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a manchete do An-Nahar, jornal conservador de Beirute, não fez a menor alusão a Dilma
Rousseff, obrigada a ceder seu lugar àquele que até então era apenas o vice-presidente.
Pouco importa que sua destituição tenha se dado em meio a diversas irregularidades, a ponto
quilômetros ao norte da capital, que partiu de sua aldeia natal para tentar a sorte em São Paulo
em 1925. A rua principal do vilarejo de trezentas almas já havia sido rebatizada de “Rua Michel
Tamer [segundo ortografia local], vice-presidente do Brasil”. Bastou apenas uma pincelada de
tinta azul para o prefeito – um de seus primos – apagar o “vice” da placa, tanto em português
como em árabe.
Integração-modelo? É o que conta a história oficial ao sul do Rio Bravo. Aqui, os árabes que
chegaram a partir do fim do século XIX não são magrebinos: vêm majoritariamente do Levante.
São chamados, de acordo com sua origem e segundo a história local, “sírio-libaneses” na
dominou a região na época. “Eles são relativamente pouco numerosos: 160 mil no Brasil ”,
Fluminense, em Niterói. Ele mergulhou nos arquivos de imigração para quebrar a ideia de que
Médio. “No Brasil, os árabes representam o sétimo grupo de imigrantes em número, atrás dos
europeus; mas aqui, como em toda a América Latina, a imigração é fraca, de modo que o
impacto de cada uma dessas populações é relevante”, explica. Contrariamente a outros fluxos
migratórios, organizados por Estados com demanda por mão de obra, os que vieram do
Oriente Médio o fizeram espontaneamente, motivados pela crise econômica e pela ocupação
enviados às fazendas de café, onde os trabalhadores eram tratados como escravos. A imensa
maioria se lançou no comércio popular dos grandes centros urbanos. A concentração de seus
negócios modelou as cidades. Em São Paulo, por exemplo, estão na Rua 25 de Março, em
pleno centro; no Rio de Janeiro, estão no Saara, acrônimo para Sociedade dos Amigos das
“O que permanece na memória comum é que os imigrantes árabes eram miseráveis quando
chegaram à América Latina e que, todos cristãos, tiveram de fugir da perseguição religiosa.
montaram lojas antes de se lançarem na indústria e no setor bancário, permitindo que seus
resume Pinto. “Mas isso é um mito: na realidade, esses imigrantes eram de setores médios e
superiores em seu país de origem, tanto os que vieram de áreas urbanas quanto os de áreas
rurais.” Em seu país natal, os camponeses já estavam inseridos em uma economia monetária,
Etnicamente, o árabe não é o europeu branco, destinado a melhorar a raça e elevar a cultura,
mas também não é o amarelo ou o negro. Os recém-chegados semearam ainda mais confusão
ao desembarcarem com passaporte da França, que ocupava então esses países. “Os turcos
não entravam em nenhuma das categorias do sistema de classificação racial utilizado pelas
elites; eles não eram nem proscritos nem desejados, encontrando-se em uma situação
libanesa do tartare.
particular nos anos 1930 e 1940, quando cresceram os nacionalismos. Pararam de transmitir a
O sucesso material e social, assim como certa aculturação, permitiu que fossem aceitos
mantendo sua identidade. “Alguns se consideram árabes por tradição familiar; outros, pela
participação em instituições árabes. Alguns, como escritores e atores, fazem de sua origem