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Tecnologia de Fermentação

Produção do etanol

Sandra de Souza Silva

As matérias-primas de origem lignocelulósica contêm de 20% a 60% de celulose, que pode ser totalmente
convertida à glicose por ação enzimática, após etapa de pré-tratamento para desorganização do complexo
lignocelulósico. Por sua vez, a glicose caracteriza-se por ser um monossacarídeo utilizado pela maioria dos
microrganismos, fazendo desta molécula um importante bloco de construção para a obtenção de uma imensa
gama de substâncias de interesse comercial, abrangendo desde combustíveis até polímeros. O bagaço de cana-
deaçúcar, resíduo gerado pelos processos de produção de etanol, é considerado uma matéria-prima
lignocelulósica por excelência, apesar de ser utilizado para a geração de energia em unidades de produção,
ainda assim existem enormes excedentes.

A produção de etanol a partir de biomassa lignocelulósica lança mão de pré-tratamentos químicos/enzimáticos


para a hidrólise da celulose e da hemicelulose, fornecendo carboidratos (hexoses e pentoses), que
posteriormente podem ser convertidos a etanol por microrganismos fermentadores. Dentre os pré-tratamentos,
que visam desorganizar o complexo lignocelulósico, o pré-tratamento ácido tem se mostrado uma alternativa
interessante, pois além de desestruturar o complexo, provoca a hidrólise da hemicelulose, o que resulta em
uma fração líquida contendo, no caso do bagaço de cana, majoritariamente a xilose. Após o pré-tratamento, o
líquido contendo o hidrolisado hemicelulósico é separado de um resíduo sólido, composto fundamentalmente de
celulose e lignina, denominado de celulignina. A neutralização do pH, seguida de uma etapa de deslignificação
do resíduo sólido gerado é necessária quando se vislumbra a hidrólise enzimática, a fim de se aumentar a
acessibilidade da celulose ao ataque catalítico.

A hidrólise enzimática da celulose ocorre em condições brandas de pressão, temperatura e pH. Sua alta
especificidade elimina a ocorrência de furfurais e derivados da lignina, que seriam seguramente produzidos
caso a opção fosse a hidrólise ácida da celulose, obstaculizando o processo fermentativo subsequente. O
consórcio enzimático utilizado na hidrólise da celulose é denominado de celulases, composto por diferentes
atividades em função da especificidade pelo substrato. Assim, as celulases são divididas em três grupos:
endoglucanases, que clivam ligações internas em regiões amorfas da fibra celulósica; exoglucanases, que
atuam na região externa da celulose cristalina; e ß-glucosidases, que hidrolisam oligossacarídeos solúveis a
glicose.

A busca de microrganismos fermentadores de xilose, açúcar mais abundante proveniente da fração


hemicelulósica, é um dos maiores desafios da Biotecnologia moderna; uma vez que se faz necessária a eficiente
e integral conversão dos carboidratos potenciais oriundos de materiais lignocelulósicos.

O fato de o Brasil ser o maior país tropical do mundo é um diferencial positivo para a produção de energia de
biomassa. Portanto, considera-se que a grande quantidade de bagaço de cana-de-açúcar gerado pelos
processos de produção de etanol venha a se tornar matéria-prima para outros processos produtivos, incluindo a
produção de mais etanol através de tecnologias portadoras de futuro, gerando emprego e desenvolvimento.
Este é um cenário tão promissor que para cada 10 milhões de toneladas de biomassa seca é possível produzir
600 milhões de galões de etanol, considerando apenas o seu componente celulósico. 

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