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THE OMEGA NEOCORTEX: UM VIDEOCLIPE PARA A AURORA PÓS-

HUMANA
Edgar Franco
oidicius@gmail.com
Professor Permanente do Programa de Mestrado em Cultura Visual – FAV/UFG
Luciana Hidemi Santana Nomura
hideminomura@gmail.com
Mestranda do Programa de Mestrado em Cultura Visual – FAV/UFG
http://rapidshare.com/files/386170012/The_Omega_Neocortex_-
_com_cr__ditos_e_com___udio__1_.avi.html

Este artigo contextualiza a criação do videoclipe The Omega Neocortex, faixa do CD Neocortex
Plug-in da banda Posthuman Tantra. Destacamos os referenciais teóricos e midiáticos que
serviram de base para a criação do vídeo e nossas intenções poéticas e estéticas. O videoclipe
está inserido no contexto do universo ficcional transmídia da “Aurora Pós-humana”, mundo de
ficção científica inspirado pelos avanços tecnológicos em campos como biotecnologia,
nanorobótica e realidade virtual, assim como às manifestações tecnognósticas que vêm
atreladas ao desenvolvimento tecnocientífico.

Palavras-chave: Videoclipe, Processo Criativo, Pós-humano, Tecnognose.

This article gives context to the creation of the video clip The Omega Neocortex, a track from
the album Neocortex Plug-in of the band Posthuman Tantra. It underlines theoretical and media
references that were used as basis for the creation of the comic, and also its poetic and esthetic
intentions. The video is inserted in the context of the transmedia fictional universe Aurora Pós-
humana (Posthuman Dawn), a sci-fi world inspired by technological advances in the fields of
biotechnology, nano-robotics and virtual reality, as well as by techno-gnostic manifestations that
arise together with the techno-scientific development.

Keywords: Video clip, Creative Process, Posthuman, Techgnosis.

O Projeto musical Posthuman Tantra no contexto da “Aurora Pós-humana”.

O Posthuman Tantra pretende ser um casamento constante entre as criações


artísticas em múltiplas mídias de Edgar Franco & o universo da música
eletrônica. Desde sua criação o projeto já participou de dezenas de
compilações em três continentes e lançou álbuns em parceria com a banda
francesa Melek-tha, além dos CDs Pissing Nanorobots (Independente, 2004) e
Neocortex Plug-in, lançado pelo selo suíço Legatus Records em 2007. O
Posthuman Tantra foi um dos primeiros projetos de música eletrônica ambient
do Brasil a assinar com um selo europeu. A one-man-band tem recebido
resenhas positivas em importantes veículos como na revista Judas Kiss da
Inglaterra, no site bielorusso The Machinist (no qual Pissing Nanorobots
recebeu nota 9) e na revista brasileira Rock Hard Valhalla (a qual incluiu
entrevista e resenha de Neocortex Plug-in – também com nota 9). Atualmente o
Posthuman Tantra está finalizando o seu novo álbum que, além das músicas,
envolve um trabalho conceitual plástico nas ilustrações do CD, e faixa
multimídia composta por uma nova animação. O trabalho será lançado pela
Legatus Records em 2010. O estilo musical praticado pelo projeto pode ser
classificado como Sci-Fi Ambient, ou seja, “música ambiental de ficção
científica”. Toda a música é gerada digitalmente a partir de múltiplos softwares
e plug-ins musicais, além de teclados controladores e sintetizadores.

O Posthuman Tantra surgiu da necessidade intrínseca de pensar todos os


aspectos relativos à “Aurora Pós-humana”, um universo ficcional multimídia
inspirado pela emergência transumana e criado por Edgar Franco para
ambientar suas criações artísticas em múltiplas mídias, das histórias em
quadrinhos à instalação interativa. A partir de uma experiência anterior com
música e do encontro com as sonoridades eletrônico-digitais o artista decidiu
criar um projeto musical-multimídia que gerasse as ambiências sonoras para
sua ficção e que corroborasse a visão prospectiva sobre o futuro pós-humano
em suas concepções líricas. É importante esclarecer que desde o início o
Posthuman Tantra nasceu com uma proposta multimidiática, não é
simplesmente a música experimental eletrônico-digital que o engendra, mas
também a parte visual composta por ilustrações, cards, videoclipes, HQtrônicas
e toda uma performance multimídia – construída a partir de desenhos,
animações e narrativas intermídia.

O nome Posthuman Tantra apresenta esse paradoxo poético curioso: qual


seria a dinâmica energético-sexual tântrica para essas novas criaturas híbridas
pós-humanas? Também funde tecnologia & transcendência, numa espécie de
“tecnomística”, como destaca Erik Davis:
A tecnologia tem ajudado a desmistificar o mundo, forçando as redes
simbólicas ancestrais a abrirem caminho para os confusos e
seculares planos de desenvolvimento econômico e progresso
material. Mas os velhos fantasmas e questionamentos metafísicos
não desapareceram, muitas vezes eles estão mascarados no
underground infiltrando-se na cultura, psicologia e motivações
mitológicas que formam o mundo moderno. Os impulsos místicos,
algumas vezes estão incorporados nas muitas tecnologias que
supostamente ajudariam a livrar-se deles. Esses são os impulsos
tecnomísticos, muitas vezes sublimados, ou mascarados nos detritos
pop da ficção científica e dos videogames (DAVIS, 1998:5).

A “Aurora Pós-humana” é um universo ficcional futurista inspirado por artistas,


cientistas e filósofos que refletem sobre o impacto das novas tecnologias:
bioengenharia, nanotecnologia, robótica, telemática e realidade virtual sobre a
espécie humana. A base bibliográfica para o desenvolvimento da “Aurora Pós-
humana” envolve o estudo das obras e artigos de artistas como Stelarc, Roy
Ascott, Natasha Vita-more, Eduardo Kac, Mark Pauline, Orlan, H.R.Giger,
Diana Domingues; de filósofos, cientistas e sociológos como Max More, Ray
Kurzweil, Laymert Garcia, Hans Moravec, Vernon Vinge, James Lovelock,
Teilhard de Chardin, Maturana e Varella, Stanislav Grof, entre outros. Para sua
criação Edgar Franco também se inspirou no reflexo desses questionamentos
na cultura de massa, com o surgimento de filmes (Matrix, 13º Andar, Gattaca,
A.I. – Inteligência Artificial, Avatar) e de seitas como as dos “Extropianos”,
“Prometeístas”, “Transtopianos” e “Raelianos”. As discussões levantadas por
filósofos e cientistas sociais tomam muitas vezes como base os vislumbres da
ficção científica e muitos movimentos que têm aflorado no seio da cibercultura
chamam de estágio “transhumano” o momento que estamos atravessando com
destino à pós-humanidade.

A idéia básica da “Aurora Pós-humana” foi imaginar um futuro, não muito


distante, no qual a maioria das proposições tecnológicas de ponta são uma
realidade trivial. Nesse futuro a transferência da consciência humana para
chips de computador é algo comum. Milhões de pessoas abandonaram seus
corpos orgânicos por novas interfaces robóticas. A bioengenharia já avançou
tanto que permite a hibridização genética entre humanos, animais e vegetais,
gerando infinitas possibilidades de mixagem antropomórfica. Estas duas
"espécies" pós-humanas tornaram-se culturas antagônicas e hegemônicas
disputando o poder em cidades estado ao redor do globo enquanto uma
pequena parcela da população, uma casta oprimida e em vias de extinção,
insiste em preservar as características humanas, resistindo às mudanças.

O videoclipe para a faixa The Omega Neocortex

Neocortex Plug-in, primeiro álbum oficial do Posthuman Tantra, foi lançado na


Suíça pela gravadora Legatus Records. O álbum conta com participações
muito especiais de músicos da cena darkwave e industrial como Lord Evil do
Melek-Tha, e o músico e renomado escritor cyberpunk japonês Kenji Siratori,
além de Mike Vonlanthen da respeitada banda suíça de EBM TransZendenZ,
entre outros convidados especiais como o quadrinhista autoral brasileiro Gazy
Andraus que colobora brevemente nos vocais de uma faixa. A temática de
todas as músicas do CD envolve o embate entre os possíveis caminhos da
nossa relação com os avanços tecnológicos e a transcendência.

The Omega Neocortex (4:34’) é a faixa instrumental que abre o álbum


Neocortex Plug-in, ela investe em forte clima onírico & transcendente. Tentei
capturar a essência da proposta do visionário Teilhard de Chardin, ele anteviu
o surgimento de uma rede global que conectaria a consciência de todos os
homens e seres vivos do planeta, chamou essa rede de Noosfera. O pensador
Roy Ascott também aponta para a emergência de uma consciência global
através dos avanços tecnológicos e eu introduzo nessas reflexões a
importância de reconectarmo-nos à nossa essência natural. Na faixa o contexto
sonoro trata da criação dessa rede hiperconsciente de Gaia, quando ela estiver
completa, a Terra acordará como um planeta consciente e nós seremos seus
bilhões de neurônios, neurônios do grande “Neocortex Ômega de Gaia”.

O vídeo-clipe trabalha esse conceito da busca da espécie humana por sua


reconexão com a natureza e o cosmos a partir do distanciamento instituído
pelo pensamento cartesiano-racionalista. Utilizamos na criação do vídeo
ilustrações criadas por Edgar Franco no contexto da “Aurora Pós-humana”,
trabalhos baseados em símbolos e arquétipos do inconsciente coletivo que
sinalizam essas fases de ascensão em direção à consciência planetária.

No início do vídeo o afastamento do homem de sua natureza cósmica é


representado por quatro demônios alados de tons sanguíneos – obscurecendo
o equilíbrio dos quatro elementos alquímicos, eles se fundem em um. Logo
esse “demônio” que metaforiza o isolamento da humanidade sofre o primeiro
baque ao ser alvejado por um arqueiro pós-humano que porta o ovo-cósmico
em uma de suas mãos - a totalidade. Na próxima animação a tonalidade
vermelha esmaece, mas o homem continua ensimesmado, preso à sua própria
sombra.
Finalmente o vídeo muda para a tonalidade azulada, denotando a transição de
estado da consciência, uma figura de feições rígidas olha o espectador nos
olhos. A próxima imagem, também em tons azuis, mostra a pós-humanidade
representada por um homem serpente. Sua ascensão gradativa é sucedida
pela aproximação do dragão cósmico, outra representação da unidade e da
reconexão com a natureza. Ao final da aproximação desse dragão, a pós-
humanidade ainda reluta, mas a língua do dragão a toca e eles se tornam
multicolores. A próxima imagem reafirma esse reencontro com a unidade
cósmica e a transcendência, trata-se de uma ilustração simétrica multicolorida,
repleta de símbolos, na qual se destaca uma baleia voadora. A imagem que
fecha o vídeo apresenta uma flor de lótus estilizada com múltiplas cores
pulsando ao fundo. Ela representa o fim do ciclo e o desabrochar da pós-
humanidade para o êxtase da reconexão com o universo.

Referências Bibliográficas:
ASCOTT, Roy. “Quando a Onça se Deita com a Ovelha: a Arte com Mídias
Úmidas e a Cultura Pós-biológica”, in: Arte e Vida no Século XXI – Tecnologia,
Ciência e Criatividade (Diana Domingues org.), São Paulo: Editora Unesp,
2003, pp.273-284.

CHARDIN, Pierre Teilhard de. O Fenômeno Humano, São Paulo: Cultrix, 2001.

DAVIS, Erik. Techgnosis - Myth, Magic and Mysticism in the Age of Information.
New York: Harmony Books, 1998.

CURRÍCULO DOS AUTORES

Edgar Franco é artista multimídia, doutor em artes pela ECA/USP e professor


do mestrado em Cultura Visual da FAV/UFG. Coordena o grupo de estudos e
produção Criação e Ciberarte, da FAV/UFG.
Luciana Hidemi Santana Nomura é graduada em Publicidade e Propaganda
pela PUC-GO. Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Cultura Visual,
da FAV/UFG e bolsista REUNI. Integra o grupo de estudos e produção Criação
e Ciberarte, da FAV/UFG.

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