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Agrupamento de Escolas

Ficha de Trabalho Português


11.º Ano de Escolaridade Turma ___

Nome do/a aluno/a: _____________________________________________ N.º _____

AMOR DE PERDIÇÃO

1. Lê o texto.

A novela foi escrita em quinze dias em 1861, estava Camilo preso na Cadeia da Relação. O
herói existiu; era tio do escritor e, de facto, por ter ferido em Viseu, em 1804, um tal Ferreira,
criado, e pelo seu mau porte anterior, deu entrada nessa cadeia em 1805 e foi degradado, em
1807 para Goa, aonde chegou após sete meses de viagem. Se os amores de Simão foram
inventados, não sabemos; mas sabemos que Teresa de Albuquerque, pelo menos com este
nome, é personagem fictícia; e que a autor romanceou as tradições familiares, que conhecia
através da tia Rita, irmã de Simão. Identificando-se com o herói, comunicou à novela todas as
vibrações do coração apaixonado.
A obra tem vários sentidos, segundo os ângulos de que a encaremos. É um conflito entre o
amor e os preconceitos de pais inflexíveis, desumanos no seu orgulho. Um caso de rivalidade
que, gerando o ódio e a fome de vingança, conduz ao crime. Um exemplo romântico do poder
transfigurante do amor: desordeiro, dado às piores companhias, Simão torna-se um homem
digno, com uma sensibilidade de poeta. A aura que, por assim dizer, consagra essa “amor de
perdição” pode, inconscientemente, derivar dum impulso destrutivo, da miragem do amor
impossível associado à morte. […] Simão sabe-se marcado por um Destino, luta sem esperança,
recusa complacências avança com altivez para o abismo, cumpre-se como herói, voluntário na
aceitação: daí o sentido trágico da novela. Tudo isto impregnado de misticismo cristão: o amor
que depura transfere-se para o além-vida.

Jacinto do Prado Coelho. Dicionário da Literatura, vol. 1. 1994. Porto: Figueirinhas.


2. Com base no conhecimento da obra e no texto apresentado, responde às seguintes
questões.

2.1. Explicita a importância da Introdução e da Conclusão na estrutura da obra.

2.2. Mostra como a frase “amou, perdeu-se e morreu amando” sintetiza a história que o
narrador se propôs contar.

2.3. Justifica o facto de Simão poder ser associado ao herói romântico.

2.4. Refere os diferentes pontos de vista assumidos pelo narrador durante a sua narração.

2.5. Comprova que na obra se observam aspetos que a permitem associar a uma crónica da
mudança social.
PROPOSTAS DE SOLUÇÃO
2.1. Com a Introdução, o narrador/autor refere-se ao início do processo narrativo e à fonte
que o suportou. Apresenta, ainda, o herói e a estrutura da sua narrativa sintetizada na frase
“amou, perdeu-se e morreu amando”. Na Conclusão, a narrativa é encerrada e o laço de
parentesco que une Simão ao autor é clarificado.
2.2. Simão apaixonado por Teresa (amou) recusa-se a aceitar o encerramento da sua amada no
convento e mata a tiro Baltasar Coutinho, um pretendente de Teresa (perdeu-se) pelo que é
preso e condenado ao degredo, vindo a morrer depois de ter tomado conhecimento da morte
da amada (morreu amando).
2.3. É arrebatado e impulsivo (a emoção sobrepõe-se à razão), deixa que o amor o redima
(poder transfigurante do amor), interferindo no seu comportamento. Vive arrebatadamente
um amor impossível que só se realizará depois da morte. A rebeldia e o espírito de liberdade
regem a sua conduta, pois vive em conflito com a sociedade que impõe limites à realização dos
seus desejos. Acredita num destino implacável contra o qual não pode lutar.
2.4. O narrador é interventivo tecendo comentários e críticas; é omnisciente quando faz uso
de um conhecimento quase ilimitado sobre as personagens e suas motivações, mas adota,
também, uma focalização externa, limitando-se a apresentar os factos como se fosse um
observador.
2.5. Na Introdução fica desde logo evidente o caráter interventivo e crítico. O narrador vai
“lavrar contra a falsa virtude de homens, feitos bárbaros, em nome da sua honra”. Assim, não
perde a oportunidade de denunciar os abusos sociais que impedem a realização e a plenitude
do indivíduo: os preconceitos sociais e familiares, bem como a degradação moral das
instituições religiosas e da justiça.

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