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Oliveira Viana nasceu em 1883 em Saquarema/RJ.

Ele era filho de fazendeiros arruinados, e acabou por


herdar uma fazenda, a qual, apesar de dar muitos prejuízos e nenhum lucro, ele mantinha, por ter
orgulho de sua origem.

Ele era católico e muito conservador; fazia parte de uma onda muito forte de conservadorismo que
existiu no início do século 20. Esse fato se revela muito importante para o seu estudo e traz grandes
reflexos em sua obra.

Sua trajetória é também muito baseada no funcionalismo público: ele começou em seu primeiro
trabalho como funcionário público, e também terminou seu último trabalho como sendo funcionário
público.

Viana concluiu seu curso de Direito em 1916, e concluiu sua primeira obra em 1920, portanto, o livro
foi escrito entre a época da República Velha e o getulismo. Sua primeira obra foi intitulada como
Populações Meridionais do Brasil.

A obra foi muito bem recebida, sendo considerado um livro muito inteligente e influente, que concedeu
a Oliveira Viana a posição de intelectual mais respeitado do Brasil até a publicação de Casa Grande e
Senzala, por Gilberto Freyre. Viana sabia de sua relevância, e gostava de se pensar como sucessor de
Visconde do Uruguai, especialmente por conta de seus pensamentos semelhantes. Ele entendia que
tinha resgatado conceitos trazidos anteriormente por Uruguai.

Vale dizer que, apesar de o livro ter sido muito festejado e de a recepção ter sido majoritariamente
positiva, também houveram críticas. Astrogildo Pereira, fundador do Partido Comunista do Brasil, por
exemplo, imediatamente escreveu um texto contra o livro por não concordar com suas ideias.

Em Populações Meridionais do Brasil, Viana buscou identificar tipos característicos da formação social
brasileira, demonstrando, desde já, o caráter sociológico da sua análise. Ele entende ser essencial
entender a vida cultural do povo ao estudar o país, argumentando que a forma como ocorre a formação
de um povo é essencial para entender como o povo se comporta nos dias atuais.

Uma ideia que se mostra muito presente em sua obra é o racismo científico. Trata-se de um período
do racismo que durou de aproximadamente a 1850 a 1930, retornando posteriormente com o nazismo,
na qual se pretendia a comprovação, por meio de experimentos científicos falhos, de que
supostamente haveria uma diferença intelectual entre as raças. De acordo com esse movimento, a raça
branca era a mais intelectualmente superior, seguidos pelos amarelos ou mongólicos, depois vinha a
raça americana ou indígena, posteriormente os negros e, por fim, os mestiços, que seriam a raça
intelectualmente mais inferior entre todas as outras.

Ocorre que o tal racismo científico acabou por ganhar status de ciência naquela época, e o racismo,
que antes era visto como mera opinião, passou a, teoricamente, ser um fato comprovado
cientificamente. Diante desse cenário, não aderir ao racismo científico tornava a pessoa em uma
ignorante, aos olhos da sociedade da época. Esse movimento, que já foi desmoralizado a muito tempo,
acabou por ganhar muita força no Brasil, apesar de a população ser majoritariamente não branca, e
aparece fortemente na obra de Viana, que adota o racismo científico como fundamento para os
argumentos presentes em seu livro.

O foco da obra é a população do meio do Brasil, da região que é conhecida hoje em dia como Sudeste.
Naquela época, o Brasil era basicamente dividido entre Norte, Sul e Meio, sendo que cada região tinha
suas próprias características e lógica de funcionamento. Ele pretendia também escrever um livro com
foco maior na região Norte e outro com foco na região Sul, mas acabou por escrever apenas o primeiro
com esse enfoque na região Meridional.

Viana afirma que dentre as três regiões do país, apenas uma delas chegou perto de tornar o Brasil em
uma civilização: a região meridional, caracterizada pela exploração do café. Isso porque essa região
contava com uma raça branca pura, que ele chama de “brancos dólicos”, raça essa que seria capaz de
formar uma elite formada por brancos e sem miscigenação, em razão de sua indisposição a se misturar
com as outras raças.

O surgimento da civilização acabou por não se concretizar, por dois principais motivos: essa situação
da raça branca pura não ocorria nas outras regiões do Brasil, pelo menos não com a mesma força, o
que impossibilitava o surgimento de uma verdadeira civilização nesses locais. Além disso, a mesma
indisposição que levava os brancos dólicos a não se misturarem com as outras raças também contribuía
para a formação da insolidariedade que reinava no país da época.

A insolidariedade é vista por Viana como um sentimento que impossibilitava a formação de laços sociais
para alcançar interesses comuns à população, sendo que essa união em prol do interesse comunitário
seria essencial para a formação da civilização moderna.

Nesse ponto, fica evidente o seu conservadorismo. De acordo com Viana, antes do advento do
capitalismo, na Europa medieval, reinava a solidariedade, e eles vivam no mundo comunitário
defendido pelo autor. No entanto, no período após o surgimento do capitalismo, as pessoas passaram
a dar um foco maior a seus interesses pessoais, deixando os interesses da comunidade de lado. Esse
fato foi central para que a civilização não se formasse no Brasil, e era visto como o foco central dos
problemas do país.

O maior interesse de Viana era que fosse formado no Brasil uma civilização moderna, não no mesmo
sentido da modernidade dos Estados Unidos ou da Inglaterra capitalista, mas sim uma modernidade
que existe no mundo comunitário, pautado na solidariedade.

Por conta desse cenário em que se fazia presente a insolidariedade, as relações no Brasil eram pautadas
em uma situação de comando completa: não existiam interações sociais políticas e comunitárias, as
interações eram pautadas em um lado, detentor do poder, dando ordens, enquanto o outro lado, que
era subordinado ao primeiro, tinha que escolher entre obedecer ou iniciar uma revolução para mudar
tal situação, resultando na ordem ou na desordem.

Portanto, em vista da formação do Brasil ter sido fundamentada em relações não políticas, sem
instrumentos de mediação, Viana afirmava que essa situação era extremamente adversa para que fosse
possível a integração nacional, e que não houve uma evolução democrática no Brasil, de forma que nos
tornamos despreparados para a democracia.

Nesse cenário, toda tentativa de implantação da democracia no Brasil resultava no mandonismo dos
fazendeiros, passando o poder público, que deveria pertencer ao Estado, para as mãos dos interesses
privados. Na prática, para Viana, a democracia é um meio de legitimar a transferência do poder para
os fazendeiros.

Fundamentalmente, a democracia é um erro, que inevitavelmente iria resultar em uma situação que
consistiria em um presidente da república fraco e em um parlamento que, na prática, funcionaria como
uma reunião para discutir interesses privados. Afirmava, ainda, que o poder judiciário era um poder
sequestrado por ideias falidas, formado por pessoas que não entendem o Brasil, onde tenta-se
implantar ideias estrangeiras que não se adequam à realidade brasileira.

Essa situação problemática surgiu com a Constituição de 1891, de caráter extremamente liberal, que
entregou diretamente o poder nas mãos dos fazendeiros, na visão de Viana. Quem destronou Dom
Pedro II foram os fazendeiros, portanto eles fizeram a Constituição como bem entenderam, salvo
algumas interferências dos militares que ajudaram a evitar uma situação ainda pior.
O Oliveira Viana adere à revolução de 30, que acaba por tirar os fazendeiros do poder, e com isso se
torna um dos principais intelectuais do getulismo, acabando por auxiliar na elaboração de importantes
legislações da época, inclusive a legislação sindical.

Por conta dessa crítica à insolidariedade da época, ele acreditava que devia ser resgatado o sentido de
solidariedade para possibilitar a criação de uma civilização moderna em seus próprios moldes, cenário
no qual o Estado é a única esperança para a integração da nação.

Muitas pessoas deixaram de estudar o Oliveira Viana por conta de sua adesão ao racismo científico,
fato que manchou muito a sua reputação, e até a pouco tempo ninguém queria estuda-lo. Após a
realização de um grande seminário na UNICAMP sobre o autor, mais pessoas voltaram a dar um maior
enfoque para Viana.

Ao estudar um período, não podemos deixar de estudar autores em específico, pois para entender bem
o período é necessário estudar todas as suas figuras, ainda mais uma figura tão influente quanto o
Oliveira Viana, consagrado como um dos intelectuais mais importantes de seu tempo. Ao ignorar
autores, ao invés de adquirir conhecimento, acabamos por nos tornar obscurantistas.

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