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Órgão : 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais


Classe : ACJ – Apelação Cível no Juizado Especial
N. Processo : 2008.05.1.008979-6
Apelante(s) : RAIMUNDO RODRIGUES BITENCOURT NETO
Apelado(s) : SÍLVIO MÁRIO CÂNDIDO DE JESUS E OUTROS
Relator(a) Juiz(a) : JOSÉ GUILHERME

EMENTA
PROCESSO CIVIL. JUÍZO ARBITRAL. AÇÃO DE
COBRANÇA C/C REPARAÇÃO DE DANOS. SENTENÇA
QUE EXTINGUE O PROCESSO, SEM JULGAMENTO DE
MÉRITO, SOB A ALEGADA ILEGITIMIDADE ATIVA DO
AUTOR. RECORRENTE QUE DEMONSTRA SUA
CONDIÇÃO DE CONCILIADOR ARBITRAL TEM
LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR AÇÃO, NA ESFERA
JUDICIÁRIA, PARA REQUERER SEUS HONORÁRIOS
ARBITRAIS. ARTIGO 11 DA LEI N°9.307/96. RECURSO
PROVIDO. SENTENÇA CASSADA. RETORNO DOS AUTOS
AO JUÍZO DE ORIGEM PARA PROSSEGUIMENTO DO
FEITO. 1. A arbitragem é um instituto legal disciplinado pela Lei
n° 9.307/96, que possui aptidão para dirimir litígios atinentes a
direitos patrimoniais disponíveis. Nesse descortino, os
interessados podem submeter a solução da controvérsia a um
juízo arbitral, mediante contrato que contenha a cláusula
compromissória e o compromisso arbitral. 2. Conforme dispõe o
inciso VI do artigo 11 da Lei de Arbitragem, o compromisso
arbitral poderá conter a fixação dos honorários do árbitro. Nesta
linha, o parágrafo único do artigo em comento determina que a
fixação dos honorários arbitrais pelas partes no compromisso
arbitral constitui título executivo extrajudicial. Caso não haja a
referida estipulação, faculta-se ao árbitro o requerimento desta
fixação, perante o Poder Judiciário. 3. Diante do exposto, conclui-
se que o recorrente, por ter atuado como árbitro na solução do
litígio dos requeridos em Tribunal de Arbitragem, tem
legitimidade ativa para ajuizar demanda no Judiciário, com a
finalidade de haver os honorários a ele prometidos, ainda que
verbalmente, como no caso em comento. 4. Se o juízo de origem
(JEC) não concedeu ao exeqüente a ocasião de cobrar seu crédito,
por entender que o direito em litígio pertence ao Tribunal de
Mediação, Conciliação e Justiça Arbitral do Brasil, de rigor a
cassação da sentença prolatada, porquanto a fixação de honorários
arbitrais é devida para a remuneração do árbitro, frente aos
serviços por ele prestados às partes. Dessa maneira, se o
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recorrente afirma sua atuação, em juízo arbitral formado entre os


recorridos, bem como junta aos autos Termo de Acordo apto a
corroborar suas alegações, imperioso o afastamento de sua
ilegitimidade ativa, proclamada pelo julgador de primeiro grau. 5.
Recurso Conhecido. Provido. Sentença cassada. Retorno do
processo ao juízo de origem.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Juízes da 2ª Turma


Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, JOSÉ GUILHERME – Relator,
EDI MARIA COUTINHO BIZZI – Vogal, EDMAR RAMIRO CORREIA –
Vogal, sob a presidência do Juiz JOSÉ GUILHERME, em CONHECER E
DAR PROVIMENTO AO RECURSO, SENTENÇA CASSADA, POR
UNANIMIDADE, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 15 de dezembro de 2009.

Juiz JOSÉ GUILHERME


Presidente e Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se, na espécie vertente, de Apelação interposta


em sede de Ação Originária, tramitada no Primeiro Juizado Especial Cível da
Circunscrição Judiciária de Planaltina, sob o número retro epigrafado, tendo como objeto
a cassação da sentença de f. 34, que extinguiu o feito sem julgamento de mérito, por
entender que o recorrente não possui legitimidade ativa para requerer em juízo o direito
pleiteado na exordial.

Inconformada, o autor interpõe Recurso Inominado às f.


46-9, pretendendo a cassação da sentença proferida, por alegar que sua legitimidade ad
causam é garantida pela própria Lei de Arbitragem.

Contrarrazões às f. 58-66.

Concessão dos benefícios da gratuidade da justiça à f.


50.

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Juiz JOSÉ GUILHERME – Presidente e Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço


do recurso.

Da análise dos autos, tenho que o recurso merece


guarida.

O autor ingressou com a ação originária para requerer o


pagamento dos honorários arbitrais, decorrentes de sua atuação, em Tribunal de
Arbitragem e Mediação, onde solucionou o litígio apresentado pelos recorridos.

Ao sentenciar, o juiz entendeu por bem extinguir o


processo sem julgamento de mérito, alegando que o direito exposto na petição inicial
pertence ao Tribunal de Mediação, Conciliação e Justiça Arbitral do Brasil.

A legitimidade ativa – uma das condições da ação –


refere-se à plausibilidade da afirmação atinente à titularidade do direito litigioso e da
capacidade de agir comprovada na inicial.
Ora, a fixação dos honorários arbitrais é realizada para
fins de remuneração do árbitro, que prestou serviços às partes. Logo, se o recorrente
afirma que atuou como juízo arbitral em litígio formado entre os recorridos, no Tribunal
de Mediação, Conciliação e Justiça Arbitral do Brasil, bem como junta aos autos Termo
de Acordo apto a corroborar suas alegações (f. 06), entendo que a alegação de
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ilegitimidade ativa do juízo de primeiro grau deve ser afastada.

Ressalto que os honorários arbitrais não revertem a


favor do Tribunal de Mediação, como entendeu o julgador originário (f. 34), mas, sim,
são estipulados em favor do árbitro da causa litigiosa, tanto que o parágrafo único do
artigo 11 da Lei n° 6.307/96 faculta ao juiz arbitral a possibilidade de ajuizar demanda
no Judiciário, para que este fixe os honorários que lhe são devidos, quando as partes
não o fizerem, no compromisso arbitral. Na mesma linha, pode o árbitro promover ação
de execução contra aquele a quem competia realizar o pagamento da quantia em
questão, caso as partes tivessem estipulassem o valor dos honorários no termo de
compromisso.

A propósito, transcrevo o artigo 11 da Lei de


Arbitragem:

“Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:


I - local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem;
II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por
eqüidade, se assim for convencionado pelas partes;
III - o prazo para apresentação da sentença arbitral;
IV - a indicação da lei nacional ou das regras corporativas
aplicáveis à arbitragem, quando assim convencionarem as partes;
V - a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos
honorários e das despesas com a arbitragem; e
VI - a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros.
Parágrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro,
ou dos árbitros, no compromisso arbitral, este constituirá
título executivo extrajudicial; não havendo tal estipulação, o
árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria
competente para julgar, originariamente, a causa que os fixe
por sentença” (NÃO GRIFADO NO ORIGINAL).

Nesse diapasão, se o juiz arbitral possui legitimidade


para promover ação de execução, fundamentada em compromisso arbitral equivalente
a título executivo extrajudicial, bem como pleitear, no Judiciário, a fixação dos
honorários arbitrais, consequentemente é parte legítima para ajuizar ação de cobrança,
para requerer os honorários que não lhe foram pagos pela parte devedora.

Diante do exposto, CONHEÇO do recurso inominado e


DOU-LHE PROVIMENTO, para cassar a sentença de f. 34 e, consequentemente,
determinar o retorno dos autos ao juízo de origem, para prosseguimento do feito.

É como voto.

A Senhora Juíza EDI MARIA COUTINHO BIZZI – Vogal


Com o Relator.

O Senhor Juiz EDMAR RAMIRO CORREIA – Vogal

Com a Turma.

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DECISÃO

Conhecido. Dado provimento. Sentença cassada.


Unânime.

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