarefas tenham sido eficientes para o diagnóstico de
assimetrias de rigidez entre os mem- bros, o drop jump é a tarefa mais sensível para detecção.
Além disso, outra tarefa que pode ser utilizada para a mensuração da rigidez, que embora não seja
um salto, é uma parte do mesmo, é a aterris- sagem. Levando em consideração que a rigidez pode ser
mensurada em qualquer movimento que envolva uma deformação por alongamento da unidade
músculo-tendínea8, fica evidente a possibilidade de uso das ater- rissagens como tarefa motora para a
mensuração da rigidez. Wang27, por exemplo, utilizou aterrissagens de 40, 60 e 80cm para a
mensuração da rigidez.
Os saltos, e a aterrissagem, podem ser realizados sobre plataformas de força29, que é
considerado o padrão ouro para a mensuração da rigidez,
mas como alternativa pode ser utilizado também um tapete de contato45,
com o uso extra ou não de câmeras de vídeo8,17.

• Corrida
A corrida, seja de longa ou curta distância, é uma das atividades mais praticadas na atualidade,
sendo um dos exercícios mais clássicos quando se trata do envolvimento do CAE. Não
surpreendentemente, é uma das tarefas motoras mais utilizadas para a mensuração da rigidez. Na
corrida é possível aferir os três tipos de rigidez: vertical, do membro inferior e articular1,4. Enquanto
KVERt fornece uma medida mais simples de rigidez, estimando a rigidez do corpo como um todo,
KLEG e KjOINt podem ser melhor exploradas quando mensuradas durante a corrida, pois fornecem
o valor de rigidez de cada um dos membros/articulações separadamente, permitindo inclusive a
comparação entre os mesmos32. Indiscutivelmente, KLEG é o tipo de rigidez mais extensivamente
mensurada durante a corri- da.
Maloney e Fletcher8 apontam em seu estudo de revisão, que tanto KVERt quanto KLEG
apresentam medidas fidedignas durante corridas em diferentes velocidades, porém perdendo um
pouco a confiabilidade em velocidades muito baixas. Embora ambas, KLEG e KVERt mensuradas
du- rante a corrida, tenham demonstrado relação com o desempenho, parece que KVERt é uma
medida mais sensível em relação a KLEG quando se trata de investigar a relação da rigidez com o
desempenho de corridas de curta duração; e o contrário quando se trata de corridas de longa duração,
sendo KLEG mais sensível que KVERt neste caso8.
As diferenças entre valores de KLEG e KVERt verificados na corrida, podem ser explicadas
pelo fato de que, como visto anteriormente, para o cálculo de KLEG é levada em consideração a
mudança na velocidade ho- rizontal, enquanto para KVERt o componente horizontal não é levado em
consideração8.
A rigidez pode ser avaliada durante a corrida em esteira e durante a corrida “em campo”. Apesar
de a corrida em esteira possuir uma menor validade ecológica, esta permite a mensuração direta das
forças de reação do solo, durante cada passo, através do uso de uma esteira instrumentada com
plataformas de força8,11,32. No entanto, outros métodos mais simples também podem ser empregados
para a mensuração da rigidez “no cam- po”, como o uso de acelerômetros, câmeras, fotocélulas e
tapetes de con- tato12,25,26,38, o que possibilita a medida da rigidez em uma situação mais próxima da
real.
Assim, as principais vantagens de utilizar a corrida como tarefa mo- tora para a mensuração da
rigidez são: a especificidade da tarefa motora para corredores e a possibilidade de seleção da
velocidade durante a exe- cução da tarefa8. Enquanto a principal limitação é a necessidade de estabe-
lecimento da reprodutibilidade de KVERt durante corridas “de campo” e de KjOINt em ambos os tipos
de corrida, de campo e de esteira.

• Mudança de direção
Por fim, outra atividade onde a rigidez vem sendo avaliada mais re- centemente são as tarefas
que envolvem mudança de direção8,17. Serpell et al.50, por exemplo, utilizaram como tarefa
envolvendo mudança de di- reção, para avaliação de KVERt, a realização de um hopping unilateral
(em um ângulo de 45°), aterrissando com a perna ipsilateral, seguido imedia- tamente de um novo
hopping, com aterrissagem da mesma perna. A re- produtibilidade desta tarefa foi verificada pelos
autores para distâncias de
1m, 1,2m e 1,5m, através do erro típico de medida, que se apresentou baixo para as situações testadas.
As principais vantagens de se utilizar tarefas de mudança de direção para a avaliação da rigidez
são: grande validade ecológica, permitindo a mensuração da rigidez durante movimentos atléticos
específicos, e a pos- sibilidade de modulação do ângulo e da velocidade em que a tarefa é exe-
cutada8. Como limitações, esta tarefa ocorre de forma multiplanar, assim modelos de mensuração de
rigidez uniplanares (como modelo massa-mo- la), apesar de fornecerem certa informação sobre a
força-deformação da UMT, são limitados. Além disso, por ser uma tarefa que somente recente- mente
vem sendo utilizada, ainda são limitadas as informações sobre a re- lação entre a mesma e o
desempenho, e a influência de diferentes ângulos e velocidades da tarefa sobre o resultado final da
pesquisa8.
Um método alternativo utilizado para a avaliação da rigidez, que não é uma tarefa motora, mas
sim um instrumento onde tarefas motoras são performadas, é o instrumento de trenó8. O instrumento
de trenó é um ins- trumento com inclinação de aproximadamente 30°, onde o avaliado encon- tra-se
sentado30; e que permite a realização de hoppings e drop jumps8,30,33, com a vantagem de minimizar
movimentos multiplanares, além de isolar a influência dos membros superiores e do membro
contralateral (em tare- fas unilaterais)8. A reprodutibilidade de tarefas motoras realizadas neste
instrumento já foi demonstrada e adicionalmente, todos os três tipos de rigidez (KVERt, KLEG e
KjOINt) podem ser mensurados neste instrumen- to8,30,33. A grande limitação deste instrumento, é
que o mesmo não possui
grande validade ecológica, assim o mesmo não é capaz de reproduzir como a UMT é de fato carregada
durante desempenho atlético8.
Como pode ser notado, diversas são as tarefas motoras que podem ser utilizadas para a
mensuração da rigidez. Assim, cabe ao pesquisador es- colher aquela tarefa que melhor se enquadra a
sua realidade: aquela que mensure aquilo que se quer mensurar, com os recursos disponíveis.
Em síntese, a partir das principais informações apresentadas neste ca- pítulo pode-se verificar que,
em suma, a rigidez é a capacidade do corpo, ou partes dele, de resistir a uma deformação quando
forças são aplicadas e pode ser mensurada, durante o movimento, através de dois modelos, o modelo
massa-mola e o modelo mola-torcional. Estes modelos fornecem medidas dos três principais tipos de
rigidez mensurados durante movi- mentos humanos: a rigidez vertical (referente a corpo todo), a
rigidez dos membros inferiores (referente somente ao membro inferior) e a rigidez articular (referente
a cada uma das articulações do membro inferior). Um nível adequado de rigidez é importante para o
desempenho esportivo, uma vez que permite melhor absorver as forças de reação do solo e assim utili-
zar de forma mais eficiente o CAE. Apesar de não haver um valor de refe- rência, é sugerido que
valores mais elevados de rigidez estejam associados a melhores performances.
Em relação ao comportamento dos níveis de rigidez no decorrer de ta- refas motoras, parece que
há uma tendência de aumento dos valores con- comitante ao aumento da demanda da atividade, assim,
atividades realiza- das em maiores velocidades, por exemplo, apresentam maiores níveis de rigidez.
No entanto, sob condições de fadiga é apontada uma diminuição nos níveis da mesma, sendo sugerido
que isto ocorra como um mecanismo protetor ou em função do estresse mecânico. Adicionalmente,
apesar de certo nível de rigidez se mostrar necessário para o desempenho, é sugerido que níveis muito
altos ou muito baixos da mesma possuam relação com le- sões de membros inferiores, seja pela alta
carga de impacto ocasionada em níveis muito elevados de rigidez, ou pela grande amplitude de
movimento permitida em níveis muito baixos de rigidez. Por fim, diversas equações e tarefas
motoras podem ser empregadas para a mensuração da rigidez, cabendo ao pesquisador/treinador
selecionar a opção mais adequada e vi- ável para sua realidade.
Aplicações práticas

• As informações do presente capítulo fornecerão um importante referencial teórico para


pesquisadores que buscam entender os con- ceitos e aplicações da rigidez do membro
inferior;
• O conhecimento sobre a rigidez do membro inferior, frente a dife- rentes situações, pode
ajudar a entender a etiologia e as causas das lesões, conforme destacou-se neste capítulo;
• Níveis mais elevados de rigidez parecem estar associados com a performance esportiva,
assim, treinadores devem preocupar-se com o monitoramento desta variável para aperfeiçoar
a rotina de treina- mento e como consequência o desempenho de atletas;
• É possível calcular a rigidez em diferentes movimentos, conside-
rando a especificidade das tarefas esportivas;
• Pode-se utilizar diferentes equipamentos para a mensuração da rigidez, desde equipamentos
mais sofisticados como plataformas de força, até equipamentos mais simples como uma
câmera de vídeo.
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CAPÍTULO VI
AUMENTO RESIDUAL DE FORÇA NO MÚSCULO ESQUELÉTICO

149

Daiani de Campos

Heiliane Fontana

O que você irá encontrar:

• Breve introdução sobre estrutura muscular e propriedades mecâ-


nicas musculares;
• Definição das propriedades histórico-dependentes: aumento resi- dual de força e depressão de
força;
• Mecanismos e teorias acerca do aumento residual de força: a não uniformidade dos
sarcômeros, pontes cruzadas e a teoria dos três filamentos;
• Aumento residual de força em contrações in vivo em humanos.

Introdução

Os músculos são estruturas biológicas altamente organizadas e espe- cializadas para a produção de
força, sendo eles os responsáveis por ace- lerar e desacelerar os segmentos durante o movimento
humano. São di- versos os fatores que influenciam o potencial de geração de força de um músculo.
Dentre eles, podemos destacar três que são reconhecidos como propriedades mecânicas musculares: a
relação força-comprimento, a rela- ção força-velocidade e as propriedades histórico-dependentes.
O comprimento ótimo para a produção de força no músculo é aque- le que permite uma
sobreposição efetiva máxima entre os miofilamentos contráteis presentes dentro da célula muscular, de
modo que contrações realizadas em comprimentos mais curtos ou mais longos que esse apresen- tam uma
perda do potencial de geração de força. Em relação a velocidade, é sabido que o potencial de geração de
força diminui com o aumento da velocidade de encurtamento das fibras. Para contrações excêntricas,
onde o músculo produz força durante um alongamento ativo, o potencial de pro- dução de força é maior
do que o observado para contrações isométricas
– velocidade nula.
As relações de dependência entre a força muscular e a velocidade ou o comprimento nos quais a
contração ocorre são provavelmente os fatores mais discutidos na literatura1–5 e têm como base estudos
clássicos6,7 que balizaram e colocaram em evidência a teoria de produção de força muscu-
lar mais aceita atualmente: a Teoria das Pontes Cruzadas.
Neste capítulo, focaremos nas propriedades histórico-dependentes e mais especificamente, na
propriedade histórico dependente chamada au- mento residual de força (ARF). O interesse nessa
propriedade é crescente e advém principalmente do fato desta determinar que, após uma contração
excêntrica, o potencial de geração de força de um músculo tende a exceder aquele previsto com base
no comprimento e velocidade da contração. Esse comportamento do músculo não é explicável pela
teoria das pontes cruza- das, a menos que alterações substanciais em sua formulação sejam feitas.
Antes de definirmos o conceito de aumento residual de força, abor- daremos alguns aspectos
fundamentais da estrutura muscular. Esses são necessários para a compreensão dos mecanismos
associados ao aumento residual de força no músculo.

Estrutura muscular

Três tipos de tecido muscular compõem corpo humano: o tecido mus- cular estriado esquelético, o
tecido muscular estriado cardíaco e o tecido muscular liso. Enquanto que o tecido muscular estriado
cardíaco e o liso são controlados involuntariamente pelo sistema nervoso autônomo, o músculo
estriado esquelético tem seu controle dado pelo sistema nervoso somático e gera, portanto, ações
motoras voluntárias. Apesar de alguns mecanismos de produção de força serem comuns aos diferentes
tipos de músculos, há aspectos que os diferem substancialmente 8.
No caso da manifestação do aumento residual de força, as fibras mus- culares esqueléticas
apresentam um comportamento mais consistente do que o observado para as fibras do miocárdio,
sendo que para esse último as evidências disponíveis na literatura são escassas. Nesse capítulo, em
con- sonância com a área de estudo do movimento humano e com a literatura acerca do aumento
residual de força, direcionaremos o foco ao músculo estriado esquelético.
Os músculos estriados esqueléticos conectam-se aos ossos através de tendões e/ou aponeuroses. A
parte central e avermelhada do músculo é o ventre muscular, estrutura constituída por fascículos
musculares e reves- tida por uma camada de tecido conjuntivo, o epimísio. Cada fascículo, por sua
vez, é revestido externamente por uma bainha de tecido conjuntivo fibroso, o perimísio, e constituído
por diversas fibras musculares. As fibras musculares são células longas multinucleadas e cilíndricas
que detêm ca- pacidade contrátil e estão envoltas individualmente por uma membrana
de tecido conjuntivo chamada endomísio, Figura 1.6. Essa intricada orga- nização de estruturas não
contráteis no músculo – o epimísio, perimísio e o endomísio – constitui a matriz extracelular, a qual
exerce importante função na transmissão das forças geradas pelas fibras musculares aos ten- dões e
aponeuroses.
No interior da fibra muscular encontramos um grande número de mio- fibrilas, Figura 1.6, que se
organizam paralelamente ao eixo longitudinal da célula. As miofibrilas são organelas compostas por
proteínas contráteis, estruturais e regulatórias. Dentre essas, destacaremos a actina, a miosina e a titina,
as quais são de suma importância para o entendimento dos meca- nismos e hipóteses acerca do
aumento residual de força discutidos na atu- alidade (para uma descrição de outras proteínas
estruturais e regulatórias, como a nebulina, a troponina e a tropomiosina, sugere-se outras fontes,
como Nigg e Herzog8 e Lieber9.

Figura 1.6 - Ilustração da estrutura muscular. Fonte: Autor. Adaptado de


Nigg e Herzog8:
Ao microscópio, o arranjo sistemático dos miofilamentos proteicos nas miofibrilas confere o
padrão estriado ao músculo esquelético, formando bandas anisotrópicas (bandas A, caracterizadas
pela presença de filamen- tos de miosina) e bandas isotrópicas (bandas I, caracterizadas pela presen- ça
de filamentos de actina). No centro de cada banda I é observado uma linha Z e a distância entre duas
linhas Z determina a unidade do sarcô- mero. Cada miofibrila, portanto, é composta por numerosos
sarcômeros posicionados em série. A Figura 2.6 mostra parte da estrutura complexa de um sarcômero,
o qual pode ser observado um corte transversal (topo da Figura) ou longitudinalmente.
Durante a contração, os miofilamentos de actina deslizam em direção ao centro da banda A,
chamado de linha M, resultando em aumento da sobreposição dos miofilamentos e uma consequente
redução da banda I (note que aqui estamos nos referindo a contrações que envolvem um en-
curtamento das fibras musculares, ou seja, contrações concêntricas). Esse deslizamento se dá através
da formação cíclica de pontes cruzadas entre os miofilamentos de miosina e actina.
A Titina é uma proteína presente em abundância nas miofibrilas e é a estrutura primária para
fornecer forças passivas em sarcômeros e mio- fibrilas10. Ela parte da linha Z até a linha M,
conferindo elasticidade ao sarcômero e estabilidade à miosina junto a região central dos sarcômeros
(Figura 2.6). Além desse clássico papel atribuído à titina, há evidências que sugerem que ela esteja
envolvida na produção de força extra nos mús- culos durante contrações excêntricas e no aumento
residual de força11–13.
Enquanto que a porção da titina conectada a miosina junto à banda A apresenta alta rigidez, a
estrutura da titina que se estende na banda I per- mite amplo alongamento e produção de força passiva
– comportamento esse comparável ao de uma mola. Um pouco antes de se inserir na linha Z, a
titina se conecta a actina, estabelecendo dessa forma uma constan- te ponte entre a actina e a
miosina. Essa ponte está, mecanicamente, em paralelo com as pontes cruzadas formadas entre os
filamentos durante a contração e, em série com os miofilamentos quando o músculo se encontra em
estado passivo. É estimado que exista um filamento de titina para cada miofilamento de actina no
músculo esquelético de vertebrados, totalizan- do 6 filamentos de titina por “meio sarcômero”.
Figura 2.6. Esquema de um sarcômero mostrando as bandas A e I, as li- nhas Z e M, os
miofilamentos de actina, miosina e a titina. A porção da titina destacada, que se estende da
extremidade da miosina à linha Z, apre- senta um comportamento elástico. Em cima, observamos a
ilustração da organização dos miofilamentos de actina e miosina em corte transversal. Pode-se
observar nesse tipo de visualização que, na área de sobreposição, cada miofilamento de miosina é
cercado por seis miofilamentos de actina. Adaptado Herzog14

Propriedades histórico-dependentes

Dentre as propriedades mecânicas musculares, as mais estudadas e discutidas em variados


níveis de organização muscular são as relações força-comprimento e força-velocidade. Essas são
tipicamente determina- das para contrações isométricas, isotônicas ou isocinéticas, sem específica
consideração quanto ao histórico de contração do músculo. No entanto, é sabido que o potencial de
geração de força de um músculo não depende exclusivamente de condições cinemáticas
momentâneas. A história prévia
da contração, ou seja, se o músculo realizou uma contração concêntrica ou excêntrica irá influenciar o
seu potencial de geração de força. Esse conjun- to de manifestações constitui as propriedades
histórico-dependentes.
Observemos por exemplo uma contração isométrica realizada na por- ção descendente da curva
força-comprimento (Figura 3, curva pontilhada preta). Essa é a forma clássica de determinar a relação
força comprimen- to: a miofibrila/ fibra muscular/ músculo é conduzida passivamente até um
comprimento de referência e ativada isometricamente. O potencial de geração de força está
relacionado ao grau de sobreposição efetiva dos mio- filamentos, em consonância com a relação força-
comprimento.
Imaginemos agora uma condição onde a fibra muscular é conduzida a esse mesmo
comprimento a partir de um alongamento ativo, ou seja, a partir de uma contração excêntrica.
Embora o grau de sobreposição dos miofilamentos no comprimento final seja, presumivelmente, o
mesmo da contração puramente isométrica, a fibra muscular que sofreu um alon- gamento ativo
prévio apresentará um aumento residual de força (ARF, Figura 3.6).
O encurtamento ativo muscular prévio, ou seja, uma contração con- cêntrica, apresenta o efeito
contrário: o potencial de gerar força é reduzi- do após um encurtamento ativo. (Figura 3.6,
caracterizado por DF). Essa propriedade histórico-dependente é chamada de Depressão de força (DF).
Maiores taxas de DF são observadas para maiores magnitudes de encur- tamento ativo15,16, para
maiores níveis de ativação do encurtamento e para menores velocidades durante o encurtamento17.
A magnitude do ARF varia amplamente dependendo da contração rea- lizada. A literatura relata
valores que variam de 10% a 400% da força pura- mente isométrica18. Dentre os fatores que parecem
influenciar na magnitu- de do ARF, o comprimento do alongamento ativo recebe destaque: quanto
maior a amplitude do alongamento, maior é o ganho residual de força. Em contraste, o ARF
independe da velocidade do alongamento ativo 19–21. A Figura 4.6 apresenta a magnitude do ARF para
alongamentos ativos de diferentes amplitudes. Note ainda a presença de um aumento residual de força
passiva.
Após a desativação de um músculo ativamente alongado, a força pas- siva é maior do que a força
produzida após um alongamento puramente passivo ou após a desativação de uma contração
puramente isométrica em mesmo comprimento20,22. Esse fenômeno, chamado de aumento residual de
força passiva, já foi relatado em diversos modelos, desde miofibrilas isoladas23 até contrações em
humanos24.
Figura 3.6. Aumento residual de força (ARF) e Depressão de força (DF) são propriedades histórico
dependentes do músculo. A linha pontilhada preta se refere a contração de referência, puramente
isométrica. A linhas pontilhadas cinzas se referem, respectivamente, a contração isométrica precedida
por alongamento e por encurtamento ativo. Observe que o com- primento final é o mesmo entre as
condições, mas, após o alongamento ativo (curva superior) ocorre um ARF e após o encurtamento
ativo (curva inferior) ocorre uma DF.

Assim como o ARF, o ARF passivo parece depender da amplitude do alongamento: quanto maior
o alongamento que precede a contração iso- métrica, maiores são os níveis de ARF passivo
observados. Esse fenômeno parece ser independente da velocidade do alongamento e apresentar-se
por longa duração, sendo observado em até 25 segundos após o final da contração20,22.
Figura 4.6. Aumento residual de força no músculo sóleo em gatos para diferentes amplitudes de
alongamento ativo (3, 6 e 9 mm, conforme indi- cado). Note que a força isométrica próxima aos 10 s
é maior para as con- trações precedidas por maiores amplitudes de alongamento do que para a
contração isométrica pura (iso). Observe ainda a presença do aumento residual de força passiva após a
desativação do músculo (~12 a 15 s). A força passiva é maior para as contrações precedidas por
alongamento ativo quando comparada a contração isométrica pura (iso) ou ao alongamento passivo
(p) Adaptado de Herzog et al.201211
Teorias e hipóteses

Apesar do aumento residual de força ser uma propriedade reconhe- cida na literatura, os
mecanismos responsáveis pela sua ocorrência não estão ainda bem estabelecidos. Numerosas teorias
têm sido sugeridas para
explicar o ARF. Essas se encaixam basicamente em três categorias: a não uniformidade, a cinética das
pontes cruzadas e o envolvimento de elemen- tos passivos. Faremos aqui uma introdução a essas
teorias e uma leitura aprofundada dos artigos originais e das revisões disponíveis na literatura é
indicada ao leitor mais interessado.

• Instabilidade e não uniformidade dos sarcômeros


A teoria da não uniformidade do comprimento dos sarcômeros constitui os primeiros
mecanismos propostos para o aumento do poten- cial de geração de força do musculo após um
alongamento ativo. Segundo essa teoria, devido a uma suposta instabilidade dos sarcômeros na porção
descendente da curva força-comprimento, o alongamento dos sarcômeros durante a contração
excêntrica do músculo seria não-uniforme, de modo que no final da contração alguns sarcômeros se
alongariam em excesso enquanto outros teriam seu comprimento encurtado em relação ao valor
inicial25–27.
Especificamente, a hipótese levantada é de que parte dos sarcômeros seria capaz de se alongar
até ser “capturada” por forças passivas, enquanto que a outra parte não sofreria o alongamento,
podendo até mesmo se en- curtar a ponto de atingir o platô ou a porção ascendente da relação força-
-comprimento. Defende-se que essa instabilidade seja causada pelo fato de alguns sarcômeros estarem
“enfraquecidos” uma vez que na porção des- cendente da curva, aos olhos da relação força-
comprimento, quanto mais alongado um sarcômero se apresenta, mais “fraco” ele é. Essa instabilida-
de faria com que maior parte do alongamento fosse inicialmente absorvido por sarcômeros mais
alongados – e, portanto, mais fracos – enquanto que os sarcômeros inicialmente curtos e fortes, não
sofreriam alongamento (Figura 5.6).
Dessa forma, a partir dessa não uniformidade, o potencial de geração de força do músculo após
alongamento seria o resultado do equilíbrio en- tre o potencial de geração de força ativa dos
sarcômeros mais encurtados e a resistência passiva encontrada pelos sarcômeros hiper-alongados28.
Esse potencial é superior ao predito para uma contração puramente iso- métrica no comprimento final,
a qual, segundo a teoria, teria sarcômeros mais uniformes.
Figura 5.6 - Aumento residual de força segundo a teoria da não uniformi- dade dos sarcômeros.
Quando um músculo é alongado na porção descen- dente da curva força-comprimento (a partir do
comprimento representa- do pelo círculo em branco), é hipotetizado que alguns sarcômeros sofrem
um hiperalongamento (círculo preto à direita) enquanto que outros são minimamente alongados
(círculo preto à esquerda). Como resultado, o potencial de geração de força torna-se maior que aquele
observado para uma contração isométrica pura no comprimento final (círculo em cinza). Observe que
o comprimento médio dos sarcômeros em preto e cinza é o mesmo e, portanto, o comprimento das
fibras e miofibrilas também é o mesmo.

Essa não uniformidade do comprimento do sarcômero tem sido con- siderada um dos principais
mecanismos responsáveis pela expressão de ARF. Todavia, essa teoria possui ao menos duas
predições testáveis: (i) não há manifestação de ARF na porção ascendente da relação força com-
primento e (ii) ARF não excede a força isométrica máxima no comprimen- to ótimo do sarcômero.
Essas predições já foram previamente testadas e não parecem se sustentar. Há grande evidência na
literatura de que o ARF é observado em todas as regiões da curva força-comprimento e sua magnitude
não é limitada ao potencial de geração de força do músculo em comprimento ótimo22,28,29. Além disso,
há evidência na literatura de que embora a não uniformidade dos sarcômeros seja uma
característica do músculo em contração, ela está presente tanto em contrações isométricas puras
quanto em contrações precedidas por alongamento. O grau de não
uniformidade dos sarcômeros não apresentou qualquer associação com a magnitude do ARF nos
achados reportados por Kaleena et al30.
Na Figura 6.6, é apresentado o comportamento de um sarcômero iso- lado frente a um
alongamento ativo. Mesmo em sarcômeros isolados, onde a não uniformidade é um conceito limitado,
pode-se observar a manifes- tação do ARF.

Figura 6.6 - Aumento residual de força observado em sarcômeros isolados. Adaptado de Leonard201031,
com permissão.

• Aumento do número de pontes cruzadas


Durante o alongamento ativo do músculo, há um aumento de força. Esse aumento da capacidade
de produção de força durante a contração excêntrica pode ser potencialmente explicado pela teoria das
pontes cru- zadas através de um maior armazenamento de energia elástica junto as pontes cruzadas. À
medida que o músculo se alonga, a distância média das pontes cruzadas em relação aos seus pontos de
equilíbrio aumenta, o que por sua vez resulta em aumento da força média produzida pelas pontes
cruzadas e também do número de pontes cruzadas conectadas. A predição de que mais pontes
cruzadas são formadas durante a contração excêntrica
é suportada por evidências experimentais que demonstram um aumento da rigidez do músculo (fibras,
miofibrilas) durante o alongamento ativo. Essa manifestação é o “aumento de força” característico do
alongamento ativo.
No entanto, o aumento residual de força, aquele que permanece após a contração excêntrica,
quando o músculo atinge um estado de contração estável, não é explicado pela teoria das pontes
cruzadas – a menos que mu- danças substanciais sejam incorporadas no modelo ou que suas premissas
sejam violadas32.
O relativamente rápido movimento cíclico das pontes cruzadas ao se ligar e desligar da actina cria
uma limitação fundamental quanto a capa- cidade da teoria das pontes cruzadas de explicar o ARF. O
curto tamanho
das pontes cruzadas (˜5.5 nm com uma braçada de 12–18 nm), o curto tempo de ligação à actina, e a
alta frequência com que se desligam con-
trastam com uma manifestação como o ARF, a qual ocorre após longas alterações de comprimento e
persiste por muitos segundos ou até minutos.
Apesar das limitações citadas, uma variedade de mecanismos relacio- nados às pontes cruzadas
tem sido proposta para explicar o fenômeno. Esses mecanismos incluem alteração no espaçamento
entre os miofila- mentos após o alongamento ativo, aumento da força das pontes cruzadas, uma
desordem na estrutura de miofilamentos, um aumento na duração da ligação entre actina e miosina ou
a fosforilação induzida por alongamento de cadeias leves de miosina10,33,34. Achados quanto a possíveis
alterações da rigidez muscular entre a condição isométrica pura de referência e a isomé- trica pós-
alongamento, que pudessem sugerir uma mudança na cinética das pontes cruzadas, não são
conclusivos.

• Titina (modulação da rigidez)


Além dos mecanismos relacionados a não uniformidade do sarcômero e aqueles relacionados a
alterações na cinética das pontes cruzadas, a mo- dulação da resistência oferecida por elementos
historicamente reconheci- dos como passivos no sarcômero tem sido proposta como explicação para o
ARF. Um dos achados que impulsionou essa proposição foi a permanên- cia de um aumento residual
de força mesmo vários segundos após o mús- culo ser desativado: o aumento residual de força passivo
– já apresentado nesse capítulo.
A titina estende-se das bandas Z até a linha M e tem a função de centra- lizar os filamentos de
miosina no sarcômero e fornecer resistência passiva durante o alongamento35,36. Na teoria dos três
filamentos (nome dado em contraste aos dois filamentos envolvidos na teoria das pontes cruzadas),
é proposto que, além dessa função passiva, a titina seja responsável por produzir parte da força ativa
do músculo durante a contração excêntrica e por prover o ARF.
Quando alongadas ativamente até comprimentos onde não há sobre- posição de actina e miosina,
as miofibrilas produzem força significativa- mente maior do que a observada durante o alongamento
passivo (Figura
7.6). Acredita-se que tal resistência seja oriunda da titina, uma vez que não há formação de pontes
cruzadas sem que se tenha sobreposição dos miofilamentos. Dessa forma, a resistência da titina
parece ser modulada pela ativação.

Figura 7.6. Força das miofibrilas em função do comprimento do sarcôme- ro durante alongamentos
ativos para comprimentos onde não há sobre- posição dos filamentos de actina e miosina
(comprimentos maiores que
3.8 µm, área branca do gráfico). Ativo se refere a miofibrilas alongadas enquanto completamente
ativadas. Ativo Metade se refere a miofibrilas que foram ativadas a um comprimento próximo a
extremidade da porção descendente da curva força-comprimento (~3.4 μm, onde as forças ativas são
substancialmente menores em função da perda (~70%) de sobrepo- sição dos miofilamentos). Passivo
se refere a miofibrilas que foram alon- gadas passivamente. Titina depletada, se refere a miofibrilas
que tiveram a titina eliminada por curta exposição a tripsina. Note que em “ativo” as miofibrilas
apresentam maior força, inclusive na ausência de formação de pontes cruzadas entre a actina e a
miosina (área branca, sem sobreposição dos miofilamentos). Note ainda que na condição onde a
função da titina foi eliminada, não foi possível produzir força ativa ou passiva.
As proposições que defendem um papel ativo da titina na produção de força extra durante a
contração excêntrica e na manutenção de um aumen- to residual da força após o alongamento ativo
apresentam basicamente dois eventos para tal: a modulação da rigidez inerente da titina, e/ou o
encurtamento do seu comprimento inicial. Em analogia a uma mola, am- bos os eventos contribuem
para um aumento da resistência da titina ao alongamento.
Durante a contração muscular, o cálcio é liberado do retículo sarco- plasmático para o interior das
fibras musculares, permitindo a ligação das moléculas de actina e miosina com subsequente produção
de força. Exis- tem evidências de que a titina também se liga ao cálcio durante a contração ativa,
fazendo com que sua rigidez aumente e mais força seja produzida durante o alongamento ativo35,36.
Também tem sido sugerido que, a “mola livre” da molécula de titina, mais especificamente a
região próxima à linha Z, se liga aos miofilamentos de actina durante a contração, alterando o
comprimento da sua porção distensível. Sabendo que o comprimento livre da mola vai determinar sua
resistência a uma condição de alongamento, essa seria uma alternativa viável para modulação da força
da titina no músculo ativamente contraí- do11,36. A Figura 8.6 ilustra os mecanismos pelos quais a
titina modula sua resistência segundo a teoria dos três filamentos.
Outra forma pela qual é sugerida uma interação da titina com a acti- na durante a contração é a
chamada hipótese do enrolamento da titina. Segundo essa hipótese, além de uma ligação da titina à
actina durante a contração, ocorreria um enrolamento da titina na actina. As pontes cruza- das não
serviriam somente para puxar os filamentos de actina em direção a linha M mas também como motores
para rodar os filamentos da actina sob o seu eixo, causando o enrolamento da titina ao longo da
actina13.
O leitor deve ter em mente que as hipóteses/teorias aqui apresentadas acerca da não uniformidade,
das pontes cruzadas e da titina como meca- nismos para o ARF estão sendo continuamente testadas e
que o grau de evidência difere entre elas e está sob construção. É possível que o ARF seja provocado
por uma combinação desses mecanismos, em graus variados.
Figura 8.6 - Ilustração esquemática da titina em condição passiva (A), e ativa (B e C). Esquema
baseado no estudo de Duvall et al37 e adaptado com permissão. (A) Alongamento passivo da molécula
de titina. (B) A rigidez da titina aumentada pela presença do cálcio no espaço contrátil, resultan- do
em maior37 força comparada à condição passiva. (C) Ligação de uma parte da titina na actina após
ativação (aumento de cálcio) e alongamento, reduzindo o comprimento de mola livre e aumentando a
resistência da ti- tina alongamento. O aumento da rigidez em decorrência da diminuição do
comprimento de mola livre pode variar de acordo com o comprimento do sarcômero onde ocorre a
contração (observar Figura 7, “Ativo Metade”).

Aumento residual de força in vivo

O ARF tem sido observado em miofibrilas, fibras musculares, fascí- culos, músculos isolados e
em contrações musculares in-vivo em huma- nos e animais. Embora essa seja uma propriedade com
ampla evidência em modelos animais e em preparações isoladas, os estudos quanto a sua ocorrência
em contrações in-vivo em humanos são mais recentes e diver-
sas dúvidas ainda permanecem. No contexto das contrações voluntárias in-vivo, as quais mais se
aproximam do contexto funcional do movimento humano, inúmeros fatores e interações apresentam
potencial de alterar a expressão do ARF.
Deve-se ter em mente, por exemplo, que a relação entre a cinemática angular da articulação e as
alterações de comprimento da unidade múscu- lo-tendínea (comprimento, velocidade de contração)
são dependentes do braço de alavanca, o qual se modifica em função do ângulo articular e até mesmo
do nível de produção força do músculo. Ainda, ao se avançar no nível de organização do componente
contrátil do músculo, fatores como a arquitetura muscular e os componentes elásticos em série com o
ventre muscular, como tendões e aponeuroses, são determinantes para a relação entre a cinemática
angular e as alterações de comprimento da fibra mus- cular.
Sendo assim, são frequentes as dissociações entre o movimento que ocorre no nível da articulação
e as alterações de comprimento da fibra muscular. Desse modo, uma contração excêntrica do ponto de
vista arti- cular não necessariamente vai ser acompanhada por um alongamento das fibras musculares.
Uma vez que o ARF é uma propriedade atribuída ao componente contrátil, essa dissociação durante
gestos funcionais dificulta a compreensão do efeito do ARF em contrações in vivo e de sua relevância
no contexto do movimento humano.
Além dessa questão, a interação do sistema nervoso em contrações vo- luntárias impõe um
controle intricado e complexo do nível de ativação de cada fibra muscular durante contrações
voluntárias. É mais difícil atingir ativação máxima do músculo durante contrações excêntricas do que
em contrações concêntricas ou isométricas.
Desse modo, o torque alcançável durante alongamentos ativos in vivo é somente uma fração
daquele que seria possível se mecanismos regulató- rios neurais não limitassem o recrutamento e
disparo das unidades moto- ras38,39. Já que se acredita que os mecanismos de aumento residual ocor-
rem durante o alongamento ativo e dependem do grau de ativação e nível de esforço, a dificuldade em
alcançar uma força excêntrica verdadeiramen- te máxima pode limitar o ARF em contrações
voluntárias.
Os estudos in vivo focam na seguinte questão: qual o efeito da contra- ção excêntrica prévia no
potencial de geração de torque/força em contra- ções in vivo em humanos? Embora, como vimos, a
observação ou não de efeito nesse nível seja dependente de outros fatores que não diretamente o ARF
como propriedade contrátil, a pergunta é genuína e inúmeros estudos
têm sido realizados para melhor compreender a relevância e impacto do
aumento residual de força no contexto do movimento humano.
Abaixo são descritas as características da manifestação do ARF para i) contrações evocadas por
estimulação elétrica em humanos e ii) contrações voluntárias. De modo geral, quando comparadas às
contrações voluntá- rias, as manifestações de ARF frente a contrações evocadas por eletroesti-
mulação melhor se assemelham aos achados em preparações musculares isoladas.

Contrações evocadas por estimulação elétrica

A eletroestimulação muscular consiste em uma corrente elétrica alter- nada capaz de induzir a
contração muscular artificialmente40. Essa pode ser aplicada no ventre muscular ou no nervo que
compõe as unidades mo- toras do músculo alvo. Em especial, a estimulação do nervo tem sido uma
das formas utilizadas para a investigação do ARF em humanos.
ARF é constantemente observado para contrações evocadas por ele- troestimulação41. Em média,
os estudos apontam para um ARF que varia entre 7 a 30% para contrações precedidas por
alongamento ativo24,42,43. A presença de ARF através da eletroestimulação já foi confirmada em mús-
culos como flexores plantares42, adutor do polegar24 e interósseo dorsal43.
Quando as contrações são evocadas por eletroestimulação, a resposta do ARF a diferentes
amplitudes de alongamento é semelhante a observa- da para amostras isoladas de músculo: quanto
maior o alongamento ativo que precede a contração isométrica, maior a magnitude de ARF (Figura
9.6). Além disso, a velocidade do alongamento ativo que precede a contra-
ção isométrica parece não influenciar a magnitude do ARF24.
A magnitude de ARF parece ser maior em contrações evocadas por eletroestimulação quando
comparada a observada em contrações voluntá- rias. Ainda, há evidências que sugerem que essa
diferença entre os méto- dos é mais expressiva quanto maior for a amplitude do alongamento ativo
utilizado24.
Figura 9.6 - Aumento residual de força e aumento residual de força pas- sivo obtidos a partir de
diferentes amplitudes de alongamento ativo em contrações evocadas por eletroestimulação no
músculo adutor do polegar. Note que quanto maior a amplitude do alongamento, maiores os níveis de
ARF e ARF passivo. Adaptado de Lee & Herzog24.

Contrações voluntárias

Aumento residual de força também é observado em contrações volun- tárias24,42,44–46. No entanto,


sua magnitude parece menos expressiva e os resultados apresentam uma grande variação quando
comparada a obser- vada em modelos in vitro/in situ e/ou em contrações evocadas por eletro-
estimulação.
A magnitude do ARF é dependente da amplitude do alongamento ati-
vo: quanto maior a amplitude do alongamento, maior é o ganho residu-
al de força19,20. Todavia, em contrações voluntárias, parece não haver um efeito sistemático da
amplitude da contração excêntrica na presença e/ou magnitude de ARF24,47,48. O tamanho do
alongamento ativo que antecede a contração parece não influenciar diretamente o potencial máximo
de pro- dução de força isométrica. Além disso, diferentes velocidades angulares de alongamento
também parecem não influenciar a manifestação de ARF em contrações voluntárias47.
A relevância do ARF para contrações in vivo parece estar relacionada a uma melhora da eficiência
neuromuscular pós contração excêntrica e não necessariamente a um aumento na capacidade de
produção de força do músculo, uma vez que este nem sempre é observado. O custo metabólico para a
produção de um determinado nível de força muscular pode ser re- duzido em cerca de 17% quando a
contração é precedida por alongamento ativo49. Em contrações voluntárias em humanos a melhora da
eficiência neuromuscular pós alongamento ativo é estimável através de um aumento da razão entre o
torque e a atividade eletromiográfica1,24,45,50. Para os fle- xores de cotovelo, por exemplo, um aumento
da eficiência neuromuscular em aproximadamente 20% foi observado para contrações precedidas por
alongamento ativo 48.
Os mecanismos possíveis para o aumento da capacidade de produção de força por unidade de
"ativação muscular" em contrações precedidas por alongamento ativo estão provavelmente
relacionados à participação de elementos elásticos, os quais estariam contribuindo de maneira mais
efe- tiva para produção de força na condição pós alongamento. Em condições isométricas e de
produção de força constante, como tipicamente avaliado para o ARF, a participação dos elementos
elásticos externos ao componen- te contrátil pode ser entendida como desprezível51.
A grande variabilidade observada entre sujeitos na manifestação do ARF leva alguns autores a
agrupar os sujeitos em “responders” (sujeitos que respondem ao alongamento ativo com um
aumento significativo de torque) e “non-responders” (sujeitos que não respondem com um aumen- to
significativo de torque)41,44,46. A probabilidade de um sujeito apresen- tar ARF parece ser
dependente do nível de ativação. Em um estudo, 36% dos participantes apresentaram ARF à 10% da
CVM, e mais da metade, à
30% da CVM. Quando o nível de ativação foi elevado a 60% da CVM, 73% dos sujeitos
apresentaram o fenômeno e, em contração máxima (100% da MVC), todos responderam com ARF52.
Além disso, assim como nas contrações evocadas por eletroestimulação, a magnitude de ARF em
contrações voluntárias é maior com o aumento do
nível de ativação. A Figura 10.6 ilustra o efeito da ativação na magnitude do aumento residual de
força.

Figura 10.6 - Aumento residual de força (em Newtons) e redução da ati- vação muscular (em Volts)
à 10, 30 e 60% da CVM (contração voluntária máxima). Observe que, com o aumento da ativação
muscular, maiores são os níveis de ARF e de redução na ativação. Adaptado de Oskouei & Herzog,
200652.

Parece, portanto, que existe um limite mínimo na intensidade da con- tração que precisa ser
atingido para que o ARF seja possa ser observado, e, ainda, que esse limite varia entre os sujeitos. As
características individuais que podem ou não favorecer a manifestação de ARF durante contrações
voluntárias não são conhecidas, mas fatores como tipo de fibra muscular, faixa etária avaliada,
capacidade de realizar trabalho excêntrico e nível de atividade física têm sido levantados46,48,50,52.
Há evidências na literatura que sugerem que o ARF em contrações vo- luntárias é dependente do
ângulo articular onde as contrações são realiza- das. Em flexores de cotovelo, um achatamento da
curva torque ângulo foi observado para contrações precedidas por alongamento. Embora não tenha sido
observado um aumento significativo do torque, o efeito do alongamen- to ativo foi dependente da
região da curva força-comprimento onde a con- tração foi realizada. Contrações isométricas precedidas
por alongamento ativo parecem reduzir a magnitude da diferença em capacidade de produ- ção de
torque entre as regiões da curva força-comprimento, Figura 11.6.
Figura 11.6 - Relação torque-comprimento dos músculos flexores do coto- velo para contrações
puramente isométricas e para contrações isométri- cas precedidas por alongamento CVIM = contração
voluntária isométrica máxima. Adaptado de De Brito Fontana; de Campos; Sakugawa, 201848, com
permissão. Note que na região do platô as contrações precedidas por alongamento apresentaram um
menor potencial de geração de torque. No entanto, em virtude da inibição muscular presente pós
alongamento (da- dos não apresentados aqui), a eficiência neuromuscular foi em média 16% maior
nas contrações precedidas por alongamento.

Efeitos semelhantes parecem ser observados em outros músculos. Em flexores e extensores de


joelho, o ARF se manifesta em maior magnitude em comprimentos musculares longos, o que
caracteriza a região descen- dente de produção de força53. Parece, portanto, que ARF apresenta efeito
no “achatamento” da curva torque ângulo muscular em diferentes múscu- los/grupos musculares.
Vimos que ARF é uma propriedade muscular presente em todos os níveis estruturais e em
contrações máximas e submáximas, voluntárias ou evocadas artificialmente. Há evidência também de
ARF em ações multi-ar- ticulares, ou seja, atividades que requerem o uso concomitante de diferen- tes
articulações. Esses achados enfatizam a potencial relevância do ARF no contexto do movimento
humano. Apesar desse avanço, esse é um campo ativo de investigação e certamente requer a
realização de futuros estudos.
O ARF é uma propriedade não explicada pelo paradigma vigente da contração muscular e o
entendimento dos mecanismos responsáveis pela sua ocorrência possibilitará a compreensão de outras
manifestações mus- culares relacionadas, como o relativo baixo custo das contrações excêntri- cas e a
“não-instabilidade” do músculo na porção descendente da curva força-comprimento. Essas
manifestações são características importantes do músculo que o tornam extremamente especializado
para execução das funções diárias e robusto na prevenção de lesões.

Aplicações práticas

• À medida que se deseja analisar as causas e determinantes do movimento humano, o


conhecimento das propriedades mecânicas musculares se torna essencial. O músculo é o
motor da alavanca biológica e conhecer suas propriedades mecânicas auxilia na com-
preensão das adaptações frente a variadas intervenções ou ainda no entendimento do seu
comportamento frente às disfunções do movi- mento. A relevância do ARF para o
desempenho e capacidade fun- cional em humanos é um assunto ainda em exploração.
• Frente aos achados, pode-se destacar ao menos dois potenciais papéis para ARF: i)
aumento da capacidade de produção de força em situações onde os músculos são submetidos
a alta carga ou em comprimentos musculares onde há pouca sobreposição entre os
miofilamentos e ii) aumento da eficiência neuromuscular ou da eco- nomia das contrações.
• Em determinadas condições enfrentadas na reabilitação e no treinamento atlético a
combinação de um aumento de força e uma maior eficiência neuromuscular e metabólica
durante e após o alongamento ativo pode ser uma vantagem a ser explorada. Há um
crescente corpo na literatura investigando o papel do ARF no ci- clo alongamento-
encurtamento, na manutenção da força excêntrica durante o envelhecimento, na melhora da
eficiência das contrações excêntricas41,54–58 e na prevenção de lesões.
• As adaptações musculares ao treinamento capazes de influenciar o ARF, como na expressão
de isoformas de titina, também foram ava- liadas. O envolvimento da titina na produção de
força do músculo traz algumas consequências interessantes para a função muscular: os
elementos passivos do músculo seriam complacentes e suaves no alongamento passivo mas
rígidos e resistentes durante o alonga-
mento ativo, ofereceriam força adicional a um custo energético re- duzido e poderiam exercer
função em condições onde a capacidade de interação entre a actina e miosina está reduzida: a
força da titina aumenta quando a capacidade de produção de força da actina e mio- sina reduz.
É esperado que futuros estudos investiguem a relevância desses mecanismos para a prevenção
de lesões e para o desempenho funcional.
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Parte 2
Exercício Físico e Saúde
180
CAPÍTULO VII
MONITORAMENTO NEUROMUSCULAR DE IDOSOS: APLICAÇÕES
CLÍNICAS.

Lucas Bet da Rosa Orssatto Ewertton


de Souza Bezerra Fernando
Diefenthaeler

O que você irá encontrar:

• Descrição dos fatores envolvidos no desempenho neuromuscular que acarretam em redução


de força com o envelhecimento;
• Impacto da redução de força na qualidade de vida, atividades da vida diária e risco de quedas
do idoso;
• Estratégias que podem ser utilizadas por profissionais de diferen- tes áreas para combater as
reduções do desempenho neuromuscu- lar;
• Importância do monitoramento neuromuscular de idosos na prá-
tica clínica;
• Métodos clínicos de monitoramento neuromuscular em idosos, como especial atenção para
força máxima, potência, força explosiva, equilíbrio e capacidade funcional.

Introdução

A população de idosos, que consiste de pessoas com mais de 65 anos em países desenvolvidos e 60
anos em países em desenvolvimento1, cres- ce continuamente com projeções de dobrar para 1,6
bilhões por volta de
20502. O envelhecimento leva a alterações biológicas estruturais e fun- cionais inevitáveis do
organismo como um todo3. Dentre estas mudanças, podemos destacar as que ocorrem nos sistemas
neural e muscular, que afetam diretamente a capacidade motora e produção de força durante o
envelhecimento4.
O sistema nervoso central coordena e modula as ações do sistema musculoesquelético⁵, o qual
recebe tais informações por meio do sistema nervoso periférico4. O sistema muscular, apesar de ser
diretamente depen- dente do nervoso, após sua ativação depende de fatores intrínsecos [e.g., área de
secção transversa, tipos de fibras musculares, capacidade contrátil (força e velocidade de deslizamento
da interação actina-miosina) que são determinantes para a velocidade e magnitude da produção de
força⁶. Du-
rante o envelhecimento, tanto o sistema nervoso central, quanto o perifé- rico sofrem alterações
morfológicas e funcionais que comprometem a mo- dulação, coordenação, intensidade e velocidade de
transmissão dos pulsos nervosos para o sistema musculoesquelético⁴. Além disso, a conexão entre o
sistema nervoso e o muscular (i.e., junção neuromuscular) também tem sua transmissão
comprometida7,8. Já o sistema muscular, experimenta re- duções da área de secção transversa (i.e.,
menor número de sarcômeros em paralelo), menor número de fibras tipo II e também uma ligação
enfra- quecida entre as pontes cruzadas de actina e miosina 4,9.
Os comprometimentos observados sobre o sistema neuromuscular im- pactam em grande
magnitude na capacidade de produção de força máxi- ma, na potência e na força rápida (i.e., taxa de
desenvolvimento de força). Tais reduções se iniciam após os 30 anos de idade, sendo que as mudanças
mais impactantes são observadas após os 50. Comparado com adultos en- tre 20 e 30 anos, idosos
entre 70 e 80 anos apresentam aproximadamente uma redução de 45-50% para a força máxima, 44-
52% para a potência e
74% para a taxa de desenvolvimento de força10–12. Em idosos, a perda de força muscular é um
indicador de fragilidade13 e conteúdo mineral ósseo14 além de ser um preditor de incapacidade,
hospitalização15 e de mortalida- de por causa-específica16,17.
Muitas atividades do dia a dia dependem do desempenho do sistema neuromuscular, tais como
deslocamento (e.g., andar, subir e descer esca- das), atividades caseiras (e.g., varrer, limpar, carregar
objetos), realizar compras (e.g., carregar sacolas de supermercados) e até atividades labo- rais, uma
vez que é esperado que os idosos do mundo todo permaneçam no mercado de trabalho mesmo com o
avançar da idade18. Dessa maneira, subentendesse que os comprometimentos no sistema
neuromuscular rela- cionados ao envelhecimento irão impactar em grande magnitude a capaci- dade
funcional dos idosos.
Além dos comprometimentos relacionados à capacidade funcional, o sistema neuromuscular
acometido gera desequilíbrio dinâmico e estáti- co19,20, o que prejudica a recuperação em situações de
desequilíbrio induzi- dos por distúrbios externos20, resultando em uma maior propensão a que- das21.
Em especial para esta população, devido à sua fragilidade, as quedas podem levar a fraturas ou outros
tipos de lesões, que podem acarretar em acamamento e/ou hospitalizações22. O acamamento ou a
reduzida atividade física decorrente de lesões e fraturas leva à atrofia por desuso, exacerbando a atrofia
muscular e reduções de força23,24. Além disso, pode-se ressaltar o aumento de gastos particular e
públicos com os sistemas de saúde 25.
Em função das evidências acerca dos comprometimentos neuromus- culares e suas
consequências, diversas estratégias clínicas envolvendo exercício físico, fisioterapia, nutrição e
medicamentos foram desenvolvi- das com o objetivo de atenuar/atrasar a perda da capacidade de
produção de força máxima, potência, força explosiva, resistência muscular localiza- da, do equilíbrio e
da capacidade funcional de idosos. Para adaptações de força máxima, o treinamento resistido tem
demonstrado grande eficácia, além de ser considerado por muitos autores como a estratégia mais
eficaz para esse objetivo26–30. Além disso, estratégias nutricionais31–33 e reposi- ção hormonal (e.g.,
testosterona)34–36 também são estratégias que podem resultar em manutenção ou aumento de força
máxima. Em relação ao au- mento de potência e força explosiva, evidências apontam a eficácia do
trei- namento resistido que adota altas intensidades37,38, em especial aqueles que envolvem rápida
velocidade de contração39,40. Já em relação ao equilí- brio, diversas intervenções envolvendo exercício
físico, tais como o treina- mento específico de equilíbrio/desequilíbrio41, o treinamento resistido 41,
exergames (i.e. jogos de videogame com movimentos corporais)42, pilates43 e também a facilitação
neuromuscular proprioceptiva44 têm demonstrado efeitos positivos. Adicionalmente, há uma grande
gama de estratégias efi- cazes na melhora e manutenção da capacidade funcional de idosos, tais
como o treinamento resistido 40,45, o treinamento de potência39,40, o pilates
46 e exergames 42, além de estratégias nutricionais 47,48.

Sabendo que há uma grande variedade de estratégias clínicas para a manutenção da capacidade de
produção de força pelo sistema neuromus- cular, os profissionais das diversas áreas ligadas à
gerontologia, devem es- colher a mais adequada para cada caso específico. Entretanto, as respostas
para as intervenções adotadas devem ser monitoradas para acompanha- mento da evolução do paciente
e para alterações de estratégias em casos de insucesso (i.e., não responsividade a tratamentos
específicos) 49, garantindo assim uma melhor prescrição. Os métodos mais robustos de avaliação re-
portados na literatura científica apresentam elevada precisão para avaliar o que se propõe. Por
exemplo, o dinamômetro isocinético pode avaliar com alta precisão e reprodutibilidade tanto a força
máxima, potência e a taxa de desenvolvimento de força, realizadas com contrações concêntricas,
excên- tricas ou isométricas38,50. Por sua vez, uma plataforma de força que mensure a força em três
sentidos, pode fornecer tanto informações de potência mus- cular em saltos, quanto o deslocamento do
centro de pressão, fornecendo informações relevantes sobre o equilíbrio dinâmico e estático 1,52.
Apesar disso, estes equipamentos considerados como padrão ouro para a pesqui-
sa, usualmente apresentam um elevado custo, o que os afasta do ambiente clínico. Apesar disso,
existem métodos menos robustos, de menor custo, que são validados e apresentam precisão e
reprodutibilidade aceitável para monitoramento da força máxima, potência, força explosiva, equilí-
brio e capacidade funcional. Dessa maneira, o objetivo do presente capí- tulo é descrever métodos de
avaliação que podem ser utilizados na prática clínica para monitoramento da capacidade
neuromuscular de idosos.

Métodos de avaliação

• Força máxima
A força máxima pode ser definida de acordo com o contexto de avalia- ção. Por exemplo, a força
máxima é a maior capacidade do sistema neuro- muscular de produzir força (quando medida por meio
de célula de carga ou plataforma de força), ou torque (quando o próprio é medido por, e.g.,
dinamômetro isocinético)53 ou até a maior capacidade de movimentar uma massa específica em uma
dada tarefa (quando medida por meio de testes de carga máxima)54. É importante ressaltar, que a força
máxima independe do tempo despendido para a execução da tarefa proposta em si.
No ambiente da pesquisa, o dinamômetro isocinético é utilizado com grande frequência com o
intuito de se obter uma maior reprodutibilidade e exatidão das medidas. Além de fornecer
informações mais específicas na capacidade de produção de torque em diferentes ângulos de articula-
ções específicas, ou então de ações específicas (i.e., concêntrica, excêntrica ou isométrica)53. Este
equipamento possui um custo elevado, o que o tor- na menos acessível para a utilização na prática
clínica. Entretanto, uma alternativa de menor custo, mas que também é comumente utilizada em
pesquisa científica, é o teste de carga máxima (e.g., uma repetição máxima
– 1-RM)54.
Os testes de carga máxima são uma alternativa extremamente válida para monitoramento da força
máxima em exercícios específicos, mesmo que a intervenção realizada na prática clínica não tenha
adotado tais exer- cícios. Para a sua execução, deve-se eleger exercícios de acordo com os gru- pos
musculares recrutados no mesmo. Por exemplo, para avaliar a força muscular dos músculos
extensores do joelho (i.e., quadríceps) pode se es- colher um exercício uni articular, como a cadeira
extensora. Mas também, pode-se escolher um exercício multi articular de cadeia cinética fechada,
como o leg press ou o agachamento. Nestes casos, é preciso ficar claro que além dos extensores
de joelho, também estão envolvidos os flexores de
joelho e extensores de quadril. Após a escolha do exercício, alguns procedi- mentos devem ser
adotados antes de iniciar o teste: 1) aquecimento geral e específico; 2) familiarização ao exercício
proposto; e 3) utilização de cargas submáximas com progressão gradativa da carga em cada uma das
tentati- vas. Quando o avaliado estiver pronto para realizar a tentativa de levantar o máximo de carga,
o mesmo deve ser orientado a realizar o deslocamento da carga em duas repetições. Tal orientação é
necessária para que o avalia- dor tenha certeza de que a carga sugerida realmente seja a carga máxima,
pois se for, o avaliado não conseguirá completar a segunda repetição. Caso o avaliado não consiga
realizar nenhuma repetição, a carga deve ser redu- zida para a próxima tentativa. Caso contrário, o
avaliado realize duas repe- tições, para a próxima tentativa a carga deverá ser aumentada. Sugere-se
um intervalo de cinco minutos entre tentativas e no máximo três a quatro tentativas por dia54.
O teste de 1-RM pode ter algumas limitações que dificultam sua exe- cução. Por exemplo, em
exercícios multi articulares, é possível elevar uma maior carga quando comparado aos exercícios uni
articulares. Dessa for- ma, ao realizar testes com cargas próximas do máximo (podendo ser su- pra
máximas caso a carga tenha sido superestimada), o avaliado pode não suportar o peso levantado,
havendo a necessidade de o avaliador dar um suporte de segurança. Além disso, em alguns exercícios,
como o leg press
45º, agachamento ou o supino reto, pode haver a necessidade de mais de um avaliador auxiliar no
suporte a carga, dificultando a logística de ava- liações e expondo o avaliado a riscos54. Dessa
maneira, pesquisadores de- senvolveram equações preditivas da carga do teste de 1-RM, baseado no
máximo de repetições executadas com uma carga submáxima54–56, ou ba- seado na relação entre força
e velocidade57,58. Uma equação de predição do
1-RM clássica é a de Brzycki 56, Eq. 1.7, na qual deve-se utilizar uma carga e realizar o máximo de
repetições possíveis até a falha concêntrica momen- tânea. Quando o número de repetições for mais
próximo de um, menor é o erro da predição.

1-RM = peso levantado / 1,0278 – 0,0278*número de repetições realizado, Eq 1.7

Outra forma de se avaliar força máxima na prática clínica é por meio de dinamômetros manuais.
Esse tipo de dinamômetro pode ser utilizado para avaliação da força isométrica máxima de diferentes
articulações59,60. O avaliador deve posicionar o dinamômetro no sentido contrário em que
a força será realizada e mantê-lo imóvel enquanto o avaliado exerce o má- ximo de força que é capaz
contra o equipamento. Um cuidado primordial que deve ser tomado é manter o dinamômetro imóvel,
pois caso ocorra qualquer tipo de deslocamento do mesmo a força medida pelo mesmo será reduzida,
em especial ao avaliar idosos e grupos musculares mais fortes. Para isso, mantê-lo em contato com
superfícies imóveis (e.g., parede, ban- co ou mesas) e seguir procedimentos padronizados pode
aumentar a exati- dão das medidas. Uma estratégia para garantir a qualidade dos resultados obtidos é
realizar pelo menos três tentativas, sendo que a diferença entre as duas melhores deve ser ≤6%61.

• Potência
A potência muscular pode ser definida como o produto da força pela velocidade (Potência =
força x velocidade). Dessa maneira, pressupõe-se que a mesma está relacionada com a curva de força e
velocidade62. Ou seja, alterações de desempenho tanto na força máxima, quanto na velocidade podem
acarretar em melhorias de potência. Em situações laboratoriais a potência muscular tem sido avaliada
de diferentes maneiras, sendo que as mais comuns por meio do dinamômetro isocinético, plataforma
de força (e.g., salto vertical ou exercícios de treinamento resistido) e até em ergô- metros (e.g.,
bicicleta ou power rig). Mas também pode ser estimado uti- lizando acelerômetros para medir a
velocidade exercícios de musculação.
Para a prática clínica, há distintas maneiras de se estimar a potência muscular. A altura do salto
vertical está intimamente relacionada com a potência de membros inferiores. Para avaliar a altura do
salto pode-se uti- lizar a cinemática (com uma câmera filmadora calibrada), considerado o padrão
ouro, plataforma de salto ou força, tapete de salto ou aplicativos de smartphones que são validados
para se obter tais informações, além de se- rem alternativas de fácil utilização, as últimas citadas
podem ser conside- radas de baixo custo63–65. Para se avaliar o salto, pode-se optar por realizar o salto
agachado (sem a influência do ciclo alongamento-encurtamento) ou o salto com contra movimento
(com a influência do ciclo alongamento-
-encurtamento). Esta segunda opção pode ser considerada mais adequada, por se assemelhar a
situações da vida diária e também por ser um bom parâmetro para monitoramento neuromuscular66.
Durante o salto contra movimento, o avaliado deve realizar o salto precedido pelo agachamento,
sendo que a transição entre a fase excêntrica para a concêntrica deve ser o mais rápido possível.
Alguns cuidados devem ser tomados para garantir a qualidade dos dados: 1) o avaliado deve ser
familiarizado para evitar que
as melhoras observadas sejam decorrentes do aprendizado; 2) o salto deve ser realizado com as mãos
apoiadas na cintura durante todo o movimento; e 3) devem ser realizados de 3 a 5 saltos, para garantir
a reprodutibilidade dos dados.
Outra alternativa para o ambiente da prática, é realizar as avaliações de potência em exercícios
de treinamento resistido. Para tanto, é necessá- rio a informação da carga levantada pelo sujeito que
deverá ser combina- da com a velocidade de execução do movimento completo. Para se avaliar a
velocidade, existem diferentes métodos, como a utilização de filmagem (cinemática), acelerômetro,
transdutores lineares e também aplicativos de smartphones57,58,67. Para tal, sugere-se avaliar exercícios
multi articulares que estejam relacionados com as atividades da vida diária de idosos, como o
agachamento ou leg press. Para garantir a reprodutibilidade dos dados, sugere-se realizar pelo menos
três repetições para cada exercício. Adicionalmente, apesar de ser um método menos robusto, com
algumas informações do teste de sentar e levantar de 30 s (ver mais detalhes no tópico 2.5.1.) é
possível predizer a potência pico e média do sujeito, con- forme as seguintes equações (Eq 2.7,
R2=0,784, p<0,01; Eq 3.7, R2=0,811, p<0,01) 68:

Potência média (W) = -504.845 + (10.793 x massa corporal em kg) + (21.603 x número de
levantadas em 20 s), Eq. 2.7

Potência de pico (W) = −715,218 + (13,915 x massa corporal em kg) + (33,425 x número de
levantadas em 20 s), Eq 3.7

• Força explosiva
A força explosiva, também chamada de força rápida, pode ser definida como a habilidade de
produzir elevados níveis de força no início da con- tração em um curto intervalo de tempo69.
Diferentemente de potência, a força explosiva não requer velocidade de contração para sua
mensuração, e sim que o aumento da força ocorra no menor tempo possível. Usualmen- te, a força
explosiva é mensurada por meio da taxa de desenvolvimento de força (inclinação da curva de força)
ou pelo próprio torque em intervalos de tempo até 300 ms após o início da contração69,70. É
recomendado que a força explosiva seja medida com contrações isométricas, para que as pro-
priedades mecânicas do músculo (relações torque-ângulo e torque–veloci- dade) não interfiram na
capacidade de produzir força rápida em si69.
No âmbito da pesquisa, a taxa de desenvolvimento de força é avaliada
com dinamômetro isocinético na função de contração isométrica ou com células de carga, desde que
tenham uma frequência de aquisição de pelo menos 1000 Hz. Após a avaliação, ainda é necessário
realizar o tratamento do sinal obtido e o processamento matemático para a obtenção dos resul- tados
finais69. Infelizmente, na prática clínica ainda não há equipamentos de baixo custo e de fácil
processamento, sendo a célula de carga o sistema mais acessível em termos de custo e facilidade de
uso.
A célula de carga pode ser fixada em cabos de equipamentos de trei- namento resistido,
avaliando então exercícios uni ou multi articulares de maneira isométrica, ou então fixado diretamente
em membros específicos para avaliar articulações isoladas. Durante a avaliação, alguns cuidados
devem ser tomados para garantir a qualidade dos dados: 1) o avaliado deve receber a orientação de
realizar o máximo de força o mais rápido possível em uma contração de aproximadamente 1 s; 2) a
produção de força deve partir do zero, sem nenhuma tensão prévia dos músculos agonistas ou an-
tagonistas; 3) entre cada tentativa o avaliado deve ser orientado a contrair mais forte e mais rápido; e
4) podem ser realizadas 10 tentativas com pelo menos 20 s de intervalo entre elas 69.
Após a aquisição dos dados, estes podem ser analisados em ambien- te matemático (e.g.,
software Matlab) ou então em planilha do Excel®. Na prática clínica, torna-se mais acessível a
utilização da segunda opção. Após exportado, a linha de base (momento em que não está sendo produ-
zido força) deve ser identificada. Em seguida, o início da produção de força deve ser encontrado e
determinado como ponto zero (onset da produção de força). Após a determinação do onset, o torque
em diferentes momen- tos de tempo (e.g., 25, 50, 75, 100, 150, 200 e 250 ms) representam a força
explosiva da respectiva contração. Essa análise deve ser realizada entre as
10 tentativas, sendo que para ser considerada válida, estas devem ter atin- gido ao menos 80% da
força máxima e também seguir os critérios de con- trole de qualidade citados anteriormente. As três
tentativas válidas com maior valor de torque são selecionadas e uma média entre elas é reportada para
cada intervalo de tempo. Dessa maneira é possível realizar o monito- ramento de força rápida dos
pacientes em clínicas, hospitais e academias.

• Equilíbrio
O equilíbrio é basicamente a capacidade de manter seu centro de gra- vidade dentro de sua base
de apoio, mantendo sua posição estável em si- tuações estáticas ou dinâmicas52. Esta capacidade física
é de grande im- portância para a saúde do idoso, pois ao perder equilíbrio podem ocorrer
quedas22. No ambiente laboratorial o equilíbrio é usualmente avaliado por meio da plataforma de força
(desde que seja capaz de avaliar a força nos eixos anteroposterior e laterolateral). Com este
equipamento, é possível avaliar a variabilidade de posicionamento do centro de pressão, sendo que
menores variabilidades representam maior equilíbrio52. O centro de pres- são pode ser avaliado tanto
em ações estáticas como dinâmicas, além de situações que envolvam perturbação externa,
relacionando com tarefas do dia a dia.
Como na prática clínica, a utilização de plataforma que avalia a força em três sentidos pode não
ser acessível, há alternativas sem custos para o avaliador, como o Berg balance test 44,71. Este teste
utiliza uma escala de 14 tarefas comuns que envolvam o equilíbrio estático e dinâmico: 1) levantar da
posição sentada para a posição em pé, 2) permanecer em pé, sem apoio, por 2 min, 3) permanecer
sentado sem apoio nas costas, mas com os pés apoiados no chão ou em um banquinho, 4) sentar-se a
partir da posição em pé, 5) transferência de uma cadeira para outra com ação de pivô, 6) per- manecer
em pé (afastados na largura do ombro), sem apoio, com os olhos fechados por 10 s, 7) permanecer em
pé, sem apoio e com os pés juntos, com os olhos fechados por 10 s, 8) alcançar a frente com o braço
estendido e em pé, 9) Pegar um objeto no chão na posição em pé, 10) virar-se e olhar para trás por
cima dos ombros direito e esquerdo enquanto permanece em pé, 11) girar 360 graus, 12) posicionar os
pés alternadamente no degrau ou banquinho enquanto permanece em pé sem apoio, 13) permanecer
em pé sem apoio com um pé à frente, e 14) permanecer em pé sobre uma perna. Cada tarefa recebe
uma pontuação que vai de 0 (incapaz de realizar a ta- refa) até 4 (realiza a tarefa independentemente).
Estes escores somados darão um valor total entre 0 e 56 pontos, sendo que escores menores que
45 são preditivos de baixo equilíbrio, e alto risco de quedas71.

• Capacidade funcional
A capacidade funcional de idosos pode ser definida como a habilidade de realizar atividades
motoras da vida diária. Podemos destacar as ações de sentar e levantar, andar, subir e descer escadas,
carregar objetos e lim- par a casa. Além disso, pode-se ressaltar as atividades laborais que exigem
ações motoras 72. O envelhecimento resulta em reduções marcantes da ca- pacidade funcional que
acompanham os comprometimentos neuromus- culares 4. A capacidade funcional está relacionada
com a força máxima 38, potência 39 e força explosiva 38.
Os testes utilizados com maior frequência para monitoramento da ca-
pacidade funcional em idosos podem ser considerados de baixo custo, en- tretanto há uma grande
variedade de opções que podem ser escolhidas de acordo com seu objetivo. Os testes podem ser
divididos esquematicamente em dois tipos de acordo com a cronometragem: 1) realizar o máximo de
ações em um intervalo de tempo de tempo pré-determinado, ou 2) realizar uma ação pré-determinada
em um menor tempo possível.
Os testes funcionais cronometrados requerem apenas o uso de itens presentes no dia a dia
relacionados ao que o teste se propõe a medir e tam- bém o uso do cronômetro. Por serem
cronometrados os testes dependem do tempo de reação do avaliador ou do avaliado dependendo do
critério de início e fim dos testes. Por exemplo, se o avaliador realiza o comando de início e aciona o
cronômetro, o tempo estará contando durante o proces- samento da informação e início do movimento
pelo idoso 73. Caso a ação motora do idoso determine o início do teste, o acionamento do cronômetro
dependerá da velocidade de reação do avaliador. Estas limitações podem ser consideradas erros de
medidas, sendo que em testes de curta duração, esse erro pode reduzir a exatidão de medida dos testes
realizados. Além disso, a magnitude do erro de medida pode variar entre diferentes avalia- dores 73.
Dessa maneira, para redução dos erros de medida intra e inter-a- valiadores, sugere-se a utilização de
câmera filmadora (e.g., smartphones) no lugar de cronômetros, possibilitando que o tempo do teste
seja anali- sado off-line com softwares especializados 73. Adicionalmente, repetir um mesmo teste
pelo menos três vezes, permitirá obter o melhor desempenho do avaliado.
A seguir serão descritos os objetivos, procedimentos e critérios de pon- tuação de testes funcionais
comumente utilizados no ambiente laborato- rial de pesquisa científica, mas que também são viáveis
para aplicação na prática clínica.

Sentar e levantar (cinco vezes ou durante 30 s)


O teste de sentar e levantar possui variações que influenciam direta- mente seus objetivos de
medição. Por exemplo, este pode ser realizado cronometrando o tempo necessário para o avaliado
sentar e levantar cinco vezes, ou então contando o número de repetições realizadas no intervalo de
tempo de 30 s. O teste de cinco repetições possui características rela- cionadas a força e potência de
membros inferiores, já o de 30 s de força e resistência muscular. Ao realizar a filmagem do mesmo,
para posterior avaliação, é possível obter o resultado para ambos os testes de maneira integrada. Para
isso, o sujeito deve ser orientado a realizar o máximo de
repetições possíveis no intervalo de 30 s. Com a filmagem, o avaliador po- derá monitorar o tempo
gasto para realizar 5 repetições completas e tam- bém fazer a contagem de repetições realizadas no
tempo total de 30 s73–76.
Para controle de qualidade do teste, alguns procedimentos devem ser adotados: 1) a mesma
cadeira deve ser utilizada em todas as avaliações, ou pelo menos, que elas tenham dimensões
semelhantes; 2) o movimento realizado deve ser completo ao ficar em pé em extensão completa e ao
sen- tar as costas devem tocar por completo o encosto da cadeira; 3) os braços devem permanecer
cruzados para evitar auxílio aos membros inferiores durante o movimento; e 4) a câmera filmadora
deve ser posicionada para filmar o plano sagital (lateral) 73.

Timed up and go
O teste timed up and go, também chamado de levantar, ir, voltar e sentar cronometrado é um
dos mais utilizados na pesquisa científica por sua capacidade de em um mesmo teste avaliar a
habilidade de levantar da cadeira, velocidade, agilidade, equilíbrio dinâmico e sentar. Para esse teste,
são necessários uma cadeira sem acento inclinado (usualmente com
45 cm de altura do acento até o chão) e um cone (ou qualquer outro objeto que possa servir como
referência), que será posicionado a uma distância pré-determinada da cadeira. As distâncias mais
utilizadas são de 2,44 ou
3 m. O avaliado deverá levantar da cadeira, se deslocar até o cone, dar a volta, retornar para a cadeira
e sentar no menor intervalo de tempo possí- vel73–76. Para controle de qualidade do teste, alguns
procedimentos devem ser adotados: 1) a mesma cadeira deve ser utilizada em todas as avaliações, ou
pelo menos, que elas tenham dimensões semelhantes; 2) a distância entre a cadeira e o cone deve ser
repetida em todas as situações de ava- liação; 3) o movimento realizado deve ser completo ao ficar
em pé em ex- tensão completa (no início do teste) e ao sentar as costas devem tocar por completo o
encosto da cadeira (no final do teste); 4) as ações de levantar e sentar devem ser realizadas sem o
auxílio dos membros superiores; 5) a câmera filmadora deve ser posicionada para filmar o plano
sagital ao lado da cadeira, pois é o ponto de partida e de fim do teste 73–76.

Velocidade de caminhada
Este teste necessita apenas de marcações no solo, do ponto inicial, o ponto de encerramento da
cronometragem e um terceiro ponto no qual o avaliado deve parar de caminhar. Este terceiro ponto é
utilizado como referência de distância a ser percorrida pelo avaliado para evitar a desace-
leração. A distância usual entre o início do teste e o fim da cronometragem é de 8 m. Entretanto, em
idosos com boa capacidade funcional o teste pode ficar muito curto, aumentando assim o erro de
medida caso seja utiliza- do cronômetro manual ao invés de cronometragem por vídeo73. Portanto,
distâncias variadas podem ser adotadas, desde que a mesma seja manti- da em todas as avaliações
subsequentes. O avaliado deve ser orientado a percorrer a distância entre a primeira e terceira
marcação no menor tem- po possível apenas caminhando, sem correr. A câmera filmadora deve ser
mantida em uma posição onde seja possível perceber o momento em que o primeiro pé perde contato
com o solo (início do teste) e o momento em que o avaliado ultrapassa a segunda marcação de
distância (fim do teste)73–76.

Subir e descer escadas


O teste de subir e descer escadas está relacionado com a força e potên- cia de membros inferiores.
Este teste possui algumas variações, como a cronometragem do tempo total conjunta ou separada de
subida e descida e com a quantidade de degraus envolvidos. Sugere-se a cronometragem separada,
pois são atividades motoras distintas e em idosos frágeis pode aumentar o risco de quedas durante a
mudança de direção. Usualmen- te, são adotados oito degraus (recomenda-se degraus com
padronização da Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT) para a realização da tarefa.
Entretanto, esta questão pode ser adaptada de acordo com o lan- ce de degraus disponíveis na
academia, clínicas ou hospitais em questão, desde que seja mantido o mesmo padrão nas avaliações
subsequentes73–76. Alguns procedimentos devem ser adotados para controle de qualidade e segurança
do teste: 1) a câmera filmadora deve ser posicionada para filmar o plano frontal, onde seja possível
detectar o primeiro pé perdendo contato com o solo (início do teste) e o segundo pé tocando o último
degrau (fim do teste); 2) o avaliado deve manter contato com o corrimão, sem utilizar do seu auxílio,
apenas como segurança para situações de desequilíbrio 73–76.

Teste de levantar e transportar


O teste de levantar e transportar tem como objetivo avaliar a combi- nação de ações dos membros
inferiores, como deslocamento, agilidade e equilíbrio com ações dos membros superiores, envolvendo
o carregamento de objeto. Inicialmente este teste foi criado para que o avaliado pudesse percorrer uma
distância de 2,7 m para pegar um objeto com peso de 4,5 kg de uma prateleira baixa, percorrer um
novo percurso de 8,7 m dando uma volta em um cone, e por fim colocar o objeto em uma prateleira
mais alta.
Contudo, nada impede que ocorram adaptações no teste para se adequar aos equipamentos disponíveis
na clínica, hospital ou academia (desde que o padrão seja mantido nas avaliações subsequentes). O
avaliado deve ser orientado a percorrer o percurso no menor tempo possível, sem correr. Além disso,
posicionar a câmera em um local que seja possível detectar o primeiro pé perdendo contato com o solo
(início do teste) e o momento em que o objeto é apoiado na estante (final do teste)73–76.
Sendo assim, podemos sumarizar nossas informações com algumas observações, as alterações
neuromusculares durante o envelhecimento resultam em reduções da capacidade de produção de força
máxima, po- tência, força explosiva, equilíbrio e capacidade funcional. Dessa maneira, as estratégias
clínicas adotadas para contrapor estes comprometimentos devem ter como objetivo melhorar ou
atenuar as reduções de todas essas capacidades. Paralelamente a isso, os testes sugeridos no presente
capí- tulo devem ser aplicados para monitoramento da eficácia das estratégias clínicas adotadas em
todas as capacidades discutidas, devido à individual importância de cada uma delas.
A frequência em que os testes serão aplicados não segue uma regra específica. Sugere-se que os
testes de maior complexidade de execução ou processamento de dado (e.g., 1-RM e taxa de
desenvolvimento de força) sejam realizados com menor frequência. Já as avaliações de menor com-
plexidade, fácil aplicabilidade e análise dos resultados, como os testes de potência (e.g., altura do salto
vertical), equilíbrio (e.g., Berg balance test) e capacidade funcional (e.g., sentar e levantar, timed up
and go, subir e descer escadas, velocidade de caminhada, e levantar e transportar) podem ser
realizados com maior frequência.
Realizar os testes propostos no presente capítulo permite que os pro- fissionais da área clínica,
como fisioterapeutas, profissionais de educação física, terapeutas ocupacionais e geriatras, possam ter
informações rele- vantes acerca do estado neuromuscular dos idosos. Dessa forma, será pos- sível
escolher de maneira mais adequada as estratégias clínicas e otimizar a prescrição para melhora da
performance neuromuscular de idosos.

Aplicações práticas

O presente capítulo traz importantes informações que implicam dire- tamente na prática clínica de
profissionais que trabalham diretamente com a população de idosos (e.g., profissionais de educação
física, fisioterapeu- tas, terapeutas ocupacionais, geriatras e nutricionistas) proporcionando
tratamentos mais eficazes para a melhora do desempenho neuromuscular.
Pode-se destacar as seguintes aplicações práticas:

• Conhecer a importância de cada uma das capacidades físicas neu- romusculares e os


parâmetros gerais e específicos que afetam dire- tamente a qualidade de vida do idoso;
• Além disso, entender a influência neuromuscular sobre a capaci- dade motora do idoso
para proporcionar uma maior chance de acer- to na escolha do tratamento mais adequado por
parte dos profissio- nais;
• Identificar as deficiências do paciente idoso em características neuromusculares
específicas, é determinante para uma prescrição individualizada.
• Apesar de os testes laboratoriais serem considerados padrão ouro, existem diversos testes de
campo que são capazes de fornecer infor- mações válidas com baixo custo e alta validade
ecológica;
• Combinar diferentes testes que englobem diferentes característi- cas neuromusculares e que
fornecam um panorama geral e comple- to sobre o status neuromuscular do idoso.
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CAPÍTULO VIII
ADAPTAÇÕES NEUROMUSCULARES DECORRENTES DO TREINAMENTO RESISTIDO
TRADICIONAL E DE POTÊNCIA EM IDOSOS

203

Mariane Eichendorf da Silva Lucas Bet


da Rosa Orssatto Cíntia de la Rocha
Freitas

O que você irá encontrar:

• Aspectos demográficos e biológicos (neuromusculares) do Enve-


lhecimento;
• Declínio Funcional decorrente das diversas alterações neuromus-
culares em idosos;
• O Treinamento resistido como uma forma eficaz para atenuar o declínio do desempenho
neuromuscular decorrente do envelheci- mento;
• Características do treinamento de potência e força explosiva em idosos para otimizar
adaptações neuromusculares no envelheci- mento;
• Efeitos agudos do treinamento resistido tradicional e de potência e cuidados com a população
idosa.

Introdução

Este capítulo aborda os aspectos biológicos do envelhecimento hu- mano, destacando as


implicações neuromusculares decorrentes do treina- mento resistido (caracterizado pelo exercício contra
resistência, utilizan- do de sobrecargas e velocidade controladas, trazendo diversos benefícios, como na
força, resistência e potência muscular) e explosivo (caracterizado pelo exercício contra resistência
realizado em alta velocidade, atingindo valores elevados de força), a curto (agudo) e a longo prazo
(crônico)1, jun- tamente aos efeitos colaterais observados nas diversas valências físicas (i.e., força,
velocidade, resistência, flexibilidade, coordenação, dentre ou- tras)2 e na capacidade funcional
(capacidade do indivíduo em realizar suas atividades da vida diária com independência e sua relação
multidimen- sional com a saúde física e mental, interação social, suporte econômico e familiar)3, assim
como dano muscular (prejuízos atribuídos às estruturas das fibras musculares após o exercício), fadiga
(redução da capacidade de
produção de força induzida pela execução de um determinado exercício) e recuperação muscular
(recuperação da homeostase de todos os sistemas orgânicos, super compensação e estabilização do
corpo humano) em ido- sos1.

Transição demográfica

Pesquisas sobre o processo de envelhecimento vem avançando no Bra- sil e no mundo nas últimas
décadas4. Esse aumento no número de pes- quisas tem sido motivado pela transição demográfica
atual e pelas proje- ções para os anos de 2025 e 2080, caracterizadas pelo grande número de pessoas
idosas5. Na atualidade, estudos demográficos têm observado um aumento elevado no número de
pessoas idosas, acarretando no envelheci- mento da população mundial⁶.
Dentre os países mais populosos, o Brasil apresenta um dos maiores e mais acelerados processos
de envelhecimento demográfico, com uma ex- pectativa de vida de 71,9 anos em 20057. Até o século
XX, o percentual de crescimento populacional total foi de 1,64% ao ano, já o aumento no núme- ro de
idosos cresceu muito mais, cerca de 3,47% ao ano, crescimento que continua aumentando, podendo
levar o Brasil, em 2025, ao quarto lugar no ranking de países em desenvolvimento com o maior
número de idosos. Projeções da população total indicam que em 2050, o Brasil poderá chegar a 22%
de idosos no número total da população com cerca de 13,7 milhões de pessoas com 80 anos ou
mais7,8, e um índice de envelhecimento da po- pulação de 105,6, como observado na Figura 1.8.
A Organização Mundial de Saúde tem como preocupação esse aumen- to da expectativa de vida
da população no Brasil e no mundo9, Figura 2.8, pois este compreende aspectos biológicos,
psicológicos e sociais geralmen- te acompanhados de diversas incapacidades físicas, que podem
ocorrer de- vido ao sedentarismo e/ou envelhecimento, afetando diretamente na qua- lidade de vida da
população idosa e impactando gradualmente os serviços de assistência à saúde, tendo como
consequência o aumento nos custos com a saúde pública no Brasil10.
Figura 1.8 - Evolução do índice de envelhecimento da população do Brasil a cada 5 anos. De 1980 a
2050. O Índice do envelhecimento consiste na relação entre a população idosa (>65 anos) com a
população infantil e ju- venil (até 15 anos de idade); quanto maior o índice, maior é o número de
idosos.

Fonte: Oliveira, Albuquerque, Lins, 2004.8 IBGE. Diretoria de Pesquisas – DPE. Coordena- ção de População e Indicadores Sociais –
COPIS. PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO DO BRASIL POR SEXO E IDADE PARA O PERÍODO 1980-2050. Revisão 2004.

Envelhecimento neuromuscular

Dentre os diversos fatores que estão associados às incapacidades, como os aspectos sociais,
psicológicos e funcionais11, há também a influência de fatores como a hereditariedade, doenças
crônico-degenerativas, e hábitos como estilo de vida, nutrição e a prática de atividade física12.
Figura 2.8 - Pirâmide etária absoluta do Brasil em 2050, para homens e mulheres. Verifica-se a
tendência de inversão da pirâmide representativa da população total, ou seja, menor número de
crianças e jovens em com- paração com idosos.

Fonte: Fonte: Oliveira, Albuquerque, Lins, 2004.8 IBGE. Diretoria de Pesquisas – DPE. Co- ordenação de População e Indicadores
Sociais – COPIS. PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO DO BRASIL POR SEXO E IDADE PARA O PERÍODO 1980-2050. Revisão 2004.

A incapacidade, que envolve condições físicas, mentais e emocionais, conceitua-se, de forma


mais complexa, pelo grau de dificuldade de execu- ção do indivíduo em realizar as tarefas cotidianas,
básicas ou complexas, indispensáveis para independência do idoso13. A incapacidade física pode ser
avaliada pela auto declaração de dificuldade ou necessidade de auxílio para a realização das atividades
do dia a dia. Podemos encontrar ainda, de- finições mais específicas que subdividem as atividades da
vida diária em14:
• Atividades Básicas da Vida Diária – Atividades mais simples e de menor complexidade,
porém fundamentais para viver socialmente como por exemplo vestir-se, tomar banho e
alimentar-se.
• Atividades Instrumentais da Vida Diária – Atividades mais com-
plexas, no entanto importantes para se ter independência, como a realização de trabalhos
domésticos, compras e deslocamentos em geral.
Com o passar da idade, surgem as comorbidades, que aumentam a di- ficuldade da realização das
atividades cotidianas. Uma forma de se obser- var essas dificuldades é por meio da avaliação de
mobilidade, que faz parte da avaliação funcional, realizada em populações especiais, como idosos15. A
mobilidade também pode ser avaliada pela auto declaração, relatando desde tarefas simples de
mobilidade (i.e.: transferência de uma cama até uma cadeira), até tarefas moderadas como caminhar e
subir escadas16.
Já a capacidade funcional ou funcionalidade é definida como a capa- cidade do indivíduo para
realizar as tarefas do seu dia a dia com indepen- dência e autonomia17. Existem testes para avaliar a
capacidade funcional, usualmente aplicados em indivíduos que podem ter esta capacidade pre-
judicada (como no envelhecimento), associados ao alto número de quedas nesta população18 e ao
desenvolvimento de doenças crônico-degenerati- vas14. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as
quedas são um dos principais motivos de hospitalização, principalmente no público idoso. Em termos
percentuais, idosos acima de 65 anos de idade têm incidência de algum episódio de queda de 28% a
35% a cada ano, tornando-se ainda maior em idosos acima de 70 anos de idade (cerca de 32% a 42%
do total de idosos). Quanto às doenças crônicas de maior incidência em idosos no mundo, estão:
Doenças cardiovasculares (tais como doença coronariana), Hipertensão, Derrame, Diabete, Câncer,
Doença pulmonar obstrutiva crô- nica, doenças musculoesqueléticas (como artrite e osteoporose),
doenças mentais (principalmente demência e depressão), cegueira e diminuição da visão.
Por outro lado, a prática regular de atividades físicas leves e/ou mo- deradas é extremamente
benéfica e pode retardar e/ou evitar declínios funcionais, e também o aparecimento de doenças
crônicas e degenerati- vas no público idoso19. Um idoso com melhor capacidade funcional tem maior
independência para realizar as atividades da vida diária e melhores condições de saúde e qualidade de
vida20–22. Para que ocorram melhorias na capacidade funcional, são necessárias, por exemplo,
melhorias na força máxima, potência, força explosiva e na massa muscular esquelética23, ten- do em
vista que benefícios encontrados nos testes de capacidade funcional foram observados em diversos
estudos24, com treinamento resistido25 (au- mentos em menor magnitude) e treinamento de potência26
(maior magni- tude de aumento).
Desta forma, o envelhecimento biológico é definido como um proces- so lento e gradativo,
inevitável ao corpo humano, que leva a uma perda progressiva de diversas funções orgânicas, advindas
do desequilíbrio e das agressões sofridas no decorrer do tempo, as quais tornam seu organismo
vulnerável, impactando na capacidade de manutenção de suas funções27–31. As alterações decorrentes
do sistema locomotor fazem parte das alterações naturais deletérias do processo de envelhecimento;
uma vez que este siste- ma controla a interação entre os sistemas muscular, nervoso e esquelético,
sendo responsável pela redução da capacidade do idoso de se locomover e pelo aumento do risco de
quedas, fraturas e lesões. Estes aspectos são acompanhados de reduzida capacidade funcional e podem
refletir também em alterações psicológicas e sociais6,32.
Dentre os principais comprometimentos observados no sistema lo- comotor, decorrentes do
envelhecimento, pode-se destacar as alterações funcionais e as morfológicas que ocorrem no sistema
nervoso central e periférico33–36, como por exemplo, ausência de motoneurônios e unidades motoras,
perdas da função sensorial e motora, redução do volume cortical, diminuição no comprimento dos
axônios mielinizados, alterações nos cir- cuitos espinhais (i.e., Inibição recíproca, dentre outras).
Destacam-se ain- da, as alterações musculoesqueléticas que ocorrem no aparelho muscular e
esquelético37, como redução na área de secção transversa (anatômica e fisiológica), no volume, no
cumprimento do fascículo, no ângulo de pena- ção38 das fibras musculares e perda de massa óssea e
espessura dos ossos. Destaca-se que o sistema nervoso central coordena e modula as ações mo- toras
do sistema musculoesquelético por meio de comandos excitatórios e inibitórios, e juntos são
responsáveis pela produção de força voluntária2.
Como consequência dessas alterações, ocorrem reduções no desem- penho motor; aumento no
tempo de reação, redução na força muscular (i.e., máxima, explosiva e potência) e massa muscular
(sarcopenia), velo- cidade de encurtamento do músculo, diminuição da capacidade funcional e
mobilidade reduzida. Todas estas alterações contribuem, de forma geral, para a diminuição da força
muscular (dinapenia) em idosos de ambos os sexos. Não só a quantidade de massa magra influencia
no processo de ge- ração de força muscular, mas também a capacidade de recrutamento e co-
ordenação de unidades motoras, tipos de fibras musculares, área de secção transversa, arquitetura
muscular e a habilidade do sistema nervoso central de ativar os músculos após os ajustes do comando
central sobre a respos- ta reflexa integrada espinhal36,39. De forma geral, pode-se perceber que o
declínio da força, decorrente do processo de envelhecimento, é atribuído
principalmente à redução no número de fibras musculares do tipo II, que se contraem mais
rapidamente e produzem mais força do que as fibras do tipo I, contribuindo diretamente na redução da
força máxima, principal- mente na diminuição de potência (verificada através da redução da taxa de
desenvolvimento de força/torque), e no aumento de tecido não contrátil (i.e., aumento de gordura no
músculo)40,41.
• Sarcopenia: refere-se à perda progressiva de massa muscular, tanto na quantidade, quanto
na qualidade dessas fibras musculares. Há uma maior diminuição de fibras do tipo II,
específicas para ge- ração de força36,42. Em idosos com 70-80 anos, esta diminuição da força
muscular pode variar de 20% a 40%; já em idosos com 90 anos ou mais, essa taxa agrava-se,
acarretando em reduções de até 50% de força muscular.
• Dinapenia: refere-se à perda progressiva de força máxima, força explosiva e potência
muscular, especificamente. Ou seja, as redu- ções de massa muscular ocorrem de maneira
mais lenta do que a perda da capacidade de produção de força21,43.

As capacidades de força e potência muscular diminuem cerca de 30% após os 50 anos de idade,
sendo essas perdas aceleradas a cada década44. Estudos indicam perdas na contração voluntária
máxima e na velocidade de contração por volta dos 40 anos de idade45. Estas reduções compor- tam-
se com distinção ao comparar as perdas em diferentes velocidades de contração e diferentes grupos
musculares; estudos indicam uma perda precoce e em maior magnitude na capacidade de produção de
força duran- te as contrações rápidas, ou seja, força explosiva e potência muscular, em comparação às
contrações lentas25.
Já aos 80 anos de idade, as reduções na massa muscular podem chegar a cerca de 40%, decorrentes
da perda e atrofia das fibras, redução da área da secção transversa do músculo. Estas reduções são
observadas princi- palmente nas fibras de características rápidas e de potência, sendo elas, as que
contêm miosina do tipo II (ou seja, fibras do tipo II), comparadas às fibras com características lentas,
que contêm miosina do tipo I (ou seja, fibras do tipo I). Consequentemente, essa perda preferencial de
massa nas fibras do tipo II explica, em parte, o déficit aumentado na geração de po- tência em
relação à perda de massa muscular40.
Hughes et al.46 encontraram, em um estudo longitudinal de 10 anos, que a diminuição da força de
preensão manual é de 3% em homens, já nas mulheres chega a 5%, estes com idade a partir de 45
anos. Assim como a
torque concêntrico dos extensores do joelho, que reduz em torno de 14% e dos flexores do joelho,
16% a cada dez anos, para homens e mulheres. Todas essas reduções levam, consequentemente a
outras perdas como do equilíbrio e da flexibilidade, gerando cada vez mais, a incapacidade física do
idoso47. Dessa forma, aumentam consideravelmente as chances de que- das nesta população16 e, por
consequência, cresce o número de pesquisas que buscam avaliar o efeito de diversos tipos de
atividades físicas no en- velhecimento, com o objetivo de, cada vez mais, chegar à senescência com
qualidade de vida e saúde48.
De acordo com Hughes et al.46, a redução da força dos membros inferio- res, em ambos os sexos, é
a mais acentuada em idosos, quando comparada com membros superiores; devido ao grande déficit e
atrofia musculares, observados por meio do decréscimo de tensão, reduções na arquitetura muscular e
aumentos de material não-contrátil na fibra muscular49,50. Com base nesses pressupostos, a força do
quadríceps pode ser considerado o grupo muscular mais importante para o idoso, devido às evidentes
redu- ções de força e potência muscular com o avançar da idade, podendo chegar a um estado muito
avançado, levando à incapacidade física do idoso. A força de extensores e flexores do joelho é
primordial para a realização de atividades básicas da vida diária, locomoção e equilíbrio corporal.
Ativida- des consideradas simples para jovens e adultos, podem se tornar de grande dificuldade na
velhice, devido à insuficiência de força para caminhar, sen- tar ou levantar-se de uma cadeira, por
exemplo; sendo assim, esta redução de força é evidenciada como um dos fatores de risco de maior
relevância para a ocorrência de quedas e institucionalização do idoso18,46,51.
Deste modo, torna-se inevitável a redução da mobilidade e o aumen- to de incidência de quedas
na população idosa, decorrentes do déficit na potência muscular. A busca pela manutenção e/ou
melhoria da função muscular, particularmente as fibras do tipo IIx (tipo de fibra de contração mais
rápida do corpo humano)2, torna-se cada vez mais importante com o avançar da idade52. Por
consequência, existem diversas intervenções com o intuito de minimizar ou reverter essas perdas em
idosos, pois há um reco- nhecimento cada vez maior da importância da integridade e da função do
sistema muscular esquelético dos idosos, permanecendo assim indepen- dentes nas suas tarefas
diárias. O treinamento resistido é uma das muitas opções que têm sido exploradas, com fortes
evidências sobre os seus be- nefícios na funcionalidade, saúde e qualidade de vida, principalmente em
idosos53.
Treinamento resistido

O treinamento resistido consiste na utilização de uma carga ou resis- tência externa para a
realização de um encurtamento dos músculos esque- léticos contra uma determinada resistência no
intuito de induzir a contra- ção muscular (que pode ser concêntrica, excêntrica e isométrica), variando
de acordo com a capacidade de geração de força dos músculos envolvidos. Estas contrações, com
sobrecarga, quando realizadas repetidamente e em séries são capazes de provocar diversas alterações
estruturais e funcionais no sistema neuromuscular. Estas adaptações podem ser agudas, que ocor- rem
imediatamente após o treinamento, ou crônicas, que são resultados de um período contínuo de
treinamento54.
A característica principal do treinamento resistido consiste no desen- volvimento da capacidade
de geração de força do indivíduo. Explicada através dos conceitos básicos de força e resistência
muscular, a força refe- re-se à capacidade de exercer tensão por meio de uma contração muscular,
produzida por um músculo ou grupo muscular sobre uma determinada resistência, vencendo-a numa
velocidade e exercício predeterminado1. A mesma é dependente de fatores neurais (i.e., recrutamento
e frequência das unidades motoras, coordenação inter e intramuscular) e morfológicos (i.e., tipo de
fibras, arquitetura muscular e propriedades elásticas e área de secção transversa do músculo)55,56.
O treinamento resistido tornou-se umas das práticas mais realizadas para a melhora da aptidão
física de pessoas de todas as idades, bem como um método de treinamento para redução de
desequilíbrios musculares ou fortalecimento muscular específico para atletas de distintas modalidades
esportivas57. O desempenho da força depende não só da quantidade e qua- lidade dos músculos
envolvidos, mas também da capacidade do sistema nervoso de ativar adequadamente os músculos58.
Dentre as adaptações a longo prazo do treinamento resistido estão, aumento do drive neural, ati- vação
voluntária, maior taxa de disparo da unidade motora, e por conse- quência, aumenta a taxa de
desenvolvimento de força59, hipertrofia mus- cular60, força máxima61, e potência muscular62.
A maior parte dos estudos relacionados às adaptações no treinamento resistido são realizados, em
sua maioria, no público mais jovem63,64. Po- rém, os estudos desenvolvidos com idosos vêm obtendo
grande avanço nos últimos anos. Os diversos fatores que podem ter influenciado este avanço, vão
desde as alterações demográficas que acarretaram em um aumento no número de idosos da população
mundial, até os cuidados e atenção neces-
sárias a esta população, devido às grandes alterações biológicas observadas com a idade e os bons
resultados observados com o treinamento4,65. O trei- namento resistido tornou-se parte fundamental do
programa de atividade física dirigido ao idoso, pois este contribui diretamente para a manutenção e
melhora da capacidade física e funcional, que é parte fundamental para execução das atividades
cotidianas com segurança e autonomia48,66.
Com base nesse pressuposto, estudos têm utilizado o treinamento resistido como estratégia para
atenuar ou atrasar os efeitos decorrentes do processo de envelhecimento sobre a massa muscular,
força máxima e explosiva67–69, sendo indicado como alternativa não farmacológica na pre- venção de
quedas e manutenção de uma capacidade funcional adequa- da70,71. Pesquisas comprovam os
benefícios encontrados com o treinamen- to resistido como por exemplo, o aumento ou manutenção da
massa magra e o ganho de força máxima, força explosiva, potência muscular e redução da gordura
corporal72,73.
Dentre os principais estudos relacionados ao treinamento resistido em idosos, são investigadas as
adaptações relacionadas a diversas variáveis como força, massa muscular, capacidade funcional,
mobilidade, dentre outras74,75. As adaptações no treinamento resistido estão focadas no de-
senvolvimento e manutenção da unidade neuromuscular necessários para a produção da força. Estudos
que utilizaram a técnica da eletromiografia (ativação elétrica dos músculos) forneceram evidências
mais diretas, in- dicando que o aumento do pico de força e a taxa de desenvolvimento de torque estão
associados à maior ativação dos músculos motores primários envolvidos nos movimentos58. A taxa de
desenvolvimento de torque/força diz respeito a relação entre o aumento da produção de torque e
tempo de contração sobre a capacidade de produção de força explosiva no músculo (i.e., força rápida).
Já o sinal eletromiográfico refere-se à atividade elétrica de um músculo ou grupo muscular durante
uma contração, decorrente de processos fisiológicos76.
Há ainda, destaques na literatura ligados à funcionalidade e ao treino resistido, referentes à
manutenção ou melhora da massa óssea em mulhe- res mais velhas77,78, que, em geral, podem ter uma
redução anual de até 2% após a menopausa, possibilitando, com o treinamento resistido, reduzir pela
metade essa perda de massa óssea, diminuindo o risco de quedas e fraturas79.
O treinamento resistido é composto por um período contínuo e pro- gressivo, no intuito de gerar
os diversos benefícios a curto e longo prazo, já citados anteriormente. Estudos avaliam comumente,
4-24 semanas de
treinamento resistido progressivo, ou seja, as cargas são progressivamente aumentadas à medida em
que o treinamento avança, de modo a manter a porcentagem da intensidade pré-determinada, e a
velocidade de encurta- mento dos músculos; possibilitando aumentos da área de secção transver- sa do
músculo, força máxima isométrica e potência pico 80–82.
Mais especificamente, o Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda que o
treinamento resistido deva ocorrer de forma individuali- zada, sendo progressivo e realizado para os
principais grupos musculares. Destaca-se que a fase inicial de treinamento deverá ser de
familiarização, sobretudo em um público que necessita de maiores cuidados, especifica- mente na
segurança e execução dos exercícios; abordando intensidades e frequências mais baixas para,
depois, serem introduzidos os aumentos no volume de treinamento83. É recomendada, também, uma
frequência de treinamento entre 2 e 3 dias por semana, realizando 8 a 10 exercícios, de
2 a 3 séries com 8 a 12 repetições cada. A sessão de treinamento no início de um programa, não
deverá ultrapassar o tempo de 60 minutos de dura- ção, devido a altas taxas de abandono84,85. O
treinamento resistido pode ser realizado em intensidade elevada (acima de 80% de 1RM), moderada
(50 - 60% de 1RM) ou baixa (≤ 40% de 1RM). A melhora na força e na ca- pacidade funcional em
idosos pode ser observada já nas intensidades mais baixas e de menores volumes. Todos os exercícios
devem ser executados de maneira lenta, com movimento e respiração controlada e amplitude de
execução máxima, de modo a se obter melhores resultados possíveis86.
Diversos estudos têm demonstrado que há reduções ainda mais sig- nificativas que ocorrem na
potência muscular do idoso; diminuindo cerca de 4% ao ano, praticamente o dobro de redução da taxa
de força muscular e ainda mais rapidamente62,79,87. Com isso, tem-se reconhecido a impor- tância em
manter ou melhorar a capacidade de geração de potência por meio de estudos nos quais movimentos
de alta velocidade são empregados durante o treinamento resistido progressivo em indivíduos mais
velhos, trazendo resultados que corroboram com o método, encontrando melho- res benefícios para o
aumento da potência de grupos musculares88–90.
Soma-se ainda, o fato de que muitos estudos verificaram o efeito de diversos fatores associados
ao treinamento resistido, como por exemplo, volume e intensidade do treino75,91. Porém, poucos
estudos verificaram o efeito de atividades de alta velocidade e treinamento de potência em ido-
sos62,89,92. Outro ponto importante a ser ressaltado é em relação aos estudos reportarem apenas as
adaptações crônicas com o treinamento, deixando de lado as adaptações agudas, principalmente na
população idosa, que
podem ser vistas como momentaneamente prejudiciais ao organismo do idoso; em especial aos
indivíduos desacostumados com o treino, ou seja, aqueles que estão iniciando a prática do treinamento
resistido75. No pró- ximo tópico, será abordado o treinamento de potência e força explosiva e seus
benefícios no envelhecimento.

Treinamento de potência e força explosiva

A potência pode ser explicada, de forma clássica, como a capacidade do músculo de produzir
força rápida, ou seja, é o produto entre a força muscular e a velocidade de encurtamento muscular.
Outro termo utiliza- do, na mecânica, a potência refere-se à taxa de produção de trabalho mus- cular
realizado ao longo do tempo (potência = trabalho / variação do tem- po). Em atividades como
arremessos, saltos e corridas, que requerem força e velocidade muscular, a potência é de extrema
importância, para que o atleta atinja um bom desempenho1; sendo necessária para atividades que
envolvam movimento de forma geral; vem se observando também, muita relação com testes
funcionais, de extrema importância no envelhecimen- to71, devido à sua grande influência na função
física93. O treinamento de potência caracteriza-se pela intenção de contrair o mais rápido possível na
fase concêntrica do movimento e com contrações excêntricas variadas, po- dendo ser rápidas (por
exemplo, quando o objetivo é envolver o ciclo alon- gamento-encurtamento) ou lentas de
aproximadamente 2 a 3 segundos37.
Tem sido observado nas pesquisas, de maneira geral, que o exercício resistido com alta
velocidade e baixa carga (treinamento de potência) ou baixa velocidade e alta carga (treinamento
resistido tradicional) provocam respostas similares na força muscular92,94,95. Mais recentemente,
estudos têm demonstrado que o treinamento de velocidade rápida com uma carga leve a moderada
(30–60% de 1RM) mostra-se mais eficaz do que o treina- mento de velocidade lenta na melhora da
resposta de potência37,48,62,96, ou seja, diversos estudos observaram que as adaptações na potência
muscular são observadas em maior efeito, quando realizadas velocidades de contra- ção mais rápidas
de variadas intensidades (30-85% de 1RM), comparadas às contrações lentas37,97–102.
A intensidade de treinamento de potência divide-se em baixa (<60%
de 1RM), baixo / moderada (60-69% de 1RM), moderada / alta (70-79% de
1RM) e alta (>80% de 1RM). Para adultos mais velhos, o Colégio America- no de Medicina do
Esporte recomenda carga moderada e treinamento de velocidade lenta a moderada para aumento da
força muscular e da massa
muscular61. Porém, diversos estudos vêm mostrando os benefícios de se treinar alta velocidade e baixa
carga com idosos, pois a potência muscular tem uma relação mais forte com o status funcional do que
a força muscu- lar103. Já se tem conhecimento de que até mesmo indivíduos muito idosos (> 80 anos)
ainda devem realizar exercícios resistidos de forma explosiva (75% a 80% de 1RM), com intuito de
melhorar a potência muscular104.
O treinamento resistido de alta velocidade tem grande influência na melhoria de potência em
idosos, obtendo melhoras tanto da força máxima, taxa de desenvolvimento de força, quanto da
velocidade de ativação e de encurtamento dos músculos105,106. Já está clara a diferença existente entre
os protocolos de contração rápida e lenta na potência muscular. No entan- to, em relação ao
treinamento resistido de alta velocidade, as diferentes intensidades, sejam elas baixas ou altas, acabam
por fornecer aumentos similares na potência do músculo107. Nota-se que há um amplo conheci- mento
sobre os benefícios do exercício resistido sobre a saúde do idoso, porém pesquisas adicionais são
necessárias para esclarecer e compreender melhor quais métodos de treino resistido são mais
benéficos para popu- lação idosa53,90,108. Além disso, estudos demonstram que a diminuição da
potência em idosos afeta diretamente a sua funcionalidade e qualidade de vida62,109,110. Dessa maneira,
torna-se importante a realização de métodos de treinamento que acarretem significativos ganhos de
potência e que, si- multaneamente, possam levar a um menor dano muscular33,62.
Em relação a força explosiva, definida pela capacidade de realizar con- trações o mais rápido
possível, é uma variável que depende da força e da velocidade, além da capacidade de explosão do
músculo que está sendo recrutado (a força explosiva é determinada pela maior quantidade de força
produzida pelo músculo em um pequeno intervalo de tempo) 76,111. A força explosiva pode ser
avaliada por meio da taxa de desenvolvimento de tor- que/força63,112. Idosos com reduzida taxa de
desenvolvimento de torque/ força estão mais susceptíveis a implicações agudas em relação ao sistema
locomotor, aumentando o risco de quedas113,114. Dentre os poucos estudos realizados em idosos, que
avaliaram o treinamento resistido tradicional, ou seja, de velocidade lenta, mostram que a força
explosiva quase não me- lhorou após o treinamento96, já o treinamento resistido realizado de forma
rápida acarreta em grandes aumentos de força explosiva, sendo até mes- mo, maiores do que os
aumentos na potência, em idosos109,115.
Claflin et al.92 buscaram determinar se a alta velocidade de treinamen- to resistido progressivo
resultaria em maiores ganhos na força e potência muscular, em comparação com o treinamento
resistido progressivo de bai-
xa velocidade, em indivíduos jovens e idosos do sexo masculino e feminino por meio de biópsia
muscular antes e após um período de treinamento de
14 semanas. Em relação ao treinamento, um grupo (metade dos sujeitos) realizou um protocolo
tradicional de treinamento resistido progressivo, que envolvia encurtamento das contrações em baixas
velocidades contra altas cargas, enquanto o outro grupo realizou um protocolo de treinamen- to
resistido progressivo de contrações com velocidade 3.5 vezes maior e cargas reduzidas. Foi concluído
que tanto o treinamento resistido progres- sivo de baixa velocidade, quanto o treinamento resistido
realizado com maiores velocidades e cargas reduzidas foram igualmente eficazes para in- duzir uma
resposta adaptativa em fibras do tipo II do músculo esquelético, independentemente da idade e sexo do
indivíduo.
Tschopp et al.95 por meio de uma revisão sistemática, buscaram com- parar os efeitos do
treinamento de potência (alta velocidade) com o trei- namento resistido tradicional (baixa velocidade)
nos resultados funcio- nais em idosos. Foram identificados 11 estudos envolvendo 377 sujeitos que
mostraram que o treinamento de potência foi mais benéfico para pessoas idosas do que o treinamento
resistido convencional, em relação aos resultados funcionais. Os desfechos primários obtidos foram os
testes funcionais; já os desfechos secundários foram equilíbrio, marcha, força, potência, volume
muscular e efeitos adversos. Como resultados principais, o tamanho do efeito, em relação aos
resultados funcionais, foi de 0,32 a fa- vor do treinamento de potência (IC 95% 0,06 a 0,57) e 0,38 (IC
95% -0,51 a
1,28). O efeito combinado de três estudos para a função referida foi de 0,16 a favor do treinamento de
potência (95% IC −0,17 a 0,49), indicando que o treinamento de potência é viável para pessoas idosas
e tem uma pequena vantagem sobre o treinamento de força, no que diz respeito aos resultados
funcionais.
Todo esse processo de início do treinamento vem acompanhado da dor muscular de início tardio e
de reduções na capacidade de gerar força, em um período imediato, acarretando dano muscular, que
tem maior impacto em idosos, que, por sua vez, necessitam também de um maior tempo de
recuperação116,117. Levando em conta as limitações já existentes na funcio- nalidade do indivíduo mais
velho, em concomitante com as demais altera- ções agudas resultantes do treinamento, o momento pós
treino torna-se um período de risco aumentado para a realização das atividades da vida diária e outras
tarefas cotidianas, comumente realizadas por indivíduos fisicamente ativos, como por exemplo, a
volta da academia até em casa a pé e o trabalho e afazeres nos dias subsequentes ao treino75.
Efeitos neuromusculares agudos

Apesar de o treinamento resistido acarretar em adaptações crônicas benéficas para o desempenho


neuromuscular, em relação à célula mus- cular, algumas adaptações agudas podem comprometer esse
desempenho momentaneamente até que ocorra a supercompensação. O treinamento de força
desacostumado gera uma sobrecarga mecânica devido às suas ações concêntricas e excêntricas,
danificando as proteínas responsáveis pela contração e seus filamentos e tecidos que envolvem as
fibras musculares91. O processo inflamatório gera dano e dor muscular de início tardio, fadiga,
aumento da rigidez e edema muscular, comprometem a função neuromus- cular, afetando a produção
de força máxima e explosiva, potência, flexibi- lidade e capacidade funcional117.
Todo esse processo ocorre, em maior magnitude, em indivíduos idosos que precisam ainda, de um
maior tempo para recuperação, em comparação com pessoas mais jovens116. Nesse sentido, é de
fundamental importância estudos que verifiquem o efeito agudo de diferentes tipos de treinamento, e
em diferentes populações, buscando o conhecimento das principais alte- rações subsequentes, como
no treinamento resistido, por exemplo62.
Até hoje, existem diversos estudos que examinam o efeito de diferen- tes tipos de exercícios e em
diferentes públicos alvo como por exemplo, em adultos mais velhos durante o exercício aeróbio118,119,
ou durante o exercí- cio resistido90,120. Dentre os estudos que abordam o exercício resistido, há
tradicionais linhas de investigação mais enfocadas nos efeitos agudos da ordem e sequência dos
exercícios durante o treinamento resistido, como aqueles que investigam principalmente os efeitos no
desempenho e ava- liação muscular121.
O estudo de Richardson et al.90 analisou as respostas perceptivas agu- das ao exercício resistido de
alta velocidade, baixa carga (HVLL), e baixa velocidade e alta carga (LVHL) sobre a percepção de
idosos. Os resultados revelaram que idosos percebem que o HVLL pareado por carga de volume é
menos exaustivo que a LVHL. Isso apoia a ideia de que os profissionais da área da saúde devem
considerar a preferência individual do aluno ao prescrever programas de exercícios resistidos. Essas
variáveis podem afe- tar as adaptações ao exercício. Portanto, além do aluno/cliente/paciente realizar
o que de fato trará resultados efetivos, não se pode esquecer que a motivação e adesão ao exercício
são fatores essenciais na prescrição de exercícios.
De maneira mais intrínseca, a sobrecarga mecânica produzida pela
ação muscular (especialmente ações excêntricas) durante o treinamento de resistência desacostumado
danifica as proteínas contráteis, os filamen- tos intermediários e o tecido conectivo que envolve as
fibras musculares, dando início a um processo inflamatório que resulta em dor muscular de início
tardio, aumento da rigidez e inchaço muscular91 e redução na ca- pacidade de produção de força
máxima e explosiva voluntária, afetando diretamente capacidades como a potência muscular,
flexibilidade e o equi- líbrio37,117.
Para o público idoso, é recomendado que profissionais da área da saúde iniciem programas de
treinamento resistido pensando nos efeitos agudos do treinamento, pois eles experimentam maior
dano muscular116 e precisam de mais tempo para recuperação, em comparação com o público
jovem117. Além disso, deve-se considerar que o idoso já se apresenta mais fragilizado em função das
reduções físicas decorrentes do envelhecimento, levando a consequências determinantes para a
realização das atividades de vida diária e capacidade para o trabalho.
O estudo de Orssatto et al.75 objetivou comparar os efeitos de diferentes intensidades de programas
de treinamento resistido até falha concêntrica momentânea na força máxima e explosiva dos membros
inferiores, além do comprometimento da capacidade funcional e tempo de recuperação em idosos,
visando compreender a influência da intensidade, para evitar re- duções na função física durante os
dias após o treinamento. Participaram do estudo vinte e dois idosos, randomizados em dois grupos
[70% (G70) e 95% (G95) de cinco repetições máximas], os quais foram testados pré intervenção,
imediatamente pós sessão, 24, 48 e 72h após. Foram medidas a capacidade de contração isométrica
voluntária máxima (pico de torque e taxa de desenvolvimento de torque - TDT), salto contra-
movimento e capacidade funcional (time up and go, subida e descida da escada). Ambos os grupos
realizaram três séries até a falha concêntrica momentânea com dois minutos de intervalo entre
exercícios e séries para o leg press horizon- tal e para a cadeira flexora. Os resultados demonstraram
que o movimento do dia a dia (como subir e descer escadas) são reduzidos imediatamente após a
sessão, podendo durar por até dois dias, sendo que maiores intensi- dades resultam em maiores
comprometimentos agudos75.
Deste modo, pode-se concluir que para a prescrição de exercícios em idosos, deve-se realizar uma
periodização bem elaborada, aumentando a intensidade gradualmente, durante os primeiros meses de
treinamento re- sistido. Pensando-se ainda na atualidade, com a expectativa de vida alta, em que os
idosos cumprem maior tempo de trabalho e compromissos no
mesmo dia ou nos dias seguintes ao treinamento de força. Pesquisas a res- peito do assunto são
necessárias para elucidar melhor esta temática, tendo em vista que o estudo de Orssatto et al.75 foi o
primeiro a examinar a re- cuperação do curso de tempo da força voluntária máxima, força explosiva,
potência e capacidade funcional, após uma única sessão de treinamento de força desacostumado em
pessoas idosas.
Pode-se considerar, em resumo, que o envelhecimento é composto por um comprometimento,
gradual e inevitável do sistema neuromuscular, tendo como principais alterações a atrofia das fibras
musculares e as redu- ções na força máxima, potência muscular e força explosiva. Como forma de
prevenir e/ou retardar estas alterações, a atividade física regular torna-
-se, cada vez mais, uma grande aliada. O treinamento resistido e o treina- mento de potência são muito
importantes, uma vez que melhoram a massa muscular em idosos. Comparando essas duas formas de
exercício, a litera- tura vem indicando que o treinamento resistido de alta velocidade, fornece
melhorias mais notórias na força máxima, potência e força explosiva de idosos destreinados,
resultando, consequentemente, em maior desenvol- vimento da capacidade funcional, mostrando-se
ainda mais benéfico do que o treinamento resistido de baixa velocidade. Dessa forma, métodos de
treinos de potência devem ser priorizados para que o idoso tenha os maio- res benefícios possíveis,
com menores danos e riscos.

Aplicações práticas

• As considerações observadas são muito relevantes para a melhora da qualidade de vida de


idosos, fornecendo embasamento para que os profissionais de Educação Física possam atuar
com segurança e direcionamento na busca por protocolos adequados às necessidades de
indivíduos idosos.
• O treinamento resistido de forma geral, é um grande aliado contra o sedentarismo e
incapacidade física, tornando-se cada vez mais, uma opção para o público idoso. Trazendo
não apenas benefícios neuromusculares, mas também psicossociais e emocionais.
• A utilização de protocolos de treinamento de potência combina- dos, inicialmente com
baixa a moderada resistência, e com aumento da intensidade no decorrer do período de
treinamento, mostram-se como a melhor opção na busca de benefícios para a funcionalidade
de idosos não treinados.
• Maiores benefícios poderão ser observados ao se realizar esses
protocolos de exercícios resistidos com maior volume semanal (duas a três vezes por semana),
para maximizar o desempenho funcional e os ganhos de força em adultos mais velhos.
• Uma dose mínima de treino pode ser utilizada, com baixa intensi- dade de exercício
resistido e volume de treino, cujo protocolo tam- bém resultará em ganhos e melhorias
neuromusculares concomi- tante com um menor efeito subsequente, progredindo através da
manipulação de volume e / ou carga gradualmente.

Nota dos autores: A busca por artigos foi realizada nas bases de dados Pubmed, Scielo e Science
Direct por meio de uma pesquisa avançada com os termos e palavras chave: ("elderly"
[Title/Abstract]) OR "aged"[MeSH Terms]) OR "senior"[Title/Abstract]) AND "resistance training"
[MeSH Terms]) OR "strength training"[Title/Abstract]) OR "power training"[Tit- le/Abstract]) AND
"functional capacity"[Title/Abstract]. Foram encontra- dos 149 títulos, dos quais foram lidos os títulos
e abstracts, e selecionados aqueles que estavam de acordo com a os objetivos do presente capítulo (34
artigos foram selecionados). Quando necessário, outras fontes de pesquisa também foram utilizadas
como livros, teses ou dissertações, obtidos em repositórios de teses e dissertações on-line e/ou banco
de teses da CAPES. Também foram lidas as listas de referências dos principais artigos com objetivo
de encontrar outros estudos similares.
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CAPÍTULO IX
TREINAMENTO CONCORRENTE: EFEITOS NO DESEMPENHO CARDIORRESPIRATÓRIO, NA FORÇA
MUSCULAR E EM TAREFAS FUNCIONAIS DE IDOSOS

235

Silas Nery de Oliveira


Antônio Renato Pereira Moro

O que você irá encontrar:

• A importância da prática do exercício físico na redução dos efeitos deletérios inerentes ao


processo de envelhecimento;
• Adaptações físicas provenientes de diferentes execuções do Trei-
namento Concorrente;
• Diferentes métodos de aplicação do Treinamento Concorrente para a população idosa;
• Comparação entre diferentes métodos de treinamento quanto as adaptações
neuromusculares, cardiorrespiratórios e funcionais;
• Eficiência do Treinamento Concorrente na melhoria de aspectos morfofuncionais em
idosos..

Introdução

A população idosa vem crescendo notadamente em todos os países, o que significa que a população
mundial está envelhecendo e esse fenômeno pode trazer implicações para quase todos os setores da
sociedade, espe- cialmente o econômico e o demográfico1. As pessoas estão vivendo mais, mas isso não
significa necessariamente que elas estão vivendo saudáveis.
O envelhecimento é um processo biológico multifatorial, constituído de um conjunto de
modificações funcionais, estruturais e morfológicas que são observadas no ser humano desde o seu
nascimento até a sua morte
2. Segundo a Organização das Nações Unidas1, em 2017 a quantidade de idosos na população mundial

foi de 962 milhões de pessoas, mais que o dobro do número dessa população em 1980, quando havia 382
milhões de idosos, e espera-se que até 2050 o número de idosos duplique chegando a quase 2,1 bilhões
de pessoas. O envelhecimento da população mundial apresenta muitas oportunidades e também vários
desafios de saúde pú- blica, é preciso entender melhor o curso de suas implicações, em especial, seus
efeitos na capacidade física.
À medida que ocorre esse processo de envelhecimento da sociedade, a in-
cidência na limitação do desempenho físico também aumentará3. Fato esse que pode ser ressaltado em
um estudo4 que avaliou mais de 5.000 idosos e mostrou que cerca de 55,6% desses idosos relataram
ter dificuldade em subir uma escada com 10 degraus, 40% tinham dificuldade de deitar-se e levantar-
se da cama, 25% relataram ter dificuldades em realizar qualquer tipo de atividade doméstica e 19%
de preparar sua própria comida. Esses resultados mostram o quanto a incapacidade física acompanha
o processo de envelhecimento, sendo o desenvolvimento progressivo dessa incapaci- dade associado
com a perda de força dos membros superiores e inferiores, velocidade da marcha e baixo nível de
atividade física5.
Essas insuficiências de capacidades físicas podem trazer consequências muito nocivas à saúde do
idoso, pois aumentam o risco de quedas, a ne- cessidade de hospitalizações ou recorrentes internações,
desenvolvimento de comorbidade e o aumento no risco de morte3. O impacto significativo dessas
consequências exige intervenções que visem reduzir a incapacidade física, proporcionar uma maior
independência funcional aos idosos e assim melhorar a qualidade de vida dessa população. A prática do
exercício físico pode trazer benefícios para a redução dos efeitos negativos do comporta- mento
sedentário em pessoas idosas, desenvolvendo e mantendo o desem- penho físico considerado essencial
para ajudar na melhora da funcionalida- de e o desempenho de atividades da vida diária dos idosos 6.
Embora nenhum exercício físico possa interromper o processo de en- velhecimento biológico, este
capítulo tem como objetivo, trazer evidências sobre como a prática do exercício físico pode minimizar
os efeitos deleté- rios advindos do processo de envelhecimento, aumentando a expectativa de vida
ativa e limitando o desenvolvimento e a progressão de doenças crônicas e condições incapacitantes
indesejáveis7.

O processo de envelhecimento e suas implicações nos aspectos cardiorrespiratórios e


neuromusculares
O envelhecimento está associado a reduções cardiorrespiratórias e neuromusculares, como
redução do consumo máximo de oxigênio (VO-
2MAX), capacidade pulmonar 8, perda gradual de massa muscular 9, força
10 e potência muscular 11. O VO2MAX, definido como a maior taxa na qual o oxigênio pode ser

absorvido e utilizado pelo corpo durante exercícios, é uma das principais variáveis no campo da
fisiologia do exercício e é fre- quentemente utilizada para indicar a aptidão cardiorrespiratória de um
indivíduo 12, VO2MAX diminui cerca de 5 mL.kg.min1 por década, de 25
a 65 anos de idade, sendo essa redução ainda mais proeminente após os
70 anos de idade 13, logo, a perda da função cardiorrespiratória máxima pode, eventualmente,
contribuir para a perda de independência, aumento da incidência de incapacidades e redução da
qualidade de vida em idosos14.
No caso do músculo esquelético, nota-se reduções estruturais, com per- da de 0,47% da massa
muscular em homens e 0,37% em mulheres a cada ano de vida, e a partir de 75 anos essa perda passa a
ser de 0,80 a 0,98% em homens e 0,64 a 0,70% em mulheres15. Essa redução da massa muscular é
chamada de Sarcopenia, uma síndrome caracterizada pela perda progres- siva e generalizada de massa
muscular e está estritamente correlacionada com incapacidade física, má qualidade de vida e morte
principalmente na população idosa 16. O envelhecimento também afeta a força muscular, com reduções
cerca de 2 a 5 vezes maiores que a da massa muscular. Estima-se que aos 75 anos, ocorra a perda da
força em uma taxa de 3 a 4% ao ano em homens e 2,5 a 3%, em mulheres15. Esse processo é chamado
de Dinapenia, caracterizado pela perda de força muscular associada à idade não prove- niente de
fatores como doenças neurológicas ou musculares, expondo os idosos a um risco maior de
desenvolver limitações funcionais e contribuir para o aumento na taxa de mortalidade dessa população
17.

Contudo, embora a perda de força muscular tenha relação com o sur- gimento de limitações
funcionais em idosos, tem sido observado que a potência muscular é perdida mais rapidamente que a
força muscular no processo de envelhecimento18 e isso ocorre por vários fatores como o sur- gimento
da sarcopenia, alterações na composição de unidades motoras, qualidade muscular, propriedades
contráteis das fibras musculares e al- terações na função neuromuscular18,19. A redução na potência
muscular de idosos é um fator muito influente no desempenho físico de tarefas diárias e, além disso, a
redução da potência muscular principalmente nos mem- bros inferiores tem uma grande associação
com o aumento no risco de quedas19,20.
A prevenção ou adiamento das limitações ou incapacidades físicas é de grande importância
para a saúde pública21, a dificuldade de realizar ta- refas físicas como andar22, subir um lance de
escadas23 ou levantar-se de uma cadeira5, são indicativas de um declínio acentuado na saúde funcio-
nal e, com o envelhecimento da população mundial, o conhecimento e de- senvolvimento de
intervenções através da prática do exercício físico, com enfoque aeróbio e muscular, são necessários
para preservar a mobilidade e independência funcional dos idosos, um exemplo, é a contribuição do
treinamento aeróbio e de força, na mesma sessão, na redução da fraqueza
muscular de idosos, como pode ser visto na Figura 1.9, adaptada do estudo de Seene e Kaasik 24.

Figura 1.9 - Efeitos do treinamento na redução da fraqueza muscular para melhorar a qualidade de
vida de idosos. Adptado de Seene e Kaasik (2012).

Treinamento concorrente e o envelhecimento

Frente aos benefícios proporcionados pela prática isolada do treina- mento aeróbio e o
treinamento de força para idosos, o Colégio Americano de Medicina do Esporte7 recomenda que o
treinamento aeróbio deve ser realizado de 3 a 5 dias por semana, entre 30 a 60 minutos por dia, com-
plementados pelo treinamento de força 2 a 3 vezes por semana, a fim de promover simultaneamente
benefícios cardiorrespiratórios e neuromus- cular. A combinação entre o treinamento aeróbio e o
treinamento de força é chamado de treinamento concorrente ou treinamento combinado25,26, podendo
ser realizado em uma mesma sessão de treinamento11 ou em dias alternados27. Em uma breve pesquisa
na plataforma PubMed, em julho de
2018, usando os descritores elderly and “combined training” or “concur- rent training”, foram
encontrados 271 estudos com seres humanos, dos quais foram selecionados apenas ensaios clínicos
randomizados que serão apresentados ao longo deste capítulo.
Efeito da ordem do treinamento concorrente em ido- sos

A prática do Treinamento Concorrente (TC) pode ser considerada uma possível estratégia para
retardar ou combater as reduções musculares e cardiorrespiratórias, a fim de reduzir o
comprometimento das atividades de vida diária, todavia, como visto anteriormente, o treinamento
aeróbio (TA) e de força (TF) levam a adaptações específicas de natureza oposta que podem
proporcionar adaptações inferiores no TC, quando comparada a execução isolada desses treinamentos.
A esse comprometimento das adap- tações no TC dá-se o nome de efeito de interferência.
Nessa perspectiva, Cadore et al.28 investigaram os efeitos da ordem do TC nas adaptações
neuromusculares de vinte e seis homens idosos treina- dos (64,7± 4,1anos), divididos em dois grupos:
TF seguido de TA (TF+TA, n=13) ou a sua ordem inversa (TA+TF, n=13), submetidos a 3 sessões se-
manais, ao longo de 12 semanas. O TF consistiu de 9 exercícios, realizados entre 2-3 séries, com 6-20
repetições, a 40-93% 1RM e, TA realizado em cicloergômetro durante 20-30 minutos a 80-95% da
frequência cardíaca (FC) no segundo limiar ventilatório (LV2), finalizando as duas últimas se- manas
com 6 séries de 4 minutos em intensidade máxima (a 100% da FC no LV2).
Os participantes foram avaliados quanto a força máxima, obtida atra- vés de teste de 1RM para
flexão bilateral de cotovelo e extensão de joe- lho, pico de torque isométrico para extensão do joelho
avaliado através de dinamômetro isocinético, excitação eletromiográfica dos músculos vasto lateral
(VL), reto femoral (RF) e cabeça longa do bíceps femoral, e espes- sura muscular do quadríceps. Após
o treinamento foi observada redução significativa do percentual de massa gorda (TF+TA: 1,7% e
TA+TF: 1,3%), houve aumento dos valores de força muscular de 1RM para flexão do co- tovelo
(TF+TA: 15% e TA+TF: 11%) e extensão do joelho (TF+TA: 35% e TA+TF: 30%), e aumento nos
valores de pico de torque isométrico para fle- xão (TF+TA: 8% e TA+TF: 8%) e extensão do joelho
(TF+TA: 8% e TA+TF:
6%), espessura muscular dos membros superiores (TF+TA: 7% e TA+TF:
5%), espessura muscular dos membros inferiores (TF+TA: 5% e TA+TF:
3%), excitação eletromiográfica do VL (TF+TA: 17% e TA+TF: 18%) e RF (TF+TA: 22% e TA+TF:
14%) para ambos os grupos, sem diferença entre eles.
Para os autores do estudo, a partir dos maiores valores observados na sequência TF+TA em
relação a sua ordem inversa, a prescrição do TC para
idosos deve levar em consideração a execução do TF antes do TA, contu- do, os autores não
conseguiram explicar quais as possíveis causas para a ocorrência dessas melhorias. No estudo,
especula-se que os fatores neurais podem explicar os maiores valores de força muscular observados na
sequ- ência TF+TA, pois as adaptações morfológicas da musculatura ocorreram em ambos os grupos
sem diferença entre eles, e a sequência TF+TA apre- sentou economia neuromuscular do reto femoral,
o que sugere que houve um menor recrutamento de unidades motoras para resistir a uma mesma carga
avaliada antes e após o treinamento. E, possivelmente, a execução do TA antes do TF pode resultar em
fadiga muscular que interfere nos ganhos de força.
Esses resultados sobre a influência da ordem dos treinamentos, já ha- via sido reportado por
Cadore et al.29, em um estudo que investigou os efeitos da ordem do TC sobre adaptações não
somente neuromusculares como cardiorrespiratórias em idosos ativos. Dois grupos experimentais com
diferentes ordens de execução do TC (TF+TA e TA+TF), submetidos ao mesmo programa de
treinamento, frequência semanal e período de in- tervenção do estudo anterior28, foram avaliados com
o objetivo de determi- nar o consumo pico de oxigênio (VO2 pico), a potência máxima alcançada em
teste incremental (Wmáx) em cicloergômetro e a Wmáx alcançada nos limiares ventilatórios, além da
qualidade muscular, avaliada através do quociente entre força máxima alcançada através de 1RM para
extensão de joelho, e a espessura muscular do quadríceps.
Foram observados aumento da Wmáx no primeiro limiar ventilatório apenas para o grupo TF+TA
(27%), com aumento na Wmáx (TF+TA: 20% e TA+TF: 24%), Wmáx no segundo limiar ventilatório
(TF+TA: 21% e TA+TF:
22%), e VO2 pico (TF+TA: 8% e TA+TF: 9%) para ambos os grupos, sem diferença entre eles. Houve
aumento da espessura do quadríceps (TF+- TA: 9% e TA+TF: 9%) em ambos os grupos, assim como,
aumento da for- ça muscular. Contudo, neste caso, os valores alcançados no teste de 1RM para o
grupo TF+TA (35%) foram significativamente maiores que aqueles alcançados pelo grupo TA+TF
(22%). Para qualidade muscular, ambos os grupos apresentaram melhora dos valores obtidos, mas o
grupo TF+- TA (27%) apresentou aumento significativo em relação ao grupo TA+TF (15%).
Os participantes, independente da ordem de execução do TC, foram
capazes de sustentar maiores cargas de trabalho nos limiares ventilatórios
1 e 2, sem alteração significativa do consumo de oxigênio nesses mesmos limiares e, para os autores,
esse resultado pode ser em decorrência de ajus-
tes neuromusculares, pois pessoas idosas podem utilizar um percentual de força menor, recrutando
poucas fibras do Tipo II, e usando preferencial- mente fibras de metabolismo oxidativo no
desempenho de esforços sub- máximos, assim como as atividades de vida diária 29,30.
Essa mesma hipótese foi abordada para as adaptações neuromuscu- lares, pois ambos os grupos
tiverem melhoras na qualidade muscular e espessura do quadríceps, sugerindo que as adaptações
neurais influencia- ram nos maiores ganhos de força para a sequência TF+TA em relação a sua ordem
oposta. De um ponto de vista prático o TF seguido do TA parece ser a sequência mais indicada para
melhorar a capacidade funcional de idosos, através de adaptações neurais que levam a maiores
desempenhos em esforços submáximos, sem grandes custos cardiorrespiratórios, além do ganho de
força muscular de membros inferiores, importantes para pre- venção de quedas, melhora da marcha e
execução das atividades de vida diária.
Achados similares foram obtidos em um estudo mais recente31, onde foram investigados os
efeitos da ordem do TC no desempenho aeróbio e de força em homens idosos sedentários (64,7± 4,1
anos). Os participantes foram alocados em três grupos: controle, TF+TA e sua ordem inversa, sen- do
estes dois últimos grupos submetidos a 3 sessões semanais, ao longo de
12 semanas, seguindo o protocolo de treinamento mencionado anterior- mente28. Os participantes
foram avaliados quanto ao VO2 pico, segundo limiar ventilatório, Wmáx e economia metabólica,
representada pelo VO2 mensurado nos esforços a 25, 50, 75 e 100 Watts no cicloergômetro. Após o
período de intervenção, os autores observaram aumento similar nos dois protocolos de treinamento
para o VO2pico (TF+TA: 8% e TA+TF: 9%) e Wmáx (TF+TA: 19% e TA+TF: 24%) e economia
metabólica com redução do VO2 a 100 Watts no cicloergômetro, sem diferença entre os dois
protocolos de treinamento.
Os autores apresentam que o TC pode melhorar a potência aeróbica máxima de idosos,
independente da ordem de execução do treinamento, e que possíveis explicações para a redução do
VO2 encontrados no estu- do, podem estar relacionados com ganhos de força muscular dos partici-
pantes, levando a um maior recrutamento de fibras do tipo I para uma a mesma carga avaliada antes
e após o período de treinamento, assim como ajustes na frequência de estímulos das unidades motoras
pelo sistema ner- voso, ou melhor coordenação muscular, sendo esses fatores responsáveis pela
melhor eficiência mecânica que reduz o consumo de oxigênio para uma mesma intensidade
avaliada30,32,33.
Compreendendo melhor o programa de treinamento dos estudos su- pracitados, pode-se perceber
que a manipulação da intensidade do treina- mento se dá pela progressão da carga ao longo das
semanas de interven- ção, porém a prescrição com base no tipo de intensidade (leve, moderada ou
alta) ainda é pouco explorada. Nesse contexto, um estudo recente34 avaliou o efeito da ordem do TC
com diferentes intensidades do TF no de- sempenho funcional e de força muscular em idosas
saudáveis ao longo de
10 semanas, com 2 sessões semanais. As participantes foram divididas em cinco grupos: Grupo
controle, TA+TF com intensidade moderada, TA+TF com intensidade leve, TF com intensidade
moderada +TA, e TF com inten- sidade leve +TA.
Todos os grupos experimentais realizaram o mesmo TA, que consistiu de exercício em
cicloergômetro por 20 minutos, entre 50-55 repetições por minuto (rpm), a 60% FC de reserva ou entre
12-14 na escala de Borg. O TF consistiu de 5 exercícios, executados em 3 séries, sendo as
participantes do grupo com intensidade leve, realizando de 10-15 repetições a 40-50%
1RM, e as participantes no grupo com intensidade moderada, realizando de 8-12 repetições a 70-80%
1RM. As participantes foram avaliadas quan- to velocidade da marcha em 10 metros, capacidade de
equilíbrio dinâmico, flexibilidade de MMII, e teste de 1 RM em 5 exercícios para os grandes grupos
musculares.
Para a capacidade funcional os autores observaram redução do tempo para execução da marcha
em 10 metros para todos os grupos de treina- mento sem diferença entre eles tanto em relação a
ordem de execução do TC. Todavia, em relação ao equilíbrio dinâmico houve melhora significa- tiva
para os grupos TA+TF com intensidade moderada (12%) e sua ordem inversa (13%). Nos testes de
1RM, foram observados ganhos de força mus- cular nos 5 exercícios avaliados, sem diferenças
significativas entre os gru- pos, seja por intensidade do TF ou ordem de execução do TC.
Com base nos resultados, os autores sugerem que embora o TC de bai- xa intensidade possa
melhorar a habilidade da marcha, o TC de intensi- dade moderada melhora a habilidade da marcha e o
equilíbrio dinâmico, sendo este mais eficiente para prevenir incidentes como o risco de queda na
população idosa. Essa diferença entre os protocolos do TF, quando re- alizado em intensidade leve e
moderada, podem influenciar na magnitude dos ganhos força e refletir em melhoras da capacidade
funcional. Lasevi- cius et al.35 investigaram os efeitos de diferentes intensidades do TF nas respostas
do teste de 1RM para os exercícios de flexão do cotovelo e leg press, e observaram que o TF
realizado em intensidades entre 60-80%
1RM podem promover maiores efeitos no recrutamento de unidades mo- toras, frequência de disparo
de unidades motoras e/ou alterações nas ra- zões de co-excitação agonista-antagonista comparado ao
treinamento em intensidades mais baixas.
Logo, observando o estudo de Shiotsu e Yanagita34, podemos inferir que não há um efeito da
ordem de treinamento sobre o desempenho fun- cional e força muscular em idosas, mas um efeito da
intensidade do treina- mento que é aplicado no TC para melhoria desses aspectos. Similarmente a este
estudo, Wilhelm et al.36 investigaram o efeito da ordem do TC sobre os aspectos musculares e
funcionais de homens idosos, porém o TF a ser executado no TC foi adaptado para que se
assemelhasse a rotina de um treinamento de potência muscular. Participaram do estudo 36 idosos se-
dentários, divididos em três grupos: Grupo Controle, TA+TF e sua ordem inversa, submetidos a um
período de 12 semanas, com sessões de treina- mento para os grupos experimentais realizadas duas
vezes por semana. O TA consistiu de exercício em cicloergômetro entre 20-40 minutos, entre
80-90 rpm, a 85-90% FC no segundo limiar ventilatório, enquanto o TF consistiu de 8 exercícios,
executados em 3 séries, entre 8-12 repetições, onde a fase concêntrica foi realizada da forma mais
rápida possível.
Os participantes foram avaliados quanto a espessura do quadríceps, eco-intensidade do reto
femoral, força muscular de 1RM para extensão de joelho, potência muscular obtida a 60% de 1RM
durante a extensão de jo- elho, excitação eletromiográfica do músculo vasto lateral durante o teste
1RM, e teste de resistência muscular localizada de sentar e levantar em 30 segundos (30s).
Comparando o período pré em relação ao período pós-
-treinamento, foi observado para TA+TF e sua ordem inversa, aumento da força (16% e 14%,
respectivamente) e potência muscular (23% e 22%, res- pectivamente) na extensão de joelho,
espessura muscular do quadríceps (9% e 9%, respectivamente), excitação eletromiográfica do vasto
lateral (24% e 24%, respectivamente), número de repetições no teste de 30s (15% e 13%,
respectivamente) e redução da eco-intensidade do reto femoral (6% e 6%, respectivamente), sem
diferença entre os grupos.
O estudo mostrou como o TC, independente da sua ordem de execu- ção, pode intervir sobre os
efeitos deletérios do envelhecimento, através dos ganhos de força e potência muscular de idosos, que
influenciam di- retamente no desempenho funcional dessa população. Além disso, o pro- grama de
treinamento utilizado no estudo de Wilhelm et al.36, parece ser capaz de gerar adaptações morfológicas
da musculatura, avaliados atra- vés da eco-intensidade, e em parte explicaria os ganhos de força
muscu-
lar observados no teste de 1RM. A eco-intensidade é um instrumento que consegue avaliar a
quantidade de tecido contrátil e não contrátil presentes na musculatura, e tem associação com o
desempenho funcional, a força e potência muscular36, em outras palavras, a melhora da eco-
intensidade de um músculo pode refletir na redução de elementos não contráteis e au- mento da
participação de tecido contrátil para desempenhar uma determi- nada tarefa, gerando assim maior
produção de força e consequentemente um melhor desempenho funcional.

Variações do treinamento de força no treinamento concorrente


A inclusão periódica de diferentes estímulos para o desenvolvimento da força muscular, através
de diferentes tipos de treinamento de força, é bastante recomendada para o ganho da força e suas
variantes na popula- ção idosa37. Nesse contexto, vários estudos têm buscado compreender os efeitos
da variação do TF inserido no TC. Dois estudos de um mesmo gru- po de pesquisa, avaliaram os
efeitos do TC realizado com diferentes varia- ções do TF, em parâmetros neuromusculares38,
fisiológicos e funcionais39 em 52 homens idosos saudáveis (66,2 ± 5,2 anos) divididos em 3 grupos:
TF realizado até a falha concêntrica +TA (G1); TF sem falha concêntrica
+TA (G2); e TF sem falha concêntrica com volume total de treinamento equalizado +TA (G3).
O programa de treinamento consistiu de duas sessões semanais ao longo de 12 semanas de
intervenção, onde o TA foi realizado em esteira durante 20-30 minutos, a 60-75% da FC máxima e o
TF consistiu de 7 exercícios, sendo 5 deles realizados em 2-3 séries, entre 8-20 repetições, enquanto
2 exercícios (extensão de joelho e leg press) tiveram uma pro- gressão de volume e intensidade de
forma particular, onde o G1 realizou cada série até a falha concêntrica, e os grupos 2 e 3 realizaram
séries entre
65-75% 1RM com número de repetições definidas, ou seja, não realizados até a falha concêntrica.
Contudo, o G2 realizou o mesmo número de séries que o G1, enquanto G3 realizou o dobro do
número de séries realizadas por G1, com seu volume total equalizado pelo volume total de
treinamento do G1.
No estudo de Silva et al.38 foi avaliada a força muscular nos exercícios extensão de joelho e leg
press no teste de 1 RM, pico de torque isométrico e taxa de desenvolvimento de força a 0-50, 0-100
e 0-250 milissegundos para extensão de joelho, atividade eletromiográfica do vasto lateral e reto
femoral durante teste isométrico, espessura muscular e qualidade mus- cular do quadríceps, e
desempenho em salto agachado e salto com contra movimento. Após o período de intervenção, houve
aumento da força má- xima no exercício de extensão de joelho (G1: 25%; G2: 23%; G3: 31%) e leg
press (G1: 45%; G2: 41%; G3: 45%), pico de torque isométrico (G1: 11%; G2: 10%; G3: 5%),
melhora no salto agachado (G1: 12%; G2: 5%; G3: 12%) e com contra movimento (G1: 7%; G2: 8%;
G3: 7%), qualidade muscular (G1: 17%; G2: 20%; G3: 21%), melhora da taxa de desenvolvimento de
for- ça em todas os intervalos avaliados, e maior excitação do vasto lateral (G1:
14%; G2: 7%; G3: 15%), sendo todas essas melhoras obtidas para todos os grupos sem diferença entre
eles. Apenas para a qualidade muscular foram observadas melhoras de 10% para o G1 e 8% para o
G3, sem mudanças observadas no G2.
No estudo de Cadore et al.39 foi avaliada a capacidade funcional através do desempenho no teste
Time up and Go (TUG) e teste de sentar e levan- tar, potência muscular dos membros inferiores por
meio do desempenho em salto agachado e salto com contra movimento, capacidade cardiorres-
piratória através do VO2 pico, além das concentrações séricas de glicose e lipídios sanguíneos e
pressão arterial. Os autores observaram melhorara no desempenho do teste de sentar e levantar cerca
de 1,5%, melhora no salto agachado (G1: 12%; G2: 5%; G3: 12%) e com contra movimento (G1:
7%; G2: 8%; G3: 7%), aumentaram o VO2 pico (G1: 8%; G2: 1%; G3: 5%) e as concentrações de
colesterol de alta intensidade (G1: 11%; G2: 15%; G3:
10%), em todos os três grupos sem diferença entre eles, enquanto para as demais avaliações
realizadas, não foram observadas mudanças significa- tivas.
De um ponto de vista prático, os estudos38,39 apontam que a execu- ção do TF até a falha
concêntrica no TC não é necessária para propor- cionar melhorias adicionais no desempenho
neuromuscular, funcional ou cardiorrespiratório em homens idosos saudáveis, e que a execução de
séries submáximas, ou seja, não realizadas até a falha concêntrica podem ser uma alternativa eficiente
para melhorar a função neuromuscular e a hipertrofia muscular em idosos, respostas estas
importantes e de grande relevância para um envelhecimento saudável. Um exemplo está na melho- ria
da força e potência muscular, e na taxa de desenvolvimento de força que são fortemente associadas
com a capacidade de realizar atividades de vida diária na população idosa, como no teste de sentar e
levantar. Os au- tores dos estudos Silva et al.38 sugerem que essas melhorias podem estar associadas
com maior recrutamento de unidades motoras, que podem ser
observadas por meio dos resultados da eletromiografia, além de um possí- vel aumento na frequência
de disparo neural para essas unidades motoras e uma maior participação de tecido contrátil observada
pela melhora da qualidade muscular.
Partindo do pressuposto que a realização do TF de baixa intensidade (20% 1RM) induzem ganhos
similares de força e massa muscular compa- rado ao TF convencional (80% 1RM) 40, e que os idosos
deveriam se exer- citar em baixas intensidades no TF por se aproximarem das intensidades exigidas
nas atividades cotidianas, Libardi et al.27 investigaram os efeitos de dois tipos de TC na aptidão
aeróbia, massa e força muscular em idosos (64,7 ± 4,1 anos) ao longo de 12 semanas de intervenção
com 4 sessões semanais. Os participantes foram alocados em 3 grupos: TA+TF conven- cional;
TA+TF com restrição de fluxo sanguíneo; e Grupo controle. O pri- meiro grupo realizou no TA
caminhada de 40-50 minutos em uma pista de
400 metros, com intensidade variando entre 60-85% do VO2 pico, enquanto o TF consistiu de em 4
séries de 10 repetições entre 70-80% 1RM no exer-
cício leg press. O segundo grupo realizou o mesmo TA mencionado ante- riormente e o TF consistiu
em uma série de 30 repetições, progredindo para 3 de 15 repetições a 20% 1RM, associadas à
restrição parcial do fluxo sanguíneo, no exercício leg press.
Os participantes foram avaliados quanto ao VO2pico, força máxima ava-
liada através de 1 RM no exercício leg press e área de secção transversa do quadríceps. Os autores
observaram que ambos os tipos de TC, conven- cional e com restrição de fluxo sanguíneo, foram
capazes de aumentar o VO2pico (9,5% e 10,3%, respectivamente), força muscular (38,1% e 35,4%,
respectivamente) e área secção transversa do quadríceps (7,3% e 7,6%, res- petivamente), sem
diferença significativa entre os grupos. Para os autores o aumento da força muscular no grupo de TC
pode ter ocorrido devido ao grande volume de treinamento aplicado. Enquanto no grupo com restrição
de fluxo sanguíneo, essa melhora pode ter ocorrido por causa da fadiga muscular que levou a um
maior recrutamento de fibras do tipo II e, essa melhora na força de ambos os grupos pode
possivelmente ter influenciado no aumento da área de secção transversa do quadríceps. Assim, os
autores afirmam que ambos os tipos de TC aplicados no estudo são eficientes para melhorar a aptidão
aeróbia, massa e força muscular em idosos, ajudando na manutenção das atividades de vida diária
dessa população sem risco de quedas causadas por fadiga ou fraqueza muscular.
Comparação entre o treinamento concorrente e ou- tros tipos de treinamento

Na busca para compreender como os diversos tipos de treinamento auxiliam na melhora


cardiorrespiratória e neuromuscular, algumas pes- quisas têm investigado os efeitos do TF e do TA
quando realizados de for- ma isolada e comparando esses efeitos em relação aos obtidos pelo TC.
Cadore et al.41 investigaram os efeitos de 3 tipos de treinamento na capaci- dade aeróbia e economia
neuromuscular em 23 homens idosos saudáveis (65 ± 4 anos), submetidos a 12 semanas de
treinamento. Os participantes foram divididos em: TA, TF e TF+TA. O programa para o TA foi
realizado entre 20-30 minutos em ciclo ergômetro, a 80-95% da FC no LV2 e nas duas últimas
semanas de treinamento foram realizadas 6 séries de 4 mi- nutos a 100% da FC no segundo limiar,
enquanto o TF foi realizado com 9 exercícios, de 2-3 séries, entre 12-20 RMs. O grupo TF+TA
realizou ambos os programas de treinamento anteriores.
Foram realizadas avaliações para determinar a Wmáx, o VO2pico, e exci-
tação eletromiográfica do VL, RF, cabeça longa do bíceps femoral (BF) e porção lateral do
gastrocnêmio (GL) durante teste em ciclo ergômetro. Os autores observaram que após o período de
intervenção houve aumento do VO2 pico para o TA (20%) e TF+TA (22%), aumento da Wmáx para
TF+TA (20%) e TA (22%), e redução da atividade eletromiográfica do RF para os
3 grupos e do VL para TF+TA e TA. Com base nesses achados, os autores descrevem que as possíveis
melhoras no VO2 pico pode estar associada à melhora de componentes centrais, como o aumento da
difusão pulmonar de oxigênio e débito cardíaco, além de componentes periféricos como den- sidade e
volume mitocondrial e maior capilarização.
Para a Wmáx, os autores sugerem que a melhoria pode estar relaciona-
da com maior recrutamento de fibras do tipo I para a mesma intensidade submáxima e melhor
coordenação muscular, o que ocasionou uma melhor eficiência mecânica, influenciando também em
uma redução do VO2 em intensidades submáximas. Além disso, possivelmente, com esse aumento da
Wmáx, as intensidades submáximas exigem um menor recrutamento de unidades motoras, assim como
um maior recrutamento de fibras do tipo I que apresentam um limiar de recrutamento mais baixo, e
assim resultan- do em um menor sinal eletromiográfico.
No estudo realizado por Lee et al. 42 foram avaliados os efeitos de 8 semanas de treinamento sobre
a composição corporal, força muscular ava- liada através de aparelho isocinético e risco cardiovascular
de 40 mulheres
idosas divididas em 2 grupos: TA+TF e TA. O grupo de TA+TF realizou TA em esteira durante 40
minutos, a 40-70% da FC de reserva, seguido de TF com 13 exercícios, realizados em 2 séries de 15-
20 repetições. O grupo TA realizou treinamento em esteira durante 40 minutos a 40-70% da FC de
reserva.
As participantes foram avaliadas quanto à composição corporal, tor- que isocinético da
articulação do joelho, além de coleta sanguínea. Após o período de intervenção, foi observada
redução do percentual de gordu- ra (TA+TF: 7% e TA: 1%), aumento significativo da massa
muscular para TA+TF (2%) em relação a TA (que apresentou redução de 1%), aumento do pico de
torque para flexão do joelho esquerdo e direito para TA+TF (15% e 13%, respectivamente) sem
mudanças para TA, e redução da proteína C reativa (TA+TF: 75% e TA: 36%). Os autores afirmam
que a síntese de pro- teína muscular estimulada pelo TF no TC foi o responsável pela melhora da
massa muscular e, que isso pode ter auxiliado na melhora do pico de torque, uma vez que este, que
pode ser influenciado pela área de secção transversa muscular e pelo aumento no número de unidades
motoras.
Para Cadore et al.41 independetemente do tipo de treinamento (força, aeróbio ou concorrente), os
idosos podem melhorar a economia de mo- vimento e potência aeróbia. Enquanto para Lee et al.42, o
TC aumenta a massa e força muscular e reduz o fator de risco cardiovascular de idosos, mostranto
assim a eficiência do TC frente aos demais tipos de treinamento na melhoria cardiorrespiratória e
neuromusucular importantes para um envelhecimento saudável e redução no desenvolvimento de
comorbidades.
Outro estudo43 considerou que o treinamento intervalado de alta in- tensidade pode ser uma ótima
estratégia para otimizar o tempo de trei- namento, além de servir como tratamento não
medicamentosos para o Diabetes tipo 2, uma condição muito comum em pessoas idosas. Todavia,
como várias entidades recomendam a prática do TC para a população ido- sa, Martins et al.43
avaliaram se o treinamento intervalado de alta intensi- dade utilizando o próprio peso corporal, era
uma boa estratégia para me- lhorar a composição corporal, muscular e funcional de idosas diabéticas,
quando comparado ao TC. Para isso, foram recrutadas 16 idosas com alto risco de Diabetes tipo II
para participar do estudo, sendo estas divididas em 2 grupos: treinamento intervalado de alta
intensidade (TI) e TC, sub- metidas a 12 semanas de intervenção.
O TI consistiu de 4-10 séries de 30 segundos de execução no exercício de subir e descer do step,
seguido de 30 segundos de agachamento com o próprio peso corporal, todos os exercícios foram
realizados a 85% FC
máxima ou entre 7-8 na escala de Borg. O TC consistiu de 15-30 minutos de caminhada a 70% da FC
máxima seguido de 5 exercícios de força, rea- lizados em 1-3 séries, entre 8-12 repetições, a 70%
1RM. As participantes foram avaliadas quanto a massa muscular, percentual de massa gorda, força
muscular avaliada através do teste de 1RM para extensão do joelho, velocidade de marcha e amostras
sanguíneas. Após o período de interven- ção, os autores observaram aumento da massa muscular (TC:
3% e TI: 3%) e melhora na velocidade de marcha (TC: 9% e TI: 4%), redução da insulina (TC: 13% e
TI: 18%), glicose (TC: 2% e TI: 7%), hemoglobina glicada (TC:
6% e TI: 5%) em ambos os grupos sem diferença entre eles, e aumento significativo da força muscular
apenas para o grupo que realizou TC (34%).
Os autores apresentam que embora TF realizado acima de 70% 1RM seja o recomendado para
induzir aumento do volume muscular7 em ido- sos, o estudo apresentou que o protocolo de TF
utilizado também propor- cionou ganhos hipertróficos com intensidades menores. Intensidades es- tas
mais próximas daquelas realizadas nas atividades de vida diária. Além disso, ambos os grupos
melhoraram a capacidade de marcha, que é um forte marcador de desempenho associado com quedas,
hospitalizações e doenças cardiorrespiratórias44,45. Com uma amostra de diabéticas, o estu- do também
conseguiu observar que ambos os treinamentos são eficientes para melhorar marcadores bioquímicos
associados a diabetes, mostrando que o TI é comparável ao TC na melhoria de massa magra,
velocidade de marcha e marcadores bioquímicos, porém não induz maiores ganhos de força muscular.
Um estudo envolvendo apenas aspectos relacionados a capacidade funcional foi realizado por
Sousa et al.46 que avaliaram os efeitos de dife- rentes tipos de treinamento nas respostas de capacidade
funcional em 59 homens idosos (69,1 ± 5 anos) divididas em 3 grupos: TA; TA+TF e, Grupo Controle,
os quais, realizaram 3 sessões semanais de treinamento ao longo de 9 meses. O grupo de TA realizou
2 dias de caminhada por 30 minutos, seguido de 10 minutos de exercícios de resistência muscular
localizada, e um dia de treinamento em ambiente aquático com atividades diversas. O grupo de TC
realizou o mesmo TA do grupo anterior, seguido de TF, que consistiu de 7 exercícios, realizados com
3 séries, entre 8-12 repetições, a
65-75% 1RM.
Os participantes foram avaliados quanto à composição corporal, teste de sentar e levantar, flexão
de cotovelo, flexibilidade de membros inferio- res e superiores, velocidade de marcha e o teste TUG.
Decorridos 9 meses de intervenção, foi observado que ambos os grupos de intervenção melho-
raram em todas as condições avaliadas em relação ao GC. Embora o grupo TA+TF tenha obtido
maiores ganhos em relação a TA no teste de sentar e levantar (TA+TF: 15%; TA: 12%), flexão de
cotovelo (TA+TF: 19%; TA:
12%), flexibilidade de membros inferiores (TA+TF: 88%; TA: 55%) e supe- riores (TA+TF: 51%; TA:
29%), TUG (TA+TF: 10%; TA: 8%), exceto para velocidade de marcha (TA+TF: 4%, TA: 5%). Em
resumo, os autores apre- sentam que o TC é um programa, um treinamento eficiente para melhorar
todos os componentes funcionais e relacionados com as atividades de vida diária, e mesmo não tendo
sido avaliadas variáveis relacionadas com adap- tações neuromusculares em ambos os grupos, através
dos demais estudos apresentados ao longo desse capítulo pode-se inferir os possíveis fatores que
contribuíram para essa melhora.

Volume semanal do treinamento concorrente

Alguns estudos têm observado que diferentes volumes semanais do TF podem induzir ganhos
similares de força muscular em idosos. Um estu- do realizado por DiFrancisco-Donoghue, Werner e
Douris47 observou que uma sessão de TF por semana foi suficiente para gerar ganhos de força
muscular equivalentes a duas sessões semanais de TF. Essa efetividade em termos de tempo,
despertou o interesse do quanto o volume semanal de TC pode contribuir na melhora da prescrição
desse tipo de treinamento para idosos. Assim, Ferrari et al.48 compararam o efeito de diferentes volu-
mes semanais de TC nas adaptações neuromusculares e cardiovasculares de vinte e quatro homens
idosos (65 ± 4 anos) previamente treinados, os quais foram divididos dois grupos de TC: TF+TA com
2 sessões semanais (G2) e TF+TA com 3 sessões semanais (G3), todos submetidos 12 semanas de
treinamento. O TF consistiu de 9 exercícios, realizados em 3 séries, com
6-10 repetições, e TA realizado em cicloergômetro durante 30 minutos a
85-95% da FC no LV2.
Os participantes foram avaliados quanto à força máxima, obtida atra- vés de teste de 1RM para
flexão bilateral de cotovelo e extensão de joelho, pico de torque isométrico para extensão do joelho
avaliado através de di- namômetro isocinético, excitação eletromiográfica dos músculos VL e RF,
espessura muscular do quadríceps, VO2pico, Wmáx, e limiares ventilatórios 1 e 2. Após o treinamento
foi observado aumento nos valores de força mus- cular de 1RM para flexão do cotovelo (G2: 10% e
G3: 7%) e extensão do joelho (G2: 22% e G3: 20%), espessura muscular dos membros superiores
(G2: 6% e G3: 6%), espessura muscular dos membros inferiores (G2: 4%
e G3: 5%), VO2 pico (G2: 22% e G3: 14%), VO2 nos limiares ventilatórios
1 (G2: 18% e G3: 6%) e 2 (G2: 14% e G3: 5%) para ambos os grupos, sem diferença entre eles. Para
o pico de torque isométrico e excitação eletro- miográfica dos músculos VL e RF não foram
observadas mudanças sig- nificativas para ambos os grupos enquanto para a Wmáx foi observado
aumento apenas para o G3 (18%).
Os autores sugerem que a realização de baixos volumes semanais de TC, ou seja, realização de
duas sessões semanais, podem melhorar a apti- dão física geral de homens idosos previamente
treinados assim como a re- alização de três sessões semanais, o que do ponto vista prático significa que
pode ser uma otimização do tempo para a prescrição de um treinamento cujo objetivo seja melhorar
aspectos cardiorrespiratórios e neuromuscu- lares. Além disso, os autores apresentam que a ausência
de alterações na excitação eletromiográfica dos músculos VL e RF observada em ambos os grupos
pode ser explicada pelo fato de que tais alterações refletem as adap- tações neurais, geralmente
observadas nas fases iniciais do treinamento, as quais não puderam ser observadas em decorrência do
nível de condicio- namento prévio dos participantes.
Similarmente, outro estudo49 avaliou os efeitos de duas e três sessões semanais de TC em vinte e
quatro homens idosos (65 ± 4 anos) subme- tidos a 10 semanas de intervenção. Os participantes
foram divididos em TF seguido de TA com 2 sessões semanais (G2) e TF seguido de TA com 3
sessões semanais (G3), seguindo o programa de treinamento citado ante- riormente48. Foram
realizadas as avaliações de potência muscular através do salto com contra movimento, piso de torque
isocinético a 60 e 180°s, e qualidade muscular dos extensores do joelho. Os autores observaram que
após o período de intervenção, ambos os grupos obtiveram aumento da qualidade muscular (G2: 67%
e G3: 25%) e potência muscular (G2: 6% e G3: 10%), pico de torque isocinético a 60°s (G2: 4% e G3:
2%) e 180°s (G2:
7% e G3: 1%), sem diferença significativa entre eles.
O estudo demonstrou que através do TC, realizado em diferentes volu- mes (duas ou três vezes por
semana), possibilita a melhora tanto no salto com contra movimento quanto no pico de torque
isocinético realizado em velocidade rápida (60°s), os quais são considerados dois métodos impor-
tantes para avaliar a potência muscular de membros inferiores em idosos. Também sabe-se que o
envelhecimento está associado a reduções da força por unidade de massa muscular (qualidade
muscular) e nesse estudo49 pode-se observar que o TC melhora significativamente a qualidade mus-
cular com 2 ou 3 sessões semanais. Assim, o estudo demonstrou que o TC
pode retardar ou reduzir os efeitos deletérios do processo de envelheci- mento no sistema
neuromuscular de idosos e que este resultado pode ser alcançado com baixos volumes semanais de
exercício.
Em suma, ao longo deste capítulo foi apresentado como o envelheci- mento influencia de forma
negativa no consumo de oxigênio, força e potên- cia muscular, e que esse processo pode ter seus efeitos
reduzidos ou atenu- ados através da prática combinada do treinamento aeróbio e treinamento de força,
ou seja, o treinamento concorrente. Esse tipo de treinamento é recomendado pelas entidades
internacionais para promover simultane- amente melhoras cardiorrespiratórios e neuromusculares,
importantes para idosos principalmente em se tratando da capacidade funcional dessa população. Por
se tratar de uma associação entre dois tipos de treinamen- to, alguns estudos trazem a influência da
ordem desses treinamentos sobre os componentes cardiorrespiratórios e neuromusculares, e através da
lite- ratura apresentada, pudemos observar que as melhorias para a população idosa são obtidas
independentemente da ordem de execução, mas que por apresentarem maiores valores, a ordem de
execução treinamento de força seguido de treinamento aeróbio parece ser a mais indicada para idosos.
Além disso, pode-se observar que dentro do treinamento concorrente há variadas formas de
realizar o treinamento de força afim de otimizar o tempo ou alcançar melhorias sem altas cargas e
intensidade, assim como, o volume semanal desse tipo de treinamento que também pode ser reali-
zado com um número mínimo de sessões sem reduzir significativamente as melhorias alcançadas pela
população idosa quando comparado com fre- quências semanais maiores. O treinamento concorrente
também pode ser eficiente em relação a outros tipos de treinamento e pode ser considerado um
programa eficiente para melhorar componentes funcionais e aqueles relacionados com as atividades
de vida diária. Enfim, o treinamento con- corrente permite a melhora da aptidão cardiorrespiratória e
neuromuscu- lar, assim como alguns marcadores metabólicos de idosos, que são impor- tantes para
garantir melhorias na capacidade funcional, saúde e qualidade de vida da população idosa.
Aplicações práticas

• O Treinamento de Força seguido do Treinamento Aeróbio parece ser a sequência mais


indicada para proporcionar melhoras neuro- musculares e de capacidade funcional de idosos.
• A aplicação da intensidade moderada no Treinamento Concorren- te pode gerar maiores
ganhos neuromusculares e de desempenho funcional.
• Em casos de pouca disponibilidade de tempo, o Treinamento de Força presente no
Treinamento Concorrente não precisa ser reali- zado até a falha concêntrica e, com a ajuda
de profissional com do- mínio adequado da técnica, outra alternativa pode ser a aplicação da
técnica de restrição de fluxo sanguíneo.
• Baixos volumes semanais de Treinamento Concorrente também são eficientes para
melhorar aspectos cardiorrespiratórios e neuro- musculares de idosos.
• Idosos com baixa capacidade funcional ou que apresentem fator de risco cardiovascular
podem realizar o Treinamento Concorrente.
• Com prescrição adequada o Treinamento Concorrente pode ser considerado um eficiente
programa de treinamento para gerar me- lhorias próximas àquelas alcançadas pelo
Treinamento Aeróbio e de Força quando realizados de forma isolada.
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260
CAPÍTULO X
COMPROMETIMENTO DA PRODUÇÃO DE FORÇA DECORRENTE DA DOR AGUDA:
ESTRATÉGIAS PARA O MONITORAMENTO NEUROMUSCULAR

Manoela Vieira Sousa


Lucas Bet da Rosa Orssatto

O que você irá encontrar:

• As alterações na atividade motora que são provocadas na condição de dor musculoesquelética


por mecanismos periféricos e centrais;
• As mudanças que a dor muscular podem provocar nos movimen-
tos do controle motor;
• Em situação controlada, como a Dor Experimental Induzida, as tarefas podem ser executadas
com melhor precisão do que na au- sência de dor;
• A técnica da Eletromiografia, na condição de dor, pode contribuir para verificar a capacidade
de produzir força sem a dependência do sistema nervoso central;
• Por meio da Estimulação Elétrica concomitante com as contra- ções involuntárias, é possível
entender a influência na capacidade de produção de força pelas propriedades contráteis sem
qualquer dependência de fatores neurais.

Introdução

A capacidade de produção de força é de extrema importância1-3, seja nas atividades diárias ou no


desempenho de atletas em modalidades esportivas1, sendo considerada um componente fundamental tanto
para saúde como para o rendimento, seja para realização de atividades motoras ou preven- ção de
doenças2. Dentre as diversas formas de avaliar a produção de força (e.g., trabalho, potência, força
explosiva, etc.), a mais comumente utilizada envolve a força máxima4,5, caracterizada como o potencial
máximo que o in- divíduo pode gerar durante uma contração voluntária máxima. Em adição, a força
explosiva tem sido uma variável amplamente utilizada, por estar in- timamente relacionada à grande
produção de força em curtos intervalos de tempo1,4. Sua relação está ligada com a realização de
movimentos rápidos, em modalidades esportivas6 (e.g., sprints e chutes), atividades motoras de idosos,
na capacidade funcional e no equilíbrio dinâmico e estático3,7.
A capacidade de produção de força máxima e explosiva são resultados do desempenho e
combinação sincronizada dos sistemas nervosos central e periférico. Pode-se destacar como
características do sistema nervoso central a velocidade do drive eferente, frequência e intensidade dos
dis- paros das unidades motoras8. Já para o periférico, a intensidade e veloci- dade da contração
muscular, além da transmissão de força para o sistema esquelético, a qual é influenciada por fatores
intrínsecos contráteis (e.g., tipagem de fibras musculares e velocidade e força de contração das cabeças
de miosina) e morfológicos (e.g., quantidade de fibras musculares, área de secção transversa e rigidez
musculotendínea)8. Diversos mecanismos po- dem alterar a capacidade de produção de força. Dentre
alguns, por exem- plo, é a dor, a qual acarreta em alterações na atividade motora9-11.
Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP - Associação Internacional para
Estudo da Dor), a dor é uma experiência sensorial e emocional associada com danos reais ou
potenciais, ou mesmo descrita em tais termos. Verifica-se que aproximadamente um terço da po-
pulação mundial é afetada pela dor (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2012). Em adição, esse fenômeno pode ser causado por diversos fatores, afetando negativamente a
qualidade de vida. Especificamente, a dor mus- culoesquelética tem uma prevalência alta, atingindo
indivíduos de todas as idades12,13. Assim, devido a dor causar expressivo impacto socioeconômico na
população mundial e por potencialmente alterar a execução de movi- mentos em condições laborais,
de treinamento esportivo e de reabilita- ção14,15, a literatura tem buscado investigar essa temática
associada com o controle do movimento11,14,16-22.
Acredita-se, então, que indivíduos praticantes de atividade física te- nham alteração na percepção
de dor23, especificamente atletas, os quais têm elevada tolerância à dor em comparação a outros
grupos. Portanto, sugere-se que atletas apresentem mecanismos de modulação e percepção de dor
diferentes23. As adaptações motoras decorrentes da dor estão rela- cionadas com a tarefa executada24,25.
Especificamente, para contrações vo- luntárias isométricas máximas, a literatura10,19,26,27 tem verificado
reduções na capacidade de produção de força. Para força explosiva, especula-se que tenha uma
redução decorrente do sistema nervoso sobre o recrutamento das unidades motoras, no entanto, ainda
não há estudos específicos nesta temática10.
Nesse sentido, uma melhor compreensão durante a contração mus- cular (voluntária involuntária)
pode fornecer elementos para o direciona- mento para a melhora do desempenho em modalidades
esportivas e de
práticas preventivas na presença da dor de forma a contemplar as inte- rações sensório-motoras. Dessa
forma, este capítulo tem como objetivo apresentar os mecanismos neurais e musculotendíneos que são
afetados pela dor e que por consequência interferem na capacidade de produção de força. Para um
melhor entendimento, o presente capítulo foi estruturado nos seguintes tópicos: a) sistema nervoso e
dor; b) produção de força vs. dor experimental induzida: monitoramento neuromuscular por meio de
eletromiografia e estimulação elétrica.

Sistema nervoso e dor

Anatomicamente, o sistema nervoso é dividido em: sistema nervo- so central (SNC) e sistema
nervoso periférico (SNP). O SNC é composto pelo encéfalo e a medula espinal e o SNP consiste nas
células nervosas localizados fora do SNC28 (Figura 1.10). Dessa forma, o sistema nervoso é
responsável por compreender e responder por “eventos” que ocorrem nos ambientes internos e
externos, sendo os receptores responsáveis por identificar os estímulos (toque, dor, temperatura) e
levar a informação ao SNC28,29. O SNP é responsável pela transmissão das “mensagens” prove-
nientes do SNC para as fibras musculares28,29 e também da periferia para o SNC.

Figura 1.10 - Divisões do Sistema Nervosos

Fonte: Adaptado de Connors; Bear; Paradiso, 2002.


Para tal, a célula responsável pela função básica de receber, processar e enviar as informações do
sistema nervoso é chamada de neurônio. Portan- to, os neurônios são considerados células especificas,
tendo como funções responder às alterações físicas/químicas do ambiente29,30. Especificamen- te, para
o SNP, a porção motora somática é responsável pela “mensagem” da medula espinal para as fibras
musculares, assim, o neurônio somático que se conecta com as fibras musculares é definido como
neurônio motor. O conjunto de cada neurônio motor e todas as fibras musculares que é inervado é
denominado unidade motora.
Ademais, sabe-se que os neurônios se conectam entre si por meio de sinapses, e, dessa forma
transmitem informações entre os mesmos ou para o músculo através de potenciais de ação. Quando a
transmissão do estí- mulo da medula espinal vai até as fibras musculares (e.g., potenciais de ação)
através da excitação de um neurônio motor, todas as fibras inervadas por ele são estimuladas a contrair,
gerando assim, uma contração muscu- lar28-30. Resumidamente, a contração ocorre como um resultado
de esforço originário do cérebro, que envia sinais para o sistema nervoso e para o neurônio motor que
inerva as fibras musculares31.
Em relação a dor por vias nociceptivas, considera-se uma reação noci- ceptiva e transmitida por
receptores chamados de nociceptores29, ou seja, a sensação de dor é captada por estímulos recebidos
através dos recepto- res. Assim, o impulso da dor é recebido e transformado em potencial de ação, em
seguida, o impulso é conduzido até a medula espinal. Na medula, o impulso é modulado, onde há
basicamente duas vias ascendentes que “levam a dor” até o cérebro. Havendo a detecção da dor pelo
cérebro, as informações nociceptivas são conduzidas para a medula que por sua vez levam os impulsos
sensoriais para os neurônios que “projetam” e regu- lam a informação, levando por diferentes vias
ascendentes para estruturas e assim sendo percebido com dor (Figura 2.10). Em síntese: (1) o nervo
sensorial (receptores) envia um impulso nervoso à medula espinal; (2) neurônios da medula espinal
são excitados e por conseguinte, estimulam os neurônios motores; (3) os neurônios excitados
provocam despolariza- ções dos neurônios motores específicos da ação29, 30,32.
Primeiramente, a dor pode ser considerada um evento complexo, sub- jetivo e de difícil definição.
Seu significado varia não somente entre os indivíduos, mas por tradições culturais desde a
antiguidade aos tempos modernos [Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED); IASP]. Ba-
sicamente, existem dois tipos de dor: aguda e crônica, diferenciando-se do ponto de vista da
fisiopatologia, causas e o tratamento (IASP). A dor
crônica é definida como a que persiste além do tempo da cura tecidual (duração acima de 3 meses).
Ela age tanto no SNC, quanto no SNP, sendo muitas vezes de “causa desconhecida” e, portanto, de
difícil diagnóstico (IASP). A etiologia da dor crônica ocorre por meio de nervos que levam a
informação, de forma lenta, por fibras não mielinizadas para várias áreas do cérebro (SBED).

Figura 2.10 - Etapas da dor por vias sensitivas

Fonte: Adaptado de Gottschalk et al (2001).

A dor aguda tem duração de poucos dias chegando a 3 meses, poden- do a sua origem ser
somática (pele, músculos e osso), visceral ou nervosa (IASP). A dor aguda pode ser considerada
como uma resposta fisiológi- ca de que algo no organismo não está bem33, portanto, esse tipo de dor é
visto como sinônimo de proteção. Diferentemente da dor crônica, na dor aguda as fibras que levam as
informações de dor ao cérebro são predomi- nantemente mielinizadas33,34, e por isso, levam a
informação com maior rapidez34.
A percepção da dor é modulada (diminui ou aumenta) por mecanis- mos ascendentes de origem
periférica ou por mecanismos descendentes, originários do SNC. Os periféricos estão relacionados aos
diferentes diâ- metros e velocidades de condução das fibras nervosas, através de meca- nismos de
inibição lateral da fibra A beta. E os centrais estão envolvidos
com as estruturas encefálicas do aqueduto do mesencéfalo e de núcleos localizados no bulbo29,30,32.
A avaliação da dor é fundamental para conhecer a sua origem e carac- terísticas. Ao se avaliar um
paciente, os clínicos procuram obter informa- ções sobre quando e em que condições a dor teve início,
que movimentos ou posturas influenciam na percepção da dor, além de realizaram testes passivos e
ativos com o intuito de reproduzi-la e assim, melhor compre- ender o quadro clínico. Para auxiliar a
quantificação deste fenômeno com- plexo e subjetivo, faz-se uso de escalas de avaliação numéricas,
verbais, digitais ou analógicas, tanto em ambientes clínicos quanto de laboratório de pesquisa35,36.
A dor, seja ela aguda ou crônica, tem efeitos multidimensionais, envol- vendo fatores emocionais,
motivacionais e culturais37. Contudo, a possibi- lidade de se induzir, de forma controlada, a dor aguda
em humanos torna possível um melhor entendimento de como esta tem influência sobre as variáveis
de controle motor19,20,26. Nas últimas duas décadas, tem havido aumento do número de laboratórios de
pesquisa dedicados ao entendi- mento das interações sensório-motoras, especificamente relacionadas
à influência da dor em tarefas de controle postural ou do movimento hu- mano.

Produção de força vs. dor experimental induzida: monitoramento neuromuscular por


meio de eletro- miografia e estimulação elétrica.
A dor muscular tem a maior prevalência na população mundial, afe- tando diferentes partes do
corpo, diferentes níveis de intensidade e faixas etárias. No Brasil, verifica-se que 63% da população
sofreu com dor mus- cular pelo menos uma vez a cada três meses, e dados mundiais revelam que 95%
população já foi afetada com alguma dor no corpo e que mais da metade sofre com dores musculares
regularmente (SBED; IASP, MOVI- MENTO PORTUGAL SEM DOR). Em situações de dor
muscular, sabe-se que as fibras nervosas aferentes do grupo III e IV estão envolvidas, e que não
apenas as fibras musculares são atingidas, mas um conjunto de tecidos próximos35. Portanto, na
presença de dor, é importante compreender as funções envolvidas durante a realização de atividade
diárias e/ou físicas, visto que a dor muscular pode impactar negativamente na qualidade de vida.
Contudo, devido a sua alta complexidade para avaliação, tem-se utili-
zado a indução a dor em indivíduos saudáveis como forma de garantir a presença da dor durante
avaliações9-11,14-21. Para isso, comumente são utili- zadas injeções endógenas e exógenas, como as
salinas hipertônicas10,14-22,26. A injeção é um modelo que causa dor tecidual profunda, comparada à dor
muscular aguda com duração de poucos minutos36,38. A injeção tem efeito direto nas terminações
nervosas e é reativa a atividade neural, levando à ativação de vias nociceptivas. Por conseguinte, leva
ao aumento da percep- ção de dor no local e reduz a sensibilidade a estímulos mecânicos39.
É reportado na literatura10,18,24 que a dor leva a alterações no controle motor, no entanto, as
alterações dependerão da ação realizada (i.e., ação muscular, carga, intensidade, fadiga)14. Todavia,
acredita-se que em gran- de parte das atividades realizadas na presença de dor, os músculos agonis-
tas, antagonistas e sinergistas serão inibidos durante a ação25. Para tanto, o comprometimento no
controle motor está relacionado com os músculos envolvidos no movimento18 e, é atribuído a
inibição dos nociceptores do drive central, bem como na percepção de dor de cada indivíduo10. Na
pre- sença de dor muscular induzida as adaptações musculares ocorrem como uma forma de reduzir
e/ou prevenir mais danos teciduais11,25. As altera- ções no controle motor dependerão dos músculos
estarem em repouso, em contração isométrica ou dinâmica9. Portanto, as alterações nas atividades
motoras observadas como aumento ou diminuição da excitação muscular dos grupos musculares,
dependerá da contração muscular avaliada9.
Dessa forma, uma maneira de avaliar o comprometimento da produ- ção de força, na condição de
dor, é por meio de contrações musculares voluntárias e induzidas. Frente a isso, tem sido utilizada a
estimulação elé- trica para verificar a influência na capacidade de produção de força pelas
propriedades contráteis sem qualquer dependência de fatores neurais23,25. Como a dor induzida não
afeta as propriedades contráteis das fibras mus- culares22,26, acredita-se que o comprometimento da
força se dá devido à redução da frequência dos disparos dos motoneurônios envolvidos.

Estimulação elétrica neuromuscular


A estimulação elétrica neuromuscular é uma técnica que produz pulsos de corrente elétrica sobre a
pele, por meio de eletrodos, e que estimulam músculos, nervos e tecidos com o objetivo de induzir a
contrações muscu- lares involuntárias ou avaliar o desempenho do sistema nervoso periférico [quando
associado à técnica de eletromiografia de superfície (sEMG)]40,41. A contração muscular induzida por
meio da estimulação elétrica neuro- muscular não é influenciada pelo desempenho do SNC, sendo
produzida
diretamente (i.e., despolarização dos motoneurônios) ou indiretamente (i.e., despolarização das fibras
nervosas aferentes sensoriais e que irão ge- rar potenciais de ação e assim, causando a contração
muscular)40. Dessa forma, o princípio da estimulação elétrica simula um impulso nervoso, re- sultando
em uma contração sem a participação do sistema nervoso, assim, a contração involuntária parece ser
semelhante ao estímulo enviado pelo SNC.
Em síntese, os fundamentos básicos nas respostas dos músculos e te- cidos ao estímulo elétrico
são: passagem de corrente elétrica pelo corpo, modulação, amplitude e frequência da corrente
elétrica42, para então, pos- sibilitar a contração e assim, o músculo executar a ação. Primeiramente, ao
aplicar os pulsos elétricos através da pele, as unidades motoras serão recrutadas simultaneamente
(que estiverem na área dos eletrodos). A quantidade de unidades motoras recrutadas é influenciada
pelo tamanho, localização e superfície dos eletrodos, sendo, preferencialmente, os mús- culos abaixo
dos eletrodos estimulados, e diferenciando na ativação sinér- gica e estabilizadora comparado as
contrações voluntárias41. A interação da intensidade e frequência da estimulação está diretamente
relacionada à produção de força42, ou seja, quanto maior a intensidade e/ou frequência da estimulação
maior a força produzida.
Por base, aumentando gradualmente a intensidade da estimulação, tem-se a produção de uma
resposta sensitiva, normalmente sem gerar in- cômodo. Aumentando a intensidade, ocorre também um
aumento da res- posta sensitiva até que tenha o limiar de excitação dos motoneurônios, e assim,
uma resposta motora é produzida. Por sua vez, quanto maior o número de fibras motoras ativadas,
maior é também a produção de força durante a contração, quando o limiar motor é ultrapassado, um
pequeno aumento na intensidade provocará grandes incrementos da produção de força, até o ponto de
sensação de dor ser atingida42,43. Para estimulação do músculo o posicionamento dos eletrodos ocorre
no ventre muscular ou no nervo que chega até o músculo44. Basicamente, a aplicação no ventre, são
recrutadas fibras mais superficiais, diferentemente, da aplicação no ner- vo, onde são estimulados
todos os músculos de um grupamento muscular inervados pelo nervo estimulado 44.
A contração muscular voluntária e a gerada pela estimulação elétrica neuromuscular possuem
distintos mecanismos de ativação das unidades motoras. Na voluntária, o recrutamento das unidades
motoras é orde- nado e seletivo, sendo provocada primeiramente pela ativação das fibras nervosas de
menor diâmetro (i.e., contração lenta) e gradativamente são
recrutadas as de maior diâmetro (i.e., contração rápida) de acordo com a intensidade da execução
(Princípio do tamanho de Henneman). Diferen- temente, na contração induzida pela estimulação
elétrica neuromuscular, a literatura demonstra que o recrutamento ocorre de maneira inversa, pri-
meiramente a ativação das fibras nervosas de maior diâmetro (mais excitá- veis e mais rapidamente
fatigáveis)45,46. Outros autores47,48 observaram que por meio da estimulação elétrica neuromuscular o
recrutamento é randô- mico e não padronizado, e que essa ação ocorre devido à proximidade dos
eletrodos com as terminações nervosas adjacentes e, dessa forma, ocor- rendo um recrutamento dos
axônios motores mais superficiais, explicando esse fato, que in vivo a distribuição da corrente
elétrica é inversamente a profundidade alcançada. Em suma, por meio da estimulação elétrica neu-
romuscular, é possível quantizar e qualificar a contração muscular, sen- do os seus efeitos
dependentes da intensidade da corrente, percurso da corrente elétrica, duração do estímulo, forma
do pulso, área e pressão do contato e fatores interindividuais.
Dessa forma, a literatura tem reportado alguns estudos por meio da estimulação elétrica na
condição de dor. No estudo de Rice et al.,50 foi exa- minada a força submáxima na presença de dor
experimental nos exten- sores do joelho em contrações isométricas e dinâmicas. Especificamente,
durante as contrações dinâmicas, foram encontradas diminuições de força do quadríceps e, dessa
forma, afetando o desempenho motor. Os autores sugerem que os mecanismos estão relacionados
ao aumento das taxas de recrutamento e disparo das unidades motoras, ativação dos músculos
sinérgicos e antagonistas, além de alterações nas informações propriocep- tivas. Portanto, o
entendimento e interpretação entre a interação entre a dor muscular e contrações dinâmicas, é
considerada complexa.
Com relação às contrações voluntàrias isométricas máximas (CVIM) e dor muscular, a literatura
tem demonstrado uma redução da força9,25. Acredita-se que essa redução de força seja benéfica, ou
seja, essas altera- ções estão relacionadas com uma estratégia de proteção muscular, evitan- do então
o aumento do dano9,11,25. No entanto, Salomini et al10 ressaltam que é difícil isolar a relação entre a
dor muscular e a redução de força du- ração a CVIM devido a envolvimento de outros fatores.
Em um estudo de Graven-Nielsen et al26 que avaliaram a CVIM duran- te a dor experimental,
observaram uma redução no torque (7%) nos exten- sores do joelho e não encontraram diferenças nas
propriedades contráteis, indicando que a redução da força está relacionada ao SNC. Corroborando,
Salomini et al10 encontraram uma redução de 9,3% na CVIM e uma me-
nor ativação eletromiográfica nos músculos agonistas e antagonistas dos extensores do joelho
causada pela redução dos estímulos voluntários do SNC. Khan et al50 encontraram uma redução nas
CVIM dos flexores do co- tovelo e para as contrações submáximas não encontraram interação entre a
dor e o torque, bem como o comprometimento nas contrações máximas por meio da estimulação
elétrica. Em síntese, mesmo frente às evidências mencionadas, o entendimento e a interpretação da
produção de força na condição da dor precisam ser melhores elucidadas com objetivo de trata- mento,
e prevenção nas áreas da reabilitação e do treinamento esportivo.
Sabe-se que a capacidade de produzir força explosiva depende da capacidade de produzir força
máxima e da velocidade de contração51. A capacidade de produzir força máxima está relacionada à
quantidade de sarcômeros ativos em paralelo, e velocidade de contração está relaciona- da aos
sarcômeros ativos em séries51. Dessa forma, para gerar a produção de força, alguns fatores precisam
estar sincronizados, tais como: neurais (i.e., velocidade de condução do estímulo neural, frequência e
intensidade do disparo das unidades motoras)52,53 morfológicos (i.e., comprimento do fascículo e área
da secção transversa)54,55; mecanismos musculotendíne- aos; tipos de fibras musculares, músculos
envolvidos na ação muscular; bioquímicos e histoquímicos54,55.

Eletromiografia de superfície
Como forma de verificar a excitação do músculo durante a produção de força em um curto
período de tempo um dos métodos utilizados é por meio da eletromiografia27,55. Concomitante o
método da estimulação elé- trica também está associado para verificar a capacidade de produzir força,
ou seja, identificar a influência do SNP na capacidade de produzir força sem depender do SNC54,55.
Dessa forma, como mencionado, na presença de dor, ocorrem alterações na atividade motora tanto por
mecanismos perifé- ricos como centrais9,11. Acredita-se que ocorram alterações na capacidade de gerar
força, uma vez que, considera-se que haja uma redução da mesma devido à inibição das unidades
motoras de contração rápida. Contudo, os estudos sobre essa temática são reduzidos e, portanto, existe
a necessidade de investigar sobre as possíveis causas do comprometimento da produção de força na
presença de dor, para poder trazer subsídios que expliquem tais efeitos.
A eletromiografia de superfície (sEMG) é uma técnica de monitora- mento eletrofisiológico
amplamente utilizada em ciências do movimento e do esporte56,57. Ela permite, de maneira não
invasiva, a detecção dos poten-
ciais de ação elétricos da corrente transmembrana das fibras musculares durante a produção de
força58. Especificamente na biomecânica, a sEMG é aplicada para se identificar excitação muscular,
relação entre força e ex- citação do músculo, bem como a presença de fadiga59. Através da sEMG é
possível analisar parâmetros relacionados à frequência, tempo e a ampli- tude dos potenciais elétricos
das fibras musculares de um grupo ou de um determinado feixe muscular60. Ou seja, a sEMG pode
indicar qual músculo é excitado pelo SNC em uma atividade específica, além de mostrar o quan- to os
músculos estão eletricamente ativos58.
A relação entre força/sEMG, torna-se de extrema relevância na pes- quisa, com fins da
compreensão da aplicação de força entre músculos/liga- mentos/articulação, além do entendimento das
adaptações neuromuscu- lares61. No entanto, essa relação pode sofrer a influência de vários fatores,
como fisiológicos, anatômicos e técnicos, durante a captação dos sinais eletromiográficos, seja na
velocidade de encurtamento e/ou alongamento dos músculos, fadiga e amplitude articular, o que dessa
forma, pode acar- retar em uma interpretação equivocada62. Além de sofrer alterações devido ao nível
de treinamento, individualidade dos sujeitos e dos músculos63 e, portanto, sendo difícil a comparação
entre indivíduos e músculos58.
A relação entre o sinal sEMG e produção de força durante a contra- ção muscular isométrica,
deve ser entendida como, quanto mais longa a duração do potencial de ação da unidade motora
(distância entre as fi- bras musculares em cada unidade motora), maior será a porcentagem de
aumento na amplitude eletromiográfica causada na sincronização58. Para Ervilha64, em termos
qualitativos, a relação entre o sinal sEMG e força iso- métrica é diretamente proporcional, ou seja, a
medida que a atividade do sinal sEMG aumenta, a produção de força também aumenta, mas ressal- ta-
se que essa relação não é sempre linear. A literatura65-68 verificou uma tendência linear entre o sinal da
sEMG e a produção de força isométrica. Entretanto essa relação não é assumida para todas as forças
(concêntrica e excêntrica) e nem para todos os músculos. Portanto, acredita-se que essa relação é
altamente dependente do músculo analisado64,69.
Para músculos maiores, em exemplo o quadríceps, devido a distribui- ção irregular e aos
diferentes tipos de recrutamento das unidades motoras, a captação do sinal elétrico do músculo, pode
não representar a ativida- de elétrica precisa do músculo58. Como a produção de força mensurada é
o resultado da ativação de diversas fibras musculares em sinergia. O si- nal captado pela sEMG é
somente local, ou seja, o eletrodo não consegue captar todo o sinal gerado no volume muscular.
Outro fator que se deve
considerar é o grau de ação sinérgica de outros grupos musculares e as diferentes quantidades de co-
contração de músculos antagonistas em re- lação ao músculo analisado. Esses fatores devem ser
considerados, devido a distribuição da força no músculo, visto que pode haver uma alteração em razão
desta distribuição62.
No que diz respeito as ações musculares, para as contrações isométri- cas, a relação força/sEMG, é
descrita como sendo músculo-dependente, ou seja, está intimamente interligada com o recrutamento e
a frequência de disparo das unidades motoras, com o recrutamento das fibras de contra- ção rápida e
lenta e a interferência dos músculos interligados que compõe o músculo avaliado58. Para Basmajian e
De Luca63, nas contrações isomé- tricas, para os músculos pequenos a relação é apresentada como
quase linear, e não-linear para os músculos maiores. Portanto, como menciona- do, em condições
isométricas, é bem reportado na literatura58,63,67-69, que a magnitude do sinal sEMG representa uma
aceitável estimativa da produ- ção de força realizada pelo músculo58.
Para as contrações dinâmicas, a relação força/sEMG é apresentada sendo mais complexa, causada
pelas características do movimento. Al- terações na produção de força, tanto no comprimento do
músculo como na localização do eletrodo em relação às fibras musculares ativas durante a contração,
podem resultar em atividades elétricas novas, próximas ao músculo analisado e, portanto,
comprometendo a relação de força e do si- nal sEMG58,63. Assim, a sEMG é um método não invasivo e
muito utilizado para avaliação da função neuromuscular durante a análise da relação de produção de
força em contrações isométricas e complexa para contrações dinâmicas.
Na condição de dor, em contrações dinâmicas, acontecem mudanças adaptativas na coordenação e
na ativação muscular70. Ervilha64 encontrou um aumento do sinal do EMG em músculos agonistas e
uma redução na atividade muscular nos antagonistas, confirmando a teoria da adaptação da dor de
Lund et al71, observa-se aumento no sinal do EMG durante a fase de execução do movimento, onde
normalmente há pouca atividade elétrica e, contrapondo, diminuição do sinal em fases em que a
atividade elétrica encontra-se alta64,72. Em suma, o modelo de adaptação a dor pode estar relacionado
ao fato de que o músculo agonista é inibido e o antagonista facilitador como uma forma de proteger o
tecido e prevenir novas lesões9.
No estudo de Salomini et al10, na condição de dor (induzida experi- mentalmente), foram
encontradas reduções da produção de força (CVIM) correlacionada a uma redução da atividade
muscular dos agonistas e an-
tagonistas, e sugerem que essas diferenças são explicadas por déficits no impulso voluntário.
Ademais, os autores encontraram uma relação posi- tiva entre a força (CVIM) e uma redução da EMG
e do RMS (root mean square – técnica que avalia o nível do sinal EMG) dos músculos agonistas e
antagonistas e sem alteração na relação agonistas/antagonistas de RMS na condição de dor (Figura
3.10).
Acredita-se, que ocorram alterações na capacidade de gerar força na presença de dor. No entanto,
a literatura explica que as alterações de força e na excitação muscular não acontecem em todos os
participantes, e que fatores podem interferir, como a intensidade, tipo de fibra, sexo e idade.
Portanto, existe a necessidade de investigar sobre as possíveis causas do comprometimento da
produção de força na presença de dor, com a finali- dade de trazer subsídios que expliquem tais
efeitos.

Figura 3.10 - Produção de força e ativação muscular na condição de dor.

Em síntese, como verificado, a capacidade de produção de força está envolvida nas mais diversas
atividades. Em adição, a dor é um fenômeno que acomete ou acometeu grande parte da população e
por isso, tem um grande impacto socioeconômico, portanto essa interação entre a dor e a produção de
força tem sido bastante evidenciada pela literatura. Ainda não foram encontradas todas as possíveis
interações entre a dor e produção de força, mas, sabe-se que existe uma forte relação com a ação
executada. Além do mais, acredita-se que a dor provoca reduções de força para CVIM,
e também inibições nos músculos agonistas e antagonistas. As possíveis reduções na produção de
força podem estar relacionadas como uma es- tratégia de proteção, uma forma de evitar maiores
danos. Contudo, esse comportamento não é considerado absoluto, variando entre os indivíduos. O
entendimento dos efeitos do fenômeno da dor concomitante a produção de força é de extrema
importância e pode ajudar tanto na elaboração de exercícios tanto no treinamento esportivo como na
reabilitação. Assim, é necessário compreender os efeitos neurais e neuromusculares da dor para a
população em geral e em atletas. Ainda existem poucos estudos sobre a temática da produção de força
explosiva na presença de dor, dessa forma, o conhecimento acerca do tema é de fundamental
importância a fim de trazer novas informações e gerar novas pesquisas na tentativa de entender tais
mecanismos.

Aplicações práticas

• A médio e longo prazo, e em condições de dor, podem ocorrerem alterações no padrão de


movimento, que dessa forma, podem levar a mudanças na execução da tarefa, sendo
realizadas repetidamente, é possível ocasionar lesões, portanto, o entendimento das alterações
dos movimentos executados podem contribuir na prevenção de le- sões;
• Contribuições no Esporte: compreender os efeitos da dor em atle- tas e assim, detectar
desequilíbrios musculares relacionados a le- sões, uma vez que atletas estão envolvidos em
movimentos explosi- vos, produção de força e condição de dor;
• Atletas de alto nível apresentam mecanismos de modulação e percepção diferentes,
tornando-se difícil avaliar o impacto da dor. Torna-se fundamental verificar as alterações dos
movimentos em programas de treinamento, como forma de diminuir potenciais da- nos no
desempenho de atletas;
• Devido ao grande impacto socioeconômico que está emoldurado junto com a dor, e assim,
afetando na qualidade de vida, é necessá- rio entender os efeitos da dor no movimento motor,
uma vez que que o mesmo tem forte dependência da tarefa executada, podendo dessa forma,
contribuir em programas de reabilitação.
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CAPÍTULO XI
DOENÇA DE PARKINSON E O PARADIGMA DA DUPLA TAREFA

281

Morgana Lunardi Marco Aurélio


Cardoso Cíntia de la Rocha Freitas

O que você irá encontrar:

• Elucidação sobre o paradigma dupla tarefa;


• Resumo das teorias de neuropsicologia que foram propostas para explicar por que existem
custos de tarefas duplas em outras situa- ções;
• Questões pertinentes acerca da biomecânica em indivíduos com doença de Parkinson;
• Informações relacionadas às implicações neurológicas e motoras causadas pela doença de
Parkinson;
• Breve apanhado de estudos com informações tocantes ao efeito do treinamento com dupla
tarefa na doença de Parkinson.

Introdução

A dupla tarefa envolve a execução de tarefas simultâneas, sendo que uma delas é prioritária,
enquanto a outra é secundária1. Aparentemente, a dupla tarefa aumenta o risco de quedas em idosos
frágeis ou que sofrem de alguma patologia como a doença de Parkinson. Em decorrência disso, durante
as últimas duas décadas, muitos estudos têm investigado a relação entre a execução de uma tarefa motora
associada a tarefas cognitivas e/ou motoras2,3. Segundo relatado por Fernandes et al.4, do ponto de vista
neu- rofisiológico, a redução da ativação dos músculos dos membros inferiores, durante ajustes posturais
antecipatórios na iniciação da marcha, pode ser explicada por uma desregulamentação das vias neurais
entre os gânglios basais e o núcleo pedunculopontino (neurônios corticais) e maior uso de estratégias de
nível cortical.
A redução do controle atencional, ou seja, da capacidade de alocar adequadamente recursos
cognitivos finitos para tarefas de processamen- to de informações juntamente com a marcha está
associada a um risco aumentado de queda em pessoas mais velhas5. Uma vez que se entende que a
locomoção seja regulada principalmente por processos subcorticais (processos cognitivos), uma dupla
tarefa ao se locomover sobrecarrega os
recursos corticais, resultando em déficits na tarefa cognitiva, na estabilida- de da marcha ou em
ambos6,7. A questão dos recursos corticais limitados é preocupante, principalmente na população
idosa, uma vez que o com- prometimento cognitivo tem sido associado à mobilidade reduzida e ao
aumento do risco de quedas8.
Muitas atividades diárias exigem desempenho de múltiplas tarefas e envolvem a integração de
habilidades cognitivas e motoras9. O custo da ta- refa dupla pode ser observado de forma mais
consistente em adultos mais velhos, no qual há uma redução da velocidade de deslocamento e do de-
sempenho cognitivo10. Esta redução do desempenho cognitivo e físico em condições de dupla tarefa é
considerada como resultado da priorização da estabilidade da marcha sobre a tarefa cognitiva para
compensar a dimi- nuição do controle postural em adultos mais velhos2,8,11. Yogev et al.2 rela- taram
que as tarefas duplas ativam o córtex pré-frontal, que desempenha um papel importante nas funções
executivas, como atenção e multitarefa, e ele está menos ativo em indivíduos mais velhos quando
comparados a indivíduos mais jovens, fazendo com que haja uma forte associação com aumento do
risco de quedas nos idosos.
Estudos têm sido realizados com população ativa e saudável, mas es- pecula-se que a redução do
desempenho da locomoção com dupla tarefa seja ainda mais prejudicada em indivíduos com história
de acidente vas- cular cerebral, lesão cerebral traumática ou doenças neurodegenerativas, como, por
exemplo, a doença de Parkinson6. Com base nisso, o objetivo do presente capítulo é revisar a literatura
sobre o paradigma da dupla tarefa, sua influência nos sistemas cognitivo e motor bem como os efeitos
do trei- namento motor e cognitivo em indivíduos com doença de Parkinson.

Paradigma da dupla tarefa

Em nossa vida diária, executamos diversas tarefas e em muitas situ- ações do cotidiano, faz-se
necessário executar mais de uma ao mesmo tempo. Essa competência é considerada vantajosa e um
pré-requisito para uma vida mais saudável e segura3,12. A dupla tarefa (tarefas simultâneas) envolve a
execução de uma tarefa primária, que é o foco principal da aten- ção, enquanto a outra é executada
secundariamente1,12 (Figura 1.11). Quan- do executadas ao mesmo tempo, as tarefas exigem uma alta
demanda de processamento de informação, implicando na redução do desempenho em uma das
tarefas, ou em ambas3. As alterações observadas no controle mo- tor durante uma dupla tarefa, pode
ser utilizada como indício do estado
funcional em que se encontra o indivíduo12.
Muitas atividades diárias exigem desempenho de múltiplas tarefas e envolvem a integração de
habilidades cognitivas e motoras, das quais de- pende o resultado do desempenho. A capacidade de
realizar uma segunda tarefa enquanto estamos fazendo uma primeira é crucial na maioria das
atividades diárias, especialmente quando algum ato motor está envolvido, por exemplo ao andar e
conversar simultaneamente, ou mover um objeto de um lugar para outro, enquanto monitora o entorno
meio ambiente. O paradigma atual da interferência de tarefa dupla afirma que a introdução de uma
segunda tarefa durante um desempenho cognitivo ou motor leva a uma possível competição entre os
recursos atencionais disponíveis, resul- tando em uma diminuição do desempenho em qualquer das
tarefas9. As demandas de atenção de uma tarefa e os efeitos de interferência de tarefas concorrentes
podem ser influenciados por vários fatores, como a idade do sujeito, o nível de habilidade e a natureza
das tarefas envolvidas9.
Quando os indivíduos estão envolvidos em uma tarefa que exige aten- ção ao caminhar (por
exemplo, falando no celular), os recursos corticais necessários para a locomoção segura podem ficar
sobrecarregados, resul- tando em déficits na tarefa cognitiva, na estabilidade da marcha ou em
ambos. A questão dos recursos limitados é particularmente preocupante na população idosa, uma vez
que o comprometimento cognitivo tem sido associado à mobilidade reduzida e ao aumento do risco de
queda13. Srygley et al.6 citam que um número crescente de estudos recentes, têm demons- trado que
os fatores cognitivos podem influenciar a regulação da marcha e mostraram que a marcha não é
apenas uma tarefa motora, especialmente entre idosos.

Figura 1.11 - Dupla tarefa

Fonte: Autor.
Os autores6 apontam que a partir dos seus resultados, é possível con- cluir que: 1) O desempenho
cognitivo durante a caminhada não só afeta as características espaciais-temporais da marcha, mas o
inverso também é verdadeiro, mesmo entre jovens saudáveis, sendo que ato de andar altera o
desempenho cognitivo; 2) O efeito da caminhada sobre o desempenho cognitivo é muito maior entre
os idosos e depende da tarefa que está sendo realizada; e por fim, 3) As mudanças associadas à idade
na função executi- va podem explicar as dificuldades no desempenho de tarefas cognitivas ao
caminhar entre pessoas idosas. Esses fatos podem ser justificados através da teoria da partilha de
capacidade, na qual, propõe-se que a tentativa de realizar simultaneamente duas tarefas exigentes da
atenção fará com que o desempenho de uma ou ambas as tarefas sofram devido ao processamento
limitado de informações14.
Com o passar do tempo e o consequente aumento da idade, o desem- penho da dupla tarefa sofre
um decréscimo em seu desempenho esperado, podendo em um dado período sofrer uma redução no
repertório motor e aumento no número de falhas durante a execução. Este cenário pode culminar na
impossibilidade de execução da tarefa15. Tal fato pode estar diretamente relacionado com a “teoria do
gargalo”. Esta sugere que quan- do duas tarefas são executadas simultaneamente e envolvem
processos neurais, ocorre um atraso na execução de uma das tarefas e esta será exe- cutada apenas
quando os processos neurais estiverem disponíveis e pu- derem ser recrutados novamente16. Porém,
uma vez que a tarefa primária é automatizada, não se faz necessário direcionar a atenção a
movimentos primários, possibilitando que tarefas secundárias sejam executadas de for- ma conjunta às
demandas motora e cognitiva17.
A marcha é de suma importância nas atividades diárias e é alterada em muitas condições
clínicas. Portanto, é uma das tarefas motoras mais utilizadas em estudos que avaliam a influência da
dupla-tarefa, enquanto que há uma grande variação na escolha da tarefa cognitiva associada7. Os
testes de dupla tarefa podem revelar anormalidades sutis relacionadas à idade e doença no controle da
marcha, não evidentes em testes de tarefa motora única, o que justifica o interesse pelas aplicações
clínicas desses testes. Simoni et al.9 avaliaram idosos com 70 anos ou mais e observa- ram que
durante a caminhada livre com dupla tarefa, houve redução da velocidade (23%), da cadência (15%) e
do comprimento do passo (6,6%), enquanto a variabilidade do tempo de passo aumentou 82%, quando
com- parado a tarefa motora simples. Além disso, o desempenho cognitivo dimi- nuiu
substancialmente na condição de dupla tarefa, havendo 27% a menos
de respostas corretas por segundo. Este estudo mostra que, em indivíduos mais velhos, a combinação
de tarefas motoras e cognitivas resulta em um desempenho significativamente pior em ambos os
domínios.
Em um estudo recente realizado por Lo et al.18, foi investigada a as- sociação entre a co-contração
da musculatura do membro inferior e as características da marcha quando realizada em uma única e
dupla tare- fa. Participaram do estudo 56 idosos (85,4 ± 5,9 anos) submetidos a duas condições que
consistiram em realizar apenas a marcha e, realizar a mar- cha enquanto verbalizavam uma sequência
de cinco subtrações. Maiores níveis de co-contração dos músculos tibial anterior e gastrocnêmio
foram associados com redução no tamanho da passada e maior tempo em conta- to com o solo na fase
de duplo apoio durante a marcha, durante a condição de dupla tarefa. Sendo assim, os autores sugerem
que a co-contração de membros inferiores pode ser um dos fatores que explica a deficiência da
marcha associada à condição de dupla tarefa.
Gregory et al.19 realizaram um treinamento de 26 semanas com ido- sos envolvendo atividades de
dupla tarefa e concluíram que os exercícios combinados com a dupla tarefa podem melhorar o
desempenho da mar- cha. Targino et al.20 também observaram que os idosos, ao realizarem um
treinamento de quatro semanas andando na esteira com estímulos visuais (dupla tarefa), melhoraram o
equilíbrio estático. Reafirmando a importân- cia do treinamento em dupla tarefa, Voos et al.21
verificaram que o treina- mento com tarefa motora e cognitiva associadas, melhora o desempenho
tanto motor (aumento do número de passos por segundo) quanto cogniti- vo (número de erros na
tarefa visual). Dentro desta mesma linha, Silva et al.15 compararam o desempenho em tarefas
funcionais com dupla tarefa após 26 semanas de fisioterapia, e observaram que ambos os grupos apre-
sentaram redução na capacidade funcional quanto maior a complexidade da tarefa, menor foi o
desempenho dos idosos avaliados.
Hallal et al.22 submeteram 16 idosas entre 60 e 80 anos a oito sema- nas de treinamento de
equilíbrio, um grupo utilizando haste vibratória e o outro não. Os grupos foram submetidos a três
situações distintas para avaliação da marcha (todos com velocidade auto selecionada e duração de
3 minutos), sendo a primeira, marcha normal, a segunda marcha com medo de cair (com protocolo de
voz, no qual a pessoa era orientada sempre a esperar pelo surgimento de um obstáculo que, na verdade,
não existia) e a terceira, utilizando estímulo luminoso (deveriam informar a cor da lâm- pada que se
ascendia), ambas com dupla tarefa de demanda atencional. Os autores constataram que a haste
vibratória pode atuar como um instru-
mento para potencializar os efeitos do treinamento de equilíbrio sobre va- riáveis biomecânicas que
são indicadoras de aumento do risco de quedas em idosos. O grupo que utilizou a haste vibratória
apresentou um aumento do comprimento do passo em todas as condições propostas.
Deficiências na mobilidade incluindo limitações na marcha são obser- vadas com frequência em
pessoas idosas, antes mesmo de haver um diag- nóstico de comprometimento cognitivo, e ainda pode
ser um indicador precoce deste tipo de comprometimento19. A dupla tarefa, conforme citado
anteriormente, está vinculada também a um déficit em atividades cogniti- vas. Isto é nitidamente
percebido quando se observam funções executivas básicas que demandam mais atenção, memória e
estão relacionadas tam- bém à incidência de depressão12. Ao incluir uma tarefa cognitiva a uma tarefa
simples, ocorre uma redução no desempenho da tarefa primária15, tendo em vista que declínios no
desempenho estão fortemente relaciona- dos ao avanço da idade e redução da função cognitiva23.
O teste Timed Up & Go (TUG) ou levantar, andar e sentar (Figura 2.11) tem sido frequentemente
utilizado para fazer as avaliações indiretas de equilíbrio e mobilidade funcional de idosos. Shumway-
Cook et al.24 mos- tram que ao realizarem esse teste, os idosos podem ser classificados de acordo
com o tempo de realização do mesmo: ≤ 10 segundos - idosos que não apresentam alterações de
equilíbrio e nem dependências físicas; ≤ 20 segundos - idosos independentes nas transferências
básicas; e > 20 segun- dos idosos com mobilidade prejudicada e dependência em dupla tarefa e
mobilidade funcional para as atividades de vida diária. Os idosos que tem um tempo de execução do
teste superior a 20 segundos, são os que têm um maior risco de sofrer quedas. Com base nisso, Fatori
et al.25 avaliaram com esse mesmo teste, idosos nas condições de tarefa simples e dupla ta- refa com
atividade manual e/ou cognitiva, e ao realizar tarefas associadas observou-se um maior tempo de
execução do teste, independente do tipo de dupla-tarefa realizada.
Figura 2.11 - Teste Timed Up and Go (TUG) com dupla tarefa.

Fonte: Autor.

Dupla tarefa é o método mais popular para testar se a marcha requer atenção, afinal, isso envolve
desafiar as capacidades de atenção, especifi- camente a capacidade de dividir a atenção. A priori, se a
marcha é auto- mática e não requer atenção, a execução simultânea de uma tarefa adicio- nal não deve
afetar a marcha ou o desempenho da outra tarefa2. Assim, o paradigma da dupla tarefa têm sido um
dos métodos utilizados com o objetivo de estudar a automação, o locus hemisférico e a independência
estrutural dos processos, que hipoteticamente, são a base para a obten- ção de uma boa performance26.
Fatori et al.25 expõem que a dupla tarefa (motora ou cognitiva) ocorre em nível cortical e isso permite
que haja uma intervenção de uma sobre a outra. Algumas tarefas são simultaneamente executadas no
dia a dia com certa facilidade, porém a integralidade de sua ação demanda um alto processamento
neural. Em alguns casos, ao exceder a capacidade do sistema cognitivo em função da dupla tarefa, ou
quando, ambas utilizam simultaneamente os circuitos neurais específicos às ações, a tarefa pode ser
prejudicada25.
As teorias de neuropsicologia foram propostas para explicar por que existem custos de tarefas
duplas em outras situações. Três modelos teóri- cos foram desenvolvidos a fim de explicar a
interferência na dupla tarefa:
• A teoria da capacidade - ou teoria do compartilhamento de recur- sos (the capacity model),
baseia-se no pressuposto de que os re- cursos atencionais são limitados, levando ao prejuízo
na execução de uma ou das duas tarefas quando a capacidade de processamento é excedida.
Quando o tempo entre a apresentação de dois ou mais estímulos é reduzido, o tempo de
processamento será aumentado devido às limitações da capacidade compartilhada. Essa teoria
pres- supõe que é possível alocar voluntariamente capacidade para uma tarefa específica,
mesmo quando ambas as tarefas são aprendidas em excesso e amplamente automáticas2.
• A teoria da comunicação cruzada (the cross-talk model) explica que tarefas semelhantes
utilizam as mesmas vias, diminuindo assim o risco de interferência na dupla tarefa. Uma
dessas teorias afirma que se duas tarefas não compartilharem recursos comuns, a interfe-
rência de dupla tarefa não ocorrerá. Por outro lado, a teoria do cros- s-talk postula que, se
ambas as tarefas são de um domínio similar e usam as mesmas populações neuronais, elas
não perturbam umas às outras2.
• A teoria do gargalo (the bottleneck model), em contraposição à te- oria anterior, afirma que
tarefas semelhantes competem pelas mes- mas vias de processamento, gerando prejuízo na
realização de uma ou das duas tarefas27. Se duas tarefas são processadas pela mesma via
neural ou redes, um gargalo é criado no processamento da infor- mação. O processamento da
segunda tarefa será atrasado até que o processador esteja livre de processar a primeira tarefa.
Isso explica atrasos nos tempos de reação da segunda tarefa em função do inter- valo
temporal na apresentação dos dois estímulos. Alguns pesqui- sadores sugerem que um atraso
pode ocorrer apenas no estágio de seleção de resposta2.

Atualmente, não há consenso sobre a teoria que melhor explica o pro- cessamento de informações
humanas e os custos de tarefas duplas. Em pessoas com patologias neurológicas, os principais
modelos teóricos res- ponsáveis pela interferência de dupla tarefa são o modelo de capacidade e o
modelo de gargalo28. O modelo de capacidade baseia-se no pressuposto de que os recursos de atenção
são limitados. Portanto, quando as pessoas
executam simultaneamente duas tarefas, a atenção deve ser dividida entre as tarefas. A interferência
de tarefa dupla ocorrerá somente se a capaci- dade de recursos disponível for excedida, resultando em
um declínio no desempenho em uma ou ambas as tarefas. De acordo com o modelo de gar- galo,
tarefas semelhantes executadas simultaneamente causam uma inter- ferência de “gargalo”, uma vez
que competem pelo uso das mesmas vias.
Outro ponto importante que deve ser levado em consideração são os efeitos das diferentes tarefas
cognitivas impostas durante a dupla tarefa. Os efeitos globais da interferência da dupla tarefa
mudam dependendo da tarefa cognitiva específica aplicada29 e, consequentemente, estudos de
neuroimagem mostraram que tarefas verbais, aritméticas ou visuoespa- ciais induzem ativação de
memória de trabalho diferente e demanda de atenção espacial30–32. Além disso, tarefas pertencentes ao
mesmo domí- nio cognitivo, mas de crescente dificuldade, têm efeitos progressivamente maiores nos
testes de dupla tarefa33. De acordo com Al-Yahya et al.34, para avaliar as tarefas cognitivas, cinco
domínios gerais foram definidos, onde cada um é plausivelmente distinto dos outros domínios, em
relação com- portamental e /ou cognitivo:
• Tarefas de tempo de reação: tarefas que envolvem medir o tempo decorrido entre um
estímulo sensorial e uma resposta comporta- mental, costumam ser usadas para medir a
velocidade de processa- mento, onde um processamento lento pode estar subjacente a um
déficit de atenção34;
• Tarefas de discriminação e tomada de decisão: tarefas que exigem atenção seletiva a um
estímulo ou recurso específico e respondam em conformidade; costumam ser usadas para
examinar a atenção e a inibição da resposta, como o paradigma Stroop 34;
• Tarefas de rastreamento mental: tarefas que exigem a manuten- ção de informações na
mente ao executar um processo mental, cos- tumam ser usadas para examinar a atenção
sustentada e a velocida- de de processamento da informação34;
• Tarefas de memória de trabalho: tarefas que exigem a manuten- ção de informações na
mente que está disponível para processa- mento, a diferenciação entre a memória de trabalho
e as tarefas de rastreamento mental foi adaptada a partir de estudos de imagem cerebral. As
tarefas que exigem a manutenção de informações ape- nas foram classificadas em tarefas de
memória de trabalho, enquan- to que aquelas que requerem informações de retenção
associadas à manipulação pertencem à categoria de rastreamento mental34;
• Tarefas de fluência verbal: referem-se a tarefas que exigem a pro- dução de palavras
espontaneamente e em condições de pesquisa pré-especificadas, que recentemente foram
usadas para examinar funções executivas34.
As tarefas cognitivas que envolvem fatores de interferência internos (por exemplo, rastreamento
mental) parecem perturbar mais o desempe- nho da marcha do que aquelas que envolvem fatores
interferentes exter- nos (por exemplo, tempo de reação). É provável que tarefas cognitivas, como
rastreamento mental e fluência verbal, compartilhem redes neurais complexas conectando diferentes
regiões cerebrais, que estão interligadas com as do controle da marcha e a demanda por tarefas
cognitivas pode ser suficiente para interferir nessas redes e, portanto, atrapalhar a marcha. Em
contraste, as tarefas cognitivas que envolvem fatores de interferência externa (por exemplo, tarefas de
tempo de reação) compartilham redes de ordem inferior “impulsionadas por estímulo” com aquelas do
controle de marcha e, portanto, menos interferência em comparação com redes com- partilhadas de
alta ordem34.

Avaliações biomecânicas e dupla tarefa na doença de


parkinson

Evidências apontam que mais de 4 milhões de pessoas dentre toda a população mundial estão
acometidos pela doença de Parkinson e este va- lor tende a dobrar nos próximos doze anos12.
Aproximadamente, 1% da população com mais de 65 anos é acometida pela doença. O Parkinson
caracteriza-se como uma doença degenerativa que atinge o sistema ner- voso central e tem caráter
progressivo. Acomete os gânglios da base, local onde se verifica o maior decréscimo progressivo de
neurônios da porção mais compacta da substância negra3. A etiologia da doença não é específi- ca.
Diversos fatores são relacionados com sua ocorrência, como exemplo, é possível citar fatores
genéticos, aterosclerose, fatores ambientais dentre outros35. Ademais, outra consequência do
surgimento da doença está dire- tamente relacionada com a redução acentuada de neurônios
dopaminérgi- cos desta região16, haja vista que 80% das células morrem antes mesmo do surgimento
dos primeiros sinais da doença de Parkinson36. As decorrentes alterações no controle motor tornam-se
notáveis e resultam em tremor de repouso, rigidez, bradicinesia, alterações posturais e distúrbios do
equilí- brio e marcha, dentre outros sintomas37. Devido à variabilidade com que a doença de
Parkinson evolui, Hoehn e Yahr38 desenvolveram uma clas-
sificação de cinco estágios que caracterizam o grau de dependência dos pacientes e essa escala
vem sendo utilizada até hoje.
Sabe-se que os pacientes com Parkinson podem gerar padrões de mo- vimentos normais quando
se focalizam no desempenho, ou seja, quando pensam para executar os movimentos39. Desse modo,
eles são capazes de ativar a região do córtex pré-motor, que está intacto, sem recorrer ao cir- cuito dos
núcleos da base que se encontram deficitários, e isso auxilia na execução dos movimentos. Em
situações de dupla tarefa, a utilização des- ses recursos corticais para a realização de tarefas motoras
pode compro- meter o desempenho de ambas. Grande parte das pessoas acometidas pela doença de
Parkinson apresentam alterações e comprometimentos (i.e. dificuldades de interação entre os sistemas
responsáveis pelo equilíbrio corporal) que fatidicamente pode culminar em quedas36.
Alguns testes de dupla tarefa tentam mimetizar situações reais na vida de pessoas com Parkinson.
No estudo de Fernandes et al.40, por exemplo, foi avaliada a estabilidade de controle postural, através
do deslocamento do centro de pressão, em nove indivíduos saudáveis (63,89 ± 8,09 anos) e nove
indivíduos com Parkinson (66 ± 8,22 anos), ao realizarem uma única tarefa (teste de sentar, levantar e
sentar) e um teste de dupla tarefa, que consistiu no teste de sentar, levantar e sentar, associado ao teste
de Stroop de cores e palavras, o qual resume-se em nomear a cor em vez de ler a pa- lavra que é
apresentada ao avaliado. Após o protocolo experimental, os au- tores observaram que os indivíduos
com Parkinson despendiam um tempo maior na realização do teste na condição de dupla tarefa, em
relação aos indivíduos saudáveis, além dos deslocamentos do centro de pressão ante- roposterior e
mediolateral serem maiores nos indivíduos com Parkinson, comparados aos indivíduos saudáveis e na
condição de dupla tarefa. Os autores do estudo afirmam que indivíduos com Parkinson apresentaram
redução da estabilidade do controle postural em uma tarefa de vida diária costumeira, como sentar e
levantar, especialmente sob uma condição de dupla tarefa40.
Outro estudo que investigou os efeitos de uma tarefa cognitiva sobre a ocorrência de quedas e
congelamento da marcha em resposta a uma per- turbação postural foi realizado por Jacobs et al.41. Os
autores submeteram dez indivíduos com Parkinson e dez indivíduos saudáveis a um teste de
deslocamento para trás que poderia estar associado ou não a uma segun- da tarefa, a qual consistia em
listar verbalmente itens de uma categoria definida pelos avaliadores. Após o protocolo experimental,
os autores ob- servaram que o deslocamento, quando associado com a tarefa cognitiva,
aumentou significativamente a incidência de quedas no grupo com Parkin- son, sem relato desse
evento no grupo de indivíduos saudáveis, concluindo que para prevenir quedas, pessoas com
Parkinson devem evitar a realiza- ção da marcha em condições de dupla tarefa.
Em estudo realizado por Fuller et al.42, foi investigado se a marcha es- tava associada a
deficiências e comprometimentos decorrentes da doença de Parkinson. Participaram do estudo 154
pacientes com Parkinson (64,3
± 9,4 anos), classificados com incapacidade de leve a moderada pela escala de Hoehn e Yahr, que
foram submetidos a um teste motor (marcha), teste cognitivo (verbalização do maior número de
palavras que inicia com a letra sorteada) e, a execução simultânea do teste motor e teste cognitivo. Os
au- tores observaram que o desempenho da marcha foi prejudicado em condi- ções de dupla tarefa
(motor + cognitivo) e que o grau de comprometimento e severidade da doença têm correlação com a
diminuição do desempenho, ou seja, quanto maior o grau de severidade da doença, pior foi o
desempe- nho do indivíduo. Assim, os autores sugeriram que o teste de dupla tarefa, envolvendo uma
tarefa motora (marcha) e uma tarefa cognitiva de fluência verbal, pode ser um instrumento sensível
para detecção precoce de incapa- cidades relacionadas à doença de Parkinson e que pessoas com essa
doen- ça, em seu dia a dia, devem priorizar a marcha e não a tarefa cognitiva, em condições de dupla
tarefa42.
Nesse sentido, Fok et al.43 examinaram os efeitos de uma estratégia de priorização da marcha em
pessoas com doença de Parkinson, divididos em grupo experimental (n= 6; 66,8 ± 9 anos) e grupo
controle (n= 6; 55,7
± 12,3 anos). O grupo experimental recebeu uma intervenção terapêutica de 30 minutos, em que
foram instruídos a priorizar a tarefa de marcha enquanto realizavam uma sequência de três subtrações,
e o grupo controle não recebeu nenhuma intervenção. Os resultados do estudo indicaram que o
tamanho da passada e a velocidade de marcha aumentaram significati- vamente no grupo
experimental em relação ao grupo controle, mostrando que para pessoas com Parkinson melhorarem a
execução, devem priorizar a marcha como tarefa principal. Esses achados vão de encontro ao obser-
vado por Canning44, que submeteu 12 indivíduos com Parkinson (65,4 ±
10,4 anos) a 4 condições: 1) caminhar com as mãos livres; 2) caminhar se- gurando uma bandeja com
taças; 3) caminhar com atenção voltada à tarefa de marcha e; 4) caminhar segurando uma bandeja com
taças, porém com atenção voltada à tarefa de marcha. Após a aplicação dos testes, foi obser- vado que
quando os indivíduos foram instruídos a dirigir a atenção para a marcha, eles conseguiam caminhar
mais rápido e com passadas mais
longas, tanto na condição de uma única, quanto em dupla tarefa.
Com uma proposta metodológica similar, o estudo de Rochester et al.45 avaliou os efeitos de
interferência na marcha em situações de vida diárias sob condições de uma única e dupla tarefa. Vinte
indivíduos com Parkin- son (64,6 ± 7,96 anos) e dez indivíduos saudáveis (63,5 ± 7,03 anos) foram
avaliados em 4 condições: 1) realizar a marcha; 2) realizar a marcha e pe- gar uma bandeja com duas
xícaras, voltar ao ponto de partida, repousar a bandeja e sentar; 3) realizar a condição anterior e
verbalizar ao avaliador uma situação vivenciada similar ao teste e; 4) realizar a marcha e verbalizar
apenas uma situação vivenciada similar ao teste. Ao final do experimento, foi observada uma redução
da velocidade de marcha e do comprimento da passada nos indivíduos com Parkinson nas condições 3
e 4, ou seja, nas condições de multitarefa e dupla tarefa (motora + cognitiva).
Já no estudo de Heinzel et al.46, foi observado o efeito de dois tipos de dupla tarefa, cognitiva e
motora, como instrumento preditivo de futuras quedas em indivíduos com Parkinson. Quarenta
participantes foram sub- metidos a 3 condições: 1) caminhar 20 metros o mais rápido possível, 2)
realizar a caminhada enquanto assinala 32 itens em uma prancheta com a mão dominante e, 3)
caminhar ao mesmo tempo que realiza 10 subtrações verbalizando o resultado ao avaliador. Os
participantes foram questiona- dos quanto a eventos de quedas previamente à aplicação do estudo e
após o protocolo experimental, e foi observado que o teste de caminhar enquan- to assinala itens teve
71,4% de sensibilidade e 77,3% de especificidade em identificar esses indivíduos, mostrando que
duplas tarefas motoras podem ser ótimos instrumentos na predição de quedas em pessoas com Parkin-
son.
Assim como uma dupla tarefa motora ou uma dupla tarefa envolvendo atividade motora e
cognição, há estudos que relacionam a atividade moto- ra e distúrbios externos como o som. Isso pode
ser observado no estudo de Brown et al.47, que investigaram o efeito da música como tarefa concorren-
te a marcha em 10 indivíduos com Parkinson (67 ± 7 anos) e 10 indivíduos saudáveis (65 ± 6 anos).
Os participantes foram submetidos a 4 diferentes condições: 1) realizar a marcha; 2) realizar a
marcha escutando música;
3) realizar a marcha e verbalizando uma sequência de 3 subtrações e; 4) realizar a marcha, escutando
música e verbalizando uma sequência de 3 subtrações. O resultado da pesquisa indicou que a marcha
dos indivíduos com Parkinson foi prejudicada nas condições com música, observada atra- vés da
diminuição da velocidade da marcha e tamanho da passada, o que não ocorreu com o grupo de
indivíduos saudáveis.
Outro estudo interessante de Teixeira e Alouche3 analisou o desem- penho de dez indivíduos com
Parkinson e dez indivíduos saudáveis, na realização de uma única e dupla tarefa. Foi solicitado aos
participantes que vestissem uma camisa de botões o mais rápido possível como uma única tarefa e que
executassem essa mesma tarefa enquanto verbalizavam nomes próprios femininos, ou seja, uma dupla
tarefa. Após a execução dos testes, foi observado que os indivíduos com Parkinson levaram mais tem-
po para completar ambas as tarefas e que tanto eles quanto os indivíduos saudáveis cometeram mais
erros na dupla tarefa.
As avaliações que envolvem dupla tarefa, assim como avaliações da marcha e equilíbrio possuem
uma relevância clínica no auxílio de pro- fissionais ligados à reabilitação de pessoas com doença de
Parkinson, a fim de identificar diferentes distúrbios e garantir referências para reabi- litação48. Por
meio desse compilado de estudos, pode-se observar que a marcha, quando realizada em condições de
dupla ou multitarefas, é pre- judicada e pode dificultar as atividades cotidianas de pessoas com
Parkin- son. Esse fato corrobora com a sugestão de Canning44, o qual cita que o desempenho nas
situações de vida diárias em pessoas com Parkinson que envolvem dupla tarefa pode ser melhorado a
partir da manipulação de ins- truções específicas, deve-se focar a atenção na atividade prioritária, em
específico na marcha, evitando-se assim eventos de queda ou congelamen- to da marcha. Os
paradigmas de tarefa dupla fornecem suporte adicional no controle automático da marcha, levando a
uma maior variabilidade ao caminhar. Este aumento do custo da dupla tarefa em pessoas com doença
de Parkinson sugere que a marcha requer mais atenção e controle voluntá- rio do que em indivíduos
saudáveis, resultando em maior variabilidade de desempenho dessa tarefa.
Baker et al.49 compararam a influência de diferentes estímulos duran- te a realização do teste
funcional com e sem dupla tarefa em indivíduos com Parkinson e grupo controle. O teste funcional de
levantar e andar foi realizado sob duas condições distintas: 1) tarefa simples (andar sozinho), e 2)
tarefa dupla (andar e carregar uma bandeja com duas xícaras). Os estímulos utilizados durante o teste
foram: 1) Auditivo Rítmico (caminhar no tempo da batida do metrônomo); 2) Atenção (dar grandes
passos); 3) Combinada (dar grandes passos no ritmo do metrônomo). A estratégia de atenção e a
combinada resultaram em grandes melhorias tanto na veloci- dade da marcha (~10% / 1,03 cm/s)
quanto na amplitude do passo (~15%
/ 2 cm). O estímulo auditivo rítmico, quando sozinho e a 10% abaixo da frequência de passos
preferida, melhorou a amplitude do passo, mas a me-
lhora não foi significativa.
Corroborando, Nieuwboer et al.50 demonstraram em sua revisão de literatura, que o uso de
informações sensoriais adicionais pode otimizar o aprendizado motor na doença de Parkinson. Há
evidências abundantes de que as pistas ajudam a obter melhor desempenho de movimento e que esses
efeitos são mantidos mesmo após a retirada, possivelmente indican- do os primeiros sinais de
consolidação. Apesar dos benefícios de adotar métodos explícitos de aprendizado, informações
sensoriais e dicas, parti- cularmente nos estágios mais avançados, há um risco de desenvolvimento de
dependência de pistas. Isso implica que os profissionais precisam cons- truir um estágio de dissociação
da aprendizagem à informação sensorial aumentada ou fornecer pontos de referência permanentes e
dicas para ex- plorar os incrementos de aprendizado.
Penko et al.51 ao avaliarem a marcha de indivíduos com doença de Parkinson com e sem a
dupla tarefa observaram que a marcha declina em todos os parâmetros espaço-temporais, com exceção
da variabilidade da largura do passo e da variabilidade do tempo da passada. Esse fato su- gere que
indivíduos com a doença em nível leve a moderado apresentam uma piora generalizada dos
parâmetros espaço-temporais da marcha, in- dependentemente do grau de dificuldade da tarefa.
Independentemente do tipo de tarefa executada simultaneamente (i.e., tarefas de memória,
processamento de informação, memória viso espacial ou verbal), ocorrem decréscimos no
desempenho de marcha, enquanto o desempenho cogni- tivo é preservado. Outro achado importante é
que a velocidade da marcha mudou de uma média de ~1,24 m/s durante a tarefa única para ~1,10 m/s
durante todas as condições de dupla tarefa. Essa redução substancial na velocidade da marcha ao
passar de condições de tarefa única para tarefa dupla, preservando o desempenho cognitivo, indica
que, em indivíduos com doença de Parkinson, os gânglios da base são incapazes de processar
adequadamente as demandas motoras e cognitivas em condições de dupla tarefa, aumentando o risco
de queda.
Na doença de Parkinson, a degeneração nos gânglios da base afeta tan- to o trato motor quanto o
cognitivo. A hipótese dos recursos limitados aju- da a explicar os déficits de dupla tarefa observados
no estudo de Penko51 e colaboradores. Essa hipótese sugere que, como a cognição e a função motora
têm redes neurais paralelas e sobrepostas dentro do sistema ner- voso central, há uma competição
pelos mesmos recursos limitados. Quan- do uma tarefa requer uma demanda ou recursos maiores, o
desempenho em uma ou ambas as tarefas, é reduzido. Como a marcha se deteriorou sob
todas as condições de tarefa dupla, pode-se concluir que todos os aspectos da cognição desempenham
um papel na execução da marcha, com atenção e resolução de problemas, talvez exigindo mais
recursos cognitivos desses indivíduos51.
Déficits cognitivos são comuns na doença de Parkinson e exacerbam as limitações funcionais
impostas pelos sintomas motores marcantes da doença, incluindo deficiências na marcha. Salazar et
al.52 tiveram como ob- jetivo investigar a relação entre marcha e função executiva. A dupla tarefa teve
um efeito significativo na cognição (redução na mudança de atenção) e na caminhada (velocidade,
comprimento da passada), tanto para o gru- po com Parkinson quanto para os saudáveis, e na
frequência de passada apenas para grupo com Parkinson. Os resultados sugerem que a avaliação e o
tratamento da doença de Parkinson devem considerar os componentes cognitivos e de marcha dos
déficits relacionados à doença em condições de dupla tarefa.
O’Shea et al.39 determinaram a gravidade da interferência de dupla tarefa. Para tal fim, os
autores utilizaram o teste de marcha (1) a uma ve- locidade auto selecionada, (2) enquanto realizava
simultaneamente uma tarefa motora (transferência de moeda), e (3) enquanto realizava simul-
taneamente uma tarefa cognitiva (subtração de dígitos). Pode-se observar que durante a tarefa
simples o comprimento médio da passada (1,29 m
- 1,51m), a velocidade média da marcha (71,47 m/min - 87,29 m/min) e a cadência média (110,79
passos/min - 115,81 passos/min) foram menores no grupo com Parkinson quando comparado ao
grupo controle. Ambos os grupos reduziram o comprimento e a velocidade do passo, quando tive- ram
que mudar de desempenho não prioritário para desempenho de tarefa dupla e para o grupo com a
doença, a cadência também diminuiu. Para ambos os grupos, o tipo de tarefa secundária teve um
efeito insignificante no decréscimo de desempenho, o que nos leva a crer que o tipo de tarefa
secundária não é um dos principais determinantes da gravidade da inter- ferência de dupla tarefa.
Na fase prodrômica (período de tempo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos sinais
ou sintomas com base nos quais o diagnóstico pode ser estabelecido) da doença de Parkinson, o
paradigma da dupla tare- fa é usado para esgotar as estratégias de compensação que visam preservar a
função motora quando o sistema dos gânglios da base é alterado53. Os autores expõem que a doença
de Parkinson possui uma fase pré-diagnós- tica longa na qual o controle da marcha sob condições de
dupla tarefa já é alterado (observado no quadro 1.11). O paradigma da marcha com dupla
tarefa mostrou benefício: para explorar o envolvimento do nível cortical no controle da marcha,
permitindo avaliar se o controle da atenção execu- tiva está ou não anormalmente comprometido; nas
estratégias de compen- sação de escape visando à preservação da função motora quando o sistema
ganglionar basal está alterado, como na doença de Parkinson prodrômica. Desta forma, em conjunto, é
compreensível que a marcha com dupla tare- fa possa ser uma ferramenta útil para revelar déficits
invisíveis durante a marcha em uma única tarefa e, portanto, ser um preditor particularmente sensível
da doença de Parkinson.

Quadro 1.11 - Alterações da marcha relacionadas à dupla tarefa nas fases prodrômica e clínica.

Domínios de Fase Clínica Fase


Marcha Prodrômica
↓ velocidade de marcha ↓ velocidade de
↓ comprimento da passada marcha
Ritmo de ↑ variabilidade do tempo de ↑ variabilidade
desempenho passada do
↑ variabilidade do tempo de tempo de passada
oscilação
↑ cadência
Ritmo ↓ tempo de balanço
(parâmetros ↑ tempo de apoio -
temporais) ↑ tempo de passada
Fase
(parâmetros ↑ tempo de duplo suporte -
temporofásicos)
Assimetria ↑ assimetria tempo passada -
Variabilidade ↑ variabilidade do
(parâmetros do ciclo comprimento da passada -
↑ variabilidade da largura da
da marcha)
passada
Controle Postural ↑ largura do passo
↑ assimetria comprimento da -
(base de suporte) passada
↓ amplitude do
balanço do braço
↓ amplitude do balanço do ↑ assimetria do
Parâmetros do braço balanço do braço
balanço ↑ assimetria do balanço do ↑ variabilidade
braço do balanço do
do braço
↑ variabilidade do balanço do braço
braço

Fonte: Adaptado de Belghali et al.53


Conforme já citado anteriormente neste capítulo, atividades que en- volvem dupla-tarefa
permeiam o desempenho das funções humanas em seu dia a dia. De acordo com o tipo de atividades
desempenhadas, a dupla tarefa pode ser motora, cognitiva ou cognitivo-motora. Uma estratégia de
reabilitação cada vez mais utilizada é o treinamento de dupla tarefa, que visa facilitar, por meio da
realização de atividades funcionais simultâneas, a alocação de recursos atencionais, diminuindo assim
a interferência na dupla tarefa.

Efeitos do treinamento com dupla tarefa na doença de parkinson

Nos últimos anos, tem aumentado consideravelmente a quantidade de pesquisas desenvolvidas


utilizando dupla tarefa em variadas situações e com diferentes populações. Como resultado, tais
investigações têm evi- denciado que o treinamento utilizando dupla tarefa representa uma estra- tégia
de tratamento ou melhora da capacidade funcional. O treinamento com dupla tarefa pode ser utilizado
como uma estratégia de reabilitação, levando em consideração que o objetivo principal é fazer o uso
de ativi- dades funcionais executadas de forma simultânea, para realocar recursos atencionais e
diminuir a interferência na execução da dupla tarefa27.
A priorização da marcha em situação de dupla tarefa, apresenta-se como um outro cenário de
treinamento possível visando prover melho- ria na performance da marcha. Recomendações
anteriores sugerem que seja evitado o uso de dupla tarefa com estratégia de atenção em pessoas com
doença de Parkinson de leve a moderada e sem comprometimento cognitivo. Porém, isso não se aplica
a todos os indivíduos, pois em alguns, o treinamento com priorização foi capaz de prover ganhos
imediatos na marcha, podendo ainda ser inserido em programas de reabilitação visando alcançar
efeitos crônicos43.
Corroborando, em uma revisão sistemática realizada por Santos et al.16, os autores constataram
que diferentes tipos de treinamento utilizan- do dupla tarefa (estímulos sonoros, visuais,
somatossensoriais) são capa- zes de provocar a ocorrência de melhorias em vários aspectos, que estão
relacionadas à marcha. Os principais benefícios estão relacionados com a melhora da velocidade,
tempo de passada, cadência e comprimento do passo. Adicionalmente, os estudos identificaram que
estímulos externos desempenham um papel importantíssimo no treinamento com marcha, utilizando
dupla tarefa, pois esse tipo de estímulo parece diminuir a inter-
ferência de tarefas adicionais na melhoria do padrão de marcha.
Brauer e Morris54 realizaram um estudo com indivíduos com doença de Parkinson que foram
submetidos à avaliação da marcha de forma simples sob uma passarela eletrônica e em outras seis
situações diferentes de dupla tarefa (por atividades de manipulação, posturais, visuais, cálculos,
lingua- gem, dentre outros), antes e imediatamente após uma sessão de treino de
20 minutos com foco na melhoria da duração do passo, ao mesmo tempo executando tarefas de
linguagem de memória - geração e associação de palavras - e de contagem - direta e reversa de dois e
cinco segundos - com respostas verbais. A ordem dos testes foi proposta de forma randomiza- da
para cada participante. A especificidade do treinamento de caminhada foi evidente e melhorias foram
específicas no comprimento do passo. A velocidade de caminhada e a cadência não foram treinadas e
menos me- lhorias nesses parâmetros ocorreram após o treinamento. Além disso, a descoberta de que
pessoas com a doença têm o potencial de adaptação de habilidades motoras no curto prazo sugere que,
em pessoas com grau leve da doença, pode ser útil desenvolver programas de treinamento de marcha
que as ensinem a andar enquanto realizam tarefas simultâneas, ao invés de ensiná-las a evitar tarefas
duplas. De modo geral, o estudo evidenciou que a prática permite que pessoas com doença de
Parkinson deem pas- sos maiores enquanto executam uma tarefa adicional ou seja, conforme já
exposto anteriormente ao enfatizar a variável da marcha no treinamento de dupla tarefa, observa-se
uma maior transferência de habilidade para execução destas tarefas no cotidiano54.
Seguindo nesta linha de treinamento utilizando a marcha, foi desen- volvido um estudo piloto11
que utilizou uma estratégia com dupla tarefa em pacientes com doença de Parkinson. Os participantes
foram subme- tidos a um protocolo com seis situações diferentes, onde a primeira foi apenas marcha
simples no ritmo em que eles costumavam andar diaria- mente e nas demais, além da marcha foi
utilizado fluência verbal, cálculos e tarefas cognitivas. Para a intervenção, foi adotado um modelo
de trei- no chamado Task-specific training, que consiste em desenvolver o treino especificamente
voltado para a função que se pretende trabalhar (dupla tarefa e marcha, neste caso). A partir deste
treinamento aplicado, o estu- do encontrou resultados que apontam que houve melhorias significativas
na velocidade da marcha, superando resultados anteriores. Resultado este que indica reprodutibilidade
deste método de treino para pessoas com do- ença de Parkinson no ambiente clínico11.
Visando identificar qual a melhor estratégia para o treinamento,
Strouwen et al.55 compararam a eficiência de dois modelos diferentes de treino com dupla tarefa e
avaliaram os riscos de queda de cada método. Os pacientes foram submetidos a seis semanas de
treinamento, utilizando de forma randômica um método onde se treinava marcha e tarefas cognitivas
de forma separada e o outro grupo realizava as tarefas de forma simultâ- nea. O risco de queda foi
avaliado semanalmente por telefone durante 24 semanas. Os resultados encontrados apontam que não
houve mudanças no risco de quedas ao longo do estudo, porém em contraponto, foram en- contradas
melhorias na velocidade da marcha com dupla tarefa embora não tenham sido verificadas diferenças
entre os dois modelos de treino.
Geroin et al.56 submeteram 121 pacientes com doença de Parkinson a treinamento, onde 1) tarefas
cognitivas e a marcha foram treinadas sepa- radamente, e 2) tarefas cognitivas e a marcha foram
treinadas simultane- amente. Ambos os grupos receberam 24 sessões de fisioterapia em casa por seis
semanas consecutivas. Previamente ao período de treinamento, duas medições de linha de base foram
realizadas, para serem utilizadas como período controle (seis semanas). A marcha foi avaliada sob três
di- ferentes condições 1) não treinada, 2) tarefa simples, e 3) dupla tarefa. Ambas as modalidades de
treinamento tiveram um efeito comparável nos parâmetros espaço-temporais da marcha. Houve
aumento pós-treino no comprimento da passada e na cadência nas condições de tarefa única e du- pla.
Nenhuma mudança significativa foi encontrada para a variabilidade da marcha em condições de
tarefa única e dupla. Ambos os treinamentos, integrados ou não, são seguros e eficazes na melhoria
de vários parâme- tros espaço-temporais da marcha em condições de tarefa simples s dupla tarefa.
Fok et al.57 examinaram os efeitos da divisão da atenção entre a ca- minhada e o desempenho de
uma tarefa cognitiva secundária em pessoas com doença de Parkinson leve a moderada. Os
participantes do grupo de treinamento receberam 30 minutos de treinamento de atenção dividida
(deviam dar grandes passos enquanto simultaneamente realizavam três subtrações em série). Os
autores observaram uma melhora imediata no comprimento da passada e na velocidade da marcha,
quando a instrução foi dada aos participantes para prestarem igual atenção à marcha e sub- trações em
comparação com a marcha simples (linha de base). A melhora de curto prazo nas variáveis da marcha
também foram encontradas após o treinamento, quando comparada aos controles. No entanto, não
houve di- ferenças na taxa de enumeração precisa. Com base nos achados, é possível concluir que a
atenção dividida pode ser usada como uma estratégia para
melhorar a marcha lenta e curta em condições de dupla tarefa. A atenção dividida também pode ser
usada no treinamento de marcha para o com- primento da passada e melhora da velocidade da marcha.
Algumas conclusões podem ser destacadas, ocomprometimento do desempenho de dupla tarefa
durante a marcha tem consequências inca- pacitantes para as atividades da vida diária. De fato, o
desempenho pre- judicado da tarefa dupla tem se mostrado correlacionado com um risco aumentado
de quedas, redução das habilidades funcionais e diminuição da qualidade de vida. Desta forma,
ressalta-se a importância de futuras intervenções buscando maiores evidências sobre quais parâmetros
são alterados com utilização da dupla tarefa, assim como, maiores pesquisas evidenciando qual das
teorias da neuropsicologia melhor explica os acha- dos sobre as alterações na marcha, quando
executada em concomitância com outra tarefa. Fica o questionamento para futuros estudos: Além da
marcha, outras tarefas são influenciadas quando feitas simultaneamente a outra, seja ela cognitiva ou
motora?.

Aplicações práticas

• Avaliações utilizando dupla tarefa mostram-se importantes no sentido de quantificar o


comprometimento motor, bem como, con- tribuir com o trabalho de profissionais que atuam
na reabilitação de pessoas com Parkinson;
• Atividades motoras executadas com dupla tarefa implicam em alta demanda de
processamento de informações, e a utilização ocasiona a redução do desempenho (geralmente
a tarefa motora é priorizada) em uma das tarefas;
• A dupla tarefa aumenta o risco de quedas em idosos frágeis ou que sofrem de alguma
patologia como a doença de Parkinson;
• O treinamento com tarefa motora e cognitiva associadas, melhora o desempenho tanto
motor (aumento do número de passos por se- gundo) quanto cognitivo (número de erros na
tarefa visual).
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308
CAPÍTULO XII
AVALIAÇÃO BIOMECÂNICA EM USUÁRIOS DE CADEIRA DE RODAS: RESPOSTAS
À DEMANDA MECÂNICA DOS MEMBROS SUPERIORES

Grazieli Maria Biduski Bruna


Barboza Seron Cíntia de la Rocha
Freitas

O que você irá encontrar:

• Contextualização geral de quem são os usuários de cadeira de ro- das, bem como os tipos de
deficiências que podem levar a essa con- dição e demais aspectos relacionados a saúde e
qualidade de vida;
• A importância dos membros superiores para a manutenção da in- dependência das atividades
diárias para a pessoa que utiliza cadeira de rodas;
• Possíveis lesões nos usuários de cadeira de rodas em decorrência da alta demanda do membro
superior ao realizar as tarefas diárias;
• Análises biomecânicas em usuários de cadeira de rodas: medidas de cinemática, cinética,
eletromiografia e de eletroestimulação;
• Conjunto de estudos que trazem evidências da importância das avaliações biomecânicas para
a melhora da qualidade de vida, pre- venção de lesões e para o desempenho nos usuários de
cadeira de rodas.

Introdução

A cadeira de rodas é, para muitas pessoas, a melhor maneira de garan- tir a mobilidade e a
independência das atividades da vida diária (AVD’s)1. É considerado usuário de cadeira de rodas toda e
qualquer pessoa com diferentes deficiências neuromusculoesqueléticas que estão impossibilita- das de
deambular2. Com a prática diária de propulsão, os usuários acabam desenvolvendo um padrão propulsivo
único. Frequentemente, esses mo- vimentos não são econômicos e acarretam em altas demandas
mecânicas aos membros superiores, resultando em lesões pelo uso repetitivo da ca- deira de rodas3.
Por outro lado, o movimento propulsivo contribui para que a força muscular do membro superior
seja preservada3 auxiliando-o na manuten- ção do condicionamento físico como parte das atividades
cotidianas4. Com
a capacidade física melhorada, é possível trabalhar, estudar e participar de diferentes atividades,
porém, sem o uso de cadeira de rodas, as pessoas poderiam ficar condicionadas a uma vida totalmente
sedentária e propen- sas a desenvolver diversas complicações secundárias agravando o estado de
saúde5.
Não somente os prejuízos nas condições físicas, mas também nas con- dições psicológicas têm
colaborado para um estado deletério da saúde de pessoas com diferentes deficiências. Estudos
recentes demonstram que a depressão está fortemente presente nessa população6,7 atingindo cerca de
30% em pessoas com amputação ou lesão medular. Essa situação é ainda mais crítica no primeiro ano
após o trauma, que revela que parte destes indivíduos (15%) pensaram em suicídio.
Usar os membros superiores, ao invés dos inferiores, causa uma gran- de mudança na vida das
pessoas, provocando uma série de adaptações motoras8, fisiológicas9, biomecânicas10 e psicológicas7.
Conhecer essas adaptações são importantes para traçar estratégias tanto para melhorar a qualidade de
vida e saúde, quanto o desempenho esportivo. Portanto, pes- quisas científicas são fundamentais para a
elaboração de novas estratégias que possam contribuir e modificar de forma positiva a vida de
usuários de cadeira de rodas.
Sendo assim, ao longo deste capítulo serão abordadas pesquisas na área da biomecânica com foco
para os usuários de cadeiras de rodas. Ini- cialmente para melhor compreensão, será apresentada uma
contextuali- zação geral dessa população, a fim de caracterizá-la. Em seguida, serão discutidas as
possíveis lesões nos membros superiores que podem ocorrer devido à mobilidade de cadeira de rodas
e às tarefas diárias. Ao final deste capítulo, serão apresentados diferentes métodos de avaliação em
biomecâ- nica referenciados pela literatura nacional e internacional, a fim de trazer uma ideia das
pesquisas voltadas para as pessoas com alguma deficiência que utilizam de cadeira de rodas para
manter sua independência.

Usuários em cadeiras de rodas: quem são?

Estima-se que no mundo mais de 70 milhões de pessoas necessitam utilizar a cadeira de rodas,
no entanto, apenas 5 a 15% possuem acesso a uma2. Esses dados são extremamente preocupantes,
pois a cadeira de rodas pode ser o principal meio de mobilidade para quem possui prejuízo na
condição motora11.
A mobilidade refere-se a qualquer movimento realizado pelo indiví-
duo, com ou sem recursos de assistência, que leva a uma mudança de po- sição, ou seja, trata-se da
capacidade de deslocamento12. Dessa forma, a mobilidade torna-se um importante componente da
função física, já que se constitui como um pré-requisito para a execução das atividades básicas de vida
diária (AVDs), que estão relacionadas ao autocuidado, e das ati- vidades instrumentais da vida diária
(AIVDs) que englobam tarefas mais complexas ligadas à participação social13,14,15.
O uso da cadeira de rodas pode favorecer o empoderamento, a digni- dade e o bem-estar geral,
pois pode permitir que um usuário de cadeira de rodas seja independente, participe e tenha
oportunidades iguais; tenha ainda acesso à educação, ao trabalho, à assistência médica, podendo parti-
cipar da vida familiar e comunitária2.
Prejuízos na mobilidade são causados, de maneira geral, por distúr- bios ortopédicos ou
neurológicos relacionados a doenças ou deficiências. As características desses prejuízos incluem
perda de força muscular, au- sência de membros, hipertonia, atetose, ataxia, distúrbios posturais e, em
alguns casos, dor. Existe uma ampla gama de condições que compõe essa categoria. Dentre as mais
comuns estão: lesão medular, paralisia cerebral, amputação bilateral, esclerose múltipla, distrofia
muscular e acidente vas- cular encefálico16.
Além de proporcionar mobilidade, uma cadeira de rodas apropriada traz benefícios para a saúde
física e qualidade de vida do usuário17. Uma cadeira de rodas apropriada deve permitir que o usuário
faça com mais facilidade e segurança as principais ações exigidas na locomoção de ca- deira de rodas,
que são: transferir-se da cadeira de rodas, impulsioná-la, dobrar e armazenar a cadeira para transporte
e realizar suas atividades cotidianas.
O tipo certo de cadeira de rodas pode facilitar todas as demandas17 e é dependente do perfil
físico e social do usuário. Várias são as partes da cadeira (Figura 1.12) que merecem atenção, mas de
maneira geral é impor- tante preocupar-se com a altura do encosto, posição da roda traseira, com-
primento da estrutura da cadeira de rodas, apoio para os braços, distância entre eixos das rodas
dianteiras e traseiras, tamanho e largura das rodas, tamanho e material do assento, tipo de almofadas e
ajuste do tamanho do apoio dos pés.
Algumas deficiências possuem cuidados específicos que merecem atenção na utilização da
cadeira de rodas. Alguns desses cuidados des- critos no documento denominado de Pacote de
Treinamento em Serviços para Cadeiras de Rodas produzido pela OMS (2012)17 são delineados nos
parágrafos a seguir.
Por exemplo, pessoas com lesão medular têm grande probabilidade de desenvolver úlceras/feridas.
Por isso é importante atentar-se para almofa- da para alívio da pressão. Já a paralisia cerebral afeta as
pessoas de forma diferente e muitas delas podem precisar de suporte postural adicional na cadeira de
rodas. Pessoas com poliomielite podem ter fraqueza ou flaci- dez em partes do corpo, os músculos e
ossos ficam mais frágeis e um dos membros inferiores não cresce tão rápido, e uma almofada mais
alta pode proporcionar uma posição mais confortável para impulsionar a cadeira.

Figura 1.12 - Configuração de uma cadeira de rodas.

Fonte: Pacote de Treinamento em Serviços para Cadeiras de Rodas (OMS, 2012)

Pessoas que tiveram um acidente vascular encefálico (AVE)/trombo- se cerebral geralmente têm
um lado do corpo afetado. Isso significa que podem pender para um lado na cadeira de rodas. Às
vezes são capazes de transferir-se da cadeira de rodas ficando em pé, portanto essas podem pre- ferir
uma cadeira de rodas com apoio para os pés removível ou móvel para poder fazer transferências em
pé. Pessoas com amputação dupla não têm
o peso das pernas para impedir a cadeira de rodas de cair para trás, dessa forma é importante verificar
a necessidade de mover a roda traseira para trás para dar mais estabilidade.
Todos os cuidados mencionados anteriormente são fundamentais para que a cadeira se torne
apropriada às necessidades dos usuários. Uma ca- deira de rodas inadequada pode exigir que os
usuários exerçam maior força ou resultem em posições desajeitadas que podem causar tensão
desneces- sária nos membros superiores. A combinação de movimentos repetitivos, maiores forças de
pico e grandes deflexões articulares podem resultar em problemas musculoesqueléticos ou lesões18.
Por outro lado, uma cadeira apropriada diminui problemas de saúde comuns, como úlceras de
pressão, a progressão de deformidades ou con- traturas e outras condições secundárias, resultando,
assim, na redução de despesas com a saúde. Além disso, facilita a respiração, digestão e uma melhor
postura. Todos esses resultados levam a um aumento dos níveis de atividade e uma melhor qualidade
de vida17.
Promover níveis adequados de saúde nessa população tem sido uma preocupação mundial pois,
comparada às pessoas sem deficiência, pessoas com deficiência são três vezes mais propensas a
possuírem certas doenças, como doenças cardíacas, AVE, diabetes e algumas formas de câncer19. Des-
sa forma, a prática de atividades físicas torna-se um caminho para dimi- nuição do risco de
desenvolvimento dessas doenças.
Contudo, o número de pessoas com deficiência fisicamente ativas aponta para uma realidade
ainda negativa do engajamento dessas com a prática de atividade física. Uma importante publicação do
President’s Cou- ncil on Physical Fitness and Sports e Rimmer20 expôs os dados do Beha- vioral Risk
Factor Surveillance System (BRFSS) entre 2001 e 2003, que mostrou que 37% das pessoas com
deficiência, em comparação a 8% de pessoas sem deficiência, percebem sua saúde pobre. Além disso,
22,4% das pessoas com deficiência eram inativas fisicamente comparadas a 17,8% das pessoas sem
deficiência.
No Brasil, dados de 2013 da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Ministério da Saúde em
parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)21, demonstraram que apenas
13,6% entre aqueles com deficiência motora ou física são fisicamente ativos em comparação a 54%
de pessoas sem deficiência.
Diversas são as barreiras apontadas pelas pessoas com deficiência mo- tora para a prática de
atividades físicas. No entanto, destacam-se as limi- tações físicas e também as dores entre os
principais dificultadores dessa
prática22. Este fato reforça novamente a importância do olhar atento para que a pessoa com
deficiência motora tenha uma cadeira de rodas apro- priada, fato que pode contribuir para a
diminuição da percepção dessas barreiras apontadas.
O envolvimento em esportes ou exercícios físicos também contribui para o bem-estar psicológico
de pessoas que utilizam cadeira de rodas. Es- tudos têm mostrado melhores índices de tensão,
disposição, depressão, aceitação e autonomia em quem realiza atividades em comparação aos in-
divíduos sedentários ou aos que não estão envolvidos em práticas espor- tivas23,24,25.
De maneira geral, a prática de atividades físicas e/ou esportes traz
inúmeros benefícios físicos, sociais e emocionais aos usuários de cadeira de rodas. No entanto, outros
tantos fatores, como falta de acessibilidade, falta de disposição, falta de habilidades físicas ou
prejudicada percepção de competência sobre as habilidades na cadeira, dores, lesões musculares e
articulares são fatores que dificultam a participação destes indivíduos em atividades26,27,28,29.
Para finalizar, a Figura 2.12 exibe as contribuições e relações diretas ou
indiretas da biomecânica da propulsão na qualidade de vida de usuários de cadeira de rodas.

Figura 2.12 - Possibilidades de contribuição da biomecânica na qualidade de vida em usuários de


cadeira de rodas.

Fonte: (Adaptada de John e Charles, 2011)30


Em suma, a participação social dos usuários de cadeiras de rodas é complexa. É influenciada por
todas as estruturas e funções do corpo e fa- tores ambientais e pessoais28. No entanto, a acessibilidade
e as especifici- dades da cadeira de rodas são fatores que interferem de maneira direta à adesão e à
manutenção de um estilo de vida ativo por parte daqueles que utilizam cadeira de rodas para sua
locomoção.
Dessa forma, parece importante que profissionais da área da saúde, em geral, compreendam de
maneira mais detalhada os principais fatores físicos limitantes em relação ao uso da cadeira de rodas.
O conhecimento sobre as principais lesões e formas de identificar e avaliar aspectos mus- culares e
articulares que podem otimizar o desempenho no uso da cadeira certamente favorecendo o aumento
da participação em atividades físicas ou esportivas.

Lesões habituais nos membros superiores em usuá- rios de cadeira de rodas

Após lesão medular ou qualquer outro comprometimento motor dos membros inferiores que as
impossibilitem de deambular, as pessoas pas- sam a fazer uso da cadeira de rodas como forma de
mobilidade. Ao utilizar os membros superiores para realizar as AVD’s, como por exemplo, trans-
ferência da cadeira de rodas para diferentes lugares (carro, cama, cadei- ra de banho, etc),
suspensões e locomoção, essa demanda pode acarretar em lesões no membro superior devido ao uso
excessivo dessas regiões. Os membros superiores acabam tendo de suprir o trabalho, uma vez
realizado pelos membros inferiores, muitas vezes não estando preparados para tal sobrecarga8.
Um estudo demonstrou que em apenas uma hora de atividade na ca- deira de rodas, o usuário
pode realizar 1.800 impulsos bi-manuais, ge- rando uma força de compressão nas articulações do
ombro de até 40 N (newtons). Acrescenta-se a isso, em média 15 elevações ou transferências da
cadeira de rodas, gerando uma compreensão da articulação de até 110
N. Situação mais preocupante é para as pessoas com lesão medular com maior comprometimento,
como nos tetraplégicos, tendo em vista que a força gerada para as tarefas pode ser aumentada em mais
de 550 N31,32. As pessoas com tetraplegia apresentam reduzidos níveis de força muscular no tríceps
braquial, nos músculos que atravessam as articulações do punho e mãos, em decorrência do alto nível
da lesão medular33.
Segundo Arnet et al.34, pessoas que utilizam a cadeira de rodas recla-
mam de dor três vezes mais do que a população em geral. As patologias mais relacionadas com a
alta demanda física dos membros superiores são as tendinites na cabeça longa do bíceps braquial,
lesões nos músculos que constituem o manguito rotador, síndrome do impacto subacromial,
osteoartrite glenoumeral, além de lesões dos punhos, cotovelos e mãos35. Estudos elencam o ombro e o
punho, seguidos do cotovelo, como as arti- culações mais afetadas por lesões em decorrência do
estresse acumulati- vo36,37. Por consequência do movimento repetitivo e cíclico da propulsão na
cadeira de rodas, lesões nos membros superiores são frequentemente observadas38,39,40,41,42.
As mulheres por sua vez apresentam maiores comprometimentos nos
ombros do que os homens. Essa ocorrência deve-se aos desalinhamentos anatômicos, hiperelasticidade
das articulações e aos fatores hormonais. Outro fator pode estar relacionado à configuração da cadeira
de rodas, haja vista que na maioria das vezes a cadeira é projetada para suportar cargas acima de 70
kg, tornando-se mais pesada. Acredita-se também que as mu- lheres prestem menos atenção a esses
fatores e regulagens da cadeira de rodas, o que de fato pode aumentar a demanda muscular nos
membros superiores 43.
Estudos epidemiológicos antigos já demonstraram que 31% a 73% das pessoas que utilizam a
cadeira de rodas relataram sentir dores nos ombros44, e de 49% a 73% apontaram o punho como local
de dor e, por conta disso, desenvolveram síndrome do túnel do carpo45. Torna-se funda- mental, no
âmbito da prevenção de lesões, entender os fatores que podem contribuir para o aumento das mesmas.
Segundo Van Drongelen2, quanto maior o tempo de uso da cadeira de rodas, as chances de
desenvolvimento de comprometimentos graves nos membros superiores aumentam em tor- no de 50%
a 70%.
A preocupação em torno das lesões pelo uso repetitivo está diretamen- te relacionada com a
capacidade de realizar as atividades cotidianas. De- pendendo da lesão musculoesquelética, os
usuários de cadeira de rodas podem ficar afastados do treinamento por longos períodos ou ficar restri-
tos à realização (quando possível) das atividades diárias e isso acarretaria na diminuição do nível de
atividade física. Além do mais, níveis baixos de atividade física aumentam as doenças metabólicas e
cardiovasculares, con- tribuindo para o risco de mortalidade46.
Minimizar os riscos de lesões e maximizar o desempenho nessa popu- lação em específico são
fundamentais, uma vez que passam o maior tempo do dia realizando as tarefas na cadeira. Nesse
sentido, cresce a necessidade
pela busca de alternativas para melhorar a qualidade de vida incentivando a prática de exercícios
físicos para a melhoria da saúde em geral, ofertando programas de treinamento que favoreçam tanto o
condicionamento car- diorrespiratório, quanto o fortalecimento da musculatura dos membros
superiores.

Análises biomecânicas em usuários de cadeira de ro- das

A biomecânica é a área de conhecimento na qual são identificados pa- râmetros mecânicos


capazes de influenciar tanto programas voltados para a saúde, como ao treinamento esportivo47. Os
princípios da biomecânica são aplicados por profissionais de diversas áreas para resolver problemas
relacionados ao aparelho locomotor. O conhecimento na área é essencial para as áreas da educação
física, fisioterapia e medicina do esporte48. Para as avaliações biomecânicas do aparelho locomotor,
alguns instrumentos são utilizados como métodos de medida. Nesse tópico serão abordadas avaliações
cinemáticas47, cinéticas49 e neuromusculares50,51 que são méto- dos que vêm sendo utilizados para
avaliar as pessoas de cadeira de rodas.

Avaliação isocinética
Quantificar a produção de força produzida por um determinado gru- po muscular depende dos
padrões de ativação das unidades motoras, das propriedades mecânicas das fibras musculares e da
unidade musculoten- dínea52. Para avaliar estes parâmetros neuromusculares tem sido utilizada a
avaliação isocinética. Esta avaliação vem sendo de grande auxílio para os pesquisadores, haja vista
ser um método capaz de determinar diferen- tes parâmetros neuromusculares, como por exemplo, pico
de torque (PT), trabalho (J), potência (W) e, a partir dessas variáveis, podem ser determi- nados o
equilíbrio muscular, índice de resistência e a taxa de produção de torque (TPT)49,53.
Embora sejam fortes as evidências de como o torque muscular cola- bora para a predição do
desempenho, a relação Torque-Ângulo (T-A), a TPT e equilíbrio muscular também se tornam
importantes variáveis para caracterizar, tanto aspectos neuromusculares das modalidades esportivas,
como aqueles relacionados à saúde54,49,55.
Portanto, o dinamômetro isocinético é considerado um teste “padrão ouro” para avaliar os
parâmetros neuromusculares, sendo uma ferramenta atraente, adequada, segura, não invasiva,
objetiva e reprodutível49,56. As
avaliações podem ser realizadas em distintas contrações musculares, ou seja, a musculatura pode
produzir torque por meio de contrações isométri- cas, isotônicas (concêntrica e excêntrica) ou
isocinéticas, máximas e sub- máximas, em todos os pontos articulares do arco do movimento57.
As contrações isométricas (estáticas) podem ser avaliadas em diferen- tes ângulos articulares. As
contrações isotônicas, por sua vez, podem ser avaliadas nas velocidades angulares que variam entre
30°/seg. e 300°/ seg., sendo classificadas como lentas (<180°/seg.), intermediárias (180°/ seg.) e
rápidas (>180°/seg.), permitindo realizar o movimento em toda amplitude articular e a resistência
oferecida pelo aparelho pode ser variá- vel, conforme a força aplicada49.
A partir dos valores de torque muscular, podem ser analisados os dese- quilíbrios musculares. O
conceito de equilíbrio funcional musculotendíneo revela-se um parâmetro importante a ser avaliado
principalmente na prá- tica esportiva49. Essas informações podem indicar fraqueza em determina- dos
grupos musculares, com base na razão de torque agonista/antagonista no mesmo membro ou entre
membro dominante/não dominante53. Como os membros superiores tornam-se fundamentais para a
deambulação na cadeira de rodas, dependendo da modalidade esportiva ou tarefa realiza- da, os
músculos podem desenvolver assimetria, podendo acarretar em le- sões musculoesqueléticas.
Com a visibilidade dos jogos Paralímpicos, as pessoas com deficiên-
cia estão procurando locais para a prática esportiva a fim de tornarem-
-se atletas ou como forma de melhorar seu condicionamento físico. Com a evidente inserção dessa
população no esporte, os pesquisadores estão cada vez mais utilizando as avaliações neuromusculares
para monitorar a capacidade física, desempenho, reabilitação e também como forma de pre- venir ou
recuperar lesões musculoesqueléticas39,41,58,55. As medidas neuro- musculares obtidas por meio do
dinamômetro isocinético consiste numa ferramenta utilizada para avaliar distintas populações, desde
crianças até idosos, de ambos os sexos ou indivíduos com alguma patologia e atletas em diferentes
níveis competitivos59,60,61,62,63.
Com a finalidade de deixar mais clara a utilização e aplicação de ava- liações isocinéticas em
usuários de cadeira de rodas, a seguir será apresen- tada uma síntese de alguns estudos evidenciados
pela literatura científica (Quadro – 1.12).
rodas.
Quadro 1.12 - Sínteses de estudos com a utilização de avaliações isocinéticas em usuários de
cadeira de rodas. (Continuação)
Freitas et al.41 Comparar 36 homens com LM O pico de torque, trabalho e
(2017) os divididos em potência muscular dos atletas de
Análise p a r â m et r dois grupos (atletas e não BCR foram significativamente
isocinética o s atletas). maiores que os do grupo não
da musculatura isocinéticos Foi realizada uma atleta. Não houve diferença
do dos avaliação estatística ao comparar o membro
manguito rotador rotadores dos isocinética para quantificar dominante entre os grupos. Os
de usuários de ombros de o pico de torque, potência e rotadores internos eram mais
cadeiras de rodas atletas de BCR trabalho nos rotadores do fortes que os rotadores externos,
sedentários e com paraplégicos ombro. Os testes foram CON tanto para atletas quanto para os
atletas de não atletas. com 5 repetições a 60, 180 não atletas.
basquetebol com e
lesão medular. 300°/s, bilateralmente, com
um intervalo de um minuto
entre cada série.

Moon et al.55 Investigar 12 homens jogadores de tênis O torque dos músculos Ext dos
(2013) as em ombros foram
Características do cadeira de rodas (10 pessoas significativamente maiores do
características do com que os Flex, enquanto que o
membro na torque muscular LM, 1 amputada e outra cotovelo apresentou maiores
superior do deficiência). valores de torque muscular para
força de membro Utilizaram-se os Flex em relação aos Ext.
muscular superior avaliações Essas diferenças entre as
jogadores de de medindo o isocinéticas nas articulações dos ombros e
tênis torque velocidades cotovelos mostradas na relação
cadeira de isocinético angulares de 60 e 180°/s. de equilíbrio encontradas nesse
rodas. das As estudo, parece ter sido observada
articulações do variáveis neuromusculares pela especificidade da prática
foram esportiva do tênis em cadeira de
ombro e cotovelo de pico de torque dos Ext/Flex rodas.
jogadores de dos ombros e cotovelo no
tênis de cadeira de membro dominante e não
rodas para fornecer dominante.
dados para
programas de
prevenção de lesões
esportivas.
rodas. (Continuação)
superiores nas AVD’s. Tetraplégicos, de

Legenda: Ext: extensores; Flex: flexores; PSE: percepção subjetiva de esforço; °/s: graus por segundo; BCR: basquete de cadeira de ro-

das; CON: concêntrico; EXC: excêntrico; LM: lesão medular; CVMI: contrações voluntárias máximas isométricas; GC: grupo controle.
São vários os protocolos encontrados na síntese de estudos apresenta- dos no Quadro 1. Os
diferentes desfechos entre os estudos podem estar re- lacionados a diferentes fatores, como por
exemplo: as especificidades das modalidades esportivas, tempo de prática, nível de lesão, tempo de
lesão e nível de condicionamento físico. Usuários de cadeira de rodas são um grupo muito
heterogêneo e todas essas individualidades devem ser leva- das em consideração quando se propõem a
desenvolver estudos para esta população. Por outro lado, ainda são vistos estudos fazendo
comparações com pessoas sem deficiência, isso se deve ao fato de que ainda não se têm explorado as
avaliações em dinamometria isocinética do membro superior dos usuários de cadeira de rodas, como é
visto nos membros inferiores nas pessoas sem deficiência.
Mensurar as mudanças neuromusculares em indivíduos que utilizam cadeira de rodas permite
acompanhar a eficiência de intervenções, sejam elas para área da reabilitação, condicionamento físico
ou no desempenho esportivo. No entanto, avaliações isocinéticas nos membros superiores em usuários
de cadeira de rodas ainda são limitadas, carecendo de mais pes- quisas que avaliem os demais
parâmetros musculares. Tais informações podem contribuir para que os profissionais envolvidos com
essa população consigam desenvolver programas de intervenções com a finalidade de me- lhorar a
qualidade de vida e o desempenho das pessoas que vivem sobre uma cadeira de rodas.

Avaliação Eletromiográfica
A eletromiografia de superfície (EMG) tem sido utilizada para estudar a função neuromuscular,
como um meio de fornecer informações sobre quais músculos ou grupos musculares produzem tensão
e quais movi- mentos extraem maior ou menor tensão66, ou seja, a EMG tem sido usada pelos
cientistas como uma técnica para estudar como as unidades moto- ras respondem aos estímulos do
sistema nervoso central48,51. A EMG é um voltímetro muito sensível que detecta a despolarização e
hiperpolarização que ocorre dentro do sarcolema antes da contração muscular, em outras palavras, é o
aumento e a diminuição dos potenciais de ação que ocorrem dentro da fibra muscular66. O uso da
EMG é uma importante ferramenta para avaliar a velocidade de condução nervosa, vinda do sistema
nervoso central (SNC)48, fornecendo uma medida apropriada da mudança na exci- tação muscular
durante as contrações67.
A amplitude do sinal eletromiográfico aumenta linearmente até apro-
ximadamente 40% da capacidade de produção de força, assim indicando que pode não haver uma
correlação linear entre a amplitude da EMG e a força muscular, ou seja, a excitação muscular refere-se
ao estado do mús- culo, desconsiderando os componentes passivos da força, sendo apenas um fator de
escala, a qual não é afetada pelo comprimento e pela veloci- dade da fibra. Por outro lado, a força é
altamente influenciada pela velo- cidade e comprimento da fibra muscular. Em outras palavras, a
ativação está relacionada com o número de fibras ativas e não com a capacidade de geração de força
dessas fibras66.
Para a técnica de registro da atividade elétrica produzida por um mús- culo ou grupo muscular são
utilizados eletrodos que conseguem captar a ativação muscular durante uma dada contração do
músculo51,68. Estes ele- trodos são pequenos discos de material condutor que são posicionados na pele
do indivíduo sobre o músculo que se deseja avaliar69. Os eletrodos podem ser de superfície
(comumente utilizados na biomecânica) ou de profundidade (agulha ou fio que é posicionado
diretamente no músculo e são utilizados para músculos profundos ou pequenos). São utilizados os
eletrodos monopolares (um eletrodo é posicionado sobre o músculo e o se- gundo eletrodo em uma
área eletricamente neutra) e os eletrodos bipola- res (consistem em dois eletrodos colocados sobre o
músculo separados em
1,5 e 2 cm de distância e o terceiro eletrodo sobre uma área eletricamente neutra)51.
Diferentemente do tipo de eletrodo utilizado, alguns cuidados são comuns a todas avaliações,
como por exemplo, não devem ser colocados sobre uma área tendínea ou sobre o ponto motor e
devem ser posiciona- dos de acordo com a arquitetura muscular (paralelo às fibras musculares).
Porém, anterior a este processo, deve ser realizada a tricotomia através da raspagem da pele e uma
limpeza na área com álcool para melhorar a captação do sinal elétrico51. A fim de minimizar os efeitos
de ruídos e para que sejam minimizadas as interferências do sinal, algumas padronizações são
realizadas por meio de recomendações internacionais definidas pela Seniam70.
Estudos que utilizam a EMG buscam compreender como acontece o recrutamento muscular, e
como essa fibra excitada pode ter relação com a produção de força muscular, para compreender as
adaptações e os ca- minhos pelos quais elas acontecem66. Esse conhecimento pode auxiliar na
compreensão entre a intensidade de recrutamento muscular e a capaci- dade de contração. O uso
desse método pode auxiliar os profissionais a compreender, por exemplo, quanto uma musculatura
ou grupo muscular
é afetado pela demanda mecânica, assim estratégias para prevenção, por exemplo, de lesões
musculoesqueléticas relacionadas ao uso prolongado de cadeiras de rodas podem ser úteis71.
Nessa perspectiva, Silva et al.71 investigaram a demanda muscular so- bre músculos (peitoral
maior, deltoide anterior, tríceps, bíceps), em dife- rentes tarefas de mobilidade na cadeira de rodas, em
quatro sujeitos sem deficiência. Os resultados indicaram que a tarefa de descer a rampa foi a que
exigiu menor esforço dos músculos, enquanto que a locomoção em linha reta com aceleração,
apresentou maior excitação muscular.
Em recente estudo, Bertolaccini et al.72 também realizaram dois testes e utilizaram a EMG para
observar as possíveis mudanças do comporta- mento dos músculos bíceps braquial, tríceps braquial,
deltoide anterior e peitoral maior. Participaram do estudo 11 indivíduos sem deficiência, em quatro
diferentes configurações da cadeira de rodas. Também foram uti- lizadas as cadeiras com o uso de
acessórios (apoio para os braços e pro- tetor de roupa) e sem acessórios, tendo em vista que com a
retirada dos acessórios houve uma diminuição de 1,95 kg do peso total da cadeira. Os testes
utilizados para observar a influência da configuração foram: Sprint (aceleração em linha reta por 15
m) e slalom (nove cones separados por distâncias decrescentes).
Os autores do estudo observaram que a ativação muscular diminuiu para ambos os testes quando o
eixo das rodas traseiras da cadeira de rodas foi movido para frente na configuração padrão da cadeira
(sem a retirada dos acessórios). Os autores, por sua vez, sugerem que em futuros estudos não sejam
utilizadas pessoas sem deficiência, mas sim usuários de cadeira de rodas para que se possa
compreender a excitação muscular da popula- ção em questão. Outra sugestão é que seja definida uma
velocidade padrão a todos participantes e que seja utilizada a escala de percepção subjetiva de esforço
(PSE), pois esta ferramenta poderia demonstrar se as modificações na configuração e no design da
cadeira eram percebidas pelos participan- tes72.
O ajuste mecânico entre a cadeira de rodas e o usuário é muito im- portante e deve ser visto como
uma estratégia para diminuir as cargas impostas aos membros superiores, melhorando, assim, a
mobilidade e a independência dos usuários. Medidas de excitação muscular usando a EMG podem ser
utilizadas para entender como os músculos se comportam durante a ação propulsiva da locomoção de
cadeira de rodas, a partir do monitoramento da musculatura ativa na ação de propulsão73.
No entanto, é comum observarmos estudos voltados para usuários de
cadeira de rodas sendo realizados com participantes sem deficiência. Esses estudos são importantes,
porém não refletem a locomoção de uma pes- soa com comprometimento, como aqueles que utilizam
cadeira de rodas no dia a dia e nem como a musculatura envolvida se comporta durante a tarefa
exigida. No entanto, entende-se que a baixa participação dos usuá- rios de cadeira de rodas influencia
na escolha de pessoas sem deficiência como um ponto de partida para os estudos. Modificar esse
contexto é mui- to importante para que os estudos reflitam a realidade e que os resultados cheguem de
forma mais objetiva aos profissionais e pesquisadores interes- sados na temática.

Avaliação cinemática
Uma forma de mensurar e avaliar o padrão de movimento realizado pelo usuário na cadeira de
rodas é através de análises cinemáticas, que po- dem ser obtidas por meio de acelerômetros, imagens
capturadas por vídeo de alta velocidade ou opticoelétrica, as quais registram as posições dos seg-
mentos corporais em relação ao tempo68. Para análise desses movimentos, podem ser utilizadas tanto
as avaliações cinemáticas lineares, quanto as angulares. A cinemática linear estuda a sequência do
movimento em re- lação ao tempo, incluindo as grandezas escalares de distância, velocidade e
aceleração. Enquanto que a angular, como o nome diz, estuda o movi- mento a partir do ângulo
relativo formado pelos eixos longitudinais dos segmentos corporais em relação a uma linha de
referência48.
Na área da educação física adaptada, os biomecânicos conseguem, por meio da cinemática,
caracterizar os padrões de distúrbios motores e de locomoção nas diferentes patologias, como por
exemplo, em pessoas que tiveram AVE, paralisia cerebral ou naquelas com síndrome de Down69. A
partir da análise cinemática, podemos avaliar a posição do tronco e das ar- ticulações dos ombros,
cotovelos e mãos dos usuários de cadeira de rodas para compreender as cargas mecânicas durante a
propulsão.
A utilização da cadeira de rodas para a locomoção, como já foi abor- dado, é uma forma eficaz de
mobilidade para indivíduos com problemas na medula espinhal ou nos membros inferiores,
permitindo com que as pessoas sejam mais independentes. Com isso, o conhecimento das técnicas de
propulsão de cadeira de rodas baseado em evidências pode orientar os profissionais sobre qual a
melhor forma de ensino da locomoção na fase ainda de reabilitação4.
A propulsão da cadeira de rodas manual envolve ações cíclicas dos membros superiores, uma vez
que as mãos fazem o contato com a cadeira
de rodas, aplicando força para realizar o movimento. Segundo Hamill e Knutzen68, existem duas fases
nesse movimento de empurrar a cadeira de rodas: a fase cíclica que envolve uma fase propulsiva, com
as mãos empur- rando a borda ou arco, e a fase não propulsiva, em que as mãos deixam de ter
contato e voltam para o início de uma nova fase propulsiva (Figu- ra-3.12). A fase não propulsiva, por
sua vez, é descrita por três ações: a primeira ocorre quando a mão solta a borda, a segunda é seguida
da recu- peração, quando a mão realiza o movimento de retorno à borda e a última ação dá-se ao tocar
com a mão novamente na borda da roda. Todos esses movimentos completam o ciclo de uma
propulsão68.

Figura 3.12 - Fases cíclicas da propulsão na cadeira de rodas.

Fonte: Kwarciak et al.74

Essa habilidade de “tocar” a cadeira de rodas pode variar entre os usu- ários, como foi observado
por Sanderson e Sommer75. Os autores foram pioneiros ao descrever as características cinemáticas da
propulsão da ca- deira de rodas de atletas velocistas de nível mundial com paraplegia. A partir de
imagens de vídeo, com uma única câmera, os autores encontra- ram dois estilos de propulsões
diferentes: a técnica de bombeamento (mo- vimento para trás e para frente na horizontal) e uma
técnica denominada circular (em que as mãos se movimentam de forma circular).
A partir de mais estudos cinemáticos, posteriormente foram identifi- cados três padrões distintos
de propulsão: semicircular, propulsão de ciclo único e propulsão de duplo ciclo (Figura 4.12)76.
Figura 4.12 - Três padrões distintos das fases cíclicas de propulsão de ca-
deira de rodas.

Legenda: Semicircular (a); Propulsão de ciclo único (b); Propulsão de duplo ciclo (c).Fonte: Shimada et al.76

Além do padrão de propulsão, as avaliações cinemáticas podem for- necer medidas que incluem
parâmetros de velocidade média, tempo e fre- quência de braçada, distância percorrida, porcentagens
de impulsos e re- cuperação e ângulos de contato com o aro da cadeira. Também podem ser avaliadas
as características do ciclo de propulsão, amplitudes articulares de movimento do tronco e dos demais
segmentos corporais durante todas as fases, bem como trajetória da mão durante um ciclo de
braçada77.
Segundo Kwarciak et al.74, existe a necessidade de estabelecer um ci- clo propulsivo para
usuários de cadeira de rodas, da mesma forma que foi estabelecido na deambulação, durante o ciclo
da marcha para pessoas sem deficiência. No entanto, até então, não se têm definido um padrão de
propulsão. Apesar dos estudos nessa área e das novas tecnologias é difícil desenvolver um padrão,
isso porque a grande maioria dos usuários não recebem uma cadeira levando em consideração as suas
medidas antropo- métricas, além do mais as pessoas com lesão medular apresentam níveis diferentes
de força muscular, dependendo do nível da lesão, o que dificulta ainda mais identificar um padrão
propulsivo.
Com base no exposto, essa definição de uma melhor forma de locomo- ção torna-se difícil pelos
diversos fatores já elencados. Porém a melhora da propulsão pode estar relacionada com a inserção de
exercícios físicos diá- rios. Um estudo de revisão sistemática investigou quais programas de trei-
namento físicos seriam mais eficazes para melhorar a capacidade de pro- pulsão na cadeira de rodas.
Com base em 21 estudos os autores apontaram que o treinamento físico de modo geral melhora a
capacidade propulsiva
na cadeira de rodas, porém o treinamento que parece ser mais promissor foi o treinamento
intervalado78.
No entanto, os efeitos na força muscular e sua relação com a propul- são na cadeira de rodas pode
auxiliar e determinar as mudanças ocorridas a longo prazo, assim pesquisas longitudinais que
comparem avaliações cinemáticas com cinéticas poderiam ajudar a identificar tais mudanças e
apontar possíveis impactos neuromusculares com o uso da cadeira de rodas79. Contudo, são
necessárias mais pesquisas sobre os benefícios do treinamento físico para a propulsão na cadeira de
rodas a fim de entender quanto que a melhora da capacidade aeróbia, muscular ou anaeróbia po-
deriam de fato influenciar na melhora da técnica da propulsão.

Avaliação muscular por estimulação elétrica artificial


A implementação de novas tecnologias assistivas, possibilitou que a bioengenharia tenha criado
dispositivos elétricos capazes de gerar corren- te elétrica e propagar assim estímulos elétricos através
da pele até as cé- lulas nervosas, que por sua vez auxiliam ou substituem o comando neural muscular
de pacientes com a finalidade de gerar contrações musculares e assim controlar ou restaurar funções
corporais anormais80. A estimulação elétrica artificial, nome dado a este dispositivo, pode ser utilizada
em dife- rentes contextos, como por exemplo, para a estimulação elétrica nervosa transcutânea
(TENS), estimulação elétrica funcional (FES) e estimulação elétrica neuromuscular (NMES)81.
A FES possibilita a realização de várias atividades motoras funcionais, como por exemplo,
deambulação, transferências, ficar em pé, pedalar, re- alizar habilidades com as mãos, entre outros,
melhorando as atividades cotidianas80,82. A NMES, por sua vez, é aplicada no músculo em condições
estáticas, porém com intensidades de corrente suficientemente altas para provocar contrações
musculares visíveis81. A estimulação elétrica muscu- lar tornou-se uma ferramenta que pode ser
aplicada para o treinamento de força, recuperação pós exercício, função neural e para a
reabilitação em diferentes populações81. Na reabilitação, é uma importante aliada, uma vez que o uso
da estimulação elétrica, de forma crônica, pode aumentar o recrutamento muscular e contribuir para
produção de força muscular, principalmente em pessoas com perda das funções motoras83.
O treinamento para ganho de força muscular representa um desafio ainda maior para pessoas com
lesão medular, uma vez que ocorre uma redução ou perda total da ativação voluntária de músculos
abaixo do nível da lesão, prejudicando a função física e comprometendo a saúde dessa po-
pulação84. A NMES como treinamento para ganho de força pode estimular a hipertrofia, melhorar a
capacidade oxidativa, massa magra e preservar as adaptações ósseas em pessoas com lesão medular,
porém são poucas evidências sobre seu uso na prática clínica82,85,86,87,88.
No que diz respeito ao treinamento dos membros superiores, as pes- soas com lesão medular, não
teriam a necessidade de um programa de treinamento com NMES, haja vista que a área não afetada
responde de forma igual a de pessoas sem deficiência. O programa de treinamento deve levar em
consideração a mesma progressão dos princípios de treinamento para todas as pessoas, ainda mais que
o membro superior necessita ser fortalecido, visando a melhora da capacidade de realizar as atividades
co- tidianas87.
Um ensaio clínico envolvendo 80 participantes com lesão medular mostrou que o treinamento
para ganho de força, quando desenvolvido para o membro superior, promoveu aumento da força
muscular e, como consequência, foi observada melhora da qualidade de vida relacionada à saúde89.
No entanto, em relação aos membros inferiores de lesados me- dulares, o treinamento convencional
pode não ser capaz de ativar de for- ma eficaz os músculos para gerar força necessária durante o
treinamento. Por conta disso, a eletroestimulação tem sido utilizada para minimizar a fraqueza
muscular, melhorando a força e a qualidade muscular, trazendo, assim, benefícios à saúde em
geral88,90.
Bochkezanian et al.86 avaliaram cinco indivíduos com lesão medular a partir de NMES de alta
intensidade nos músculos do quadríceps. Os auto- res realizaram um protocolo de treinamento de
cinco séries de 10 repeti- ções duas vezes na semana, durante 12 semanas. Para avaliar o efeito das
sessões de treinamento, os sujeitos foram submetidos à avaliação isociné- tica a partir do torque dos
extensores do joelho e a área de secção trans- versa do quadríceps foi mensurada por meio da
ultrassonografia. Após a intervenção, observou-se que o torque muscular dos extensores do joelho
aumentou em torno de 35% e a área de secção transversa teve aumento de 47%. Além disso, os
participantes relataram diminuição da espastici- dade muscular. Esses resultados são muito
importantes, haja vista que as pessoas muitas vezes relatam que a espasticidade afeta negativamente a
qualidade de vida.
A estimulação elétrica foi utilizada anteriormente por Gorgey et al.85, em estudo piloto, com
participação de nove homens com lesão medular, divididos em dois grupos. Um dos grupos realizou
treinamento com esti- mulação elétrica associado à dieta e o outro grupo realizou apenas a dieta.
O treinamento foi realizado duas vezes na semana, durante dois anos com exercícios de flexão e
extensão do joelho, com carga no tornozelo. Após a intervenção, foi observado que o treinamento
mais dieta resultou em hi- pertrofia muscular dos flexores e extensores do joelho, redução do tecido
adiposo do tronco e diminuição da gordura intramuscular, bem como me- lhora tanto no perfil
lipídico, quanto de insulina em relação ao grupo que apenas controlou a dieta.
Assim como nos estudos anteriores, o treinamento com NMES duran- te dois anos foi capaz de
preservar as propriedades musculoesqueléticas de pessoas com lesão medular85. Nesse estudo, foi
realizado um treinamento de flexores plantares por meio de NMES, após seis semanas de trauma
raquimedular. O treinamento foi realizado unilateralmente tendo como controle o membro
contralateral. Após a intervenção, o membro treinado apresentou melhora em todos os parâmetros
neuromusculares avaliados e, por meio da tomografia computadorizada, observou-se melhora da den-
sidade mineral óssea da tíbia em 31%, em comparação com o segmento não treinado91. Mais uma vez,
parece que a utilização da eletroestimulação pode preservar as propriedades musculoesqueléticas e as
demais variáveis relacionadas à saúde em indivíduos com lesão medular, contribuindo para a melhora
da qualidade de vida.
Apesar de ser indicada para a preservação das propriedades neuro- musculares dos membros
inferiores, a estimulação elétrica pode ser usada nos membros superiores principalmente para
melhorar a funcionalidade de pessoas com lesão medular com maiores níveis de comprometimen-
to. Os tetraplégicos, por sua vez, podem apresentar paralisia nas mãos e braços reduzindo sua
habilidade para realizar as AVD’s. A utilização da NMES em pessoas com tetraplegia pode melhorar a
qualidade de vida, uma vez que pode restaurar um certo grau de movimento das mãos80.
A estimulação elétrica de superfície também foi utilizada para estimu- lar a musculatura do
tronco. Yang et al.92 investigaram o efeito do méto- do durante um teste de propulsão na cadeira de
rodas em esteira rolante. Participaram do estudo 11 pessoas com lesão medular, que realizaram um
teste de propulsão de cadeira de rodas, na velocidade de 1,3 m/s. Durante o teste, foi utilizado um dos
três níveis de estimulação (alto, baixo e desli- gado), de forma aleatória, aos grupos musculares
abdominal e dorsal. Os resultados mostraram que, com alta estimulação elétrica, os participantes
aumentaram sua eficiência mecânica durante o teste de propulsão na ca- deira de rodas. Assim, a FES
aplicada na musculatura do tronco mostrou-
-se eficaz para potencializar a tarefa de propulsão na cadeira de rodas.
Aplicações com estímulos elétricos têm demonstrado ser de grande va- lor clínico para os vários
níveis de lesão medular, uma vez que as pessoas com tetraplegia (C5-C6) tornaram-se capazes de abrir
as mãos, agarrar, segurar e soltar objetos. O mesmo ocorre naqueles indivíduos com para- plegia (T1-
T12), os quais foram capazes de se levantar, pisar no chão e até realizar alguns passos80,92,85,86. A
NMES, como treinamento físico, tem sido apontada como uma alternativa viável para melhorar
diferentes compo- nentes relacionados à saúde em pessoas com comprometimento motor.
Por fim, como foi observado no decorrer deste capítulo, os usuários de cadeiras de rodas estão
propensos a desenvolver lesões musculoesqueléti- cas em decorrência da demanda muscular no
membro superior devido a movimentos repetitivos da propulsão e pelas atividades diárias. Por outro
lado, observa-se que essas atividades proporcionam mobilidade e muitas vezes são as únicas
atividades realizadas por eles. Ainda é preciso ponde- rar que as pessoas que fazem uso da cadeira de
rodas no dia a dia e que são fisicamente ativas ou praticam esporte apresentam níveis de força de
membros superiores adequados e semelhantes, comparados àqueles que não têm deficiência.
Apesar da consciência de que a cadeira de rodas na vida dessas pesso- as é fundamental, sua
utilização ainda apresenta várias limitações, como por exemplo, por não apresentar uma ergonomia
adequada a cada usuário. Esse fato deve ser encarado com muita atenção para minimizar as conse-
quências negativas de uma configuração inadequada.
De um modo geral, percebe-se que há poucos estudos na área da bio- mecânica para essa
população em comparação com pessoas sem deficiên- cia. Enquanto que, para população sem
deficiência novas metodologias, equipamentos e instrumentos são desenvolvidos, para as pessoas com
de- ficiência ainda se caminha a passos lentos.
No entanto, os estudos encontrados na literatura já apresentam um norte para a aplicação de
diferentes avaliações e protocolos, bem como quais intervenções são mais adequadas e como podem
ser utilizadas. De forma geral, esse capítulo abordou aspectos gerais dos usuários de cadeira de rodas e
apresenta as principais avaliações biomecânicas utilizadas pela literatura científica, não abordando
especificamente a biomecânica do es- porte. Por fim, espera-se que os profissionais interessados
nessa temática percebam que há muito trabalho a ser feito e que sejam motivados a reali- zar novas
pesquisas em prol da melhor qualidade de vida dessa população.
Aplicações práticas

• Conhecer as principais ações exigidas na locomoção na cadeira de rodas e identificar se as


configurações da cadeira proporcionam fa- cilidades e segurança para a realização dessas
ações;
• Utilizar avaliações musculares para detectar possíveis déficits musculares e minimizar o
risco de lesões que podem limitar tem- porariamente as atividades diárias, contribuindo para
redução da qualidade de vida;
• Considerar a estimulação elétrica como tratamento/treinamento alternativo para minimizar
as perdas na função motora;
• Realizar estudos que avaliem os parâmetros neuromusculares e que relacionem seus
achados às caraterísticas das pessoas, como por exemplo, nível de lesão, tempo de lesão e
tipo de deficiência para que se tenha clareza sobre os achados e de que forma essas variáveis
secundárias afetariam a longo prazo as funções musculo- esqueléticas;
• Buscar alternativas para introduzir, no treinamento específico das modalidades esportivas,
programas que visem suprir os desequilí- brios musculares para não afastar os atletas do
treinamento e para melhorar sua performance;
• Desenvolver programas de treinamento de força, flexibilidade, potência, agilidade,
velocidade, capacidade aeróbia são fundamen- tais para melhorar a qualidade de vidas dos
usuários de cadeira de rodas. Essas avaliações periódicas são importantes, sejam nas aca-
demias, centro de reabilitações ou durante os programas de treina- mento esportivo.
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Parte 3
344
CAPÍTULO XIII
POTENCIALIZAÇÃO PÓS-ATIVAÇÃO NO ESPORTE: MECANISMOS E FATORES
INTERVENIENTES

Haiko Bruno Zimmermann Filipe


Estácio Costa Juliano Dal Pupo

O que você irá encontrar:

• Explicações dos mecanismos que podem induzir um estado de po-


tencialização muscular;
• Descrições dos fatores neurais e intramusculares da potencializa- ção pós-ativação em
atividades voluntárias e com eletroestimula- ção;
• Diferentes tipos de contração e suas influências na potencialização pós-ativação;
• Influência da fadiga e do tempo de recuperação na potencialização pós-ativação;
• Associações de força e potência para a potencialização pós-ativa-
ção: como funciona o “complex-training”.

Introdução

Na busca da maximização da performance esportiva, treinadores e es- pecialistas em


condicionamento físico costumam utilizar exercícios com fins de aquecimento, objetivando otimizar ao
máximo o desempenho de seus atletas para o evento atlético realizado na sequência1,2. O aquecimen- to,
que é composto eminentemente com ações de baixa intensidade é uma prática amplamente utilizada e
considerado essencial para a competição ou parte principal do treinamento, estando seus mecanismos
principal- mente relacionados ao aumento da temperatura corporal3. Adicionalmen- te, tem sido
discutido que para atletas competidores em provas de potência e velocidade, a adição de exercícios de
maior intensidade (e.g., exercícios de força) na sessão de aquecimento parece ser uma alternativa
eficiente de preparação prévia.
Sabe-se que o histórico de contração determina parcialmente as res- postas contráteis do músculo
esquelético4–7. Uma das consequências des- se histórico, isto é, da ativação muscular prévia, é uma
resposta contrátil subsequente aumentada8 devido a uma “memória molecular” transitória9,
sendo isso referido como potencialização pós-ativação (PPA) ou potenciali- zação pós-tetânica (PPT).
Quando realizado com o intuito de gerar aumen- to agudo no desempenho, a ativação muscular prévia
é conhecida como atividade condicionante (AC) ou contração condicionante (CC), podendo ser
induzida voluntariamente, normalmente utilizando exercícios de força (curta duração e alta
intensidade), ou involuntariamente via estimulação elétrica10. Dessa forma, contrações condicionantes
podem ser empregadas para aperfeiçoar o aquecimento utilizando-se dos efeitos positivos dessa
ativação. Contudo, a atividade realizada terá geração de fadiga como um efeito inevitável, o que pode
afetar o desempenho negativamente4, levan- do a reduções na força, velocidade, trabalho e potência
muscular9. Assim, para haver eficiência de uma atividade condicionante, a PPA deve sempre superar
os efeitos da fadiga.
A PPA foi inicialmente denominada como a resposta aumentada a um estímulo elétrico único
(twitch) supra máximo realizado no nervo motor ou diretamente no músculo após a realização de uma
contração muscular8. Assim, o termo PPA foi inserido no contexto das propriedades contráteis
isoladas11,12 descrito como o aumento no torque de um twitch evocado ele- tricamente4,12–15, devido
especificamente a mecanismos atuando em nível de sarcômero, como a fosforilação da miosina
regulatória de cadeia leve (RCL), que aumenta a sensibilidade do aparelho contrátil ao cálcio9. O pri-
meiro estudo que demonstrou essa correlação entre fosforilação da miosi- na RCL e aumento do
torque no twitch foi o de Manning e Stull16.
Com o início dos estudos envolvendo atividades voluntárias, o termo PPA continuou sendo
utilizado para descrever o aumento do desempenho, porém, segundo Cuenca-Fernandes et al.17, de
forma imprecisa, pois não são medidas as propriedades contráteis isoladas e sim o desempenho em
uma atividade voluntária. O principal problema neste caso é que a influ- ência de vários fatores não
relacionados a fosforilação da miosina RCL, como aumento da temperatura3, aumento da
excitabilidade dos moto- neurônios18, de recrutamento de unidades motoras10, mudanças agudas no
ângulo de penação19, aumento agudo na rigidez do membro inferior20, elevações agudas no nível de
catecolaminas plasmáticas e potencialização beta-adrenérgica21 também afetam o desempenho.
Embora nesse capítulo não serão discutidas essas últimas possibilidades, suas influências não po- dem
ser desconsideradas. Adicionalmente, deve-se ter cuidado ao analisar estudos inferindo participação
do fenômeno PPA quando a performance voluntária é acessada sem informações acerca das
propriedades contrá- teis via eletroestimulação, pois neste caso, apenas pode-se especular que
houve de fato PPA7. Alguns autores inclusive sugerem o termo performan- ce pós-ativação (PAPE)17
para referir-se a esses casos. Nesse capítulo será utilizado somente o termo PPA, porém quando
relacionado a atividades voluntárias será devidamente explicitado.
Independente do termo correto, visto que o fenômeno PPA pode oti- mizar a função contrátil de
forma aguda, confirmada pelos estudos com eletroestimulação, a comunidade científica vem
demonstrando considerá- vel interesse em sua aplicabilidade na performance de atividades esporti-
vas. Dessa forma, a inclusão de contrações condicionantes como parte do aquecimento antes de uma
atividade voluntária visando potencialização vem sendo amplamente estudada dentro da literatura, de
modo que pes- quisadores buscam identificar um estímulo que consiga melhorar de forma aguda a
performance22. Porém, existe uma grande diferença na magnitude dos aumentos relacionados e na
temporalidade que ocorrem, dependendo da forma que a performance é avaliada17. Os estudos
analisando a respos- ta contrátil através de eletroestimulação reportam melhoras substanciais no
torque de um twitch imediatamente após uma contração13,23. Aumentos positivos em performances
voluntárias acontecem em intervalos mais lon- gos e bem distintos, entre 5 e 12 min24,25, em um
momento em que a po- tencialização das propriedades contráteis verificada na eletroestimulação é
muito pequena.
Nessa perspectiva, pesquisas são conduzidas para encontrar uma ati- vidade condicionante ideal
para induzir aumentos no desempenho26. Su- gere-se que essa atividade deva ser a mais próxima do
padrão motor da atividade desempenhada posteriormente, para que o drive neural possa se propagar
pelas mesmas vias27 e para que todas as fibras utilizadas pos- teriormente sejam ativadas28
beneficiando-se dos mecanismos intramus- culares e neurais relacionados ao aumento da performance
em atividades voluntárias. Também é descrito que ações musculares distintas desenca- deiam
diferentes níveis de PPA na atividade a ser desempenhada29. Além disso, parece que existe um tempo
de recuperação ideal individualizado após uma atividade condicionante que possibilita que os efeitos
da fadiga diminuam e os da potencialização predominem7,30–32, estando esse tempo intimamente
relacionado com características individuais do sujeito ava- liado6,10.
Sendo assim, nesse capítulo será discutido a aplicabilidade dos efeitos desse fenômeno em
atividades voluntárias com foco na potência de mem- bros inferiores, trazendo informações sobre
possíveis mecanismos respon- sáveis pela potencialização, bem como variáveis relacionados à escolha
do
protocolo de exercícios condicionantes que podem influenciar a eficiência da PPA.
Para elaboração desta revisão, efetuou-se uma busca eletrônica para identificar artigos científicos
relevantes ao propósito do presente capítu- lo, baseada na consulta das bases de dados PubMed e
Scopus utilizando os descritores (na língua inglesa): post-activation potentiation, sprint, sprintting,
jump e performance. Foram incluídos no capítulo artigos que tivessem por objetivo avaliar a PPA
através do uso de eletroestimulação visando descrever as propriedades contráteis isoladas e artigos
buscan- do aumentos de performance em atividades voluntárias posteriores en- volvendo potência de
membros inferiores, publicados entre 2000 e 2018. Além disso, artigos fundamentais fora dessa
temporalidade, mas que fo- mentassem a discussão, foram incluídos.

Possíveis mecanismos indutores de um estado “po- tencializado”


Aspectos intramusculares e neurais relacionados a PPA na eletroestimu- lação e em atividades
voluntárias
O mecanismo fisiológico mais aceito explicando o aumento no torque de um twitch após uma
contração prévia é o da fosforilação da miosina regulatória de cadeia leve (RLC)9. Sua ação pode
implicar na otimização da interação entre actina e miosina10 devido a uma maior sensibilidade do
aparelho contrátil ao cálcio liberado pelo retículo sarcoplasmático33. O aumento da sensibilidade ao
cálcio é maior quando as concentrações desse íon são baixas, como acontece em um twitch4. Em altas
concentrações de cálcio esse aumento da sensibilidade parece ter pouco efeito, como visto em
contrações tetânicas4. Assim, pode ser hipotetizado que um progressi- vo aumento na concentração de
cálcio citosólico progressivamente limita a magnitude da PPA, por reduzir o efeito positivo da
fosforilação da miosina RCL, o que é suportado pela diminuição da potencialização com o aumen- to
da frequência de estimulação34. A ligação com o fosfato (fosforilação) conduziria a uma taxa
melhorada em que as pontes cruzadas se movem, induzindo um aumento na transição de um estado de
“não geração de for- ça” para um estado de “geração de força” das pontes cruzadas34. Embora muito
especulativo, isso resultaria em uma ativação contrátil muscular vo- luntária otimizada, possibilitando
teoricamente, que a produção de potên- cia35 e força36 na atividade desempenhada posteriormente seja
aumentada.
Recrutar todas as fibras durante a atividade condicionante é importan-
te para obter a potencialização máxima, pois somente as fibras recrutadas durante a contração podem
ser fosforiladas28. Além disso, a atividade deve ser intensa o suficiente para ativar um número
substancial de unidades motoras do tipo II18, pois essas apresentam maior capacidade de fosforila-
ção14. Dessa forma, ajustar a intensidade da contração em um nível que seja suficiente para recrutar
todas as fibras musculares pode ser uma estratégia para aumentar a performance28. Nessa perspectiva,
foi verificado que uma contração submáxima pode evocar PPA em músculos onde a maioria das fibras
musculares são recrutadas em intensidades submáximas28. No refe- rido estudo, os autores verificaram
que a magnitude da PPA na adução do polegar foi aumentando até 60% da contração voluntária
máxima (CVM), não sendo observado aumentos acima desses valores. Já a magnitude da PPA na
flexão plantar aumentou até 80% da CVM, porém não aumentou entre 80% e 100% da CVM,
demonstrado que quando fibras são recrutadas em intensidades abaixo da máxima, um ajuste pode ser
realizado, levando em conta o percentual da CVM que recrute todas as fibras presentes.
Além dos mecanismos associados às propriedades contráteis, a melho- ra da performance
voluntária também tem sido atribuída a fatores neu- rais. Destes, especula-se o aumento de
recrutamento de unidades motoras, aumento na excitabilidade dos motoneurônios alfa previamente
ativados e possivelmente um aumento na eficiência sináptica entre neurônios aferen- tes do tipo Ia e
motoneurônios alfa na medula espinal10,37.
Os efeitos ou alterações no sistema nervoso oriundos de uma contra- ção condicionante ainda não
estão totalmente elucidados. A maioria dos estudos não exploram os mecanismos otimizadores usando
medidas de excitabilidade neural, como por exemplo, o reflexo-H. Um aumento desse reflexo após
uma atividade pode ser um indicativo de redução na falha de transmissão de potenciais de ação nas
junções sinápticas e no subsequen- te aumento de recrutamento de unidades motoras maiores38.
Atletas de esportes que necessitam força e potência muscular teriam maior ativação da musculatura
envolvida, afetando esse reflexo, o que provocaria aumen- to da ativação muscular39. Dessa forma, a
magnitude do reflexo-H é pro- porcional a magnitude da ativação muscular, podendo então, uma
maior ativação encontrada nesses atletas, resultar em melhor desempenho39. Poucos estudos avaliaram
tal reflexo de forma aguda, sendo que alguns deles encontraram aumentos40,41 enquanto outros não
verificaram mudan- ças42. Além do reflexo-H, outra medida de excitabilidade neural utilizada em
estudos é a razão onda V/onda M. Essa razão aumenta caso ocorra um aumento da eficiência
sináptica entre neurônios aferentes Ia e moto-
neurônios alfa na medula43, sinalizando, possivelmente, o recrutamento de unidades motoras
maiores29,38. Como consequência, o output motoneu- ronal é elevado, refletido pelo tráfego total
aumentado dos potenciais de ação pelos axônios dos motoneurônios alfa no momento da
mensuração43. Atividades condicionantes podem, então, oferecer um método simples de induzir um
estado neural melhorado44 em comparação com um aqueci- mento tradicional, devido ao trabalho
muscular adicional possivelmente aumentar o potencial de excitação do músculo, aumentando a
performan- ce subsequente45.
Em resumo, a respeito das propriedades intramusculares, cada mio- sina RCL tem um local
específico para incorporação de uma molécula de fosfato10 e essa incorporação acontece quando
uma contração muscular é iniciada. Quanto mais intensa a contração, mais fibras são recrutadas e
maior o nível de fosforilação, o que auxilia na interação entre as proteínas contráteis. Durante o tempo
em que a molécula de fosfato está incorpo- rada, o torque de um twitch é aumentado16 e isso está
associado a uma maior sensibilidade ao cálcio, principalmente quando as concentrações desses estão
baixas. Além disso, fibras do tipo II aparentemente apresen- tam maior fosforilação e demonstram
maior nível de PPA. Do ponto de vista neural, uma maior transmissão de potenciais excitatórios
através da junção sináptica na medula poderia ocorrer após uma atividade condicio- nante, resultando
em otimização sináptica e aumento de excitabilidade, fazendo com que os motoneurônios,
principalmente de grande calibre, atinjam mais facilmente o limiar para iniciar um potencial de ação e
con- trair as fibras musculares por ele inervadas10.

Efeitos da temperatura
O aumento da temperatura muscular após uma atividade condicionan- te pode explicar uma parte
do aumento da performance voluntária29. Os mecanismos envolvidos incluem melhora da condução
do impulso nervo- so, alteração na relação força-velocidade e aumento do fornecimento de energia
anaeróbia, que pode beneficiar a performance de curto e médio prazo3. Algumas evidências foram
apontadas, a exemplo do estudo de Fle- tcher18, mostrando que a altura do salto foi significativamente
aumentada (2,4% em média) quando um aquecimento ativo foi utilizado com conco- mitante aumento
da atividade eletromiográfica (EMG), indicando mudan- ças positivas na ativação muscular
relacionadas a esse mecanismo18.
Importante destacar que a maioria dos estudos não avaliou o efeito do aquecimento na
performance testada, focando somente no efeito da
atividade condicionante. Segundo Fletcher18, isso pode ser um equívoco, pois, geralmente, os atletas
realizam um aquecimento ativo, alongamen- to dinâmico e somente após isso o protocolo de PPA.
Nessa perspectiva, foi verificado em um estudo do mesmo autor18 que um aquecimento ativo e o uso
de alongamento dinâmico antes de uma atividade condicionante aumentaram a intensidade da
preparação, o que pode ter levado ao au- mento da frequência cardíaca e da temperatura corporal para
um nível mais próximo do ótimo, causando maior estimulação nervosa e resultan- do em aumento
significativo do sinal EMG18. O aquecimento pode então permitir que a tarefa subsequente comece
com uma cinética de consumo de oxigênio elevada, se o tempo de intervalo entre eles forem curtos.
Uma economia da capacidade anaeróbia pode aumentar o tempo até a exaus- tão e melhorar a
performance em tarefas que requeiram uma contribuição anaeróbia significativa3.
Em resumo, principalmente na avaliação de performance voluntária, seria interessante monitorar
a temperatura corporal para evitar possível viés nos resultados, uma vez que, qualquer aumento da
temperatura após uma contração máxima poderia aumentar o desempenho subsequente sem nenhuma
relação direta com o mecanismo de fosforilação associado ao PPA.

Potencialização pós-ativação na eletroestimulação

O twitch muscular ou “pulso simples” é um importante meio para ana- lisar as propriedades
contráteis isoladas46 e tem sido utilizado para de- monstrar a ocorrência da PPA13. Mudanças
ocorridas nas propriedades de um twitch após uma atividade condicionante indicam se houve ou não
potencialização13. Como já mencionado, a falta de registro da potencializa- ção utilizando-se de
eletroestimulação é uma limitação de muitos estudos, pois sem esse registro não é possível determinar
se o aumento da perfor- mance é resultado da PPA ou apenas devido a um aumento na temperatu- ra
ou outro mecanismo associado ao aquecimento7,13.
O torque produzido pela musculatura em resposta a esse estímulo elétrico supra máximo (twitch)
é aumentado transitoriamente após uma contração “artificial involuntária”, e representa a capacidade
contrátil de geração de força36. Tem sido evidenciado que as melhoras nessa capaci- dade intrínseca
de gerar força após contrações condicionantes, associada à PPA, podem se traduzir em aumentos da
performance voluntária43. Po- rém, para se poder atribuir uma melhora em um exercício subsequente
aos
efeitos do fenômeno PPA, o torque no twitch deve ser avaliado concomi-
tantemente a performance voluntária36.
A potencialização do torque em um twitch é máxima imediatamen- te após a contração
condicionante13,15,47–49 voltando aos seus valores de base após aproximadamente 10
minutos14,15,23,37,49,53. Essa potencialização é maior para ações concêntricas, embora também
presentes para ações isométricas e excêntricas46. A intensidade da contração condicionante também
afeta a magnitude do aumento do torque em um twitch, sendo ele significativamente maior para
contrações utilizando-se de cargas ele- vadas36,51. Também verificou-se que mulheres treinadas em
potência apre- sentam maior potencialização do torque do que mulheres treinadas em en- durance48, o
que indiretamente corrobora com os estudos demonstrando que fibras do tipo II são mais beneficiadas
por esse mecanismo.
A origem da potencialização do torque também tem sido investigada, podendo-se assim inferir se
é advinda de mecanismos centrais ou perifé- ricos. Uma forma de se avaliar essa origem é através da
mensuração da onda-M. A falta de modificações dessa onda indica que a potencialização está
relacionada a mecanismos intramusculares13, como, por exemplo, a intensificação do acoplamento
excitação-contração52. Em vários estudos o torque e sua taxa máxima de produção foram aumentados
sem modifi- cações na onda-M13,23,28,36,49,50,52,53, sendo essa onda monitorada tanto para diferentes tipos
de contração (concêntrica, excêntrica e isométrica máxi- mas)50 quanto para contrações tetânicas
induzidas eletricamente e volun- tárias máximas13.
Um aspecto importante proposto inicialmente por Cuenca-Fernán- dez et al.17 é a possibilidade de
se adotar uma terminologia que diferencie claramente a melhora da performance de atividades
voluntárias (saltos, sprints, arremessos) da potencialização vista em contrações evocadas ele-
tricamente (twitch). Segundo Gago et al.46 essa diferenciação seria inte- ressante, já que grande
confusão é observada na literatura atual, em que vários estudos atribuem de forma equivocada a
melhora da performance voluntária após uma contração muscular condicionante ao fenômeno PPA
sem a confirmação do mesmo via eletroestimulação. Cuenca-Fernández et al.17 propõe então o termo
performance pós-ativação (PAPE) para referir-
-se à melhora de atividades voluntárias, o qual poderia ser adotado para melhor diferenciação das
respostas.
Tendo em vista os aspectos observados, a potencialização do torque de um twitch é um
fenômeno bem conhecido e reprodutível, com estudos inicias relacionados à temática realizados no
início do século passado54. O
tempo de potencialização do torque nesse caso, correlaciona-se positiva- mente com a fosforilação da
miosina RCL16 e à medida que essa se dissipa, ele também diminui, o que parece acontecer em 10
minutos. A importância funcional disso ainda está sendo determinada, porém alguns estudos que
monitoraram concomitantemente a performance voluntária e as respostas contráteis, reportaram
relação entre melhoras da performance e nível de PPA43,47,49,53, enquanto outros não55,56. Sendo assim,
mais pesquisas neces- sitam ser realizadas para total esclarecimento dessa relação.

Influência do tipo de ação muscular e do modo de exercício na eficiência da


potencialização pós-ativa- ção

O modo de exercício utilizado como AC, bem como a especificidade de sua ação muscular, são
fatores que podem exercer um papel importante na modulação dos efeitos da potencialização em
atividades voluntárias44. Sa- be-se que a eficiência da atividade prévia está relacionada com a
duração do seu efeito potencializador, estando esse intimamente conectado com as implicações
práticas26.
Inúmeras possibilidades de exercícios têm sido testadas como AC, va- riando desde exercícios
gerais de força, saltos verticais, sprints, dentre ou- tras possibilidades. De modo geral, tem sido
preconizado que o exercício condicionante utilizado seja o mais próximo do padrão motor do movi-
mento da performance subsequente, seguindo assim, o princípio da es- pecificidade. Nesse contexto, é
proposto que atividades dinâmicas em sua natureza sejam precedidas por AC também dinâmicas60.
Fletcher18 afirma, por exemplo, que se a tarefa principal incluir o ciclo alongamento encur- tamento
(CAE), que é um tipo de ação muscular que ocorre na maioria das atividades esportivas, a AC
também deve possuir um padrão similar, dada a importância do CAE no auxílio da taxa de produção
de força em es- portes que envolvam potência. O exercício de agachamento tem sido uma das
principais formas de AC utilizado para melhorar a performance57,58. A principal vantagem desta AC é
a praticidade, uma vez que praticamente todas as instalações possuem o equipamento básico para
realizar o agacha- mento58. A falta de especificidade entre o estímulo e o exercício principal oferece
uma possível explicação para variabilidade nas respostas entre di- ferentes tarefas testadas59, sendo
assim mais aceitável que o agachamento potencialize mais um exercício com padrão similar
biomecânico (um salto
vertical, por exemplo) do que um exercício como um sprint, com padrão não tão semelhante58.
Utilizando-se dessa AC, Bevan et al.32 verificaram melhora na perfor- mance de sprints quando
as respostas ao protocolo condicionante foram avaliadas individualmente. Isso demonstra que os
atletas podem se bene- ficiar dessa estratégia, desde que seja provida recuperação adequada in-
dividualizada63 entre o estímulo e a atividade principal. Da mesma forma, Chatzopoulos at al.64
utilizaram o agachamento como AC e observaram aumentos da performance do sprint (redução do
tempo) 5 minutos após a realização do protocolo. Resultados semelhantes foram observados no
estudo de Evetovich, Conley e McCawley65 que também verificaram me- lhoras no tempo do sprint
de atletas após protocolo prévio condicionan- te com agachamento. Observa-se dessa forma que a
literatura ainda não está clara sobre esse aspecto e o agachamento parece auxiliar também em sprints.
Pode-se especular com base nesses resultados que a especificidade dos grupos musculares envolvidos
tem maior impacto nos resultados do que o padrão motor em si, embora mais pesquisas são
necessárias para esclarecer esse fato.
A profundidade do agachamento é outro fator que pode influenciar na eficiência da AC25. Tem
sido sugerido que quanto mais profundo o aga- chamento, o que aumenta a ativação do glúteo e o
trabalho produzido em comparação a posições menos agachadas, melhor será desempenho em
atividade principais subsequentes, como no salto vertical45. É especula- do então que a contribuição
da parte excêntrica do movimento exerça um efeito importante na potencialização muscular, em
função de resultar em aumentada descarga aferente na medula espinhal devido à atividade dos fusos
musculares que possibilitam uma diminuição na falha de transmis- são das fibras aferentes Ia para o
motoneurônio alfa adjacente38. Conforme dados de um estudo anterior, intensidades supra máximas de
exercício ex- cêntrico (130% 1RM) foram capazes de aumentar o desempenho em atletas bem
treinados66. Contrastando a esses achados, uma meta-análise recente verificou que um agachamento
mais profundo causou menores efeitos do que agachamentos parciais na manifestação dos efeitos da
PPA25. Desse modo, parece que ainda não está claro se a profundidade do agachamento é um fator
interveniente nesse processo, sendo necessário mais pesquisas relacionadas à temática.
Atividades pliométricas também têm sido testadas como AC prévias para fins de PPA em
atividades envolvendo potência de membros inferio- res67–69. Uma recente meta-análise mostrou que
exercícios pliométricos
podem ser até mais benéficos na manifestação de PPA do que exercícios dinâmicos tradicionais de
alta e moderada intensidade e isométricos máxi- mos25. Pliometria neste capítulo será definida como
atividades que envol- vam o CAE, que é caracterizado por uma transição entre a fase excêntrica e
concêntrica, no qual parte da energia pode ser reaproveitada caso essa transição seja rápida70.
Utilizando esse tipo de atividade, Bergmann, Kra- mer e Gruber43 testaram a eficácia de um protocolo
composto por 10 saltos verticais máximos como AC na potencialização da altura de drop jumps (DJ)
subsequentes. Os resultados mostraram que 30 segundos após AC houve aumento no pico de torque
no twitch de 32%±8, caindo para 6%±5 após 5 min, bem como verificou-se melhora de 12% na
altura do DJ. Foi encontrada correlação positiva, porém baixa, entre a altura do salto no DJ e o pico
de torque no twitch, indicando que o aumento da performance foi parcialmente devido ao PPA. Não
houve mudanças na EMG e na onda V/onda M, sugerindo que os mecanismos causadores do PPA no
estudo foram intramusculares e não neurais.
Ainda se tratando de atividades pliométricas, quando utilizado o DJ como AC em atletas
treinados, Bridgeman et al.30 observaram efeitos po- sitivos no CMJ subsequente, bem como Chen et
al.31, que verificaram me- lhoras no salto após a utilização desse tipo de AC, em jogadores de vôlei.
Ainda, Bogdanis, Tsoukos e Veligekas71 verificaram que a inclusão de um exercício pliométrico 3
minutos antes de um salto em distância pode au- mentar de forma significativa a performance. No
estudo, houve um pro- gressivo aumento na performance do salto da terceira tentativa em diante com
os valores pico atingidos nas últimas duas (3,0 a 4,8%, respectivamen- te). Como a AC foi repetida
antes dos saltos subsequentes ficou evidente um efeito cumulativo, resultando em melhora progressiva
na performance do salto em distância.
Outro aspecto importante a ser considerado é a intensidade das con- trações realizadas na AC.
Tem sido observado que com aumentos da in- tensidade da AC, melhoras na performance
voluntária acontecem72, vai ao encontro dos estudos com eletroestimulação, onde maiores intensi-
dades estão relacionadas a maior fosforilação da miosina RCL e conse- quentemente, maior torque no
twitch28,49. Em uma meta-análise recente, foi constatado que usar cargas com repetições máximas é
mais vantajoso para expressar PPA do que cargas submáximas, embora isso tenha ocor- rido apenas
para indivíduos treinados, enquanto que cargas submáximas são mais indicadas para indivíduos sem
experiência em treinamento de força25. Em outra meta-análise24, a potencialização foi maior após
séries
múltiplas realizadas em intensidades moderadas (60-84% de 1 RM), sendo que em intensidades acima
dessa faixa, diminuição dos efeitos positivos foram observados24. Isso demonstra que respostas
diferem em alguns as- pectos, estando possivelmente relacionado às características individuais dos
sujeitos, assunto discutido no tópico seguinte.
Já é consenso que o tipo de contração muscular gera diferentes res- postas em termos de fadiga29,
podendo assim exercer uma influência no desempenho de um movimento subsequente38. A respeito
disso, Bogdanis et al.29 utilizaram protocolos isométrico, excêntrico e concêntrico como AC e um dos
principais resultados foi o de que apenas o grupo que executou o protocolo isométrico obteve aumento
significativo do salto (3,0±1,2%). Em outro estudo, imediatamente após uma AC de 3 séries de 3
segundos de ex- tensão isométrica de joelhos, foram encontrados aumentos significativos na altura do
DJ e na extensão de joelho isocinética, levando os autores a apontar efeitos benéficos para exercícios
que requeiram rápidas taxas de produção de força44.
Ainda em relação ao tipo de contração, porém avaliando as proprie- dades contráteis através de
eletroestimulação, Baudry e Duchateau50 en- contraram níveis semelhantes de potencialização do
torque no twitch após contração muscular isométrica, concêntrica e excêntrica de 6 segundos. Nesse
estudo, imediatamente após cada tipo de contração voluntária má- xima o torque no twitch e a taxa
máxima de produção de torque foram significativamente potencializados, variando de 150 a 180%,
sem nenhuma mudança no tempo de contração e sem modificação na onda-M. Segun- do os
autores, a presença de PPA na ausência de mudanças na ativação muscular no estudo sugere que o
mecanismo de excitação-contração foi intensificado, da mesma forma, a ausência de potencialização
no tempo de contração sugere que o acoplamento excitação-contração não é prolonga- do, mas sim
intensificado após as contrações condicionantes. Os resulta- dos do estudo de Baudry e Duchateau50
sugerem que o PPA e seu declínio não estão relacionados com a tipo de contração, quando levado em
conta apenas as propriedades do twitch. Tais resultados diferem dos estudos ci- tados anteriormente,
em que foi avaliada a performance voluntária em um movimento complexo, na qual, diferentes
tipos de contração causaram diferentes resultados, provavelmente devido a fadigas distintas geradas.
Outro aspecto importante a ser considerado é o tipo de contração da atividade principal
subsequente usada para testar o efeito da AC73. É re- portado que a potencialização é diferente durante
encurtamento, alon- gamento e isometria, sendo as propriedades contráteis durante o encur-
tamento muscular mais beneficiadas46. Da mesma forma, no estudo de Babault, Maffiuletti e
Pousson52 foi encontrada PPA maior para a condição de encurtamento rápido (51,9%±21,1), do que
para encurtamento lento (34,6%±13,2), demonstrado que a velocidade na atividade voluntária tes-
tada, além do tipo de contração, influência nas respostas.
Diante dessas informações, pode-se verificar que o tipo de exercício influencia na eficiência da
PPA. A AC deve recrutar os mesmos grupos musculares da atividade principal testada para melhor
eficiência da PPA. Possivelmente isso aconteça devido a fosforilação da miosina RCL ser específica
às fibras recrutadas fazendo com que as fibras posteriormente utilizadas estejam em um estado
potencializado. É descrito também que uma contração isométrica máxima ativa mais fibras
musculares. O que pode resultar em maior fosforilação e que contrações dinâmicas ativam
mecanismos neurais relacionados a melhora do desempenho10. Parece que a parte excêntrica de uma
contração dinâmica ativa o disparo dos fusos musculares e isso pode aumentar o tráfego aferente para
a medula espinal fazendo com que menos falha na transmissão entre fibras aferentes Ia e
motoneurônios alfa ocorra, resultando em aumento na ativação de unida- des motoras maiores durante
a atividade subsequente10. Uma resposta re- flexa otimizada após uma AC poderia, em teoria, aumentar
a efetividade da ativação voluntária pela otimização da contribuição reflexa no drive neu- ral6. Talvez
devido a esse aspecto somado a especificidade da ação muscu- lar, atividades pliométricas estejam
sendo recentemente utilizadas como AC, com melhoras na performance observados. Além disso,
possivelmente a especificidade do CAE desempenhe algum efeito na modulação dos efei- tos
positivos, porém, mais pesquisas são necessárias utilizando-se desse tipo de atividade. Em suma,
analisando a literatura atual, a utilização de diferentes atividades e contrações distintas provavelmente
seja uma das causas da inconsistência de resultados, visto que diferentes atividades e tipos de
contração desencadeiam fadigas distintas, o que vai influenciar diretamente nos resultados.

A relação fadiga vs. potencialização e a influência do


tempo de recuperação

Em atividades voluntárias, a observação de melhora na performance após aplicação de uma AC


depende da relação entre potencialização e fadi- ga43. Ambas podem coexistir após uma AC74,75 devido
a habilidade da fosfo-
rilação da miosina RCL seletivamente aumentar a força de um twitch en- quanto que força tetânica é
reduzida9. Isso está relacionado à sensibilidade ao cálcio que é afetada pela concentração desse na
fibra, ou seja, quando a concentração dele é alta a sensibilidade é baixa e vice versa4. Assim, em uma
estimulação elétrica (twitch), a sensibilidade ao cálcio aumentada devido a fosforilação da miosina
RCL faz com que, mesmo em um múscu- lo fadigado, ainda se observe potencialização. No entanto,
em atividades voluntárias, a concentração de cálcio é alta e a sensibilidade ao mesmo é menor,
fazendo com que a fadiga seja predominante sobre a PPA. O estado potencializado de um twitch
alcança sua expressão máxima imediatamen- te após a contração condicionante e decai
exponencialmente voltando aos valores basais em aproximadamente 10 minutos13,23,34,50,76. Em
atividades voluntárias, à medida que a fadiga se dissipa em um momento na recupe- ração, a melhora
final da performance voluntária é observada39, indicando que o balanço entre eles é primordial32,43.
Essa forte relação entre fadiga e PPA é uma das causas das respostas individuais aos protocolos
condicio- nantes77, os quais necessitam evitar a indução de fadiga demasiada26.
O volume e a intensidade da atividade condicionante afetam direta- mente os níveis de PPA e de
fadiga gerados, estando eles conectados com a manifestação dos efeitos observados. Contrações
condicionantes longas necessitam de períodos maiores de recuperação para que os efeitos positi- vos
sejam demonstrados e para que a fadiga se dissipe26,38,51. Desta forma, o tempo após a atividade
condicionante necessita ser ajustado18,78 indivi- dualmente32,51,66,79,80, pois se for curto demais, a fadiga
impede melhoras da performance e, se for muito longo, o estado potencializado será perdi- do18,31,38.
O tempo de recuperação ideal tende a diferir muito nos estudos ana-
lisados, devido principalmente às diferentes modalidades praticadas e ao nível de treinamento dos
sujeitos. Por exemplo, para atletas de rúgbi pro- fissionais, utilizando-se de 3 repetições de
agachamento dinâmico a 91% de 1RM como AC, verificou-se grande variabilidade no tempo ideal
para potencialização, com a maioria dos atletas potencializando aos 8 minu- tos32. Já para sujeitos
ativos, 5 minutos são suficientes para observar-se melhoras64 após AC envolvendo 10 repetições a
90% de 1RM, porém com
3 minutos de intervalo entre cada repetição. Uma importante informação também foi mostrada por
Boullosa et al.77, que verificaram que o intervalo de recuperação ótimo depende da configuração da
AC, sendo que quando houve intervalos entre as repetições do protocolo, os sujeitos tiveram me- lhor
desempenho no 1º minuto da recuperação, enquanto que uma série
de AC sem intervalos gerou potencialização somente após 9 minutos. Isso demonstra que uma
atividade condicionante que gere pouca fadiga conse- gue expressar os efeitos positivos mais
rapidamente na recuperação.
Como explicitado acima, o nível de treinamento dos indivíduos pare- ce influenciar na
manifestação dos efeitos positivos da potencialização39,78, possivelmente devido ao nível de força
máxima elevar com o aumento do tempo de treinamento, sendo que essa pode influenciar na relação
poten- cialização e fadiga81. Teoricamente, além de maior potencialização, atletas com maior nível de
treino e de força podem também apresentar menor fadiga após a execução de uma AC, comparado a
sedentários39, obtendo maior vantagem. De fato, os potenciais benefícios que esses aumentos agu- dos
na performance trazem, são mais interessantes especialmente para atletas de elite44, devido ao nível de
performance e treinamento semelhan- tes entre esses atletas. Em alguns estudos somente é observado
melhora do desempenho após protocolos prévios quando os sujeitos são separados em grupos
diferenciados pelo nível de força,32,39 de modo que a PPA parece ser viável para aumentar agudamente
a performance em atletas, mas não em sujeitos ativos39,78. Tais resultados então sugerem que um nível
míni- mo de força81 e treinamento é necessário para ocorrer a potencialização7. Dessa forma, é
importante avaliar cada atleta individualmente para de- terminar se a implementação de protocolos de
AC durante aquecimento para competições é benéfica, pois a efetividade dos protocolos prévios é
altamente dependente da modalidade praticada pelo atleta que está reali- zando a atividade e das
características do sujeito22,65.
De modo geral, contrações mais intensas e prolongadas ativam em maior magnitude os efeitos do
PPA, porém, também produzem maior fa- diga. Em um primeiro momento, a fadiga é predominante e
consequente- mente a performance voluntária é diminuída ou inalterada10. Em algum momento na
recuperação, devido à fadiga dissipar mais rapidamente que a PPA, melhoras no desempenho podem
ser observadas. Além disso, gran- des volumes e intensidades na AC geram respostas e necessidades
diferen- tes de intervalo de recuperação para expressar os efeitos positivos. Quanto maior a fadiga
gerada, maior o intervalo necessário. Esse intervalo tam- bém vai depender da capacidade do
indivíduo de resistir a fadiga e das ca- racterísticas individuais do mesmo, como sua distribuição de
fibras, nível de treinamento e de força máxima. Isso pode acontecer devido a fosforila- ção ser maior
em fibras tipo II e ao maior recrutamento de motoneurônios de grande calibre, pois sujeitos com essas
características possuem maior proporção de fibras tipo II6. Esses indivíduos poderiam então se
beneficiar
dos aspectos intramusculares e neurais relacionados à melhora do desem-
penho levando a expressão dos efeitos positivos de forma otimizada.
Devido à natureza prolongada dos efeitos da PPA, ela oferece, teori- camente, uma estratégia para
otimizar a produção de força e potência, além do padrão de performance alcançado sem a utilização
de uma carga prévia44, sendo que um aumento na performance voluntária pode ser ob- tido somente
quando a fadiga é dissipada28,81. Utilizar um alto volume e uma alta intensidade na AC pode gerar
muita fadiga e suprimir os efeitos positivos da potencialização38, sendo isso possivelmente a causa
da falta de melhoras82. Dessa forma, os treinadores devem estar cientes de que respostas individuais
podem existir62,63,80,83 em termos de tempo ideal de recuperação e caso possível e viável, identificar
individualmente os sujei- tos responsivos e seus respectivos intervalos ótimos65,75. Assim, é vital que
treinadores entendam os efeitos da fadiga nos aquecimentos utilizando-se de atividades prévias
visando PPA para que possam se beneficiar comple- tamente na estruturação de programas de
treinamento utilizando-se desse mecanismo.
Em uma recente meta-análise foi verificado que indivíduos com maio- res níveis de força exibem
maior PPA em comparação com sujeitos mais fracos e que, quanto mais tempo o indivíduo tem de
experiência em trei- namento, maiores são os efeitos positivos24,25. Na meta-análise de Seitz et al.25 foi
mostrado que indivíduos mais fortes demonstraram maior PPA após série única e utilizando-se de
cargas máximas na AC, enquanto que indivíduos mais fracos se beneficiam mais de séries múltiplas
com cargas submáximas. Isso demonstra que a relação entre PPA e fadiga difere en- tre sujeitos com
níveis de força distintos. Além disso, foi verificado que o maior nível de PPA foi observado entre
0,3-4min após uma atividade pliométrica, demonstrando que a relação fadiga-potencialização e tempo
de recuperação é diferente para esse tipo de atividade, talvez devido a me- nor produção de fadiga
nesse tipo de exercício25. Isso vai de encontro aos estudos de Bridgeman et al.30 e Chen et al.31 onde
DJ como AC causaram maiores aumentos da performance do CMJ aos 2 minutos de recuperação.
Com relação ao intervalo de recuperação ótimo, indivíduos mais fortes parecem conseguir
expressar a PPA com menor intervalo após o estímulo (5-10min)84, o que vai de encontro aos
resultados da meta-análise de Seitz et al.25, em que indivíduos mais fortes demonstraram maior PPA
após 5-7 min de recuperação, enquanto que indivíduos fracos demonstraram maior PPA após 8 min
ou mais25. Já na meta-análise de Wilson et al.24 verifi- cou-se que o tempo ótimo foi entre 7 e 10
minutos após séries múltiplas
em intensidades moderadas (60-84% de 1RM)24, o que se assemelha aos resultados da meta-análise
de Gouvêa et al.85, em que verificou-se que in- tervalos de 8 a 12 minutos tiveram mais impacto
benéfico na altura do salto vertical.
Em suma, observa-se que várias características do sujeito e do exercí- cio podem afetar a relação
entre potencialização e fadiga. Em função disso, diferentes resultados são encontrados na literatura
com relação ao tempo de intervalo ótimo, mostrando que as respostas são bastante individuais. Cada
sujeito terá um momento ideal individualizado em que essa relação se mostre favorável à PPA, ao
menos tratando-se de atividades voluntárias subsequentes.

Complex-training: aplicação do PPA em longo prazo no treinamento


A aplicação mais intuitiva dos efeitos da PPA e seu aumento agudo do potencial contrátil é
visando a competição86. Porém, além dessas respostas agudas obtidas com protocolos de atividades
condicionantes, o conceito de complex-training incorpora os princípios do PPA83 para gerar adapta-
ções neuromusculares em longo prazo, a exemplo do aumento da taxa de produção de força em
movimentos dinâmicos6. Como a fadiga se dissipa mais rapidamente que os efeitos da
potencialização, é possível criar um “complexo” força-potência de treinamento que tire proveito dos
efeitos positivos gerados38. Esse complexo é exemplificado pela aplicação de um exercício prévio,
como um agachamento com alta carga, seguido de uma atividade com velocidade, como um salto18,
sendo isso conhecido como “complex-training”35. Esses protocolos de treinamento se beneficiam das
características positivas do PPA35 e podem auxiliar uma ampla gama das populações atléticas44,
sendo considerados superiores a outros métodos de treinamento para melhorar a performance
atlética envolvendo movi- mentos com padrões explosivos87,7. Uma vez que a capacidade é melhorada
agudamente, a performance no treinamento pode ser otimizada, aumen- tando a eficiência da sessão36.
Caso os estímulos sejam usados dentro de uma periodização, maiores adaptações em longo prazo
podem beneficiar a performance do indivíduo88.
O complex-training é um método viável para combinar força e po- tência na mesma sessão,
sendo mais eficiente35 e benéfico para exercícios que necessitam altas taxas de aplicação de força em
um exercício biome- canicamente similar35, imitando a tarefa principal o máximo possível18. As
sequências de “complex training” têm o potencial de promover um estado neural melhorado
associado ao PPA44, sendo utilizadas dentro de uma pe- riodização de treinamento de força35 até
mesmo em atletas treinados onde aumentos valiosos na performance podem ser observados44.
Os métodos “complex training” demandam tempo e esforço que os técnicos devem considerar65 e
as melhoras são sensíveis à estrutura da se- quência utilizada no complex-training44. Protocolos com
agachamentos podem ser vantajosos para atletas se a performance de salto é um aspecto importante da
sua modalidade esportiva57. Assim, um exemplo seria em- purrar ou puxar um objeto pesado visando
induzir PPA sem a necessidade de equipamentos sofisticados44. É importante ressaltar que uma carga
pré- via pode ter efeito não apenas em uma série, mas em múltiplas, realizadas após a intervenção88,
sendo então essa relação ainda mais complexa.
O complex-training tem seu lado positivo, porém suas limitações de- vem ser consideradas.
Várias séries com várias repetições de pliometria e exercícios com alta carga produzem um grande
estresse no sistema neu- romuscular e, se realizado por muito tempo, podem resultar em overrea-
ching ou overtraining88. Dessa forma, quando implementado esse tipo de treinamento, a técnica e a
potência não devem ser afetadas pela fadiga35, e sim auxiliar na manutenção de força muscular para
possibilitar que o atle- ta foque na técnica de execução da habilidade61. Caso respeitado os limites
individuais, até mesmo o treino de velocidade pode ser combinado com treinamento com altas cargas
na mesma sessão64, porém, deve-se levar em conta os efeitos ao longo de um microciclo e mesociclo35.
Nesse capítulo, foram analisados e discutidos fatores que possivel- mente afetam a manifestação
do fenômeno de PPA. É importante notar que, embora a maioria dos estudos atribuem uma possível
melhora da performance aos efeitos positivos do histórico de contração, poucos deles efetivamente
mensuraram se as propriedades neuromusculares estavam de fato potencializadas, através do torque
em um twitch (PPA) ou análise do reflexo-H, o qual reflete aumento na excitabilidade dos
motoneurônios. Além disso, mesmo com a confirmação de PPA com eletroestimulação, existe pouca
evidência de que, de fato, o torque no twitch aumentado após uma contração condicionante melhora a
performance de uma atividade voluntária complexa. Deve-se ter cuidado ao extrapolar resultados e
assu- mir que um músculo em estado potencializado apresentará desempenho voluntário superior.
Embora muitos autores especularem que esse esta- do “potencializado” possa ser benéfico para a
produção de potência em atividades onde essa é decisiva, sua real relação com a performance final
é muito mais complexa, não tão linear e pouco compreendida até o mo- mento. Padrões complexos de
movimento também podem não responder tão linearmente a melhoras gerais na potência muscular,
devido a outros fatores como coordenação, sinergismos musculares e mudanças na tem- peratura
muscular.
Por outro lado, mesmo sem a identificação exata dos mecanismos que levam a uma performance
aumentada, o resultado final em si é impor- tante e necessita atenção especial. Vários estudos nessa
perspectiva foram conduzidos e observaram performance superior após o uso de uma AC. Na
estruturação dessas atividades vários fatores devem ser considerados: a intensidade, o volume, o tipo
de atividade, o tipo de contração muscular presente e as características da tarefa principal que se
deseja otimizar são decisivas na manifestação ou não de um desempenho final otimizado. Um padrão
cinesiológico similar entre a AC e o exercício posterior parece tam- bém ser importante e deve ser
considerado por treinadores que queiram incorpor tais atividades em seu treinamento ou utilizar tais
atividades em competições.
A variabilidade das respostas em diferentes indivíduos está associada a relação PPA e fadiga,
podendo variar de acordo com diferentes níveis de treinamento, força e distribuição de fibras. Isso
dificulta a padronização de protocolos sendo então necessário determinar individualmente o tempo de
intervalo entre a AC e a performance principal através de tentativa e erro. Embora para grupos
homogêneos respostas semelhantes tendem a acontecer, sendo que aparentemente sujeitos treinados
respondem mais positivamente aos protocolos. Maiores volumes e intensidades induzem maiores
níveis de fadiga e também de PPA. Devido a diferentes taxas em que os dois se desenvolvem e
dissipam, o balanço final entre os dois irá de- terminar uma possível melhora da performance
voluntária. Dessa forma, o tempo de recuperação ideal entre a AC vai depender diretamente dessas
características e será altamente individual. Aparentemente, quanto mais fibras são recrutadas e
fosforiladas na AC, maior o valor de PPA estando isso relacionado a possíveis melhoras no
desempenho voluntário.
Embora altamente especulativo, uma tentativa de utilizar-se dessa “memória molecular” associada
a fosforilação da miosina RCL é altamente difundida na literatura, através do complex- training,
embora no âmbito do treinamento, até mesmo os que se utilizem dela não compreendam sua total
significância. Nesse método, o possível estado “potencializado” indu- zido por uma contração prévia é
utilizado acreditando-se que a atividade principal realizada nesse estado consiga também ser
realizada de forma
otimizada. A adaptação neuromuscular a esse método em longo prazo ain- da não foi testada, dessa
forma, necessita-se cuidado ao extrapolar efeitos agudos para adaptações crônicas.

Aplicações práticas

• Aumento da capacidade contrátil causada pela PPA podendo gerar melhor desempenho em
competições;
• Possibilidade de maiores adaptações neuromusculares em longo prazo através do uso do
complex-training;
• Melhora em desempenho de sprints e saltos através do uso de pro-
tocolos de PPA específicos;
• Maior eficiência na sessão de treino devido aos mecanismos otimi-
zadores associados a PPA.
• Facilidade do uso de saltos para gerar PPA em espaços reduzidos.
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374
CAPÍTULO XIV
ESPECIFICIDADE DA AÇÃO MUSCULAR PARA GANHO DE FORÇA MÁXIMA E RÁPIDA

Bruno Monteiro de Moura


Fernando Diefenthaeler

O que você irá encontrar:

• Contexto histórico do treinamento de força;


• Exercício com cargas constantes e variáveis;
• Exercício isocinético;
• Exercício isométrico;
• Treinamento de força e ganho de força máxima;
• Treinamento de força e ganho de força rápida.

Introdução

Nos capítulos anteriores foram abordadas as estruturas microscópicas do sistema


musculoesquelético e os métodos de avaliação de parâmetros biomecânicos desde o esporte à área
terapêutica. O conhecimento ad- quirido anteriormente servirá como arcabouço para um melhor entendi-
mento do porque, como e o que treinar para incrementar a capacidade de produção de força máxima
e rápida. Desde os primórdios em que Max Sick promoveu o que seria o treinamento isométrico,
passando pela então “tensão dinâmica” de Charles Atlas, pelo “Sargent jump test” proposto por Dudley
Allen Sargent, os irmãos Ben e Jon Weider que consistentemente promoviam o exercício por meio das
suas revistas, TL Delorme que revo- lucionou cientificamente a todos reabilitando militares lesionados
durante a 2ª guerra mundial, para não falar de tantos outros, o exercício resistido ganhou
popularidade40. Desde então (metade do século XX e ao longo do século XXI) houve uma preocupação
também em entender os mecanismos que permeiam o exercício resistido, seja ele utilizando a
metodologia do levantamento olímpico, do fisiculturismo ou do levantamento básico (do inglês power
lifting)53.
Há pouco tempo, acreditava-se que o treinamento de força deixaria o indivíduo mais lento, a
criança teria sua janela maturacional antecipada e reduzida e até que prejudicaria a saúde de idosos. No
entanto, desde a década de 80 houve um crescente número de estudos para responder e até retirar
certos dogmas até então aceitos e perpetuados pela sociedade
vigente. De lá para cá houve uma grande evolução generalizada53. Enquan- to os aparelhos de
exercício resistido melhoraram a ergonomia, para as- sim aprimorar a transmissão de força do
equipamento para o grupamento muscular, os métodos de avaliação em acompanhar o melhoramento
dos componentes neuromusculares (e.g., frequência de disparos, recrutamen- to de unidades motoras e
coativação muscular) e morfológicos (e.g., hiper- trofia, aumento do comprimento do fascículo e
rigidez da unidade muscu- lo-tendínea) receberam maior atenção por parte dos pesquisadores1,2.
O acompanhamento com técnicas mais robustas da evolução as di- ferentes maneiras de
treinamento de força, possibilitou avanços consi- deráveis no âmbito esportivo, paradesportivo e
clínico. Entender como, quando e porque cada método de treinamento de força possibilitará o pla-
nejamento do treinamento mais adequado desde o campo terapêutico até o alto nível competitivo se
faz necessário.

Bases da força muscular

Conhecer os princípios básicos do treinamento de força servirá como alicerce para aprimorar o
conhecimento de quais tipos de treinamento de força pode ser aplicado para alcançar o objetivo alvo.
O treinamento de força consiste de ações voluntárias isométricas, concêntricas e excêntricas. Por
definição a ação muscular excêntrica é representada pelo alongamen- to muscular quando a força do
grupamento muscular é excedida devido a maior carga externa. Em contrapartida, a ação muscular
concêntrica é representada pelo encurtamento muscular, pois a força do grupamento muscular é maior
do que a carga externa. As ações musculares concêntri- cas e excêntricas então constituem num
desfecho dinâmico, ou seja, ocorre movimento. Já durante a ação isométrica, não ocorre movimento,
pois a força da ação muscular é equivalente à carga externa52. Na maioria dos movimentos que
constituem a movimentação do ser humano as três ações musculares ocorrem em conjunto (Figura
1.14).
De acordo com Fleck e Kraemer33, a força muscular máxima é a quan- tidade máxima de força
que o músculo ou grupo muscular pode gerar du- rante um determinado movimento a uma dada
velocidade. Já para Knut- tgen e Komi52, a força máxima é caracterizada pela maior força que pode ser
produzida pelos músculos para realizar um determinado movimento isométrico ou dinâmico, porém o
tempo para alcançá-la é relativamente lento. De forma mais sucinta, pode-se dizer que força muscular
é a com- binação de fatores fisiológicos e biomecânicos da máxima capacidade de
o músculo gerar tensão para vencer ou suportar uma determinada carga a uma dada velocidade.

Figura 1.14 - Possíveis desfechos dada a tensão muscular (adaptado de


Fry e Newton39).

O objetivo central do treinamento de força é aumentar a força muscu-


lar e suas diferentes formas de manifestação, como a hipertrofia muscular.
A hipertrofia pode ser considerada como o aumento miofibrilar e com isso ocorre o aumento do
diâmetro das fibras musculares59. Sendo assim, como conceito, hipertrofia é o aumento da secção
transversa do músculo e, por conseguinte aumento do ângulo de penação musculoesquelético1.
Segundo Ploutz et al.71, na fase inicial do treinamento há um ganho muito maior de força muscular em
detrimento de ganho do volume muscular propriamen- te dito. Esse ganho, segundo a literatura, tem
relação com as adaptações neurais, previamente às mudanças morfológicas no músculo esquelético,
que ocorrem no início do treinamento de força.
A ação muscular ocorre mediante o controle neural, e aqui começa uma importante consideração a
despeito do treinamento de força. O controle neural é mediado pela unidade motora (UM) e para uma
melhor compres- são do que é a adaptação neural, faz-se necessária uma breve compreensão
conceitual. A UM é um neurônio motor alfa e todas as fibras que estão por ele inervadas. As UMs
podem ser classificadas em pequenas (quando inerva uma, duas ou três fibras musculares) ou grandes
(quando inerva mais de 1000 fibras musculares)32. A UM é considerada a junção do siste- ma
nervoso central (SNC) até a fibra muscular32. De acordo com Badillo e Gorostiaga9, apesar das
evidências que sugerem um papel significativo para os mecanismos neurais nas adaptações do
treinamento de força, os fatores neurais para aumento de força são: 1) número de UMs recrutadas;
2) tamanho das UMs recrutadas; 3) frequência de disparo em cada UMs;
4) inibição dos órgãos tendinosos de Golgi (OTG) e estimulação dos fusos musculares (reflexos
medulares); e 5) redução da co-ativação muscular.
A produção da força muscular é regulada por fatores neurais (aumento nos níveis de ativação
neural). O aumento na força muscular é regulado pela taxa de frequência de disparo e/ou pela
quantidade de UMs recruta- das17. É importante ressaltar que a UM sofre remodelações por toda a
vida do indivíduo72. As adaptações neurais podem ocorrer devido ao aumento da ativação dos
músculos agonistas e/ou sinergistas, assim como pela re- dução da coativação dos antagonistas. A
ativação dos músculos agonistas pode melhorar tanto devido a um maior recrutamento das UMs ou
pelo aumento na frequência de disparos em função do maior aporte de inputs de drives neurais dos
centros supraespinais, maior sincronização das UMs, maior excitabilidade dos motoneurônios
supraespinais e/ou redução na inibição dos inputs neurais4. Sendo assim, a possibilidade de ocorrer um
maior disparo de UMs de com limiar excitatório mais elevado em função de diferentes tipos de
treinamento de força é a grande senão maior chave para aumentar a força máxima, rápida e potência
muscular47.
Já não é novidade que a melhora inicial na produção de força pode ser creditada pelas
adaptações neurais adquiridas após aproximadamente
4 semanas de treinamento61,62. Aumentos na força de contração muscular em decorrência do aumento
da amplitude do sinal eletromiográfico (EMG) têm sido observados após período de treinamento
utilizando contrações isométricas12, concêntricas48 e excêntricas81. Tal mudança ocorre em res- posta
aos mais diferentes tipos de treinamento de força, seja ele com foco hipertrófico82, força máxima5 e
rápida12. Isto indica um maior drive neural para as fibras musculares2,3,29,45. Esses resultados são frutos
de observações nas mais variadas populações e com boa função neural, como jovens não treinados,
jovens bem treinados e idosos fisicamente ativos. Isto indica que há plasticidade neural (i.e.,
melhoramento neural) mesmo em indiví- duos altamente treinados em força e em idosos4,45.
Em nível celular e molecular, o músculo esquelético pode ser subdi- vidido e classificado baseado
nas características isofórmicas da miosina [miosinas de cadeias pesadas (myosin heavy chain – MHC)
MHC I, MHC IIa e IIb]. Estas geram três tipos de fibras (I, IIa e IIb) com tipos híbridos que
expressam múltiplos fenótipos entre as isoformas “tradicionais”64. As fibras tipo I, IIa e IIb possuem
grandes diferenças com relação as suas propriedades contráteis e energéticas. Além disso, sua
distribuição entre os músculos são conhecidas para modular suas propriedades funcionais in vivo25.
Após período de intervenção com foco hipertrófico (e.g. intensi- dade média e volume alto) e força
(e.g., alta intensidade e baixo volume), também ocorrem mudanças no tamanho da área da fibra
muscular tanto em jovens, quanto em idosos, porém com maior incremento para os jo- vens5,8,59.
Concomitantemente, os incrementos na capacidade de produção da
força máxima e rápida, amplitude do sinal EMG e hipertrofia das fibras musculares ocorrem
mudanças nas características morfológicas da estru- tura musculoesquelética, ou seja, em toda
arquitetura muscular em decor- rência do treinamento de força37,38. De maneira geral, ocorrem
mudanças no arranjo dos sarcômeros em série e em paralelo. Enquanto que o aumen- to do número de
sarcômero em paralelo culmina na hipertrofia muscular e no aumento do ângulo de penação, a adição
de sarcômero em séries (sar- comerogênese) aumenta o comprimento do fascículo muscular38. Dessa
forma, o incremento de sarcômeros em paralelo culmina no aumento da produção máxima da força
muscular. Enquanto que o efeito em série dos sarcômeros, no aumento da velocidade de encurtamento
muscular56.
Dado o contexto sobre as bases da força muscular, o profissional da
saúde deverá levar em consideração os conceitos básicos da física, como por exemplo, a segunda lei
de Newton (F = m * a). De acordo com a segun- da lei de Newton, a aceleração de um objeto é
proporcional à magnitude da força na mesma direção e sentido, porém inversamente proporcional a
sua massa, ou seja, a = F/m. Dessa maneira, a massa (m) é tida como uma representação numérica da
inércia do objeto estudado. Com isso, para al- terar, aumentar ou diminuir a velocidade de um objeto,
um impulso pro- porcional deve ser gerado. Nesse sentido, pesquisadores da área de treina- mento
físico têm sugerido que além de conhecer modelos de treinamento, é preciso ter noções básicas do tipo
de resistência que máquinas e exercício fornecem ao indivíduo40.

Tipos de exercício

O treinamento de força pode ser realizado em aparelhos isocinéticos, com a própria massa
corporal e com pesos livres. Porém, os exercícios re- sistidos em máquinas de placas (i.e., weight
stack machines)34 são mais utilizados por serem mais seguros e permitirem maior controle na exe-
cução de movimentos monoarticulares e multiarticulares, permitindo que toda amplitude de
movimento seja alcançada, utilizando respiração apro- priada6. Dados os conceitos de força
previamente definidos, as curvas de produção de força variam em função do ângulo articular
estudado, já que o braço de momento articular afeta a transferência do torque pela arti- culação55. Por
exemplo, as curvas de força dos extensores do joelho são ascendentes-descendentes e são explicadas
pelos experimentos propostos por de Gordon et al.43. As máquinas de placa foram as que mais
sofreram evoluções com o passar dos anos. Dentre as diversas fabricantes, existem máquinas de
resistência variável e de resistência constante. As máquinas mais modernas já contam com uma
resistência variável, dessa forma as empresas investiram nas polias assimétricas denominadas CAM
(constant arm movement – braço de momento constante)34 (Figura 2.14):
• Máquina de resistência constante – a carga não reduz ou aumenta durante todo o curso do
movimento articular;
• Máquina de resistência variável – a carga reduz ou aumenta de acordo com o braço de
momento articular para equiparar com o ân- gulo articular.
Figura 2.14 - Exemplo de polia de resistência constante (a) e polia de resis-
tência variável (b).

As máquinas com resistência constante têm uma estrutura física rígida e com presença de placas
ou lugar para acoplar anilhas, com guias, ca- bos ou correias. A polia desta máquina apresenta um
eixo central (Figura
2.14 a). Devido a esta configuração, o seu raio não se modifica durante a rotação, e em conseguinte,
o braço de momento da polia é constante sem oferecer uma vantagem mecânica articular com o
movimento articular. Já os aparelhos com resistência variável têm estrutura similar aos de resis- tência
constante, a diferença está na polia, pois a CAM proporciona uma resistência variável, gerando assim
uma vantagem mecânica para a articu- lação. Essa variabilidade ocorre devido a presença do fulcro do
eixo fora do centro (Figura 2b), este fato faz com que haja mudanças no braço de momento articular.
Dessa maneira, a ideia seria que a relação ângulo-força dos aparelhos com polia CAM seria mais reta
em comparação com a rela- ção ângulo-torque humano34 (Figura 3.14).

Exercício de resistência dinâmica variável e constante


Convencionalmente, os aparelhos com placas e polias são os mais ven- didos e utilizados dentro
das academias de musculação e clubes de futebol. Estes aparelhos são chamados de equipamentos de
resistência dinâmica, os quais podem ser de característica variável ou constante, pois depende do tipo
de polia utilizada. Os mais modernos equipamentos de resistên-
cia dinâmica podem ser constituídos de polia simétrica ou assimétrica, também chamada de CAM (do
inglês constant arm lever). Os exercícios de resistência dinâmica são os mais populares também
dentro da prática científica dentre as mais variadas idades (e.g., crianças, atletas, idosos e até muito
idosos)21 e limitações (e.g., fibromialgicos e dislipidêmicos)6.

Figura 3.14 - (a) Média e DP da relação torque-ângulo relativo dos exten- sores de joelho; (b) relação
torque-ângulo relativo para oito aparelhos de extensão do joelho que utilizam a polia com resistência
variável (CAM) . Adaptado de Folland e Morris34.
Constantemente a força dinâmica máxima é mensurada por teste de força dinâmica máxima (uma
repetição máxima - 1-RM) e/ou contração isométrica voluntária máxima (CIVM)22. No teste de 1-
RM, o individuo é instruído a erguer de forma dinâmica a maior quantidade de carga por uma
amplitude de movimento pré-definida. Já durante o teste de CIVM, o individuo é instruído a exercer a
maior força durante 3-5 s no ângulo óti- mo de produção de força para a articulação pré-estabelecida.
Os testes de força máxima estão relacionados com habilidade de caminhar, empurrar e mover objetos
do local, porém o tempo para produção dessa força é de- masiadamente lenta. Já a força rápida é
frequentemente avaliada pela taxa de desenvolvimento de força (TDF)2 durante contrações isométricas.
Neste teste, o voluntário comumente recebe a instrução de exercer durante 3-5 s “o mais rápido e
mais forte” uma contração isométrica máxima. A força rápida é crucial tanto para atletas44 quanto para
idosos63,80, pois também tem papel fundamental no retorno ao equilíbrio estático e dinâmico50.
Os exercícios de resistência dinâmica variável (ERDV) têm demons- trado melhoras na produção
de força máxima18, enquanto exercícios de resistência dinâmica constante (ERDC) parecem
melhorar a capacida- de de força rápida em jovens82. Em contrapartida, embora os resultados para
melhora na produção de força máxima sejam equivalentes em ido- sos19,63,82,84 os resultados a despeito
da capacidade de produção de força rápida são contraditórios. Enquanto, alguns trabalhos utilizando
aparelho ERDC apresentam resultados positivos para melhora da força rápida45,63,65, outros que
utilizaram ERDV não observaram o mesmo comportamento85. Dessa maneira, a escolha do aparelho a
ser utilizado durante o treinamen- to é de grande importância para um maior incremento no desfecho
final (e.g., força máxima ou rápida).
Já que ocorre uma mudança no formato da curva torque-ângulo de exercícios monoarticulares
utilizando aparelho de carga constante e o de carga variável34, pode-se imaginar que o mesmo ocorre
com aparelhos multiarticulares. Pensando nisso, Walker et al.83 investigaram padrões cinéticos e
eletromiográficos entre quatro diferentes configurações de apa- relhos multiarticulares que serão
melhor explicados na sequência. Os au- tores utilizaram um aparelho modificado de leg press
horizontal (David M16 - David SportsLtd., Helsinki, Finlândia), sendo que os voluntários co-
meçavam a execução do exercício a 60º de flexão do joelho e deveriam es- tender completamente os
membros inferiores para finalizar a tarefa (180º
= extensão completa dos joelhos). As configurações de resistência foram: (1) resistência constante;
(2) resistência variável com pequenos aumentos
de força (classificada como CAM conservadora); (3) resistência variável com exacerbado incremento
de força (classificada como CAM exponen- cial) e (4) resistência variável com redução de força
(classificada como drop off CAM).
Foram recrutados nove adultos jovens praticantes regulares de treina- mento de força. Os
voluntários foram avaliados em duas sessões (≥ 2 dias de intervalo) entre os testes. Foram avaliadas
força concêntrica, velocida- de, potência muscular e atividade elétrica dos músculos vasto lateral, reto
femoral, vasto medial e bíceps femoral executando o exercício de extensão de joelhos no aparelho de
leg press horizontal modificado. A partir dos testes de 1-RM, foram avaliados testes a 40, 60 e 80%
de 1-RM, que pos- teriormente avaliou duas diferentes técnicas de contração (1) a 2-s de fase
concêntrica controlada por metrônomo (contrações com pace) e (2) fase concêntrica executada o
“mais rápido possível” (contrações rápidas) para cada carga. Estes parâmetros foram auferidos a cada
20º da amplitude de movimento (~60-180º; 180º = extensão completa do joelho). Em suma, houve
maior ativação muscular dos extensores do joelho ((VL+VM)/2) du- rante as contrações com pace. No
entanto, os autores observaram diferen- ças significantes na produção de potência muscular nos
últimos ângulos do movimento 120-140º e 140-160º utilizando 80% de 1-RM e em con- junto com
esses resultados, os autores revelaram uma maior velocidade produzida também nos últimos graus de
extensão do joelho (e.g., 120-140º e 140-160º).
Em conseguinte a isto, a literatura vigente ainda não é consistente com relação às respostas de
força máxima (1-RM ou CIVM) e rápida (TDF) em resposta ao treinamento de força. Alguns autores
defendem a premissa que executar o movimento dinâmico rápido seria mais benéfico para in-
cremento da força rápida24,73 em comparação com movimento dinâmico cadenciado. No entanto,
alguns autores já observaram aumento da TDF com execução de movimento dinâmico cadenciado,
seja em adultos sau- dáveis7 e/ou idosos2,63. Em contrapartida, outros autores não observaram
aumento da TDF executando movimento dinâmico rápido26.
Dessa maneira, pode-se especular que modificar a forma e a configuração da polia (constante ou
CAM) afetaria características cinéticas e eletromio- gráficas podendo levar a distintas adaptações (e.g.,
força máxima e rápida) ao longo do período de intervenção de treinamento de força. Sendo assim, é
possível sugerir que aparelhos que tenham um controle maior da veloci- dade do começo ao fim do
movimento articular possam promover adapta- ções desde força máxima até a rápida. Exercício
isocinético
O termo isocinéticos advém do grego e é divida em duas palavras “iso” que se refere a igualdade e
“cinético” de “kinetiós” de movimento ou mó- vel, ou seja, movimento igual. Desde 1967 quando
Helen J. Hislop com o auxílio do engenheiro James J. Perrine desenvolveram o primeiro apare- lho
isocinético, este vem sendo utilizado na área clínica para diagnóstico16, treinamento23,75 e reabilitação79.
Para os autores, a especificidade do trei- namento refere-se a criação de exercícios físicos mais
próximos à realidade de uma dada tarefa. Com isso, a força muscular bem como o torque que é gerado
em uma articulação ocorre devido a uma tensão previamente ge- rada48.
Uma contração isocinética é o refinamento do conceito de controle da amplitude de movimento e
da sua velocidade angular. Para tal, a contração isocinética é dinâmica e controlada por um servo-
motor. Desse modo, a re- sistência é uma taxa direta da variação aplicada por todo o curso do movi-
mento49. No entanto, o aparelho isocinético apresenta limitações, pois este apresenta momentos de
aceleração (fase inicial da curva torque-ângulo), momento isocinético de fato (fase do meio da curva
torque-ângulo) e fase de desaceleração (fase final da curva torque-ângulo)49 (Figura 4.14).

Figura 4.14 - Modelo hipotético de torque do braço de alavanca durante o exercício isocinético. Nos
extremos da curva, a vantagem mecânica é me- nor e assim a resistência é menor. Para o meio do
movimento, a vantagem mecânica é maior, sendo assim, a resistência aumenta proporcionalmente.
Além da área terapêutica, os aparelhos isocinéticos também são lar- gamente utilizados para
treinamento por conta da precisão, confiabili- dade e reprodutibilidade para treinamento30. Por isso, os
dinamômetros isocinéticos têm uma grande importância na área esportiva e da fisiotera- pia13-16,23,41,74-
76. Comercialmente, são inúmeras as opções de aparelhos com características isocinéticas. Podemos

citar Cybex®, Biodex®, Kin-com®, Humac norm®, David® para não falar de tantas outras no
mercado com as mais distintas soluções. Com isso, a depender do modelo e marca do isocinético,
existe um grande espectro de velocidades isocinéticas concên- tricas e excêntricas. Por exemplo,
podemos citar o modelo da marca Bio- dex® que alcança velocidades lentas (i.e., 5º·s-1) até as mais
rápidas (i.e.,
500º·s-1). Dessa forma, há trabalhos na literatura que focaram em inter- venções para aumento da
força máxima e rápida. Podemos citar o trabalho de Baroni et al.13, que investigou o efeito do tipo de
ação muscular (con- cêntrica vs excêntrica) na força muscular, trabalho e índice de fadiga entre
jogadores de futebol. Os voluntários foram randomizados entre grupo con- cêntrico (n = 8) e
excêntrico (n = 9) e realizaram 10 séries de contrações isocinéticas máximas a 90º·s-1 com intervalos
de 30-s-1.
Os autores reportaram maior valor de trabalho para o grupo excêntrico (19.475 J) em comparação
ao grupo concêntrico (15.758 J), enquanto que para o índice de fadiga foi maior (36%) no grupo
concêntrico em compara- ção com o grupo excêntrico (18%). Levando a conclusão que o exercício ex-
cêntrico promoveria maior sobrecarga pela sua maior produção de torque e conseguinte menor índice
de fadiga induzida devido ao exercício. Já no estudo conduzido por Cadore et al.23, os autores
investigaram os efeitos de ações musculares isocinéticas concêntricas (CON) e excêntricas (EXC) a
90º·s-1 em dois grupos de jovens. Os jovens foram conduzidos a 6 semanas de treinamento 2x/semana.
Os autores avaliaram além da CIVM e TDF, a velocidade de condução elétrica muscular, atividade
muscular, espessura muscular do vasto lateral e intensidade do ECO via ultrassom para tentar explicar
o fenômeno. Em ambos os grupos pode-se observar aumentos na CIVM (CON: 15% e EXC: 15%), na
TDF máxima (CON: 77% e EXC: 55%), no sinal EMG do músculo vasto lateral (CON: 15% e EXC:
45%), na espes- sura muscular (CON: 11% e EXC: 12%), na velocidade de condução elétrica do
músculo (CON: 22% e EXC: 27%) e redução de na intensidade do ECO (CON: -6% e EXC: -8%).
O estudo demonstrou que apesar do maior trabalho executado pelo grupo EXC (75.767 J vs
53.423 J CON), esta variável não influenciou no ganho de força máxima e, por conseguinte na
hipertrofia muscular (i.e.,
espessura muscular). O que vai de encontro do especulado por Baroni et al.13. Outrossim, um
resultado pouco esperado foi o aumento da TDF uti- lizando uma velocidade contração com foco em
ganho de força (90º·s-1). No entanto, pode-se ressaltar que a grande variação do ganho da TDF em
ambos os grupos tem que ser observada com cautela para uma generaliza- ção do estudo23.

Exercício isométrico

Já o treinamento isométrico consiste no exercício sem movimento apa- rente, pois a carga aplicada
pelo aparelho é a mesma aplicada pelo sistema musculoesquelético. De acordo com Folland et al.34, o
exercício isométrico produz ganhos tanto para força máxima quanto hipertróficos, porém essas
adaptações são dependentes do ângulo de execução. O que isso quer di- zer? Se algum indivíduo
realizar oito semanas de treinamento de extensão de joelhos a 70º (0º = extensão completa do joelho),
as adaptações serão peculiares a esta amplitude articular51. Apesar dessas limitações, diversos estudos
relatam aumentos significantes de força máxima em um curto pra- zo de treinamento20,54,66.
No estudo de Kubo e colaboradores54 foram realizados dois tipos de exercícios isométricos em
nove adultos saudáveis 4x/semana durante três meses. No desenho experimental desse estudo, um
membro inferior trei- nou em um menor comprimento muscular (50º; sendo a posição 0º consi- derada
extensão completa) e o membro contralateral treinou em um maior comprimento muscular (100º).
Ambos treinaram a 70% da força isométri- ca máxima e o protocolo consistiu de seis séries de 15-s
com 30-s de inter- valo. Os autores avaliaram o ganho de força isométrica máxima ao longo de oito
ângulos (i.e., 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100º), avaliaram as mudanças estruturais da unidade
musculotendínea e área de secção transversa (AST) por meio de ultrassom e ativação elétrica dos
músculos da coxa (vasto la- teral [VL], vasto medial [VM], reto femoral [RF], vasto intermédio [VI] e
bíceps femoral [BF]).
Foram observados aumentos significantes entre 49-44% de força iso- métrica e 10-11% da AST,
em ambos os grupos (50 e 100º, respectivamen- te) sem diferenças entre os mesmos. Além disso,
houve aumento signifi- cante do sinal EMG absoluto dos músculos VL, VM e RF (~35, 34 e 31%,
respectivamente) para ambos os grupos. Apesar de não ter ocorrido dife- renças nos volumes
musculares e pico de força isométrica entre os grupos, houve aumento significante de 40% da rigidez
tendínea somente no grupo
que treinou no maior comprimento (100º). Na análise de força isométrica realizada ângulo a ângulo,
observou-se que houve um aumento de força no ângulo específico ao treinamento e em ângulos
adjacentes do grupo que treinou no menor comprimento (50º). No entanto, essa peculiaridade do
aumento da força tornou-se menos específica no grupo que treinou no maior comprimento. Talvez
esse aumento possa ser atribuído ao aumento da rigidez tendínea e, por conseguinte contribuição no
aumento do pico de torque em ângulos menores.
Estudos com os mais variados tipos de exercícios de força (e.g., isotô- nico, isocinético e
isométrico) demonstram um grande aumento de força máxima e estrutural. Isso implica que entre
esses tipos de exercício o es- tresse mecânico também é suficiente para causar alterações estruturais no
corpo humano. No entanto, o tipo de estímulo estressor deverá ser bem conhecido para a elaboração
de um plano de treino com foco em força má- xima ou rápida.

Treinamento de força máxima

Para aumentar a força máxima, o treinamento de força é frequente- mente empregado em


jovens57, atletas36 e idosos21. No entanto, até o mo- mento não se sabe ao certo como os componentes
(e.g., frequência, volu- me, intensidade e intervalo entre as séries) que fazem parte da elaboração de
uma rotina de treinamento podem inibir o melhoramento da força máxima. Apesar de que a frequência
de treinamento seja uma das chaves para aumento da força muscular10, o acúmulo excessivo de fadiga
sessão a sessão poderá inibir o aperfeiçoamento da capacidade de gerar força má- xima. A fadiga
induzida devido ao trabalho muscular é decorrente da car- ga, intensidade, tipagem de fibra do tipo
rápido e histórico do sujeito. De acordo com Enoka e Duchateau31, fadiga é um sintoma incapacitante
no qual o desempenho motor é limitado por interações entre percepções de fadiga e fatigabilidade.
Além disso, o estado transitório de fadiga ocorre naturalmente em decorrência do estresse relacionado
desde o cotidiano até a sessão aguda do treinamento. Desde 1936, quando o endocrinologis- ta austro-
hungaro Hans Selye78 estudou de maneira mais contundente a sintomatologia do estresse os modelos
de treinamento são organizados78. Para o autor o organismo seria infligido em três distintas fases (1)
alarme, (2) resistência e (3) exaustão (Figura 5.14).
Figura 5.14 - Modelo mecanístico da síndrome da adaptação geral (SAG) o qual engloba as três
distintas fases (1) alarme, (2) resistência e (3) exaustão (Adaptado de Cunanan et al.28).

Qualquer exercício físico é dependente da então liberação de energia como combustível para ocorrer.
Dessa forma, o treinamento de força, devido a constante contração muscular, depende da quebra da
adenosina trifosfato (ATP) para então ocorrer a liberação de energia para o sistema musculo-
esquelético (2):

����??

����??����??

��??�� + ??�� + ??��??������?? → ��������??��çã??


��������������??

Sendo assim, para manutenção da contração muscular o ATP precisa ser regenerado a depender
da demanda energética que o tipo de treino re- sistido será planejado para seu cliente, atleta e/ou
paciente. De posse des- sa informação básica, três sistemas energéticos que subsidiam o trabalho
mecânico são apresentados: (1) sistema fosfocreatina (PCr); (2) sistema anaeróbio glicolítico e (3)
sistema de formação oxidativa de ATP. Esses três sistemas básicos podem trabalhar de maneira
individual ou conco- mitantemente11,42. De maneira genérica, os sistemas PCr e glicólitico não
envolvem a utilização da molécula de O2 e são denominadas metabolismo anaeróbios. Já o sistema de
formação oxidativa de ATP, envolve o consu- mo de O2. Além disso, devido a característica única que
o tecido muscular possui, os três sistemas energéticos possuem diferentes taxas de forneci-
mento de energia, recuperação e estão associados para contribuir na ins-
tauração do período de fadiga devido ao estimulo fornecido42 (Figura 6.14).

Figura 6.14 - Modelo de interação dos distintos sistemas energéticos e as taxas de regeneração de
ATP durante exercício intenso levado a fadiga. Adaptado de Baker et al.11.

De posse do conhecimento dos substratos energéticos inerentes ao de- senvolvimento das distintas
valências físicas (e.g., força máxima, rápida, hipertrofia e resistência muscular localizada), há um
consenso na literatu- ra sobre como estruturar o volume (i.e., séries x repetições) do treinamento com
foco em força máxima. Em linhas gerais, recomendam-se repetições curtas (1 a 3 reps), séries que
envolvam certo nível de fadiga (8 a 20 séries) e alta intensidade (80 a 100% de 1-RM). Além disso,
devido ao esforço despendido em cada repetição preconizam-se intervalos de 2 a 3 min para ressíntese
dos substratos energéticos e recuperação das UMs fadigadas46. Adicionalmente, exercícios dinâmicos
(com carga constante ou variável), isométricos e isocinéticos parecem promover aumentos
semelhantes da valência força máxima. Porém, a elaboração do programa de treinamen- to deve ser
realizada com cautela, pois para cada tipo de resistência há uma limitação. Enquanto exercícios
isométricos parecem promover me- nor fadiga em comparação com os dinâmicos, irá ocorrer ganho
de força
no ângulo específico ao treinado. Dessa maneira, há uma necessidade de treinar em vários ângulos
articulares para evitar o efeito de especifidade do ganho articular. Por outro lado, os exercícios
dinâmicos resultaram numa margem de ganho de força máxima maior em comparação com exercícios
isométricos. Já durante exercícios isocinéticos, evidências demonstraram que há uma restrição ao
ganho de força específica a velocidade treinada.

Treinamento de força rápida

Diferente da força máxima, se entende que a força rápida seria o quão um segmento articular parte
do estado de pleno repouso para uma contra- ção no menor tempo possível3,7,12. O treinamento de força
rápida é um tipo exclusivo de exercício resistido cujo desfecho central de melhora é especi- ficamente
determinado por adaptações neurais, enquanto que as adapta- ções morfológicas (e.g., hipertrofia
muscular) são menores em comparação com o sugerido pelo treino para força máxima12,58,68. Sendo
assim, durante exercício com característica muito rápida especula-se que a fadiga ocorra mais devido
a mecanismos centrais do que por acúmulo de metabólitos, pois durante tarefas dinâmicas, que
produzem muita potência muscular, os aportes energéticos de via glicolítica devem ser mais
pronunciados em comparação com o sistema oxidativo11,68.
O estudo de Balshaw e colaboradores12 foi realizado 12 semanas de trei- no de força, 3x/semana
com jovens fisicamente ativos. Os participantes foram subdivididos em grupo de contração rápida
(balísticas), 1-s de platô a 80% do pico de torque isométrico máximo (n = 13); contração em rampa
(não balísticas), 3-s de platô a 75% do pico de torque isométrico máximo (n
= 16) e grupo controle (n = 14). Os autores avaliaram variáveis neuromus- culares (e.g. força, pico de
torque, TDF, amplitude do sinal EMG e M-wa- ve) e morfológicas (i.e., volume muscular por
ressonância magnética). Os autores verificaram maiores aumentos para o pico de torque isométrico
máximo no grupo 3-s (23%) em comparação com o de 1-s (17%) e maior aumento de volume do
quadríceps para o grupo 3-s (8.1%). No entanto, o grupo 1-s aumentou a TDF em todos os intervalos
avaliados (17-34%) por conta de maior input neural (17-28%).
Sendo assim, os autores sugerem que há uma diferença no padrão de ativação quando o
treinamento é realizado com velocidade de contração mais rápida e por menos tempo. Enquanto,
durante velocidades rápidas parece que ocorre uma transição da potência do espectro de frequência
para maiores frequências. De acordo com os autores, tal fato pode ter ocor-
rido em função de uma maior ativação de UMs de maior taxa de disparo em comparação com
contrações fortes e sustentadas por um período mais longo. Igualmente, os autores do estudo
anteriormente mencionado su- gerem que este tipo de abordagem de treinamento não só para
indivíduos não-treinados e atletas, mas também para idosos e pessoas com problemas articulares como
artrites.
O desenvolvimento da força rápida está intrinsicamente relacionado com o nível inicial da força
máxima de um indivíduo. O aumento dessa valência pode ser adquirido utilizando treino de
característica balística12, levantamento básico27 ou pliométrico68. Dessa maneira, há uma premissa na
literatura: para que ocorra a melhora da força rápida é necessário que seja utilizada baixa intensidade
(0 a 50% de 1-RM ou 80% da CIVM) para exercícios balísticos ou 50 a 90% de 1-RM durante
exercícios dinâmicos27. Os movimentos devem ser realizados na mais alta velocidade ou na inten- ção
de mover o implemento o mais rápido possível. A fim de promover aumento da força rápida, no
momento da elaboração do programa de trei- namento de força, o profissional da área deverá levar
em conta o padrão do movimento, carga e velocidade que o aluno e/ou atleta realiza durante o dia a
dia.
Algumas considerações finais podem ajudar, o profissional de educa- ção física, bem como
outros profissionais da área da saúde, deve ter diver- sas ferramentas de trabalhos e métodos. Para
isso, deve conhecer e levar em consideração não só as premissas do treinamento físico, mas também
as variáveis agudas e crônicas que flutuam dentro do programa de trei- namento físico como as suas
ferramentas de trabalho. Adicionalmente, o profissional deverá levar em consideração o estado inicial
do seu aluno e/ ou atleta. Pois, o nível físico do seu aluno e/ou atleta é altamente influen- ciado pela
frequência do treinamento e o volume de uma única sessão de treinamento de força, já que influencia
diretamente as adaptações orgâ- nicas. Além disso, os treinamentos com ações dinâmicas em
aparelhos de polia (constante e variável), isocinéticos e isométricos promovem ganhos similares na
questão de força máxima. No entanto, parece que ainda não há um consenso na literatura se os
resultados de aumento de força rápida ocorrem de maneira similar. Uma das premissas do treinamento
físico é a da individualidade biológica. Dessa maneira, estratégias de monitoramen- to semanal de
treinamento para uma possível individualização do mesmo estão em voga70,71. Com isso, devemos
reforçar que adaptações a força má- xima e rápida podem ocorrer desde que a heterogeneidade
biológica seja respeitada e monitorada.
Aplicações práticas

• O profissional deverá fazer uma análise prévia das necessidades do seu aluno e/ou atleta;
• Verificar qual substrato energético deverá ser melhorado no seu aluno e/ou atleta;
• Identificar qual musculatura deverá ser trabalhada com maior foco de maneira a evitar
possíveis lesões;
• Estar atento às variáveis agudas que envolvem o programa de trei-
namento de força;
• Fazer devidas manipulações das variáveis agudas durante o pro-
cesso de treinamento de força (i.e., periodização).
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CAPÍTULO XV
AVALIAÇÃO BIOMECÂNICA EM ESPORTES DE COMBATE

403

Rafael Lima Kons

Daniele Detanico

O que você irá encontrar:

• Evolução dos estudos em modalidades esportivas de combate nas últimas décadas;


• Contextualização da avaliação biomecânica nos esportes de com-
bate;
• Métodos de medição em biomecânica e suas aplicações nas moda-
lidades esportivas de combate;
• Utilização das variáveis cinéticas, cinemáticas e eletromiográficas na avaliação do
desempenho nas modalidades esportivas de comba- te;
• Perspectivas futuras sobre a utilização da biomecânica nos dife- rentes contextos de avaliação
nas modalidades esportivas de com- bate.

Introdução

A análise biomecânica é uma ferramenta indispensável na determina- ção dos fundamentos capazes
de embasar o planejamento e a aplicação de programas do treinamento esportivo1. As investigações
biomecânicas estão associadas à constante busca do entendimento das respostas e dos mecanismos que
regulam o movimento humano, servindo como uma ma- neira de alcançar a otimização de movimentos
esportivos².
A capacidade de otimizar a interpretação a partir de modelos de avalia- ção mecânicos depende da
expansão da análise do movimento humano3, ou seja, quanto maior o número de informações
mecânicas do fenôme- no estudado, maior o poder de explicação e a capacidade de interpretação desse
fenômeno. Esse tipo de investigação é obtido, na maioria das vezes, por meio de estudos experimentais e
demais registros realizados a partir da instrumentação em biomecânica. Os métodos de medição em
biomecâ- nica se dividem de modo geral em: antropometria, cinemetria, dinamome- tria e
eletromiografia1. Na cinemetria os sistemas são orientados para as medições dos movimentos e posturas
por meio de registro de trajetórias, determinação de curvas de velocidade, aceleração, ângulos, entre
outras
variáveis derivadas4. Em outras palavras, a cinemetria avalia o movimento sob o ponto de vista da
cinemática. Para isso, são usados sistemas de vi- deografia com uma ou mais câmeras para
reconstrução bidimensional ou tridimensional do movimento, respectivamente. Atualmente, já
existem soluções tecnológicas no mercado com sistemas de vídeo de alta resolução, alta frequência de
registro e totalmente digitais, operando em tempo real.
A dinamometria se preocupa com a análise das forças aplicadas (exter- nas e internas). Os sistemas
de medição são orientados para a mensuração da força de reação do solo (FRS), da força de pressão
exercida por partes do corpo na sua interação com o meio ambiente e estimativa de outras forças
internas e externas1. Os principais equipamentos para mensuração de força são: a) plataformas de
forças para a avaliação da FRS; b) células de cargas ou transdutores de força; c) dinamômetros
analógicos ou digi- tais; d) torquímetros (avaliações isométricas, isotônica e isocinética)5,6. Já a
eletromiografia fornece a representação gráfica da atividade elétrica do músculo, por meio da
mensuração das diferenças de potenciais de ação na membrana do músculo7.
No Quadro 1.15 são apresentados os métodos de medição utilizados em análises biomecânicas,
equipamentos e suas principais variáveis.

Quadro 1.15 - Métodos de medição em biomecânica e suas respectivas va-


riáveis.

Método Instrumento Variáveis

Plataformas de força Força de reação do


solo

Dinamômetro de preensão Força de preensão


manual manual
Dinamometria
Torquímetros Torque, trabalho
Células de carga Força

Eletrodos de superfície Atividade mioelétrica


Eletromiografi
a Eletrodos de profundidade Atividade mioelétrica
Videografia Análise do movimento

Cinemetria Fotogrametria Análise do movimento


Contextualização da biomecânica nos esportes de
combate

Antes de analisarmos a aplicação dos métodos de medição em biome- cânica no contexto dos
esportes de combate, é preciso ter um panorama da produção de conhecimento nessa área no cenário
nacional e internacional. Nesse sentido, Correia e Franchini8 investigaram os principais periódicos de
circulação nacional da área de Educação Física em um período de 10 anos (1998 − 2008) e
verificaram que do total de artigos publicados, ape- nas 75 (2.9%) eram direcionados a modalidades
esportivas de combate. Dentre os artigos, houve predomínio dos estudos conduzidos na área de
Biodinâmica do Movimento Humano (40%), seguidos pelos Estudos So- cioculturais do Movimento
Humano (32%) e Comportamento Motor (8%). As modalidades mais investigadas foram: judô (49%),
seguido pela capo- eira (6,7%), karatê (6,7%), diversas lutas (6,7%), esgrima (5,3%), jiu-jitsu (2,7%),
tai-chi-chuan (1,3%) e taekwondo (1,3%). Ressalte-se que este es- tudo analisou somente periódicos
nacionais e no período de 10 anos atrás.
Outro estudo relevante para modalidades esportivas de combate foi conduzido recentemente por
Franchini, Gutierrez-Garcia e Izquierdo9 com o objetivo de descrever o cenário da pesquisa científica
nos esportes de combate olímpicos no campo das Ciências do Esporte. Os autores verifica- ram que as
pesquisas sobre esportes de combate olímpicos representaram quase 1% do total das pesquisas nas
Ciências do Esporte, considerando a busca no banco de dados da Web of Science, mostrando que esse
campo de estudo ainda está começando a se consolidar. Os Estados Unidos é o país com maior
número de publicações nos esportes de combate olímpicos (27,9%), seguido pela Polônia (10,6%) e
Brasil (8,6%). Apesar do estudo não investigar as subáreas das publicações nos esportes de combate
olím- picos, ele mostra os dez periódicos com maior número de publicações, os quais todos se
encontram na área da Biodinâmica do Movimento Humano.
De modo geral, observa-se um aumento exponencial nas produções científicas nos esportes de
combate ao longo dos anos, como mostra o le- vantamento realizado pelo Laboratório de Esportes de
Combate da Uni- versidade de Vrije (Holanda) (Figura 1.15). Os pesquisadores conduziram uma
pesquisa bibliográfica sobre “esportes de combate” no banco de dados da Web of Science entre 1980 e
2016. Na mesma pesquisa foi demostrado um aumento 50 artigos publicados entre 2000 e 2005 e mais
de 250 artigos até 2016. A maioria dos trabalhos foi conduzida no wrestling (luta olímpica estilo livre
ou greco-romana) (563 publicações), boxe (510) e judô (462).
Figura 1.15 - Linha do tempo com publicações em modalidades esportivas de combate de entre 1980
e 2016.

Fonte: Universidade de Vrije – Laboratório de esportes de combate

Os estudos supracitados abordaram a produção científica nas subá- reas das Ciências do Esporte,
não especificamente a produção na área da Biomecânica, lacuna que esta revisão pretende
contemplar. A atuação da Biomecânica no contexto de modalidades esportivas de combate pode ser
bastante ampla, ocupando-se da análise do movimento e das forças re- alizadas pelo aparelho
locomotor, levando em consideração a técnica de execução do movimento pré-estabelecido, sendo este
um ponto de vista da dinamometria e cinemetria, respectivamente. Do ponto de vista da eletro-
miografia, padrões de atividade elétrica dos músculos em gestos específi- cos podem ser
evidenciados, fornecendo indicativos de nível de ativação, velocidade de condução do potencial de
ação, entre outros. De modo geral, a análise dos parâmetros biomecânicos pode auxiliar nos seguintes
pontos:
• Análise do padrão motor e de equilíbrio de atletas/praticantes de esportes de combate por
meio de análises cinemáticas e cinéticas, respectivamente;
• Identificação de variáveis eletromiográficas, principalmente em situações específicas dos
esportes de combate;
• Obtenção de parâmetros de análise neuromuscular (força, potên- cia, taxa de
desenvolvimento de força, etc.) para controle e monito- ramento do treinamento.
Tendo em vista a importância da aplicação da biomecânica nas moda- lidades esportivas de
combate investigou-se, a partir das principais bases de dados, artigos originais relacionadas à
avaliação biomecânica dos es- portes de combate olímpicos. Os estudos foram divididos em três
tópicos: avaliação biomecânica dos esportes de combate: tarefas genéricas; avalia- ção biomecânica
dos esportes de combate: competições oficiais ou tarefas simuladas e; avaliação biomecânica dos
esportes de combate: implemen- tos específicos.

Avaliações biomecânicas em esportes de combate


olímpicos.
Foram encontrados inicialmente 249 artigos publicados entre os anos de 2008 e 2018. Após
exclusão dos artigos duplicados foram analisados
150 artigos. A análise individual do título e dos resumos dos artigos na busca eletrônica permitiu a
aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Após leitura dos títulos foram selecionados 100
artigos, porém após a lei- tura dos resumos foram selecionados apenas 50 artigos. Posteriormente, foi
realizada leitura detalhada dos artigos, sendo incluídos na revisão 32 artigos, os quais deveriam ser
originais e tratar de análises biomecânicas em esportes de combates olímpicos em alguma atividade
envolvendo ava- liações genéricas ou específicas das modalidades: taekwondo, judô, karatê, boxe e
wrestling. Foram excluídos estudos com modalidade de combate não olímpicas, estudos de caso,
estudos de prevalência de lesões (inventá- rios e questionários) e estudos clínicos relacionados a
procedimentos mé- dicos ou fisioterápicos na recuperação de lesões. O fluxograma apresen- tado na
Figura 2.15 mostra o processo de triagem e inclusão dos artigos:
Figura 2.15 - Fluxograma do processo de triagem de artigos originais com avaliações biomecânicas
em esportes de combate olímpicos.

Na Figura 3.15 pode-se visualizar a quantidade de estudos encontra- dos a partir das bases de
dados PubMed e Scopus e no periódico específico Archives of Budo, envolvendo biomecânica e
esportes de combate em um período de 10 anos (referente aos 32 estudos selecionados). A Figura
2.15 mostra a taxa de produção científica no período de 2008 a 2018. Nota-se que o número de
estudos relacionados à avaliação biomecânica nos espor- tes de combate olímpicos foi bem variável ao
longo dos anos, mostrando picos maiores em 2011, 2012, 2016 e 2018.
Figura 3.15 - Linha de tempo dos artigos publicados nas bases de da- dos (PubMed e Scopus) e
no periódico Archives of Budo com ênfase em avaliação biomecânica nos esportes de combate
olímpicos.

Na Figura 4.15 está apresentado o número de artigos encontrados de acordo com cada modalidade
entre 2008-2018. A modalidade com maior quantidade de estudos foi o judô, seguido pelo wrestling e
taekwondo.

Figura 4.15 - Número de artigos relacionados à avaliação biomecânica nos esportes de combate
olímpicos publicados no PubMed e Scopus e no peri- ódico Archives of Budo entre 2008-2018.
Na Figura 5.15 está apresentado está apresentado o número de artigos en-
contrados de acordo com os tópicos de estudos entre os anos de 2008 e
2018. O tópico com maior número de estudos foi aquele que buscou in- vestigar avaliações em
tarefas genéricas (avaliações universais que não envolviam gestos específicos do esporte), seguido
por avaliações em com- petições oficiais ou tarefas simuladas e, por fim, implementos específicos
(utilização de equipamentos construídos para mensurar variáveis a partir de gestos específicos do
esporte).

Figura 5.15 - Número de artigos relacionados à avaliação biomecânica nos esportes de combate
olímpicos publicados no PubMed e Scopus e no pe- riódico Archives of Budo entre 2008-2018 nos
tópicos: tarefas genéricas (TG), competições oficiais ou tarefas específicas (CO/TE) e implementos
específicos (IE).

Avaliação biomecânica nos esportes de combate:


tarefas genéricas
Os estudos que continham avaliações biomecânicas em esportes de combate - tarefas genéricas
estão apresentados na Tabela 1.15 por moda- lidade e ordem cronológica. Os estudos encontrados
utilizaram, em sua maioria, plataformas de forças ou tapetes de contato para avaliação no desempenho
no salto vertical (estimativa da potência muscular de mem- bros inferiores), dinamômetro de força de
preensão manual para aferir a força isométrica da região do antebraço, dinamômetros isocinéticos para
verificação do torque em diferentes articulações, análise eletromiográfica e análise do movimento a
partir de parâmetros cinemáticos.
Tabela 1.15 - Estudos realizados com avaliação biomecânica nos esportes de combate olímpicos por
meio de tarefas genéricas.

Estudo Modalidade Sujeito Método Instrumento Conclusão

Atletas de judô possuem ↑


Plataforma de valores de potência MI
Monteiro et Judô 76 Dinamometria força comparado a atletas mais novos,
al.10 porém sem diferença quando
comparado a não atletas.

Atletas de judô medalhistas de


Dinamômetro prata e ouro possuem ↑ valores
Sanchez et al. 11 Judô 102 Dinamometria de força de preensão manual,
de preensão
manual quando comparado a medalhistas
de bronze e não medalhistas.

Atletas de judô são mais


Dinamômetro
Dias et al.12 Judô 22 Dinamometria de preensão resistentes à fadiga durante a
força de preensão manual
manual
comparado a não atletas.

Plataforma de Correlação entre altura do salto


Detanico et Judô 18 Dinamometria força (CMJ) e desempenho em teste
al.13 específico (r=0.74).

Correlações entre flexores e


Dinamômetro extensores de ombro (r=0,67-
Lech et al.14 Judô 25 Dinamometria
isocinético 0,75) e desempenho competitivo
de jovens judocas.

Desempenho no CMJ e pico de


Plataforma de torque no movimento de
Detanico et Judô 30 Dinamometria força e rotação externa/interna de ombro
al.15 dinamômetro são capazes de discriminar atletas
isocinético de judô de diferentes níveis.
Tabela 1.15 - Estudos realizados com avaliação biomecânica nos esportes de combate olímpicos por
meio de tarefas genéricas. (Continuação)
10 semanas de treinamento de
Plataformas de judô introdutório não tem efeito
Muddle et al.16 Judô 20 Dinamometri sobre o controle postural, no
a força entanto ↑ a altura do salto para
o grupo de atletas de judô.
Correlação positiva entre
Plataforma de desempenho no CMJ e o
Kons et al.17 Judô 22 Dinamometri desempenho técnico-tático em
a força competição oficial em atletas
masculinos (r=0,52–0,58).
Correlação positiva da força de
preensão manual e
Plataforma de
desempenho no CMJ com o
Kons et al.18 Judô 19 Dinamometri força e
desempenho técnico-tático em
a dinamômetro de
competição oficial em atletas
preensão
femininas (r= 0,48–0,76).
manual
Atletas de elite possuem ↑
Plataforma de valores no CMJ (altura e
Garcia Pallares
Wrestling 92 Dinamometri força e potência) e na força de preensão
a dinamômetro de manual comparado aos atletas de
et al.19 preensão não elite.
manual
Sem diferença na força de
Plataforma de preensão manual e no CMJ
López-Gullón
Wrestling 92 Dinamometri força e (altura e potência) para os
et
a dinamômetro de diferentes níveis dos atletas
al.20 preensão (elite, sub elite e amadores).
manual
Plataforma de Atletas de elite possuem ↑
Garcia Pallares força e valores no CMJ (altura) e na
Wrestling 35 Dinamometri dinamômetro de força de preensão manual
a preensão
et al.21 comparado aos atletas não elites
manual
Atletas de wrestling do estilo
Dinamômetro Greco romano possuem ↑ força
Dermikan et Wrestling 126 Dinamometri de de preensão manual comparado
al.22 a aos atletas do estilo livre
preensão
manual
Tabela 1.15 -
Estudos realizados com avaliação biomecânica nos esportes de combate olímpicos por meio de
tarefas genéricas. (Continuação)
A maioria dos estudos apresentados na Tabela 1.15 realizaram com- parações das variáveis de
força/potência de membros superiores e/ou in- feriores entre diferentes grupos (iniciantes e avançados,
elite e não elite, etc.)10-12,15,19-26,28. Alguns estudos realizaram correlações entre as variáveis de força e
o desempenho em testes específicos para estabelecer parâmetros de validade critério13,14,17,18,29 e outros
investigaram efeito de protocolos de treinamento nas variáveis de força e potência16,27.
As técnicas de projeção nos esportes de domínio (judô e wrestling) e ataques (chutes ou socos)
nas modalidades de percussão (taekwondo, ka- ratê e boxe) requerem uma combinação de força
explosiva e potência mus- cular de membros superiores e inferiores30-33. Já as técnicas de solo como
imobilização, chaves e estrangulamentos (técnicas utilizadas nas lutas de domínio) requerem elevada
demanda de força isométrica máxima, força dinâmica e potência muscular34. De ponto de vista
neuromuscular, a força isométrica máxima é considerada o maior valor de força que o sistema neu-
romuscular é capaz de produzir, independente do fator tempo, enquanto que a força explosiva é o
resultado da relação entre a força produzida (ma- nifestada ou aplicada) e o tempo necessário
disponível, ou seja, a força ex- plosiva é a produção de força numa determinada unidade de tempo35,36.
Já a potência muscular, entende-se por ser a razão entre o trabalho mecânico e o tempo em que este
trabalho é realizado35, ou seja, a potência é igual ao produto da força pela velocidade e, neste caso, o
produto da força que um segmento do corpo pode produzir pela velocidade desse segmento36,37. Em
suma, as diferentes manifestações de força são evidentes durante as lutas e rounds nos esportes de
combate olímpicos e podem ser consideradas de- terminantes em ações decisivas (por exemplo,
projeções, socos ou chutes), podendo levar o atleta ao melhor desempenho esportivo. Em função disso,
é extremamente importante treinar e monitorar a capacidade do atleta em produzir força (explosiva,
resistência e potência) ao longo da temporada.

Avaliação biomecânica nos esportes de combate:


competições oficiais ou tarefas simuladas
Neste tópico serão apresentados os estudos que investigaram a utilização da biomecânica nas
avaliações pré e pós-situações de competições oficiais ou simuladas. Estes estudos buscaram identificar
o comportamento das variá- veis intervenientes na performance durante ou após uma situação real. Foram
encontrados nove estudos, como mostra a Tabela 2.15. O método mais utili- zado foi a dinamometria,
utilizando plataformas de força e dinamômetros.
Tabela 2.15 -
Estudos realizados com avaliação biomecânica nos esportes de combate: combates oficiais ou tarefas
simuladas.
Tabela 2.15 -
Estudos realizados com avaliação biomecânica nos esportes de combate: combates oficiais ou tarefas
simuladas. (Continuação)
Dentre os estudos, seis verificaram efeitos em tarefas simuladas por ser um ambiente com maior
controle das variáveis31, 38,39,41-43, sendo ape- nas três, os estudos que verificaram efeito dos combates
em competição oficial40,44,45. Na maioria dos estudos foi possível detectar efeito após pro- tocolos de
combate, verificando decréscimo nas variáveis relacionadas à força, torque e potência
(possivelmente ocasionada pela fadiga)31,38-40,45, enquanto outros estudos mostraram aumento de
algumas variáveis de força/potência, ocasionada possivelmente pela potencialização pós-ativa-
ção41,44. Um estudo investigou o centro de pressão (COP) ao longo de lutas simuladas e verificou
aumento no deslocamento e na velocidade ao longo das lutas42, enquanto outro estudo analisou a
eficiência mecânica de uma técnica de projeção no judô aplicada em atletas de diferentes estaturas43.
O esforço gerado pelas lutas em sequência parece gerar perda momen- tânea de força ou até danos
no tecido muscular, como evidenciado nos estudos destacados. Os atletas de esportes de combate
normalmente lutam quatro a cinco vezes por dia em competições oficiais com curtos períodos de
intervalo entre as lutas31,39,44,45. Durante as lutas ocorrem constantes mudanças dinâmicas devido à
movimentação dos atletas, como pode ser verificado nas modalidades de agarre (judô e wrestling),
nas quais os atle- tas requerem uma combinação de força máxima e resistência de força na pegada a
fim de controlar a distância entre ele e o oponente46,47. As mo- dalidades de percussão (taekwondo
e karatê) requerem elevada potência muscular principalmente nos membros inferiores durante os
momentos de ataque, além de velocidade para esquiva dos ataques do adversário33,45. No entanto, por
utilizar maior demanda oriunda dos metabolismos da fos- focreatina e aeróbio, como é o caso do
taekwondo32, parece que os atletas apresentam menor fadiga e/ou conseguem recuperar os níveis de
potência ao longo dos rounds44,45.

Avaliação biomecânica nos esportes de combate: im-


plementos específicos

Neste tópico serão abordados os estudos relacionados à construção/ uso de implementos para
avaliar variáveis biomecânicas em tarefas espe- cíficas das modalidades de combates. A obtenção de
equipamentos capa- zes de detectar parâmetros biomecânicos pode auxiliar na compreensão e
identificação de variáveis determinantes em movimentos e gestos específi- cos, aumentando assim, a
validade ecológica da avaliação.
Na Tabela 3.15 estão apresentadas as informações dos três estudos encon-
trados, nas modalidades de judô48, boxe49, e taekwondo e boxe juntos50. Fo- ram desenvolvidos
equipamentos capazes de reduzir o impacto na cabeça de atletas de boxe, diminuindo o risco de
concussão49 e equipamentos que visam diminuir o impacto gerado por gestos específicos do
taekwondo e boxe50. Apenas um estudo investigou parâmetros relacionados à avaliação do
desempenho, utilizando um equipamento que reproduz a puxada no judogi (vestimenta utilizada no
judô), o qual pode auxiliar no treino dos atletas, substituindo em alguns momentos a necessidade do
parceiro de treino48.
Poucos estudos têm explorado o uso de equipamentos para investigar variáveis biomecânicas em
tarefas específicas dos esportes de combate na última década. Possivelmente o custo elevado pode ser
um dos fatores a explicar a escassez de estudos nessa temática. No entanto, destaca-se a importância
desse tipo de estudo no sentido de aumentar a validade ecoló- gica comparada com instrumentos não
específicos, além da relevância na identificação de fatores de risco a lesões por impacto.
Tabela 3.15 -
Estudos realizados com avaliação biomecânica nos esportes de combate: implementos
específicos.
NA: não aplicável.
Com base nos achados da última década pode-se considerar que a maioria dos estudos que
utilizaram avaliações biomecânicas em esportes de combate olímpicos fez uso do método da
dinamometria, com maior nú- mero de estudos nas avaliações de tarefas genéricas, seguido pelas ava-
liações em combates oficiais ou tarefas simuladas e, por fim, avaliações biomecânicas com
implementos específicos. Analisando os estudos em ta- refas genéricas, a maioria foi conduzida no
judô, seguido pelo wrestling e taekwondo. Em sua maioria, os estudos buscaram verificar possíveis
dife- renças de variáveis biomecânicas entre atletas de diferentes características (iniciantes e
avançados, elite e não elite, entre outros); avaliaram relações entre as variáveis de força/potência e o
desempenho em testes específicos; ou investigaram efeito de protocolos de treinamento sobre
variáveis neu- romusculares.
No que diz respeito a estudos em combates oficiais ou tarefas simula- das, a maioria dos estudos
foi conduzido no judô, seguido pelo taekwondo e wrestling. Os resultados demonstram que para
modalidades de domínio, variáveis relacionadas à força e potência parecem sofrer declínio ao longo
dos combates, enquanto que para modalidades de percussão esse decrés- cimo é menos acentuado ou
inexistente.
Com relação à construção e validação de implementos específicos para avaliar parâmetros
biomecânicos nos esportes de combate, poucos estudos foram realizados, sendo estes relacionados à
identificação de riscos de le- são por impacto ou implementos auxiliares no treinamento técnico.
Em suma, considerando a última década, ainda é baixa a produção científica no que diz respeito a
avaliações biomecânicas nos esportes de combate olímpicos (com destaque para o judô como mais
estudado), se li- mitando a análise cinética do movimento. Diante da prevalência de estudos com esse
método de medição, a análise de parâmetros de força e potência muscular tem sido bastante
evidenciada na literatura, principalmente por meio de avaliações genéricas ou específicas, a fim de
controlar e monitorar as cargas de treino ou investigar efeito de modelos de treinamento. A cons-
trução e validação de implementos para avaliar parâmetros biomecânicos em esportes de combate é
um campo em evidência para futuros estudos, tendo em vista as soluções tecnológicas existentes no
mercado atual, po- rém, atualmente ainda é pouca investigada.
Aplicações práticas

• Avaliações biomecânicas que utilizam testes genéricos, ou seja, que não envolvem gestos
específicos do esporte, podem ser utiliza- das para monitoramento e controle do treinamento
em atletas de esportes de combate olímpicos;
• Parâmetros biomecânicos relacionados à força e potência, obtidos por meio de testes
genéricos, podem ser usados para discriminar atletas de esportes de combate de diferentes
níveis competitivo (por exemplo: iniciantes e avançados, elite e não elite);
• O monitoramento da força e potência pode ser utilizado para iden- tificar aspectos
relacionados à fadiga e dano muscular após lutas/ rounds oficiais ou tarefas simuladas nos
esportes de combate;
• A construção e validação de implementos biomecânicos ins- trumentados que
possibilitam avaliações específicas do esporte apresentam maior validade ecológica quando
comparado com ins- trumentos não específicos e podem ser aplicados com diferentes
objetivos (por exemplo: treinamento com maior controle de carga, identificação de forças
atuantes com o intuito de prevenir lesões por impacto ou encontrar estratégias de minimizar o
impacto, entre ou- tros aspectos).

Nota dos autores: Para este capítulo foi efetuada uma busca eletrônica no período de 2008-2018
(últimos 10 anos) para identificar os artigos ori- ginais relevantes ao propósito do presente estudo,
baseado na consulta das bases de dados PubMed e Scopus e no periódico específico de esportes de
combate “Archives of Budo”, utilizando os seguintes descritores na língua inglesa: combat sports,
martial arts, biomechanics, kinectic, kinematic and electromyography. Para fazer o levantamento
utilizaram-se as pala- vras-chave (palavras combinadas por “AND” and “OR”): combat sports [All
Fields] AND, OR biomechanics [All Fields]; combat sports [All Fields] AND, OR kinetic [All
Fields]); combat sports [All Fields] AND, OR kine- matic [All Fields]; combat sports [All Fields]
AND, OR electromyogra- phy; martial arts [All Fields] AND, OR biomechanics [All Fields]; martial
arts [All Fields] AND, OR kinetic [All Fields]; martial arts [All Fields] AND, OR kinematic [All
Fields]; martial arts [All Fields] AND, OR elec- tromyography.
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CAPÍTULO XVI
EQUILÍBRIO MUSCULAR NOS ROTADORES DO OMBRO EM ATLETAS DE ESPORTES
OVERHEAD

427

Leandro Garcias

Cassio Victora Ruas


Cíntia de la Rocha Freitas

O que você irá encontrar:

• Conceito de esportes overhead;


• Cinesiologia e biomecânica do ombro;
• Avaliação do torque muscular isocinético e interpretação dos da-
dos de torque dos rotadores do ombro;
• Relação entre o torque e a amplitude de movimento do ombro em
gestos overhead;
• Estratégias para prevenir lesões no ombro nos esportes overhead.

Introdução

Esportes como o voleibol, handebol, beisebol, natação e tênis possuem movimentos executados com
o ombro em abdução e/ou flexão em uma grande amplitude de movimento (ADM), como ocorre nos
gestos de nado, lançamento, ataque ou serviço, são denominados em inglês como overhe- ad sports1.
Devido a esses movimentos, os ombros de atletas praticantes dessas modalidades sofrem adaptações
neuromusculares específicas, as quais podem gerar desequilíbrios de força muscular e ocorrência de
dores e lesões2. Dessa forma, é importante descrever e entender os mecanismos envolvidos nos gestos
overhead (i.e., acima da cabeça), com uma particu- lar atenção aos músculos rotadores do ombro, que
são fundamentais na estabilização dinâmica da articulação glenoumeral.
Para compreender a demanda neuromuscular no movimento de rota- ção interna (RI) e rotação
externa (RE) do ombro, assim como, a biome- cânica do movimento e o teste muscular isocinético como
ferramenta de avaliação de torque do ombro em atletas de esportes overhead, este capí- tulo foi dividido
em cinco tópicos principais, os quais são apresentados na sequência.
Cinesiologia e biomecânica do ombro

O complexo do ombro é formado por quatro articulações: escapulo- torácica, glenoumeral,


esternoclavicular e acromioclavicular, cada uma delas com uma importante contribuição na geração
dos movimentos arti- culares. Essas articulações isoladas são capazes de gerar alguma amplitude de
movimento (ADM), porém, geralmente todas trabalham em conjunto para realização das ações do
membro superior3. A articulação glenoume- ral é a mais móvel do corpo humano, tendo funções em
vários planos de movimento e papel fundamental em movimentos do braço⁴. A articulação
escapulotorácica tem uma contribuição importante nos movimentos do membro superior, sendo
possível através desta, também observar o movi- mento das articulações esternoclavicular e a
acromioclavicular.
A escápula é uma conexão móvel entre o tórax e a extremidade su- perior, com os músculos
serrátil anterior, trapézio, deltoide, romboides e levantador da escápula gerando a estabilização da
articulação escapuloto- rácica. A escápula é uma estrutura fundamental na coordenação e movi- mento
do membro superior e é local de inserção de diversos músculos². Durante uma abdução do ombro de
180°, a articulação escapulotorácica deve realizar uma rotação superior de 60° para permitir um
movimento sincronizado⁵.
A articulação glenoumeral é formada pelas superfícies ósseas da ca- vidade glenoide da escápula
e pela cabeça umeral. A cavidade glenoide é relativamente rasa no encaixe com a cabeça do úmero
para que haja uma grande mobilidade articular, portanto, alguns tecidos reforçam e aprofun- dam a
articulação glenoumeral⁵. O ombro é estável em repouso dentro de alguns intervalos médios e
extremos de movimento e esta mobilidade é dependente da interação entre as restrições estáticas e
dinâmicas ao mo- vimento, as quais têm como princípio manter a cabeça umeral dentro da cavidade
glenóide⁶. A estabilização dinâmica da articulação glenoumeral inclui o manguito rotador, a
musculatura escapulotorácica e o tendão da cabeça longa do bíceps, enquanto fazem parte da
estabilização estática, a anatomia óssea, o lábio de fibrocartilagem e a cápsula da articulação⁷. Em
relação a outras articulações do corpo humano, o ombro possui pouca estabilidade óssea, sendo
essencial o papel da estabilidade dinâmica ativa (grupos musculares) e passiva (labrum, cartilagem
articular e ligamentos) no movimento articular2,4.
Figura 1.16 - Músculos do manguito rotador (A- vista anterior; B - vista lateral; C - vista posterior).

Fonte: https://ortopediaeombro.com.br(acessado em 2018)

Para elevar o braço acima da cabeça, são utilizados os grupos muscu- lares dos abdutores,
flexores, rotadores e abdutores horizontais do ombro, os quais agem de forma sincronizada. Os
músculos supraespinhal, infra- espinhal, subescapular e redondo menor compõem o “manguito
rotador” (Figura 1.16), e têm a função de estabilizar a articulação glenoumeral⁵. Os músculos
peitoral maior, subescapular, deltoide anterior, latíssimo do dorso e redondo maior têm função de
rotação interna (RI) do ombro, enquanto os músculos infraespinhal, redondo menor e deltoide
posterior têm função de rotação externa (RE) do ombro⁸.
A cápsula da articulação glenoumeral recebe um reforço muito signi- ficativo dos músculos do
manguito rotador. O subescapular, que é o mús- culo mais espesso entre os quatro, fica localizado
logo à frente da cápsula articular, enquanto o supraespinhal, infraespinhal e redondo menor estão
localizados na parte superior e posterior da cápsula. Esses quatro múscu- los que formam o manguito
rotador, estabilizam ativamente a articulação, principalmente nas atividades dinâmicas⁸. Além de
esses músculos esta- rem muito próximos à cápsula, “abraçando-a”, seus tendões fundem-se no
interior da mesma. Há uma região da cápsula que não é coberta pelos músculos do manguito rotador,
conhecida como “intervalo rotador”, po- rém esta região é reforçada pelo tendão da cabeça longa do
bíceps e pelo ligamento coracoumeral⁵.
O entendimentocinesiológico e biomecânico do movimento do ombro é fundamental aos
profissionais do movimento humano, seja no rendi- mento esportivo ou na reabilitação de atletas e
não atletas, tendo em vista
a relevância e a complexidade dessa articulação, que exerce papel funda- mental em diversas ações do
membro superior, especialmente quando re- alizadas acima da altura da cabeça. A seguir serão
abordadas alterações e acometimentos específicos dos esportes com movimentos overhead.

Esportes de gesto overhead

Analisando-se o arremesso no beisebol, o ataque no voleibol, o saque no tênis, é possível perceber


um padrão de movimento comum a estas mo- dalidades, descrito em quatro fases principais do
movimento: preparação, elevação do membro superior, aceleração e desaceleração do gesto de ar-
remesso ou lançamento9,10 (Figura 2.16). Uma vez iniciado, o movimento overhead normalmente é
contínuo, com a clavícula, úmero e a escápula movendo-se de forma conjunta6. Apesar de haver
algumas diferenças no movimento entre os esportes com gesto overhead, como a velocidade do braço,
contato ou não com a bola, todos eles envolvem uma grande ADM e exigem uma adequada sincronia
muscular para controle, dasacelerações e desacelerações do movimento do membro superior. A ação
do arremesso envolve uma sequência de movimentos coordenados, a qual integra o mo- vimento de
várias articulações do corpo, havendo transferência de forças dos membros inferiores para os
membros superiores7.

Figura 2.16 - Fases gerais do gesto overhead

Fonte: http://makovickapt.com/tag/overhead-throwing/ (acessado em 2018)

As velocidades angulares do ombro atingidas no gesto overhead são muito altas, chegando a
valores de pico de velocidade angular de 7250°/s no beisebol11 e 4520°/s no voleibol9 e a velocidade
da bola atingindo apro- ximadamente 145 km/h no beisebol7. Estima-se que as forças de transla-
ção anterior na cabeça umeral geradas no arremesso equivalem a metade do peso corporal na fase de
preparação e são iguais ao peso corporal na fase de desaceleração do movimento12.
O movimento de arremessar ou lançar acima da cabeça é altamen- te complexo e
especializado, exigindo velocidade, flexibilidade, coorde- nação, sincronização e grande controle
neuromuscular. Através de uma abordagem funcional, o movimento do ombro nos esportes overhead
é descontínuo e balístico13, sendo importante entender as ações musculares nas fases do movimento.
Jobe et al.14 avaliaram a atividade muscular no ombro de atletas de beisebol durante o gesto de
lançamento, através da eletromiografia de profundidade, com eletrodos nos músculos deltoide,
subescapular e manguito rotador. Na fase de preparação não houve um padrão consistente na ativação
muscular, enquanto na fase de elevação do braço, houve uma ativação sequencial do deltoide,
manguito rotador e su- bescapular respectivamente. Já na fase de aceleração houve uma baixa ati-
vação de todos os músculos, e finalmente, a desaceleração foi a fase mais ativa, com todos os
músculos disparando intensamente.Também relata-se que no final da fase de elevação do braço, há
uma alta atividade muscular (medida por eletromiografia) nos músculos rotadores externos, enquanto
os músculos rotadores internos possuem o papel de prevenir uma RE ex- cessiva do úmero15.
A fase de desaceleração é um momento crítico na ocorrência de lesões por overuse (i.e., uso
excessivo), pois o braço é impulsionado à frente pela ação concêntrica dos rotadores internos, partindo
de uma RE até a RI, atingindo uma velocidade angular muito alta, onde a aceleração precisa ser
“freada” rapidamente. Essa desaceleração exige uma produção de força excêntrica dos rotadores
externos muito elevada em um curto período de tempo, o que pode levar os músculos a atingir uma
falha de tensão13,16.
Existem alguns conceitos-chave que abordam importantes conside- rações em relação à
cinemática do ombro no movimento overhead. Em relação ao controle motor, uma estratégia que pode
simplificar o comando de variados ossos e articulações é o tensionamento de ligamentos especí- ficos,
que efetivamente prendem as estruturas ósseas, como a escápula e a clavícula, por exemplo. Dessa
forma, um complexo como o ombro pode ser reduzido a uma interação entre dois ossos, a
“claviescápula” e o úmero e a três articulações: glenoumeral, escapulotorácica e esternoclavicular.
Essa redução de partes móveis pode ser uma maneira de o sistema motor sim- plificar a organização e
o controle neural do movimento, facilitando ações complexas como o movimento overhead6.
O tronco e os membros inferiores também possuem uma participa- ção fundamental na cadeia
cinética no gesto dos esportes overhead. No beisebol, estima-se que apenas metade da energia cinética
transmitida à bola resulta da ação do braço e do ombro. A metade restante é obtida da rotação dos
membros inferiores e do tronco, as quais são transferidas para o membro superior através da
articulação escapulotorácica7.

Adaptações biomecânicas nos esportes overhead

Algumas adaptações neuromusculares ocorrem nos atletas dos espor- tes overhead em respostas
às elevadas forças impostas ao ombro e à quan- tidade de ações realizadas. No voleibol, por exemplo,
estima-se que um atleta realize em torno de 40.000 ações de ataque por ano17. Duas impor- tantes
adaptações que serão abordadas a seguir são em relação à ADM e ao torque muscular de RI e RE do
ombro.
Em relação a ADM, há um ganho no movimento de RE e uma redu- ção de RI, esta última
conhecida como déficit de RI glenoumeral (em in- glês GIRD)9,11. Segundo a literatura, tais
mecanismos ocorrem através de adaptações ósseas e musculares, como estreitamento da cápsula
posterior e contraturas musculares18.
O GIRD, em alguns casos, é aceito como uma adaptação anatômica inerente aos esportes
overhead, não sendo necessariamente indicativo prévio de lesões e dor19, mas também pode ser
considerado patológico, po- dendo desencadear problemas no ombro20. Essas alterações da ADM têm
sido bastante reportadas, ocorrendo de forma isolada ou concomitante na RI e RE, podendo também
levar a uma assimetria do membro dominante em relação ao não dominante9. Por exemplo, Miyazaki
et al.21 avaliaram a ADM de RE, RI e total (i.e., RI mais RE) no ombro de 55 atletas de beise- bol,
sendo 14 deles lançadores. As médias foram diferentes entre os mem- bros, havendo maior ADM de
RE, bem como menor ADM de RI e total no ombro dominante em relação ao não dominante nos
atletas lançadores.
Em relação à demanda muscular no gesto overhead, um estudo in- vestigou a ativação muscular
de 17 músculos escapulares e glenoumerais durante o lançamento da bola em atletas de beisebol por
meio da eletro- miografia de profundidade, observando uma alta ativação de todos os mús- culos
analisados. O nível de ativação muscular alterna-se conforme a fase do lançamento, com os músculos
do manguito rotador altamente ativados durante todo o momento em que o braço se mantém elevado,
confirmando o importante papel dos mesmos na estabilização dinâmica do ombro12. Es-
tes resultados vão ao encontro do estudo de Hawkes et. al.22, onde foi ava- liada a ativação
eletromiográfica de treze músculos em oito movimentos do ombro, simulados em atividades
funcionais. Esse estudo constatou que o deltoide foi ativado durante todos os movimentos, sendo
considerado o músculo com maior recrutamento/taxa de ativação de unidades motoras entre os
músculos do ombro, bem como possuindo a maior área de secção transversa. Já os músculos do
manguito rotador foram ativados em seis dos oito movimentos realizados em diferentes direções do
ombro, estan- do a ativação desse grupo muscular atribuída à estabilização da cabeça do úmero na
fossa glenoidal durante a abdução, flexão e extensão do ombro. O subescapular foi ativado durante a
RE, estabilizando anteriormente a articulação glenoumeral. O músculo bíceps braquial na porção da
cabeça longa, foi atribuído como um estabilizador multidirecional chave do om- bro, destacando-se
sua atividade durante a abdução, flexão e extensão do ombro.
Como demonstrado nos estudos apresentados, durante os movimen- tos realizados em
modalidades de gesto overhead, a demanda muscular é muito superior àquela executada em atividades
diárias, além de ser espe- cífica do treinamento e à prática da modalidade, justificando-se as adap-
tações neuromusculares no ombro relatadas em diversos estudos. Essas alterações nos músculos, ossos
e tecidos moles geram mudanças na mecâ- nica articular do movimento a longo prazo, podendo levar
a alterações no equilíbrio muscular, possível presença de dor e ocorrência de problemas no ombro.

Incidência e prevalência de lesões em esportes


overhead

Os movimentos de lançamento em esportes overhead, como os realiza- dos no beisebol, por


exemplo, envolvem uma grande demanda neuromus- cular na articulação glenoumeral, ultrapassando
os limites fisiológicos da mesma e tornando-abastante vulnerável23,24. Porém, a ocorrência de dores e
lesões não é resultante somente da magnitude de força envolvida na ação, mas também pelo alto
número de repetições durante a prática destes es- portes23.
A dor crônica na articulação glenoumeral é comumente atribuída às adaptações neuromusculares
específicas do esporte, como alterações na força, flexibilidade e postura envolvidas na cadeia cinética
do movimento. Os fatores como GIRD, desequilíbrio de torque muscular no manguito ro-
tador, discinesia escapular, rigidez torácica e hipercifose, instabilidade do core (i.e., músculos que
ficam ao redor do tronco e estabilizam o quadril, abdome e pelve) e lombar, bem como alterações na
ADM e força do qua- dril, podem criar uma “cascata de lesões”18.
Em esportes overhead, as lesões no ombro representam de 8 a 13% do total ocorrido no membro
superior24. Zaremski et al.10 apresentaram em trabalho de revisão, que as lesões de ombro representam
de 58-69% no beisebol, 7-40% no handebol e 8-60% no voleibol do total de lesões relata- das em
diferentes estudos. De acordo com o estudo anterior, Conte et al.25 reportaram as lesões durante onze
temporadas de uma liga profissional de beisebol, sem diferenciar lesões agudas e crônicas,
constatando que 28% do total das lesões ocorreram no ombro e os jogadores da posição de pit- cher
(i.e., lançador) representam 48% dos jogadores lesionados25. Isto se justifica pela maior velocidade do
braço e maior quantidade de lançamen- tos desse jogador em relação às outras posições de jogo. Entre
as lesões mais comuns na prática esportiva estão as musculares, que são um grande desafio, pois a
lenta recuperação afasta o atleta dos treinamentos, além de levar a decréscimos no desempenho e
possíveis recorrências26.
Forthomme et al.27 acompanharam atletas de voleibol durante uma temporada, realizando
testes de força de rotação do ombro e investigando a ocorrência de dor e lesões. Relatou-se que 23%
dos atletas tinham dor no ombro dominante, sendo que quando era reportado histórico de dor, havia um
risco de lesões futuras nove vezes maior nestes atletas27. Corroborando com o trabalho anterior, um
estudo transversal, realizado com 286 ho- mens jogadores de voleibol, relatou um histórico de 57% de
ocorrência de problemas no ombro, ocorrendo em 93% dos casos no membro dominan- te. Neste
estudo também foi constatado que o histórico de lesões, faixa etá- ria e posição de jogo influenciam na
ocorrência de dor e lesões no ombro. Além disso, foi encontrado que os voleibolistas que realizam
mais ações de saque, ataque e bloqueio possuem uma maior prevalência de lesões por overuse em
relação aos jogadores menos envolvidos nestas ações28.
Diante do alto número de acometimento de dor e lesões no ombro em esportes que envolvem a
ação do membro superior, faz-se necessária a avaliação física e monitoramento dos atletas, podendo
assim, levar a um maior entendimento sobre as demandas físicas e permitir que sejam cria- das
estratégias para prevenir ou reduzir às disfunções que acometem os praticantes dessas modalidades
esportivas.
Avaliação de torque muscular isocinético

O estudo da força muscular atrai muito a atenção de estudiosos da per- formance humana, levando
assim, ao desenvolvimento de ferramentas de avaliação que sejam cada vez mais precisas e
reprodutíveis. Nessa perspec- tiva, foi desenvolvido o dinamômetro isocinético, que é capaz de
mensurar esforços concêntricos, excêntricos e isométricos29. A ação muscular con- cêntrica vai
ocorrer quando o torque muscular vencer a resistência ofere- cida pelo equipamento, havendo
encurtamento muscular do grupo agonis- ta. Já a ação excêntrica, ocorre quando o torque muscular é
vencido pelo torque do equipamento, havendo um “alongamento ativo” da musculatura agonista. A
ação muscular isométrica ocorre quando se produz força de forma estática, ou seja, em um ângulo
fixo da ADM. O exercício isocinéti- co é caracterizado por uma velocidade fixa (constante) e uma
variação da resistência que se acomoda ao indivíduo de acordo com o torque geradona ADM
estabelecida previamente30, através de uma alavanca mecânica mo- vendo-se ao redor do eixo
rotacional do equipamento31.

Figura 3.16 - Avaliação do torque de RI e RE do ombro no dinamômetro isocinético.

Fonte: Autor(2018)
Frequentemente, a força muscular é abordada através da mensuração do torque, em
equipamentos como o dinamômetro isocinético (Figura
3.16). Assim, é importante entender que o torque é definido como uma
“força rotacional”, pois T = F x d (Torque = Força x distância perpen- dicular). Dessa forma,
torque e força não são sinônimos, pois o torque é dependente dadistância perpendicular traçada
entre o eixo de rotação (articulação) e a linha de aplicação da força (músculos), também defini- da
como braço de momento32. A unidade de torque no sistema métrico é Newton-metro (N.m). Diante
disso, a partir desse momento, abordaremos a avaliação de torque para analisar o desempenho dos
músculos rotadores do ombro em atletas e não atletas de esportes overhead.
A avaliação isocinética é considerada padrão ouro em avaliação mus- cular no esporte, gerando
dados quantitativos, objetivos e reprodutíveis, como o pico de torque (PT)29. Através da avaliação do
torque muscular entre os músculos agonistas e antagonistas, é possível detectar desequi- líbrios
musculares em determinadas articulações e assimetrias de força entre membros contralaterais, sendo
que valores abaixo dos normativos (previamente definidos por investigações longitudinais com
inclusão de incidência de lesões) para determinada população são considerados fato- res de risco para
o desenvolvimento de lesões33. Os parâmetros da avalia- ção isocinética mais utilizados na literatura
são o PT, ângulo do PT, tempo para atingir o PT, trabalho e taxa de produção de força (TPF)29
(Figura
4.16).

Figura 4.16 - Curvas de avaliação de torque isocinético.

Fonte: Adaptado do software Biodex Advantage (2018)


O PT representa o momento de torque máximo produzido por um grupo muscular, realizado em
uma determinada ADM34, sendo frequente- mente utilizado na avaliação de disfunções
musculoesqueléticas, reabilita- ção de lesões e monitoramento de performance de atletas e não
atletas35,36. Outras possibilidades em relação à avaliação do torque são: determinação do ângulo
articular em que ocorre o PT e do torque gerado em ângulos es- pecíficos da ADM, dados muito
relevantes em esportes que utilizem gran- des amplitudes articulares.
Outra variável bastante utilizada na avaliação isocinética é o trabalho. De um ponto de vista
mecânico, o trabalho é definido como a força apli- cada contra uma resistência, multiplicada pela
resistência na direção da força, ou seja, quando os músculos do corpo humano realizam uma con-
tração que movimenta um segmento corporal, os músculos realizam tra- balho mecânico sobre esse
segmento do corpo, representado pela unidade Joule (J).
Para avaliação da força explosiva é possível utilizar a TPF, que repre- senta a produção inicial da
curva de torque durante uma contração iso- métrica voluntária máxima em um ângulo específico da
ADM. A TPF é calculada pela curva torque-tempo através da obtenção do torque em de- terminados
intervalos de tempo (milisegundos). A TPF pode representar ações funcionais e esportivas rápidas ou
balísticas, sendo cada vez mais utilizada para caracterizar atletas, idosos e pacientes, por estar
relaciona- da com importantes habilidades para essas populações37. Com estes dados também é
possível de se avaliar o tempo para atingir o PT.

Produção de torque nos músculos rotadores do om- bro

Com a utilização do dinamômetro isocinético, é possível avaliar as con- trações concêntricas,


excêntricas e isométricas dos RE e RI (Figura 3.16), podendo comparar os torques entre membro
dominante e não dominante, assim como, avaliar o equilíbrio muscular entre os músculos antagonis-
tas e agonistas38. As avaliações isocinéticas de torque máximo de RI e RE do ombro, de maneira geral,
possuem uma alta reprodutibilidade entre testes, ou seja, não há uma diferença acentuada nos valores
de torque má- ximo quando estes testes são realizados em diferentes dias ou diferentes momentos39.
Essa reprodutibilidade é maior para o teste de ação muscular concêntrico em relação ao excêntrico, e
nas baixas velocidades em relação às altas velocidades, já que, a ação muscular excêntrica e em altas
veloci-
dades exige um maior controle e coordenação do movimento, sendo neces-
sário um maior aprendizado e familiarização do indivíduo com o teste40.
Vários fatores influenciam na produção de torque muscular de manei- ra geral: as recomendações
prévias para o teste, a familiarização do ava- liado, as instruções do avaliador, entre outros35. Porém,
na articulação gle- noumeral, um fator extremamente relevante que merece especial atenção é a
posição adotada no dinamômetro isocinético, pois o movimento de ro- tação do ombro pode ser
realizado de diversas formas: com o sujeito senta- do ou deitado e com o ombro e cotovelo em
variados ângulos articulares39.
Edouard et al.39 relataram que avaliar os sujeitos sentados, em abdu- ção do ombro de 45° no
plano escapular, leva a maior reprodutibilidade e conforto na avaliação do torque de RI e RE do
ombro, se comparado a quando os sujeitos realizam abdução de 90°. A posição em abdução do
ombro e flexão do cotovelo a 90° é recomendada pela facilidade na esta- bilização do sujeito e por se
aproximar da posição do braço nos esportes overhead, porém, pode gerar algum desconforto,
limitando o esforço má- ximo, já que há uma maior compressão articular41. No entanto, Forthom- me
et al.42 recomendaram as posições deitadas em supinação, com o om- bro abduzido a 90° e 45°,
respectivamente, como as mais reprodutíveis em comparação com a posição sentada em 45° de
abdução do ombro, todas realizadas com o cotovelo em flexão de 90°. Lin et al.43 também testaram o
torque concêntrico na posição sentada com o ombro em 45°, 70° e 90° de abdução, encontrando
maior torque de RI e RE em 70° de abdução, para grupos de atletas de beisebol e não atletas. Sendo
assim, ao escolhermos a posição para testar o torque dos músculos rotadores do ombro, devemos levar
em consideração o objetivo do teste. A posição deitada geralmente apresenta maior reprodutibilidade
e conforto, porém, a posição sentada com o ombro em abdução acima de 45°, aproxima-se mais da
funciona- lidade do gesto overhead, simulando o movimento do ombro na ação de arremesso ou
lançamento.
Os estudos que investigam o torque de rotação do ombro em diferentes modalidades relatam
alterações entre membros contralaterais. Em joga- dores de voleibol, observa-se um torque maior de
RI concêntrica e excên- trica, algumas vezes acompanhado de um menor torque de RE no membro
dominante em relação ao não dominante9. Saccol et al.44 avaliaram o PT, trabalho e potência de
homens e mulheres tenistas, relatando que a RI do membro dominante foi maior do que no membro
não dominante para todas as variáveis. Entretanto, na RE esta diferença só ocorreu nos ho- mens.
Noffal45 relatou que atletas lançadores de beisebol apresentam me-
nor torque de RE, com aumento simultâneo de RI no membro dominante, tanto em contrações
concêntricas como nas excêntricas, sem alterações no membro não dominante, corroborando que a
demanda muscular em atletas overhead gera adaptações neuromusculares específicas no torque
muscular de rotação do ombro.
Atletas de esportes overhead geralmente apresentam maior torque concêntrico e excêntrico de RI,
por vezes acompanhado de menor torque de RE no membro dominante, em relação ao lado
contralateral. As dife- renças para a RI são mais acentuadas, enquanto para a RE nem sempre são
evidentes, fatores que podem ocorrer devido as peculiaridades de cada esporte, que possuem
movimentos do ombro em diferentes amplitudes e velocidades. Uma possível explicação para o maior
torque de RI, pode ser pelo fato de que o peso do membro superior sobre o ombro e o treinamento
resistido favorecem mais os grandes músculos, como o peitoral maior e o latíssimo do dorso. Além
disso, esse possível ganho de força na RI pode ser ocasionado pela ocorrência do ciclo alongamento
encurtamento (i.e., alon- gamento do músculo e tecidos passivos seguido por uma rápida contra- ção
concêntrica), que faz parte da natureza do movimento de arremesso45. No membro dominante, essas
alterações no torque de RI e RE são eviden- ciadas, visto que na maioria dos esportes esse membro é
mais utilizado, levando a assimetria entre os lados contralaterais.

Análise e interpretação dos dados de torque

A partir dos dados obtidos na avaliação isocinética, como o PT, TPF e trabalho total, que foram
abordados previamente no capítulo, é possível fazer uma análise da performance muscular e verificar
dados normativos. Alguns dos possíveis cálculos e análises desses parâmetros são a assimetria bilateral
e as razões musculares46.
A comparação entre o PT do membro dominante e não dominante pode ser utilizada para
verificar assimetrias musculares. Com os valores de torque também é possível calcular algumas
razões musculares entre músculos antagonistas e agonistas, que podem ser comparadas a dados
normativos, podendo servir de guias para testes e reabilitação de atletas de diferentes modalidades
esportivas46.

Razões de força na avaliação de equilíbrio muscular


A razão de torque muscular de uma articulação é tipicamente calculada dividindo-se o PT dos
grupos musculares antagonista pelo PT dos grupos
musculares agonistas do movimento, podendo assim, identificar desequi- líbrios musculares na
articulação testada46. Além da razão convencional (RC), que considera o PT concêntrico
antagonista/PT concêntrico agonis- ta, a razão funcional (RF) também é frequentemente utilizada,
aproximan- do-se mais da funcionalidade do esporte, já que considera a relação PT excêntrico
antagonista /PT concêntrico agonista47–49. A RF aproxima-se mais das ações esportivas, pois envolve
a desaceleração realizada pelos músculos antagonistas para “frear” a aceleração realizada pelos
músculos agonistas durante movimentos funcionais e esportivos.
Considerando o gesto do arremesso, com a aceleração do movimento sendo realizada pelos
rotadores internos, a RC considera o PT concêntrico de RE/ PT concêntrico de RI, enquanto a RF
considera o PT excêntrico de RE/ PT concêntrico de RI38. Porém, estas razões consideram apenas o
PT antagonista/agonista, que normalmente é encontrado em ângulos não correspondentes, não
permitindo a análise de desequilíbrios musculares encontrados na amplitude total de movimento50.
Portanto, tendo em vis- ta que são nas amplitudes extremas de RI e RE onde costumam haver as
maiores incidências de dores e lesões em esportes overhead, a determina- ção das razões de torque
por ângulo específico (ADM específica)50,51 pode ser mais adequada na avaliação de desequilíbrios
musculares em atletas overhead. Ruas et al.50 demonstraram que valores de RF determinados em
ângulos específicos de RI e RE são significativamente diferentes da RF cal- culada por PT em
praticamente toda a ADM de RI do ombro. Esta diferen- ça apresentou-se mais acentuada nos ângulos
extremos da ADM de RI, o que determina maior precisão na utilização desta razão para detecção de
desequilíbrios e probabilidade de futuras lesões em atletas e adultos sau- dáveis. Scoville et al.
(1997)41 foram os primeiros a considerar a RF deter- minada em amplitudes finais de movimento de RI
do ombro, encontrando valores maiores no membro dominante em relação ao não dominante nos
30° extremos da ADM.
A avaliação de equilíbrio muscular na RI e RE do ombro possui uma vasta literatura científica,
sendo estudada há muito tempo na área esporti- va. A seguir, apresentamos alguns estudos realizados
em diversas modali- dades e com diferentes abordagens, os quais foram publicados nos últimos
10 anos (Quadro 1.16).
A utilização das razões de torque muscular para diagnosticar desequi- líbrios musculares é
frequentemente abordada, seja na prática esportiva ou na literatura científica, porém existem algumas
críticas em relação à limitação no uso desses valores como parâmetro para predisposição a le-
sões. Um estudo com jovens jogadoras de handebol concluiu que a pre- sença de algum desequilíbrio
muscular (RC e/ou RF) nos músculos ro- tadores do ombro aumentou 2,5 vezes o risco das atletas
desenvolverem lesões futuras no ombro52. Seminatti e Minetti17 colocam o desequilíbrio e assimetria
muscular, juntamente com o comprometimento de mobilidade e a fraqueza e assimetria escapulares,
como fatores de risco intrínsecos no desenvolvimento de lesões por overuse no ombro. Dessa forma, é
impor- tante não associar unicamente a presença de desequilíbrios musculares à incidência de dores e
lesões, mas sim utilizar essa abordagem em conjunto com outras avaliações do movimento.

Quadro 1.16 - Estudos que avaliaram o equilíbrio entre os músculos rota-


dores do ombro.

ESTUDO OBJETIVO AMOSTRA RESULTADOS

Analisar se a
alteração de As atletas tiveram
EDOUARD;
CALMELS, torque de 30 mulheres: maior força de RE e
2013 RE/RI e/ou 16 jogadoras de RI no MD em
Shoulder desequilíbrios seleção (18±1 relação ao MND,
strength poderiam anos) e 14 não- sem desequilíbrios.
imbalances as predispor a atletas (20±2 O risco de lesões
injuries risk in lesões anos) foi
handball 2.57 vezes maior se
havia
desequilíbrios.

CASTRO et al.,
2017
Functional
shoulder ratios Determinar As razões
with high qual método
funcionais
velocities of para
combinadas (60°/s
shoulder IR are determinar 26 participantes RE e 300°/s de RI)
most sensitive razão de (13 controles foram diferentes no
to determine torque
é mais e 13 atletas de MD de atletas e não
shoulder handebol) atletas e entre MD e
rotation torque sensível para MND nos atletas. A
imbalance: a identificar
RF a 300°/s
cross sectional desequilíbrio apresentou padrão
study no torque de
similar à RF
with elite jogadores de combinada.
handball players handebol
and controls
Quadro 1.16 - Estudos que avaliaram o equilíbrio entre os músculos rota-
dores do ombro. (Continuação)

KIM;
JEOUNG,
2016 Avaliar a 14 homens da Razão convencional
Assessment of função seleção coreana em percentual foi
isokinetic muscular de voleibol 53,2%.
muscle function isocinética (20,7±1,8 anos) A maioria
in Korea male em atletas de apresentou
volleyball voleibol desequilíbrios
athletes musculares no
ombro.
MENDONÇA
et Razão convencional
al. 2010 foi diferente entre as
Avaliação Avaliar o categorias no MD e
muscular desempenho 35 atletas de MND em 60°/s e
isocinética da muscular seleção 360°/s; As razões em
articulação isocinético dos brasileira de percentual
do ombro em músculos RE e voleibol (20 a 60°/s e 360°/s no
atletas de RI do ombro sub-19 e 15 sub- sub-19 foram 62,8 e
seleção 21) 64,7 e no sub-21
brasileira de 74,0 e
voleibol sub-19 78,9
e sub-21 respectivamente.
masculino
Não houve diferença
entre atletas com e
STICKLEY et Comparar o sem histórico de
al., PT lesões; As razões de
2008 de RE/RI torque não foram
Isokinetic peak através do 38 meninas diferentes entre os
torque ratios nível de atletas (sub-12, grupos; Atletas com
and shoulder prática (grupos sub-13, sub-14 e histórico de lesões
injury history in por idade) e sub-15) apresentaram menor
adolescent entre atletas razão funcional em
female com ou sem relação às sem
volleyball histórico de histórico de lesões
athletes lesões no
ombro
Os homens tem
menor razão
Avaliar a convencional
assimetria no MD,
HADZIC et al., de força e os
2014 independente do
histórico de 183 jogadores histórico de lesões;
Strength lesões no eslovenos: 99
asymmetry of mulheres tem 3.43
ombro de homens e 84 vezes mais chance
the shoulders in atletas mulheres
elite volleyball de ter uma razão
profissionais convencional
players de voleibol de alterada; Posição em
ambos os jogo não esteve
sexos associada a razões
alteradas ou
assimetria
contralateral
Quadro 1.16 - Estudos que avaliaram o equilíbrio entre os músculos rota-
dores do ombro. (Continuação)

RE/RI PTI
concêntrica e
excêntrica< TAE nos
Comparar a ângulos extremos.
assimetria Na contração
RUAS et al., entre os concêntricae
2015 membros 20 homens excêntrica houve
Angle Specific nos músculos
saudáveis (24.6 assimetria entre os
Analysis of rotadores do anos, 81.6 kg, lados, sendo
Side- ombro através 175.3 cm). diferente entre
to-side dos métodos os métodos PTI e
Asymmetry in de PTIe TAEa
TAE. Effect Size
the shoulder cada mostrou grande
rotators 10° de ADM. efeito nos extremos
do movimento:
50° de RI e -80° de
RE
nos TAE
concêntrico.
Em ambos os sexos
o torque de RI MD>
Avaliar o RI MND a 60 e
torque de 180°s-1 concêntrico e
SACCOL et al., rotação excêntrico; Na RE
2010 40 tenistas: 26 somente os homens
do ombro e
Shoulder homens e 14 tiveram efeito
comparar a
functional ratio razão mulheres da dominância.
in elite junior (média Razão funcionalfoi
funcionalentre
tennis players membrosem 14 anos) menor
jovens tenistas no MD em relação
de elite. ao MND e acima de
1,0 em ambos os
sexos.

Fonte: autor (2018)

Legenda: MD- membro dominante; MND- membro não dominante; RE- rotação externa; RI- rotação
interna; PTI- pico de torque independente; TAE- torque em ângulos específicos.

Relação entre força e amplitude de movimento do ombro

A associação entre as alterações de ADM com as alterações nas razões de torque muscular dos
rotadores do ombro ainda são pouco exploradas na literatura, havendo algumas lacunas acerca disso.
O conhecimento a respeito desta relação é importante para definir as estratégias de preven- ção e
tratamento das disfunções do ombro em atletas overhead.
Challoumas, Stavrou e Dimitrakakis9, em uma revisão de literatura,
demonstraram a existência de um GIRD e um ganho na ADM de RE no membro dominante em
relação ao não dominante, em atletas de voleibol, concluindo que estas alterações não parecem estar
associadas com dor e lesões no ombro. Adicionalmente, testes de torque isométrico, concêntri- cos e
excêntricos relataram assimetria e desequilíbrio muscular no mem- bro dominante, o que parece ser
um fator de risco significativo para lesões no ombro segundo a literatura. Guney et al.57 investigaram
os efeitos do GIRD na RF em atletas de basquetebol e voleibol, os quais foram divididos em dois
grupos: ombros com GIRD e sem GIRD. Os ombros com GIRD apresentaram menorADM de RI e
maior RE, além de menor RF que o lado sem GIRD, indicando que a alteração na ADM pode
influenciar no equi- líbrio de torque muscular. Os autores deste trabalho apontam que mais estudos
prospectivos precisam ser realizados para compreender como o tratamento do GIRD afeta a razão de
torque, porém os resultados do pre- sente estudo sugerem que o aumento da ADM de RI, em jovens
atletas de esportes overhead, deve fazer parte do programa de treinamento, poden- do diminuir o risco
de lesões e melhorar o equilíbrio muscular de RE/RI.
Amin et al.58 buscaram identificar a relação entre GIRD, ADM total e força isométrica (contração
voluntária isométrica máxima) no ombro de lançadores profissionais de beisebol. A força isométrica
do ombro foi ob- tida em três diferentes posições: 30° de abdução, 90° de abdução e 110° de
flexão.Os valores de força isométrica na RE foram similares entre os grupos, enquanto a ADM total
foi maior no grupo sem GIRD. A força iso- métrica foi maior nos laçadores sem GIRD nas três
posições testadas. Os decréscimos na ADM total e no torque do ombro foram significativamente
associadas com o GIRD, o que pode indicar que o GIRD é uma consequên- cia da redução do torque
do ombro e não a causa das lesões. Moreno-Pérez et al. (2018)59 avaliaram a força e a ADM em
atletas de tênis com e sem histórico de lesões no ombro. A ADM e a força isométrica foram
testa- das na posição em supino, com o ombro flexionado e o cotovelo fletido a
90°. Corroborando com os estudos anteriores, foram relatadas redução na ADM de RI e ADM total,
assim como aumento no PT de RE no membro dominante em relação ao contralateral. A força
isométrica de RE e a razão isométrica de RE/RI foi menor no membro dominante do grupo com his-
tórico de lesões, comparado com o grupo sem histórico de lesões. Enquan- to as alterações na ADM
ocorreram em ambos os grupos, as alterações de força foram encontradas apenas no grupo com
histórico de lesões, sendo um fator importante a ser considerado na definição de programas de pre-
venção de lesões.
Saccol et al.60 compararam a ADM e a força isométrica de RI e RE do ombro de homens e
mulheres jogadores de vôlei de praia. Corroborando estudos anteriores, ambos os grupos apresentaram
menor ADM de RI no membro dominante comparado ao não dominante, porém, as mulheres tiveram
maior ADM de RE no membro dominante. Em relação à força iso- métricade RI e RE, não houve
diferença entre os membros, mesmo quando havia desequilíbrio muscular. O estudo concluiu que os
jovens atletas de vôlei de praia apresentaram alterações na ADM do ombro que podem ser
consideradas normais.
Desta forma, em relação ao movimento de RE/RI do ombro, há evi- dências de que as alterações
na ADM repercutem no torque muscular. A presença do GIRD parece estar associada ao decréscimo
no torque de RE, o que leva à assimetria entre os membros contralaterais e também altera as razões de
torque, ocasionando desequilíbrio muscular no membro do- minante. Porém, mais evidências são
necessárias para entendermos se as alterações na ADM que influenciam as alterações de torque, ou o
contrá- rio, já que a associação entre elas ainda é controversa.
Já a ocorrência de dor parece ter causas multifatoriais e subjetivas, sendo que em outras
articulações, como a coluna lombar, um estudo de revisão não encontrou relação direta da mesma com
baixos níveis de flexi- bilidade e desequilíbrio muscular nesta articulação61. O histórico de dor no
ombro parece estar associado às assimetrias de ADM e torque muscular, diminuindo as razões de
torque de rotação na articulação glenoumeral, porém ainda não está claro como esta relação ocorre.

Estratégias para prevenção de lesões no ombro

A prevenção de lesões nas modalidades overheadé um desafio concei- tuado como “thrower’s
paradox” (i.e. paradoxo do lançador), pois é neces- sário que o atleta possua grandes amplitudes de
movimento de RI e RE do ombro, ao mesmo tempo em que é necessária uma adequada estabilização
dinâmica do manguito rotador durante os gestos de arremesso ou lança- mento em amplitudes
extremas do movimento11.
Para estabelecer as estratégias de prevenção de lesões é necessário de- finir os fatores de risco,
avaliando os parâmetros específicos da modali- dade e comparando-os com valores normativos pré-
estabelecidos, sendo fundamental que essas avaliações sejam realizadas com ferramentas e pro-
cedimentos reprodutíveis18. Além disso, os programas de treinamento pre- ventivos precisam ser
elaborados e implementados dentro do programa
de treinamento rotineiro dos atletas. A prevenção também pode começar no início dos episódios de
dor e/ou disfunção que precedem as lesões por overuse, sendo a dor um alerta para se realizar uma
intervenção antes do agravamento das lesões11.
Uma variável importante do treinamento é a carga/volume a que os atletas são submetidos, pois as
lesões por overuse estão ligadas direta- mente ao controle deste fator. A redução da carga/volume de
treinamento resulta em uma menor sobrecarga mecânica e proporciona uma melhor recuperação dos
tecidos envolvidos na articulação62. Outro fator que pode minimizar o efeito exercido pelas forças
articulares na articulação glenou- meral é a observação e execução da técnica do gesto overhead,
instruindo o atleta a realizar esse gesto de uma forma mais adequada62.
Programas de alongamento também têm se mostrado efetivos na melhora da recuperação e
tratamento do ombro. Reuther et al. (2016)63 realizaram um estudo durante duas semanas com
jogadores escolares de beisebol, verificando a ADM do ombro após a prática de lançamentos. Na
primeira semana, foram avaliados a RI e RE dos atletas, um dia antes, e após (2h, 1 dia, 2 dias, 3 dias,
4 dias, 5 dias) uma sessão com grande volu- me de lançamentos. Durante a semana dois, foram
realizados os mesmos procedimentos, porém com um alongamento prévio às mensurações, o qual é
chamado de sleeper stretch e consiste de um movimento em RI para alongar a cápsula posterior do
ombro. O tempo de recuperação normal da ADM de RI foi de quatro dias, mas quando realizado o
alongamento, esse tempo reduziu para dois dias, mostrando que o sleeper stretch acelera a
recuperação, atenuando os efeitos agudos e acumulativos do treinamento durante a temporada.
O treinamento de força (TF) é também uma estratégia que deve ser adotada nos programas de
prevenção, focando no aumento de torque excêntrico dos rotadores externos do ombro, bem como
treinamento de estabilidade e fortalecimento do core e quadril10,17. O treinamento de equi- líbrio dos
membros inferiores também pode contribuir para melhora na estabilidade dinâmica na execução dos
movimentos, sendo que uma base estável melhora a transferência de energia dos membros inferiores
para os membros superiores e controla as forças que agem no ombro10.
Mascarin et al.64 investigaram o efeito de um programa de TF através de exercícios com rubber
band (i.e., banda elástica) nos músculos rotadores do ombro de mulheres atletas de handebol, as quais
foram identificadas com fraqueza de RE. As mulheres foram divididas em quatro subgrupos: membro
dominante (experimental e controle) e membro não dominante
(experimental e controle). Foi mensuradoo torque isocinético antes e após as dezoito sessões de
treinamento. Houve aumento no PT e trabalho total no membro dominante do grupo experimental
(GE) e aumento somente do trabalho total no membro dominante do grupo controle (GC). No mem-
bro não dominante, o GE também melhorou o PT e o trabalho total, assim como as razões de torque
convencional e funcional, sem aumento de tor- que no GC. Dessa forma, o TF com rubber band pode
aumentar o torque de RE e RI do ombro, assim como alterar as razões de torque muscular.
O programa de prevenção pode ser realizado através de diferentes in- tervenções, porém é
necessário avaliar cada equipe e/ou atleta para obser- var seu nível funcional e as possíveis alterações
na ADM e força/torque do ombro, sendo possível, a partir daí, traçar estratégias que sejam eficazes
em melhorar seu desempenho e preservar sua funcionalidade. Como mos- trado em estudos
anteriores, é importante uma abordagem global, já que o movimento do ombro nos esportes overhead
tem ligação com a cadeia cinética de todo o corpo.
Em síntese, na avaliação esportiva, é fundamental que se opte por uti- lizar ferramentas e métodos
reprodutíveis como a avaliação isocinética, para que se tenha um diagnóstico confiável da condição do
atleta avaliado. A utilização das razões musculares é um parâmetro consolidado na avalia- ção de
desequilíbrios musculares dos rotadores do ombro, sendo bastante investigado em atletas de esportes
overhead. A partir dos estudos abor- dados, é possível concluir que treinamento e jogos dessas
modalidades geram alterações neuromusculares no membro dominante em relação ao não dominante.
Porém, as alterações no torque e ADM nem sempre são indicativos de lesões futuras, sendo necessária
uma avalição que envolva outros parâmetros neuromusculares para definir quando há um risco para a
funcionalidade do atleta.
A relação entre a força (ou torque) e a ADM ainda precisa ser melhor esclarecida para que se
possa elaborar estratégias mais eficazes no treina- mento dos atletas de esportes overhead, tanto
namelhorado desempenho, como na reabilitação e prevenção de futuras lesões.
Aplicações práticas

• Compreender e analisara biomecânica do ombro no gesto overhead;


• Compreender as alterações na ADM e força de rotação do ombro nos esportes overhead,
assim como os principais mecanismos de le- são inerentes a essas modalidades;
• Utilizar a avaliação de torque muscular isocinético como uma fer- ramenta reprodutível e
confiável no diagnóstico de equilíbrio mus- cular da RE/RI do ombro;
• Prescrever exercícios para melhora da performance no gesto de arremesso/lançamentono
esporte;
• Elaborar e prescrever exercícios para prevenção de lesões, que tenham uma abordagem
global, visando toda a cadeia cinética do movimento, e não somente o ombro e/ou o membro
superior de atletas.
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CAPÍTULO XVII
PARÂMETROS BIOMECÂNICOS USADOS COMO FEEDBACK AUMENTADO NO APRENDIZADO
DA TÉCNICA DA PEDALADA

455

Lucas Tavares Sampaio Raphael


Luiz Sakugawa Fernando
Diefenthaeler

O que você irá encontrar:

• A biomecânica e a organização das forças aplicadas no ciclismo;


• As formas de ensino do movimento da pedalada;
• A aprendizagem motora e como ela influencia no armazenamento de informações;
• Por que utilizar o feedback visual aumentado para ensinar a peda-
lada no ciclismo; e
• Como organizar o feedback visual aumentado para aplicá-lo no ci-
clismo.

Introdução

O destaque mundial do ciclismo pode ser atribuído as suas diversas aplicabilidades, tais como forma
de lazer, recreação, transporte, prevenção de doenças e esporte competitivo1,2. Tornando-o assim uma
modalidade com um grande número de adeptos. Além de ser considerado um dos es- portes mais
tradicionais do mundo3, especialmente na Europa, onde, em diversos países é visto como esporte número
um.
É característico durante os treinos e competições de ciclismo um eleva- do volume e intensidade de
esforço2, ou seja, uma elevada potência por um longo período de tempo4,5. Por esta característica
repetitiva do movimento e por sua longa duração e elevada intensidade os erros são potencializados,
podendo resultar em perda de eficiência, redução no desempenho, descon- fortos e lesões2.
Desta maneira, possuir uma boa técnica de pedalada torna-se um ob- jetivo a ser atingindo por
ciclistas visando um melhor desempenho, pre- venção de lesões e redução de desconfortos durante a
prática. Fazendo da técnica de pedalada um objeto de estudo largamente explorado, normal- mente
avaliando as respostas de atletas no limite do rendimento6,7.
Tais pesquisas se tornam relevantes para os atletas de ciclismo pela possibilidade de uso desses
resultados para a melhora do desempenho e
para a escolha do tipo de treinamento a ser adotado8. No entanto, uma vez que o ciclismo é uma
atividade multifacetada, composta por diversas capacidades que precisam ser aplicadas da melhor
forma possível duran- te a prova9, faz-se necessário que as pesquisas integrem diversos fatores
(Figura 1.17).

Fonte: Adaptado de Atkinson et al.9

No entanto, as alterações técnicas e as características de treinamento sugeridas nos estudos


poderiam ser organizadas de forma mais efetiva se apresentadas no início da prática do ciclismo8. A
partir disso, diferentes formas de ensino do gesto motor poderiam ser estruturadas com o intui- to de
melhorar a técnica de pedalada, desde os iniciantes da prática, até indivíduos já experientes. Algumas
dessas formas de ensino são a partir da (1) utilização de imagens ou de explanações, explicando a
forma mais eficiente de aplicação da força no pedal; (2) da avaliação regular da técnica de pedalada; e
(3) a utilização de feedbacks do movimento realizado10,11.
Feedback que em português significa realimentar ou dar resposta, pode também significar retorno
da informação ou do processo. É um resul-
tado do movimento, podendo ser gerado de diversos tipos de informações, como por exemplo, dor,
esforço, atividade muscular, posicionamento do corpo e amplitude de movimento, sendo repassado ao
executante do mo- vimento11 por meio de feedbacks intrínsecos e/ou extrínsecos (ou feedback
aumentado)12. O feedback intrínseco é gerado diretamente pelo sujeito por meio da propriocepção e
exterocepção. Já o feedback aumentado é um ge- rador de informação externo ao indivíduo e age de
forma a complementar o feedback intrínseco12.
A partir do exposto, neste capítulo serão apresentadas as características biomecânicas da pedalada, os
conceitos de aprendizagem motora que po- dem explicar o aprendizado deste movimento e como pode
ser utilizado o feedback aumentado para ensinar de forma mais eficiente a técnica corre- ta da
pedalada.

Biomecânica da pedalada

A modalidade do ciclismo como indicado anteriormente é complexa e exige adaptações para


vários tipos de situações e terrenos durante os trei- nos e competições13. Sendo o bom desempenho
dependente dos processos fisiológicos e das características biomecânicas do sujeito em conjunto, ad-
quiridos a partir do treinamento. Do ponto de vista biomecânico, os es- tudos têm focado suas
investigações (i) na distribuição das forças aplica- das ao longo do movimento da pedalada4,14; (ii) em
alterações advindas das mudanças na cadência15, carga13 e postura adotadas pelo ciclista2,15,16; e (iii)
os aspectos relacionados com a ativação neuromuscular durante a pedalada17,18. Para abordar estes
temas principais de investigação na área da biomecânica da técnica de pedalada, foram divididas em
três subitens: Técnica da pedalada, Fatores que influenciam a Técnica da Pedalada e For- mas de
ensino da Pedalada no Ciclismo.

Técnica da pedalada
O deslocamento da bicicleta se baseia na transmissão de força dos músculos para os componentes
da bicicleta (pedal, pedivela, catracas e co- roas). O movimento realizado por esse sistema é
denominado como peda- lada ou ciclo de pedalada que tem uma amplitude de movimento de 360º,
podendo ser dividido de duas formas, por fases, ou seja, fase propulsiva (0º a 180º do ciclo de
pedalada) e fase de recuperação (180º a 360º do ciclo de pedalada) e por quadrantes, 1º quadrante (0º
a 90º do ciclo de pedalada), 2º quadrante (90º a 180º do ciclo de pedalada), 3º quadrante
(180º a 270º do ciclo de pedalada) e 4º quadrante (270º a 360º do ciclo de pedalada), (Figura 2.1719).

Figura 2.17 - Ciclo de pedalada dividido em duas fases: propulsão (0º a


180º) e recuperação (180º a 360º) e em quatro quadrantes: 1º (de 0 a 90º),
2º (de 90 a 180º), 3º (de 180 a 270º) e 4º (de 270 a 360º).

Fonte: Adaptado de Holderbaum20

Por este sistema de transmissão de força da bicicleta ser formado por um pedal móvel e um braço
de alavanca fixo que se movimenta durante todo o ciclo de pedalada, existem diferenças nas direções
de aplicação da força ao longo do ciclo de pedalada21,22. E a partir da direção de aplicação das forças
no pedal procura-se entender melhor a técnica do movimento empregado no ciclismo22,23.
No movimento de pedalada as principais forças envolvidas são as for- ças normal ou vertical (Fy),
médio lateral (Fz) e anteroposterior ou ho- rizontal (Fx), (Figura 3.17). No entanto, quando se foca em
estudar tais forças, as que têm maior interesse são as forças normal e anteroposterior (ou força
tangencial), que ao serem somadas irão formar a força resultante do pedal (ou seja, a força total
aplicada ao pedal)24. O motivo para a força médio lateral ser pouco estudada se dá por esta ter sua
participação na aplicação de força total do pedal diminuída pela utilização de sapatilhas e fixadores no
pedal24, os quais mantem o pé preso ao pedal diminuindo sua movimentação neste sentido.
Figura 3.17 - Identificação da direção de aplicação das forças no pedal, Força normal ou vertical
(Fy), Força médio lateral (Fz) e Força antero pos- terior (Fx).

Fonte: Autor (2018).

Para utilizamos estas forças da melhor forma possível na técnica de pedalada, busca-se uma força
aplicada no pedal perpendicularmente ao pedivela, ou seja, onde a maior parte da força resultante seja
aplicada nes- ta direção25. Esta força aplicada perpendicularmente ao pedivela é deno- minada força
efetiva e é um componente da força tangencial, sendo obtida através da força resultante em função do
ângulo do pedivela. A partir da força resultante e do ângulo do pedivela se a força aplicada
perpendicu- larmente ao pedivela. A esta força aplicada perpendicularmente ao pedi- vela é dado o
nome de força efetiva ou força tangencial, sendo obtida por meio da força resultante em função do
ângulo do pedivela. A força efetiva pode apresentar comportamento propulsivo (na direção do
movimento do pedivela) ou comportamento propulsivo retrogrado (na direção contrária ao movimento
do pedivela). Atletas normalmente apresentam valores de propulsão retrograda menores em função da
habilidade (melhor técnica) puxando o pedal durante a fase de recuperação da pedalada2,26.
Além desses valores de força aplicados no pedal, a técnica de peda- lada também se relaciona
com a ativação dos músculos envolvidos no movimento da pedalada. Destaca-se a maior ativação dos
músculos glu- teus maximus, vastus medialis, rectus femoris e vastus lateralis na fase de propulsão e
maior ativação do biceps femoris, tibialisanterior e rec- tus femoris na fase de recuperação da
pedalada18. A atividade muscular durante o ciclo de pedalada sofre influência do conhecimento
prévio do ciclista sobre o movimento e do seu posicionamento sobre a bicicleta, os quais irão
delimitar a musculatura que será utilizada em cada momento do movimento e também irão influenciar
o comprimento em que os músculos geram força, podendo aumentar ou diminuir o desempenho
muscular27,28.
Uma vez, que este comprimento muscular é alterado pelo posiciona- mento do ciclista na
bicicleta, foi proposto um posicionamento padrão para a realização movimento com uma angulação
relativa do joelho de 25 a 35º de flexão na posição de 180º do pedal16. Outra forma de se organi- zar
esta posição é a utilização do ângulo absoluto do joelho, proposto por Burke e Pruitt2, no qual o
ângulo do joelho deve estar entre 150 e 155º de flexão na posição de 180º do pedal. Já para o
posicionamento anteropos- terior do ciclista, deve-se manter um alinhamento da face do joelho com o
eixo do pedal quando o pedal se encontrar em uma posição de 90º do ciclo de pedalada29.
A partir deste tópico pode-se entender que a técnica de pedalada pode ser observada de diversas
maneiras, cada uma apresentando uma organi- zação que precisa ser observada de forma individual
durante o processo de aprendizagem da pedalada. Os resultados gerados a partir destas diversas
formas de observação da técnica de pedalada são alterados de acordo com processos externos e
internos estes processos serão abordados e identifi- cados no próximo tópico.

Fatores que influenciam a técnica da pedalada


O ciclismo é regulado pela União Internacional de Ciclismo, sendo di- vidido por quatro
modalidades que compõem o programa olímpico: BMX, estrada, mountain bike e pista; e duas
compõe o programa paralímpico: estrada e pista. Sendo assim, um fator inicial que irá influenciar na
técnica de pedalada é o tipo de ambiente e a modalidade de ciclismo praticada. Todavia, para este
tópico focaremos nos principais fatores que influenciam o ciclismo de estrada que são a cadência de
pedalada30,31, a posição adotada na bicicleta32, o nível de treinamento ou experiência de um ciclista21,25
e a carga de trabalho33,34. A cadência de pedalada é definida como a quanti- dade de ciclos de
pedalada que um ciclista realiza em 1 minuto (RPM), normalmente a cadência utilizada por ciclistas é
de 90 RPM, podendo ser reduzida para aproximadamente 70 RPM quando o ciclista estiver em acli-
ves35 ou entrar em processo de fadiga36.
A influência das diferentes cadências sobre a técnica de pedalada indi- ca que quanto maior a
cadência de pedalada, menor será a efetividade da mesma25,34. A relação inversa também é observada
quando, por exemplo, um ciclista é avaliado durante o processo de fadiga, no qual este reduz a
cadência e aumenta a efetividade da pedalada para manter uma carga de trabalho constante36.
Contudo, ao se avaliar a ativação muscular durante a pedalada, observa-se redução tanto da
coativação dos músculos anta-
gonistas como da ativação dos agonistas do movimento de extensão do joelho17,37 em cadências de
aproximadamente 100 RPM para uma mesma carga de trabalho38. Dessa forma, o ciclista torna-se
mais eficiente durante a pedalada, ou seja, para uma mesma carga de trabalho será necessária uma
menor ativação muscular para uma determinada atividade. Apesar de terem sido encontrados
efeitos positivos na utilização de cadências de pedalada mais elevadas, a cadência preferida se
monstra mais eficaz na aplicação das forças no pedal para ciclistas bem treinados31. Portanto, quando
ciclistas experientes pedalam na cadência preferida apresentam uma melhor técnica de pedalada.
Além disso, elevadas cargas de trabalho também podem aumentar a força efetiva positiva em
aproximadamente 20% durante a fase de propul- são da pedalada e reduzir a força efetiva retrograda
em aproximadamen- te 110% na fase de recuperação da pedalada39. Assim, mantem-se a maior
utilização dos músculos extensores do quadril e joelho na produção de energia40–42. Essa redução da
força efetiva retrograda ocorre a partir de um aumento da utilização dos flexores de quadril e joelho
na fase de recupe- ração da pedalada, aumentando assim o número de músculos envolvidos na
atividade. Porém, esta maior ativação aumenta a coativação durante o movimento e pode aumentar a
demanda de oxigênio do movimento23.
Ajustes nos componentes da bicicleta podem alterar o posicionamento do ciclista43, destacando-se
a alteração da altura e da posição anteroposte- rior do selim. Essas alterações modificam o movimento
das articulações44, causando alterações na ativação e no comprimento muscular durante a pedalada,
gerando assim aumento do consumo de oxigênio quando o selim se encontra em posições acima do
recomendado para o individuo45. Em ci- clistas, triatletas e não atletas, a alteração da altura do selim
não provocou modificações na força efetiva do pedal10,46. No entanto, Diefenthaeler et al.47
demonstraram que a alteração de 1 cm para cima e para baixo da po- sição preferida (aquela utilizada
em treinos e competições) de um ciclista é capaz de causar redução na força efetiva.
A alteração anteroposterior do selim (ou seja, recuo e avanço do selim) também não foi capaz de
alterar a efetividade da pedalada46. As mudan- ças na posição do selim, no entanto, provocaram
alterações na ativação muscular, sendo que o ajuste do selim à frente da posição preferida dos ciclistas
gerou redução da ativação dos isquistibiais48 enquanto o ajuste para trás gerou maior ativação do
gastrocnêmio medial e menor ativação do reto femoral46. Essas alterações na ativação se dão
principalmente pela mudança do comprimento muscular a partir da modificação do posicio-
namento, como por exemplo, o reto femoral de ciclistas que na posição do selim para trás atua em
comprimentos mais alongados quando comparado com a posição preferida49.
Já o nível de treinamento no ciclismo é um fator que altera progres- sivamente a técnica de
pedalada. Ciclistas bem treinados apresentam um melhor posicionamento na bicicleta43, uma maior
força efetiva e uma me- nor coativação muscular24. Ao se comparar indivíduos não treinados sub-
metidos a um protocolo de treinamento de ciclismo com feedback visual aumentado e sem feedback
visual aumentado observou-se que, aqueles que receberam o feedback apresentaram maior força
efetiva durante todo o ciclo de pedalada em comparação ao grupo que não recebeu20. Embora quando
se avalie indivíduos que apresentam o mesmo nível de treinamen- to, aqueles com melhor técnica de
pedalada (maior força efetiva ao longo do ciclo de pedalada) não são necessariamente os que
apresentam melhor desempenho na prova26. O que pode ser explicado pela alteração do padrão de
movimento destes ciclistas para tornar a pedalada mais efetiva, o que por sua vez pode vir a diminuir
o desempenho23,50.
Desta maneira, se o movimento de puxada do pedal for ensinado desde o inicio da prática, este se
tornará um movimento natural para o ciclista, não alterando o movimento normal da pedalada
utilizado durante os trei- nos e competições. Os resultados do estudo de Mornieux et al.23 indicam que
além da alteração da efetividade da pedalada, também se aumenta a coativação e de forma indireta
pode-se aumentar o consumo de oxigênio.

Formas de ensino da pedalada no ciclismo

O ciclismo é uma atividade contínua e cíclica12, tendo seu aprendizado normalmente na infância
por ser uma modalidade conhecida mundial- mente e muito utilizada como transporte, além de ter
movimentos de fácil aprendizado. Dessa forma, a procura por um método de ensino da técnica de
pedalada é deixada de lado em relação a outros esportes contínuo nos quais o componente técnico é
considerado mais importante como a nata- ção51 e as corridas de 100 e 200 metros52,53. Os
treinamentos do ciclismo dão ênfase a outros processos físicos, sendo normalmente um treinamento
envolvendo esforços contínuos, em um longo período de tempo e com in- tensidade de moderada a
alta. Caracterizando o ciclismo como uma ativi- dade que possui um treinamento voltado para a
melhora dos componentes fisiológicos dos ciclistas, mesmo em períodos iniciais de treinamento54,55.
A análise dos componentes técnicos do ciclismo já vem sendo aborda-
da em diferentes estudos, conforme abordado nos tópicos anteriores. Des- sa forma, a possibilidade do
ensino da técnica da pedalada em momentos iniciais do aprendizado vem ganhando força no esporte
competitivo, uma vez que quanto mais cedo um gesto motor é aprendido, mais fácil será de mantê-lo
em intensidades mais elevadas e em situações diferenciadas12.
Nos últimos anos, inúmeros estudos envolvendo o ciclismo têm suge- rido a melhor forma de se
posicionar na bicicleta2,16, e de aplicar as forças no pedal para a melhorar a economia de movimento4,56
o aproveitamento do torque produzido4,5 e a coordenação muscular durante o movimento18,41.
Demonstrando que o ciclismo pode ser um exercício simples, mas que a técnica correta de pedalada é
um movimento complexo e diferentes va- riáveis podem influenciá-la. Assim, os estudos recentes
que abordaram o ensino da técnica de pedalada focam principalmente em duas formas de ensino: 1)
demonstração gráfica da aplicação de força no pedal por meio de feedback aumentado20,57,58; e 2)
ensino do movimento de puxar o pedal na fase de recuperação da pedalada23,59.
Em função do que foi discutido no presente tópico, nos próximos ire- mos abordar de que forma
os conceitos de aprendizagem motora e os fato- res de memorização podem influenciar no
aprendizado da pedalada, e de que forma podemos utilizar esses conceitos para a construção de uma
me- todologia clara e que possa ser aplicada em atletas e iniciantes na prática do ciclismo para a
melhora e aprendizado da técnica de pedalada.

Aprendizagem motora e controle motor no ciclismo

A necessidade pelo aprendizado de atividades motoras continuamente se dá pela necessidade do


ser humano de realizar movimento para todos os processos da vida, desde comer até se locomover12.
No entanto, a execução de um movimento novo seja ele um movimento simples como pegar uma bola
ou uma atividade complexa como arremessar uma bola de basquete, raramente é bem sucedida em sua
primeira execução. Para que esta ati- vidade seja realizada de forma correta e bem organizada é
necessário que este movimento seja repetido diversas vezes para que se aumente a expe- riência
naquele movimento e assim aumentar o aprendizado específico do movimento.
O estudo dos processos gerados a partir da execução continua de um movimento e a sua
influência sobre o aprendizado deste e de outros movi- mentos é realizado pela área de estudo do
comportamento motor, a qual é um conjunto dos campos de investigação do desenvolvimento
motor,
controle motor e aprendizagem motora60. O desenvolvimento motor tra- ta principalmente das
alterações do comportamento motor ao longo da vida61. O controle motor investiga os processos pelos
quais um indivíduo pode controlar ou manter um movimento, ou seja, de que forma o aspec- to
sensorial responde a estímulos do ambiente ou estímulos internos do sujeito12. E a aprendizagem
motora, por sua vez, foca na compreensão de como uma habilidade motora é aprendida e qual a
influência dos fatores internos e externos sobre essa aprendizagem62,63.
As habilidades motoras normalmente têm a característica de serem aprendidas para serem
realizadas de forma mais organizada e econômica possível, visando sua repetição de forma organizada
e sistematizada no futuro, principalmente se estivermos tratando dos processos esportivos64. Uma vez
que normalmente os esportes são atividades que necessitam do conhecimento total de um movimento
ou de um conjunto de movimentos para sua realização65.
O movimento da pedalada é contínuo, caracterizado por não possuir início nem fim
característicos, o final desse movimento se dá pelo térmi- no da atividade dentro de um período de
tempo ou uma distância a ser percorrida12. Esse tipo de movimento, que também engloba a natação
e a corrida12 tem a característica de apresentar retenção da habilidade por maiores períodos de tempo
quando comparados a exercícios que possuem características de movimentos discretos (i.e., passar
marchas ou arremes- sar uma bola) ou seriados (i.e., tocar um instrumento ou realizar uma ro- tina de
ginástica)12,66.
Existem três principais teorias que buscam entender o controle e a aprendizagem motora: a teoria
do circuito aberto67, a teoria do circuito fechado68 e a teoria dos esquemas69. A teoria do circuito
aberto considera que diversos movimentos seriam controlados automaticamente pelo pro- grama
motor, o conceito de programa motor indicado por Keele67 diz que existiria um conjunto de instruções
para os músculos para que se inicie uma sequência completa de movimentos sem influência de
feedbacks das estruturas envolvidas no movimento. Já Shea et al.70 conceituam o progra- ma motor
como um grupo de comandos motores previamente estrutura- dos que são capazes de conduzir o
movimento. Além disso, como indicado anteriormente é um sistema que não possui mecanismos para
a correção do movimento. Falta ao sistema a compreensão para que possam ser reali- zadas correções
no movimento71.
Já a teoria do circuito fechado utiliza de sistemas de feedback intrín-
seco para a detecção de erros e correção do movimento executado. Os fe-
edbacks intrínsecos acontecem no mesmo momento que o movimento é realizado, assim, em
repetições posteriores o movimento será corrigido e será executado de forma mais organizada e com
uma menor quantidade de erros63,68. Desta forma, na teoria do circuito fechado que leva em conside-
ração apenas os feedbacks intrínsecos dos indivíduos a função mais impor- tante para o aprendizado de
um gesto motor é a quantidade de repetições, no qual será desenvolvido um programa motor
especializado que tornará a execução do movimento mais correta e com um menor número de erros63.
A teoria dos esquemas se baseia na criação de um programa motor ge- neralizado, ou seja, um
programa motor que pode ser adaptado de acordo com a necessidade do movimento ou com as
alterações dentro do ambien- te12. Assim, existe a formação de categorias de movimentos, que
facilitará a aprendizagem de movimentos que sejam da mesma categoria de movi- mentos já
registrados. Essas categorias também podem ser chamadas de esquemas63. Para a formação destes
esquemas o sistema precisa das infor- mações a respeito da condição inicial do corpo, os padrões dos
movimen- tos executados (i.e., tipo de movimento, direção, velocidade), as respostas sensoriais do
movimento (geradas por meio dos órgãos do sentido) e por último, o valor efetivo da resposta, que
compara o movimento realizado com o movimento pretendido, indicando os erros63,72.
Deve-se indicar que na teoria do circuito fechado também acontece essa comparação entre o
movimento realizado e o pretendido por meio de sistemas de feedbacks, no entanto, a comparação
realizada nesta teoria é apenas com os feedbacks intrínsecos68, enquanto na teoria dos esquemas esta
comparação utiliza tanto os feedbacks intrínsecos quanto os extrínse- cos ao indivíduo69.
Além disso, destacam-se as diferenças entre o programa motor pro- posto na teoria do circuito
aberto67 e o programa motor generalizado pro- posto na teoria dos esquemas69, uma vez que com o
programa motor ape- nas apresentava um problema de armazenamento de informações, ou seja,
excessivo número de programas para diferentes formas de um mesmo movimento69. Um exemplo
seria andar para frente e para trás, utilizando o programa motor apenas, teríamos dois programas
motores um para an- dar para frente e outro para andar para trás. Já utilizando-se do programa motor
generalizado teríamos apenas um programa motor que sofre adap- tações de acordo com a
necessidade73.
A teoria dos esquemas tem duas estruturas para o controle do movi- mento, denominadas esquema
de evocação e esquema de reconhecimen- to63,72. Estas estruturas se baseiam nas informações
adquiridas pelo siste-
ma para organizá-las, auxiliando na execução do movimento e na correção dos erros, sendo um
processo intrínseco do indivíduo. Entretanto, dentro da teoria dos esquemas o indivíduo pode
reconhecer erros e propor corre- ções ao movimento de forma consciente, tornando possível a
utilização de feedbacks extrínsecos para a correção do movimento, uma vez que esses feedbacks têm
um fator complementar aos intrínsecos, auxiliando assim na correção e entendimento do movimento12.
Desta forma, utilizando-se os conceitos da teoria de esquema pode-se propor que a utilização de
feedbacks pode influenciar no nível de apren- dizado de um indivíduo e utilizando a teoria do circuito
fechado se pode indicar que a repetição do movimento pode influenciar sobre a resposta de
aprendizagem pela formação de programas motores a controlarem o mo- vimento. Com a
comprovação do aumento do nível de aprendizagem sobre o movimento com a utilização de
feedbacks externos ao aprendiz12,65,74,75, foram apresentadas nos últimos anos diversas formas de
apresentação de feedbacks aumentados (não intrínsecos ao sujeito), levando em considera- ção
principalmente as forças aplicadas ao pedal no aprendizado do ciclis- mo76 e a utilização destas forças
aplicadas por ambas as pernas para dimi- nuição de assimetrias bilaterais77 e reduzindo a força efetiva
retrógrada ao movimento a fase de recuperação da pedalada78.

Armazenamento de informações

Fica claro que não é necessário apenas entender o quanto do movi- mento foi otimizado ou
alterado com um programa de treinamento, mas também entender o quanto deste aprendizado ou
dessa otimização foram mantidos ao longo das diferentes etapas do processo de aprendizagem. Tais
informações podem indicar quais metodologias de treinamento po- dem ter influência diferenciada,
ou seja, com maior aprendizado inicial ou com maior aprendizado após maior período de tempo.
Outros sim a retenção desta aprendizagem pode não ser igual nos diferentes modelos de treinamento.
Isso foi demonstrado previamente em um trabalho realizado por Holderbaum20 que demonstrou que
indivíduos ao serem submetidos a dois protocolos de aprendizagem da técnica da pedalada, um com
fee- dback aumentado e o outro apenas o treinamento de ciclismo pedalando a 60% da potência
máxima aumentaram e mantiveram, respectivamente a efetividade da pedalada após um período de
48 horas após o período de treinamento.
Dessa forma, se torna necessário o entendimento do processo de co-
dificação e de armazenamento de informações do organismo que é res- ponsável pelo processo de
aprendizagem e retenção da aprendizagem de um movimento. Para se entender de que forma se
comporta a memória e como as informações são organizadas no organismo para o aprendizado será
utilizada a classificação da memória proposta por Xavier79 conforme apresentado na Figura 4.17.

Figura 4.17 - Classificação organizacional dos sistemas de memória.

Fonte: Xavier79.

Este autor classifica a memória em três processos: a memória de curto prazo (MCP), a memória
operacional (MO) e a memória de longo prazo (MLP). A MCP é como seu próprio nome indica, a
memória que mantém conhecimentos por curtos períodos de tempo e possui capacidade limita- da de
retenção das informações. Normalmente para realizar atividades ou movimentos que têm seu processo
dentro dessa MCP o indivíduo precisa utilizar atenção, ou seja, precisa estar concentrado e atento ao
movimento realizado79–81, as informações armazenadas na MCP podem ser esquecidas em até 30 s63,72.
Já a MO, pode ser tratada como uma memória transitória entre a MCP e a MLP. Após a codificação
da informação que foi aprendida e passou pela MCP ela é armazenada na MO por um período de
tempo que pode variar de acordo com a natureza, relevância, as experiências anterio- res com
informações similares e as repetições da execução dessas informa- ções. Por ser um processo
transitório se não houver reafirmação daquela informação pela repetição ou pelo acesso consciente do
indivíduo a mesma esta será esquecida. Porém, com a reafirmação a informação é codificada e
recebe um significado para então se tornar um processo permanente den-
tro da MLP79,80.
A MLP é subdivida em duas formas: a memória explícita (ME) e a me- mória implícita (MI). A
ME é identificada pelo acesso consciente do indi- víduo a uma informação, podendo ser divida tanto
em memória episódica, que é a memória responsável pela codificação de informações como even- tos
e fatos experienciados (sempre relacionando a informações do próprio indivíduo), quanto em memória
semântica, que diz respeito a conheci- mentos independentes de contexto, tais como conhecimentos
matemáti- cos, geográficos, linguísticos ou históricos. E a MI é a memória incons- ciente, ou seja,
não depende da consciência do que está sendo realizado ou lembrado. Normalmente indicada pelo
desempenho de um indivíduo em uma determinada ação, e possui grande relação com a quantidade de
repetições feitas pelo indivíduo. A MI é dividida em habilidades e hábitos, pré-ativação e
condicionamento. Para os objetivos deste capítulo o ponto de interesse da MI são os componentes das
habilidades e hábitos que estão relacionados ao aprendizado e memorização de ações motoras,
cognitivas e sensoriais relacionadas ao movimento, posição do corpo e organização dentro de um
ambiente79.
A formação da MI diferentemente da ME não necessita da consciência do aprendiz para a
retenção de uma memória, ou seja, não é necessário dentro da MI que o indivíduo esteja diretamente
atento ou com atenção focada a um processo que está sendo aprendido para que este processo se torne
permanente. A necessidade da MI para tornar uma informação um processo permanente é dependente
da repetição e da quantidade de exe- cuções e ou experiência em atividades parecidas para sua
retenção dentro de um processo permanente79.
Dessa maneira, normalmente as habilidades motoras são processos in- conscientes que não
dependem de comandos conscientes para sua execu- ção. Um exemplo é a nossa caminhada diária,
pois raramente é necessário que você pense para realizar esse movimento. No entanto, se houverem
alterações dentro das informações que foram retidas na MI, existe a neces- sidade de se pensar na
execução do movimento. Um exemplo seria pedir a alguém para caminhar em cima de uma haste de
madeira, pois a alteração do ambiente no qual será realizado o movimento exigirá que o executante
pense durante a execução do movimento.
A partir deste exemplo podemos identificar outro processo dentro da explicação dada a respeito
da memória e de como as informações são ar- mazenadas no organismo. Trata-se do processo de
transferência de uma
habilidade aprendida para outro contexto ou outro escopo de execução. Foi discutido anteriormente
que o processo de memorização acontece com a utilização de todas as habilidades já aprendidas, ou
seja, o indivíduo uti- liza as habilidades que já se encontram dentro do sistema para o arma-
zenamento e retenção daquela atividade, facilitando assim esse processo. Dessa forma, o movimento
de andar em uma haste de madeira se tornaria mais simples para um indivíduo que tem completo
domínio sobre o mo- vimento de caminhada quando o compararmos a um indivíduo que ainda não
tem total domínio desta habilidade.

Feedback aumentado na aprendizagem da técnica da pedalada

Como conceituado anteriormente, o feedback é uma das formas de um executante de um


movimento obter informações a respeito do movimento que está sendo executado63, devendo ser
gerado a partir de uma informa- ção relevante para a prática82. Essa informação será dependente do
tipo de movimento e do tipo de correção que está sendo proposta por meio do fe- edback. Como um
exemplo, na prova de 100m rasos do atletismo se nosso objetivo for a redução do tempo desse
indivíduo iremos gerar um feedback do tempo de execução dessa atividade. No entanto, se o que
buscamos é a correção de um determinado movimento indicado, é necessário demons- trar de que
forma o movimento foi realizado para que este indivíduo possa corrigir o mesmo12. A aplicação desse
feedback no esporte e/ou no apren- dizado de um movimento ocorre de duas formas: feedback
intrínseco e feedback aumentado12.
O feedback intrínseco é composto de informações geradas diretamente pelo sujeito, podendo ser
originadas de propriocepção ou de exterocepção. A propriocepção sendo caracterizada por gerar
informações sensoriais in- ternamente pelo corpo e como este está se comportando em diversos am-
bientes e situações, podendo apresentar diferenças em posição deste corpo no espaço ou na velocidade
que ele está se deslocando. E como exemplo, podemos citar o órgão tendinoso de Golgi, que gera o
relaxamento do mús- culo quando este passa do limiar de tensão suportado pelo sistema muscu-
lar12,63,83. E a exterocepção podendo gerar respostas por meio dos órgãos do sentido, gerando sensações
em níveis táteis, visuais, auditivos e olfativos.
Já o feedback aumentado é externo ao organismo do indivíduo, ou seja, é gerado por fontes
externas, trazendo informações a partir do mo- vimento executado. Esse tipo de feedback permite
aumentar o conheci-
mento a cerca do movimento e o entendimento do indivíduo de como o movimento está sendo
realizado, permitindo assim realizar correções téc- nicas65,74,75,83,84. Sendo assim, a partir das
possibilidades de utilização do feedback aumentado no ensino e na aprendizagem de um gesto
técnico, por meio de facilidades que método trás ao processo de entendimento e correção do
movimento85, é possível aumentar o desempenho em uma prá- tica esportiva33,76.
E a partir do discutido anteriormente, diversas dimensões úteis para a apresentação do feedback
aumentado ao aprendiz podem ser indicadas para aplicação no aprendizado de um determinado
movimento (Tabela
1.17). Estas dimensões estão relacionadas principalmente com o momento de apresentação dos
distintos tipos de feedback, a forma como serão apre- sentados e o que será apresentado ao indivíduo.

Tabela 1.17 - Dimensões do feedback aumentado.

imediatamente após a

atrasado depois
Fonte: Schnidt e Lee66
A partir do conhecimento das dimensões é possível estabelecer o mo- mento e qual tipo de
feedback é preciso apresentar a um aprendiz, bem como combinar as distintas dimensões para melhor
organizar as infor- mações para repassá-las ao aprendiz12.Como, por exemplo, indicar a um ciclista
que este precisa aplicar mais força no pedal após o término da prá- tica (i.e., sessão de treino) é um
feedback aumentado do conhecimento do resultado acumulado, ao término e atrasado. Essas
combinações irão variar de acordo com o tipo de informação que se deseja ensinar ao ciclista. Desta
forma, diversos estudos apontam a aprendizagem do movimento de forma mais eficiente para ciclistas
que recebem as informações de força total85, força tangencial75 e força efetiva e inefetiva76 aplicadas
no pedal do que ciclistas que não receberam feedback das forças aplicadas no pedal. As evidências
indicam que o tipo de feedback mais utilizado no ciclismo é o feedback da cinética da pedalada. O
feedback da cinética é caracterizado por apresentar informações provenientes das forças envolvidas no
exercí- cio, como torques e forças82.
Assim, nos últimos anos preferiu-se no lugar de apresentar valores de força apenas, como
realizado por Broker et al.75 e Sanderson e Cavana- gh85, indicar-se a efetividade da força aplicada no
pedal76, demonstrando assim, que com a apresentação do feedback durante a pedalada o indiví- duo
aumenta o movimento de puxada do pedal durante a fase de recupera- ção4,23,86. Outra forma
apresentada na literatura que aumenta a efetividade da pedalada e auxilia na aprendizagem do
movimento de puxar o pedal é a realização da pedalada com apenas uma perna e com feedback23,59,87.
A apresentação da efetividade como forma de feedback para o ciclismo apresenta melhora para
além da efetividade da força aplicada no pedal, mas também melhorando a força total aplicada pelo
ciclista. Bini e Hume58 em seu estudo comparando dois grupos de ciclistas experientes, um que
recebeu feedback da força efetiva aplicada no pedal e o outro que recebeu feedback da força normal
aplicada no pedal, sugerem que a apresentação da força efetiva da pedalada provoca melhora tanto na
efetividade da pe- dalada quanto na força total aplicada ao pedal. No entanto, o desempenho do grupo
que recebeu feedback da força efetiva foi menor que o desempe- nho do grupo que recebeu o feedback
da força normal aplicada no pedal. Tais resultados sugerem que para o aprendizado da técnica de
pedalada a apresentação da força efetiva é mais interessante do que a força nor- mal, mas quando
pensamos em desempenho em prova de ciclismo talvez a apresentação do feedback da força efetiva
não seja a melhor estratégia.
Um fator que pode explicar ou ajudar a entender essa perda de desem-
penho durante uma prova de ciclismo para indivíduos que recebem fee- dback para a melhora da
eficiência da pedalada, é a coativação muscular durante a pedalada. Esta coativação pode ser elevada
quando um ciclista melhora sua efetividade na pedalada a partir do movimento da puxada do pedal
durante o ciclo de pedalada. Ocorrendo em função da participação de mais grupos musculares (i.e.,
isquiotibiais) durante o movimento, o que pode reduzir a eficiência bruta durante o ciclismo, assim,
afetando o de- sempenho23.
Apesar desta identificação de perda de desempenho durante a prática, Mornieux e colaboradores23
sugerem que haveria a necessidade de permi- tir aos ciclistas um treinamento prolongado com o uso
de feedback e do movimento de puxada do pedal para uma avaliação concreta da eficiência da
metodologia para o aprendizado. O que vai ao encontro do abordado nos tópicos anteriores, que
sugerem que um movimento precisa ser apren- dido totalmente e estar dentro da memória de longo
prazo para ser execu- tado da melhor forma possível. Assim, os processos de feedback deveriam ser
um componente inicial na aprendizagem da técnica correta de pedala- da nas fases iniciais do
movimento, para auxiliar o ciclista a utilizar este mesmo aspecto técnico em diversas intensidades e
velocidades de prova.
Outro ponto a respeito do feedback aumentado aplicado ao ciclismo é que normalmente o
feedback é apresentado de forma visual, podendo ter organizações diferentes de acordo com o que se
pretende ensinar ao aprendiz. No estudo de Holderbaum20, que tinha como objetivo o ensino da
técnica de pedalada a indivíduos iniciantes na prática, o autor optou por uma demonstração gráfica da
curva de efetividade da pedalada. De forma semelhante, Bini e Hume4 também apresentaram uma
forma gráfica da curva de efetividade da pedalada e da força normal aplicada ao pedal. Al- guns
outros estudos também apresentaram composições gráficas a partir da força aplicada no pedal, mas
estes visavam a simetria entre os mem- bros, assim, demonstrando a diferença encontrada entre as
duas pernas durante a atividade para correção e equilíbrio do movimento88. Existe uma predominância
no ciclismo da utilização de feedbacks de forma visual, o que pode motivar essa preferência seria a
maior aprendizagem de um mo- vimento quando o feedback é apresentado de forma visual64.
Assim, o feedback aumentado para a melhora da técnica da pedalada apresenta outro fator de
relevância para a sua utilização no processo de aprendizagem, que é a maior retenção encontrada para
a utilização deste método no ensino da técnica de pedalada20. De acordo com os autores, os aprendizes
que receberam feedback apresentaram maior retenção de efeti-
vidade da pedalada após um período de 48 horas do término da atividade. No entanto, como abordado
anteriormente a efetividade da pedalada não está totalmente relacionada ao desempenho em provas de
ciclismo, o que demonstra a necessidade de mais investigações sobre o efeito do feedback aumentado
sobre o desempenho em provas de ciclismo em indivíduos que aprenderam ou treinaram com esse
método de ensino por longos períodos de tempo.
Por fim, outro ponto que deve ser observado com cautela na utilização do feedback para o
aprendizado da pedalada é a possível dependência do aprendiz, em função do uso excessivo do
método, para execução do mo- vimento12,63. Dessa forma, é indicado que o feedback seja apresentado
em menor frequência e de forma sistematizada, ou seja, fornecer maior quan- tidade de feedback no
início do aprendizado e à medida que o indivíduo melhora sua experiência na prática a frequência de
feedback pode ser re- duzida progressivamente20.
Este capítulo trás informações importantes a treinadores e ciclistas ex- perientes e iniciantes, uma
vez que demonstra como deve ser realizada a aplicação de força ao pedal, quais os principais músculos
utilizados no mo- vimento de pedalada e o posicionamento ideal para se obter na bicicleta. Além
disso, foram demonstrados os principais fatores que influenciam na alteração da biomecânica da
pedalada, sendo estes, cadência de pedalada, posição adotada na bicicleta, nível de treinamento ou
experiência de um ciclista e a carga de trabalho utilizada no exercício.
Além destas informações a respeito da biomecânica do ciclismo, são apresentadas as principais
formas de ensino da técnica de pedalada. As principais formas de ensino da técnica de pedalada são,
através de de- monstrações gráficas da aplicação de força no pedal por meio de feedback aumentado e
a indicação do movimento de puxar o pedal na fase de recu- peração da pedalada. Para que se possa
entender como este movimento é aprendido, foi apresentado neste capítulo as principais teorias que
ex- plicam a aprendizagem motora e as principais formas de armazenamento de informações. Ou seja,
este capítulo também é informativo de como são aprendidas e armazenadas as informações a respeito
da pedalada.
E por último conclui-se que o feedback aumentado é uma metodologia válida para o ensino da
técnica de pedalada no ciclismo, por auxiliar nos processos de aprendizagem e retenção do gesto
motor. Todavia, o feedback deve ser aplicado de forma bem estruturada a partir das informações dos
aspectos cinéticos da pedalada, uma vez que estes fatores irão ter maior influência sobre a efetividade
do movimento. Há a necessidade de apre-
sentação desse feedback na fase inicial da aprendizagem para facilitar que o ciclista possa manter o
mesmo nível técnico em diferentes intensidades e diferentes momentos dos treinos e competições.

Aplicações práticas

• A partir do abordado neste capítulo pode-se organizar uma me- todologia de feedback
visual aumentado para ensinar a técnica de pedalada;
• Utilizar o feedback visual aumentado e suas diversas aplicações para melhorar a técnica de
atletas de ciclismo e triatlo;
• A partir da organização correta da pedalada é possível reduzir a incidência de lesões e
desconfortos na prática do ciclismo.
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biofeedback cycling training to improve gait symmetry in stroke patients: a case series study.
CAPÍTULO XIII
PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE AS GINÁSTICAS ARTÍSTICA E RÍTMICA ASSOCIADAS À
BIOMECÂNICA

483

Lucas Machado de Oliveira Ieda Parra


Barbosa-Rinaldi Morgana Lunardi
Juliana Pizani

O que você irá encontrar:

• Caracterização das modalidades ginásticas artística e rítmica;


• Análise da produção de conhecimento (artigos, teses e disserta- ções) que abordam a temática
da ginástica (artística e rítmica) asso- ciada à biomecânica;
• Discussão sobre as especificidades das ginásticas artística e rítmi-
ca associadas à biomecânica;
• Tendências temáticas e perspectivas da biomecânica no trato com as ginásticas artística e
rítmica;
• Contribuição da biomecânica para a constituição e caracterização das ginásticas artística e
rítmica.

Introdução

A produção científica no contexto brasileiro vinculada à ginástica tem apresentado um aumento


significativo1-3. Observa-se um destaque para as modalidades de Ginástica Artística (GA) e Ginástica
Rítmica (GR), o que pode ser explicado pelos resultados expressivos da participação brasileira em nível
internacional3. Contudo, o aumento quantitativo de produções científicas sobre as ginásticas de
competição nem sempre significa uma melhora qualitativa no conteúdo que está sendo veiculado. Isso
porque, tão importante quanto produzir conteúdo científico, é torná-lo acessível para os envolvidos com
as modalidades (atletas, treinadores, dirigentes, responsáveis legais etc.), bem como indivíduos em
formação profissional que possam manifestar interesse pela área, de forma a embasar a atuação de
ambos, independentemente do contexto em que estão inseridos.
Diante disso, buscamos neste capítulo, apresentar os estudos publi- cados no Brasil sobre GA e/ou
GR com análises que partem da ótica da biomecânica, com vistas à compreensão de como essa produção
pode subsidiar as diferentes intervenções nas modalidades. O interesse pelos
estudos publicados nacionalmente parte do pressuposto de que estes são mais acessíveis aos que
vivem o dia a dia das modalidades. Para tanto, foi necessário elaborarmos um banco de dados
contendo teses, dissertações e artigos, que tratassem da referida temática no período de 1980 a 2016.
No tocante às teses e dissertações, selecionamos os programas de pós-
-graduação participantes da pesquisa a partir dos critérios: 1) oferecer o curso de mestrado e/ou
doutorado acadêmico em educação física; 2) ser curso recomendado e reconhecido pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e 3) disponibilizar as teses e dis-
sertações no repositório do programa de pós-graduação, no Portal Do- mínio Público e/ou na
Biblioteca Digital da instituição; 4) disponibilizar as dissertações e teses completas; 5) estar com a
alimentação do sistema regularizada. Pelo fato de nem todos os programas disponibilizarem a fer-
ramenta de busca, não podemos utilizar palavras-chave e/ou descritores. Sendo necessária a
elaboração de um banco de dados com todas as pesqui- sas encontradas, organizado de forma
cronológica de acordo com o ano de publicação dos trabalhos, contendo informações como autor, ano,
título e instituição, para somente depois identificarmos as pesquisas que abordas- sem a GA e/ou GR
associada à biomecânica.
Já em relação aos artigos, o banco de dados constitui-se por artigos que tratam da área da
ginástica como um todo, e foi elaborado a partir da busca manual diretamente nos sites dos
periódicos, fazendo uso das palavras-chave “ginástica”, “ginásticas”, “gímnica”, “gímnicas”, “gímni-
co”, “gímnicos”, “ginasta”, “ginastas”, “ginástico” e “ginásticos”, “fitness” e “academia”. Fizemos a
escolha de 12 periódicos nacionais da educação física com representação tradicional para a área,
estando classificados no WebQualis da CAPES entre A1 e B3: Revista Brasileira de Ciências do Es-
porte (RBCE), Movimento, Revista da Educação Física da UEM, Pensar a Prática, Revista Licere,
Motrivivência, Motriz, Revista Brasileira de Ciên- cia e Movimento (RBCM), Revista Brasileira de
Educação Física e Espor- te (RBEFE), Revista Mackenzie de Educação Física e Esportes (RMEFE),
Educação Física em Revista, Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano
(RBCDH).
Tendo como base o banco de dados de teses e dissertações (área da Educação Física) e o banco de
artigos (área da ginástica), restringimos a seleção dos estudos à temática da biomecânica associada às
ginásticas ar- tística e rítmica. Esta seleção foi realizada por meio de inspeção visual, nos dois bancos,
considerando o critério de associação à biomecânica.
Esses bancos de dados têm sido alimentados anualmente e atualmente
conta com artigos (n=345), teses e dissertações (n=4872). Em relação à te- mática investigada neste
capítulo, encontramos 10 artigos e 4 dissertações. Todo esse processo metodológico é ilustrado na
Figura 1.18.

Figura 1.18 - Síntese das etapas para seleção dos estudos

Fonte: os autores.

Este capítulo está dividido de forma com que o leitor compreenda, ini- cialmente, as características
que sustentam cada uma das modalidades e posteriormente possa estabelecer conexões com o conteúdo
das produções analisadas, em termos de objetivos, metodologias, resultados, entre outros.

Conhecendo as ginástica artística e rítmica

Nesse tópico, intentamos apresentar as características das modalida- des investigadas no presente
capítulo, a fim de promover a compreensão sobre o universo ginástico que sequencialmente será
associado a área da biomecânica.
Ginástica artística
A GA é um esporte olímpico individual dividido em dois naipes: Ginás- tica Artística Feminina
(GAF) e Ginástica Artística Masculina (GAM). A GAF combina a execução de diferentes elementos
nos seguintes aparelhos: salto sobre a mesa, barras paralelas, trave de equilíbrio e solo, enfatizando a
agilidade, potencial artístico, flexibilidade e estilo4. Já as provas da GAM têm como aparelhos
específicos o solo, o cavalo com alças, as argolas, o salto sobre a mesa, as barras paralelas
assimétricas e a barra fixa5.
Durante as séries (momento em que o ginasta executa os exercícios corporais previamente
planejados para cada aparelho), os ginastas são avaliados pela dificuldade e execução dos exercícios
apresentados, de- monstrando diversas valências físicas como força, flexibilidade e equilí- brio4,5,
além de distintas classes de movimento como rotação, deslocamen- to e estabilização (vistas de forma
isolada ou combinada)6. Assim, o ginasta se expressa com o próprio corpo enquanto as exigências
biomecânicas das acrobacias conquistam excelência e menor demanda energética7.
Devido à associação entre dificuldade técnica (exercícios com elevado grau de complexidade) e
perfeição na execução dos elementos, é comum que ocorra um ingresso precoce no treinamento
sistematizado entre os praticantes de GA8. Um dos parâmetros utilizados pelos treinadores para definir
a idade ideal para iniciação está na divisão das categorias eviden- ciadas nos regulamentos técnicos
da modalidade9-10. As categorias compe- titivas adotadas para as competições nacionais de GAF e
GAM são descri- tas no Quadro 1.18.

Quadro 1.18 - Categorias por idade para os campeonatos brasileiros de GA.

Idade
Categoria GAF GAM
9 anos
Pré-infantil 9 e 10 anos 10 e 11 anos (Sub 11)
11 e 12 anos (Sub 12)
Infantil 11 e 12 anos 13 e 14 anos (Sub 14)
14 e 15 anos (Sub 15)
Juvenil 13 a 15 anos 16 e 17 anos (Sub 16)
Adulto 16 anos e acima 15 anos e acima

Fonte: Adaptado de Confederação Brasileira de Ginástica11-12.


As categorias de competição são um ponto crucial dos regulamentos técnicos, pois norteiam a
atuação de cada ginasta. Por exemplo, as cate- gorias pré-infantil e infantil contam com um programa
obrigatório a ser executado pelos ginastas nas competições. Logo, a contribuição disto para o processo
de especialização precoce na modalidade reside no fato de que embora o início na carreira competitiva
ocorra por volta dos nove anos de idade e seja baseada em séries obrigatórias, existe a necessidade de
um treinamento sistematizado que atenda essa demanda9. Nesse sentido, pa- rece haver um consenso
entre treinadores brasileiros sobre a idade para iniciar a prática da modalidade, sendo entre cinco e sete
anos a faixa etária ideal10.
Além da iniciação precoce, a alta exigência técnica que visa a melhor performance da modalidade
vai ao encontro de elevada frequência de le- sões, sendo as lesões articulares o principal tipo e os
membros inferiores o principal segmento anatômico acometido13. Assim, torna-se imprescindí- vel
conhecer as especificidades da modalidade, as exigências dos códigos de pontuação e as
particularidades de seus praticantes, como idade, carac- terísticas antropométricas e aptidão física para
assegurar o pleno desen- volvimento da GA em diferentes contextos.

Ginástica rítmica
Com grande influência do ballet e dança moderna, a GR infere uma união entre esporte e arte.
As séries executadas na modalidade pressu- põem flexibilidade, equilíbrio, coordenação corporal e
interpretação musi- cal das ginastas14-15 associadas ao manejo de aparelhos específicos: corda, arco,
bola, maças e fita em um espaço com dimensões de 13x13 metros16. Ademais, as ginastas são
avaliadas em dois quesitos que norteiam a moda- lidade: dificuldade e execução, sendo que o último
analisa o componente artístico da série.
A GR, como modalidade olímpica, é praticada por mulheres de forma individual ou em conjuntos.
Vale lembrar que embora não oficializada pela Federação Internacional de Ginástica, a GR masculina
já tem adeptos em diversos países, com realização de competições há mais de 10 anos17. Nos
campeonatos individuais, as ginastas cumprem obrigatoriamente quatro provas dos cinco aparelhos
enquanto nas competições de conjuntos, ocor- rem a participação de cinco ginastas simultaneamente
inferindo sincronia e colaborações. Nas duas situações, Comitê Técnico de GR da Federação
Internacional de Ginástica (FIG) define os aparelhos utilizados em cada ciclo olímpico18.
Devido às especificidades da GR, existe a necessidade de que a seleção de atletas ocorra de forma
precoce a fim de aproveitar as fases sensíveis para se obter determinados padrões motores ou
melhoria de capacidades motoras, como o alto grau de flexibilidade articular que se adquire por volta
dos seis aos nove anos de idade, salvo exceções em que a flexibilida- de é determinada de forma
genética19. Além disso, é interessante que seja adquirido cedo o domínio de movimentos corporais
para que seja aliado às diversas possibilidades de manejo dos aparelhos20. Diante desse cenário, o
Quadro 2.18 aponta as idades adotadas para as competições nacionais.

Quadro 2.18 - Categorias por idade para os campeonatos brasileiros de GR.

Idade
Categoria Individual Conjuntos
Pré-infantil 9 e 10anos 9 e 10 anos
11 e 12 anos (é permitida
Infantil 11 e 12 anos uma ginasta de 10 anos)
13 e 14 anos (é permitida
Juvenil 12 a 15 anos uma ginasta de 12 anos)
16 anos e acima (é permitida
Adulto 15 anos e acima uma ginasta de 15 anos)
Fonte: Adaptado de Confederação Brasileira de Ginástica21.

Legenda: GA: ginástica artística; GR: ginástica rítmica; ↑ aumentos/acrés- cimo/maior; ↓


redução/decréscimo/menor; ≠ diferente; = similar/igual. Fonte: os autores.

Análogos ao cenário da GA, os regulamentos da GR também pressu- põem o início da carreira


competitiva por volta dos 9 anos. Por sua vez, o treinamento excessivo pode contribuir para a
incidência de lesões nas atle- tas15,18,22. Não obstante, os conhecimentos técnico-científico dos
aspectos mecânicos e biológicos podem contribuir para minimizar esse cenário e pro- mover desfechos
positivos para as ginastas e a modalidade como um todo.

Produção de conhecimento dobre GA e à GR associa-


das à biomecânica

O mapeamento do conhecimento produzido sobre GA e GR associadas à biomecânica é


apresentado nessa sessão considerando primeiramente o
volume dos diferentes tipos de produções e de acordo com a modalidade estudada. Em seguida, são
apresentadas algumas considerações acerca de seus conteúdos, como por exemplo as metodologias e
conclusões eviden- ciadas. Considerando o recorte temporal de 1980 a 2016, verificamos um total de
14 estudos entre artigos (n=10) e dissertações (n=4) que abordam a temática investigada, sendo que
sete deles referem-se à GA, seis à GR e um estudou as duas modalidades simultaneamente.
Ressaltamos não ter sido encontrada nenhuma tese nessa temática.
Esse resultado nos leva a questionar se a quantidade de produções científicas veiculadas no Brasil
tem sido suficiente para embasar a prática de treinadores e o desenvolvimento das modalidades. Visto
que na ginásti- ca é imprescindível desenvolver técnicas efetivas, eficientes e seguras para o processo
de aprendizagem de habilidades específicas e que a biomecâni- ca aplicada nesse contexto apresenta
um potencial contributivo, por meio da aplicação de conceitos mecânicos e biológicos23.
Ao abordarmos os aspectos metodológicos dos estudos, identificamos quais os métodos de medida
em biomecânica foram empregados, (Figura 2.18).

Figura 2.18 - Frequência de métodos de medição em biomecânicas utiliza-


dos nos estudos.

5 Dinamometria

4 Cinemetria
Eletromiografia
3 Antropometria
2 Cinesiologia
Ecografia
1

Método empregado no estudo


Fonte: os autores.
Notamos na Figura 2.18 a predominância da dinamometria e cinemetria como métodos de medição
em biomecânica utilizados nos estudos investiga- dos, em que cada uma se fez presente em seis estudos
dos 14 analisados.
Os métodos de cinemetria consistem no registro de imagens do movi-
mento esportivo e as consequentes reconstruções com auxílio de pontos
marcados. A partir de variáveis de trajetória e decurso de tempo gasto para executar o movimento,
observa-se indicadores cinemáticos de importân- cia estrutural para a avaliação do rendimento
esportivo, como: variações lineares e angulares de posição, velocidades lineares e angulares, velocida-
de do centro de gravidade, dos segmentos e das articulações, determina- ção das variações da
aceleração do movimento, tempo de reação e tempo de movimento, entre outras variáveis a serem
selecionadas conforme os propósitos da análise e necessidades indicadas pelos treinadores e/ou atle-
tas24. O maior número de estudos utilizando esse tipo de avaliação biome- cânica mostra uma
preocupação, por parte dos pesquisadores, com relação a qualidade do movimento que está sendo
executado.
Além do cuidado com a qualidade, a quantificação da carga e das forças produzidas pelos atletas
também é de suma importância e nesse sentido a dinamometria se apresenta como principal
representação para análise com uma frequência de estudo (ƒ=6). A interpretação dos componentes
ortogonais (anteroposterior, médio-lateral e vertical) da força permite o entendimento das condições
do movimento estudado, que respondem por funções de transferência de forças às estruturas do
aparelho locomotor, técnicas de estabilidade do apoio ou ainda alterações no padrão técnico que
identificam disfunções no comportamento motor durante esta fase de contato do pé com o solo25. Por
meio deste método é possível entender a influência de fatores externos (forças de reação do solo,
pressões, torques, impulsos, gradiente de força, força de preensão manual, centro de pressão) e de
fatores internos (torques musculares e forças nas superfícies articula- res), parâmetros estes que
assumem a indicação do controle de movimen- to e limites da sobrecarga articular.
Em síntese destacamos que a maioria dos estudos faz uso do dinamô- metro isocinético (ƒ=6) e
esse fato, parece ter certa relação com os avanços tecnológicos apresentados pelos equipamentos de
mensuração da função muscular, além da facilidade de avaliação e análise dos dados.
Outro motivo que parece ter relação com a maior utilização desta téc- nica, é a possibilidade de
avaliação da performance muscular. Essa avalia- ção é relevante para fins diagnósticos, para corrigir
preventivamente défi- cits musculares específicos, avaliar resultados da intervenção e determinar se o
indivíduo tem condições de retornar às suas atividades esportivas ou ocupacionais. Os dinamômetros
permitem a quantificação de parâmetros como capacidade de produção de torque, potência muscular,
fadiga e ca- pacidade de gerar trabalho para diversas musculaturas.
Nessa direção, corroboramos com a ideia de que a credibilidade cientí-
fica das atividades profissionais passa pela escolha de métodos de medição que sejam válidos e
confiáveis. A utilização de instrumentos que não satis- fazem esses critérios impossibilita a
justificativa das decisões clínicas e a demonstração da eficácia das intervenções26.
Quando analisamos os participantes dos estudos, observamos que 12 es- tudos avaliaram atletas de
GAF, GAM ou GR, cujas médias de idade es- tão agrupadas no Quadro 3.18. No restante,
verificamos um estudo que avaliou um grupo de universitárias e um estudo não possuía participantes
porque utilizou modelo matemático.

Quadro 3.18 - Faixa etária de atletas participantes dos estudos.

GAF
Média de idade % %Total
Até 10 anos 50 16,7
Entre 10 e 12 anos 25 8,3
Entre 13 e 15 anos 25 8,3
Acima de 15 anos 0 0
GAM
Média de idade % %Total
Até 11 anos 0 0
Entre 12 e 14 anos 0 0
Entre 15 e 17 anos 0 0
Acima de 18 anos 100 8,3
GR
Média de idade % %Total
Até 10 anos 28,6 16,7
Entre 11 e 12 anos 14,3 8,3
Entre 13 e 15 anos 42,8 25
Acima de 16 anos 14,3 8,3
Fonte: os autores.

Ao identificar o percentual dos grupos etários no total dos estudos, so- bretudo na GAF e GR,
notamos que existe um predomínio de idades que se enquadram entre as categorias pré-infantil,
infantil e juvenil. Esse dado pode ser resultado do processo de especialização precoce que muitas
vezes
resulta no esgotamento das atletas quando atingem a fase adulta10, favore- cendo que os pesquisadores
encontrem com maior facilidade participantes em faixas etárias mais baixas. Contudo, entendemos que
estudar atletas adultos pode subsidiar a longevidade no esporte, uma vez que a biomecâ- nica
contribui para explicar como é realizado determinado movimento e buscar caminhos para uma
execução mais eficiente e harmônica6, de forma a minimizar o esgotamento de ginastas adultos.
Diante desse cenário, destacamos que a primeira fase de contato com a ginástica se dá por meio
do ingresso em escolinhas de base, muito cen- tradas num processo de experimentação do universo da
ginástica, seja ela ginástica rítmica ou ginástica artística. Desse modo, podemos inferir que muitas
desistências, que diminuem o número de atletas em categorias subsequentes, se dão a partir de uma
não identificação com o esporte, haja vista que as crianças estão em fase de descobertas que fomentam
suas es- colhas futuras sobre a prática.
Pensando na representatividade das diferentes regiões do Brasil na temá- tica da ginástica, estão
descritas no Quadro 4.8 as cidades da instituição de ensino superior em que o pesquisador principal do
estudo estava filiado no momento da publicação da pesquisa, de acordo com a modalidade abordada.

Quadro 4.18 - Filiação dos autores principais.

GA
Local de filiação % %Total
Curitiba (PR) 13 6,7
Porto Alegre (RS) 25 13,3
Bauru (SP) 13 6,7
São Paulo (SP) 38 20,0
Hildesheim (Alemanha) 13 6,7
GR
Local de filiação % %Total
Porto Alegre (RS) 43 20,0
Florianópolis (SC) 29 13,3
Maringá (PR) 14 6,7
Porto (Portugal) 14 6,7
Fonte: os autores.
Observamos que os principais autores das produções em ambas moda- lidades estão filiados,
majoritariamente, às instituições de ensino superior das regiões sul e sudeste do país. Uma possível
explicação para isso é que a maioria dos grupos de pesquisa em ginástica cadastrados no diretório do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) se encontram filiados a
instituições localizadas nas mesmas regiões27.
No caso dos estudos da GA, 87% deles possuem autoria distribuída en- tre cidades dos estados de
São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esse resultado corrobora com a representação da
modalidade no contexto brasileiro, em que desde a criação da Confederação Brasileira de Ginástica, as
regiões Sul e Sudeste permanecem como destaque e como principais participantes dos campeonatos
nacionais28.
Tratando da GR, com 86%, a autoria principal está filiada às institui- ções da região Sul do
Brasil. Esse resultado pode ser explicado pelo fato da região Sul possuir uma tradição histórica no
trabalho com a modalidade. Um estudo prévio29 mostrou que entre as 21 ginastas que fizeram parte da
seleção permanente de GR entre os anos de 2012 e 2013, 15 delas eram oriundas de clubes do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Nesse sentido, constatamos que a ciência está inserida, sobretudo, nas regiões onde a GA e
GR encontram-se mais desenvolvidas. Compre- endemos que esse é um processo fundamental para
manter e maximizar as potencialidades já existentes, entretanto, é importante expandir esse panorama
e aproximar o conhecimento científico aos locais onde as mo- dalidades ainda estão em expansão, a
fim de subsidiar e acelerar seu de- senvolvimento.
Posto isso, inferimos que estudos referendados pela área da biomecâ- nica podem contribuir, não
apenas para a compreensão do movimento a partir de análises diversas, mas também, por constituir
indicadores funda- mentais para subsidiar e motivar iniciativas que tenha a área da ginástica como
foco, apresentando-se como uma possibilidade para a massificação de democratização da ginástica
artística e ginástica rítmica no Brasil.
Nessa direção, apresentamos o Quadro 4.18, constituído pela análise direta das produções de
conhecimento que tratam da biomecânica asso- ciadas às ginásticas artística e rítmica, com seus
referidos objetivos e con- clusões dos estudos.
Quadro 4.18 - Síntese das
dissertações e artigos publicados no Brasil.
Realizar uma Houve pequena variância entre as tentativas nos
pesquisa valores de cinemática e dinâmica, como também nos
abrangente valores de simetria. A ativação muscular variou
GA sobre a conforme a função muscular, enquanto os valores de
Carrara biomecânica do crucifixo co-contração foram ≠ entre as tentativas. Estes
et nas resultados distinguem as características do crucifixo
al. (2016)34 argolas, a fim de obter realizado por um ginasta de nível elite.
um modelo descritivo
sobre essa habilidade.

Explorar a
multiplicidade de opções Evidencia-se que seria mais aconselhável
de movimento e estados realizar o mortal grupado para frente com
coordenativos, momento de inércia ↑ quando se atinge a posição
juntamente grupada, duração mais longa para atingir a posição
com os seus parâmetros grupada, duração mais longa da posição grupada, e
Heinen GA de um momento de inércia intermediário durante a
e
aterrissagem. Essa estratégia compreende a ↑
Nicola diferenciação para o
us mortal quantidade de opções de movimento associados a
uma aterrissagem na posição ereta e, assim, a ↑
(2016)35 grupado para frente, com
probabilidade de sucesso quando se realiza um único
base
em um modelo mortal.
matemático
simples que
reflita o
comportamento da
rotação do ginasta
durante a fase de voo.

Investigar o O treinamento da imaginação comprovou ser um


efeito do método capaz de alterar variáveis biomecânicas,
Olivei GA treinamento da comportamento e padrão motor, mesmo estes sendo
ra imaginação na internos, discretos e imperceptíveis em uma
(2007)36 melhora do gesto técnico avaliação visual detalhada.
do
“flic com as mãos” da
GA.
Detectar os efeitos de
um
Os resultados obtidos na avaliação
programa de
eletromiográfica mostraram que a inclinação da
relaxamento
GA mediana da frequência de todos os músculos foi ↓
Candot muscular na após o tratamento, quando as médias de todos os
ti incidência e
sujeitos dos grupos, controle e experimental, foram
(1997)37 intensidade da comparadas.
lombalgia
associada à fadiga
muscular de jovens
atletas da GR.
Comparar as adaptações
crônicas do treino de Após as seis semanas de treinamento, os dois
flexibilidade em métodos de alongamento estudados mostraram-se
função de duas técnicas: eficazes no ↑ da amplitude de movimento de
Karloh et o alongamento estático e
GR extensão do quadril de ginastas. Esses resultados
al. a técnica Mulligan possuem aplicação na prescrição de exercícios de
(2010)38 - LongLegTraction, no alongamento, tanto para os períodos de treinamento
movimento de extensão quanto para os períodos competitivos da equipe em
do quadril, em atletas de questão.
GR.

Observou-se relação significativa entre o teste de


Conhecer a relação Lachman e o alinhamento perna calcâneo, o que
existente entre sugere que um desalinhamento do pé, principalmente
G o l i instabilidade articular do
GR em eversão que pode provocar ou estar sendo
a s
joelho e alterações provocado por uma instabilidade anterior uniplanar.
(2012)39
posicionais do membro Torna- se fundamental verificar qual destes fatores é
inferior em atletas de a causa para que, a partir disso, seja possível atuar
GR. preventivamente.

Comparar a amplitude de
movimento de flexão
dorsal de GR e meninas As ginastas apresentaram ↓ amplitude de
Goulart não atletas, e movimento de flexão dorsal comparadas às meninas
et GR determinada a correlação não atletas. O torque passivo dos flexores plantares
al. (2014)40 entre o torque passivo foi ↑ atletas e o torque ativo de flexores dorsais foi
dos flexores plantares e o ↑ nas meninas não atletas.
torque ativo dos flexores
dorsais.
Avaliar a altura de dois
saltos da Ginástica
Rítmica (salto de corça
e salto cossaco) e
comparar com As ginastas da Seleção Nacional alcançaram melhores
resultados resultados em
S a n t o s , da Seleção Nacional 33% dos testes, ou seja, não conseguiram mostrar a
GR Júnior. superioridade esperada nos testes realizados. A ↑
parte das ginastas apresentaram um harmonioso
Lebre e Comparar os níveis de
força desenvolvimento da força explosiva em ambos os
membros inferiores, dado que 83,3% das ginastas da
Carvalh explosiva do membro
amostra não demonstraram assimetrias funcionais.
o inferior
(2016)41 preferido e membro
inferior não preferido de
todas as ginastas do
estudo, de modo a
verificar possíveis
assimetrias funcionais.

Investigar a
influência da
preferência lateral e
do As respostas aos objetivos propostos demonstraram
treinamento na produção que a preferência lateral e o treinamento de GR
Frutuoso GR de influenciaram a capacidade de produção de força de
(2014)42 força de membros membros inferiores no grupo de ginastas estudado.
inferiores
de atletas de GR
pertencentes à categoria
juvenil e adulto de uma
equipe de Santa
Catarina.
Fonte: os autores.
O Quadro 4.18 descreve sinteticamente as especificidades das produ- ções científicas analisadas,
as quais demonstram que os aspectos biomecâ- nicos têm sido foco de uma pequena parcela do que
vem sendo produzido na área da ginástica. Apontamos ainda para escassez da associação da bio-
mecânica com a GA e a GR, visto que a representatividade encontrada foi apenas 1,15% do total de
artigos, 0,08% de dissertações e nenhuma tese se enquadrou na investigação.
Para além do Quadro 4.18, apresentamos as Figuras 4.18 e 5.18 com o di-
recionamento tomado nas pesquisas.

Figura 4.18 – Mapeamento dos elementos ginásticos investigados.

Fonte: imagens retiradas dos códigos de pontuação de GAM44 e GR45 2017-2010.


Na Figura 4.18 apresentamos os elementos ginásticos que foram aborda- dos nos artigos e
dissertações, os quais se fizeram presentes em sete das 14 pesquisas, tendo uma representação de 50%.
Essa conjuntura proporciona reflexões acerca do contributo científico para o avanço da área da
ginástica. Entendemos que estudos que aprofundam a compreensão técnica dos mo- vimentos podem
promover alterações dos regulamentos técnicos, progres- sos relacionados à segurança do atleta, além
de constituir-se como fonte direta para a crescente melhoria do desempenho esportivo.
A outra metade dos estudos diversificaram o foco temático, Figura 5.18.

Figura 5.18 - Centralidade temática associada à biomecânica.

Fonte: os autores.

Em ambas as modalidades de ginástica, os membros inferiores são bastante requisitados com a


execução dos saltos, mas possuem exigências mecânicas distintas. Na ginástica artística os saltos
devem ser executados com grande altura devido à complexidade e quantidade de acrobacias que são
realizadas durante o tempo de voo, além da necessidade de uma che- gada precisa ao solo4,6. Na
ginástica rítmica a execução correta de um salto
exige, além de uma forma corporal fixada e definida, boa elevação do cen-
tro de gravidade (altura de salto) e uma chegada suave ao solo46.
O presente capítulo possibilitou observar que os estudos sobre ginás- tica, a artística ou rítmica,
frequentemente utilizam de dinamometria e cinemetria como métodos de medição em biomecânica,
conferindo credi- bilidade no que tange os aspectos metodológicos.
Vimos também que, as produções tratadas nesse capítulo, apresentam associação significativa
entre o local de filiação de seus autores com os lo- cais onde a GA e a GR apresentam maior
desenvolvimento, reconhecendo uma aproximação entre teoria e prática. Indicamos, nesse sentido,
que a estruturação da pesquisa científica em outros locais é uma ferramenta com potencial
massificador do esporte.
Notamos que embora poucos sejam os estudos que tenham atendido aos critérios de seleção,
constatamos entre eles uma variedade de temá- ticas abordadas e elementos ginásticos estudados,
sendo de grande valia para o desenvolvimento da área. Contudo, apontamos que as análises veiculadas
nas pesquisas podem se aproximar ainda mais da realidade de intervenção profissional, tratando o
conhecimento gímnico a partir das necessidades evidenciadas pelos atores envolvidos com o processo
de en- sino-aprendizagem.
Mediante o exposto, confirmamos a importância de desenvolvimento de pesquisas que abordem
as diversas possibilidades de olhar para a gi- nástica, e nessa direção, a biomecânica é lançada como
contributo para o trato e avanço dos conhecimentos, especialmente das ginásticas artísticas e rítmicas
que se constituem como foco desse texto.

Aplicações práticas

• Os resultados podem ser utilizados por treinadores das modali- dades investigadas com
vistas à melhoria no desempenho esportivo dos atletas envolvidos;
• As análises que consideram o detalhamento técnico de movimen- tos específicos podem
promover alterações dos regulamentos técni- cos;
• Modificações de exigências e execuções que primam pela seguran-
ça do atleta;
• Necessidade de pesquisas que abordem o conhecimento ginástico a partir das necessidades
evidenciadas pelos atores envolvidos (trei- nador, atleta, preparador físico etc.);
• Aproximação do campo universitário com o campo de aplicação das modalidades
investigadas, seja ele escolar ou não escolar.
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