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Análise do artigo “Estimativas de especialistas da parcela do apoio agrícola que compensa os

agricultores europeus pelo fornecimento de bens e serviços públicos”


Introdução

O objetivo do artigo é estimar a percentagem de pagamento de serviços (PPS) entre o suporte


agrícola na Europa em 2012, com base na pesquisa de especialistas em políticas agroambientais na
UE, Noruega e Suíça.

A União Europeia aloca uma parte substancial do seu orçamento à PAC (Política Agrícola
Comum). No entanto, o apoio público está agora cada vez mais condicionado à provisão de bens e
serviços ambientais e outros bens e serviços públicos. No caso dos pagamentos diretos, os objetivos
ambientais são atingidos indiretamente através dos requisitos da “cross-compliance” (agricultores são
incentivados a cumprir os altos padrões da UE de saúde e bem-estar público, vegetal e animal,
contribuindo para tornar a agricultura europeia mais sustentável), enquanto o plano de
desenvolvimento rural (PDR) apoia objetivos agroambientais específicos e outros objetivos de
desenvolvimento rural. Os serviços dos esquemas agroambientais (AES) são difíceis de medir e,
apesar de existirem algumas avaliações bastante abrangentes das medidas agroambientais (AEM) a
nível nacional ou regional, as informações disponíveis a nível europeu são limitadas.

Antecedentes do apoio agrícola na Europa no período 2007 - 2013

Na União Europeia, o apoio agrícola ao abrigo da PAC consiste em dois pilares". No período
de 2007 a 2013, o pilar I incluiu pagamentos diretos não associados (com base na área) e associados
(relacionados à produção) aos agricultores com o objetivo principal de apoiar o rendimento agrícola
sendo que estes podem ter apoiado indiretamente bens públicos. O pilar II inclui o PDR que foi
financiado através do FEADER sendo que os estados membros pagaram cerca de 50% dos custos dos
seus orçamentos nacionais. Esse apoio foi direcionado diretamente a bens públicos específicos,
incluindo objetivos ambientais.

Com um orçamento de 37 biliões de euros para o período de 2007 a 2013, apenas a AES
representou cerca de 24% do orçamento do PDR. O apoio agrícola norueguês em 2007-2013 incluiu
vários tipos de pagamentos diretos, com o objetivo principal de suportar o rendimento agrícola. Na
UE, esses pagamentos diretos estavam condicionados à “cross-compliance” e podem ter
indiretamente apoiado o fornecimento de bens públicos. Na Suíça, durante o mesmo período, o apoio
ao rendimento foi fornecido por meio de "pagamentos diretos gerais". Esse suporte também foi
condicionado pela “cross-compliance”.

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Métodos

Percentagem de Pagamento por Serviços (PPS)

Neste estudo, examinamos o desempenho do apoio agrícola a nível europeu em termos de um


indicador, a percentagem de "pagamento por serviços" (PPS), definido como a parcela de apoio
agrícola que compensa efetivamente os agricultores por fornecerem bens e serviços públicos.

O desempenho do apoio agrícola é então examinado através da distinção entre unidades de


financiamento que compensam ou não os agricultores pelos custos adicionais devido às práticas ou
projetos apoiados. Presume-se que as práticas suportadas fornecem bens e serviços públicos
(abreviação: “serviços”). Esses serviços incluem bens públicos "puros" (não exclusivos e não rivais)
mas também outros serviços públicos, como acesso à terra dos quais os indivíduos podem ser
excluídos. Para unidades de financiamento que compensam os agricultores pelos custos de práticas
específicas, usamos o termo "pagamento por serviços" (PS). Para unidades de financiamento que
excedem esses custos, usamos os "pagamentos de transferência". A diferença entre o pagamento total
e o pagamento por serviços (PS) constitui um pagamento de transferência que é igual ao excedente
do consumidor. A “percentagem de pagamento por serviços” (PPS) é a soma dos pagamentos por
serviços e pagamentos por transferência.

Contribuições para os serviços dos ecossistemas

Além de examinar o PPS para as AEM e outros tipos de apoio agrícola, este estudo explora a
contribuição das AEM para os serviços do ecossistema. Os serviços ecossistémicos são entendidos
como os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas. Mudanças nos serviços ecossistémicos
resultantes das práticas agrícolas apoiadas podem ou não ser bens públicos. Dependendo do serviço
ecossistémico específico, os benefícios podem resultar para agricultores individuais, grupos de
agricultores, consumidores que pagam ou também para o público em geral.

Questionário

No questionário foram definidas nove categorias de serviços ecossistémicos: regulamentação


de risco natural, polinização, regulação de pragas, regulação da água, regulação climática, regulação
da erosão, regulação de nutrientes, conservação da biodiversidade e amenidades paisagísticas. O
questionário foi testado previamente por vários especialistas em políticas agroambientais de
pesquisas, governos e ONGs em três países antes da pesquisa principal.

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Os pagamentos de compensação foram definidos como “pagamentos que cobrem os custos
adicionais e a receita perdida devido ao compromisso assumido” e pagamentos por transferência
foram definidos como “pagamentos feitos sem nenhum bem ou serviço recebido em troca”.

Procedimentos de pesquisa

Os participantes eram especialistas de pesquisa, agências governamentais e ONGs com um


alto nível de conhecimento sobre a eficácia dos esquemas de políticas agroambientais dos seus países
ou regiões. O objetivo era obter uma amostra que incluísse pelo menos uma resposta para cada região
e um participante de cada país e encontrar um maior número de especialistas para grandes países, que
têm grandes orçamentos agroambientais, do que para pequenos países.

Resultados

Estimativas do PPS para apoio agrícola na Europa


A figura 2 mostra a variação das avaliações das AEM entre os diferentes grupos de
especialistas. Existem diferenças em relação ao fundo disciplinar, afiliação, anos de experiência e
região europeia. A tabela 6 apresenta estimativas médias ponderadas da PPS e dados de despesas,
tanto para a UE como para a UE em conjunto com a Noruega e a Suíça. Para a UE, 16,8% dos
pagamentos únicos foram considerados pelos especialistas como compensação pela provisão de bens
públicos, em comparação com 59,6% para o PDR total e 72,3% para o AEM. Na figura 3, os dados
de despesas e a PPS para os estados membros da UE ilustram a quantia de financiamento que segundo
os especialistas compensou os destinatários pelo fornecimento de bens públicos e a quantia de
pagamentos por transferência que foram pagos sem qualquer serviço recebido em troca. A figura 4
desagrega as estimativas para as AEM por tipos de AEM. As medidas “agricultura orgânica” e
“conservação” que atraíram as maiores parcelas do orçamento receberam também algumas das mais
altas avaliações do PPS. No geral, cerca de metade do financiamento para o AEM é alocado para
medidas com estimativas médias de PPS superiores a 75%.

Determinantes das estimativas de PPS para AEM

As estimativas para as AEM na Europa Ocidental e do Norte são mais altas do que as do Sul
da Europa e as estimativas mais baixas são encontradas para as AEM da Europa Oriental.

Em relação aos efeitos das características individuais estas foram determinantes importantes,
sendo que a idade teve um efeito negativo significativo e os anos de experiência tiveram um efeito
positivo significativo nas avaliações.

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Estimativas da alocação do financiamento da AEM aos serviços do ecossistema
A figura 5 mostra as contribuições médias estimadas para os serviços do ecossistema para os
diferentes tipos de AEM, ponderadas pelos orçamentos das AEM. A última barra (inferior) do
diagrama mostra as contribuições ponderadas pelo orçamento do financiamento total para as
diferentes categorias de serviços do ecossistema. As maiores contribuições estimadas são as da
conservação da biodiversidade (15%), seguidas pelas amenidades da paisagem (14%) e regulação de
nutrientes (13%).

Discussão

Percentagem de pagamentos de serviços como uma medida do desempenho do esquema

De modo geral, os resultados sugerem que medidas que visam mudanças de gestão mais
significativas alcançam estimativas de PPS mais elevadas (por exemplo a produção de pasto). Assim,
segundo os autores esta constatação está parcialmente alinhada com a observação de que medidas
que param a produção em certas terras são mais eficazes para proporcionar benefícios à
biodiversidade do que aquelas que simplesmente adotam métodos de produção ambientalmente mais
sensíveis. Estes resultados tambem mostram que medidas que contribuem para múltiplos serviços do
ecossistema apresentam estimativas de PPS mais elevadas do que as medidas com um único alvo.

São encontradas estimativas particularmente altas para o AEM apoiando a agricultura


orgânica, conservação, entrada reduzida e recursos genéticos assim como para o AEM que apoia a
conversão em pradarias, polinizadores e árvores e sebes. O AEM com um PPS percebido
relativamente baixo foram aqueles que apoiam a produção integrada, o manejo extensivo da terra e a
diversidade de culturas.

As estimativas sugerem que os países mais ricos do Norte e do Oeste - que são os que têm
maiores taxas de co-financiamento nacional - projetaram medidas com PPS mais alto. Politicamente,
indica-nos que taxas mais altas de co-financiamento podem ter promovido uma consideração mais
cuidadosa dos custos na elaboração das medidas e na alocação do orçamento.

Em princípio, as estimativas de PPS para cada AEM e as estimativas de contribuições do AEM


para diferentes serviços do ecossistema poderiam ser combinadas, permitindo, assim, estimar o valor
dos pagamentos por serviços vs transferência envolvidos nos serviços do ecossistema através de
esquemas agro-ambientais. Além disso, as estimativas das contribuições da AEM para diferentes
serviços ecossistêmicos permitiriam o cálculo dos custos de unidades específicas de serviços físicos
do ecossistema.

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Usos potenciais das estimativas

Os resultados do estudo sugerem que a maior parte do financiamento da PAC representa


“transferências de pagamentos” ou apoios ao rendimento dos agricultores. As grandes diferenças no
desempenho estimado dos esquemas de políticas em termos de PPS sugerem que existe um potencial
para melhorar a prestação de serviços públicos através de mudanças no apoio agrícola.

A menos que os benefícios de medidas com baixo PPS sejam particularmente altos, as
descobertas sugerem que a provisão de benefícios públicos poderia ser aumentada se o apoio agrícola
fosse transferido de esquemas com estimativas de PPS relativamente baixas para esquemas e medidas
com estimativas de PPS relativamente altas (que apresentam maioritariamente elevados beneficios
ambientais). Assim, realizando estudos mais complexos o PPS poderia servir como critério de decisão
na aprovação de esquemas pelas autoridades nacionais e da UE.

Limitações das estimativas

Pode ser difícil estimar valores para uma região inteira assim como a seleção de uma amostra
representativa pode ser manipulada de modo a atingir resultados mais favoráveis. Assim, em estudos
como este, a composição da amostra de especialistas deve ser relatada. Outras advertências dizem
respeito às limitações do questionário da pesquisa ou à falta de conhecimentos por parte dos
intervenientes.

Conclusões

A avaliação da eficácia do apoio agrícola é difícil devido à diversidade dos esquemas


existentes e dos serviços que eles fornecem. Atualmente não existe uma estrutura comum que permita
a comparação do desempenho da medida ou esquema em relação a um conjunto consistente de
critérios de desempenho. Portanto, as descobertas deste estudo sugerem que avaliações subjetivas
informadas por especialistas complementam as avaliações atuais das políticas de apoio agrícola
baseando-se em práticas e benefícios que se mostram difíceis ou impossíveis de avaliar
objetivamente. Avaliações futuras com um tamanho de amostra maior em nível nacional ou regional
podem ser uma base útil para o desenvolvimento de esquemas individuais. Se usarem protocolos de
pesquisa semelhantes, poderiam ao mesmo tempo contribuir para avaliações e decisões de
programação em nível europeu.

Lígia Gomes nº 2017254528


Ana Vanessa Duarte nº 2017248141
Mariana Jordão nº 2016229479

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Anexos

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