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1. O que é a modernidade
Para Sloterdijk, “o modernismo foi uma revolta contra o evidente, foi exclusivismo em
permanente movimento e mantinha o seu princípio revolucionário pela sua força de exclusão”.
É exclusão contra o que parecia evidente, no sentido de “naturalidade” ou tradição ou apatia em
relação as coisas que permaneciam ao abrigo da rotina e da falta de questionamento sem “serem
atingidas pela lâmina da reflexão despertando-as de seu sono ontológico”.
Para o filósofo a modernização do mundo deixou pouca coisa intocada, porque nada
escapou à transformação das evidências.
“Quase nada escapou à transformação das evidências. A eliminação das condições
irrefletidas foi bem-sucedida em nosso século, impondo ás consciências condições
modernas de reflexão” (SLOTERDIJK, 1992:50).
Nas Revoluções Celestes publicado em 1543, ano da morte do seu autor, Copérnico
demonstra através de cálculos matemáticos e observações empíricas que “a terra não se
encontra no centro do universo, como pensava a era cristã, mas correspondia a uma pequena
estrela errante movimentando-se num universo vazio segundo as leis geométrico-físicas.
Para Sloterdijk, embora Copérnico provoca o descentramento da terra em reflexões
audaciosas, porém o interesse da mudança coperniciana não se encontra na esfera físico
cosmológica. O que ofendia era o narcisismo da espécie ao negar a pátria do homem a sua
posição no centro do universo.
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O choque copernicano demonstrou que não percebemos o mundo como é, mas que
precisamos imaginar a sua “realidade” pela reflexão, contrariando a impressão dos sentidos
para “compreender” como ela é. Copérnico provou que nunca houve levantar do sol: “Eis o
dilema: quando o sol se levanta, o sol não se levanta. Não há correspondência entre a nossa
visão e a razão informada pela astrofísica.
“A compreensão física moderna do mundo da matéria desmente a “aparência dos sentidos”
de forma mais radical do que qualquer conceção metafísica de “mundos de essência”
(1996:56).
Copernicanismo significa, do ponto de vista epistemológico, a dessubstancialização
progressiva de todas as condições ptolomaicas ingênuas.
O choque copernicano se reflete em todas as esferas da modernidade:
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teoria crítica da mobilização e dos sucessos da modernidade copernicana. Está em causa
uma reavaliação em termos de céticos a perspetiva estética da criatividade da modernidade
em função da revindicação da perceção estética. É a queda da criatividade em relação a
escola da perceção, técnica da desbrutalização da técnica, arte do tratamento artístico, lógica
da preservação em relação as formas e visões estratégica, informática, industrial e cognitiva
do mundo. Isso é possível porque “A antiga ignorância revela-se cristalinamente clara
comparada ao estado das mentes modernas saturadas de informação”. (1992:64).
Essa crítica estética ptolomaica ressurge através das perceções estéticas dos artistas e das
características do neo, do renascimento e retorno estético de uma empresa cultural da
última década:
“Tudo que ressurgir nos últimos tempos poderia confundir o mais convicto
adepto do progresso. Os anos cinquenta, o trágico, o mito, a violência, os
corpos, a intransparência, a tonalidade, o sutiã, o pathos, o sagrado, o sublime,
as ligas, a ópera, o ornamento, a intriga, Nietzsche, a teleologia, a ternura, o
símbolo, a fidelidade, o sentido do possível” (1992:65).
É apenas aparentemente que este movimento da empresa cultural e artística tem uma aura
conservadora, pois trata-se de um movimento corretivo no processo dos impulsos
copernicanos e ptolomaicos de mobilização e desmobilização. As raízes desse movimento
estético ptolomaico funda-se nos resíduos antropológicos imunes a mobilizações: a título de
exemplo, a configuração das nossas perceções do levantar do sol que representa a verdade
dos olhos, apesar das conceções astrofísicas e do eros que é a verdade da psique.
Existe, de acordo com a arte atual, uma espécie de racionalidade ptolomaica,
uma razão ingénua, um direito irredutível dos fenómenos, uma dignidade
original do levantar do sol, uma seriedade respeitável do literal, do fugaz, do
“evidente”. Quem não tiver medo da retomada de modelos de pensamento pré-
katiano, poderia dizer que o mundo reconquistou o seu direito contra as
representações do mundo. O olho de um ptolomeu não contempla imagens do
mundo, sejam ptolomaicas sejam copernicanas; mas é o mundo que lhe mostra
o mundo. Como o mundo é algo que dentro de limites se mostra por si próprio,
confirma e molda os nossos órgãos perceptivos. O nosso conhecimento
orgânico do mundo é formado pelos gestos soberanos de mostrar e encobrir
realidades do mundo. […] Mesmo se audição e a visão perdessem sua função
em relação aos resultados micro e macrocosmologicos da investigação da
natureza, tanto a visão quanto a audição conservam o seu significado no
contexto mesocósmico do mesmo modo como no momento em que o primeiro
homem levantou a cabeça, desde o momento em que os órgãos visuais e
auditivos sintonizaram com a realidade de mundos sonoros e luminosos. A
estética pós-moderna, de um modo geral, articula a reabilitação da
sensibilidade mesocósmica do mundo vivencial em relação às estéticas de
mobilização (SLOTERDJIK, 1992:66).