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Instituto Politécnico de Tomar – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

(Departamento de Geologia da UTAD – Departamento de Território, Arqueologia e Património do IPT)

MESTRADO EM ARQUEOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA E ARTE RUPESTRE

A TRANSIÇÃO PARA O AGRO-


PASTORALISMO NO SUL E OESTE
DA PENÍNSULA IBÉRICA
Uma perspectiva acerca das bases teóricas e da
Paleoecologia com especial incidência nas evidências de
domesticação

NELSON ALMEIDA

Docentes: Professor Doutor Luíz Oosterbeek

Módulos / Disciplinas: Relatório multidisciplinar II

Ano Académico 2008/2009

Janeiro / 2009
A TRANSIÇÃO PARA O AGRO-PASTORALISMO NO
SUL E OESTE DA PENÍNSULA IBÉRICA

Nelson Almeida

Resumo
Pretendeu-se realizar um ensaio no qual fossem abrangidas as diferentes bases
teóricas acerca do estudo do processo de transição para o agro-pastoralismo.
Recorrendo, entre outros, à Paleoecologia e à cultura material, com o intuito de melhor
apreender as diferentes evidências de domesticação, tentou-se ainda demonstrar o quão
valiosa é a interdisciplinaridade para a Arqueologia no geral e para esta problemática
em particular.

Palavras-chave: transição, agro-pastoralismo, Mesolítico, Neolítico, Península Ibérica,


domesticação.

Abstract
We intended to make an assay in wich we embraced the different theoretical
basis concerning the study of the transition process to agro-pastoralism. By using,
among others, Paleoecology and the material culture with the aim of best apprehend the
different evidences of domestication, we tried to show how much worthy is the
interdisciplinariety to Archaeology in general and for this problematic in particular.

Key words: transition, agro-pastoralism, Mesolithic, Neolithic, Iberian Peninsula,


domestication.

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Índice

Introdução ........................................................................................................................3

A Transição para o Agro-pastoralismo………………………………………………………. 3

Mudanças Económicas, Sociais e Mentais………. ……………………. ……………………. 6

A Perspectiva Paleoecológica………………………………………………………………….12

Península Ibérica, Um Problema em Aberto………………………………………………...15

A Cultura Material……………………...…………………………………………. …………24

Discussão e Perspectivas Futuras……………………………………………………………. 26

Referências Bibliográficas…………………………………………………………………….27

2
Introdução
A transição para o agro-pastoralismo é um dos temas mais intrincados e
debatidos da actualidade no seio dos investigadores de Arqueologia. No prolongamento
de várias análises efectuadas, propusemo-nos realizar um ensaio, o mais abrangente
possível, no qual percepcionasse-mos o integral da questão, contrapondo o máximo de
dados e elementos que nos fora possível. Obviamente que seria falacioso afirmar que
seriam tratados todos os aspectos exequíveis para esta problemática e, de igual modo,
seria largamente ultrapassado o âmbito deste trabalho. Consequentemente, dispusemos a
temática em cinco matérias, não necessariamente devido a distinções intrínsecas mas,
para facilitar o manejo da informação que se demonstrou numerosa.
Num primeiro capítulo fizemos um sucinto apanhado acerca das informações
existentes a nível quadro europeu e abordamos alguns aspectos teóricos e
epistemológicos. Em seguida, procedemos a uma breve descrição acerca das mudanças
ocorridas aquando deste processo, nomeadamente na esfera económica, social e mental.
Tendo em conta a finalidade deste ensaio, foi interpolado um terceiro capítulo
que retrata a evolução paleoecológica da Península Ibérica. Por fim, atingimos o apogeu
da questão nos derradeiros capítulos onde é ilustrado o panorama ibérico com um certo
enfoque na problemática de como se terá realizado este processo em Portugal. É ainda
realizada uma rápida incursão acerca da cultura material característica deste período e
que, mesmo não sendo tratada exaustivamente, se demonstrou valiosa para o
enriquecimento do intuito principal adjacente à elaboração deste trabalho,
nomeadamente, no que respeita às evidências de domesticação. Recorrendo a
investigações de índole variada (Genética, Paleoantropologia, Paleoecologia…)
pretendemos lograr da interdisciplinaridade da Arqueologia para apresentarmos um
trabalho o mais completo possível. Contrapondo as inúmeras evidências com as
interpretações dos mais variados investigadores, tentaremos alcançar uma conclusão,
mesmo que não se afigure fácil.

A Transição para o Agro-pastoralismo


“ Quando os dados escasseiam, ou a sua dimensão se altera pouco, é difícil escrever com novidade.”
Victor S. Gonçalves (2000/2001)

Em 1865, Lubbock abraçou os términos “Paleolítico” (paleo, lithos) e


“Neolítico” (neo, lithos) na sua obra “Prehistoric times”, decompondo a Idade da Pedra

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em duas grandes etapas com base em distinções meramente tecnológicas verificáveis
arqueologicamente, como sejam a introdução da técnica de polimento, cerâmica,
habitação permanente ou semi-permanente em aldeias, assim como os primórdios da
domesticação de animais/cereais (Mata 1996; Fullola & Lorenzo 2005). Desde esses
tempos arredados até à actualidade foram formadas as mais diversas perspectivas
teóricas – Idealismo, Determinismo, Materialismo (cultural, histórico, estruturalista),
Neo-idealismo, Evolucionismo – para o estudo do processo de transição para o agro-
pastoralismo (Gonzalo 1993).
Cabe-nos destacar que, no período aqui reflectido, coexistem comunidades
humanas com divergentes características; isto remete para o problema intrínseco às
próprias denominações Mesolítico e Neolítico porquanto, ao empregar estas
designações, muito naturalmente estamos a generalizar aspectos a grupos que não os
detêm. É axiomático que a subdivisão deste espaço temporal em fases (Mesolítico,
Neolítico) somente tem sentido histórico para nós investigadores; todavia, para as
pessoas de tais períodos, esta segmentação não teria o ínfimo sentido (Oosterbeek
2001). Infelizmente não existe nenhum termo que permita ultrapassar esta problemática
(Jorge 2000). A própria história é inerentemente darwinista fazendo com que alguns
aspectos que à nossa sociedade parecem mais “evoluídos” – “realidades de ponta”
(Diniz 2007) – sirvam de móbil para aduzir nomenclaturas que, dissimuladamente,
remetem alguns núcleos populacionais para um patamar inferior, ou ainda, incluam os
mesmos através de uma generalização terminológica. Assim, dentro do possível, iremos
acautelar o uso destas nomenclaturas, tentando atenuar a questão através de termos
como “transição”. Neste encadeamento, a noção de progresso – adiantamento cultural
gradativo da humanidade – pode induzir em erro pois, numa comunidade em
crescimento demográfico, a introdução do agro-pastoralismo pode resultar num certo
desagrado devido à maior carga de trabalho, incumbência de horários de trabalho e
hierarquizações, tornando-a “menos complexa” (Oosterbeek 2001) no sentido que, com
uma redução do tempo disponível as relações entre as pessoas podem-se tornar mais
simples, mesmo que hierarquizadas, devido a uma certa sistematização consequência de
um sistema de vida mais rígido.
Para além das transfigurações supracitadas que sobrevieram, outras mais
dificilmente inteligíveis, tais como as estruturas sociais e políticas (Martínez et al. 2003;
Oosterbeek 1997) foram-se “complexificando” e consolidando nas mentalidades

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vigentes sendo que, de certo modo, se devem distinguir as novas ideologias religiosas
interligadas com a fertilidade da terra e dos animais (Barandiarán et al. 1998), assim
como o crescimento demográfico e económico que se trasladou em mais trabalho e
crescente alienação. Citando Oosterbeek, ao Neolítico corresponderia “(…) a set of
tendencies for the increasing intensification of resources exploitation, demographic
growth, economic relations complexity, social differentiation, technological
improvement and generation of a new ideology” (Oosterbeek 1997; Oosterbeek 2001)
vendo o seu zénite no fim do terceiro milénio. Assim, o estudo do processo de transição
para o agro-pastoralismo deve forçosamente principiar-se no Mesolítico tardio.
No que toca à génese deste processo, existem fortes evidências de que remonta
ao Próximo Oriente (desde o Sul da actual Turquia até à Palestina, a Sul, até à
Mesopotâmia, a Este) há cerca de 10 000 BP (Ammerman 2002; Fullola & Lorenzo
2005; Oosterbeek 1997; Zilhão 2001) onde as datações de Triticum dicoccum são
bastante mais antigas (Abu Huryea, Síria). Daí a agricultura teria proliferado primeiro
para a actual Grécia e depois se disseminado morosamente pela restante Europa de um
modo transitivo e não revolucionário no sentido lato do termo (Ammerman 2002). De
qualquer das formas não se pode nunca deixar de lado o papel dos contextos locais.
Outras áreas nucleares de Neolitização têm sido referidas: África, Vale do Indo,
Extremo Oriente, América e, para alguns investigadores, a Nova Guiné (horticultura)
(Fullola & Lorenzo 2005).
No que respeita à disseminação do agro-pastoralismo pela Europa, existem
várias conjecturas que envolvem desde modelos marítimos de rápida difusão, a modelos
de difusão aritmética que, em detrimento da chamada “onda de avanço” de Ammerman
e Cavalli-Sforza, apontam a possibilidade de as populações agrícolas terem que
enfrentar uma certa resistência da parte das populações indígenas, tornando a difusão
heterogénea, com acelerações e abrandamentos que “ (…) sont opérées dans les aires de
mutation culturelle” (avanço – pausa e assimilação de novas culturas – avanço)
(Guilaine 2000/2001; Pinhasi, Fort & Ammerman 2005). No nosso parecer, o processo
de transição é o produto da interacção entre os diferentes raios de acção e características
de cada núcleo, quer seja emissor, quer seja receptor, sendo que esses mesmos núcleos
se podem assumir receptores e emissores ao mesmo tempo ou em diferentes alturas e,
no final, o que conta será o arbítrio dos membros de cada núcleo, ou seja, o grau da sua
permeabilidade (assimilação ou não, modificação das características transmitidas, etc.).

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Grosso modo são três os modelos para a adopção da economia produtiva na
Europa: (1) modelo difusionista que explica a troca cultural através da difusão
populacional de comunidades depositárias das inovações tecnológicas, sociais e
económicas onde a adopção destes caracteres pelas populações indígenas, se explica
pela expansão aliada à substituição das populações precedentes autóctones ou inclusive
hibridação cultural e/ou biológica; (2) modelo autoctonista que defende que a
Neolitização europeia ocorreu como resultado de alterações internas nas sociedades de
caçadores-recolectores, deixando de lado a intervenção de estratos populacionais
alóctones “neolitizados”; (3) modelo aculturacionista que se alicerça no facto de que
seriam as ideias/objectos que se divulgavam através de contactos indirectos (“fluxo
cultural”).
Estudos genéticos têm sido efectuados (Comas, Calafell & Bertranpetit 1996;
García-Bour et al. 1999; Chandler, Sykes & Zilhão 2005) porquanto a geografia actual
genética é, por si só, um reflexo do passado. Os resultados patenteiam uma extrema
homogeneidade das populações ibéricas (exceptuando o povo Basco) e francesas: isto
explicar-se-ia devido à absorvência das comunidades locais de caçadores-recolectores
pelas de agricultores através da teoria démica de “vaga de avanço” de Ammerman e
Cavalli-Sforza aquando do “processo de Neolitização” (Comas, Calafell & Bertranpetit
1996). Neste modelo a “colonização neolítica” chegaria aos Pirenéus por volta de 6000-
5000 BP; segundo Zilhão (1992), a cerâmica e os ovicaprídeos (agricultura?) já estavam
presentes em Portugal desde 6200 BP ou provavelmente antes, 6800 BP. Certos estudos
genéticos assumem-se contestáveis devido a possíveis contaminações e assim requerem
corroborações suplementares, como é o caso de García-Bour et al. (1999).
Quanto ao território português, os mecanismos basilares para a transição para o
agro-pastoralismo são através da adopção ou colonização: valendo-se de análises de
ADN alguns investigadores concluíram que a agricultura não veio directamente de
elementos alóctones do Próximo Oriente e que terá acontecido uma intermitência na
transição para o Neolítico (Chandler, Sykes & Zilhão 2005) consistente com o modelo
“Maritime Pioneer Colonisation” (Zilhão 2001) mas isso será discutido mais à frente.

Mudanças Económicas, Sociais e Mentais


O agro-pastoralismo não é impreterivelmente a maior mudança social,
económica e /ou cultural que sobreveio neste período visto que todo este processo deve
ser entendido e percepcionado como longo e moroso, não como um feito. O próprio

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espólio que chegou até nós não deve ser compreendido como um reflexo do contexto
sócio-económico: este pode abarcar grupos tanto de cariz mesolítico como neolítico e
ainda assim ser um contexto uno (Oosterbeek 2001).
Com o desígnio de melhor apreender a questão demográfica na Europa têm sido
levados a cabo estudos de carácter paleoantropológico, que permitiram concluir que,
numa etapa inicial, o real efeito do Neolítico sobre a fertilidade foi a redução da idade
média de desmame (3-4 meses), muito verosimilmente associada à mudança dietética
com inclusão de gramíneas e produtos lácteos (Bocquet-Appel & Ibáñez 2002).
Análises isotópicas de carbono e nitrogénio em ossaturas humanas de grupos
mesolíticos e neolíticos portugueses permitiram descortinar que os primeiros
apresentavam uma dieta com 50% de alimentos marinhos enquanto os segundos teriam
uma dieta integralmente terrestre (Lubell & Jackes 1992; Lubell et al. 1994; Soares
1996) levantando a conjectura de ter sucedido agricultura no Neolítico antigo da Gruta
do Caldeirão; os “elementos de foice” que apareceram regularmente também são de
mencionar (Carvalho 2002).
A nível económico as inovações levaram à prolificação de uma economia de
produção (aliada a uma transmutação cultural) assente na agricultura (produção de
expedientes, essencialmente alimentares de origem vegetal) e na pastorícia (produção de
recursos de origem animal). Dever-se-á acentuar devido à sua importância nesta etapa
como estratégia económica, a agricultura mas, sempre tendo em mente que esta pode ter
acontecido em parâmetros inteiramente distintos dos convencionalmente afigurados. Os
sistemas agrícolas mais antigos no Próximo Oriente (ex: Jerico) seriam um tipo de
horticultura subalterna de áreas com chuvadas em determinadas épocas do ano (Sherratt
1994); não se pode desprezar a importância da vegetação natural para as sociedades
agro-pastoris como fonte de recursos adicionais (Aubán et al. 1998).
Antes de continuar será de definir “domesticação”: “ (…) processo de
transformación de las espécies vivas como resultado del control de los mecanismos de
reproducción por parte de los humanos. Ello comporta una diferenciación de las
formas domesticadas de sus agriotipos selvages” (Fullola & Lorenzo 2005).
As principais espécies animais domesticadas são o porco (Sus domesticus) que é
a variedade doméstica do javali (Sus scrofa), a ovelha (Ovis aries), a cabra (Capra
hircus) e os bovídeos (Bos taurus, Bos primigenius) – Carigüela aduz nos níveis do
Neolítico Antigo 60% de restos pertencentes a ovelhas e cabras, assim como alguns

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bovídeos; a Cova de los Murciélagos (Zuheros) apresenta 60% de ovicaprídeos, 15% de
bovídeos e 13% de porco em níveis equiparáveis aos do Neolítico médio de Carigüela;
na Cova de l’Or (Alicante), 57% são restos de ovelha e na Cova de Sarsa são 49%; na
Cova del Frare 62% dos restos pertencem a ovicaprídeos, 22% a bovídeos e 13% a
suínos (Barandiarán et al. 1998). Ainda que um pouco desviada geograficamente pode-
se ainda referir a Cova Fosca: Bernard (1990) assevera que a fauna é inteiramente
selvagem mas assinala a presença de restos de Ovis aries e Capra hircus “em processo
de domesticação” tendo em conta as suas reduzidas dimensões; Olària e Gusi (1996)
asseguram que a espécie doméstica de Ovis aries está associada a contextos mesolíticos
(C14, entre os 7000 e 8000 BP) retirando da equação a Capra hircus.
As espécies vegetais comprovadas são os cereais e as leguminosas, sobressaindo
distintas categorias de trigo (Triticum monococum, Triticum turgidum, Triticum
aestivum), a cevada (Hordeum vulgare) e as leguminosas das quais se destacam a
ervilha (Pisum sativum), as lentilhas (Lens culinaris), o grão-de-bico (Cicer arietinum)
e a fava (Vicia faba) (Fullola & Lorenzo 2005). Em relação às sementes e aos frutos é
de realçar que, para estes se conservarem, tem que ocorrer mineralização ou
carbonização gradual sem contacto directo com as chamas; a sua preservação resume-se
a meios húmidos, muito áridos ou muito frios. A conservação pode ser selectiva pois
alguns tipos de sementes mais frágeis podem-se converter em cinzas e os solos ácidos
erosionam e desgastam os restos. O contacto de sementes com fogo pode também ser
deliberado: destruição de impurezas; torrefacção de cereais vestidos para retirar as
capas; seca de sementes e espigas para uma melhor conservação (Alonso Martínez
2006). Face à escassez ou profusão de um tipo vegetal num contexto arqueológico deve-
se ter em conta, para além do efeito das condicionantes ecológicas, as relações e
complexidade de comportamentos humanos celebrados com o mundo vegetal, os quais
raramente se revelam arqueologicamente (Peña et al. 2005).
Na Cova de l’Or, estudos de amostras referentes ao Neolítico antigo com
cerâmicas cardiais (C14: 5627-5386 cal. BC e 5270-5081 cal. BC) apresentavam restos
de Triticum monococcum L., Triticum dicoccum Schubl, Triticum aestivum L., Triticum
aestivum-compactum Schien s.l., Hordeum vulgare L. polystichum var. nudum e
Hordeum vulgare L. polystichum. Esta amostra não parece de origem fortuita porquanto
não é muito plausível que tivesse sucedido o cultivo e colheita, separadamente, das
diferentes classes cerealíferas (trigo e cevada) e ulterior armazenamento em conjunto,

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conjectura apoiada por frequentemente se cultivar o máximo de espécies agregadas,
tornando-se passível transpor más colheitas (Barandiarán et al. 1998). Em Los
Murciélagos (Zuheros, Córdova), com datações de C14 a partir de 5252-5142 cal. BC
aparecem conjuntamente altas percentagens de “escandala” e cevada despida, assim
como trigo comum em menores proporções: terá ocorrido uma triagem de duas
espécies? Foram ainda recolhidas 49 sementes de Papaver somniferum sp. entre as
cinzas de uma lareira, talvez efeito de um acidente (Vera Rodríguez & Ceballos 1999;
Urquijo et al. 2000), com datações que remontam aos 6400 BP (Peña et al. 2005), o que
levou alguns investigadores a considerar o Mediterrâneo Ocidental como o centro de
domesticação desta espécie. Na Cova de Nerja algo semelhante acontece: um silo
fechado com trigo e grande quantidade de cevada despida (3949-3793 cal. BC). Foram
ainda recolhidos restos de fauna doméstica (Ovis aries, Sus domesticus) em camadas
neolíticas e comprovado “brilho de cereal” na indústria lítica (Tortosa et al. 2005); com
datações de 4230-3540 e 5480-5310 temos ainda Triticum aestivum/durum, Hordeum
vulgare nudum e Vicia/Lathyrus (Peña et al. 2005). Valendo-se de estudos de
microestriação odontológica e realização de réplicas dentárias foi exequível concluir
que o indivíduo Nerja-1 (5785±80BP) utilizou a dentição anterior como “terceira mão”,
hábito documentado etnograficamente no deslize de material fibroso abrasivo entre os
dentes para criar vários tipos de fibras (Vallejo et al. 2005).
Restos de trigo e cevada foram também recolhidos em níveis neolíticos da Cova
de Carigüela, Cova de Cendres (5470-5080 cal. BP – Hordeum vulgare var. vulgare,
Hordeum vulgare var. nudum, Triticum durum/aestivum-compactum, Triticum
durum/aestivum, Triticum monococcum, Triticum dicoccum), Cova de l’Or (Nível II
com datações de 5720-5080,5460-5000,5460-5040,5470-5070 cal. BP - Hordeum
vulgare var. vulgare, Hordeum vulgare var. nudum, Triticum durum/aestivum-
compactum, Triticum durum/aestivum, Triticum monococcum, Triticum dicoccum),
Cova de Sarsa (Triticum aestivum/durum, Triticum dicoccum), Can Sadurní, Cova del
Toll, Cova 120 (Hordeum vulgare, Hordeum vulgare nudum, Triticum aestivum/durum,
Triticum dicoccum) e ainda Bóbila Madurell, entre outros. Foram verificados restos de
leguminosas na Cova del Toll, Cova 120 (Pisum sativum, Vicia sp.) e minas de Can
Tintorer; e bolotas na Cova de l’Or, Cova de los Murciélagos de Zuheros e na Cova
d’En Pau (Barandiarán et al. 1998; Peña et al. 2005). Na Cova del Toro foram
identificadas favas (Vicia faba), lentilhas (Lens culinaris) e Lathyrus sativus.

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Finalmente, quiçá mencionar a presença na Cova de los Murciélagos de alguns
caroços de azeitona silvestre (Olea europaea ssp. oleaster) nos níveis mais antigos do
Neolítico sendo que, mesmo antes de ter ocorrido a domesticação desta espécie, já era
explorada em estado silvestre – restos de azeitona silvestre estão igualmente
documentados na Cova del Toro (Urquijo et al. 2000). Face ao supramencionado,
apreende-se que na Andaluzia se notabiliza a grande variedade de espécies, assim como
uma importante presença de Papaver somniferum (Peña et al. 2005).
Com as transformações adjacentes aos novos recursos alimentares, propiciaram-
se diferentes comportamentos, adaptações e doenças, mas a qualidade de vida não
obteve o dito “avanço” quando confrontada com a economia de depredação. Sobreveio
uma redução acentuada da multiplicidade de recursos alimentares, especialização de
géneros e desaparecimento de certos nutrientes, sem esquecer as vicissitudes intrínsecas
à agricultura que podiam ocasionar episódios de fome e generalização de doenças
averiguáveis nas patologias patentes nos restos paleoantropológicos (Fullola &
Lorenzo2005). Interpoladamente vieram as modificações sociais porquanto a agricultura
obriga a maior esforço colectivo para preparar os terrenos, semeio, colheita e
armazenamento que incidiu, primeiramente, num crescente cooperacional. Ainda assim,
as origens da desigualdade existem já antes do Neolítico e foram fulcrais para a
demarcação social deste período (Fullola & Lorenzo 2005; Oosterbeek 1997). Os
expedientes – directos e/ou excedentes – eram superintendidos de diferente forma
(importância da cerâmica e posteriormente (?) da cestaria) e, segundo alguns
investigadores, isso terá suscitado as desigualdades sociais coadjuvadas pelo acesso
diferenciado aos bens alimentares. Este aspecto verifica-se nas necrópoles, sua desigual
monumentalidade e presença, ou não, de elementos não funcionais (objectos de
prestígio?). Para Fullola & Lorenzo (2005) esta teoria peca pela simplicidade e pela
projecção excessiva de valores e comportamentos das sociedades actuais. A
generalização da guerra entre diferentes comunidades, patente não só na
Paleoantropologia (esqueletos com sinais de luta), como em manifestações artísticas,
surge, outrossim, neste período pois a agricultura impõe uma noção bastante forte de
território/territorialização. A convivência com o ciclo agrário modificou os ritmos
estacionais, a percepção do tempo e inclusivamente da vida. Dá-se a difusão do
optimismo de “salvação” baseado no ciclo de fertilidade da Terra que se diviniza na
figura da mulher, mãe, o ser divino que domina os segredos da fertilidade.

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No quinto milénio aparecem os enterramentos colectivos, sobretudo os
complexos megalíticos que, citando S. Jorge, serão a “consolidação do sistema agro-
pastoril” (Jorge 2000). Na opinião de Diniz (1996b), a qual subscrevemos, a questão é
mais complexa. Ao contrário de outras áreas da Península Ibérica, como por exemplo a
Andaluzia, as cavidades portuguesas foram progressivamente deixadas de lado como
habitação no Neolítico antigo mas, no que concerne aos enterramentos, não ocorreu uma
descontinuidade: este problema parece estar intimamente interligado com as mudanças
simbólico-ideológicas ocorridas. Terá sucedido uma “sacralização” das cavidades como
ligação entre vida e morte. Estas e o conjunto de morfologias associadas ao culto da
morte representariam o útero da Terra-mãe renovadora, da qual tudo dependia
(Oosterbeek 1997). Estamos diante de uma nova maneira de os vivos se relacionarem
com os mortos, um movimento cultural que nitidamente auto-transcende o próprio
megalitismo funerário mas no qual ele se insere. É um modo de domesticação do
espaço, da sociedade e dos mortos através de deposições de utensílios transformadores
da paisagem tais como enxós e cerâmicas e, porque não, da vida (Diniz 1996b).
Finalizando este capítulo, resta tratar de um assunto que diz respeito ao facto de
que cada vez mais se tem tentado compreender o porquê de todo este processo ter
acontecido (Oosterbeek 1997; Oosterbeek 2001; Fullola & Lorenzo 2005). Isto é na
actualidade o cerne da questão, ou pelo menos deveria ser. No Próximo Oriente, ao que
tudo indica, a modificação processa-se da seguinte forma: (1) sedentarização de
algumas comunidades de caçadores-recolectores; (2) aparecimento da agricultura e
seguidamente da pastorícia; (3) aparecimento da cerâmica (Fullola & Lorenzo 2005). As
conjecturas que pretendem solver esta problemática são várias: desde teorias
evolucionistas que afirmam que o agro-pastoralismo se desenvolveu paralelamente ao
“descobrimento” dos mecanismos cíclicos reprodutivos das plantas (“avanço mental” e
“avanço social”) a hipóteses como a de V. Gordon Childe que se baseia nas
transformações climáticas Pleistoceno-Holoceno para explicar a concentração de
animais, assim como de plantas e humanos em certos locais (“oásis”), afirmando que
da simbiose resultante era originada a agricultura e pastorícia (Pinhasi, Fort &
Ammerman 2005). Esta teoria foi posta de lado pois o processo de transição para o
agro-pastoralismo não coincidiu com uma “desertificação” das zonas nucleares e os
pontos de “Neolitização” mais antigos não concordaram com os locais de surgimento
das grandes civilizações da Antiguidade.

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M. N. Cohen e L. Binford, ainda que em diferentes circunstâncias, estipulam que
um aumento demográfico terá levado à necessidade de obter alimento por outro modo
que não o tradicional sendo então uma alternativa numa emergência cultural e não um
descobrimento intelectual. Por sua vez, J. Cauvin defende uma mudança mental e
religiosa e não económica (Fullola & Lorenzo 2005; Gonzalo 1993). Como se pode
depreender, são várias as hipóteses para retorquir a esta questão fulcral que, mesmo não
sendo recente, continua inteiramente em aberto.

A Perspectiva Paleoecológica
“Si hasta el neolítico la paleovegetácion nos servia de termometro para conocer las oscilaciones
ambientales, a partir de esta fecha será también el barómetro para medir la presión humana en el
território.” Badal & Roiron (1995)

A Península Ibérica situa-se na extremidade da Europa e, à excepção dos estados


alpinos, os países da P.I. assumem-se os mais acidentados embora sejam escassas as
altas montanhas (nenhum cume acima dos 3500m); as planícies apenas se encontram na
periferia e com reduzida extensão. Os conjuntos de planaltos e montanhas pendem para
ocidente, outrossim, sendo esta a direcção dos principais rios (Douro, Tejo, Guadiana,
Guadalquivir). A ocidente são ainda de salientar algumas reentrâncias, nomeadamente
as rias da Galiza, os estuários do Tejo e Sado, e ainda o Guadalquivir. O contraste entre
planaltos e montanhas advém da existência de um velho soco, a Meseta, resultado de
um longa usura e subsequente alteamento em bloco. Assim, enquanto a oriente
sobrepujam os enrugamentos alpídicos (Pirenéus) e a sudeste as Cordilheiras Béticas
que embateram contra a Meseta; a ocidente domina a tectónica de falhas (Drain 1975).
A P.I. é composta por três unidades geomorfológicas principais, (1) o Maciço
Pré-câmbrico e os clastos câmbricos que são grande fracção da Península; (2) as
superfícies calcárias achatadas e abrasadas do Secundário e primórdios do Terciário e
(3) as bacias Ceno-Antropozóicas onde sobrepujam os depósitos sedimentares
(Oosterbeek 1997). Apresenta uma imensa diversidade paisagística que impede
generalizações porquanto a Paleobotânica aponta histórias vegetais que não são
inteiramente concordantes (Mora 2006). Na Europa, na transição Plioceno-Plistoceno
começa a detectar-se o clima típico mediterrânico sendo que, desde o Tardiglaciar (15
000 BP), vai ocorrendo um ponderado aumento de temperatura e humidade aliado ao
retrocesso das calotes glaciares e consequente subida do nível do mar. Estes processos

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culminam no Holoceno, entre os 8000 e os 6000 BP, tendo sobrevindo uma
remodelação do componente biótipo da Europa. Na zona de latitudes médias dá-se, em
fins do Pleistoceno/princípios do Holoceno, extinções e migrações de fauna e flora no
sentido Sul-Norte, de terras baixas para altas, seguindo-se uma dinâmica gradual em que
se geram formações vegetais estépicas, relativamente frias em solos pobres e formações
florestais mais quentes, características do ambiente Holocénico (Badal 2002).
Com o Tardiglacial e o início do Holoceno, Pinus continua a ser o taxón arbóreo
imperante até que, por volta de 6000 BP, é abruptamente comutado por Quercus,
aspecto aliado a uma série de incêndios corroborados por grandes concentrações de
macro e microcarvões, assim como incremento vegetal de “características pós-incêndio”
(Quercus sober, Pinus pinaster, Erica arborea, Ulex, Phillyrea, Cistus salvifolius,
Pteridium, Ruta, Fumaria, Euphorbia, Anagallis arvensis). O fenómeno de declínio dos
pinhais está bem patente na Bacia do Tejo e Sado, associado a uma expansão dos urzais
altos de carácter préclimácico (Mateus & Queiroz 1993). O Holoceno principia-se com
uma propagação arbórea de Betula e Pinus (10 000 a 9500 BP) e Quercus caducifólios
(9500-8600 BP); entre 8600-8000 BP decorre uma importante migração de aveleiras
(Corylus avellana) nas zonas de grande influência oceânica (García 2000). Entre 8500-
6000 BP, manifesta-se a máxima expansão de bosque caducifólio movendo, com o
tempo, os bosques mistos e pinheiros.
A transição para o agro-pastoralismo dá-se na fase climática Atlântica do
Holoceno que, grosso modo, exprime-se num clima temperado e húmido e suas
específicas coberturas vegetais. Análises palinológicas indicam que as oscilações
climáticas não devem ter sido muito marcadas para esta fase (Barandiarán et al. 1998).
Na génese e evolução da paisagem rural dever-se-á ter em conta (1) os factores
demográficos conquanto a extensão da modificação está interligada com a densidade
demográfica, (2) a tecnologia empregue (arado, regadio, fogo), (3) o modo e tempo de
ocupação de dado espaço/área, (4) os factores medioambientais tais como o regime de
precipitações, capacidade de regeneração florestal e equilíbrio ecológico (Badal 2002).
Embora já exista uma quantidade considerável de informações, a história climática
Holocénica nas faixas de ambiente mediterrânico não é clara e a ocorrência de
mudanças biológicas e litológicas em torno a 8500-7500 BP, 6000-5000 BP, 4500-3500
BP ou 6000-4000 BP segundo outros investigadores, 2000 BP e no último milénio é
genuína (García 2000; Pantaleón-Cano et al. 1996).

13
Na zona mediterrânea da Península Ibérica acontece uma notável variação
espacial durante as derradeiras mudanças vegetais dos últimos milénios: decréscimo de
Pinus e incremento de Quercus perenifólios análogo a um crescente de mato verificado
em Puerto de la Morcuera, Guadarrama, Espinosa de Cerrato, Gallocanta e em faixas da
África do Norte. A prevalência de Pinus no Holoceno recente é de mencionar e consta
nas sequências de San Rafael, Antas e Roquetas de Mar (Almería), ou ainda Cendres e
L’Or em Alicante (García 2000). Quanto ao litoral oriental da Andaluzia, com base em
registos das lagoas de Medina e Zarracatín, entre 8600-6300 cal. BP, os sobreiros
dominaram o Baixo Guadalquivir, sem comparência de pinheiros; a partir de 6300 cal.
BP até 2000 cal. BP, dá-se uma retracção do sobreiro e acréscimo de carrascos e
ericáceas (arbustos perenifólios) que podem indicar uma perturbação humana do meio.
No sector de Almería, tendo em conta as sequências de San Rafael, Roquetas de Mar e
Cabo de Gata, entre 7800 cal. BP e os 5000-3800 cal. BP, terá acontecido uma
ocupação por comunidades termomediterrâneas (Olea europaea, Quercus coccifera,
Pistacia lentiscus e Erica tipo arborea) indiciando uma fase de melhor disponibilidade
hídrica que a presente; nas zonas mais interiores, devido à maior humidade, deu-se uma
difusão de bosques de Quercus rotundifolia e Q. faginea (Mora 2006).
No litoral norte alentejano estão documentados os primeiros indícios de acção
humana nos carvalhais marcescentes (6500-6000 BP); por volta de 5400-5000 BP esse
mesmo impacto parece clarificar-se (Mateus & Queiroz 1993).
Na região mediterrânica sobressaem cinco pisos bioclimáticos, configuração
conseguida presumivelmente há uns 8000 anos, no Boreal. Aquando da primeira
ocupação agrária da Europa as mudanças climáticas haviam-se concluído e a região
Mediterrânica já se encontrava biogeograficamente configurada de modo comparável à
actualidade embora com distintas paisagens vegetais (Badal 2002). A nossa área de
estudo abarca grosso modo dois tipos distintos de pisos bioclimáticos, designadamente
o Termomediterrâneo e o Mesomediterrâneo.
As áreas que apresentam um piso bioclimático Termomediterrâneo são
basicamente as faixas costeiras mediterrânicas e parte da zona costeira Sudoeste
portuguesa. Este piso apresenta actualmente temperaturas médias anuais entre os 17ºC e
19ºC e precipitação de tipo seco (350-600 mm de média anual). No que pertence à
primeira ocupação agrária, a flora documentada inclui árvores, arbustos e matas, com
três formações vegetais: (1) bosque esclerófilo mediterrâneo dominado por espécies

14
perenifólias, presidido por Quercus perenifólios e algumas espécies arbustivas (Arbutus,
Erica, Rhamnus, Viburnum tinus); (2) mato termófilo de fisionomia variada, desde
cerrada e alta até baixa e aberta, no Mediterrâneo central e Ocidental predominava Olea
europaea acompanhada de Pistacia lentiscus e Phillyrea; (3) vegetação de ribeira, os
rios nas zonas baixas são esporádicos nas áreas secas e permanentes nas sub-húmidas ou
húmidas logo, têm uma vegetação ribeirinha específica (Badal 2002). Na Cova de Nerja
assistimos a um caso específico no qual a sequência neolítica ostenta poucos Quercus,
com preponderância de matos termófilos de Olea europaea var. sylvestris, devido a ser
uma das áreas mais quentes e secas.
O piso bioclimático mesomediterrâneo, com temperaturas moderadas e
disponibilidade pluviométrica, é propício à agricultura de sequeiro. Na Península Ibérica
a vegetação deste piso é distinta do resto da Europa e este alonga-se pelo litoral catalão,
interior do País Valenciano, Meseta, Andaluzia, Aragão e parte de Portugal. A
vegetação patenteada na Cova de l’Or e em La Faguera tem três grandes formações
vegetais: (1) bosque misto de perenifólios e caducifólios com profusão de Quercus
perenifólios (Quercus tipo rotundifolia, Q. tipo coccifera) seguidos de Quercus
caducifólios (Quercus tipo faginea), Fraxinus, Acer, etc.; (2) mato termófilo que é uma
formação mais exigente em termos de temperatura e está pouco representada nos sítios
mesomediterrâneos de Alicante, ainda assim, na Cova de l’Or está bem documentada a
Olea europaea var. sylvestris; (3) vegetação de ribeira como fresnos, “sauces” e álamos.
Em estado natural, a vegetação mediterrânea destes dois pisos bioclimáticos tem
uma carência de pastos verdes e herbáceas anuais, concludentemente, a cabra é o animal
doméstico melhor adaptado à vegetação mediterrânica pois acostumou-se a comer
vegetação alta. Adjacente a esta escassez de ervas está a prática da “ignicultura” para
potenciar o desenvolvimento de herbáceas de ciclo anual (Badal 2002).

Península Ibérica, Um Problema em Aberto


“ (…) faltam espaços, isso sim, de contradição assumida. É por isso que, não raro, as “novidades
arqueológicas” são divulgadas como certezas incontestáveis, como produtos industriais, e não como
resultados em processo. Falta isso e falta a tranquilidade de errar, de afirmar sem ter a certeza absoluta,
de publicar resultados preliminares e de os submeter ao contraditório.” L. Oosterbeek

Uma das temáticas mais debatida na Península Ibérica, não só a nível teórico
como até epistemológico e tecnológico é, precisamente, a transição para o agro-
pastoralismo. Desde que J. Guilaine e O. Da Veiga Ferreira em 1970 dividiram o

15
Neolítico de Portugal em Neolítico Cardial e Neolítico Epicardial/Neolítico Antigo
Evolucionado correlativo ao “Horizonte da Furninha” (Cardoso 2002; Carvalho 2002;
Diniz 1996a) muito se tem dito acerca deste processo (Arnaud 1993; Cardoso 2002;
Carvalho 2002; Carvalho 2003; Carvalho et al. 2005; Diniz 1996a; Dinis 1996b; Diniz
2007; Jorge 2000; Mata 1996; Oosterbeek 1997; Ramos et al. 1996; Soares 1996;
Soares 1997; Zilhão 1992; Zilhão & Carvalho 1996; Zilhão 1998; Zilhão 2001).
Nas terras peninsulares sucederam-se divergentes situações nesta transição,
assim temos o “Neolítico puro” afigurado em Cova de l’Or, a progressiva “neolitização”
do Epipaleolítico geométrico presente na Cova de la Cocina e ainda os exequíveis
contactos entre o Epipaleolítico microlaminar de Cova de les Mallaetes (Valência) que
poder ter coincidido com os inícios do “neolítico puro” mas sem se ter “neolitizado”.
São vários os sítios com níveis epipaleolíticos cuja cronologia acerca comunidades
inteiramente neolíticas de modo que o seu lento processo transitivo pode dever-se a
estes grupos análogos neolíticos. Conclui-se então que coexistiram comunidades
plenamente neolíticas (neolítico antigo cardial) alheias à tradição industrial
epipaleolítica, como se denota em Cova de l’Or, Cova de Carigüela e nas cavidades de
Montserrat; outras, vão adoptando gradualmente componentes “neolíticos” e
incorporando-os no seu modo de vida de caça-recolecção como é o caso de Cocina
(cerâmica cardial e animais domésticos), Cova do Nacimiento (cerâmica não cardeal e
animais domésticos) ou Botiqueria dels Moros (cerâmica cardeal). Em alguns sítios, o
“modo de vida neolítico” somente chega quando certos grupos estão em pleno neolítico
final – Cova de Arenaza I (Vizcaya) e Husos (Álava) (Barandiarán et al. 1998).
As áreas que serão examinadas no resto do trabalho, exceptuando momentâneas
incursões a outras zonas quando se demonstrar necessário, correspondem às
comunidades autónomas espanholas da Andaluzia, Múrcia e Sul de Valência, e ao
centro e Sul litoral de Portugal. No que toca ao território da actual Andaluzia, a
representação tradicional foi conformada pela existência da “cultura de las cuevas” e da
“cultura Almería”. Recentes descobertas afirmam que o habitat em cova nunca foi
exclusivo (Puche & Castillo 2005), designadamente Dehesillas (Cádiz) e Judío
(Huelva); a cultura Almería (L. Siret) como etapa preliminar à transição para a Idade do
Bronze já não é dilatável a toda a Andaluzia. Os sítios arqueológicos que remontam ao
período em questão são vários: Cova de los Murciélagos de Albuñol e Cova de la Mujer
em Granada, Cova del Tesoro em Málaga ou os vários achados de Gibraltar assimilados

16
à “cultura de las cuevas” (cerâmica de engobe encarnado, pulseiras de mármore com
estrias). Nesta área estaremos em presença de um Neolítico inicial de cerâmicas
impressas cardiais (Carigüela) e um Neolítico posterior (cerâmicas incisas e almagra)
amplamente disseminado que se sobrepõe ao das cerâmicas cardiais quando ambas se
verificam num mesmo sítio; um terceiro horizonte marcará o fim do Neolítico
(cerâmicas sem decoração).
Em conformidade com Las Majolicas, na Cova de Carigüela deparamo-nos com
uma sequência cultural desde o Neolítico Antigo ao Neolítico Final e Idade do Bronze
com cerâmica cardial abundante de grande qualidade (também encontrada em
Malalmuerzo e Carcín em Granada, Cova de las Goteras e La Cala del Moral em
Málaga, Cova de Nerja, Cerro de las Ánimas em Almería e Cova del Parralejo ou Dos
Hermanos em Cádiz) associada a diferentes decorações impressas, incisas, plásticas,
etc., assim como restos carbonizados de cereais e abundantes restos de animais
domésticos. Para a problemática tratada realça-se o interesse da Cova del Nacimiento e
do abrigo de Valdecuevas onde foram recolhidos restos de Ovis aries junto a cerâmica
decorada que testemunham (1) um povoamento epipaleolítco geométrico similar aos
acervos arqueológicos da região de Valência e Aragão e (2) um povoamento neolítico
cujos materiais cerâmicos deparam com similitudes em sítios andaluzes mais
meridionais e valencianos a partir do Neolítico médio (Barandiarán et al. 1998;
Montañana 1980). Estes aspectos asseveram a plena actividade económica produtora
dos primeiros grupos neolíticos da Andaluzia. Singularizam-se as datações que
remontam aos inícios do sétimo milénio a.C. na Cova de Dehesilla (Cádiz), na Cova
Chica de Santiago (Sevilla) e na Cova de Nerja em níveis com raras cerâmicas cardiais
ou outras decorações impressas – “cardialóides”. É de citar que algumas das áreas
concernentes à Andaluzia, mormente Almería, não apresentam solos favoráveis para
práticas agrícolas como é o caso, ao que tudo indica, da Cova de Hoyo de la Mina
(5289-4900 cal. BC) que não expôs qualquer indicativo de agricultura porquanto os
solos eram maioritariamente autóctones, formados de rocha-mãe; seriam solos
avermelhados típicos mediterrânicos fartos em óxido de ferro com baixa relação húmus-
argila, sendo por isso pobres para suportar este tipo de práticas (Navarro et al. 2005).
Quanto à província de Múrcia, a partir do Neolítico irá encontrar-se “adscrita à
Andaluzia” e suas peculiaridades como a cerâmica almagra, mais que ao País
Valenciano e escassez no tipo decorativo de cerâmica cardial (Ayala Juan et al. 1999).

17
Para a região de Gibraltar têm sido produzidos estudos com o intento de
apreender melhor as características das comunidades neste período de transição e, como
no caso da Cova de Gorham (Gibraltar), denota-se uma imensa vinculação aos recursos
marinhos com uma comparência rara de lâminas com retoques contínuos relacionadas
com tarefas agrícolas, prática que se advinha bastante subsidiária como meio produtivo
(similaridades com Borondo em Cádiz). Em concordância, é praticável afirmar que as
comunidades neolíticas de Gibraltar seriam caçadores-recolectores-pescadores sem
grande preeminência de domesticação animal ou inclusivamente agricultura (Finlayson
et al. 1999).
Expedindo a observação para o quadro português, os sítios mais velhos para este
período são do sexto milénio BC, estão junto à costa sudoeste – Vale Pincel I (Sines),
Samouqueira I, Vidigal, Medo Tojeiro e Padrão I – e apresentam cerâmica decorada
com uma minoria de ornamentação cardial e micrólitos de tradição mesolítica. Estes
sítios são um pouco mais antigos que os do Vale do Sado e da Estremadura – Cabeço do
Pez, Caldeirão (Na2), Correio-Mor, Pena d’Água – que oferecem cerâmica cardial. Na
Estremadura patenteia-se um predomínio de cerâmica com decoração incisa e
estampada; a cerâmica cardial aparece mas em minoria. Confrontando a existência de
cerâmica com impressão de cardium edule e as datações radiométricas disponíveis,
espontaneamente conclui-se que apenas uma diminuta percentagem dos sítios mais
antigos apresentam este tipo de cerâmica. Estaremos então diante de uma fase inicial na
qual a cerâmica com decoração cardial pode ou não predominar junto à costa atlântica
portuguesa? É certo que ulteriormente se assiste a uma coexistência de vários tipos
cerâmicos que não se valem da decoração cardial (Jorge 2000).
Os dados para a introdução do “sistema neolítico”, da contemporaneidade de
distintas culturas, assim como da “dominação” dos sistemas produtores, entram em
atrito (Carvalho et al. 2005; Diniz 1996a; Diniz 2007) com modelos que aclaram a
neolitização do território português através de uma difusão démica – colónias/enclaves
– (Zilhão 1992; Zilhão 1996; Zilhão 1998; Zilhão 2001) ou difusão cultural – “osmose
cultural”/processos percolativos (Jorge 2000; Soares 1996; Soares 1997). Ao tratar desta
temática não podemos desprezar as condicionantes naturais e ecológicas de cada região
pois interagem nas decisões tomadas pelas diferentes comunidades (Cardoso 2002); a
tecnologia disponível através da qual se auferem os bens necessários à subsistência
entra conjuntamente na equação e também tem uma certa subordinação às

18
características naturais (ex: a existência ou não de sílex pode implicar trocas comerciais
e/ou viagens para aprovisionamento, etc.). Ainda assim, mesmo condicionando o “livre
arbítrio” dos membros de cada grupo, não determinam forçosamente as decisões
(Oosterbeek 1997).
Os níveis superiores dos concheiros do Tejo demonstram influências com
“inovações neolíticas” como a cerâmica em convivência (nos sítios domésticos) com
indústria de pedra relativamente arcaica de tradição mesolítica (“triângulos de Muge”)
(Carvalho 2002) o que é denunciativo de uma certa flexibilidade por parte destas
comunidades no modo como percepcionam e interagem com o território. Conjunturas
idênticas existem no Vale do Sado: Cabeço das Amoreiras (S. Romão do Sado) e
Cabeço do Pez embora sejam necessárias algumas reservas a lidar com esta informação
(Cardoso 2002; Soares 1996). Uma vez mais somos remetidos para o problema já
abordado acerca da porção de formas culturais que, erradamente, são qualificadas
cabalmente de “Neolíticas”.
A meio do sexto milénio BC, no litoral do Alentejo e Algarve, foram
descobertos grandes acampamentos-base como Vale Pincel I (Sines), e campos
temporários especializados como Medo Tojeiro, onde estão presentes novas tecnologias
como a pedra polida ou a cerâmica aliadas a indústrias microlíticas e macrolíticas
mesolíticas; os próprios concheiros do Sado também apresentam algumas inovações
tecnológicas (Jorge 2000). Em Cabranosa (Sagres) (5611-5393 cal. BC após correcção
do efeito de reservatório) e Padrão I (Sagres) (6440±60 BP, ICEN-645 e 6570±70 BP,
ICEN-873) aparecem animais domésticos (Bos taurus, Ovis aries e Capra hircus) mas
não subsistem evidências directas de agricultura (Carvalho 2002; Carvalho & Cardoso
2003; Jorge 2000; Soares 1996). Ainda em Cabranosa, foram recolhidas lâminas e
lamelas com retoque de afilamento que podem ter sido “elementos de foice” ou servido
para outros usos; realçam-se ainda três artefactos de pedra polida (sachos) de pequenas
dimensões (Carvalho & Cardoso 2003). Com toda a informação supradita, facilmente se
apreende a ideia de que ocorreu uma continuidade neste processo transitivo, não só no
que considera à localização geográfica, como às estratégias de exploração intensiva de
maneira que, às estratégias de busca de alimentos tradicionais (marinhos), se
acumularam novas estratégias como a pastorícia e muito provavelmente a agricultura,
mesmo que de modo subsidiário (Jorge 2000).

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Citando Cardoso (2002) “É o padrão de ocupação definido no final do
Mesolítico que se vai afirmar plenamente entre as primeiras sociedades camponesas,
do Neolítico Antigo, cuja organização social e características de povoamento
evidenciam nítida continuidade com as suas imediatas predecessoras mesolíticas”. Para
certos investigadores, as mudanças que sucederam entre o sexto e o quinto milénio BC
comportam uma descontinuidade cultural (Arnaud 1993; Carvalho 2003; Zilhão 1992;
Zilhão 1998; Zilhão 2001) adjacente à chegada à costa atlântica, como antes à
mediterrânica, de comunidades de pastores-agricultores do Mediterrâneo, detentores de
inovações tecnológicas e económicas. A cerâmica não cardial simetrizaria uma fase
mais tardia do progresso do sistema produtivo. Posteriormente, ter-se-ia colonizado o
interior ou aculturado, dando-se muito presumivelmente a coexistência de populações
mesolíticas e neolíticas durante sensivelmente 500 anos (Cardoso 2002; Jorge 2000;
Diniz 1996a). Estudos tecnológicos e tipológicos de indústria de pedra lascada
atestaram as divergências entre as comunidades do Neolítico Antigo no M.C.E. (Maciço
Calcário Estremenho) e os grupos de concheiros (Cardoso 2002; Carvalho 1998).
De qualquer das formas não existem, até à actualidade, (1) quaisquer sítios na
costa portuguesa que indiciem o advento de indivíduos carregando um meio de vida
produtivo, (2) não há sinais de descontinuidade populacional a nível de características
físicas (3) nem nenhuma evidência de desertificação da Estremadura no pós-
Magdalenense (Diniz 2007; Jorge 2000). Os dados arqueológicos não corroboram uma
descontinuidade cultural e não está documentada a presença de agricultura, adimos que,
muito provavelmente, devido a uma distorção da amostragem pois, segundo Gonçalves
(2000/2001), não pode ser devido à acidez dos solos. As evidências de animais
domesticados assumem-se escassas, são poucas as reminiscências de acampamentos
fixos e não há sinais do “pacote neolítico”, suporte do modelo colonial (Jorge 2000).
A. F. Carvalho defende uma descontinuidade de povoamento na transição do
Mesolítico para o Neolítico assegurando que, mesmo que exista uma boa representação
do Epipaleolítico no interior da Estremadura, os sítios mesolíticos são raros e relativos
ao princípio do Mesolítico. Para esta região não existem confirmações directas de
agricultura concernente ao Neolítico antigo regional e os restos faunísticos cingem-se ao
sítio de Pena d’Água – Ovis aries, Capra hircus, Bos taurus – e Gruta do Caldeirão. Em
ambas aparecem espécies domesticadas o que, segundo o investigador, representa uma
ruptura com o Mesolítico. Em Pena d’Água foram ainda recolhidos “elementos de

20
foice” nas camadas Ea, Eb-topo e Eb-base (respectivamente 6, 8, 7) e alguns utensílios
domésticos, nomeadamente lascas, lâminas e lamelas com retoques marginais, entalhes
ou denticulados; furadores e brocas; raspadores e raspadeiras (respectivamente 18, 29,
18) (Carvalho 2002; Carvalho 2003; Rowley-Conwy 1985).
Arnaud aduziu dois modelos alternativos para a região do Sado e da costa
alentejana sendo que, um dos modelos defendia a teoria do difusionismo colonial e o
outro a de que as populações mesolíticas adoptaram as inovações através de um longo
processo. As comunidades que adoptaram a cultura material “neolítica”, total ou
parcialmente, conservaram parte das características das comunidades agro-pastoris, pelo
menos no Sul de Portugal, veja-se o concheiro de Medo Tojeiro (Arnaud 1993). C. T.
Silva e J. Soares (Soares 1996; Soares 1997) tentaram comprovar, para o Sul do
território português, que as modificações na costa não deviam ser percepcionadas como
uma ruptura cultural mas como um processo continuamente em evolução – “osmose” –
ocorrendo entre grupos de territórios não muito apartados, sem movimentos
populacionais, uma permuta de informações dependente da selectividade dos núcleos
populacionais envolvidos.
A ocupação neolítica de carácter atlântico e ulterior propagação para o interior,
contemporânea dos primórdios do megalitismo funerário, quando observada face às
novas informações, deve ser posta de lado. Veja-se os dados de Buraco da Pala
(Mirandela), especificamente, o espólio lítico e cerâmico datado de finais do
VI/primeira metade do V milénio cal BC, juntamente com os indicadores directos de
práticas agrícolas. Isto será uma manifestação de sintonia entre a Neolitização litoral e
interior do território (Diniz 1996b).
No que pertence à “Neolitização” da região centro-litoral de Portugal, Zilhão
admite (1) uma marginalização ou abandono dos territórios devido à densificação
florestal no período climático Atlântico, em detrimento das margens estuarinas criadas
na transgressão flandriana, ao mesmo período, Soares (1996) remete um
desenvolvimento das comunidades de caçadores-recolectores (proto-produção
precursora do Neolítico) com padrão de subsistência de largo espectro e técnicas de
armazenamento; (2) grupos provindos do Mediterrâneo espanhol portadores do “pacote
neolítico” inserem a economia produtiva fundamentada na domesticação do trigo e da
ovelha; (3) as comunidades mesolíticas do estuário do Tejo persistem algum tempo mas

21
acabam por ser absorvidas quando estas já manifestavam cerâmica epicardial (Zilhão
1992; Zilhão 1998) (Fig.1).

Fig.1 – A) Distribuição geográfica e cultural dos sítios arqueológicos do centro-sul de Portugal por volta de 6000-5750 cal. BC,
segundo Zilhão (1998). 1. Forno da Cal; 2. Buraca Grande; 3. Forno da Telha; 4. Bocas; 5. Cabeço da Arruda; 6. Moita do
Sebastião; 7. Arapouco; 8. Vale de Romeiras; 9. Samouqueira I; 10. Fiais; 11. Montes de Baixo. B) por volta de 5500-5250 cal. BC.
1. Várzea do Lírio e Junqueira; 2. Eira Pedrinha; 3. Buraca Grande; 4. Caldeirão; 5. Pena d’Água; 6. Almonda; 7. Cabeço da
Arruda; 8. Cabeço do Rebolador; 9. Várzea da Mó; 10. Cabeço do Pez; 11. Poças de São Bento; 12. Vale Pincel I; 13. Samouqueira
I; 14. Vidigal; 15. Medo Tojeiro; 16. Fiais; 17. Cabranosa; 18. Padrão. C) Por volta de 5000-4750 cal. BC. 1. Várzea do Lírio e
Junqueira; 2. Forno da Cal; 3. Eira Pedrinha; 4. Buraca Grande; 5. Nossa Senhora das Lapas; 6. Caldeirão; 7. Pena d’Água; 8.
Picoto; 9. Almonda; 10. Laranjal de Cabeço das Pias e Forno do Terreirinho; 11. Cabeço de Porto Marinho e Bocas; 12. Furninha;
13. Casa da Moura; 14. Lapa do Suão e Gruta das Pulgas; 15. Moita do Sebastião; 16. Cova da Moura; 17. Pedreira de Salemas; 18.
Correio-Mor; 19. São Pedro de Canaferrim; 20. Escoural; 21. Lapa do Fumo; 22. Amoreira; 23. Cabeço do Pez; 24. Vale Pincel I;
25. Samouqueira II; 26. Vale Vistoso; 27. Caramujeira. (retirado de Zilhão 1998).

Dados cronológicos põem em causa o suposto vazio regional que Zilhão (1998;
2001) sugere aquando da pretensa chegada de “colonos” neolíticos: a cronologia
absoluta parece afiançar uma continuidade de povoamento humano pelo menos desde o
final do Epipaleolítico pois as datações de níveis mesolíticos de Rocha das Gaivotas e
Armação Nova antecedem imediatamente as dos contextos com fauna doméstica de
Cabranosa e Padrão (Carvalho et al. 2005). Para o centro e Norte de Portugal, S. Jorge
(2000) acredita numa neolitização resultante de um processo de transmissão de ideias e
artefactos vindo de outras zonas – Sul de Portugal, Estremadura, meseta espanhola ou
portuguesa. Para o Algarve, surgiu a hipótese de que não terá acontecido uma
exploração conjunta de espécies malacológicas e domésticas no Neolítico antigo; ter-se-
á dado a introdução de uma economia produtiva (~VI milénio cal. BC), verificada em
Cabranosa e Padrão; e um posterior retorno às condições económicas mesolíticas (finais
do VI milénio cal. BC) demonstrada em Ribeira da Alcantarilha e Vale Santo (Bicho et
al. 2000; Bicho et al. 2003; Carvalho et al. 2005).

22
No nosso parecer, subscrevendo Diniz, a transição para o agro-pastoralismo no
actual território português é uma questão mais complexa e, muito dificilmente, pode ser
explicada por “macro-modelos” como os apresentados (Diniz 2007). Assim, este
processo que se terá iniciado no sexto milénio BC e apenas culminado no segundo
milénio BC (Jorge 2000) – “ (…) processo demorado de mais de dois mil anos, no
actual território português (…) atinge a sua fase de plena consolidação, na segunda
metade do IV milénio cal BC.” (Soares 1996) – deve ser analisado como sendo bastante
mais complexo não sendo de descartar a co-participação não só de “colonos”, como de
comunidades “indígenas” que, com o tempo, se foram desenvolvendo e entrando na
transição para a economia produtiva. As influências de comunidades já agro-pastoris
não pode nem deve ser também afastada. Relembramos que, pelo menos no caso do
Próximo Oriente, a cerâmica não foi a primeira inovação a surgir; esta não é, na nossa
opinião, condição sine qua non para se puder falar em neolitização.
Voltando ao panorama ibérico, para vários investigadores parece atestada a
ocorrência de movimentos démicos não só externos ao território como internos
(difusionismo). Em detrimento, no Extremo Ocidente a situação alarga-se bastante a
nível teórico: entra em contraponto o esquema de uma primeira fase de coexistência de
comunidades Mesolíticas e Neolíticas no qual as segundas aglutinam as primeiras com
o tempo (Epicardial), com os modelos indigenistas onde se patenteia a diversidade
cultural de cada comunidade de caçadores-recolectores. Se o primeiro modelo pode ser
retirado da equação, o segundo apresenta-se mais anuente mas, ainda assim, não é
totalmente satisfatório, conquanto no registo arqueológico denota-se uma súbita
comparência de elementos alóctones e são raras as evidências de neolitização in situ
(Diniz 2007). Não se pode deixar de mencionar que em comunidades mesolíticas se
assistia a um controlo ou pré-domesticação de animais, veja-se o caso da Cova Fosca.
Será que ocorreu uma primeira etapa de neolitização no ocidente europeu levada a cabo
por comunidades mesolíticas? Segundo alguns autores é bastante provável (Olària &
Gusi 1996).
Do nosso ponto de vista, de momento o esquema mais ajustado será o
apresentado por M. Diniz (2007) que aponta para o Extremo Ocidente da Península
Ibérica como tendo sofrido um fenómeno de Fusão Preferencial “ (…) onde após a
entrada de elementos exógenos os diferentes sistemas partilham, em graus variáveis,
traços de cultura e funcionam como entidades permeáveis.” Ao longo de todo o

23
percurso tratado neste ensaio ficou esclarecido que a própria terra foi “domesticada”,
tendo-se inclusive assistido à emergência de comunidades hierárquicas. Embora não se
possa afirmar categoricamente que este processo originou, à partida, uma
complexificação, está clarificado que a domesticação da terra abarcou um processo
bastante complexo de territorialização extensível ao longo de milénios e que muito
dificilmente pode ou deve ser dividido em diferentes períodos. É um processo
culturalmente contínuo.

A Cultura Material
Para terminar este ensaio, resta-nos referir a cultura material deste período
transitivo, originária de uma evolução tecnológica de comunidades que careceram de
respostas para novas necessidades (actividades produtivas). Terá ocorrido uma profunda
transfiguração de alguns elementos já existentes nas comunidades de caçadores-
recolectores, alterando a sua quantidade, função ou morfologia; assim como surgido
algumas “novidades” conforme a cerâmica e o polimento.
Um tipo de utensilagem que se afirma de grande importância é mormente a
cerâmica – receptáculo de argila cozida – paralelamente à generalização da argila como
matéria-prima e a técnica de cozedura (algumas culturas asiáticas e africanas de
caçadores-recolectores já empregavam esta técnica). Ainda que a modelação do barro já
coincidisse com o Paleolítico superior, a técnica de servir-se da argila e cozê-la com o
efectivo intento de obter um recipiente cerâmico corresponde ao Neolítico (Barandiarán
et al. 1998). Esta expansão dever-se-á verosimilmente à necessidade de guardar
excedentes (sementes de cereais) como recurso em caso de carência e para a sementeira,
posteriormente outras utilidades entrarão na equação (Fullola & Lorenzo 2005).
É de relevar que devido à sua inerente fragilidade, a cerâmica apenas encontrará
o seu máximo desempenho aquando da existência de um sedentarismo, mesmo que
mínimo; esta adoptará para os investigadores uma posição comparável à anteriormente
preenchida pela indústria lítica para caracterizar cronoculturas. As temperaturas
atingidas na cozedura da cerâmica rondariam os 500ºC ou 600ºC e os “fornos
cerâmicos” seriam fossas pouco profundas escavadas no solo. Estudos executados na
Cova de l’Or demonstram uma evolução da tecnologia cerâmica, paralela ao
desenvolvimento da tipologia, decoração e, naturalmente, da própria função dos
recipientes (Barandiarán et al. 1998).

24
A técnica de polimento da superfície de materiais era já explorada desde o
Paleolítico superior na indústria óssea, de qualquer das maneiras a pedra nunca havia
sido objecto desta técnica transformativa. O polimento será praticado nos “novos
instrumentos” – não nos já existentes de épocas anteriores como os raspadores,
raspadeiras, pontas de flecha, etc. – depois de uma fase prévia da “chaine operatoire”
na qual se recorre ao talhe dos utensílios.
Os instrumentos polidos estão inerentemente interligados com as actividades da
economia de produção, realçando-se as enxós e os machados de pedra polida que
persistirão desde o início do Neolítico até à sua permuta pelos utensílios metálicos.
Pressupõem-se que o advento deste tipo de utensílios esteja relacionado com os novos
sistemas agrícolas de corte de mato e ignicultura (“talhe e queima”) para obtenção de
áreas de cultivo mais férteis (Fullola & Lorenzo 2005). Valendo-se de experimentações,
ficou comprovada a eficácia deste tipo de utensílios para abater árvores sem que estes
comportassem grande desgaste (Valcarce 1992). As fases de produção de um utensílio
polido são o desbaste do bloco de pedra, seguido de talhe, subsequente picoteamento e,
finalmente, o polimento propriamente dito (Barandiarán et al. 1998; Rodríguez 1997)
primeiro através do desgaste – “esmerilação” – e ulteriormente com recurso a uma
substância muito fina (ex: argila com minerais aplásticos) (Bicho 2006).
Outro tipo de utensílios que não são exactamente novidades mas que assistem a
uma certa recategorização e se assumem fulcrais para as novas actividades produtivas
merecem igualmente ser referidos. Assim, é de destacar a cestaria que seria importante
para o armazenamento da produção agrária sendo que, o fácil transporte, leveza, maior
resistência e superior durabilidade quando comparada com a cerâmica, a beneficiaria.
Infelizmente, existem poucas evidências arqueológicas deste tipo de utensílios (Fullola
& Lorenzo 2005), quiçá salientar os achados da Cova de los Murciélagos de Albuñol
(Granada) com datações C14 entre 5057-4934 cal. BC (Barandiarán et al. 1998; Urquijo
et al. 2000).
De salientar ainda as “folhas de sílex” neolíticas – este período caracteriza-se
por servir-se, quase exclusivamente, do sílex como matéria-prima de transformação –
que são uma demonstração do aperfeiçoamento da técnica de talhe laminar e serão
fulcrais como elementos de instrumentos compostos (como por exemplo “elementos de
foices”) bastante importantes para a apanha de cereais, assim como a curtição de peles e
o trabalho de madeira ou osso, processamento de carne, etc. (Barandiarán et al. 1998).

25
Porquanto raramente se preservam com o seu cabo de madeira, provavelmente
arredondado, sabe-se do seu uso nestas actividades devido ao “brilho de cereal”: o calor
resultante do trabalho/fricção funde os materiais da margem activa e os contidos nas
estruturas vegetais, ao solidificar-se é formado o “brilho de cereal” (Fullola & Lorenzo
2005; Saez 1991). Em El Cerro de las Viñas (Múrcia), a utensilagem não retocada,
designadamente 99 (total de 210) restos de lâminas e lamelas, ainda que não apresentem
o “brilho de cereal”, seriam provavelmente para a preparação de “elementos de foice”
(Jiménez Lorente, Ayala Juan & Navarro Hervás 1999).
Os “moinhos de mão”, bastante usados para transformar os cereais em farinha
(Fullola & Lorenzo 2005) e outro tipo de trabalhos de processamento de animais
(carnes, peixes, gorduras, ossos) ou minerais (sal, argilas) (Bicho 2006; Juan-Tresserras,
Echave & Albert 1996) outrossim são de mencionar, juntamente com os utensílios de
osso trabalhado, já usuais no Paleolítico superior mas que agora usam ossos de animais
domésticos para executar desde colheres, a punções e elementos de adorno (anéis,
discos, placas, contas de colar, dentes perfurados). É de focar a díspar presença da
indústria óssea na Península Ibérica assim, enquanto em sítios como a Cova de l’Or e a
Cova de Sarsa são abundantes, no resto dos sítios apresenta-se rara (Barandiarán et al.
1998).

Discussão e Perspectivas Futuras


‘Podemos decidir quais os objectos e quais as situações que podem ou não fazer parte do nosso
ambiente, quais os objectos e quais as situações nos quais queremos investir tempo e atenção.’
António Damásio (2003)

Finalmente damos por acabado este ensaio que, mesmo não tendo acrescentado
algo de realmente novo à problemática da transição para o agro-pastoralismo na
Península Ibérica, enalteceu a questão a partir do instante que se apresenta uma sinopse
bastante abrangente, aspecto do qual, na nossa opinião, a Arqueologia portuguesa
carecia. Mesmo não tendo elaborado nenhuma “nova” teoria abordamos a questão de
um modo científico e adequado. Com base nos dados existentes concluímos que, antes
de mais, deve ser revista a questão do paradigma cardial, pelo menos para o Extremo
Ocidente da Península Ibérica. Para o território português está-se longe de chegar a um
beneplácito, ainda assim, ao que tudo indica não terá acontecido uma descontinuidade
entre o Mesolítico e o Neolítico. Os dados asseveram um processo de neolitização

26
bastante mais complicado do que o pretenso, não sendo de descurar uma certa
contemporaneidade para o litoral e interior ou, uma crescente importância das
comunidades mesolíticas nesta transição.
Apenas prospecções direccionadas e indagações adicionais poderão lançar
alguma luz sobre esta questão.
Sendo as evidências de domesticação um dos problemas capitais a abordar neste
ensaio, ainda que não tenhamos reservado um capítulo em especial para esta temática,
ao longo desta recensão fomos disponibilizando as mais diversas informações acerca
deste tema. Não raramente, nos deparamos com vários problemas, os quais são uma
falha da actual Arqueologia portuguesa, designadamente o facto de que, comummente,
diferentes investigadores se referem à comparência desta ou daquela espécie
domesticada sem mais sobre o assunto dizer. Obviamente, este aspecto limitou bastante
a nossa pesquisa. No que toca à presença de agricultura em tempos recuados, as
evidências são raras e indirectas: isto, na nossa opinião, dever-se-á a uma falha na
amostragem e, para a colmatar, novas investigações devem ser realizadas.
É então necessário um esforço de síntese, mormente na análise dos dados já
existentes, de modo a se lançar uma visão mais precisa sobre velhos paradigmas como o
da cerâmica cardial; aliando a realização de novas prospecções e estudos para as áreas
com vazio de informação atribuindo, outrossim, um maior valor às evidências de
domesticação recorrendo a estudos zooarqueológicos, paleobotânicos e polínicos.

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